Caso Clínico: Intussuscepção Tânia Renata L. Falcão Coordenação: Luciana Sugai Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS)/SES/DF www.paulomargotto.com.br 30/7/2008 Caso Clínico Identificação: NFC, sexo feminino, 5 meses, natural de Brasília-DF, residente em Planaltina-DF, branca. QP: “vômitos há 2 dias”. HDA: Mãe refere que há 2 dias a criança iniciou episódios de vômitos de coloração“amarelo-esverdeada”, vários episódios(não sabe quantificar), associados a parada da elminação de fezes e gases e presença de distensão abdominal. Refere que a criança está irritada e diminuiu a freqüência das mamadas. Teve um episódio febril há 1 dia(38,3ºC), que cedeu ao uso de Paracetamol. Caso Clínico Revisão de sistemas: Episódio sugestivo de resfriado comum há 2 semanas. Nada digno de nota. Antecedentes Pessoais: -Fisiológicos: Nascido de parto normal, à termo, sem intercorrências. Chorou ao nascer, peso 3265g, estatura de 50cm. Apgar(1’: 9/5’:10). Desenvolvimento neuropsicomotor adequado para idade. Mãe G1P1C0A0. Criança alimentando-se exclusivamente de leite materno -Patológicos: Nega internações. Nega alergias medicamentosas. Nega cirurgia, trauma. Nega transfusão sanguínea -Outros: Vacinação em dia. Caso Clínico Antecedentes Sócio-econômicos: Reside em zona urbana, casa de alvenaria, 7 cômodos, com 3 pessoas. Há luz elétrica e fossa asséptica. Nega o contato com animais domésticos. Casa sem cortinas ou carpete. Antecedentes Familiares: Mãe ,25 anos, pai, 29 anos, ambos saudáveis. Não tem irmãos. Nega consagüinidade.. Nega HAS, DM e casos de câncer na família Ao exame: Caso Clínico Ectoscopia: Regular estado geral, desidratada(1+/4+), hipocorada(1+/4+), eupnéica, anictérica, acianótica, afebril, irritada, fácies dolorosa. Mucosas hipocoradas (1+/4+). Oro e otoscopia: sem alterações. Tórax: simétrico, atípico, sem esforço respiratório, murmúrio vesicular fisiológico bilateral, sem ruídos adventícios. FR:35irpm. Ap. cardiovascular: ritmo cardíaco regular, em 2 tempos, bulhas normofonéticas, sem sopros. Pulsos cheios e simétricos. FC: 123bpm. Abdome: globoso, tenso, RHA presentes,timpânico, doloroso à palpação. Sem visceromegalias. Enchimento capilar de 2s. SNC: sem sinais meníngeos. Caso Clínico Exames complementares: Hemograma: leucócitos 15.300; basófilos 0; eosinófilos 0; mielócitos 0; bastões 11; segmentados 61; linfócitos 27; monócitos 01; hematócrito 32,5; hemoglobina 10,5; hemácias 4,12; plaquetas 230.000. Bioquímica: Na: 134mEq/L; K:3mEq/L; Cl:104MEq/l; Uréia: 43; creatinina:0.7; TGO:38; TGP:30. Gasometria: pH: 7,44/ HCO3: 26mEq/l/ pCO2: 50mmHg/ BE: +3. Rx de Tórax: sem alterações. Rx Abdome: Ausência de gás no reto. Distensão de alças colônicas com presença de nível hidroaéreo. Impressão de massa em topografia de região íleo-cecal. Desfecho A criança foi levada ao Centro Cirúrgico cerca de 12h após a sua entrada no hospital, com melhora da desidratação. Realizada laparotomia abdominal. Ao inventário da cavidade foi identificada invaginação intestinal em topografia de região íleo-cecal de aproximadamente 12cm. A invaginação foi desfeita manualmente. Não havia necrose de alça. A criança evolui bem e recebeu alta no 5° DPO. Intussuscepção Definição Intussuscepção é a telescopagem ou invaginação de uma parte proximal do intestino em uma parte mais distal. É a causa de obstrução intestinal mais freqüente no segundo semestre de vida. Nesta faixa etária, aproximadamente 90% das invaginações é íleo-cólica, sendo a maioria idiopática. Epidemiologia Descrevem-se uma predominância masculina (2:1) e uma prevalência sazonal definida em algumas regiões. Sua freqüência é variável, com incidência de 1,5 a 4,3 casos para 1.000 recém-nascidos. Sessenta por cento dos casos ocorrem durante o primeiro ano de vida e 90% ocorrem até o final do segundo ano de vida. A incidência mais elevada ocorre nos lactentes com cinco a nove meses de vida. Etiologia Existem várias teorias para explicar a sua causa, mas a mais aceita é a da hipertrofia focal linfóide secundária à infecção viral que ocorre na massa do tecido linfóide localizada no íleo terminal. Pós-infecciosa, pós-vacinal(Rotavírus), divertículo de Meckel, pólipos. Fisiopatologia A medida que o intestino invagina-se para a luz distal, a compressão provoca graus variáveis de oclusão venosa, edema, isquemia com perda da integridade da mucosa e consequente extravasamento de sangue e muco. Pode evoluir para infarto e necrose intestinal. Quadro Clínico A história clássica é a de lactente saudável muito irritado. Geralmente dobra as pernas para cima do abdômen. Nos intervalos da dor, a criança se torna quieta e, eventualmente, apática, pálida e sonolenta. O quadro é associado a vômitos, inicialmente alimentares, que evoluem para biliosos. As fezes se tornam vermelho-escuras e mucóides, parecendo gelatinosas. Ao exame físico, em 85% dos casos se palpa tumoração no quadrante superior direito, com fossa ilíaca direita vazia (sinal de Dance). Diagnóstico O Rx simples de abdômen pode evidenciar em 50% dos casos, massa opacificada e edema de alças. A USG de abdômen tem alta especificidade e sensibilidade, evidenciando imagem em “casca de cebola”. O enema baritado é realizado como diagnóstico e também como possível procedimento terapêutico. O índice de sucesso na redução por enema varia de 42% a 80%. A redução também pode ser feita utilizando o ar como meio de contraste. As contra-indicações ao enema baritado ou pneumático são choque hipovolêmico, sinais de peritonite e perfuração intestinal. Tratamento A intervenção cirúrgica está indicada quando há falha na redução da invaginação por enema contrastado (bário ou ar) ou nas contra-indicações ao exame. A ressecção intestinal deve ser realizada apenas quando houver evidências inconfundíveis de necrose de alça. Caso contrário, será oportuno tentar desfazer a invaginação. A manobra cirúrgica apropriada neste sentido é a compressão na “cabeça” da invaginação, tentando empurrar a alça invaginada para fora da invaginante. Após sua redução, as alças intestinais devem ser palpadas cuidadosamente, pois em cerca de 10% dos casos encontra-se uma causa orgânica da invaginação. A recidiva da invaginação ocorre em cerca de 5% a 10% dos casos, geralmente de localização íleo-ileal. Nota: do editor do site www.paulomargotto.com.br Dr. Paulo R. Margotto Consultem: Caso Clínico:Intussuscepção Camila Machado, Joanna Cecília, Luciana Sugai Caso Clínico: Intussuscepção Intestinal Andréa de Morais Garay, Luciana Sugai Caso Clínico: Intussuscepção Epitácio Pereira Marques Neto, Luciana Sugai Obrigada!