O QUE PENSAM OS ALUNOS DO 5º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL SOBRE A AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM Jacqueline Daniele França de Almeida – UEL [email protected] Orientadora: Marlizete Cristina Bonafini Steinle - UEL [email protected] RESUMO O presente estudo apresenta uma pesquisa sobre avaliação da aprendizagem. O problema foi delimitado no que pensam os alunos do quinto ano do ensino fundamental sobre avaliação da aprendizagem. Nosso objetivo com esse trabalho é analisar a concepção de avaliação que esses alunos possuem. A pesquisa é relevante pois disponibilizará dados e análises sobre o pensamento dos alunos à respeito do tema. Nossa pesquisa é qualitativa para isso definimos como delineamento da pesquisa, ou meios de investigação, a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo. Para a coleta de dados de campo o instrumento utilizado foi o questionário semiestruturado. O que concluímos com a análise dos dados levantados é que os alunos não compreendem os objetivos de serem avaliados e sentem-se desconfortáveis nesses momentos. O que não colabora para o seu avanço na aprendizagem. O resultado da pesquisa aponta para a necessidade de transformação dos processos de avaliação com o objeto de melhorar a qualidade da aprendizagem. Palavras Chaves: Avaliação da aprendizagem. Concepção de avaliação. Pesquisa. Aprendizagem. Processos de avaliação. INTRODUÇÃO Este trabalho apresenta uma pesquisa sobre a temática da avaliação da aprendizagem. A pesquisa foi feita em uma sala do quinto ano do ensino fundamental de uma escola municipal de Londrina. O quinto ano foi escolhido para a pesquisa porque eles já construíram uma concepção de avaliação ao longo do seu processo de escolarização, concepção essa que precisamos conhecer. Utilizamos como instrumento da pesquisa de campo um questionário elaborado a partir de perguntas que nos esclarecessem o que pensam os alunos sobre avaliação escolar. 552 Para compreender o que pensam os alunos, buscamos, por meio da análise dos dados coletados, responder aos seguintes questionamentos: Os alunos compreendem por que são avaliados? Como os alunos são avaliados? Os instrumentos avaliativos são diversificados? A escola proporciona aos alunos diferentes momentos de avaliação durante o processo? O que sentem os alunos ao serem avaliados? De que forma seus sentimentos interferem no resultado de sua avaliação? Como está a auto-estima dos alunos em relação à sua aprendizagem? Como se sentem os alunos em relação às notas? Há preocupação excessiva dos alunos em reprovar de ano? Partindo destes questionamentos, delimitamos a nossa pesquisa no problema: O que pensam os alunos do 5º ano do ensino fundamental sobre avaliação da aprendizagem? A partir do pensamento dos alunos, essa pesquisa pretende demonstrar que as práticas de alguns professores demonstram falta de conhecimento da avaliação como um processo e da importância de buscar conhecimentos sobre o tema. Isso aponta para a necessidade de formação continuada o que poderia melhorar e até transformar sua prática docente e consequentemente a aprendizagem dos alunos. O objetivo geral dessa pesquisa é analisar a concepção de avaliação que os alunos do 5º ano do ensino fundamental possuem. A fim de materializar o objetivo geral, definimos os objetivos específicos da pesquisa, que são: Construir um corpo teórico que fundamente a análise dos dados levantados. Levantar o pensamento dos alunos por meio de um questionário semiestruturado. 553 Categorizar os dados a fim de identificar o pensamento avaliativo presente nas representações dos alunos do 5º anos do Ensino Fundamental. Analisar os dados levantados. Formular hipóteses que justifiquem a construção do pensamento dos alunos. A motivação inicial para a realização desta pesquisa sobre avaliação escolar, surgiu a partir de inquietações pessoais envolvendo um familiar com dificuldades no ensino fundamental nos momentos de avaliação. Como acadêmica do curso de pedagogia, senti necessidade de aprofundar meus estudos sobre o tema por acreditar na necessidade de relacionar o conhecimento teórico adquirido na graduação, sobre a avaliação escolar, com a realidade que os alunos vivenciam na prática. Durante a elaboração dessa pesquisa percebi que não há muitos trabalhos que tenham como foco o pensamento do aluno do ensino fundamental à respeito da avaliação escolar. Por isso, acredito que há relevância social na medida em que essa pesquisa disponibilizará dados e análises sobre o pensamento dos alunos à respeito do tema, e que apontam para necessidade de mudança ou transformação de práticas avaliativas que estão acontecendo atualmente no contexto escolar, práticas que algumas vezes não colaboram para atingir os objetivos de aprendizagem. A pesquisa foi desenvolvida por meio de pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo. Para coleta de dados, o instrumento definido e utilizado foi o questionário. CONTEXTUALIZANDO A HISTÓRIA DA AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM Analisando a história da humanidade, é possível verificar que nos primórdios dos processos avaliativos, estes tinham por objetivo examinar comportamentos e provar competências. Por conta disso temos uma herança psicológica que, segundo Luckesi (2005) é denominada de herança examinatória, 554 fruto de uma longa história relacionada aos abusos nos exames, pois, fomos examinados à exaustão, e ameaçados pelas notas das provas. No entanto, essa não é uma realidade tão distante, muitas práticas pedagógicas atuais ainda demonstram conter esta concepção avaliativa. Sobre esta visão examinatória, Luckesi (2005, s/n.) afirma sobre os exames: [...] eles operam com desempenho final. Ao processo de exame não interessa como o respondente chegou a essa resposta, importa somente a resposta. Em consequência dessa primeira característica, vem a segunda: os exames são pontuais, o que significa que não interessa o que estava acontecendo com o educando antes da prova, nem interessa o que poderá acontecer depois. Só interessa o aqui e agora. [...] Os exames são cortantes, na medida em que só vale o aqui e o agora, nem o antes nem o depois. Em terceiro lugar, os exames são classificatórios, ou seja, eles classificam os educandos em aprovados ou reprovados, ou coisa semelhante, estabelecendo uma escala classificatória com notas que vão de zero a dez. São classificações definitivas sobre a vida do educando. Elas são registradas em cadernetas e documentos escolares, “para sempre”. De acordo com Luckesi (2005) os exames não buscam identificar o processo de aprendizagem do aluno, mas, avalia simplesmente a resposta dada, classificando em favorável ou não. Já a avaliação da aprendizagem não tem por objetivo classificar o aluno, mas, sim, contribuir progressivamente com a aprendizagem do aluno. Dito de outra forma, na avaliação o professor busca levantar as falhas no processo de aprendizagem e retoma redirecionando o processo de ensino para que o aluno atinja os objetivos propostos. Diante de tantas concepções avaliativas construídas ao longo da história educacional, é possível ainda hoje verificar a presença de diferente concepções avaliativas nas práticas pedagógicas. Este fato se justifica porque as ações do professor refletem as suas concepções de ensino, aprendizagem e avaliação, quando não empregadas adequadamente pode prejudicar o aprendizado dos alunos. Sobre este aspecto Luckesi (1991 apud DEPRESBITERIS, 2009, p. 29), diz que 555 [...] nossa prática educativa atual ainda está permeada de alguns procedimentos propostos no Ratio Studiorum: no momento da prova os alunos não podem perguntar nada, e o tempo para realizá-la deve ser rigorosamente mantido. No entendimento de Luckesi (2001) as escolas brasileiras ainda abrigam professores que usam a avaliação de forma autoritária, para ameaçar e hostilizar os alunos. Com esta conduta o professor revela que o seu entendimento é de que ele deve avaliar condutas e comportamentos ao invés de conhecimento. Assim, esse uso autoritário da avaliação se transforma em mecanismo disciplinador de condutas sociais, que oprimem o aluno e forma cidadãos submissos, não críticos. Infelizmente ainda encontramos práticas avaliativas sendo utilizadas como medidas comparativas, seletivas e excludentes, o que prejudica o desenvolvimento do aluno e colabora com o fracasso escolar. Perrenoud (1999, p.11) afirma que: A avaliação é tradicionalmente associada, na escola, à criação de hierarquias de excelência. Os alunos são comparados e depois classificados em virtude de uma norma de excelência, definida no absoluto ou encarnada pelo professor e pelos melhores alunos. Godoi (2004, p.40) faz uma reflexão sobre esses padrões de excelência. “Se avaliamos as crianças, baseados em critérios de excelência e um padrão de criança, estamos contemplando e respeitando as diferenças? Será que todas as crianças são iguais e crescem no mesmo ritmo”. A resposta é não. Cada criança aprende no seu ritmo, dentro das suas possibilidades. O que precisamos avaliar é se o seu desempenho está de acordo com o seu potencial. O que não deve acontecer é o seu desempenho ficar aquém daquilo que ela é capaz de fazer. A avaliação deve ser usada em benefício da criança. Para Godoi (2004, p.102) a avaliação, pode ser usada, ... a favor da criança, na medida em que o professor a observa para conhecê-la e atender seus interesses e curiosidades, para refletir sobre seu trabalho, para mudá-lo e aprimorá-lo constantemente. No momento em que o professor pensa sobre as crianças e conhece suas características, não para compará-las, para julgá-las e classificá-las, mas para organizar o trabalho, para proporcionar um ambiente rico, prazeroso, com estímulos que vá ao encontro dos 556 seus interesses, a avaliação pode ser positiva e favorecer o crescimento, tanto da criança quanto do adulto. Fazendo uma reflexão sobre a citação de Godoi (2004) percebemos que na prática nem sempre o professor tem essa clareza, há situações em que o aprendizado não está ocorrendo e a criança participa do processo sem nenhuma atenção para as suas necessidades. Normalmente se ela não acompanha o resto da turma, ela fica deslocada e é excluída, como se a sua condição diferenciada de aprendizagem fosse uma problemas e não uma característica que deve ser compreendida e respeitada pelo professor. Sabemos que em meio a tantos desafios postos para a educação, o professor muitas vezes não se sente preparado. É neste momento que o professor deve substituir o discurso da incapacidade pela busca por formação continuada. Sobre este aspecto Hoffmann (2005, p.16) diz, Os professores, ao inovar suas práticas, devem estar conscientes das concepções que regem suas ações. A sua credibilidade profissional está em jogo, porque toda a sociedade inicia a contestar os parâmetros da avaliação educacional pela arbitrariedade e fragilidade teórica várias vezes percebidas. Retomando o pensamento de Hoffmann (2005), compreendemos que inovar pressupõe refletir sobre concepções e práticas presentes na organização do trabalho pedagógico, como também, levar em conta o perfil dos seus alunos, diversificar seus instrumentos de avaliação e buscar alcançar os objetivos propostos no ensino. METODOLOGIA A conquista do objetivo proposto nesta pesquisa orientou-se para a adoção da abordagem qualitativa cujo objetivo é “a compreensão, exploração e especificação do fenômeno, [uma vez que] o pesquisador precisa tentar compreender o significado que os outros dão às suas próprias situações” (SANTOS FILHO; GAMBOA, 1995, p. 42). Ainda sobre a abordagem qualitativa da pesquisa, podemos dizer que ela é, 557 [...] basicamente aquela que busca entender um fenômeno específico em profundidade. Em vez de estatísticas, regras e outras generalizações, ela trabalha com descrições, comparações, interpretações e atribuição de significados, possibilitando investigar valores, crenças, hábitos, atitudes e opiniões de indivíduos ou grupos. Permite que o pesquisador se aprofunde no estudo do fenômeno ao mesmo tempo que tem o ambiente natural como a fonte direta para coleta de dados (BOTELHO; FREGONEZE; RICIERI; TRIGUEIRO, 2014, p.18). Dessa forma, compreendemos que neste trabalho a pesquisa qualitativa contribuirá para o levantamento da concepção avaliativa que os alunos do 5º ano do Ensino Fundamental possuem. O delineamento da pesquisa, ou os meios de investigação escolhidos, foram a pesquisa bibliográfica e a pesquisa de campo. Sobre a pesquisa bibliográfica, inicialmente fizemos um levantamento da bibliografia disponível sobre o tema e a partir do material levantado, a etapa seguinte foi o fichamento desse material. Para Cavalcanti e Moreira (2010, p.24), a pesquisa bibliográfica é “o estudo sistematizado, desenvolvido a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”. Retomando Cavalcanti e Moreira (2010), compreendemos que sendo um estudo do material já produzido sobre o tema, ela é indispensável para a elaboração de um trabalho de conclusão de curso. De acordo com Botelho, Fregoneze, Ricieri e Trigueiro (2014, p.21), a pesquisa bibliográfica pode Se constituir em etapa inicial de um processo de pesquisa, seja qual for o tema em questão, com o objetivo de se ter um conhecimento prévio da situação em que se encontra um assunto na literatura da área. Portanto, é indispensável sua realização, antes de iniciar qualquer estudo, para não correr o risco de estudar um tema que já foi amplamente pesquisado, também para ter conhecimento dos principais autores que estudam o tema e saber qual é a situação do referencial teórico na área. Ela é considerada uma estratégia necessária para a realização de qualquer pesquisa científica. Outro meio de investigação definido para esse trabalho foi a pesquisa de campo. Para Vergara (2000, p.47) in Cavalcanti e Moreira (2010, p.25): A pesquisa de campo é uma investigação empírica realizada no local onde ocorre ou ocorreu um fenômeno ou que dispõe de elementos 558 para explicá-lo, podendo-se valer, ou não, de entrevistas, aplicação de questionários ou testes. Quanto à escolha dos métodos, de acordo com Stubbs e Delamont (1976 apud LUDKE e ANDRÉ ,1986, p.15) “não existe um método que possa ser recomendado como o melhor ou mais efetivo, [...] a natureza dos problemas é que determina o método”. Para levantar o proposto, escolhemos como instrumento de coleta de dados o questionário, pois, de acordo com a natureza do problema é o que nos pareceu mais adequado. Para Groppo e Martins (2007, p.54) o questionário, pode ser definido como: [...] uma relação de questões a ser apresentada a alguém que guarda informações sobre o tema e que, conhecidas, poderão ajudar a responder o questionamento manifesto pelo problema. Ao ler as perguntas presentes no questionário esse alguém deverá respondêlas de acordo com a sua interpretação, sem a mediação dialógica do pesquisador [...]. Neste instrumento de coleta de dados, o pesquisador deve saber claramente as informações que busca e o que pretende extrair de cada uma das questões. A pesquisa foi realizada em uma escola pública localizada em um bairro na região leste do Município de Londrina, Estado do Paraná. Os sujeitos desta pesquisa foram vinte e cinco alunos de uma turma de trinta alunos pertencentes ao quinto ano do ensino fundamental, do período vespertino. Os alunos tem idade entre dez e treze anos, sendo dezesseis meninos e nove meninas. A escolha da turma 5º ano e dos seus respectivos alunos, decorreu em função de ser o 5º ano a turma que finaliza o ciclo dos anos iniciais do ensino fundamental, e durante desta trajetória tiveram a oportunidade de conviverem no contexto escolar, com práticas avaliativas. ANÁLISE DOS DADOS Na aplicação do questionário junto aos alunos do 5º ano, buscamos levantar inicialmente o que eles entendem por avaliação. 559 Abaixo estão as respostas de uma das categorias analisadas. “Para saber se ele aprendeu um determinado assunto”. A1 “Porque é para ver se nós estamos sabendo daquilo etc...” A2 “Para ver o que o aluno aprendeu.” A5 “Para testar e ver se a criança esta bem ou não”. A6 “Para saber se estão bons na matéria”. A8 “Para saber se o aluno prestou atenção e se aprendeu o conteúdo”. A10 Diante das respostas dos alunos fica evidente que os mesmos entendem a avaliação como um momento em que o professor verifica qual foi o aprendizado do aluno diante do conteúdo curricular estudado. A avaliação é vista como uma sondagem para verificar se o aluno sabe a matéria; compreendeu o conteúdo e sabe o assunto. No entanto, para Luckesi (2001, p.93) há uma grande diferença entre avaliação e verificação. [...] avaliação, diferentemente da verificação, envolve um ato que ultrapassa a obtenção de configuração do objeto, exigindo decisão do que fazer ante ou com ele. A verificação é ação que congela o objeto; a avaliação, por sua vez, direciona o objeto numa trilha dinâmica de ação. Com base na citação de Luckesi (2001) fica evidente que no entendimento dos alunos, a avaliação vivenciada por eles no contexto escolar, tem demonstrado que o professor apenas procura identificar o que o aluno sabe ou não sabe , constatando o sucesso ou o fracasso no processo de ensino e aprendizagem. Diante desta realidade a avaliação é utilizada apenas como um fim em si mesmo, pois, não há uma preocupação por parte do professor de resgatar as aprendizagens em processo, ele apenas faz uma verificação da aprendizagem. Deste modo, Luckesi (2001, p.92,93) diferencia verificar de avaliar quando diz que “[...] verificar encerra-se com a obtenção do dado ou informação que se busca”, já avaliar, ultrapassa o resultado verificado e exige de quem verificou, uma tomada de decisão diante do resultado obtido. Portanto, compreendemos que avaliar, necessariamente implica numa tomada decisão por parte do professor, diante do resultado obtido nos instrumentos avaliativos. 560 Identificamos outra categoria para análise conforme as respostas abaixo: “Para ver as notas”. A9 “Para dar nota”. A11 “Para ele ganhar notas”. A13 “Para ganhar nota”. A24 Analisando as respostas fica evidente que os mesmos acreditam que a avaliação é sinônimo de nota. No entanto, em nenhum momento é possível identificar que os mesmos compreendem qual é a relação da nota com a sua aprendizagem. Esta preocupação com a quantificação presente na avaliação revelada pelos alunos já no 5º ano do Ensino Fundamental, suscita questionamento, tais como: Por quê os alunos se preocupam tanto com as notas? Será que esse preocupação não é reflexo da concepção avaliativa que os professores dos anos iniciais do ensino fundamental possuem? De acordo com Luckesi (2001, p.23) “[...] as notas são operadas como se nada tivessem a ver com a aprendizagem. As médias são médias entre números e não expressões de aprendizagem bem ou malsucedidas”. Ou seja, a avaliação da aprendizagem quando focada na nota, perde de vista o seu objetivo principal – a aprendizagem – e passa a se concentrar exclusivamente na nota obtida. Assim, a nota que deveria ser apenas uma notação obtida pelo professor durante a avaliação sobre a qualidade da aprendizagem do aluno no contexto escolar, com o tempo, passa a ter outra conotação expressão na ação de aprovar ou de reprovar, independente se houve aprendizagem ou não. Outro questionamento feito aos alunos, teve como foco identificar qual é o “sentimento presente no momento da avaliação”. Podemos observar abaixo uma das categorias de respostas. 561 “Nervosismo, medo, curioso”. A1 “Nervoso, meu coração acelera”. A2 “Eu fico muito nervoso e preocupado”. A4 “O meu coração começa a bater mais rápido”. A5 “Nervosismo”. A6 “Medo, nervosismo, frio na barriga”. A10 “Fico preocupado e ansioso”. A11 “Nervoso”. A12 “Nervosismo, ansioso, preocupado”. A13 “Nervoso e tenso”. A14 “Mal, paralisado”. A20 “Medo”. A21 “Acelera o meu coração”. A22 “Nervosismo, curioso e preocupado”. A24 Vale dizer que, diante das respostas obtidas também fomos tomados por um sentimento negativo, pois, constatamos o quanto o processo avaliativo utilizado inadequadamente na escola traz prejuízos aos nossos alunos, mas, infelizmente está constatação não nos surpreende. Luckesi (2001, p.24-25) tenta explicar o porquê desta chuva de sentimentos negativos presentes nos alunos na hora das avaliações ao afirmar que, de forma autoritária a avaliação é utilizada comumente na escola como instrumento para ameaçar os alunos e discipliná-los, causando na maioria deles medo; preocupação etc., O castigo é o instrumento gerador do medo, seja ele explícito ou velado. Hoje não estamos usando mais o castigo físico explícito, porém, estamos utilizando um castigo muito mais sútil – o psicológico. [...] A ameaça é um castigo psicológico que possui duração prolongada, na medida em que o sujeito poderá passar tempos ou até a vida toda sem vir a ser castigado, mas tem sobre sua cabeça a permanente ameaça. A palavra “preocupação” expressa bem o que significa a ameaça: “previamente” [...], o sujeito tem sua psique “ocupada” com a possibilidade de um castigo. Isso equivale a um “castigo permanente”. Uma forma sutil de castigo pior do que o castigo físico. A avaliação da aprendizagem em nossas escolas tem exercido esse papel, por meio da ameaça. 562 Retomando a citação de Luckesi (2001), podemos afirmar que os alunos constroem uma concepção equivocada da função da avaliação escolar, quando não são levados a compreender que a avaliação existe para auxiliá-los em sua aprendizagem e não para prejudicá-los. Com relação à 2º categoria de respostas presentes no terceiro questionamento, seis alunos responderam que sentem medo de errar. “Preocupação de errar em alguma pergunta”. A8 “Desespero, medo de errar tudo, eu fico nervoso”. A15 “Que eu vou conseguir, às vezes que vou errar, frio na barriga”. A16 “Desespero, medo de errar”. A18 “Muita preocupação, nervoso e medo de errar”. A23 “O meu coração acelera, parece que não vou acertar nada, dá um gelo na hora”. A25 Diante das respostas inquietações surgem na tentativa de buscar respostas: Por que os alunos sentem tanto medo de errar ao serem avaliados? Por que o erro na avaliação gera tanto pavor? Durante muito tempo, a escola adotava uma postura negativa diante dos erros dos alunos. Normalmente quando o aluno era avaliado e cometesse alguns erros, esses erros não eram retomados pelo professor com o objetivo de superá-los junto com o aluno. A postura da escola era simplesmente apontá-los como prova do seu fracasso. A fim de modificar esta prática Luckesi (2001) sugere um olhar positiva sobre o erro no processo de aprendizagem. Existe aí um esforço de construção, que pode ser bem ou malsucedido. Quando se chega a uma solução bem-sucedida, podese dizer que se aprendeu positivamente uma solução; quando se chega a um resultado não-satisfatório, pode-se dizer – também positivamente – que ainda não se aprendeu o modo de satisfazer determinada necessidade (LUCKESI, 2001, p.55) 563 Compreendemos nessa citação que se houve erro, é porque a aprendizagem ainda não ocorreu, sendo assim, o referido conteúdo, precisa ser retomado pelo professor para resgatar a aprendizagem. Deste modo, os alunos do 5º ano sentem medo à avaliação porque aprenderam durante suas vivências na escola que o erro é algo ruim, ou que errar não é bom para eles. CONSIDERAÇÕES FINAIS Refletir sobre a avaliação da aprendizagem realizada no contexto da escola, sempre foi uma preocupação presente nas falas dos professores, dos pais e dos alunos. No entanto, o que normalmente verificamos é que os professores procuram as respostas para as suas inquietações nas reuniões pedagógicas, nos cursos de formação e nas literaturas específicas. Já os pais, buscam explicações sobre o desempenho avaliativo de seus filhos nas conversas com a Pedagoga ou com os professores das disciplinas. Quanto aos alunos, poucas são as vezes que manifestam o que pensam sobre o processo avaliativo e rara são às vezes em que são ouvidos, pois, na maioria das vezes o que lhes resta é o julgamento proferido sobre o seu desempenho escolar, como se ele fosse o único envolvido. Na tentativa de dar voz e vez ao aluno, personagem principal do processo avaliativo é que o presente trabalho se empenhou em levantar o que pensam e sentem os alunos sobre a forma como acontece a avaliação da aprendizagem no contexto da sala de aula. Deste modo, elencaremos a seguir alguns indicadores levantados nas análises que, com certeza, contribuirão para uma reflexão docente sobre as práticas avaliativas utilizadas no Ensino Fundamental. Infelizmente ainda hoje a avaliação da aprendizagem não está sendo utilizada como instrumento para promover a aprendizagem dos alunos, mas, para quantificar os erros e os acertos dos alunos. Afinal, o que interessa é o resultado, a nota e não se de fato o aluno aprendeu e se ampliou os seus conhecimentos. Os alunos acreditam que a avaliação é a atitude do professor em verificar o que eles aprenderam, e a partir dessa verificação 564 estabelece uma nota que o classificará em aprovado ou reprovado. Com este pensamento os alunos evidenciaram que não compreendem a avaliação como um processo. Para a maioria dos alunos avaliação é sinônimo de prova, ainda que alguns tenham vivenciado outras experiências avaliativas. Isso demonstra que a prova ainda é o instrumento mais utilizado, ainda que existam várias outros que podem ser utilizados na escola. Os alunos evidenciaram que a grande maioria é tomada por sentimentos negativos durante as avaliações, tais como: insegurança, inquietações, o medo de errar, o medo de reprovar, etc. Evidenciou-se que a avaliação na escola – campo da pesquisa, ainda segue o modelo da pedagogia tradicional, avalia para classificar e selecionar. Esta postura avaliativa é contraria a concepção de avaliação descrita no Projeto Político Pedagógico da escola. A pesquisa apontou a necessidade de formação continuada para que o professor possa ressignificar a sua prática avaliativa. Dessa forma, a partir dessas inferências, essa pesquisa nos leva a refletir sobre a necessidade de transformar a realidade da avaliação da aprendizagem no contexto escolar, de promover mudanças no sentido de reconduzir o processo de avaliação no sentido de promover a aprendizagem dos alunos e de melhorar a qualidade dessa aprendizagem. REFERÊNCIAS ALVARENGA, Georfravia Montoza. MEZZARROBA, Leda. A Trajetória da Avaliação Educacional no Brasil. In: ALVARENGA, Georfravia Montoza. Avaliar: Um compromisso com o ensino e a aprendizagem. Londrina: Núcleo de Estudos e Pesquisas em Avaliação Educacional, 1999. p.29-81. BOTELHO, M. Joacy. FREGONEZE, Gisleine Bartolomei. RICIERI, Marilucia. TRIGUEIRO, Rodrigo de Menezes. Metodologia científica. Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2014. 565 CARVALHO, E. M. G. de. Educação infantil: percursos, percalços, dilemas e perspectivas. Ilhéus, BA: Editus, 2003. CASTRO, Amelia Domingues de. CARVALHO, Anna Maria Pessoa de. 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