Organizações e Trabalho Curso de Sociologia Universidade do Minho Aula teórica 3 - 18 de Março de 2010 • Sumário • - a evolução da organização do trabalho: do artesão ao automatismo • O Taylorismo: • 1 – biografia • 2 – as características da sociedade americana no começo do século XX • 3 – a obra de Taylor: a organização científica do trabalho • 4 - críticas VER: Alain Touraine, L‘évolution du travail ouvrier aux Usines Renault, Paris, C.N.R.S., 1955. Três fases do trabalho na Renault O começo da A produção em A era industrial grande série automatização A ferramenta (a mão), a matéria e a máquina Decomposição do trabalho Reagrupamento das operações, máquina que faz a transferência, interdependência O operário formase no trabalho, saber-fazer, forma dos aprendizes, responsabilidade, autónomo Não há necessidade de experiência, permutável, sem responsabilidade e autonomia, sem promoção, submetido aos métodos do «think dept» (engenheiros) Diminuição do número dos op. não qualificados, passa-se para funções de vigilânca sem iniciativa, criação dos operários qualificados para a manutenção Três fases do trabalho na Renault O começo da era industrial A produção em grande série Competência profissional O poder afasta-se do indivíduo A automatização Responsabilidade social O poder afasta-se da oficina Taylor O poder afasta-se da empresa • A obra de Taylor surgiu no contexto da Segunda Revolução Industrial, período marcado pela transição de um modelo de organização de trabalho para outro. • Taylorismo: passagem da Fase A (sistema profissional de trabalho) à Fase B (sistema técnico de trabalho) - produção em grande série e nova organização e racionalização do trabalho • VER: Alain Touraine, L'Évolution du Travail Ouvrier aux Usines Renault, Paris, C.N.R.S., 1955. O Taylorismo Baseado no texto: Rago, Luzia Margareth e Moreira, Eduardo, O que é o taylorismo, São Paulo, Brasiliense, 1984. Biografia de F. W. Taylor 1856 Nascimento em 20 de março, Filadélfia 1874 - 78 Aprendiz. The Enterprise Hydraulic Works (Philadelphia) 1878 - 89 Aprendiz, supervisor, capataz, mecânico-chefe e engenheiro chefe. Midvale Steel Company 1890 - 93 Gerente.The Manufacturing Investment Company. 1893 - 98 Consultor. Várias empresas. 1893 A Note on belting 1895 A Piece Rate System 1898 - 1901 Consultor. The Bethlehem Steel Company. 1901 -> Palestrante e propagandista do movimento de Administração Científica 1903 Shop Management 1906 On the Art of Cutting Metals ? A Treatise on Concrete Plain and Reinforced (com Sanford Thompson) 1911 Principles of Scientific Management 1912 1915 Concrete Costs (com Sanford Thompson) Morte em 21 de março, Filadélfia Entre 1907 e 1908, grande parte dos operários que trabalhavam nas indústrias americanas era estrangeira: -variava de 34 % na indústria calçado a 85 % nas refinarias de açúcar. - os americano-nativos, filhos de pais americanos, oscilavam entre 4% na indústria do vestuário a, no máximo, 51 % na indústria tabaqueira. Extraído de: Nelson, Daniel, Managers and Workers: Origins of the TwentiethCentury Factory System in the United States, 1880-1920, Madison, University of Wisconsin, 1995, p. 81. A rotatividade da mão-de-obra era extremamente alta ... “Ninety-one southern textile mills hired 57,000 new employees in 1907 but had no more than 30,000 individuals on their payrolls”. U.S. Congress, Senate, Report on Condition of Woman and Child Wage-Earnes in the United States, 61st. Cong., 2d, sess., doc. 645, vol 17. Washington, 1912, p. 23 Extraído de: Nelson, Daniel. Managers and Workers: Origins of the Twentieth-Century Factory System in the United States, 1880-1920. Madison : University of Wisconsin, 1995. p. 85 A rotatividade extremamente alta da mão-de-obra era “ ... on average, the sum of the „total [annual] number of terminations of employment ... will ... approximate the sum of the average number of men employed in the plants. In other words, the average turnover ... will be found to approximate one hundred percent.” Slichter, Summer. The turnover of Factory Labor. New York, 1919, p. 16. Extraído de: Nelson, Daniel. Managers and Workers: Origins of the Twentieth-Century Factory System in the United States, 1880-1920. Madison : University of Wisconsin, 1995. p. 85 O sistema de empreitada “A base do sistema era, certamente, a autoridade virtualmente ilimitada do empreiteiro. Após o contrato ter sido negociado, a mais importante função do empresário era prover uma força adequada de inspetores. O empreiteiro, por outro lado, tomava virtualmente todas as decisões importantes relativas ao que, quando, como e por quem o produto seria feito”. “Adicionalmente, apenas ele sabia – ou, pelo menos, tinha a oportunidade de saber – os custos reais de produção. Um escritor descreveu o acordo de empreitada como um substituto para a contabilidade de custos. Finalmente, os empreiteiros tinham praticamente o controlo completo sobre a força de trabalho da fábrica. Em muitas empresas, a administração nem sequer sabia quanto os ‘empregados’ dos empreiteiros recebiam.” Nelson, Daniel. Managers and Workers: Origins of the TwentiethCentury Factory System in the United States, 1880-1920., Madison, University of Wisconsin, 1995. p. 38-39. O capataz “Em outros aspectos, as responsabilidades do capataz não diferiam significativamente daquelas do empreiteiro. Em muitas indústrias ele tomava as decisões sobre como o trabalho seria feito, as ferramentas e muitas vezes o material que seria usado, o tempo das operações, o fluxo do trabalho, os métodos e a seqüência de movimentos utilizados pelos trabalhadores. Em todas as indústrias ele era o responsável pelo que, de fato, os trabalhadores faziam. Finalmente, em matéria de pessoal – ele contratava, treinava, supervisionava e disciplinava os trabalhadores – o capataz tinha virtualmente o controle completo.” Nelson, Daniel, Managers and Workers: Origins of the Twentieth-Century Factory System in the United States, 1880-1920, Madison, University of Wisconsin, 1995, p. 41 RESUMO No início do século XX, nos Estados Unidos: 1. já haviam grandes indústrias, mesmo para os padrões actuais; 2. já havia a preocupação com o bem-estar dos trabalhadores; 3. a mão-de-obra industrial era composta predominantemente por estrangeiros; 4. muitos deles nem sequer falavam o inglês. O grau de escolaridade era baixo; 5. a rotatividade da mão-de-obra era muito alta; 6. o empresário sabia muito pouco do que ocorria na própria empresa e não intervinha nas operações. Objectivos da sua principal obra: Princípios de Administração Científica (1911) ‘Primeiro – Para indicar, por meio duma série de exemplos, a enorme perda que o país vem sofrendo com a ineficiência de quase todos os nossos actos diários. ‘Segundo – Para tentar convencer o leitor de que o remédio para esta ineficiência está antes na administração do que na procura do homem excepcional ou extraordinário. ‘Terceiro – Para provar que a melhor administração é uma verdadeira ciência, regida por normas, princípios e leis claramente definidos, tal como uma instituição.” TAYLOR, Frederick W., Princípios de Administração Científica, São Paulo, Atlas, 1978. pp.27-28 O TRABALHO DE TAYLOR PODE SER RESUMIDO EM: 3 IDEIAS-MESTRAS 4 PRINCÍPIOS UTILIZAÇÃO DE “FERRAMENTAS” AS 3 “IDEIAS MESTRAS” 1 – A primazia do sistema 2 – A eficiência na utilização dos recursos 3 – A prosperidade de “patrões” e “empregados” 1 – A primazia do sistema “No passado, o homem estava em primeiro lugar; no futuro, o sistema terá primazia. Isso, entretanto, não significa, absolutamente, que os homens não sejam necessários. Pelo contrário, o maior objectivo duma boa organização é o aperfeiçoamento de seus homens de primeira ordem; e, sob direcção racional, o melhor homem atingirá o mais alto posto, de modo mais seguro e rápido que em qualquer outra distinção.” TAYLOR, Frederick W., Princípios de Administração Científica, São Paulo, Atlas, 1978, p. 27 2 – A eficiência na utilização dos recursos “Vemos e sentimos o desperdício das coisas materiais; entretanto, as acções desastradas, ineficientes e mal orientadas dos homens não deixam indícios visíveis e palpáveis; a apreciação delas exige esforço de memória e imaginação. E por isso, ainda que o prejuízo diário, daí resultante, seja maior que o decorrente do desgaste das coisas materiais, este último nos abala profundamente, enquanto aquele apenas levemente nos impressiona. ‘Até agora não houve qualquer movimento em favor da ‘maior eficiência nacional’, nem reuniões foram convocadas para discutir como tal questão deve ser estudada e, contudo, há sinais de que é vivamente sentida a necessidade dessa maior eficiência.” TAYLOR, Frederick W., Princípios de Administração Científica, São Paulo, Atlas, 1978. p. 26 3 – A prosperidade de “patrões” e “empregados” - O objectivo principal dos sistemas de Administração “O principal objectivo da administração deve ser o de assegurar o máximo de prosperidade ao patrão e, ao mesmo tempo, o máximo de prosperidade ao empregado. ‘A expressão máximo de prosperidade é usada em sentido amplo, compreendendo não só grandes dividendos para a companhia ou empregador, como também desenvolvimento, no mais alto grau, de todos os ramos do negócio, a fim de que a prosperidade seja permanente. Igualmente, máxima prosperidade significa, além de salários mais altos do que os recebidos habitualmente pelos obreiros de sua classe, este fato de maior importância ainda, que é o aproveitamento dos homens de modo mais eficiente, habilitando-os a desempenhar os tipos de trabalho mais elevados para os quais tenham aptidões naturais e atribuindo-lhes, sempre que possível, esses géneros de trabalho.” TAYLOR, Frederick W., Princípios de Administração Científica, São Paulo, Atlas, 1978, p. 29 Influência da produção na prosperidade de empregadores e empregados “Ninguém ousará negar que o indivíduo atinge sua maior prosperidade, isoladamente, quando alcança o mais alto grau de eficiência, isto é, quando diariamente consegue o máximo de rendimento. Este facto é também evidente ao trabalharem juntos dois homens. Para exemplificar: se você e o seu operário se tornarem tão adestrados que juntos fazem dois pares de sapatos por dia, enquanto o seu competidor e o operário dele fazem somente um par, é claro que, depois de ter vendido os dois pares de sapato, você poderá pagar ao operário mais do que seu concorrente, que produz somente um par, cabendo a você, ainda, lucro maior do que a seu competidor.” TAYLOR, Frederick W., Princípios de Administração Científica, São Paulo, Atlas, 1978. p. 29 A eficiência e a prosperidade da nação “Aqueles que temem seja a maior produção de cada indivíduo capaz de arrastar muitos homens ao desemprego devem compreender que nenhum elemento torna os países civilizados diferentes dos não-civilizados, os povos prósperos dos povos pobres; nos primeiros, os homens são, em média, 5 a 6 vezes mais produtivos que nos outros. É também facto conhecido que a principal causa da grande percentagem de desempregados na Inglaterra (quiçá a nação mais viril do mundo) é que o trabalhador inglês, mais do que qualquer outro país civilizado, está deliberadamente diminuindo o rendimento, por estar imbuído da ideia errada de que é contra seus próprios interesses trabalhar tanto quanto realmente pode.” TAYLOR, Frederick W., Princípios de Administração Científica, São Paulo : Atlas, 1978. p. 127 OS 4 PRINCÍPIOS PRIMEIRO – Desenvolver para cada elemento do trabalho individual uma ciência que substitua os métodos empíricos. SEGUNDO – Seleccionar cientificamente, depois treinar, ensinar e aperfeiçoar o trabalhador. TERCEIRO – Cooperar cordialmente com os trabalhadores para articular todo o trabalho com os princípios da ciência que foi desenvolvida. QUARTO – Manter divisão equitativa de trabalho e de responsabilidade entre a direcção e o operário. Confusão entre o mecanismo (ferramentas) e os princípios da Administração Científica “Vários artigos foram escritos para expor os expedientes e normas adotados pela administração científica, bem como as etapas a serem observadas, a fim de passar do sistema ordinário para o científico. ‘Infelizmente, a maioria dos leitores destes artigos tem confundido o mecanismo com a verdadeira essência do sistema. A Administração científica consiste fundamentalmente em certos princípios gerais ou numa filosofia, aplicável de muitos modos, mas a descrição do que algumas pessoas acreditam ser o melhor modo de implantar esses princípios gerais não deve ser, absolutamente, confundida com os princípios em si.” TAYLOR, Frederick W., Princípios de Administração Científica, São Paulo, Atlas, 1978, p. 43 AS FERRAMENTAS Como elementos do mecanismo do sistema podem ser referidos: 1) estudo do tempo, com os materiais e métodos para realizá-lo correctamente; 2) chefia numerosa e funcional e sua superioridade sobre o velho sistema do contramestre único; 3) padronização dos instrumentos e material usados na fábrica e também de todos os movimentos do trabalhador para cada tipo de serviço; 4) necessidade duma secção ou sala de planejamento; 5) princípio da excepção na administração; AS FERRAMENTAS Como elementos do mecanismo do sistema podem ser referidos: 6) uso da régua de cálculo e recursos semelhantes para economizar tempo; 7) fichas de instrução para o trabalhador; 8) sistema de rotina; 9) ideia de tarefa na administração, associada a alto prémio para os que realizam toda a tarefa com sucesso; 10) novo sistema de cálculo de custo, etc. 11) sistema mnemônico para classificar os produtos manufaturados e ferramentas usadas, etc. 12) pagamento com gratificação diferencial. A IDEIA DE TAREFA A ideia de tarefa é, quiçá, o mais importante elemento na administração científica. O trabalho de cada operário é completamente planeado pela direcção, pelo menos com um dia de antecedência e cada homem recebe, na maioria dos casos, instruções escritas completas que minudenciam a tarefa de que é encarregado e também os meios usados para realizá-la. E o trabalho planeado adiantadamente constitui, desse modo, uma tarefa que precisa ser desempenhada, como explicamos acima, não somente pelo operário, mas, em quase todos os casos, pelo esforço conjunto do operário e da direcção. TAYLOR, Frederick W., Princípios da Administração Científica, São Paulo, Atlas, 1978. p. 51 A IDEIA DE TAREFA Não há, absolutamente, nada de novo na Ideia de tarefa. Cada um de nós há-de lembrar-se que pessoalmente esta ideia nos foi aplicada, com bom êxito, nos tempos de colégio. Nenhum professor eficiente pensa em dar à classe, para estudar, uma lição indefinida. Todos os dias uma tarefa limitada é entregue pelo professor ao aluno, na qual aquele determina o que deve ser estudado em cada matéria e somente por este meio é que se pode obter o progresso conveniente e sistemático por parte dos discípulos. TAYLOR, Frederick W., Princípios da Administração Científica, São Paulo : Atlas, 1978. p. 110 SALÁRIOS O autor tem descrito, em outras publicações, uma série de experiências, demonstrando ser impossível, por um longo período, obter operários que trabalhem mais do que a média dos outros na vizinhança, a menos que lhes seja assegurado aumento de salário, grande e constante. Esta série de experiências também comprovou que muitos operários estão sempre desejosos de trabalhar com a maior rapidez, desde que se lhes dê liberal acréscimo de ordenado. Ao trabalhador deve, entretanto, ser garantido que esse aumento será permanente. TAYLOR, Frederick W., Princípios da Administração Científica, São Paulo, Atlas, 1978. p. 110 A RÉGUA DE CÁLCULO No outono de 1880, na época em que o autor começou a realizar os estudos anteriormente referidos, para determinar o que constitui a verdadeira tarefa diária do trabalhador, conseguiu ele permissão de William Sellers, presidente da Midvale Steel Company, para fazer uma série de experiências no sentido de conhecer os ângulos, as formas de instrumentos e também as velocidades mais favoráveis às operações de cortar aço. Estas questões parecem tão simples que bastaria para resolvê-las a experiência de um bom mecânico. Entretanto, depois de 26 anos de trabalho, verificou-se que a resposta a cada uma delas envolve a solução de problemas complexos de matemática, em que há necessidade de se determinarem 12 variáveis independentes. Ofereceu-se-lhes [a importantes matemáticos nos EUA] razoável pagamento pela descoberta de processo rápido capaz de resolver o problema. Alguns olhavam apenas o enunciado; outros, por cortesia, guardavam-no em seu poder, durante duas ou três semanas. Todos nos deram praticamente a mesma resposta: “que em muitos casos era possível resolver problemas matemáticos de 4 variáveis e, em alguns casos, problemas de 5 ou 6 variáveis, mas era seguramente impossível solucionar problemas com 12 variáveis, a não ser pelo processo lento das aproximações”. Graças à régua de cálculo, um desses intrincados problemas pode ser resolvido em menos de meio minuto por um bom mecânico, quer entenda ou não de matemática, tornando, assim, utilizável na prática corrente o resultado de tantos anos de experiência na arte de cortar metais. TAYLOR, Frederick W. Princípios da Administração Científica. São Paulo : Atlas, 1978. p. 98-103 Quatro ou cinco homens, em várias épocas, deram praticamente todo o seu tempo a este trabalho e, finalmente, enquanto estivemos na Bethlehem Steel Company, a régua de cálculo foi inventada (...) e descrita detalhadamente (...) por Carl C. Barth. A SUPERVISÃO FUNCIONAL A natureza humana é de tal sorte que muitos operários, abandonados a si mesmos, dispensam pouca atenção às instruções escritas. Assim, torna-se necessário designar INSTRUTORES, chamados chefes funcionais, para observar se os trabalhadores entendem e aplicam as instruções. Sob a administração funcional, o único contramestre é substituído por oito diferentes homens, cada um com atribuições especiais, actuando como agentes de secção de planejamento (...); são chefes exercitados que, em todos os momentos, ajudam e orientam os trabalhadores. PRINCÍPIO DE EXCEPÇÃO Não é raro ver o espetáculo aflitivo que oferece o director de uma grande empresa, completamente mergulhado em seu escritório num oceano de papéis, sobre cada um dos quais se acredita obrigado a pôr sua aprovação ou visto. O princípio de exceção é absolutamente o contrário disto. Segundo este princípio, o diretor não deve receber senão relatórios condensados, resumidos e, necessariamente, comparativos; estes resumos devem ser cuidadosamente estudados por assistentes, antes de chegar a ele, os quais apontarão todas as exceções notórias, boas ou más, aos processos antigos e derrogações às regras estabelecidas, de modo a darem em alguns minutos uma ideia de tudo. [118] ESTUDO DO TEMPO E DO MOVIMENTO E PADRONIZAÇÃO DE MÉTODOS Centenas desses analistas de tempo estão empenhados agora em desenvolver conhecimentos científicos elementares em assunto onde antes existiam apenas normas empíricas. O estudo dos movimentos, sistematizado por Gilbreth no assentamento dos tijolos (...) envolve a investigação mais minuciosa do que ocorre na maioria dos casos. As providências gerais, para a dedução de simples leis deste tipo, são as seguintes: ESTUDO DO TEMPO E DO MOVIMENTO E PADRONIZAÇÃO DE MÉTODOS PRIMEIRA Encontrar, digamos, 10 a 15 trabalhadores (preferentemente de várias empresas e de diferentes regiões do país) particularmente hábeis em fazer o trabalho que vai ser analisado. SEGUNDA Estudar o ciclo exacto das operações elementares ou movimentos que cada um destes homens emprega, como também os instrumentos usados. ESTUDO DO TEMPO E DO MOVIMENTO E PADRONIZAÇÃO DE MÉTODOS TERCEIRA Estudar, com o cronômetro de parada automática, o tempo exigido para cada um destes movimentos elementares e então escolher os meios mais rápidos de realizar as fases do trabalho. QUARTA Eliminar todos os movimentos falhos, lentos e inúteis. QUINTA Depois de afastar todos os movimentos desnecessários, reunir em um ciclo os movimentos melhores e mais rápidos, assim como os melhores instrumentos. PLANEAMENTO DO SERVIÇO Foi lembrada aqui, várias vezes, a necessidade de INSTRUIR o homem, sistematicamente, em como realizar o trabalho da melhor maneira. Parece razoável, entretanto, explicar mais detalhadamente como este ensino deve ser feito. No caso duma oficina que é dirigida de acordo com o sistema moderno, instruções escritas, minuciosas, a respeito do melhor processo de fazer cada tarefa, são preparadas previamente na seção de planejamento. Estas instruções representam o trabalho combinado de vários homens no planejamento, cada qual com uma especialidade ou função particular. PLANEAMENTO DO SERVIÇO Um deles, por exemplo, é especialista em fixar a velocidade adequada no corte dos metais. Ele emprega a régua de cálculo, anteriormente descrita, como guia para obter a velocidade conveniente, etc. Outro homem analisa os movimentos melhores e mais rápidos que devem ser feitos pelo trabalhador na colocação do material na máquina e na remoção dele, etc. Ainda um terceiro, por meio de registros de tempo, colhidos anteriormente, organiza uma escala do tempo com a velocidade adequada para cada elemento da tarefa. As instruções de todos estes homens, entretanto, são escritas em uma simples folha ou ficha de instrução. CONTABILIDADE DE CUSTOS Empreiteiros e engenheiros em todo o país estão percebendo a importância da manutenção de registros precisos de custos, tanto separadamente quando em conexão com o registro de tempos, assim como de dividir o custo da mão-de-obra em diferentes classes de trabalho, (1) para determinar onde o trabalho está sendo desviado do tempo previsto, (2) para ver onde os custos são diferentes das estimativas e (3) (talvez mais importante que os anteriores) dar a cada capataz um relatório diário ou semanal mostrando o custo sob sua responsabilidade de tal forma que ele possa ver onde está mal, antes que seja tarde. TAYLOR, Frederick e THOMPSON, Sanford, Concrete Costs, New York , John Wiley & Sons, 1912. ALGUMAS OBJECÇÕES DOS SINDICATOS À ADMINISTRAÇÃO CIENTÍFICA (1914) “ ‘A Administração Científica’ aumenta muito o número de ‘trabalhadores improdutivos’, isto é, aqueles envolvidos no trabalho de escritório ou de supervisão.” Citado por: Robert Franklin Hoxie, Scientific Management and Labor, New York, Augustus M. Keller, 1966. (Reprints of Economics Classics) “ ‘A Administração Científica’ opõe-se à democracia industrial; ela é uma reversão à autocracia industrial. Ela força os trabalhadores a depender da concepção de justiça dos empregadores e limita as salvaguardas democráticas dos trabalhadores.” “O estudo dos tempos e o estudo dos movimentos são um ataque directo aos direitos, dignidade e bem-estar dos trabalhadores, são destruidores da habilidade e verdadeira eficiência, e são uma ameaça à paz industrial.” “’A Administração Científica’ é um estratagema empregado com o propósito de incrementar a produção e os lucros; e tende a eliminar considerações sobre o carácter, direitos e bem-estar dos empregados.” “Introduz o espírito de suspeita mútua e competição entre os homens, e assim destrói a solidariedade e o espírito de cooperação do grupo.” “ ‘A Administração Científica’ tende a privar o trabalhador de pensamento, iniciativa, senso de realização e alegria em seu trabalho.” “ Ao individualizar o operário no interior da fábrica, o sistema Taylor pretende quebrar toda forma de articulação e todo laço de solidariedade entre os explorados. Taylor pregava que a direcção da fábrica se dirigisse a cada trabalhador considerado individualmente, distribuindo prémios e gratificações, incentivando o espírito de concorrência entre eles. O objectivo político de impedir a emergência de um movimento organizado dentro da fábrica é declarado explicitamente pelo autor do método que analisamos.” Rago, Luzia Margareth e Moreira, Eduardo, O que é o taylorismo, São Paulo, Brasiliense, 1984. CONCLUSÃO A metáfora das organizações como máquinas • A Organização Científica do Trabalho (Taylor) • Frederick Winslow Taylor (1856-1915), através da sua elevada experiência como operário e engenheiro, apercebeu-se das contradições e efeitos negativos no funcionamento interno das organizações, devido a métodos de gestão e processos de trabalho marcados pelo empirismo, irracionalidade, preguiça e procurou convertê-los em métodos científicos e racionais de organização do trabalho. ASO 53 • Assim, Taylor, mediante a observação sistemática dos operários, apercebeu-se da possibilidade de decompor cada tarefa em uma série de movimentos simples, cuja duração podia ser medida. O cronómetro vai erradicar do processo de trabalho todos os gestos, pausas e movimentos inúteis dos operários, conduzindo a uma extenuação física e psicológica. • Deste modo, a falta de autonomia para realizar tarefas parcelarizadas e a utilização preponderante do componente manual conduz à redução do espaço de intervenção do trabalhador e reduzem as hipóteses criativas do "saber-fazer" tradicional dos operários. ASO 54 • Em suma, a perspectiva taylorista é limitada no que concerne aos factores psicológicos e sociais, encarando o homem numa perspectiva meramente económica, mecanicista e atomista. • Porém, o mérito de Taylor está na importância da aplicação de uma metodologia sistemática na análise completa do trabalho, inclusive dos tempos e movimentos de execução, especializando os operários e mesmo a direcção, no sentido de cima para baixo. • (Marques, 1971 [citado em Chiavenato, 1977: 45]) ASO 55 FIM Organizações e Trabalho Curso de Sociologia Universidade do Minho Aula teórica 4 - 25 de Março de 2010 A metáfora das organizações como organismos Organizações como organismos: - compreender e administrar as "necessidades" organizacionais (Elton Mayo) e as relações com o ambiente (contingencial), diferentes tipos de organizações como pertencendo a diferentes espécies (ecologia organizacional); ASO 58 3. A metáfora das organizações como organismos • Formação e desenvolvimento da Escola das Relações Humanas (Elton Mayo). • A empresa como um organismo: um sistema humano de inter-acções e de acções cooperativas (Fritz Roethlisberger e William Dickson) ASO 59 • Elton Mayo (1880-1949) nasceu em Adelaide, na Austrália, país em que fez os seus estudos e formou-se em Psicologia no ano de 1905. • A sua atracção pela psicologia era enorme, razão pela qual se tornou professor nesta área, em Lógica e Filosofia e começou a desenvolver uma investigação sobre o trabalho e as suas consequências em relação às tarefas repetitivas e monótonas no sector industrial. • No ano de 1922 emigrou para os EUA, onde viveu até ao termo de sua vida. Na medida em que os EUA e a Inglaterra eram os pioneiros de experiências e investigações sobre a psicologia industrial, as opções de investigação de Mayo tornaram-se fáceis de realizar (Ferreira, 1996: 33) ASO 60 Descrição da Experiência de Hawthorne • Em 1927, foi iniciada uma experiência numa fábrica da Western Electric Company, situada em Chicago, no bairro de Hawthorne, cujo objectivo era determinar a relação entre a intensidade da iluminação e a eficiência dos operários, medida através da produção. A Western Electric fabricava equipamentos e componentes telefónicos. ASO 61 • Essa experiência foi organizada por Elton Mayo, acabando por analisar também, a fadiga, os acidentes no trabalho, a rotação do pessoal e o efeito das condições físicas de trabalho sobre a produtividade dos operários. ASO 62 • Primeira fase da experiência (19241927). • Esta primeira experiência tinha como objectivo conhecer o efeito das mudanças da luminosidade na produtividade do operário. ASO 63 • Para a observação, foram escolhidos dois grupos de operários que executavam o mesmo trabalho, em que o grupo experimental ficou sujeito a variações de intensidade da luz durante o trabalho e o grupo de referência trabalhou sob intensidade constante. ASO 64 • Porém, a relação directa entre as variáveis não foi verificada, pois havia outras de índole psicológica que não podiam ser afastadas. • Os trabalhadores reagiam de acordo com as suas suposições pessoais, comprovando-se a preponderância do factor psicológico sobre o factor fisiológico: a relação entre condições físicas e a eficiência dos operários pode ser afectada por condições psicológicas. ASO 65 • No entanto, resolveram encaminhar o seu estudo para a verificação da fadiga no trabalho, a mudança de horários, a entrada de intervalos de descanso, imaginando isolar, ainda mais, o factor psicológico. ASO 66 • Segunda fase experiência (19271928) • Nesta fase, pretendia-se determinar o efeito de certas mudanças nas condições de trabalho (períodos de descanso, lanches, redução no horário de trabalho, etc.) ASO 67 • Por isso, foram seleccionadas e convidadas seis raparigas para o grupo experimental, que passou a trabalhar na sala de provas de montagem de “relés”, onde as condições eram idênticas aos do grupo de controlo, que servia como objecto de comparação. • Cinco trabalhadoras montavam os relés, enquanto a sexta fornecia as peças necessárias para manter o trabalho contínuo. ASO 68 • O grupo tinha um supervisor comum, mas tinha também um observador que observava, ordenava e assegurava o espírito de cooperação das trabalhadoras. • O grupo foi informado e completamente esclarecido quanto aos objectivos da mesma, assim como a respeito dos resultados, e as alterações eram efectuadas com o seu consentimento. (Chiavenato, 1977: 148-149) ASO 69 • “Apesar de não se poder inferir, pelos resultados da pesquisa, de que não houve nenhuma relação entre a produção e as condições físicas, o certo é que as variações efectuadas na sala de provas não chegaram a afectar o ritmo de trabalho das moças.” (Chiavenato, 1977:150) ASO 70 • As conclusões retiradas desta experiência foram as seguintes • As trabalhadoras gostavam de trabalhar na sala de provas, porque era divertido e a supervisão era branda permitindo-lhes trabalhar mais livremente; • o ambiente era amistoso e sem pressões permitindo conversar e aumentando a satisfação no trabalho; ASO 71 • não havia temor ao supervisor, além de que sentiam que faziam parte de uma experiência interessante e com benefícios para elas e para os seus colegas; • houve desenvolvimento social do grupo, as amizades estendiam-se para fora do trabalho existindo, igualmente, preocupação umas com as outras; o grupo desenvolveu liderança e objectivos comuns. ASO 72 • Terceira fase da experiência (1928-1931) • Com base nas diferenças de atitude, sentidas na experiência anterior, entre o grupo de teste e o de controlo, os pesquisadores procederam à elaboração de entrevistas aos trabalhadores, afastando-se do seu objectivo inicial: as condições físicas de trabalho. • Passaram a centrar-se nas relações humanas. ASO 73 • Um facto realçado era que as trabalhadoras achavam humilhante a supervisão constrangedora. • De modo que o programa das entrevistas tinha como finalidade obter mais conhecimento sobre as atitudes, sentimentos e opiniões dos trabalhadores quanto ao seu trabalho. • Embora a empresa tivesse mais de 40.000 empregados, ainda foram entrevistados cerca de 21.126. ASO 74 • Esta análise revelou um comportamento proveniente do agrupamento informal dos operários: • os operários controlavam aquilo que produziam mantendo um padrão que não deviam ultrapassar; ASO 75 • havia punições informais para os que passavam aqueles padrões; • liderança informal por certos operários que asseguravam o cumprimento das regras de conduta; • contentamentos e descontentamentos exagerados relativamente às atitudes dos supervisores para com os trabalhadores. ASO 76 • Estava-se perante, uma evidente organização informal, a que os operários mantinham fidelidade para se proteger da companhia. Assim, os investigadores aperceberam-se de uma certa inquietação, atribuindo a uma possível lealdade dividida entre o grupo e a companhia. (Chiavenato, 1977: 150-151) ASO 77 • Quarta fase da experiência (1931-1932) • Esta fase foi levada a cabo na sala de observações de Montagem de terminais, em que se escolheu um grupo de homens (nove operadores, nove soldadores e dois inspectores) com o fim de analisar a organização informal dos empregados. Os salários eram baseados na produção de grupo (com um salário mínimo), em que apenas aumentavam se a produção evoluísse. ASO 78 • O observador rapidamente se apercebeu de uma porção de artimanhas: logo que os operários montavam o que julgavam ser a sua produção normal, abrandavam o ritmo de trabalho. Os trabalhadores passaram a mostrar uniformidade de sentimentos e solidariedade grupal, usando punições simbólicas sempre que algum se distanciasse dos padrões estabelecidos por estes. ASO 79 • A experiência foi suspensa em 1932, por motivos não vinculados ao seu desenvolvimento. Entretanto os seus resultados vieram abalar, significativamente, os princípios da teoria organizacional. (Chiavenato, 1977: 151-152) ASO 80 Principais conclusões • 1. O homem é motivado, não apenas por estímulos económicos e salariais, mas essencialmente por recompensas sociais, simbólicas e não materiais. (Chiavenato, 1977: 162) ASO 81 • 2. Os trabalhadores não reagem isoladamente, mas como membros de um grupo social. O comportamento do indivíduo apoiase totalmente no grupo. ASO 82 • 3. Desta maneira, delineou-se o conceito de organização informal, em que os grupos informais constituem a organização humana da empresa muitas vezes em contraposição à organização formal estabelecida pela direcção. (Chiavenato, 1977: 154) ASO 83 • 4. Por sua vez, além da organização técnica e humana, encontramos um outro sistema de tipo ideológico: sentimentos, ideias e crenças. ASO 84 • Tal como foi averiguado por Roethlisberger e Dickson, uma “organização industrial é mais do que uma multiplicidade de indivíduos agindo apenas em relação aos seus interesses económicos. ASO 85 • Esses indivíduos têm também afectos e sentimentos, uns em relação aos outros e, em suas relações diárias, tendem a estabelecer padrões de interacção. A maioria dos indivíduos que vivem sob esses padrões tendem a aceitá-los como verdades imprescindíveis e óbvias, reagindo de acordo com o que elas determinam.” (Roethlisberger e Dickson, 1971, [citado em Chiavenato, 1977:154]) ASO 86 • 5. Assim, a liderança assume um papel importante na realização destes objectivos. Tal como foi visto por Mayo e sua equipe, uma supervisão mais empática, democrática e persuasiva, tem efeitos positivos na satisfação dos operários e no rendimento destes (Bernoux, 2005: 70-72) . ASO 87 • 6. Síntese: de um modo geral, a teoria das relações humanas verificou que os empregados tendem a desenvolver as suas capacidades: quando se sentem seguros e confiantes relativamente a outras pessoas, sobretudo os seus superiores; quando possuem uma maior liberdade para expressar os seus pontos de vista e sugestões, participando na tomada de decisões; quando são reconhecidos pelo seu esforço e dedicação criando sentimentos de pertença à organização. ASO 88 • Limites • Continuou a colocar o lógico na direcção e a considerar não lógica a reacção operária • No entanto, não foi desenvolvida a questão da relação entre factores técnicos e sociais. Como diz Bernoux, “esta questão não foi explorada” (2005: 74). • Esqueceram, mais tarde, a importância do grupo • Não teve em conta o meio social e as questões sindicais. Esqueceu a situação de dependência das jovens operárias em relação à gestão (Bernoux, 2005: 75) ASO 89