1 UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS NÚCLEO DISCIPLINAR: EDUCAÇÃO PARA A INTEGRAÇÃO TÍTULO: A AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR: CONCEPÇÕES DE ESTUDANTES E PROFESSORES DO ENSINO MÉDIO DA CIDADE DE SÃO CARLOS (SÃO PAULO, BRASIL)* AUTORES: FERNANDES, SABRINA; GONÇALVES JUNIOR, LUIZ E-MAIL: [email protected]; [email protected] PALAVRAS-CHAVE: AVALIAÇÃO; EDUCAÇÃO FÍSICA PALABRAS-CLAVES: EVALUACIÓN; EDUCACIÓN FÍSICA Introdução A avaliação não é autônoma, ela é dependente do que pretende o planejamento de ensino. Porém, na prática educativa, freqüentemente há desvinculação entre estas partes, fator desfavorável, pois desconsidera que se aprende e se ensina também enquanto se avalia. A forma como é concebida a avaliação e a finalidade para qual ela é utilizada influencia diretamente todo o processo de ensino em qualquer que seja a disciplina. Este estudo objetivou conhecer concepções atuais de professores e alunos acerca da avaliação na educação física escolar. Avaliação: alguns procedimentos e pressupostos Para Luckesi (1995) “enquanto o planejamento é o ato pelo qual decidimos o que construir, a avaliação é o ato crítico que nos subsidia na verificação de como estamos construindo o nosso projeto” (p.118). Portanto, para que o professor consiga elaborar avaliações adequadas é necessário haver um planejamento que as subsidie. Segundo Linhales (1999) as finalidades e os objetivos da avaliação devem estar contextualizados, assim como os métodos e estratégias adotados, evitando as rupturas existentes entre os tempos de ensinar, de aprender e de avaliar. São a partir dos objetivos almejados que o professor deve elaborar os procedimentos de avaliação. Souza (1993) exemplifica afirmando que avaliar a participação do aluno somente terá sentido se promover tal participação for um objetivo e se tiverem sido planejadas e realizadas atividades visando tornar o aluno participativo. Conclui-se que os critérios de avaliação só deverão ser elaborados após a determinação dos objetivos do curso. * Referência: FERNANDES, Sabrina; GONÇALVES JUNIOR, Luiz. A avaliação na educação física escolar: concepções de estudantes e professores do ensino médio da cidade de São Carlos (São Paulo, Brasil). In: XIV JORNADA DE JOVENS PESQUISADORES DA ASSOCIAÇÃO DE UNIVERSIDADES GRUPO MONTEVIDEO: EMPREENDRORISMO, INOVAÇÃO TECNOLÓGICA E DESENVOLVIMENTO REGIONAL, 2006, Campinas. Anais... Campinas: UNICAMP, 2006. v. 1. 2 Tais critérios, após aplicação, geralmente resultam em uma nota ou conceito que pode ser de grande relevância na vida do estudante. Luckesi (1995) afirma que: O educando como sujeito humano é histórico; contudo, julgado e classificado, ele ficará, para o resto da vida, do ponto de vista do modelo escolar vigente, estigmatizado, pois as anotações e registros permanecerão, em definitivo, nos arquivos e nos históricos escolares, que se transformam em documentos legalmente definidos (p.35). O professor também deve considerar que “a avaliação pede muito mais do que explicitamente se vê. Nos processos de medida de rendimento escolar utilizados pela escola (...) estão envolvidas aprendizagens que ocorrem tanto dentro quanto fora da sala de aula” (DALBEN, 1994, p.138). Geralmente, para definir aprovação ou reprovação do aluno, somam-se as notas obtidas ao longo do ano referentes a uma determinada disciplina e chega-se a uma média. Luckesi (1995) demonstra a inutilidade da média aplicando-a a um aluno de um curso de pilotagem. Se este tirasse dez na prova de decolagem e dois na prova de aterrissagem ficaria com média seis. Nota-se que a média não representa seu verdadeiro conhecimento em nenhum dos dois conteúdos avaliados. Além do que, caso ele fosse aprovado pela média, quem gostaria de voar com este piloto? Acreditando que este aluno não fosse consagrado piloto, o que deveria ser feito para que ele progredisse? Obviamente ele deveria estudar mais sobre aterrissagem. Porém, isso não é tão usual na prática pedagógica. Os estudantes são avaliados e não são tomadas atitudes quanto aos resultados da avaliação. Muitas vezes as correções das provas nem são mostradas a eles. Considera-se o ato de tomar uma atitude perante os resultados da avaliação como parte do processo. Neste sentido, Luckesi (1995) define a avaliação como “um juízo de qualidade sobre dados relevantes, tendo em vista uma tomada de decisão” (p.69). O autor acrescenta ainda que “no caso da avaliação da aprendizagem, essa tomada de decisão se refere à decisão do que fazer com o aluno, quando a sua aprendizagem se manifesta satisfatória ou insatisfatória. Se não se tomar uma decisão sobre isso, o ato de avaliar não completou o seu ciclo construtivo” (p.71). 3 Apesar de todos os recursos favoráveis que a avaliação pode oferecer ao processo de aprendizagem, quando não ocorre de forma coerente, ela pode ser uma das principais formas de marginalização do estudante. Para Luckesi (1995) quando a avaliação escolar não é conduzida de forma adequada, ela pode gerar repetência injustamente, e esta, por sua vez, pode ter como conseqüência a evasão do aluno retido. “Por isso, uma avaliação escolar realizada com desvios pode estar contribuindo significativamente para um processo que inviabiliza a democratização do ensino” (p.66). Outros autores relacionam a avaliação como forma de marginalizar os que mais precisam do acesso às instituições de ensino. Souza (1993) afirma que, principalmente no ensino público, a avaliação do rendimento escolar é utilizada “como parte de uma ação política que visa discriminar (...) aqueles que a sociedade já mantém discriminados sócioeconômica e culturalmente” (p.146). Para muitos professores, não há sentido em avaliar quando não se pode reprovar o educando. Este aspecto apenas enfatiza a atual distorção que existe nas instituições de ensino com relação à finalidade da avaliação. Segundo Dalben (1994): Encontra- se, no sistema escolar, a predominância de uma forma de avaliação de caráter estático, classificatório, centrado no processo de formalização do ensino, cristalizando-o no tempo e no espaço, através de rituais, de diplomas, de certificados e de outros mecanismos. Assim, de um processo dinâmico que é, em sua essência, a avaliação segundo o nosso sistema de ensino, transforma-se em um produto, em um resultado, em que se anula toda a sua proposta de dialeticidade (p.136). Portanto, a avaliação deve possuir um “dinamismo” que acompanhe a melhoria dos processos e ensino e de aprendizagem vigentes na instituição escolar. Não é condizente propor mudanças estratégicas nestes e manter a avaliação em situação idêntica por décadas. A Avaliação na Educação Física Escolar A educação física escolar “precisa buscar sua identidade como área de estudo fundamental para a compreensão e entendimento do ser humano, enquanto produtor de cultura” (BRASIL, 1997, p.156). 4 A tradicional cobrança do “saber fazer” tornou a disciplina historicamente excludente no que tange a atuação dos educandos durante as aulas e nos processos avaliativos. Segundo Bratifische (2003), a educação física de tendência tecnicista sempre avaliou os alunos dentro de critérios que visavam performance e rendimento (p.23). Segundo a autora, aqueles que não se enquadravam, ou não estavam “dentro dos padrões propostos nas tabelas e exigidos pelos professores, carregavam consigo o estigma da impotência; a postura do aluno era de resignação e aceitação” (p.28). Comumente, estudantes que, fora do período de aula, são atletas, são considerados bons alunos na disciplina de educação física. Isto decorre da maior habilidade destes com a bola e/ou melhor condicionamento físico que os demais, o que demonstra critérios de avaliação geralmente relacionados à aptidão física e ao esporte de rendimento: A ênfase na busca do talento esportivo e no aprimoramento da aptidão física vem condicionando, em parte, a aula e o processo avaliativo, transformando a educação física escolar numa atividade desestimulante, segregadora e até aterrorizante, principalmente para os alunos considerados menos capazes ou não aptos, ou que não estejam decididos pelo rendimento esportivo (SOARES et al., 1992, p.99). Luckesi (1995) afirma que devemos ter ciência de que, durante uma avaliação, é solicitado ao aluno que este demonstre sua intimidade, pois será necessário analisar o seu modo de aprender, sua capacidade de raciocinar, seu modo de entender e de viver, entre outros aspectos. Na disciplina de educação física, muitas vezes, a exposição do estudante pode ser ainda maior, pois enquanto em alguns tipos de avaliação (como prova escrita) o aluno demonstra ou não suas capacidades apenas ao professor, nas avaliações práticas de educação física ele está exposto ao olhar de todos os colegas de turma. Para Bratifische (2003) a avaliação deve “valorizar a expressão individual, a cultura própria e a manifestação de afetividade” (p.21). Cabe ao professor mostrar aos alunos, que existem grandes diferenças entre eles, mas que estas não tornam uns melhores que os outros. É necessário lembrar que “as crianças e jovens chegam à escola determinados pela sua condição de classe, ‘marcados’ por ela em seus corpos e em suas possibilidades corporais” (SOARES et al., 1992, p.100). 5 Portanto, ter um determinado padrão motor como única possibilidade correta, é uma forma de marginalizar o estudante que talvez nunca tenha tido contado com esse determinado padrão. As atuais expectativas da educação física deixam de ser marginalizadoras quando variam seu conteúdo. Segundo Bratifische (2003): (...) almeja-se que as aulas de Educação Física tenham o intuito de oportunizar o aluno a vivenciar as habilidades físicas por meio de conhecimentos que enfatizam o corpo, esportes, lutas, danças e ginástica, os quais poderão enriquecer o vocabulário motor do aluno. Dever-se-ão abordar nas aulas temas transversais que tratem da ética, saúde, meio ambiente e pluralidade cultural, os quais, possivelmente, contribuirão para o seu aprimoramento... (p.23). A mesma autora acrescenta que, mais importante que vivenciar na escola como disciplina, a educação física deve fazer parte do cotidiano do aluno. Tal aspecto pode ser descoberto com o processo avaliativo. Para tanto, este não deve ser fundamentado na quantificação de habilidades desenvolvidas, no desempenho ou em corpos “dicotomizados” como cognitivos e motores. Muito contrária à exclusão, a avaliação pode servir como forma de incluir o aluno. Segundo Luckesi (1995), avaliar um aluno com dificuldades é criar a base de como incluí-lo dentro do círculo da aprendizagem (p.173). Metodologia Realizou-se um estudo qualitativo que, através de entrevistas semi-estruturadas, buscou conhecer a concepção, de cada professor e cada estudante participante, sobre as avaliações que realizam ou sob as quais são submetidos. Foram entrevistados cinco professores de educação física e três de seus alunos (totalizando quinze alunos) todos atuantes no ensino médio, de duas escolas da rede pública estadual de ensino do município de São Carlos, estado de São Paulo, Brasil. As identificações das escolas, dos professores e dos alunos são mantidas em sigilo por questões éticas. Os nomes utilizados no decorrer do texto são fictícios. Para facilitar a leitura do trabalho, os nomes dos estudantes possuem letra inicial igual a do professor correspondente. Portanto, para relacionar um aluno a seu professor basta observar a letra inicial do nome. 6 Optou-se pela realização de entrevistas semi-estruturadas, pois segundo Negrine (1999), estas permitem que se realizem “explorações não previstas” e oferecem liberdade ao entrevistado para dissertar sobre o tema ou abordar aspectos que considerem relevantes. O autor a recomenda, “quando o instrumento de coleta está pensado para obter informações de questões concretas, previamente definidas pelo pesquisador” (p.74). Os resultados encontrados nas entrevistas foram classificados em cinco categorias temáticas, organizadas a partir das falas originais dos depoentes. A metodologia adotada para análise tem inspiração fenomenológica, modalidade fenômeno situado (MARTINS & BICUDO, 1989; GONÇALVES JUNIOR, 2003), sendo que após a transcrição minuciosa e na íntegra dos discursos realizou-se a identificação das unidades de significado, as quais possibilitaram a posterior organização das categorias temáticas (formadas a partir de convergências, divergências ou idiossincrasias observadas nos discursos reduzidos dos sujeitos). Resultados e Conclusão Os resultados foram construídos a partir dos depoimentos de professores e estudantes. Estes são apresentados e discutidos em cinco categorias temáticas: I. Autonomia da avaliação: alguns professores, para explicarem e justificarem seus procedimentos de avaliação, expuseram todo o contexto no qual dão aula atualmente. Alguns estudantes confirmaram tais afirmações. “A Educação Física virou uma recreação, e eu virei uma supervisora, (...) dessa recreação” (Profa. Ana); “Antigamente o aluno vinha pra assistir aula o professor dava aula, hoje em dia (...) a gente vem pra dar aula, o aluno não quer, e não adianta, você não tem meios de forçar” (Prof. Carlos); “Porque hoje em dia a educação física na escola é a mesma coisa que nada” (Estudante Carolina); “Eu acho que isso aí nem educação física não é (...) parece mais recreação mesmo” (Estudante Carla). Nesses depoimentos as pessoas demonstram que, nos contextos de suas aulas, sejam professores ou alunos destas, há pouco (ou nenhum) conteúdo de educação física. Então, surpreendentemente, a avaliação mostra-se autônoma, acontecendo sem identificação prévia dos objetivos que se pretende atingir. Isto é, mesmo que não seja ministrado nenhum conteúdo específico durante determinada aula, ou durante todo um bimestre, haverá avaliação. 7 Tal afirmação torna-se contraditória, quando recordamos a intrínseca relação entre o planejamento e a avaliação. Contradição esta que será rediscutida na categoria temática “conceitos sobre avaliação”. De acordo com Luckesi (1995): (...) a avaliação da aprendizagem é um mecanismo subsidiário do planejamento e da execução... É uma atividade que não existe nem subsiste por si mesma. Ela só faz sentido na medida em que serve para o diagnóstico da execução e dos resultados que estão sendo buscados e obtidos. A avaliação é um instrumento auxiliar da melhoria dos resultados. (p.150). Para que o processo avaliativo possa acontecer, havendo ou não conteúdos ministrados, são formulados inúmeros critérios de avaliação. Estes estão expostos na próxima categoria temática. II. Critérios utilizados pelos professores: os critérios mais citados pelos professores foram: a participação em aula (citada por todos os professores), o uso do uniforme e a freqüência. É importante fazer a distinção de que, para eles, a freqüência significa estar de corpo presente e participar significa atuar nos jogos e/ou exercícios corporais dirigidos pelo professor ou ainda “jogar qualquer coisa” quando não há atividade dirigida. Já o uso do uniforme (citado por quatro dos cinco entrevistados) surpreende como critério de avaliação. Estar de uniforme é estar de roupa apropriada para fazer atividade física (roupas que permitam movimentação corporal ampla). Na escolha dos critérios para atribuição dos conceitos nota-se uma valorização dos estudantes que participam de jogos desportivos interclasses e/ou interescolares, como é o caso do Prof. Carlos que atribui um conceito aos alunos que, nesses jogos conseguem uma classificação (primeiro, segundo ou terceiro lugar). Já para a Profa. Patrícia, apenas a participação dos alunos em tais jogos é em si relevante. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCNs - (BRASIL, 1997): (...) o esporte deve encontrar o seu lugar na escola, através de uma proposta que atinja a todos os alunos. No caso de equipes representativas, este espaço poderá estar garantido através de atividades extra-curriculares, permitindo que os mais interessados desfrutem de momentos a eles reservados” (p.159). 8 Portanto, esta valorização dos estudantes que participam de competições em detrimento dos que não participam, não é favorável a uma disciplina onde todos estejam incluídos. Todos os professores demonstraram fazer uso de seus diários de classe como um instrumento auxiliar para avaliação. Portanto, afirmar que os conceitos são atribuídos de forma aleatória é um erro grosseiro. Todo esse processo avaliativo que já foi identificado como autônomo, acontece formalmente. Nos diários dos professores constam diversas anotações que servirão como informações que originarão um conceito para cada estudante ao final do bimestre. III. A Desvalorização da disciplina: tal aspecto apareceu no discurso de dois professores como prejudicial ao processo de avaliação na educação física escolar. Segundo a Profa. Ana: “Tem ano que você reprova o aluno e vem ordem da delegacia de ensino pra você aprovar todo mundo, que educação física não vale nota, tem ano que vale”. Segundo o Prof. Carlos: “A gente ouve, ‘meu filho é ótimo em matemática, ótimo em química, como repetiu de educação física, mas que absurdo’”. Usualmente nem pais nem alunos valorizam a educação física escolar. Mesmo gostando da disciplina, os estudantes tendem a menosprezá-la. Estes, desde os primeiros anos escolares (algumas vezes pelas práticas vivenciadas) tendem a acreditar que se trata de um momento para escolher entre o ócio e o lazer, não costumando relacionar a aula com um momento de aprendizagem. IV. Relação professor-aluno: todos os professores afirmaram discutir sobre os resultados da avaliação com seus alunos, bem como deixarem claros os critérios de avaliação. O Prof. Carlos, por exemplo, afirma “eu falo item por item de como eu vou funcionar durante o ano. Enfim, conversado isso com eles eu vou até o final do ano”. Porém, nesta mesma afirmação, está intrínseca uma inflexibilidade. Parece não existir participação dos alunos nesta determinação de critérios, além de não haver uma revisão acerca dos mesmos no decorrer do ano letivo. Quanto aos alunos, com exceção do estudante Marcelo, os demais demonstraram conhecer claramente os procedimentos de avaliação utilizados por seus professores, afirmando saber o porquê receberam determinado conceito no último bimestre. Porém em nenhum momento os estudantes participam da escolha dos procedimentos de avaliação, o que certamente lhes possibilitaria uma concepção acerca do processo avaliativo mais abrangente do que unicamente a sua obrigatoriedade. 9 V. Conceitos sobre avaliação: o estudo demonstrou que o conceito de avaliação, tanto para os professores como para os estudantes, passa pelo significado de algo contínuo e a longo prazo. Essa concepção sobre avaliação é extremamente positiva do ponto de vista do ensino e da aprendizagem, pois, é favorável a que ambos se efetivem. Porém, os estudantes disseram acreditar que a avaliação aconteça porque é necessária a atribuição de uma nota ao final do bimestre. Assim, estes demonstraram desconhecer a principal finalidade da avaliação, restringindo-a as obrigatoriedades legais. Considera-se, então, que o conceito de avaliação está incompleto para os estudantes. Eles têm esclarecimento acerca da continuidade e da abrangência que esta possui, mas desconhecem os benefícios que ela pode trazer à aprendizagem. Já os professores, quando questionados sobre a finalidade da avaliação, demonstraram relacioná-la ao ensino e a aprendizagem: “Você ter um retorno não só do que foi, da matéria que é ministrada durante o ano, como um retorno de toda a aplicação da educação física no decorrer da vida do aluno” (Prof. Marcos); “É uma maneira de eles estarem mostrando aquilo que eles aprenderam” (Profa. Patrícia); “Pra ver se a pessoa aprendeu”(Prof. Leonardo). Portanto, mesmo que estes professores não façam uso da avaliação tendo a efetivação do ensino e da aprendizagem como principal finalidade, este aspecto está presente em suas concepções. Esta vinculação da avaliação com a aprendizagem é extremamente positiva, já que o principal objetivo da primeira é efetivar a segunda. Como a avaliação é dependente do processo de ensino, não existe como mostrar uma finalidade quando ela aparece de forma autônoma, ao contrário ela torna-se contraditória, sem embasamento, perdendo seu significado. Na aula do Prof. Carlos, por exemplo, os estudantes podem optar por jogar xadrez e dominó que estarão participando, porém, o uniforme é obrigatório nos critérios de avaliação do professor. Questiona-se então, qual o sentido em exigir que o aluno esteja com roupa que permita movimentos corporais amplos, se caso ele fizer a opção acima citada, sua participação será validada? Neste momento, a avaliação perde o significado para o aluno, em conseqüência de não possuir coerência. A Profa. Patrícia citou a possibilidade de a avaliação promover mudanças de comportamento dos estudantes. Segundo ela, dar um conceito maior àqueles que usam uniforme é uma maneira de fazer com que os alunos que não o usam passem a usar. 10 Tal estratégia, apesar de não condizer com a real finalidade da avaliação, expressa uma prática comum no ensino (a de utilizar a nota para controlar o comportamento do aluno). Há uma incoerência na existência deste “controle” quando recordamos os benefícios que o processo avaliativo deve trazer a professores, alunos e instituição escolar. Porém, também está implícito que para mudar a avaliação, concepções gerais acerca da disciplina de educação física devem ser reconstruídas, atingindo toda a estrutura que envolve o ensino e a aprendizagem, desde a escola até a comunidade na qual ela está inserida. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília, 1997. BRATIFISCHE, Sandra A. Avaliação em educação física: um desafio. Revista da Educação Física/UEM, Maringá, v.14, n.2, p21-31, 2003. 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