UNEB – UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I Maria da Purificação Santos Santana EDUCAÇÃO INFANTIL: OS DESAFIOS DO ATENDIMENTO VOLTADO PARA UMA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE Salvador 2009 MARIA DA PURIFICAÇÃO SANTOS SANTANA EDUCAÇÃO INFANTIL: OS DESAFIOS DO ATENDIMENTO VOLTADOS PARA UMA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção da graduação em Pedagogia, com Habilitação em Gestão e Coordenação do Trabalho Escolar, do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, sob orientação da Profª Dra. Elizabete C. Santana Salvador 2009 FICHA CATALOGRÁFICA – Biblioteca Central da UNEB Bibliotecária: Jacira Almeida Mendes – CRB: 5/592 Santana, Maria da Purificação Santos Educação infantil : os desafios do atendimento voltado para uma educação de qualidade / Maria da Purificação Santos Santana . - Salvador, 2009. 67f. Orientadora: Elizabete Conceição Santana. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) - Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação. Colegiado de Pedagogia. Campus I. 2009. Contém referências. 1. Educação de crianças - Brasil. 2. Ensino fundamental - Bahia. 3. Educação pré-escolar I. Santana, Elizabete Conceição. II. Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Educação. CDD: 372.298142 MARIA DA PURIFICAÇÃO SANTOS SANTANA EDUCAÇÃO INFANTIL: OS DESAFIOS DO ATENDIMENTO VOLTADO PARA UMA EDUCAÇÃO DE QUALIDADE Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção da graduação em Pedagogia com Habilitação em Gestão e Coordenação do Trabalho Escolar do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, sob orientação da Profª Dra. Elizabete C. Santana. Aprovada em: _____ de __________________ de 2009. BANCA EXAMINADORA ______________________________________________ Professora Drª. Elizabete C. Santana – UNEB ______________________________________________ Professora Rilza Cerqueira Santos – UNEB ______________________________________________ Professor Otoniel Vitor C. Rocha – UNEB ______________________________________________ Professora Maria Olivia Matos – UNEB Dedico esse trabalho a todas as pessoas que direta ou indiretamente deram sua inestimável contribuição. Em especial a: Professora Elizabete Santana, minha competente e paciente orientadora; Minha família, porto seguro para todas as horas; Aos colegas, especialmente a Geórgia e Lílian, pois sem elas não teria o mesmo brilho; Acima de todos, a Deus que os colocou em meu caminho para ajudar, amar e proteger. A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe. Jean Piaget RESUMO Esse trabalho de conclusão do Curso de Graduação de Pedagogia com Habilitação em Gestão e Coordenação do Trabalho Escolar teve como objetivo conhecer o funcionamento de uma instituição de educação infantil e comparar aspectos desse funcionamento com os padrões de qualidade sugeridos nos documentos oficiais e em textos de autores interessados na temática. A pesquisa realizada adotou uma abordagem qualitativa cujo principal procedimento utilizado foi a observação participante, pois esta permite uma melhor compreensão das atitudes, interesses, fatos e inter-relações existentes na instituição pesquisada. A conclusão foi da existência de um distanciamento entre os padrões oficiais de qualidade e os praticados na instituição. Palavras chaves: Assistencialismo. Educação Infantil. Qualidade. ABSTRACT This work of completion of undergraduate courses with Proof of Pedagogy in Management and Coordination of Work School aimed to know the functioning of an institution of early childhood education and compare aspects of working with quality standards suggested in official documents and texts by authors interested in the topic. The research conducted has adopted a qualitative approach whose main procedure used was participant observation, as this allows a better understanding of attitudes, interests, events and inter-relationships in the institution studied. The conclusion was the existence of a gap between the official standards of quality and practiced in the institution. Key words: Care. Child Rearing. Quality 10 SUMÁRIO Nenhuma entrada de sumário foi encontrada.1 INTRODUÇÃO A educação Infantil, suas particularidades, seu currículo, a forma de atendimento, e sua história, temas estudados na Disciplina Referenciais TeóricosMetodológicos da Educação Infantil, suscitaram o desejo de conhecer de perto o que acontece em uma escola desse nível de ensino. Como Secretária de uma escola pública do ensino fundamental me intrigava a queixa das mães sobre as poucas vagas oferecidas para crianças com menos de sete anos e a quase inexistência, em alguns bairros, de creches oferecidas pelo Estado e Município. Ao juntar as duas visões, acadêmica e profissional, surgiu muito naturalmente a opção pela Educação Infantil como área de estágio e tema para o projeto de pesquisa a ser desenvolvido como Trabalho de Conclusão do Curso de Pedagogia. Quem oferece a Educação Infantil? De que maneira está sendo oferecida? Há atendimento suficiente? O que dizem as leis sobre esse atendimento? Essas indagações me impulsionaram e guiaram os primeiros momentos da elaboração dessa monografia. Ao iniciar a pesquisa descobri que é muito recente considerar “Educação” o que geralmente se oferecia às crianças pequenas nos estabelecimentos de ensino voltados para o seu atendimento. Tratava-se, quando muito, de acolhimento, assistência ou guarda, o período de tempo em que as crianças ficavam separadas de sua família e entregues aos cuidados de pessoas de boa vontade, para alimentar, proteger e promover cuidados de higiene. No inicio da pesquisa bibliográfica para elaboração do projeto de estágio, enfrentei dificuldades para encontrar livros sobre o assunto. Considerei insuficiente os títulos disponíveis nas bibliotecas pesquisadas e nas livrarias visitadas, principalmente no que diz respeito à gestão e à coordenação pedagógica. Percebi em alguns textos, que a influência do histórico assistencialista e filantrópico a que 1 esse nível de educação era anteriormente associado, restringia existência de uma boa bibliografia a respeito do tema. No que diz respeito à documentação oficial, a Constituição Federal de 1988, ao considerar a Educação Infantil como um direito da criança e um dever do Estado veio proporcionar um grande salto para reverter a situação da educação para crianças pequenas. Muitos estudos foram feitos e documentos foram elaborados como: O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, 1990); a Lei de Diretrizes e Bases 9.394/96 (LDB 1996); Referenciais Curriculares para a Educação Infantil (RCNEI 1998); Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil (2006). Além da literatura a respeito do tema, faltava a aproximação da realidade. O que acontecia no cotidiano das escolas com respeito à qualidade do ensino oferecido às crianças pequenas? Foi o que procurei verificar durante o estágio curricular do curso de Pedagogia, realizado em uma instituição de educação infantil e na elaboração da monografia de conclusão de curso quando tomei como objeto de pesquisa os padrões de qualidade no atendimento da população de 0 a 6 anos oferecido pelo Centro Nova Semente. Tomando-se por base autores como Rizzo (2006), Abramowicz e Wajskop (1995), Goldschmied e Jackson (2006), Sanches (2003), e as recomendações encontradas nos documentos oficiais, considera-se educação de qualidade aquela que privilegia a adequação dos espaços e do ambiente, a organização de uma rotina diária voltada para a função indissociável do cuidar e educar, pautada no currículo específico para Educação Infantil abrangendo os três grandes eixos: o brincar, o movimento e o conhecimento de si e do outro, e os tipos de interação realizadas entre professor-aluno. Tudo isso estando em conformidade com as diretrizes curriculares nacionais e com as normas legais locais, que garantam a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem. Nessa monografia, aliou-se o estudo de bibliografia sobre a Educação Infantil a uma situação de convivência da pesquisadora com o seu objeto de pesquisa, em um espaço destinado a esse nível de educação. Durante o estágio no Centro Nova Semente, ao mesmo tempo em que era desenvolvido um projeto de intervenção destinado a contribuir para a melhoria da prática pedagógica das professoras, realizavam-se observações para colher informações sobre o funcionamento e a qualidade do atendimento dispensado aos alunos. 12 No primeiro momento da análise de documentos oficiais (relatórios estatísticos e estudos realizados pela Prefeitura Municipal de Salvador) buscou-se conhecer o atendimento de crianças de 0 a 6 anos de idade em Creches e escolas de Educação Infantil, considerando que ainda é muito recente a inclusão dos alunos de 6 anos no ensino fundamental. Para isso, foram utilizados os resultados dos Censos escolares para o Brasil, a Bahia e Salvador que proporcionaram uma visão geral da situação educacional nos últimos anos. Essas informações constituem o primeiro capítulo da monografia. No segundo capitulo, procurou-se verificar as recomendações de diversos autores e dos documentos oficiais brasileiros a respeito da educação de crianças pequenas e do bom atendimento na Educação Infantil. O terceiro capítulo traz a análise dos padrões de qualidade do Centro Nova Semente no atendimento dos alunos da Educação Infantil. Buscou-se relacionar o conhecimento da sua estrutura física, do seu funcionamento e das inter-relações existentes naquele espaço com os atuais parâmetros de qualidade defendidos por teóricos e por setores do governo responsáveis pela administração da Educação Infantil. . 13 2 METODOLOGIA A pesquisa realizada adotou uma abordagem qualitativa, pois esta teve o ambiente natural como fonte direta de dados e a pesquisadora como seu principal instrumento. Os dados coletados foram predominantemente descritivos. Nela encontram-se descrições de pessoas, situações, acontecimentos, incluindo algumas falas de professoras e da diretora do Centro Nova Semente. A atenção da pesquisadora esteve sempre voltada para o processo educacional que ali se desenvolvia, a fim de verificar como este processo se manifestava nas atividades, nos procedimentos e nas interações cotidianas. Buscava -se conhecer se a instituição observava a legislação que dá suporte a esse nível de ensino e determinar o nível de qualidade do atendimento realizado. 2.1 O LEVANTAMENTO DOS DADOS O principal procedimento de pesquisa utilizado foi a observação participante, realizada no período de 23 de julho a 22 de setembro de 2008, durante o Estágio Supervisionado do Curso de Pedagogia com Habilitação em Gestão e Coordenação do Trabalho Escolar. O projeto de Estágio Supervisionado possibilitou uma intervenção na área de Gestão e Coordenação junto ao corpo docente do Centro Nova Semente. Atendeu às necessidades de atualização de conhecimentos das professoras sobre a Pedagogia de Projetos. Tais necessidades foram observadas durante as atividades que antecedem o Estágio Supervisionado e tinha como objetivo principal promover 14 uma reflexão sobre educação infantil e sobre os fundamentos teóricos da Pedagogia de Projetos. Assim, atividades de formação continuada foram desenvolvidas com o objetivo específico de: - Aumentar a confiança das professoras, para que se sentissem aptas à elaboração e aplicação da Pedagogia de Projetos no seu cotidiano; - Auxiliar as professoras a se apropriarem das questões básicas da teoria para construção de projetos didáticos, entendendo-os como um meio de tornar a aprendizagem das crianças mais significativas. - Apoiar os professores na construção e execução de um projeto didático. Foram realizadas palestras, discussões, leitura orientada de textos, observação do trabalho das professoras, oficinas para elaboração de projeto, atividades em sala de aula dirigidas pela pesquisadora, acompanhamento e observação das turmas durante a chegada ao centro, na merenda, recreio, almoço e em situação de atividades extraclasse. A observação participante permite ao observador uma melhor compreensão das atitudes e interesses das pessoas do grupo pesquisado visto que, de certa forma, ele está inserido no grupo e nas relações interpessoais que o ajudarão a conhecer as características, sentimentos e anseios de maneira mais natural. Esse método de pesquisa tem a grande vantagem das pessoas agirem naturalmente, sem inibições ou tentativas de mascarar a realidade, pois devido a interação existente entre pesquisador e pesquisado não há o sentimento de que ali está um estranho a lhe observar. Haguette (1995, p.71) cita Schwartz e Schwartz que dizem: O papel do observador participante pode ser tanto formal como informal, encoberto ou revelado, o observador pode dispensar muito ou pouco tempo na situação da pesquisa; o papel do observador participante pode ser uma parte integral da estrutura social, ou ser simplesmente periférica com relação a ela. 2.2 A SISTEMATIZAÇÃO DOS DADOS LEVANTADOS 15 Uma primeira sistematização dos resultados das observações realizadas foi apresentada no relatório de estágio. Posteriormente, buscou-se uma forma de análise que permitisse elaborar conclusões relacionadas com os objetivos da pesquisa, que eram: conhecer o funcionamento de uma instituição de educação infantil e comparar aspectos desse funcionamento com os padrões de qualidade sugeridos nos documentos oficiais e em textos de autores interessados na temática. Realizou-se então uma nova leitura dos padrões de qualidade presentes nos textos dos Parâmetros de Qualidade para Educação Infantil, dos Referenciais Curriculares para Educação Infantil (RCNEI-1998) e de autores como: Abramowicz, Rizzo, Goldschmied e Sanches. A leitura de referências sobre a “Escala de Avaliação de Ambientes Coletivos para Crianças de 0-30 meses”, citadas por Lima e Bhering ( p.19 ), indicou a possibilidade de usar o referido instrumento para siste matizar os dados levantados.(Tabela 6 ) Os dados foram então agrupados de acordo com as sete categorias contempladas na escala: 1- Espaço e mobiliário; 2-Rotinas de cuidado pessoal; 3Linguagem oral e compreensão; 4- Atividades; 5- Interação; 6- Estrutura do Programa: 7- Pais e equipe. A partir dessa sistematização procedeu-se à análise e discussão da situação do funcionamento da Creche Nova Semente. 16 3 ATENDIMENTO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: BRASIL, BAHIA E SALVADOR Sabe-se que, historicamente, o surgimento da pré-escola e, especialmente, das creches não esteve relacionado a objetivos pedagógicos, mas a questões econômicas vinculadas às necessidades das mães que ao ingressarem no mercado de trabalho precisavam de um local para deixar seus filhos enquanto cumpriam suas jornadas diárias de trabalho. Embora os estudos sobre o desenvolvimento da criança demonstrem que os estímulos recebidos, tanto na creche quanto na educação infantil, marcam de forma duradoura a vida escolar e as aptidões futuras, no Brasil ainda é pequeno o número de crianças atendidas na Educação Infantil. Esse tipo de educação começa a expandir-se no país a partir da década de 70, do século XX, através da ação de instituições privadas. No caso das creches a expansão deve -se ás instituições de cunho assistencial. Os dados disponíveis através do Censo Escolar realizado pelo INEP/MEC, em 2007, revelam que naquele ano 4.918.984 crianças foram atendidas na creche e na pré-escola o que não representa nem 5,0 % da matrícula inicial total da Educação Básica na modalidade regular registrada para todo país (Tabela 1). Esse percentual indica a existência de um longo caminho ainda a percorrer quanto à inclusão da população a que se destina a educação infantil Apesar da grande importância desses dados para a educação das crianças de 0 a 6 anos, o registro estatístico ainda não é suficientemente abrangente para subsidiar o delineamento de políticas de inclusão e atendimento. Os dados das creches, por exemplo, começaram a ser levantados em 1998, quando foi feito o cadastramento das escolas destinadas a atender crianças de 0 a 3 anos de idade, em todo país. Sabe-se que esses dados são bastante incompletos quando se trata das creches, pois um grande número desses estabelecimentos ainda funciona de 17 maneira informal, visto que não estão vinculados ao sistema educacional e, sendo assim, não constam nas estatísticas oficiais. Tabela 1 BRASIL. Matrícula Inicial na Educação Básic a na modalidade regular, 2007 ENSINO REGULAR Dependência Administrativa e localização Ensino infantil Ensino creche urbana Ensino fundamental Pré-escola Anos iniciais Anos Finais Médio 7.123.419 73.019.027 TOTAL 8.488 151.794 3.523.534 83.826.262 257 16.511 271.333 327.568 56.739 672.408 urbana 932.230 2.965.866 8.648.029 4.157.452 1.327.488 18.031.065 rural 104262 743.576 3.360.765 1.250.144 476.130 5.934.877 1.048.237 3.870.747 15.803.661 12.878.503 74.879.384 108.464.612 108.480.532 0,97 3,57 14,57 Estadual rural Municipal TOTAL (estadual e municipal) Absolu tos % 11,87 69,04 100,00 Fonte: MEC/INEP. Resultados do Censo de 2007 Disponível em : http://www.inep.gov.br/imprensa/noticias/censo/escolar/news08_01.htm.. Acesso em 19/02/2009 através de: http://www.sec.ba.gov.br/estatistica/resultado_censo_2007.htm 3.1 ATENDIMENTO DA CRIANÇA DE 0 A 6 NO ESTADO DA BAHIA Em 2007 foram atendidas 497.386 crianças na educação infantil do Estado da Bahia. Neste Estado, como no restante do país a matrícula é predominantemente 18 viabilizada através da rede municipal de ensino tanto no que diz respeito à creche como à pré-escola. São atendidos pelo município 382.212 dos 405.684 alunos da pré-escola e 75.865 dos 91.702 dos que estão em creches (Tabela 2 ). A Tabela 3 evidencia que houve no período que vai do ano 1999 ao ano 2007 um aumento de 28,9% na matrícula total da Educação Infantil. Os números ressaltam esfera a retirada progressiva do Estado e o crescimento das matrículas na municipal refletindo o cumprimento do preceito de divisão das responsabilidades determinado na LDB 9394/96. Os dados evidenciam também que em 2007 houve uma queda das matrículas na rede particular, que se reflete no total da matrícula em todas as redes sem, contudo, implicar em decréscimo da taxa global de crescimento; O gráfico I confirma o que revela a Tabela 3. Ao longo dos nove anos considerados o crescimento tem sido constante, porém muito discreto, apesar dos pequenos saltos observados entre 2000 e 2001 e entre 2005 e 2006. Tabela 2 BAHIA. Matrícula na educação infantil por fase, localização e dependência administrativa, 2007 DEPENDÊNCIA ADMINISTRATIVA FASE Creche TOTAL FEDERAL ESTADUAL MUNICIPAL PRIVADA 91.702 - 607 75865 15.230 Pré-escola 405.684 - 1216 382.212 76.256 Total 497.386 - 1823 404.077 91.486 Fonte: MEC/INEP. Resultados do Censo de 2007 publicado no. DOU. 10 /01/ 2008 Disponível em: http://www.inep.gov.br/imprensa/noticias/censo/escolar/news08_01.htm Acesso em 19/02/2009 19 Tabela 3 BAHIA. Matrícula inicial na educação infantil por dependência Administrativa. 1999-2007 Ano Total Geral 1999 385.944 6,8 27 10.284 260.532 115.101 2000 408.580 5,9 49 11.352 287.320 109.859 2001 462.962 13,3 - 10.983 335.663 116.316 2002 475.676 2,7 - 9.873 341.186 124.617 2003 486.527 2,3 - 9.545 352.218 124.764 2004 478.278 -1,7 - 8.502 346.694 123.082 2005 532.093 11,3 - 8.044 389.693 134.356 2006 552.332 15,5 - 7.853 400.581 143.898 2007 497.386 -6,5 - 1.823 404.077 91.486 28,9 - - 100,0 -82,3 55,1 -20,5 Taxa de Cres. 99/07 (%) Var.Anual Federal Estadual Municipal Particular Fonte:BAHIA.SEC,MEC/INEP: Ação Educar: Qualidade, compromisso de todos Elaboração dos dados e da tabela: BAHIA.SEC-SUPAV/CAI. 20 GRÁFICO I EVOLUÇÃO DA MATRÍCULA INICIAL NA EDUCAÇÃO INFANTIL, BAHIA 1999-2007 Fonte: BAHIA. SEC,MEC/INEP Elaboração:BAHIA. SEC-SUPAV/CAI Na Tabela 4 os mesmos dados do Censo do ano de 2007, anteriormente analisados através da sistematização elaborada pela Secretaria da Educação, foram utilizados pelo INEP para demonstrar a distribuição da matrícula inicial em creches e pré-escola por idade dos alunos 1. Segundo o Art. 30 da LDB 9.394/96, o atendimento na Educação Infantil deve se dar em:: - creches ou entidades equivalentes, para crianças de zero a três anos de idade; - pré-escola para crianças de quatro a seis anos de idade 1 A diferença entre os totais das tabelas elaboradas a partir dos dados do MEC/INEP e a sistematização dos dados realizada pela Secretaria de Educação do Estado da Bahia deve-se a diferentes critérios de inclusão dos dados levantados e não invalidam a análise que pretendeu apenas mostrar os grandes contornos do problema. Note-se que em ambos os casos tratam-se de dados relativos ao mesmo levantamento – o Censo Escolar 2007. 21 Tabela 4 BAHIA. Número de alunos da Educação Infantil por fases e faixa etária, 2007 Faixa etária Faixa Etária fases Total Creche 4 e 5 anos 6 a 9 anos Mais de 9 anos 90.986 48.228 39.625 3.094 39 398.196 13.458 214.564 168.636 1.538 ABSOLUTOS 489.182 61.686 254.189 171.730 1577 % 100,00 12,61 51,96 35,11 0,32 Pré-escola TOTAL Até 3 anos Fonte: MEC/Inep.Sinopse Estatística da Educação Básica 2007 (atualizada em 26/01/2009) Acesso em 19/02/2009 através de: http://www.inep.gov.br/basica/censo/Escolar/Sinopse/sinopse.asp Notas do INEP: 1) Não inclui alunos de turmas de atendimento complementar. 2) O mesmo aluno pode estudar em mais de uma UF. Pelos dados da Tabela 4, existem 13.458 alunos de até 3 anos de idade freqüentando a pré-escola, quando o ideal seria que estes ainda estivessem em creches. Na faixa etária de 4 e 5 anos, quando as crianças devem ser atendidas em pré-escolas, 39.625 alunos encontram-se ainda freqüentando as creches. E, o mais preocupante quanto à defasagem idade-série é que ainda existem na Bahia 173.307 crianças entre 6 e mais de 9 anos de idade que frequentam creches ou ainda estão matriculadas na pré-escola, quando já está em vigor a determinação da inclusão de 2 crianças a partir de 6 anos de idade no Ensino Fundamental, que agora deve ser de 9 anos. Há, também, 13.458 alunos precocemente matriculados na pré-escola. 3.2 ATENDIMENTO DA CRIANÇA DE 0 A 6 ANOS NO MUNICÍPIO DE SALVADOR A LDB 9.394/96 define que o executivo municipal seja o responsável pelo acompanhamento, controle e supervisão da Educação Infantil nas áreas de educação, saúde e assistência, isso com a colaboração das demais esferas do governo e da sociedade. O diagnóstico que integra o documento Políticas e Diretrizes para o Desenvolvimento Infantil Integral e Integrado, elaborado pela Prefeitura de Salvador, em 2004, indicava que a participação da esfera pública na oferta de creches e préescolas era pequena em relação à demanda da população do município, nessa época. Entre 1980 e 2000 a população de Salvador apresentou um acréscimo absoluto de 907.241 habitantes (aumento relativo de 63,4%). Mas, nas duas ultimas décadas, Salvador vem apresentando ta xas decrescentes do crescimento da parcela mais jovem de sua população. O decréscimo é mais expressivo na faixa etária de 0 a 3 anos a qual, em 1980, representava 11,9% da população total. Essa taxa apresentou o valor de 7,5% em 1991 e de 6,8% em 2000. O grupo etário das pessoas de 4 a 6 anos cuja participação na população total era de 7,3%, em 1980, passou para 5,2% em 2000. O documento indica que, de acordo com Censo Escolar de 2002, existia um déficit de vagas para Educação Infantil, mesmo levando-se em conta a expansão de matriculas verificada entre 1999 e 2002 ( 70,7%). Vale ressaltar que o documento da Prefeitura Municipal também registra que no ano 2000, a população de zero a três anos de idade, em Salvador, era de 167.000, enquanto o total de crianças freqüentando creches, em 2002, incluídas aquelas com mais de três anos de idade, somava apenas 6.007. 23 Quanto à pré-escola, assim como para as creches, ainda havia um déficit, embora em menores proporções. Em 2002, frequentavam a pré-escola em Salvador 36.421 crianças, isso para uma população de quatro a seis anos de idade que, no ano 2000 totalizava 126.777 pessoas. As redes públicas de ensino abrigavam, no mesmo ano, apenas 37,7% do total de matriculados na pré-escola, percentual ainda baixo em relação às médias estadual e nacional, que eram de 73,1% e 74,5%, respectivamente. (PMS, 2004, p. 17). Segundo o mesmo documento, entre os anos de 1999 e 2002, a matrícula em pré-escolas da rede pública aumentou 138,3% enquanto o setor privado reduziu a sua participação apresentando um decréscimo de 5,2% nas matriculas de crianças pequenas. Em números absolutos houve um aumento de 5.568 alunos, no período considerado, tendo as escolas municipais passado a absorver 75,6% do total de alunos da pré-escola publica. A Tabela 5 mostra o atendimento das crianças da Educação Infantil em Salvador, segundo os dados do censo de 2007. Enquanto na Bahia havia, no mesmo ano, um total de 405.900 alunos matriculados na rede pública de educação infantil (Tabela 3), Salvador, no mesmo período, contava com 21.567 crianças matriculadas em escolas públicas. A rede estadual tinha uma matricula inicial de 769 crianças e a rede municipal era responsável por 20.798 alunos, sendo que destes, 4.267 crianças estavam matriculadas em creches. Tabela 5 SALVADOR. Matrícula na rede pública da Educação Infantil. 2007 Dependência administrativa Creche Escola total Estadual 211 558 769 Municipal 4267 16531 20798 Total (Estadual e Municipal) 4.478 17.089 21.567 Fonte: MEC/INEP. Resultados do Censo de 2007 Disponível em: http://www.inep.gov.br/imprensa/noticias/censo/escolar/news08_01.htm. Acesso em 19/02/2009 através de http://www.sec.ba.gov.br/estatistica/resultado_censo_2007.htm . 24 3.3 A POLÍTICA DE ATENDIMENTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL NA PREFEITURA MUNICIPAL DO SALVADOR A Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SMEC), afirma ter como Diretrizes Pedagógicas a concretização de ações básicas que visam garantir a permanência do aluno na escola e o sucesso de sua formação escolar. Desta forma, espera contribuir para a inclusão social e o exercício da cidadania em situações de igualdade com crianças, jovens e adultos de condições sociais e econômicas mais favoráveis, em conformidade com as diretrizes curriculares nacionais e com as normas legais locais, definindo pressupostos que garantem a equidade e a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem.2 A legislação brasileira define que o executivo municipal é responsável pelo acompanhamento, controle e supervisão da educação infantil. Diante disso, a Prefeitura de Salvador elaborou, em 2004, com a participação das Secretarias Municipais de Educação e Cultura, da Saúde, do Trabalho e Desenvolvimento Social, do Instituto Ação Comunidade e com o apoio da UNICEF/BA o documento “Políticas e Diretrizes de Desenvolvimento Infantil Integral e Integrado”. Este, então, serve para orientar as ações promovidas pela Prefeitura Municipal do Salvador, bem como para estimular e coordenar ações da sociedade com relação ao pleno desenvolvimento infantil. O documento propõe políticas e diretrizes direcionadas à criança pequena em Salvador e declara o compromisso de assegurar de forma efetiva os direitos da criança de zero a seis anos de idade. Tem como objetivo integrar todas as ações dirigidas às crianças dessa faixa etária, promovendo a articulação entre as ações governamentais, as relativas às famílias e as próprias da sociedade civil, tendo como eixos norteadores de suas ações a atenção à criança, a proteção à maternidade e o apoio à família. 2 Informações colhidas em visita à Coordenação de Ensino e Apoio Pedagógico da Secretaria Municipal do Salvador, realizada no mês de novembro 2008. 25 Embora os princípios e diretrizes de políticas públicas sejam dirigidos a todas as crianças pequenas e suas famílias, o Município de Salvador dá especial atenção às crianças e famílias que têm condições excepcionalmente difíceis. Os princípios que orientam as políticas para a infância no município são: 1- A criança é sujeito de direitos e prioridade absoluta; 2- A família é o espaço natural de proteção, cuidado e educação da criança pequena; 3- O município é o responsável imediato pelo desenvolvimento infantil integral, e é a área de educação a condutora desse processo; 4- A participação da sociedade civil organizada é fundamental na construção, implementação, acompanhamento e controle social das políticas voltadas para as crianças pequenas; 5- Os conhecimentos produzidos pelas ciências são igualmente importantes para o desenvolvimento e implementação das políticas voltadas para as crianças pequenas. A compreensão da sociedade atual é que a criança é sujeito de direitos e prioridade absoluta. O primeiro dos direitos, e que dá sentido aos demais, é o direito de ser criança, devendo esta, ser respeitada como um ser único, com ritmo próprio de desenvolvimento, devendo ser protegida, cuidada e amada. Partindo desses princípios o documento propõe algumas linhas de trabalho que apoiariam a operacionalização de suas ações, entre as quais destacam-se: • Universalização da educação infantil, priorizando as áreas da cidade com maior índice de desemprego, violência e falta de infraestrutura e saneamento básico, fundamentada nos princípios da inclusão social e da integralidade do desenvolvimento da criança pequena, e na interação das famílias e comunidade, de forma a atender toda demanda em tempo integral; • Coordenação institucional da educação infantil no município, incorporando os centros públicos estaduais e apoiando financeira e tecnicamente os centros comunitários e filantrópicos, orientando as instituições privadas, de modo a assegurar o cumprimento das diretrizes do Conselho Municipal de educação; 26 • Atendimento à criança em dois eixos, cuidar e educar, garantindo a proteção, assistência e pleno desenvolvimento da criança pequena; • Qualificação dos atuais profissionais que atuam com crianças de zero a seis anos nas instituições comunitárias e filantrópicas; • Implementação de programas de formação continuada, integrando as diversas áreas que atuam com crianças de zero a seis anos de idade; • Garantia de um percentual de aplicação do orçamento de educação, para a Educação Infantil; • Elaboração de planos plurianuais e anuais integrando os programas e atividades dos diversos órgãos do Executivo Municipal voltados para a criança pequena e suas famílias, assegurando os recursos orçamentários para a execução das políticas e diretrizes assumidas pelo Município. No ano de 2005 a Prefeitura de Salvador elabora um novo documento divulgando ações e metas para o período de 2005 a 2008. Trata-se do documento “Educação de Qualidade, Novos Rumos para a Cidade”. Nesse documento está explícito o conceito de “Educação de Qualidade” que na visão do município, é aquela que não visa tão somente a inserção do jovem no mercado de trabalho, mas a que contempla uma formação humanista pautada em valores éticos, capaz de desenvolver a autoestima dos alunos, ampliar a capacidade de pensar, questionar, relacionar e de aprender a aprender. Em vista de uma melhor qualidade para a educação propõe as seguintes diretrizes estratégicas: a) Equidade e qualidade do processo de ensino e aprendizagem; b) Democratização do acesso, mediante qualificação, reordenação e expansão da rede física municipal; c) Valorização da cultura e saber popular no processo de ensino e aprendizagem; d) Democratização e modernização da gestão garantindo o caráter participativo e descentralizado; e) Valorização e formação continuada dos trabalhadores e trabalhadoras em educação. 27 Nesse documento, são definidas metas a serem atingidas até 2008 e um conjunto de ações para viabilizá-las. Dentre as que estão mais diretamente relacionadas com a Educação Infantil estão as metas de: -Implantar e implementar as Políticas e Diretrizes de Desenvolvimento Infantil Integral e Integrado; -Ampliar o atendimento de crianças de 0 a 3 anos com a municipalização de 46 creches que serão construídas como espaços de Educação Infantil; -Garantir a graduação de 100% dos professores e a pós-graduação de 50% dos professores e gestores escolares e dos profissionais que atuam nas Coordenadorias Regionais de Ensino (CRE) e no Órgão Central, até 2008; Os dados descritos nesse capítulo permitiram uma visão geral dos aspectos quantitativos do atendimento na Educação Infantil nos últimos anos no Brasil, na Bahia e no município de Salvador sem, contudo, tratar de causas e conseqüências. Se por um lado os resultados dos Censos educacionais dão conta de situações ainda distantes do ideal, por outro lado, nos diversos documentos da Prefeitura Municipal do Salvador já se vislumbra uma tentativa de enfrentamento dos desafios atuais para a educação como um todo: a incorporação na escola de todas as crianças e jovens em idade escolar e a garantia da sua permanência. Vislumbra-se, também uma preocupação com a qualidade na educação e com o sucesso escolar. É a respeito dessa “qualidade” que nos reportaremos no capitulo a seguir. 28 4 FUNDAMENTOS DE QUALIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL As mudanças ocorridas na educação infantil nos últimos anos, embora tenham sido muitas, ainda não atendem de maneira adequada ao que se espera para o público de 0 a 6 anos. Público esse, que sempre foi alvo de ações de cunho assistencialista e filantrópico, cuja principal função era de guarda e proteção da criança, considerando que esta deveria ser preservada de situações de extrema necessidade e pobreza da sua família. Com o tempo, além da filantropia, outras atribuições foram sendo assumidas pelas creches, que passaram a desempenhar uma função sócio-educativa, além da guarda das crianças enquanto as mães estavam fora de casa. Isso fazia parte da luta das mulheres trabalhadoras pelo direito de ter um local seguro e de qualidade para deixar os seus filhos enquanto trabalha vam. Foi somente quando segmentos da classe média aderiram à utilização de creches particulares para seus filhos, que a sociedade acordou para as questões pedagógicas e, sob a pressão desse novo público e dos movimentos operários e feministas que combatiam a desigualdade social nos anos de 1970 e 1980, abre-se um diálogo sobre o desenvolvimento infantil e a construção de conhecimento pelas crianças pequenas. Esses movimentos dão origem à luta pela democratização da escola pública brasileira favorecendo o reconhecimento, na Constituição Federal de 1988, da educação em creches e pré-escolas como um direito da criança e um dever do Estado. Assim, está escrito no Artigo 205 da Constituição Federal: A Educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para a cidadania e sua qualificação para o trabalho. E o Artigo 206 diz que o ensino será mi nistrado com base nos princípios de igualdade de condições para o acesso e permanência na escola, enquanto no Artigo 208 lê-se que o dever do Estado com relação à Educação será efetivado com 29 a garantia de atendimento em creches e pré-escolas às crianças de 0 a 6 anos de idade. Esses artigos sinalizam para avanços importantes na perspectiva da qualidade, do pleno desenvolvimento da pessoa e da preparação para o exercício da cidadania, independente de origem, sexo, etnia, necessidades especiais, classe social, diversidade cultural ou diferenças regionais. 4.1 A EDUCAÇÃO INFANTIL NA LBB 9394/96 A partir da Constituição Federal de 1988, outras leis e documentos em defesa da Educação Infantil garantiram o reconhecimento dos direitos das crianças, reivindicados por movimentos populares e grupos organizados da sociedade civil. Um desses documentos é o Estatuto da criança e do adolescente (ECA1990), que reafirmou em seu Artigo nº 54, o direito ao atendimento em creches e pré-escola das crianças de zero a seis anos de idade. A Lei 9394/96, de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 20 de dezembro de 1996, vem complementar o que já havia sido estabelecido na Constituição, quando no seu Art. 21, deixa claro: “A educação escolar compõe-se de: I – Educação Básica, formada pela Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio (...)”. No capitulo sobre a Educação Básica, Seção II, Art. 29, estabelece que: A Educação Infantil, primeira etapa da Educação Básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, completando a ação da família e da comunidade. Em seu Artigo 4º, a LDB, confirmou que o atendimento gratuito em creche e pré-escola é dever do Estado. Deixou claro, também, que o atendimento a essa faixa etária está sob a incumbência dos municípios, determinando que todas as 30 instituições de Educação Infantil, públicas e privadas, estejam inseridas no sistema de ensino. O Artigo 30 da mesma LDB determina que a Educação Infantil é parte integrante da primeira etapa da Educação Básica eh c_b/vur.6ae.lntsvr2pitw ._/m h:aesnl-.3t#_tf será oferecida em: “I- creches ou entidades equivalentes, para crianças de zero a três anos de idade; II- pré-escola para crianças de quatro a seis anos de idade”. Sendo que, para esta faixa etária, o atendimento ainda não é obrigatório, como no caso das crianças a partir dos seis anos de idade. Gilda Rizzo (2006, p. 42), observa que o desenvolvimento infantil começa a ser considerado no planejamento do sistema de educação geral e a ser entendido em suas características, fazendo alusão à LDB, nos seguintes termos: No Brasil, a nova LDB, de 1996, (...) define a educação infantil como sendo a primeira etapa da educação básica, tendo por finalidade o desenvolvimento integral da criança até os seis anos de idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade. A Lei nº 9.394/96 ainda vai mais além, quando determina, no seu artigo 31, que a avaliação, na educação infantil, far-se-á mediante acompanhamento e registro do seu desenvolvimento, sem objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental. Quando a lei define que a educação infantil será parte do desenvolvimento integral da criança, fica evidente a necessidade de uma ação conjunta de coresponsabilidade entre a família, comunidade e poder público. E é sob a ótica de tomar a criança como um todo que o processo de ensino/aprendizagem foi pensado, inclusive a avaliação da aprendizagem, devendo esta ser processual e acontecer de forma sistemática e contínua. O acompanhamento e registro do desenvolvimento devem ter objeti vos de diagnóstico sem a pretensão de promoção ou retenção, o que exige estratégias metodológicas específicas. Em decorrência da mudança da visão assistencialista para a visão educacional das creches e pré-escolas, a LDB também prevê que o professor possua a mesma formação exigida para as séries iniciais do Ensino Fundamental: nível superior em cursos de licenciatura, admitindo-se, como formação mínima, a 31 oferecida em nível médio na modalidade normal. A Lei estabelece, também, que os sistemas promoverão a valorização e a formação em serviço desses profissionais. A esse respeito Sanches (2003, p. 15) escreveu: Considerando a tradição assistencialista do histórico de creche, o desafio é integrá-la em uma dimensão educativa, profissionalizando seus trabalhadores. Isso implica melhorar o atendimento às crianças, nas creches, numa perspectiva de ação educativa e intencional e de qualidade. Portanto, o atendimento deve aliar as responsabilidades de abrigo, alimentação e higiene, aos cuidados de saúde mental, crescimento cultural e psicopedagógico, enfim, ao desenvolvimento integral da criança. Essa é a tônica dos discursos e propostas desse novo contexto da Educação Infantil. 4.2 CONCEPÇÃO DE QUALIDADE NA EDUCAÇÃO INFAN TIL Sabe-se que há alguns anos atrás, muitas mães tinham grande preconceito em relação ao ambiente “creche”, deixando até mesmo de trabalhar após a maternidade, quando não tinham o suporte da família, como as avós e as tias. Acreditava-se que a creche era um “depósito” de crianças, sem nenhum comprometimento com a educação das mesmas, e onde seus filhos estariam em contato com vários tipos de “criação” e aprenderiam valores que não eram do seu agrado. Esse pensamento comum na época, e que ainda faz parte das crenças de algumas pessoas, considerava a creche como uma instituição para crianças muito pobres cujas mães não tinham condições de ficar em casa para educá-las de maneira correta e, até mesmo, para iniciá-las nas “primeiras letras” como era costume. Essa desconfiança foi desaparecendo à medida que a creche passou a ter uma nova conceituação, que foi bem esplanada por Rizzo (2006, p. 49): 32 Creche é, dentro do conceito atual, um ambiente especialmente criado para oferecer condições ótimas que propiciem e estimulem o desenvolvimento integral e harmonioso da criança sadia nos seus primeiros três anos de vida. A verdadeira finalidade da creche é responder pelos cuidados integrais da criança na ausência da família. A partir dessa visão, novas diretrizes e parâmetros de ação foram determinados em atendimento aos novos pontos de vista legal, social e educacional, em busca de uma nova organização na estrutura funcional das escolas de educação infantil. A Constituição de 1988 e a LDB de 1996, estimularam o início de um processo de reestruturação administrativa, técnica, política e pedagógica junto às instituições de Educação Infantil, principalmente as atuantes na esfera da Assistência Social. Para que esse trabalho tivesse o êxito desejado o Ministério da Educação (MEC), apresenta os documentos Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil e o Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil. O Referencial Curricular para Educação Infantil (RCNEI 1998) foi concebido para servir como um guia de reflexão sobre objetivos, conteúdos e orientações didáticas para profissionais que atuam com crianças de 0 a 6 anos. Dá importante contribuição ao planejamento, desenvolvimento e avaliação de práticas educativas visando uma educação de qualidade e o desenvolvimento integral da criança. Por sua vez, os Parâmetros Nacionais de Qualidade para Educação Infantil (MEC 2006) foram elaborados com o objetivo de estabelecer padrões de referência no que se refere à organização e funcionamento das instituições de educação infantil. Apesar da existência desses documentos de apoio à prática educativa nas escolas e creches, ainda é freqüente encontrarmos um pensamento assistencialista em algumas instituições de educação infantil, principalmente aquelas cujo atendimento é destinado às crianças cujas famílias têm pouco poder aquisitivo. Essas entidades, apesar das mudanças, estão processando lentamente as novas orientações e tardam a descartar a herança construída no tempo em que sua atividade era destinada a compensar a ausência da família nos cuidados básicos das crianças pequenas, mas já dão sinais de considerar as perspectivas 3 educacionais. Já se nota uma mudança na visão das pessoas que procuram as escolas e creches para matricular seus filhos. Segundo o RCNEI (1998, p. 17): Modificar essa concepção de educação assistencialista significa atentar para várias questões que vão muito alem dos aspectos legais. Envolve, principalmente, assumir as especificidades da educação infantil, as relações entre classes sociais, às responsabilidades da sociedade e o papel do Estado diante das crianças pequenas. Educar, segundo o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI 1999), significa promover situações de cuidados, brincadeiras e aprendizagem, de forma a possibilitar o desenvolvimento integral da criança, considerando seus aspectos físicos, emocionais, afetivos, cognitivo e sociais. Para tanto, ela deve ser considerada um ser humano único, comple to, e que está em desenvolvimento. Trata-se de mudar a visão de criança como um ser vazio que não sabe nada e precisa ser preenchido, tão comumente declarado por alguns professores, para perceber a criança como pessoa competente para interagir e produzir cultura no meio em que vive. Portanto, o que deve caracterizar a função atual da Educação Infantil deve ser uma verdadeira integração entre educação e assistência. De acordo com os Parâmetros de Qualidade para a Educação Infantil os objetivos educacionais das creches e escolas para crianças de 0 a 6 anos, devem ser pautados no currículo específico para Educação Infantil abrangendo os três grandes eixos: o brincar, o movimento e o conhecimento de si e do outro. Esses parâmetros consideram que para haver qualidade na educação infantil é necessário levar em conta que as crianças desde que nascem são: • Cidadãos de direitos; • Indivíduos únicos, singulares; • Seres sociais e históricos; • Seres competentes, produtores de cultura; • Indivíduos humanos, parte da natureza animal, vegetal e mineral. 34 Para isso, devem ser criadas condições em que as crianças desfrutem da vida ao ar livre, aprendendo a conhecer o mundo da natureza em que vivemos, compreendendo que as nossas ações influenciarão na biodiversidade, e que elas como ser humano fazem parte da natureza. E isso, diante das atuais condições de funcionamento de muitas instituições ainda está por acontecer. A maioria das escolas, especialmente as de cunho comunitário, não apresenta as condições básicas materiais e físicas para esse atendimento. Por exemplo, superlotam suas salas. Esse procedimento, com certeza de muito boa vontade, contraria o Parecer CNE/CEB n° 22/98 de 17/12/98, que trata de questões relativas à qualidade da educação, e determina que a relação adulto-criança nas instituições de educação infantil, deve ser de: • 1 professor para 6 a 8 bebês de 0 a 2 anos; • 1 professor para cada 15 criança de 3 anos; • 1 professor para cada 20 crianças de 4 a 6 anos. Outros parâmetros de qualidade encontram-se no Parecer CNE/CEB nº 04/00, de 16/02/00, que aprovou as Diretrizes Operacionais para a Educação Infantil (MEC/2006), as quais deliberam sobre a vinculação das instituições de Educação Infantil aos sistemas de ensino e sobre vários aspectos que afetam a qualidade do atendimento como: proposta pedagógica, regimento escolar, formação de professores e outros profissionais, espaços físicos e recursos materiais. Essas diretrizes definem também a responsabilidade dos municípios que possuem um Sistema Municipal de Ensino, de autorizar com validade limitada, avaliar e supervisionar as instituições de Educação Infantil inseridos em seu sistema. Também de grande relevância para a qualidade na educação de crianças pequenas são as orientações curriculares e a metodologia que são aplicadas de maneira intuitiva, sem considerar os fundamentos teóricos apropriados para a Educação Infantil. Porém, toda ação deve ter uma intencionalidade, respeitando-se sempre a criança em seu desenvolvimento físico, mental, cognitivo e psicológico. O currículo da Educação Infantil a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ganha abrangência com o objetivo de desenvolver as capacidades da criança de 0 a 6 anos de idade no sentido de integrá-la ao meio social em que vive. 35 Antes, a prática era de formação de hábitos e desenvolvimento psicomotor. (RIZZO, 1992, p. 30). Segundo os parâmetros e diretrizes oficiais, o trabalho pedagógico para esse nível de educação deve contemplar Conteúdos Conceituais, Procedimentais e Atitudinais para cada faixa etária, e ser desenvolvido de maneira integrada às áreas de estudo: Conhecimento do Mundo, Artes Visuais, Língua Oral, Língua Escrita, Matemática e Música. Tudo isso considerando ainda, os três grandes eixos propostos pelo RCNEI (1998): o Brincar, o Movimento e o Conhecimento de si e do outro. RIZZO (2006, p. 106) sintetiza esse novo momento curricular escrevendo: Assim como a pré-escola, a creche não visa à escolarização do aluno, nem à passagem de conteúdo ou matérias, mas ao que é essencial à aprendizagem futura e à formação de hábitos e atitudes adequados à melhor utilização da inteligência, das habilidades inatas, fazendo o aluno ganhar gradativa e crescente autonomia intelectual e social, desenvolvendo linguagem e pensamento. Visa também ao desenvolvimento de habilidades psicomotoras, de forma integral e harmoniosa (...) assim como visa à saúde física e mental da infância de uma sociedade. Ainda, se encontra o empirismo na educação infantil principalmente em instituições cuja meta principal é o assistencialismo e a filantropia. O parecer que estabelece as Diretrizes Operacionais para a Educação Infantil determina que os fundamentos norteadores dos projetos pedagógicos desenvolvidos nas instituições de Educação Infantil são: a) Princípios Éticos da Autonomia, da Responsabilidade, da Solidariedade e do Respeito ao Bem comum; b) Princípios Políticos dos Direitos e deveres da Cidadania, do Exercício da Criticidade e do Respeito à Ordem Democrática; c) Princípios Estéticos da Sensibilidade, da Criatividade, da Ludicidade, e da Diversidade de Manifestações artísticas. É nessa perspectiva que Rizzo (2006) e Sanches (2003) também apontam elementos que integram o conceito de qualidade na educação infantil. Esses 36 elementos apontam para a qualidade do ambiente físico, da proposta pedagógica, da relação quantitativa adulto/criança, das relações afetivas que permeiam a vivencia entre adultos e crianças, da qualificação do pessoal docente, administrativo e de apoio, etc. Tais elementos encontram-se consistentemente integrados na “Escala de Avaliação de Ambientes Coletivos para Crianças de 0-30 meses”, que foi utilizada por Lima e Bhering, composta de 39 itens, distribuídos entre sete dimensões relativas a espaço, rotinas de cuidado pessoal, linguagem, atividades, interação, estrutura do programa e pais e equipe. Esta escala foi aplicada na avaliação de cinco Centros de Educação Infantil de um município de Santa Catarina (Tabela 6). 37 Tabela 6 Escala de Avaliação de Ambientes Coletivos para Crianças de 0 a 30 meses Sub-escalas Itens 1. Espaço interno 2. Moveis para cuidado de rotinas e brincadeiras 3. provisões para relaxamento e conforto 1. Espaço e mobiliário 4. Organização da sala 5. Exposição de materiais para crianças 6. Chegada/Saída 7. Refeições/merendas 2. Rotinas de cuidado pessoal 8. Sono 9. Troca de fraldas/Uso de banheiro 10. Práticas de saúde 11. Praticas de segurança 3. Linguagem compreensão oral e 12. Auxilio às crianças para compreenderem a linguagem 13. Auxilio às crianças para usarem a linguagem 14. Uso de livros 15. Motora fina 16. Atividade física 17. Arte 18. Música e movimento 4. Atividades 19. Blocos 20. Dramatizações 21. Areia/Água 22. Natureza/Ciências 23. Uso de TV, vídeo, e/ou computador 24. Promoção da aceitação de diversidade 25. Supervisão do brincar e do processo de aprendizagem 5. Interação 26. Interação criança – criança 27. Interação equipe – criança 28. Disciplina 29. Programação 6. Estrutura do Programa 30. Atividade livre 31. Atividades em grupo 32. Medidas para crianças com necessidades especiais 33. Medidas para o envolvimento de os pais 7. Pais e Equipe 34. Medidas para as necessidades pessoais da equipe Medidas para atender as necessidades profissionais da equipe 36. Interação e cooperação entre a equipe 37. Estabilidade da equipe 38. Supervisão e avaliação da equipe 39. Oportunidade para desenvolvimento profissional Extraído de: Lima e Bhering. Creche como contexto de Desenvolvimento: Um estudo sobre o ambiente de creches em um município de SC. Comunicação submetida à reunião Anual da Associação Nacional de pós-graduação e Pesquisa em Educação- Anped, 2006. Disponível em :< WWW.anped.org.br/reunioes /29ra/trabalhos/trabalho/GT07-2670-int.pdf>. Acesso em: 19/02/2009. 38 5 O ATENDIMENTO DE CRIANÇAS DE 2 A 7 ANOS NO CENTRO NOVA SEMENTE Após uma passagem rápida em uma creche municipal durante estágio curricular de co-participação, veio o desejo de conhecer como acontece o atendimento educacional dedicado às crianças pequenas em creches comunitárias, o que motiva esse atendimento, e se as recomendações do MEC de educação de qualidade para as crianças pequenas estão sendo observadas. Procurei adotar como parâmetros para minhas observações o que recomendam os documentos oficiais para esse nível de ensino como: Referenciais Nacionais para Educação Infantil (RCNEI) e os Parâmetros de Qualidade para a Educação Infantil. 5.1 O CENTRO NOVA SEMENTE As creches comunitárias surgem quando o Estado, a quem é direcionado o dever e a responsabilidade de oferta, segundo a LDB/96, ainda não consegue proporcionar vagas para a maioria da população, então, entra em ação pessoas de boa vontade tentando preencher a lacuna aí existente. Isso aconteceu com Centro Nova Semente. A sua escolha como objeto de pesquisa e de estágio, deu-se em primeiro lugar por sua condição de instituição Educação Infantil. A proximidade do bairro onde trabalho e resido também influenciou essa escolha. O bairro onde está localizado o Centro Nova Semente faz parte da área do Cabula, composta de bairros cuja população, em sua maioria, é considerada de baixa renda. Como todos os bairros de periferia apresenta uma grande deficiência no atendimento educacional proporcionado pelo poder público, faltando vagas para crianças de 0 a 5 anos devido a um número insuficiente de escolas e creches na área, em comparação com a grande densidade populacional. 39 A Creche Escola Centro Nova Semente é uma entidade filantrópica e atende a crianças a partir de dois anos de idade. Foi fundada, e desde então dirigida, por uma freira, que foi sensibilizada pela situação de carência social e educacional daquela comunidade. Está localizada em uma comunidade de baixo poder aquisitivo e atualmente está ligada a uma casa abrigo para crianças de ambos os sexos, em funcionamento no mesmo bairro. No inicio de seu funcionamento atendia somente a crianças da comunidade, hoje também acolhe as crianças do abrigo. O prédio é próprio, com quatro andares, embora no momento sejam utilizados apenas o térreo e o subsolo. Na época do estágio possuía 79 alunos assim distribuídos: Tabela 7 Quantidade de alunos do Centro Nova Semente por fases e idade 2008 Fases/níveis Quantidade Idade (variação) -10 alunos do abrigo G 2-3 -19 alunos da comunidade 2 e 3 anos - 6 alunos do abrigo G 4-5 -22 alunos da comunidade 4 a 6 anos -8 alunos do abrigo Inicial -14 alunos da comunidade 6 a 9 anos -24 alunos do abrigo Total -55 alunos da comunidade Fonte: Pesquisa direta Quanto ao Corpo Docente, o Centro contava com três professoras: a) Professora do G 2-3, Nível médio, cursando Pedagogia, funcionária da escola há 3 anos; 40 b) Professora do G 4-5, Nível médio, funcionária há 5 anos; c) Professora do Inicial, Nível médio, cursando Pedagogia, funcionária há 9 anos. Assim como nas primeiras creches, o histórico da Nova Semente foi, a principio, assistir às crianças em suas necessidades de cuidado, proteção e alimentação e, em conseqüência, veio a educação. Percebe-se esse apelo assistencialista nas falas tanto das professoras como da administração ao afirmarem que muitas crianças que ali se encontram estariam na rua, desamparadas do sistema educacional, não fosse seu acolhimento pela Instituição. Existe, também, segundo observei nas palavras da administradora, uma preocupação em não dispensar alunos para proporcionar um tempo de orientação pedagógica das professoras, pois para muitas crianças esse seria um dia de alimentação deficiente. 5. 2 O ESTÁGIO . O estágio curricular na Creche Escola Nova Semente, exigiu a elaboração de um projeto de intervenção contemplando aspectos relativos ao planejamento e gestão escolar, visto que o curso de Pedagogia tem a habilitação em Gestão e Coordenação do trabalho escolar. Esse estágio tinha o objetivo de proporcionar à estagiária, conhecimentos técnicos específicos da profissão e, à Instituição, atividades de formação continuada das professoras, promovendo, assim, ações efetivas de socialização, colaboração e integração entre a Universidade e a escola. Como um estágio de intervenção não é comum, as professoras tinham a expectativa de acolher uma estagiária que fosse trabalhar na sala, com as crianças, como se observa frequentemente. Da mesma forma, esta também era a fala da administradora e diretora da Instituição que afirmava desconhecer estágio dessa natureza. Foi necessário muito diálogo e explicação para que entendessem a nova proposta, embora ainda permanecesse alguma desconfiança quanto ao que ia 41 acontecer, deixando transparecer nesse momento, certa “resistência”, principalmente da parte de uma das professoras. Busquei durante o estágio no Centro Nova Semente o conhecimento da sua estrutura física, do seu funcionamento e das inter-relações existentes para uma melhor compreensão da realidade cultural e educacional que esta parcela da população vivencia. Foi, também, um objetivo perceber o quanto esta instituição estava aproximada, ou distanciada, dos parâmetros ideais de qualidade para a educação infantil. Partindo da realidade encontrada, o desenvolvimento do projeto de estágio, denominado de “Repensando a Metodologia de Projeto com as Professoras do Centro Nova Semente”, teve o propósito de realizar encontros de formação, com as docentes, abordando questões básicas sobre Projetos Didáticos (figura 1). Esta formação esteve voltada para o desenvolvimento de prática pedagógica com ênfase na criação de novos meios de conhecer, relacionar, repensar e de produzir novas experiências de aprendizagem significativas que proporcionasse uma educação de qualidade para as crianças da Instituição. O projeto de estágio foi desenvolvido de 14 de agosto a 19 de setembro do ano de 2008, tendo como metas: • Realizar 100% dos encontros de formação continuada com as professoras do Centro Nova Semente; • Aumentar a confiança e o conhecimento das professoras no trabalho com Metodologia de projeto e suas questões teóricas básicas; • Diminuir a incidência de projetos didáticos desenvolvidos sem a devida sistematização e estrutura apropriada. As atividades realizadas constaram de apresentação do projeto à direção e professoras, encontro de sensibilização com as professoras, reuniões do grupo para estudos sobre Projeto Pedagógico, encontros para oficina de projetos, redação de mini-projeto. O projeto elaborado em conjunto com as professoras teve como tema “Brinquedos e Brincadeiras”, e foi planejado para ser desenvolvido com as crianças do Centro Nova Semente, na semana que antecederia o Dia da Criança. Para finalizar, houve um encontro para avaliação do estágio e do Projeto, constando de avaliação oral e escrita, quando as professoras falaram da sua satisfação e 42 agradecimento pelo bom aproveitamento que tiveram com as atividades desenvolvidas. Durante o estágio, foram feitas as observações que serviram de base para o conhecimento desse ambiente educativo, envolvendo os aspectos físicos e humanos e as interações que ali se processam. Em nenhum momento a pretensão foi de fazer uma avaliação da Instituição, mas o objetivo sempre foi o de conhecer e de realizar um confronto entre a realidade observada e os parâmetros de qualidade propostos para a Educação Infantil. 5.3 ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES LEVANTADAS LIMA e BHERING, citando Bondioli, diz que a avaliação dos ambientes educativos para crianças pequenas é um desafio e ela deve ser percebida como um mecanismo de constante reflexão sobre os aspectos e elementos que compõem este ambiente, e não como, simplesmente, um mecanismo de medir, julgar, comparar ou selecionar os contextos para as crianças. BONDIOLI (2004) No texto “Creche Como Contexto de Desenvolvimento: um estudo sobre o ambiente de creches em um município de SC”, Lima e Bhering apresentam a avaliação que fizeram dos aspectos físicos e materiais, relacionais, sociais e recursos humanos da educação infantil, de cinco Centros de Educação Infantil. Apresentam o instrumento utilizado para essa tarefa que foi a escala ITERS-RInfant and Toddlers Environmemt Tating Scale- Revised (Harms, Cryer, Cliford, 2003) intitulada, em português, “Escala de Avaliação de Ambientes Coletivos para Crianças de 0-30 meses”. Rocha Lima e Bhering apresentam a referida escala em seu texto explicando: 43 Esta escala aborda vários elementos que compõem a qualidade da proposta pedagógica e da escola de educação infantil para crianças entre 0 a 30 meses (FERRARI, 2003; AGUIAR, BAIRRAO E BARROS, 2002) reunindo vários aspectos levantados por vários profissionais e pesquisadores da área. Ela é composta de sete sub-escalas (Mobiliário e disposição de materiais; Rotinas e cuidados pessoais; Linguagem oral e compreensão; Atividades; Interação; Estrutura do programa e equipe). As sete sub-escalas possuem trinta e nove itens no total as quais possibilitam analisar os elementos e organização do ambiente assim como os aspectos mais subjetivos. (p 6) 3 Os itens da escala deveriam servir de base para qualquer instituição desse nível de ensino pautar sua organização e funcionamento, pois fazem parte das orientações da legislação vigente que direciona e normatiza o funcionamento e organização das creches e escolas para a Educação Infantil. A oferta de uma educação de qualidade para criança pequena precisa atender às necessidades de aprendizagem e crescimento das crianças. Para isso as Instituições, antes de qualquer coisa, devem trabalhar para promover uma organização adequada a esse propósito. Ao falar de organização das instituições de ensino, Colombo (2006 p. 28), avalia: Mais do que qualquer outra organização, a instituição de ensino deveria ser, como empresa, um modelo de aprendizagem para toda comunidade. Infelizmente, não é isso que acontece em varias escolas. Geralmente encontramos grandes lacunas entre as competências atuais da instituição de ensino e o que seria necessário para obter o desempenho desejado. A Escala de Avaliação de Ambientes coletivos para Crianças de 0 a 30 meses inclui vários itens contemplados nos parâmetros de qualidade da escola e da educação infantil. Esses itens encontram-se agrupados em sete sub-escalas (Tabela 6). Essas sub-escalas foram utilizadas para organizar a análise descritiva das informações levantadas na Creche Escola Centro Nova Semente. Considera-se que, 3 Transcrito de acordo com o original 4 de um modo geral, os 39 itens que as compõem são aplicáveis à Educação Infantil contemplando também as necessidades de crianças de até 06 anos.4 5.4 ANÁLISE DO FUNCIONAMENTO DO CENTRO NOVA SEMENTE 5.4.1 Espaços e mobiliários Nessa sub-escala, estão os itens de espaço interno; móveis para cuidados de rotinas e brincadeiras; provisões para relaxamento e conforto; organização da sala; exposição de materiais para crianças. Dentro desse contexto foi observado que a Creche Escola Centro Nova Semente tem uma construção onde a fachada de entrada é toda fechada, sem visualização da rua e ali a criança passa o dia cuja visão única é a do interior da escola; isso vem de encontro às recomendações para uma educação infantil de qualidade, que apontam para a necessidade da criança estar em contato com o ambiente e interagindo com ele. Apenas em algumas oportunidades extraordinárias os alunos saem da creche e vão até o abrigo e, aí sim, encontram espaço e interação com a natureza, além de brinquedos em um mini parquinho ali existente. Essas idas ao abrigo não são freqüentes devido à dificuldade dos professores em atravessar uma pista com as crianças e à falta de outras pessoas que as ajudem a cuidar delas nesse espaço mais amplo. O espaço físico interior do Centro compõe-se de um salão grande, com um pequeno sanitário e bancos de alvenaria que circundam todo salão, onde todos os dias as crianças são recebidas pela manhã permanecendo ali algum tempo nas interações, brincadeiras não direcionadas e orações com músicas nas filas, antes de entrar nas salas. Este salão dá acesso a um minúsculo pátio descoberto, onde fica a secretaria, na qual na maioria das vezes não há ninguém para atendimento, pois a 4 Toda a análise tomou como base os documentos anteriores à nova legislação que estabelece como limite para a Educação Infantil a idade de 05 anos. 45 creche não dispõe de pessoal especifico para tal. Junto à secretaria está um pequeno consultório médico, que funciona uma vez por semana para atendimento às crianças; o mesmo pátio também dá acesso à cozinha e às três salas utilizadas para as atividades pedagógicas. As salas são amplas, com janelas, ventilação e iluminação razoável, e cada sala dispõe de um sanitário, embora estes não sejam adaptados para a Educação Infantil, uma vez que tem um único vaso, e não possui divisórias para uso de crianças de gêneros diferentes. As cadeiras e carteiras são de altura apropriada para o nível em questão, com mesas grandes cada uma delas com seis cadeiras formando grupos de alunos, sem distinção de gênero. Há ainda, uma carteira para professora, um quadro branco, mas de tamanho pequeno; cada sala tem um filtro com água, um armário e uma estante, esta posicionada bem no alto, contendo os livros, longe do alcance das crianças. A divisória das salas é de um material que não isola totalmente os sons produzidos pelas turmas e isso era um ponto de dificuldade para crianças e professoras, mas não presenciei nenhuma queixa da parte delas. O acesso para a sala do grupo de crianças de 2 e 3 anos ( G 2-3 ) fica no nível inferior do prédio, e exigia passar pela cozinha e descer uma escada, sem corrimão. Esta sala possui janelas grandes que proporciona boa iluminação e ventilação, cadeiras adaptadas ao tamanho das crianças e um quarto anexo, com colchonetes onde as crianças dormiam após o almoço, Também era usada como sala de vídeo para esse grupo. Nesse mesmo espaço há um sanitário com banheiro. A sala não dava muita possibilidade de locomoção às crianças, pois o seu espaço torna-se pequeno para acomodar os 28 alunos dessa turma. 5.4.2 Rotinas de Cuidado pessoal As rotinas de cuidado pessoal incluem itens sobre o momento de chegada e saída; refeições e merendas; sono; troca de fraldas e uso do banheiro; práticas de saúde e segurança. 46 Ao observar o momento de chegada das crianças, que acontecia entre as 07:40 e as 8:00h, notei que as crianças eram recebidas por uma ou duas professoras no salão da entrada, enquanto uma outra ajudava a trazer as crianças do abrigo. Não havia uma rotina planejada para esse momento inicial. Às vezes, poucas vezes nos dias que estive presente, era colocado um DVD e TV, de vinte polegadas, com música ou historinha, mas nem todas as crianças se interessavam porque a TV ficava em local baixo e a disputa para visualização era grande. Na maior parte do tempo ficavam correndo ou conversando entre si e com a professora de maneira aleatória. Estavam sempre muito agitadas, até o momento das filas, e aí sim havia uma rotina, quando faziam oração, e cantavam sempre as mesmas músicas. Era difícil controlar as maiores depois de tanta agitação. Às oito horas, e algumas vezes bem mais tarde, cada professora levava sua turma, e na sala, era distribuído o primeiro lanche. Uma situação presenciada que considerei um problema foi quando uma das professoras adoeceu, repentinamente, ficando ausente nesse dia e as outras duas assumiram a turma dela, pois não havia ninguém que ficasse com as crianças. Foi um dia de muita agitação e trabalhos sem aproveitamento. O almoço das crianças era servido nas salas, pelas próprias professoras (figura 4). Nas vezes em que presenciei a rotina do almoço, não vi rotina de higiene como lavagem das mãos antes e escovação dos dentes após o almoço. As crianças de todos os grupos já possuíam autonomia para irem sozinhas ao banheiro, mas não foram estimuladas ou solicitadas a higienizar mãos e dentes. Além das professoras, o Centro Nova Semente contava com mais duas funcionárias. Uma funcionária estava encarregada pelo preparo do almoço e dos lanches servidos pela manhã e pela tarde, e a outra, responsável pela limpeza e, durante o intervalo do almoço das docentes, cuidava de todas as crianças levandoas para o salão, o mesmo onde também ficavam reunidas na chegada. Nesse momento do dia não havia nenhuma rotina, nenhuma brincadeira ou atividade direcionada que pudesse acalmar ou relaxar as crianças. Simplesmente ficavam soltas nesse espaço, que nessas horas tornava-se pequeno para a quantidade de crianças; transformava-se assim numa situação de muito estresse para as crianças menores, deixando-as angustiadas, pois as maiores, por vezes, até as machucavam, nas correrias desordenadas. A socialização e integração que 47 poderia e deveria ocorrer ali, não acontecia e desperdiçavam-se uma oportunidade preciosa de promoção de brincadeiras prazerosas e gratificantes, caso a estrutura física do espaço e a quantidade de pessoas para ficar com as crianças nesses momentos fossem o ideal. Brincar é uma atividade gratuita, que não tem objetivos didáticos, não tendo tempo nem lugar determinado para acontecer porque esta é uma atividade própria da imaginação, mas que precisa de muito tempo e de um lugar que seja acolhedor. Abramowicz e Wajskop (1995, p. 59) fazem referência a creches e brincadeiras dizendo: Nas creches, a brincadeira é educação por excelência. No ato de brincar ocorrem trocas, as crianças convivem com suas diferenças, se dá o desenvolvimento da imaginação e da linguagem, da compreensão e apropriação de conhecimentos e sentimentos, do exercício da iniciativa e da decisão. Após esse momento no salão, acontece o momento do sono. Sendo este, ideal para descanso e relaxamento das crianças, só acontece no G 2-3 quando voltam à sala após o intervalo de almoço das professoras, e então, as crianças são colocados para dormir, ainda sob o efeito da agitação anterior. Para Rizzo (2006), o período anterior ao sono deve ser livre de excitações, pois tranqüilidade, carinho e atenção facilitam o sono, e este é essencial para a saúde, e a sua escassez provoca irritabilidade, letargia e anorexia. O horário de saída era um momento mais calmo. Um pouco antes era servido o lanche da tarde, depois as professoras levavam as crianças de volta para o salão e ficavam esperando o responsável. Somente quando todas as crianças da comunidade saiam, as mesmas professoras levavam as outras crianças de volta para o abrigo. O tempo de permanência das crianças no Centro era um total de 8 horas e meia. Todo esse tempo as professoras estavam com elas, exceto apenas durante um período de uma hora e meia, dedicada ao almoço, que só acontecia após o almoço das crianças. 48 5.4.3 Linguagem oral e compreensão Os itens auxilio às crianças para compreenderem a linguagem, auxilio às crianças para usarem a linguagem e uso de livros, fazem parte dessa sub-escala. A linguagem oral possibilita comunicar idéias, pensamentos e intenções de diversas naturezas, influenciar o outro e estabelecer relações interpessoais. “Seu aprendizado acontece dentro de um contexto (...) são os sujeitos em interações singulares que atribuem sentidos únicos às falas”. (RCNEI 1998). Nesse sentido, as situações que envolvam a fala na educação infantil, devem ser estimuladas em diversas abordagens como: contar acontecimentos, contar histórias, dar recado, explicar algo, ou pedir informações para o desenvolvimento das capacidades comunicativas das crianças de maneira significativa. As competências da oralidade foram observadas nas crianças no Centro Nova Semente. Desde o grupo de crianças de dois e três anos no qual já aconteciam situações envolvendo recados, queixas, reconto de histórias infantis, pedido para ir ao banheiro e perguntas feitas aos colegas e à professora. É preciso observar que a linguagem oral e escrita estão presente no cotidiano das crianças, servem de base para ampliar suas possibilidades de comunicação e participação nas diversas práticas sociais, sendo, por isso, um dos principais eixos para educação infantil, e estão relacionadas ao desenvo lvimento gradativo das capacidades associadas às quatro competências lingüísticas básicas: falar, escutar, ler e escrever. Desenvolver a oralidade é uma das habilidades típicas dos primeiros anos de escolaridade. O RCNEI prevê que os conteúdos ligados a essa área devem ser divididos em três blocos nas classes de 4 e 5 anos de idade: falar e escutar, práticas de leitura e práticas de escrita (figura 2). Foi observado que a professora do grupo de dois e três anos do Centro Nova Semente também já os havia iniciado na escrita de letras e números e em situações de estímulo à leitura (figura 3). Em nenhum grupo foi observado o uso de livros didáticos, mas havia livros de histórias infantis, que eram lidos para elas pela professora de cada grupo. 49 Pode-se praticar a escrita com crianças pequenas de diversas maneiras como: escrever o próprio nome, produção de textos individuais ou coletivos ditados ao professor com fins diversos, escrita individual utilizando o conhecimento prévio disponível no momento, respeitando a sua própria produção e a produção do colega. Mas, apesar de comprovado que os primeiros anos de vida são de fundamental importância ao desenvolvimento do individuo, é preciso atenção para propor atividades de escrita que façam sentido para a criança. Pois ao se promover experiências significativas de aprendizagem da língua, por meio de um trabalho com a linguagem oral e escrita, são ampliadas as capacidades de comunicação e expressão e de acesso ao mundo letrado das crianças. 0(a) professor(a) deve mediar o processo de desenvolvimento da linguagem auxiliando a construção da fala, estimulando as lembranças das crianças e provocando narrativas, ajudando-as explicarem para si e para os demais, as relações e associações contidas em sua fala. Uma das formas é a organização de rodas de conversa onde possa acontecer um diálogo e interação de idéias. Nesse exercício, que deve ser cotidiano, as crianças podem melhorar seu nível de comunicação, expor suas idéias e suas dúvidas, ampliar seu vocabulário, e ainda, aprender a valorizar as idéias do grupo e a troca de aprendizagens. Essas rodas de conversa no Centro Nova Semente foram observadas apenas no G2-3. Nos outros grupos não foram presenciadas situações de direcionamento para o desenvolvimento da linguagem oral, apenas de linguagem escrita, durante as tarefas diárias. Isso não quer dizer que estas não existissem em outros momentos não observados. 5.4.4 Atividades Dessa sub-escala fazem parte a atividade motora fina; atividade física; arte; música e movimento; dramatizações; areia/água; natureza/ciências; uso de TV e ou computador; promoção da aceitação de diversidade. As atividades devem priorizar o desenvolvimento de um conjunto de conhecimentos, habilidades, atitudes e valores, 50 adequados a cada faixa etária, que tenham como princípio formar uma criança saudável e desenvolver sua capacidade de aprender a aprender, sua capacidade de pensar e estabelecer as bases para a formação de uma pessoa ética capaz de conviver num ambiente democrático. Devem abranger Artes Plásticas, Música, Conhecimento da Natureza e da Sociedade, Educação do Movimento, Linguagem oral e Escrita, segundo autoras como Abramowicz e Wajskop (1995), Rizzo(2006) e o RCNEI (1998). A Educação do Movimento constitui uma linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico, engatinhando, caminhando, correndo, manuseando objetos, saltando, brincando sozinhas ou interagindo com outras crianças, adultos ou até objetos. Ao explorar o ambiente que a cerca a criança aprende a adequar seus gestos e movimentos às suas intenções e às demandas da realidade. Gradativamente ela desenvolve atos que exigem coordenação de vários segmentos motores que facilitarão nas tarefas de recortar, colar, encaixar pequenas peças, etc. Muitos jogos e brincadeiras que envolvem seqüências motoras para serem reproduzidas propiciam conquistas no plano da coordenação e precisão dos movimentos e devem ser utilizados na educação infantil. O Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil (RCNEI), ao abordar a linguagem do movimento diz que: As maneiras de andar, correr, arremessar, saltar, resultam das interações sociais e de relações dos homens com o meio (...) sendo assim, fazem parte da uma cultura corporal humana, que a criança se apropria ao brincar, jogar, imitar, o que lhes ampliará os conhecimentos de si mesmas, das outras pessoas e do ambiente que a cerca”. Quanto às atividades envolvendo movimento, havia um elemento que dificultava o planejamento no Centro Nova Semente: o espaço versus quantidade de crianças. No período dessa pesquisa, o Centro Nova Semente contava com um total de 79 alunos divididos em três classes. O horário era integral para a maioria deles. O espaço interno que poderia ser utilizado tornava-se pequeno para as atividades de rotinas diárias que propiciassem a mobilidade própria da criança, para que ela pudesse se expressar e se comunicar através dessa interação corporal. 51 Segundo o RCNEI, as ações pedagógicas devem estar voltadas para o desenvolvimento das capacidades expressivas e instrumentais dos movimentos, de forma que se possa agir com maior intencionalidade. Os conteúdos para o movimento devem ser organizados num processo contínuo e integrado de ações, envolvendo experiências corporais, para que seja possível à criança realizar sozinha ou em interação, através de brincadeiras, jogos, danças, atividades esportivas, dentre outras, desde que observadas as condições espaciais e materiais. Quanto ao componente curricular de Música, sabe-se que é a linguagem que se traduz em formas sonoras capazes de expressar e comunicar sensações, sentimentos e pensamento. É uma das formas de expressão humana amplamente utilizada na educação, especialmente na educação infantil, principalmente como suporte na formação de hábitos, atitudes e comportamentos como lavar as mãos, escovar dentes, respeitar a fila, além de memorização de conteúdos relativos a números e letras do alfabeto, sempre acompanhada por gestos corporais. Esse não é o caso do Centro Nova Semente. O momento do dia que se trabalhava de maneira mais sistemática a utilização de música, era na fila de entrada, pela manhã, ou, muito eventualmente, em atividades nas salas. Percebe-se uma falta de sistematização e aproveitamento da música nas atividades diárias. O planejamento didático para a educação infantil precisa contemplar esse componente curricular rotineiramente, pois o contato intuitivo e espontâ neo com a expressão musical desde os primeiros anos de vida é importante ponto de partida para o processo de musicalização. Poucos foram os momentos que o Centro Nova Semente utilizou atividades como: ouvir música, aprender uma canção, brincar de roda, realizar brinquedos rítmicos, que segundo o RCNEI (1998) são atividades que despertam, estimulam e desenvolvem o gosto pela atividade musical, além de atenderem a necessidades de expressão que passam pela esfera afetiva, estética e cognitiva. Assim como a música, é necessário contemplar outros ramos de atividades no currículo para crianças pequenas. Por exemplo, as Artes Visuais que segundo explicações do RCNEI (1998): 52 O trabalho com as Artes Visuais na educação infantil requer profunda atenção ao respeito das peculiaridades e esquemas de conhecimento próprios à cada faixa etária e nível de conhecimento. Isso significa que o pensamento, a sensibilidade, a imaginação, a percepção, a intuição e a cognição da criança devem ser trabalhadas de forma integrada, visando favorecer o desenvolvimento das capacidades criativas das crianças. Ao chegar ao Centro Nova Semente para o estágio não visualizei no salão de entrada nenhuma produção das crianças. Era um espaço bastante frio, contando apenas com algumas pinturas de motivos florais no alto das paredes, já desgastadas pelo tempo. Depois de questionamentos sobre a falta de aproveitamento desse espaço com as atividades das crianças, que tivessem “a cara” do grupo e favorecesse atribuir ao local uma marca infantil e educativa, senti uma grande falta de motivação das professoras. Mas durante a semana do dia dos pais foram construídos alguns cartazes com a participação dos alunos que foram colocados nesse salão de entrada. Somente na semana da primavera, mais de um mês depois, quando as professoras prepararam uma pequena caminhada pela rua da escola, é que novos cartazes foram feitos para esse espaço. Percebi, então, que faltava a motivação e o empenho de uma coordenadora pedagógica que fomentasse o desejo e a criatividade das professoras e, fazendo que por sua vez, que estas incentivassem seus alunos a um trabalho criativo e cultivassem o desejo de mostrar seus produtos, atitude tão natural em crianças dessa idade. Nas salas de aula os trabalhos de artes visuais expostos, na maioria das vezes, eram de pinturas de desenhos mimeografados, muitas vezes com temas das datas comemorativas, e desenhos livres nos quais não percebi um trabalho contextualizado, mas como não havia presenciado sua produção, posso estar falhando na minha observação. Uma coisa pode-se afirmar: não havia o hábito de renovação constante dessas produções, ficando essas expostas durante muito tempo. Uma tentativa de atividade diferenciada durante o estágio foi uma oficina de dobradura de papel feita com os alunos da turma de seis anos. É muito importante que a equipe de profissionais da educação infantil tenha uma visão ampla do que é arte visual, considerando que dela fazem parte não somente os desenhos e as telas, também fotos, outdoors, esculturas, objetos do cotidiano e até histórias em quadrinho que são parte da cultura e merecem ser trabalhados em sala. Quanto ao fazer, a criança deve ter liberdade para criar e utilizar diferentes materiais, dependendo do objetivo da aula. 53 5.4.5 Interação Fazem parte dessa sub-escala os itens da supervisão do brincar e do processo de aprendizagem; interação criança-criança; interação equipe-criança; disciplina. A vida coletiva e as interações nas creches e instituições de Educação Infantil favorecem as formações de grupos. Segundo Rizzo (2006), é considerado grupo o conjunto de crianças que freqüentam as mesmas salas, participam das mesmas atividades, nos mesmos momentos, sob a coordenação de adultos educadores que passarão a servir como referência, onde o grupo poderá estabelecer relações de afinidade. Cabendo à instituição estabelecer os critérios de organização desses grupos que podem ser: grupamento homogêneo por faixa etária, grupamento por desenvolvimento ou grupamento por afinidade. No caso do Centro Nova Semente o que determinava a organização dos grupos era a faixa etária, juntando-se pares de idade: 2/3 anos e 4/5 anos e como só houvesse mais uma turma, todas as crianças acima de cinco ficavam ali agrupadas. Durante o dia as atividades desenvolvidas com os adultos e outras crianças, podem criar situações de estímulo à autonomia e à cooperação, além de transformar as interações com as outras crianças, com as profissionais e com seus pais (figura 5). As interações estão presentes nas relações das crianças entre si e na relação com os adultos e ainda com o ambiente onde ela interage, e nessa interação se processará o seu desenvolvimento e a sua aprendizagem, e para que esta aprendizagem seja significativa, os Parâmetros Nacionais de Qualidade para Educação Infantil (2006. P.18), recomendam: As crianças precisam ser apoiadas em espaços amplos e ao ar livre; expressar seus sentimentos e pensamentos; desenvolver a imaginação, a curiosidade e a capacidade de expressão; ampliar permanentemente conhecimentos a respeito do mundo e da natureza e da cultura apoiadas por estratégias pedagógicas apropriadas; diversificar atividades, escolhas e companheiros de interação em creches, pré-escolas e centros de educação infantil. 54 Uma educação infantil de qualidade requer uma relação do adulto com a criança onde esse adulto possa disponibilizar atenção e carinho, pois é na ação e na interação com os adultos e com outras crianças de sua convivência que a criança constrói o seu conhecimento e as bases da estrutura de sua personalidade. Portanto, a quantidade de crianças na sala para cada adulto é um fator complicador para a qualidade da educação oferecida às crianças pequenas na medida em que diminui a disponibilidade para que essa interação aconteça de modo satisfatório. No período dessa pesquisa, o Centro Nova Semente contava com um total de 79 alunos divididos em três classes, com horário integral para a maioria deles. Uma classe com um grupo de 29 crianças com idade de dois e três anos, o (G 2-3), uma segunda classe com 28 alunos de quatro e cinco anos de idade, o (G 4-5), e uma terceira classe com 22 crianças na faixa etária de seis a nove anos. Nessa classe alguns alunos já estudavam em escolas regulares freqüentando o Centro apenas um turno. Nota-se, aquele aspecto já abordado ao discorrer sobre qualidade para educação Infantil, - a grande vontade em acolher o maior número possível de crianças contrariando, assim, a recomendação do Parecer CNE/CEB nº 22/98 que indica para cada professor, grupo de até quinze crianças de até três anos de idade, ou de vinte alunos na faixa etária de quatro a seis anos. Especialmente se levarmos em conta que não havia auxiliares de classe, o tamanho dos grupos do Centro Nova Semente dificultava principalmente um melhor atendimento educativo das crianças. Rizzo (2006, p. 62-63) escreve sobre a relação de adulto por criança, explicando: A relação adulto-criança e a quantidade destas, em cada grupo, são diretamente possibilidade responsáveis de pela qualidade desenvolvimento da das relações linguagem consequentemente desenvolvimento intelectual. das afetivas e crianças e (...) a determinação do número de crianças pode levar em consideração, desde o início, o estabelecimento de dois adultos para cada grupo, a fim de que seja possível a qualquer um deles afastar-se para prestar auxílio a uma criança, enquanto o outro fica com o resto do grupo. 5 O estágio serviu para dar um panorama da realidade de algumas creches e escolas para o ensino infantil. Diante do observado no Centro Nova Semente, considerei na relação adulto-criança, que as professoras necessitavam de ajuda para manter o equilíbrio e a disciplina, pois a quantidade de alunos por sala era muito grande. Porém, apesar das dificuldades, elas tentavam preservar as bases afetivas formadas no convívio com seus alunos, verificadas pela emoção com que realizavam as ações e as interações entre eles. 5.4.6 Estrutura do programa Consta nessa sub-escala os itens: Programação; Atividade livre; Atividade em grupo; Medidas para crianças com necessidades especiais. Os ambientes educativos, especialmente os dedicados às crianças pequenas, não podem ter uma programação estática, mas flexível de acordo com a realidade de cada grupo. Segundo Abramowicz e Wajskop (1995), cada ambiente educativo se constrói e se reconstrói, a cada dia, para dar conta da diversidade de elementos presentes nesses espaços: elementos humanos, espaciais, sociais, culturais e econômicos. Na educação infantil, as atividades propostas devem favorecer a cultura original da criança. É fundamental que as atividades vivenciadas nesse nível de escolaridade tenham como ponto de partida as experiências e valores da comunidade em que vivem, especialmente a dos seus familiares, utilizando momentos de trabalho orientado e momentos livres, que venham proporcionar o maior nível de interações possíveis, pois essas interações são condições essenciais para o desenvolvimento das crianças. Sobre o respeito à realidade de cada criança na busca de uma educação contextualizada Paulo Freire (2001, p. 28) escreveu que cabe: 56 Ao professor ou, mais amplamente, à escola, o dever de não só respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os das classes populares, chegam a ela – saberes constituídos na prática comunitária- mas também, discutir com os alunos a razão de ser de alguns desses saberes em relação com o ensino dos conteúdos. Todas as ações constantes da rotina diária da escola devem formar um conjunto de experiências a fim de desenvolver plenamente as capacidades inatas das crianças e sua integração social no meio em que elas vivem. Estas ações são a base do Currículo de atividades apropriado para a educação infantil. Rizzo (2006, p. 80) alerta sobre as atividades curriculares para esse nível de educação ao escrever que: Tudo aquilo que acontece com o bebê ou a criança, da hora de sua chegada no estabelecimento, sua recepção, à hora da saída, sua entrega aos responsáveis, faz parte do currículo de vida e aprendizagem, age sobre a sua formação e influencia na estruturação de sua personalidade. Se positivas e estimulantes, essas experiências estarão contribuindo para o seu desenvolvimento. Se negativas, ao contrario, poderão estar contribuindo para a existência de bloqueios ou quaisquer dificuldades de aprendizagem. No Centro Nova Semente, a programação das atividades diárias tinha como ponto de partida um programa anual, elaborado com a orientação de uma pedagoga, mas não havia um acompanhamento regular do trabalho das professoras, pela ausência de uma coordenadora pedagógica permanente. O plano anual de ensino, um para cada grupo, apresentava conteúdos curriculares apropriados, com objetivos e estratégias, mas que parecia ter sido feito para uma outra realidade, ou seja, era muito genérico, não se aproximava das possibilidades do espaço e dos materiais disponíveis no momento. Trabalhavam-se projetos pedagógicos, mas havia certa indisposição para o desenvolvimento dos projetos que eram sugeridos por estarem sendo desenvolvidos em uma escola particular para educação infantil. Chegava até as professoras o título do projeto, sem que este fosse pensado, sugerido ou discutido por elas e muito 57 menos buscasse atender a uma necessidade ou desejo da comunidade escolar. Faltava também uma reflexão constante sobre a prática educativa de cada educadora para adequar a programação de suas atividades a projetos educativos contextualizados, que tivessem significado para cada grupo e que fossem prazerosos para todos. 5.4.7 Pais e equipe Medidas para o envolvimento de pais; medidas para as necessidades pessoais da equipe; Medidas para atender as necessidades profissionais da equipe; Estabilidade da equipe; Interação e cooperação entre a equipe; Supervisão e avaliação da equipe; Oportunidades para desenvolvimento profissional são os itens dessa sub-escala. A Educação Infantil de hoje precisa da visão histórica para uma maior compreensão de sua realidade. Necessário ter em mente que a visão assistencialista das creches determinou toda estrutura e funcionamento destas. Desde quando o enfoque dado era o de guarda, de higiene, de alimentação e proteção das crianças pequenas enquanto os pais trabalhavam, as exigências quanto ao educador da creche eram reduzidas. Não era necessário possuir um grau elevado de escolaridade, mas gostar de crianças e ter paciência e cuidado para com elas. Zenker (2004, p.250-251) ao escrever sobre a temática diz que: Para trabalhar nas creches, não era preciso formação acadêmica. Por outro lado, as propostas dos jardins da infância dirigidas às classes média e alta davam ênfase à socialização da criança e à preparação para o antigo primário. (...) este cenário começa a mudar. Mudam as formas de pensar e fazer educação de crianças; o espaço para recebê-las passa a ser chamado de educativo. 58 A partir de 1996 a Lei de Diretrizes e Bases dispõe, no título VI, artigo 62, que : “ A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena em universidades e institutos superiores de educação, admitida, como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade Normal. Nesse ponto, foi gratificante verificar que as professoras do Centro Nova Semente tinham ensino médio completo em magistério e duas delas cursavam o ensino superior em Pedagogia, (uma delas à distância), e que a freira responsável pela administração possui formação acadêmica em Pedagogia. Por outro lado, as professoras não contavam com um serviço regular de Coordenação da atividade escolar, o que, na maioria das vezes, as deixavam muito soltas e indecisas, pois, lhes faltava alguém com quem pudesse dividir as ansiedades, buscar apoio pedagógico, e uma orientação para formação em serviço que as ajudassem a melhorar suas práticas. Eventualmente, as educadoras recebiam a visita de uma pedagoga voluntária que levava temas de projetos didáticos desenvolvidos na escola particular onde ela trabalhava. Nas visitas ela sugeria, ligeiramente, atividades que poderiam ser utilizadas para o desenvolvimento desses projetos. Nesses dias, na maioria das vezes, conversava com as professoras em momentos diferentes, ou seja, uma de cada vez. Por isso não se considerava esses momentos como reuniões pedagógicas ou de coordenação, (A C), embora as professoras reclamassem da necessidade destas dizendo que faziam muita falta. Ao chegar à Creche Escola Centro Nova Semente para minha primeira observação encontrei um grupo de professoras desestimuladas, inquietas, com situações de indisciplina de alunos, especialmente a professora do grupo inicial, e havia problemas nos relacionamentos interpessoais no grupo de professoras. Outro fator que me chamou a atenção era o pouco envolvimento dos pais, e a falta de integração deles com as professoras. Considerei que essa situação seria minimizada com a presença constante de uma coordenadora das atividades pedagógicas. Focalizei, então, meu estágio curricular de participação nesse papel tão necessário para o funcionamento de uma escola. 59 De acordo com o documento “Traçando Caminhos para Sua Prática Educativa”, elaborado e distribuído pela Secretaria Municipal de Educação de Salvador, em 2005, compete ao Coordenador iniciativas nas áreas de planejamento, acompanhamento e monitoramento pedagógico, assim como assistência pedagógica aos alunos e ao professor. Compete-lhes, pois, a organização das ações pedagógicas da escola, bem como faz parte do seu trabalho, a planificação, os estudos, a socialização e a mediação entre os diferentes segmentos da escola. Vê-se, portanto a pertinência da colocação das professoras, tendo em vista a necessidade de constante aprimoramento de suas qualidades profissionais, na medida em que, segundo diz o RCNEI (1998, p 39), o professor tem como função garantir o bem-estar, assegurar o crescimento e promover o desenvolvimento e a aprendizagem das crianças da educação infantil sob sua responsabilidade. Para os encontros de formação com as professoras foi necessário driblar a falta de espaços e de tempo, desde quando não havia um horário determinado para formação, os alunos não poderiam ser dispensados e a instituição não dispunha de pessoal que assumisse as classes nesses momentos. Por iniciativa da estagiária-pesquisadora e com a aquiescência da direção, foi providenciado professores voluntários para trabalhar nos dias dos encontros de formação das professoras, desenvolvendo atividades lúdicas de brincadeiras, oficina de dobradura de papel, leitura de histórias infantis e música com as crianças. Em todos os encontros, aconteceram situações imprevistas acarretando algumas interrupções, já que durante as mesmas, de vez em quando, uma das professoras era solicitada a dar apoio aos voluntários para diminuir a agitação das crianças. Nos encontros de formação com as professoras, foram lidos e discutidos textos sobre Pedagogia de projetos, com partilha de experiências, questionamentos sobre dúvidas existentes e elaboração de um mini-projeto que foi pensado, discutido e planejado mediante ação e reflexão da própria prática. Foi interessante perceber a mudança de posturas e idéias, inclusive a respeito da participação familiar, antes rejeitada pelas professoras, e sendo incluída nas atividades do projeto elaborado por elas. Mais gratificante ainda foi ver como esses encontros foram minando resistências e promovendo a interação e a cooperação na equipe, levando-as a considerar esta oportunidade como crescimento profissional, promovendo uma autoavaliação sincera e uma avaliação positiva de todo o processo de formação 60 acontecido nesses encontros. É importante dizer que esta foi uma experiência de aprendizagem de forma lúdica. Não o lúdico descontextualizado, do fazer por fazer simplesmente, mas como o apresentado por Luckesi (2005), no sentido de fazer por prazer. O fazer prazeroso que dá significado especial ao que se faz, e se manifesta no interesse em todo processo, tão fundamental para um bom desenvolvimento e aproveitamento. 5.4.8 Figuras Figura-1 Encontro de formação sobre Projetos Didáticos com as professoras do Centro Nova Semente 61 Figura-2 Grupo de 4-5 anos em Roda de história no salão de entrada do Centro Nova Semente Figura-3 Crianças do G 2-3 em momento de pseudo-leitura em sala de aula 62 Figura-4 Hora do almoço no G 2-3, com a professora alimentando uma criança de 2 anos de idade Figura-5 Momento de interação e diálogo da estagiária com as crianças do G 4-5 63 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa evidenciou que ainda existe uma dicotomia entre o legal e o real no atendimento educacional para crianças pequenas. Se por um lado, as propostas educacionais na legislação apontam um grande avanço no reconhecimento dos direitos da população infantil a uma educação gratuita e de qualidade, em contrapartida, pelos resultados dos censos escolares, fica claro que ainda é muito pequeno o número de crianças atendias em creches e pré-escolas, tanto no Brasil como na Bahia e em Salvador. É grande o distanciamento existente entre a qualidade do que é oferecido nas escolas particulares para a população de classe media/alta e a da destinada às crianças que vivem em bairros de comunidades carentes. A baixa qualidade atinge mesmo crianças cujos pais podem pagar pelo atendimento em escolinhas particulares, de mensalidades módicas, pois, na maioria das vezes, estas estão desvinculadas do sistema municipal da educação, ficando fora das estatísticas que orientam os financiamentos e das diretrizes e programas oficiais que garantem uma fiscalização. Além disso, ainda é freqüente encontrar-se muitas creches de cunho assistencialista e filantrópico, organizadas por pessoas das comunidades carentes e que também estão fora das estatísticas dos órgãos públicos. Em tais estabelecimentos ocorre, então, um distanciamento das diretrizes curriculares nacionais e das normas legais que garantem a melhoria da qualidade do ensino e o desenvolvimento integral das crianças, pois estão à margem do sistema oficial. A descrição da experiência vivenciada no Centro Nova Semente, demonstra o quanto é necessário que se ofereça subsidio ao professor da educação infantil para um aprimoramento profissional, tendo em vista uma determinada qualidade que se pretende alcançar. Mostra, também, o quanto os espaços físicos e as condições materiais de algumas instituições de educação infantil estão distanciados do que a legislação prevê para esse nível de ensino. 64 Em vista disso, é necessário enriquecer a qualificação dos profissionais através de formação continuada, e promover a contratação de um maior contingente de pessoal, que dê suporte aos professores para que estes possam buscar instrumentos que minimizem os problemas acarretados pela falta de tempo e inadequação dos espaços, sabendo-se que problemas estruturais são mais difíceis de resolver no curto prazo. É preciso deixar claro que as instituições precisam fazer um grande esforço para se adequar às exigências atuais de uma educação voltada para a qualidade, pois lutam sempre contra as dificuldades decorrentes da falta de condições econômicas e sociais. Igualmente importante nesse estudo foi fazer do estágio curricular um campo de observação para os conhecimentos práticos de uma teoria que já estava sendo estudada. A observação se deu de maneira mais natural, onde todos os envolvidos interagiram sem a retração provocada por uma pesquisa feita através de questionamentos direcionados, pois não havia o sentido de julgamento. Além disso, a visão da pesquisadora foi também facilitada na medida em que esteve interagindo durante todo o tempo com o objeto de sua pesquisa, fazendo com que esta contribuísse para a construção de um conhecimento vivenciado e, não somente, teórico. Pode-se concluir que, se no início o modelo assistencialista da educação infantil era o ideal para a sociedade da época, os novos tempos exige uma educação mais voltada para esse novo modo de ver e conceber o desenvolvimento das crianças pequenas. Falar de qualidade na Educação Infantil, então, é reconhecer que o termo qualidade não é estático. Tem um dinamismo que dá conta do que se concebe como sendo o melhor para aquele público, que se encontra em um certo espaço geográfico e em um tempo determinado. Especialmente neste caso, a concepção de qualidade continuamente se renova de acordo com as necessidades e os desejos das crianças, das famílias, dos profissionais da educação infantil e da sociedade. 65 REFERÊNCIAS ABRAMOWCZ, Anete; WAJSKOP, Gisela. Creches: Atividades para Crianças de Zero a Seis Anos. S. Paulo: Ed. Moderna, 1995. BAHIA. Estatísticas- Censo Escolar- Alunos por Níveis e Modalidades de Ensino. Disponível em < http://www.sec.ba.gov.br/estatistica/alunos.htm >. Acesso em: 16 fev. 2009. ______. A educação Básica Baiana em Dados. 1980-1997. Bahia: SEC, 2000. BRASIL. MEC/INEP. Resultados do Censo de 2007. DOU de 10 /01/ 2008. Disponível em: <http://www.inep.gov.br/imprensa/noticias/censo/escolar/news08_01.htm >. Acesso em: 19 fev. 2009. ______.MEC/INEP. 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