FARMACODERMIAS Prof. Dr. Ivan Abreu Figueiredo INTRODUÇÃO Quadro frequente, principalmente com medicamentos de uso comum (AINEs, antihipertensivos) Pequeno percentual traz risco de morte, mas não deve ser subestimada Uma das razões mais frequentes para interrupção de tratamentos antes do final Antibióticos: cerca de 75% das reações Erupção morbiliforme: 94% do total Drogas mais frequentemente causadoras de farmacodermias: ampicilina, penicilinas semisintéticas, penicilina, gentamicina, cefalosporinas, eritromicina, hidralazina, cimetidina (pacientes internados) PASSOS PARA AVALIAR UMA ERUPÇCÃO POR DROGA 1. a) b) c) d) e) Diagnóstico clínico Exantema (viral, hipersensibilidade) Urticariforme (urticária, doença do soro) Erupção bolhosa (eritema multiforme) Erupção pustulosa Eritema fixo por drogas 2. Análise da exposição a droga a) Medicamentos prescritos b) Medicamentos não prescritos c) Terapias herbais ou tradicionais 3. Determinação de possibilidades e probabilidades etiológicas (droga X infecção) 4. Revisão da literatura 5. Confirmação 6. Aconselhamento do paciente 7. Relato às autoridades sanitárias e fabricante no caso de reações severas ou pouco usuais EXANTEMAS Manifestação mais comum, simétrica, geralmente generaliza Máculas e pápulas eritematosas, marcadamente em tronco e espalhando para extremidades Pode envolver mucosas Prurido é o sintoma associado mais comum Febre baixa não é rara Laboratório ajuda pouco Geralmente inicia dentro de 1 a 2 semanas de início da primeira tomada do medicamento o dentro de poucos dias após re-exposição de indivíduo previamente sensibilizado. Possibilidade de reação cruzada com drogas quimicamente semelhantes Excluir síndromes de hipersensibilidade e necrólise epidérmica tóxica Risco aumentado em indivíduos HIVpositivos (até 10x), devido à sua relação com hipersensibilidade tardia do tipo IV Sempre investigar ingestão de fármacos nas semanas ou mês anteriores à erupção (principalmente 1-3 semanas) Reexposição ou uso de medicação quimicamente semelhante produzirá segunda reação mais rapidamente Diagnóstico diferencial: exantemas virais, erupção escarlatiniforme, síndrome do choque tóxico, artrite reumatóide juvenil Parar o medicamento dependendo da relação risco / benefício Tratamento: medidas de suporte – antihistamínicos, anti-pruriginosos tópicos, banhos calmantes, corticosteróides tópicos Gravidade: dermatite esfoliativa, síndrome de hipersensibilidade com hepatite e nefrite URTICÁRIA E ANGIOEDEMA Urticária: pápulas e placas dérmicas eritematosas, circusncritas e pruriginosas Angioedema: quando inflamação é difusa, envolvendo estruturas profundas e principalmente o centro da face Anafilaxia: mais severa manifestação da hipersensibilidade imediata Lesões duram menos de 24h, mas novas lesões surgem enquanto estiver presente a causa Possibilidade de acometer sistemas pulmonar, circulatório, GI e neurológico Principais causas: antibióticos (penicilinas, sulfas), proteínas estranhas (hemoderivados, gamaglobulina) Quando não mediadas por IgE: AINES, inibidores da ECA (ativação de complemento ou ativação direta de mastócitos e basófilos) Contactantes: látex, instrumentos médicos Vasculite urticária: lesões duram mais de 24h, associadas a artrite, febre baixa, aumento da VHS Tratamento: PRINCIPAL: afastar a causa Angioedema ou anafilaxia: adrenalina ou corticóides sistêmicos Bloqueadores H1 (anti-histamínicos) para alívio sintomático Erupção fixa por drogas Placas arredondadas eritemato-edematosas que podem incluir bolhas centrais Após fase inflamatória aguda cede, hiperpigmentação marrom ou acinzentada residual Lesões principalmente em face, extremidades e genitália Recorrência de lesões no mesmo local se houver reexposição ao fator causal Raramente tem lesões generalizadas Barbitúricos, sulfonamidas, salicilatos, tetraciclinas, AINEs Ocorre 1-2 semanas após a primeira exposição e em poucos dias após reexposição Sintomas locais: queimação e prurido Eritema polimorfo (multiforme) Doença muco-cutânea aguda, inflamatória, auto-limitada, com amplo espectro clínico Forma minor: principalmente em extremidades e mucosa oral, sem sintomas sistêmicos Forma major: mais severa, envolve pelo menos duas superfícies mucosas, associada a toxicidade sistêmica FORMA MINOR Mais frequente, recorrente, auto-limitada. Erupção distribuída simetricamente principalmente em áreas extensoras de extremidades, com lesões típicas em alvo Envolvimento mucoso limitado à cavidade oral, quando ocorre Raramente tem pródromos com mal estar geral Pápula arredondada eritematosa que em horas ou dias apresenta bolha ou vesícula central Algumas lesões podem evoluir com zonas de mudança de cor concêntricas (em íris): eritema cercado por anel edematoso pálido e margem edematosa eritematosa Queimação e prurido associados Involui em 2-4 semanas com hiperpigmentação pós-inflamatória FORMA MAJOR Para alguns, sinônimo de Síndrome de Stevens-Johnson, para outros E.M. bolhoso Doença severa, auto-limitada, com envolvimento mucocutâneo variável apresentando áreas de descolamento epidérmico e sintomas sistêmicos Envolvimento simultâneo de múltiplas mucosas Pródromos com sintomas constitucionais: febre, tosse, dor de garganta, mialgias, mal estar Lesões cutâneas começam como manchas e pápulas eritematosas, com vesiculação central e bolhas Podem surgir lesões em alvo Bolhas se rompem com necrose e descamação de menos de 10% da superfície cutânea Mais intensa que a forma major, principalmente no tronco Envolvimento mucoso com morbidade acentuada: erosões extensas e dolorosas na mucosa bucal + estomatite com diminuição de ingesta oral, halitose e desidratação / erosões e crostas hemorrágicas típicas nos lábios Envolvimento ocular com conjuntivite, hiperemia, fotofobia, cicatrizes em pálpebras e anormalidades lacrimais / risco de cegueira Balanite e vulvovaginite com ulceração e dificuldades de micção 30% dos casos: bronquite e pneumonia Dura de 4-6 semanas Ocorre mais em crianças e adultos jovens Forma minor ocorre após infecção recorrente por vírus do herpes simples, após 7-14 dias de sua fase aguda / infecções subclínicas também desencadeiam Forma major desencadeada por M. pneumoniae e medicamentos: sulfonamidas, anti-convulsivantes, penicilina, alopurinol, AINEs TRATAMENTO Tratamento ideal é controverso: busca de fator causal (controle de herpes, Mucoplasma), avaliação da extensão e severidade de envolvimento mucocutâneo e desconforto do paciente, manejo de complicações possíveis Forma minor: alívio sintomático Forma major: parecer oftalmológico, hospitalização Cuidado da pele: anti-histamínicos e analgésicos, compressas de antissépticos, sem benefícios com corticóides tópicos, cultura para bactérias em lesões abertas com antibioticoterapia sistêmica se necessário, com mais de 20-30% de envolvimento corporal: transferir para unidade de queimados Cuidado bucal: colutórios, escovação, anestésicos tópicos, antibioticoterapia sistêmica, dieta líquida ou branda, eventualmente hidratação e reposição parenteral de fluidos NÃO SE RECOMENDA corticoterapia sistêmica na associação com o herpes simples, controversa nos outros casos (maior incidência de complicações). Se utilizar, durar no máximo 1 semana, começnado com 1-2mg?kg?dia Internar em unidade de queimados Monitoramento de infecção secundária e tratamento agressivo se houver infecção Desbridamento cuidadoso de lesões + curativos de nitrato de prata