Seminário Internacional Saúde e Democracia: participação política e institucionalidade democrática CEBES – Rio de Janeiro 26 e 27 de junho de 2008 Teorias democráticas, participação e transformação social Luciano Fedozzi (UFRGS) Principais Teorias Democráticas Contemporâneas 1. Teoria behaviorista - culturalista (cultura cívica) 2. Teorias elitistas da democracia (realistas) 3. Teorias individualistas (escolha racional) 4. Teoria pluralista liberal da democracia 5. Teoria procedimental da política deliberativa (liberal, republicana radical e liberal-republicana) Modelo teórico da democracia deliberativa: anos 90 A possibilidade da troca racional de argumentos é a principal condição de legitimação de um regime democrático. A formalização desse processo deliberativo varia de acordo com os diversos proponentes dessa perspectiva. Anteriormente à virada deliberativa, o ideal democrático liberal era definido, sobretudo, em termos da agregação de interesses próprios ou preferências em decisões coletivas por intermédio de instrumentos como as eleições e de princípios como o da representação política. Em último caso, “reconciliação e agregação das preferências”. Fonte: Silva, F. Harvard (2004) Pressupostos que a distinguem de outras correntes: 1. Noção de debate racional como procedimento político por excelência, em lugar da noção de “compromisso entre interesses próprios divergentes”. 2. Ao invés de um ato privado como é o voto, a democracia deliberativa aposta num ato público como ato político por excelência – a troca livre e pública de argumentos (importância das esferas públicas). 3. A idéia de que se trata de deliberação realmente democrática, no sentido de que incorpora princípios essenciais do ideário democrático tais como: a igualdade política de todos os participantes e a sensibilidade para o interesse público. “Capacidade detida por todos os cidadãos de deliberar racionalmente sobre as decisões coletivas que lhes dizem respeito” Fontes de inspiração: Aristóteles, Rousseau, Kant, Dewey, Arendt, etc. Fonte: Silva, F. Harvard (2004) Principais nomes: Liberais: Rawls, Bruce Ackerman, Amy Gutmann e Dennis Thompson Teoria Crítica: Habermas, James Bohman, Seyla Benhabib, J. Dryzek e Nancy Fraser (republicanos radicais) Transições democráticas: refuta homologia entre construção institucional e democratização societária subentendidas nas teorias da transição. Relevância: Importância surgimento de novos atores e movimentos sociais na esfera pública e na sociedade civil. Esfera pública é ambígua: relacionada aos espaços comunicativos primários, aos fluxos comunicativos do mundo da vida e à tematização das situações-problema É operada pelo conjunto de associações voluntárias desvinculadas do Estado e do mercado a que se denomina sociedade civil E por outro lado: busca de legitimação das decisões instrumentais do mercado e do poder político. Democratização é aprendizagem. Duplo processo: socialização e individuação (construtivismo interacionista) Competências do Eu autônomo: cognitiva, moral e interativa. Descentração da perspectiva sócio-moral baseada no critério de justiça crescente. Racionalização da moral no mundo da vida - Processo no qual atores se tornam autônomos em relação às tradições sociais que foram socializados. - Competência sócio-moral de questionamento sobre as pretensões de validez das normas e das regras sociais que fundamentam a legitimidade das decisões. -Progressiva substituição de uma moral tradicional por uma moralidade pós-convencional. Institucionalização do ponto de vista sociológico POLÍTICAS PARTICIPATIVAS PERGUNTAS PRINCIPAIS 1. Que lugar a participação ocupa no sistema de tomada de decisões? 2. Que poder real de decisão e que grau de controle os participantes possuem? 3. Quem são os atores participantes? 4. Quem decide e como são definidas as regras do jogo? 5. Que práticas sociais predominam entre os participantes da sociedade civil? 6. Quais são os resultados e os impactos objetivos e subjetivos da participação? Poder de decisão: nível de compartilhamento do poder Assimetrias na participação Assimetrias na participação Escolaridade e participação nas instâncias do OP 1º grau 2º grau 3º grau 70,0% 61,30% 60,0% 49,90% 50,0% 38,50% 40,0% 28,30% 28,20% 27,00% 30,0% 20,60% 20,0% 20,10% 16,00% 10,0% 0,0% Geral Delegados Conselheiros Aprendizagens para a competência comunicativa ? Falam Não falam - maior tempo de OP - menor tempo OP (1 ano) - 2º e 3º Graus - 1º Grau - homens - mulheres - renda até 4 SM - renda até 4 SM - conhecem regras do OP - não conhecem regras do OP - funções representativas - democracia, cidadania, controle social e valores comunitários - nunca exerceram representação - motivação nas demandas - eleitos assembléias abertas - não sabem como são eleitos Autonomia Heteronomia Efeitos dos OP´s: racionalização política favoráveis às condições institucionais necessárias à asserção da cidadania e potencialidades redistributivas. Estudo recente do Banco Mundial realizado no Brasil: “Os OP´s impactaram na redução dos índices da pobreza nos municípios onde o OP foi implementado por mais de uma década. Esse impacto ocorreu apesar da redução do PIB per capita nestes governos municipais, sugerindo que o OP pode ter contribuído para um impacto redistributivo de longo prazo. Além disso, o impacto no acesso à água tratada e saneamento básico é positivo para todos os governos municipais que adotaram o OP” (BIRD, 2007, p. 10). Efeitos subjetivos da participação: construção da consciência social Variáveis e condições para a democracia participativa VARIÁVEIS VONTADE POLÍTICA DE COMPARTILHAR AS DECISÕES NÍVEL DA AÇÃO COLETIVA CONDIÇÕES DESFAVORÁVEIS CONDIÇÕES FAVORÁVEIS CENTRALIZAÇÃO DAS DECISÕES: RELAÇÕES VERTICALIZADAS Estado - Sociedade Civil (Sujeito) (Objeto) CO-RESPONSABILIDADE: RELAÇÕES EM REDE = CO-GESTÃO Estado - Sociedade Civil (Sujeito) (Sujeito) BAIXA ORGANIZAÇÃO E FRAGMENTAÇÃO SOCIAL particularismo e relação de tutela FORTALECIMENTO DO TECIDO SOCIAL E DAS REDES CÍVICAS Pluralismo e autonomia dos atores da sociedade civil GOVERNABILIDADE FINANCEIRA BAIXA CAPACIDADE DE INVERSÃO Desestímulo à participação quebra de vínculo e de confiança CAPACIDADE DE GOVERNO FRAGMENTAÇÃO DA ESTRUTURA E DAS FORMAS DE GESTÃO PÚBLICA Ausência de integração Intra-governamental ABERTURA À INOVAÇÃO INSTITUCIONAL RIGIDEZ INSTITUCIONAL LEGALISMO. TEMOR DA PERDA DE CONTROLE. Democracia como “adesão” CÍRCULO VIRTUOSO Participação e resultados materiais e subjetivos GESTÃO TRANSVERSAL E MULTIDISCIPLINAR Eficiência e eficácia no processamento técnico-político das demandas e na elaboração de projetos DEMOCRACIA COMO CONSTRUÇÃO (PROCESSO). INOVAÇÃO Criatividade dos atores envolvidos Fonte: Fedozzi, L. Participação nos Governos Locais do Brasil Contemporâneo. Gestão Pública e Participação. Salvador (2005) Fases para um processo participativo virtuoso 1. Sistemas e instrumentos de informações 2. Capacitação dos atores 3. Tipos e níveis de tomada de decisões 4. Formas e instrumentos de controle social 5. Regras de prestação de contas 6. Indicadores de metas, impactos e avaliação do processo participativo NUDOS DE LA PARTICIPACIÓN - Carácter deliberativo cogestivo - Capaciudad de ejecutar (tecnico-administrativo-político) -Control y efectividad de las decisiones Círculo virtuoso de la participación Teoria crítica e teoria tradicional 1. Para a TC, o interesse pela sociedade emancipada é interior à prática da ciência. 2. Comportar-se criticamente em relação à realidade social implica considerar os fatos não como meros dados mas como produtos históricos que podem ser alterados. O conhecimento é pensado conforme o interesse futuro. 3. O teórico crítico suprime a separação entre ser e dever ser, entre teoria e práxis. E é também por objetividade que se realiza essa separação. 4. A sociedade capitalista é um produto histórico e por isso fazem também parte dela fatores que levam à sua transformação, fatores que podem ser tanto emancipatórios como retrógados. 5. É necessário direcionar o interesse para a descoberta das tendências emancipatórias, sem perder de vista as contratendências. 6. Ignorar as tendências reais de transformação é que seria atentar contra a objetividade, eternizando e naturalizando a sociedade. 7. Por isso a teoria crítica não se confunde com a mera utopia. Como projeto irrealizável, a utopia apenas reforça a realidade existente por não se identificar nela as possibilidades reais da realização almejada da justiça e da liberdade. Luis Sergio Repa. USP (2008) Atores e condições da participação: Tempo como capital político Características do nosso histórico autoritatrismo Concepção tutelar do poder: precedência histórica do Estado em relação à sociedade civil, mecanismos de cooptação e de exclusão social e política; Não distinção entre o que é público e o que é privado: inexistência da noção republicana, base das democracias (apropriação privada da coisa pública); Frágil sociedade civil, consciência cívica e participativa Ausência de esfera pública como mediação de interesses e forma de publicização das situações-problema. Sistema político não funciona como representação de interesses (sistema político-partidário no país): clientelismo, barganha, populismo e tecnocratismo. Ausência da noção de contrato social: reconhecimento do outro como sujeito portador de direitos e noção da igualdade humana básica. Inexistência do sentimento de pertencimento e intolerância com os diferentes (exclusão). Ética social da “cordialidade” (pessoalidade) Cultura da vantagem (Lei de Gerson) e fraca consciência do espaço público como algo de todos (privatismo e personalismo) Sociedade altamente hierarquizada (pessoa X indivíduo) (“Voce sabe com quem está falando?) (Da Matta) Permanente dualidade entre o país real e o país formal: esquizofrenia entre os níveis institucional e social que é resolvida pelo jeitinho e/ou pela corrupção. Poder: intransparência, ausência de accountability Orçamento Participativo Ideologia Prática Esfera pública não-estatal Forte presença do Estado Gestão PT Frente Auto-regulamentação Popular Decisão autônoma participantes (1989-2003) Democracia direta Gestão FogaçaEliseu (2004- 2008) Autonomia do OP Compatibilidade com Governança Solidária Local (GSL) Co-regulamentação Compartilhamento poder decisório Democracia participativa Menor compromisso do Estado Frágil co-gestão Ênfase na criação da GSL Criação instrumentos previstos e não praticados antes Representação: é forma, expediente Representatividade: é relação Legitimidade: é crença, é autorização