CASO CLÍNICO INTERNATO PEDIATRIA - HRAS Escola Superior de Ciências da Saúde ESCS/FEPECS/SES/DF Giselle Maria Araujo Felix Paulo César Montalvão de Albuquerque Coordenação: Dr. Paulo Roberto Margotto AGOSTO/2007 História clínica • RN: – Nasceu no HRAS, às 11h6min, do dia 30/06/07. – Parto cesárea, devido a amniorrexe prematura (TBR: 36h), líquido amniótico claro. – IG: 34sem + 2dias (Capurro e DUM). – Não chorou ao nascer. – Necessitou de reanimação: Ventilação com CFR. – Exame da placenta não realizado: sem patologista. – Tipo sanguíneo: RN ? Peso: 2.265g Altura: 45cm PC: 35cm Apgar: 6-8 AIG História clínica • MÃE: – L. R., 22 anos, procedente de São Sebastião, procurou o HRAS no dia 28/06/07, às 23h com queixa de perda de líquido vaginal há 3 horas. – DUM: 30/10/06. – G2C1A0. Último parto: Fevereiro/03. – Realizou 2 consultas de pré-natal. – Sorologias: • VDRL (15/05/07): Não reagente(NR). • HIV (29/06/07): NR. • TOXO (15/05/07): Imune (HAI: 1/128), IgG e IgM: sem reagente. – Tabagista no 1o trimestre. – Tipo sanguíneo: A+. – Laudo de ecografia gestacional (28/06/07): • “...dados que sugerem: Holoprosencefalia Lobar + Dandy Walker.” Evolução • 30/06/07 às 23:00h: – – – – – – – IGpc: 34 + 2. Em uso de CPAP nasal à pressão 4. Dieta zero. Sonda oro-gástrica. H.V. (TIG). Solicitado radiografia de tórax e sorologias do RN. Solicitado vaga na UTI neonatal. • 01/07/07 às 19:30h - UTI Neonatal: – – – – – – IgPc: 34 + 3. Em uso de Hood, FiO2: 40%. Dieta zero. Sonda oro-gástrica. H.V. (TIG) = 5mg/Kg/min. Solicitado ecotransfontanela. Exames • Radiografia de tórax (30/06/07): – Normal (sem laudo). Exames • Gasometria arterial: Gasometria arterial (CPAP 100%) - 01/07/07 pH 7,33 pCO2 43,4 pO2 181 HCO3 22,1 BE -2,5 SatO2 99,7% Exames • Ecotransfontanela (01/07/07):Dr. Paulo R. Margotto – Dilatação biventricular. VE=VD= 4mm. – Presença de septação ventricular esquerda (cisto?);comunicação do ventrículo com córtex (corno frontal direito e occipital esquerdo)? – Sugerido TC de Cranio. Exames • Ecotransfontanela (13/07/07): Exames • Hemograma: Hemograma - 01/07/07 Ht 43,2 Hg 14,1 Plaquetas 278.000 Macrocitose ++ Leuc 12.800 Seg 70 Bast 01 Linf 25 Mono 03 Eos 01 NT: 9.088 NI: 128 I/T: 0,02 NT: Neutrófilos totais. NI: Neutrófilos imaturos I/T: Imaturos/Totais Evolução • 02/07/07 às 10:59h - UTI Neonatal: – – – – – – IGpc (Idade gestacional pós-concepção): 34 + 4. Peso: 2.265g. Suspenso Hood. Dieta na sonda oro-gástrica.. Solicito ecotransfontanela. H.V. (TIG)= 4. • 03/07/07 às 23:00h - UTI Neonatal: – – – – – – IgPc: 34 + 5. Peso: 2.265g. Dieta no copo + sucção ao seio materno. H.V. (TIG) = 2. Aguardo ecotransfontanela. Transferência para ALCON. Exames • Sorologias do RN (02/07/07): – VDRL: NR. – Chagas: NR. – CMV: • IgM: negativo. • IgG: 66 UI/ml. – Toxoplasmose: • HAI= 1/128. • IgM: FR. Evolução • 04/07/07 às 08:00h: – – – – – IgPc: 34 + 6. Peso: 2.090g. Dieta no copo + sucção ao seio materno. Solicito TC de Crânio. Suspensa H.V. • 05/07/07 às 08:00h: – – – – IgPc: 35. Peso: 2.070g. Dieta no copo (SOG) + sucção ao seio materno. Aguardo TC de Crânio. Evolução • 06/07/07 às 11:45h: – – – – – IGpc: 35 + 1. Peso:? Dieta no copo (SOG) + sucção ao seio materno. Aguardo TC de Crânio. Suspensa H.V. • 07/07/07 às 08:00h: – – – – – IgPc: 35 + 2. Peso: 2.105g. Dieta no copo (SOG) + sucção ao seio materno. Aguardo TC de Crânio. Protovit 6 gts 2x por dia. Evolução • 08/07/07 ao 11/07/07: – Peso: 2.115g a 2.140g. – Manteve-se estável. – Solicitado parecer da Neurologia. • 12/07/07 às 19:40h: – IgPc: 36. – Peso: 2.265g. – “Pausas respiratórias”, associada a cianose (Convulsão?). Exames • TC de Crânio (11/07/07) : – Há comunicação do espaço subaracnóide com o espaço subependimário do corno frontal direito e corno occipital esquerdo compatível com esquizocefalia de lábios abertos. Os giros corticais dos lábios frontais tem um padrão espinado, com pobreza de sulcos intergirais compatível com paquigiría/ lisencefalia e ausência do septo pelúcido. Não há outras particularidades. – Conclusão: Os achados são compatíveis com malformação congênita do SNC. Exames • TC de Crânio (11/07/07) : Exames • Hemograma: NT: 4.641 NI: 0 I/T: 0 Hemograma - 12/07/07 Ht 37,7 Hg 12,8 Plaquetas 411.000 Leuc 9.100 Seg 51 Bast 00 Na+ 135 Linf 42 K+ 4,8 Mono 03 Ca2+ 11,2 Eos 04 Mg2+ 1,9 • Eletrólitos: Eletrólitos - 12/07/07 Evolução • Parecer da Neurologia (13/07/07): – “Esquizencefalia e Crises de Apnéia”. – “Segundo a mãe ontem teve 3 episódios de “apnéia” acompanhada de cianose. Suga bem. Atividades motoras adequadas p/ RN. FA (fontanela anterior) normotensa. Boa atividade vital. Sugerimos: • • • • Acompanhamento neuropediátrico; Acompanhamento em T.O. (terapia ocupacional); EEG; Gardenal gotas, 3-5mg/kg em dose única e crescente.” Evolução • 13/07/07 a 15/07/07 : – Peso: 2.335g a 2.485g. – Manteve-se estável. – Controle de peso para alta. • 16/07/07 às 9:00h: – – – – – IgPc: 36 + 4. Peso: 2.530g. Alta médica. EEG (já marcado). Encaminhamento p/ neurologista. Resumo… • Diagnósticos: – Prematuridade. – Esquizencefalia. – Desconforto respiratório leve. • CPAP nasal com FiO2: 100%, 30/06/07 a 01/07/07. • Hood com FiO2: 40%, 01/07/07 a 02/07/07. • UTI neonatal, 01/07/07 a 03/07/07. Embriologia do Sistema Nervoso • Origina-se a partir da 3ª semana de um espessamento dorsal do ectoderma, a placa neural, que induzida pela notocorda e pelo mesoderma adjacente, se dobra formando o sulco neural. • Forma-se então a o tubo neural e a crista neural a partir da quarta semana • A parte proximal do tubo neural forma o encéfalo (anterior, médio e posterior), o restante do tubo transforma-se na medula espinhal Embriologia do Sistema Nervoso • O canal neural (luz do tubo neural) dá origem aos ventrículos cerebrais e ao canal central da medula espinhal • A hipófise origina-se do ectoderma do estomodeu (adenohipófise) e do neuroectoderma do diencéfalo (neurohipófise) Embriologia do Sistema Nervoso • Encéfalo anterior (Prosencéfalo) - Telencéfalo (hemisférios cerebrais e ventrículos laterais) - Diencéfalo (tálamos e 3º ventrículo) • Encéfalo médio (Mesencéfalo) - Mesencéfalo (arqueduto cerebral) • Encéfalo posterior (Rombencéfalo) - Metencéfalo (ponte, cerebelo parte superior do 4º ventrículo - Mielencéfalo (bulbo, parte inferior do 4º ventrículo) Embriologia do Sistema Nervoso Malformações Cerebrais • Distúrbios do desenvolvimento cerebral • Etiologia: - Genética – mais comum nas primeiras semanas de gestação - Ambientais – Infecciosas, agentes químicos, radiação ionizante • Achado mais comum: dilatação ventricular • Classificação - Anatômica - Embriológica Malformações Cerebrais • Diagnóstico - Clínico - Exames de imagem Ressonância Magnética Tomografia Computadorizada Ultra-sonografia (Intra-útero, transfontanela) - EEG Malformações Cerebrais Classificação de DeMeyer (modificado) Grupo 1: Distúrbios da organogênese • • • • • • • Fechamento do tubo neural Malformação de Chiari Agenesia do corpo caloso Lipoma do corpo caloso Malformação de Dandy-Walker Cisto aracnóide da fossa posterior Teratoma Malformações Cerebrais Grupo 2: Distúrbios da diverticulação e clivagem • Displasia do septo óptico • Holoprosencefalia (Lobar, semilobar e alobar) Malformações Cerebrais Grupo 3: Distúrbios da sulcação e migração neuronal • • • • Lisencefalia Esquizencefalia Heterotopias Paquimicrogiria e polimicrogiria Malformações Cerebrais Grupo 4: Distúrbios da Histogênese • Síndromes neurocutâneas Esclerose tuberosa Neurofibromatose • Malformações vasculares congênitas Grupo 5: Distúrbios da citogênese • Neoplasias congênitas Grupo 6: Outros Distúrbios • Distúrbios do tamanho • Distúrbios da mielinização • Lesões destrutivas Malformações Cerebrais • Holoprosencefalia - Início entre a quarta e a sexta semanas de gestação - Distúrbio relacionado à trissomia dos cromossomos 13 e 28 - Incidência: 1/16.000 a 1/53.000 - Relação com teratógenos e filhos de mães diabéticas - Associada a RCIU ou oligo/ polihidramnia Malformações Cerebrais • Falha na diferenciação do prosencéfalo em telencéfalo e diencéfalo • Classificação: Prognóstico e alterações clínicas - Alobar – Mais grave - Semilobar - Lobar - Arrinencefalia Malformações Cerebrais Classificação quanto a forma de apresentação das holoprosencefalias segundo De Meyer. Forma Morfologia cerebral • Alobar - Forma mais severa; – – – – – – Não há divisão entre os hemisférios cerebrais (holosfério); Cavidade ventricular única (monoventrículo); Circunvoluções cerebrais aberrantes (paquigiria); Ausência do corpo caloso e septo pelúcido; Fusão dos núcleos talâmicos; Ausência dos bulbos olfatórios. Holoprosencefalia Alobar Holoprosencefalia Alobar Malformações Cerebrais • Semilobar- Forma intermediária; – Fissura interhemisférica irregular ou incompleta; – Ponte córticomedular contínua através da linha média; – Monoventrículo freqüentemente dividido em dois cornos temporais posteriores. – Bulbos e tratos olfatórios podem estar bem desenvolvidos. Holoprosecefalia semilobar Malformações Cerebrais • Lobar - Forma bem diferenciada; – Dois hemisférios bem desenvolvidos; – Ausência do corpo caloso e estruturas da linha média; – Monoventrículo pode salientar-se na região interhemisférica através de uma formação cística coberta por uma fina camada meningoependimária. • Arrinencefalia - Forma menos severa; – Ausência isolada dos bulbos e tractos olfatórios; – Fendas orofaciais podem estar associadas. Holoprosencefalia lobar Malformações cerebrais Holoprosencefalia Malformações Cerebrais Malformação de Chiari • Anomalia da fossa posterior • Distúrbio do fechamento do tubo neural • Subdividida em 4 tipos Chiari I • Caracterizada por alongamento do cerebelo e deslocamento caudal das amígdalas cerebelares através do forame magno • Geralmente assintomática na criança, mas adolescentes e adultos jovens podem ter dor de cabeça, e desenvolver paralisia de nervos cranianos e cavidades tubulares dentro da medula espinhal. Malformações cerebrais Chiari II - Mais comum • Herniação das amígdalas, vermis cerebelar, parte do quarto ventrículo e porção inferior da medula oblonga, para dentro do canal vertebral. • Quase sempre associada à mielomeningocele e é a principal causa de hidrocefalia nessas crianças • Estrabismo, respiração ruidosa, alteração da respiração, distúrbios do sono, dificuldade para a alimentação e alterações funcionais dos braços são alterações sugestivas de Chiari II sintomática. Malformações cerebrais Chiari III • Herniação do cerebelo e tronco encefálico para dentro de uma meningocele cervical alta. Esta malformação é rara. Chiari IV • A malformação de Chiari IV consiste unicamente de hipoplasia cerebelar. As manifestações clínicas estão relacionadas com o grau de atrofia do cerebelo. Chiari tipos I e II Malformações Cerebrais Malformação de Dandy-Walker • Expansão cística do 4º ventrículo na fossa posterior • Falha do desenvolvimento do 4º ventrículo durante a embriogênese • Cerca de 90% dos pacientes têm hidrocefalia e anomalias como agenesia do vermis cerebelar posterior, do corpo caloso e dilatação dos ventrículos laterais • Aumento rápido do perímetro cefálico, ataxia cerebelar e atraso motor-cognitivo • Tratamento: derivação da cavidade cística na presença de hidrocefalia Malformação de DandyWalker Malformação de DandyWalker Malformações cerebrais Agenesia do corpo caloso • Grupo heterogêneo de distúrbios cuja expressão varia desde anormalidades neurológicas intensas até indivíduos assintomáticos • Raramente é um defeito isolado • Insulto à lâmina comissural durante o início da embriogênese • Associados a infecções virais e a alterações cromossômicas (11,13,15, 18 e X) • Manifestações variam de acordo com a gravidade das malformações associadas Corpo Caloso Agenesia do corpo caloso Malformações cerebrais Lisencefalia • “Cérebro Liso” – Ausência de circunvoluções cerebrais • 10-14 semanas de gestação • Vários graus da doença • Atraso no crescimento e desenvolvimento, microcefalia, convulsões de difícil controle e distúrbios oculares • Síndrome de Miller-Diecker Lisencefalia Malformações cerebrais Paquigiria • Malformação do córtex que ocorre na migração neuronal precoce (8-20 semanas) • Giros cerebrais espessados difusamente, com sulcos rasos, exceto nos pólos frontais, onde, com freqüência apresentam características normais • Hipotonia severa, retardo do desenvolvimento psicomotor, convulsões Paquigiria Paquigiria Esquizencefalia • As esquizencefalias constituem malformações cerebrais congênitas caracterizadas por fendas no manto cerebral, as quais se estendem da superfície pial aos ventrículos laterais, delineadas por substância cinzenta • Descrita inicialmente no final do século XIX • Podem ocorrer uni ou bilateralmente, em qualquer região dos hemisférios,embora a localização mais habitual seja a área perisylviana Esquizencefalia • Desencadeada por defeito na migração tardia dos neurônios • Agressões isquêmicas até a 25ª semana podem levar às malformações • Associação com microgiria • Associação com infecções congênitas por citomegalovírus • Mutação no gene homeobox EMX2 localizado no cromossomo 10q26.1 • Diagnóstico por exames de imagem Esquizencefalia • Lábios abertos X fechados • Características clínicas variadas e associadas ao tamanho da fenda – Fendas pequenas e fechadas podem ser encontradas em pacientes normais – Pacientes com esquizencefalia unilateral podem apresentar microcefalia e déficit mental leve – Fendas bilaterais levam a microcefalia, tetraparesia e déficit mental mais importante – Fendas abertas levam a sintomas mais graves Esquizencefalia Esquizencefalia Esquizencefalia Esquizencefalia Esquizencefalia • Cerca de 81%dos pacientes podem desenvolver epilepsia • Achados de EEG não patognomônicos – Lentificação difusa ou hemisférica associada à atividade epileptiforme temporal é um dos padrões descritos. • Menos de 10% aparecem como alterações isoladas • Ausência de septo pelúcido, disgenesias de corpo caloso, malformações de fossa posterior, calcificações, polimicrogiria e hidrocefalia Esquizencefalia • Prognóstico varia com o tamanho das alterações e com outras malformações associadas • Tratamento sintomático para convulsões e hidrocefalia Obrigado! Dda Giselle Ddo Paulo César