MATEMÁTICA BÁSICA E CONSUMO SUSTENTÁVEL NUM PLANO CONTEXTUALIZADO: UMA RELAÇÃO POSSÍVEL Enyton Rodrigues Guimarães (UNICID) * Resumo O propósito deste artigo é apresentar a relação da matemática básica com a sustentabilidade e a qualidade de vida. Nesse sentido, procura-se alinhar os conteúdos de maneira que, a partir da simplicidade dos conceitos, possam-se explorar, com segurança, problemas contextualizados e contribuir para um maior equilíbrio entre o indivíduo (corpo, mente) e a sociedade, por meio de atividades a serem desenvolvidas com alunos a partir do 9º ano do Ensino Fundamental. Palavras-chave: Matemática. Consumo sustentável. Sustentabilidade. Qualidade de vida. Direito à educação. Abstract The purpose of this paper is to present the relation of basic math to sustainability and quality of life. In this sense, we try to align the content in a way that, from the simplicity of the concepts can be explored safely contextualized problems and contribute to a better balance between the individual (body, mind) and society through activities to be developed with students from 9th grade of elementary school. Keywords: Mathematics. Sustainable consumption. Sustainability. Quality of life. Right to education. Introdução O consumo sustentável, sem desperdícios, gera economia financeira, que por sua vez, liberta as pessoas dos empréstimos e financiamentos, propiciando que possam viver livres dos tormentos dos juros altos, atentando à melhor qualidade de vida, tanto * Mestre em Administração de Empresas pela Universidade Cidade de São Paulo, UNICID. Licenciado em Matemática pelo Centro Universitário Assunção, UNIFAI. Docente no Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza. 1 Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 5, número 20, novembro de 2015. www.faceq.edu.br/regs do ponto de vista individual (equilíbrio entre corpo e mente), quanto coletivo (vida em sociedade). Este artigo propõe uma visão macro da interdependência da sustentabilidade ambiental em relação à matemática e a qualidade de vida, sendo que não é pretensão deste artigo tratar os conteúdos de forma isolada, mas apontar que, por meio de conceitos simples, os professores podem levar os alunos a conceber os conhecimentos relacionados à matemática e ao consumo de forma mais ampla, explorando temas transversais, além da interdisciplinaridade e multidisciplinaridade. Com base nessa discussão, não obstante aos pensamentos isolados em relação à sustentabilidade, pretende-se evidenciar os conceitos de determinados conteúdos, que julgamos imprescindíveis, tais como: frações, equivalência, ordenação, equações do 1º grau, grandezas proporcionais, porcentagem, área de polígonos, estatística descritiva, destacando-se a importância desses conceitos em relação aos temas transversais, contemplados em problemas contextualizados. Pretende-se, ainda, identificar os conhecimentos prévios dos alunos em relação aos conteúdos mencionados anteriormente, além das habilidades e competências, as quais se espera que os alunos desenvolvam, com as atividades propostas. Desta forma, julgamos ser possível revelar aos alunos a importância da linguagem e da escrita na interpretação de problemas, promovendo a maturidade e uma nova visão conectada do mundo em que vivem, garantindo-lhes um crescimento intelectual e crítico, inserindo-os nas diversas áreas do saber. 1 Referencial teórico 1.1 Sustentabilidade ambiental O conceito de sustentabilidade é complexo. Guedes (2015) conceitua sustentabilidade como uma característica ou condição, de um processo ou de um sistema, que permite sua permanência em certo nível, por um determinado prazo. Nas últimas décadas, este conceito tornou-se um princípio, pelo qual, o uso dos recursos naturais não pode comprometer a satisfação das necessidades das gerações futuras. "Sustentabilidade também pode ser definida como a capacidade do ser humano interagir com o mundo, preservando o meio ambiente para não comprometer os recursos naturais 2 Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 5, número 20, novembro de 2015. www.faceq.edu.br/regs das gerações futuras” (GUEDES, 2015, p. 67-68) Nunes (2008) define sustentabilidade ambiental como a habilidade pessoal, grupal ou organizacional de manutenção de um ambiente, buscando impactá-lo, negativamente, o mínimo possível. Assim, a instrumentalização desse conceito pressupõe o convívio harmônico do homem com o meio e com os recursos da biosfera. Nesse contexto, de preservação e convivência harmônica do homem com o meio ambiente, emerge o conceito de consumo sustentável, que pressupões o consumo consciente, também chamado de “consumo verde”, “consumo ético” ou “consumo responsável”. Essa forma de consumo é aquela em que o consumidor, além de procurar melhor qualidade e preço, “inclui em seu poder de escolha, a variável ambiental, dando preferência a produtos e serviços que não agridam o meio ambiente, tanto na produção, quanto na distribuição, no consumo e no descarte final” (BRASIL, 2005, p. 18). Essa postura remete a uma nova proposta de política ambiental. Dentre os diversos aspectos de que trata a sustentabilidade ambiental, daremos ênfase ao consumo sustentável evidenciando conteúdos matemáticos na resolução de problemas contextualizados. Partindo da consciência à prática relacionada aos diversos grupos de consumidores, iniciaremos esta etapa apresentando algumas atitudes que fazem a diferença. 1.1.1 Água Segundo Cavalcanti (2011), o consumo mundial de água aumentou cerca de seis vezes no século XX, principalmente devido ao elevado crescimento populacional e ao uso indisciplinado da água. Dessa forma, o desperdício e a contaminação, devido à falta de saneamento básico em algumas regiões, vêm dando subsídios a previsões de que, em 2050, uma em cada quatro pessoas viverá num país com problemas de desabastecimento de água. 1.1.2 Lixo A palavra lixo se origina do latim lix, que significa cinza. Segundo o SEAC-SP (2015), lixo é qualquer resíduo originário das atividades humanas ou produzido pela natureza, em aglomerações urbanas. No dicionário, lixo se define como sujeira, 3 Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 5, número 20, novembro de 2015. www.faceq.edu.br/regs imundície, algo inútil e sem valor. Na linguagem técnica, é sinônimo de resíduos sólidos e é representado por materiais descartados pelas atividades humanas. Nesse contexto, nada mais responsável, do que tentarmos produzir menos lixo, pois resíduos domésticos jogados a céu aberto ou em aterros irregulares provocam contaminação nas águas subterrâneas e poluem o ar com gases tóxicos. Por conta disso, o ideal é que se evite, na origem, que o lixo seja produzido, podendo recusar embalagens desnecessárias, reaproveitando sobras de alimentos e preferindo os mesmos a granel. Quando isso não ocorre, o ideal é aproveitar embalagens, fazer doações de materiais, dentre outra ações. 1.1.3 Energia Para Cansian (2006), a palavra energia se origina do grego ergos que significa trabalho. O conceito de energia, nas Ciências Físicas está relacionado à capacidade de qualquer corpo, uma substância ou um sistema físico produzir trabalho, ação ou movimento. A maioria das fontes de energia tem grande impacto no meio ambiente, sendo a energia solar uma das exceções, por ser renovável, não poluir o ar, nem a água. Por outro lado, a queima da gasolina, diesel, gás e carvão mineral, devido à emissão de gases tóxicos, trazem grandes prejuízos à população, como doenças respiratórias, entre outras. A queima de combustíveis fósseis também colabora para o aquecimento global, de forma que se os carros e indústrias continuarem queimando combustíveis provenientes do petróleo no ritmo atual, a temperatura média do planeta aumentará em 5º C (cinco graus Celsius), nos próximos 50 anos. Portanto, a maioria dos problemas a serem solucionados, de imediato, em razão de sua gravidade, podem ser combatidos com mudanças simples, de ações cotidianas das pessoas. Assim, são exemplos de atitudes que fazem a diferença: Fechar a torneira ao escovar os dentes; Não usar o vaso sanitário como lixo; Não utilizar mangueira para limpar a calçada; Eliminar vazamentos; Recusar embalagens desnecessárias; Evitar mercadorias com muitas embalagens; 4 Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 5, número 20, novembro de 2015. www.faceq.edu.br/regs Usar uma bacia para lavar a louça; Comprar produtos ecologicamente corretos; Comprar somente o necessário. Podemos observar que as atitudes, mudanças de comportamento e consciência, fazem diferenças significativas, não só para o meio ambiente, mas também para o bolso, como veremos na segunda parte deste artigo, em Sustentabilidade Financeira. Antes de iniciarmos a próxima etapa, cabe uma reflexão sobre o exemplo dado pelo professor e a atividade proposta, ou seja, aquela que o professor pode aplicar aos seus alunos. Exemplo: construir uma tabela de frequência simples e elaborar um relatório parcial dos resultados: Você costuma deixar a torneira aberta ao escovar os dentes? a) sempre b) nunca c) algumas vezes d) muitas vezes Tabela de frequência simples: Questão FA FR Sempre 15 37,5% Nunca 2 5% Algumas vezes 10 25% Muitas vezes 13 32,5% Total 40 100% Conteúdos evidenciados: regra de três, proporção, porcentagem e conceitos de tabelas de frequência simples. Comentários/justificativas: a estatística descritiva permite que se investiguem situações-problemas, referentes ao que se pretende saber. Fechando todas as lacunas, mediante questionários, podemos ter bons resultados, basta saber interpretá-los, isto é o que chamamos de relatório final. Material utilizado: Calculadoras científicas e planilhas Excel; esta última é utilizada, caso se deseje construir gráficos de barras ou de setores. Atividade proposta: dividir a sala em cinco grupos e organizar uma pesquisa com 100 pessoas de seu bairro ou conhecidos, sobre as “Atitudes que fazem a diferença”, com as seguintes orientações: Construam as tabelas de frequência simples; Tabulem os dados, calculem as frequências acumuladas (FA), nº de ocorrências e as frequências relativas (FR%) em valor percentual; 5 Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 5, número 20, novembro de 2015. www.faceq.edu.br/regs Caso achem necessário, para facilitar a interpretação dos dados, construam gráficos na planilha Excel; Produzam um relatório, apresentando conclusões gerais sobre o comportamento das pessoas em relação ao consumo sustentável. A proposta desta atividade é desenvolver as seguintes habilidades e competências: Habilidades: entender os conceitos estatísticos, equivalência, ordenação, grandezas proporcionais e porcentagem; evidenciar situações problemas e elaborar questionários adequados à solução dos mesmos. Competências: interpretar os dados de uma pesquisa científica e produzir relatórios adequados a partir de tabelas e gráficos, em uma diversidade de problemas e áreas do saber. 2 Sustentabilidade financeira Segundo Fernandes (2011), embora o conceito de sustentabilidade esteja mais relacionado à dimensão ambiental, ele pode ser aplicado também ao campo financeiro, no que se refere ao equilíbrio entre renda e consumo, de modo a suprir as necessidades presentes e, ao mesmo tempo, garantir necessidades futuras. O conceito de sustentabilidade financeira é aplicável às empresas para medir a capacidade dessas entidades de autoproverem recursos financeiros para enfrentar contratempos econômicos, visando a longevidade de suas atividades. Assim, é de fundamental importância que se perceba a interdependência da sustentabilidade ambiental em relação à sustentabilidade financeira. Podemos considerar a sustentabilidade financeira como um subconjunto da Educação Financeira, hoje evidenciada em quase todas as escolas, muitas delas em parceria com a FEBRABAN (Federação Brasileira de Bancos). Esta parceria tem como objetivo incentivar o jovem a conhecer diversas modalidades de investimentos, tanto em rendas fixas como em rendas variáveis (açõesBMF-Bovespa), Títulos do Tesouro, CDB, além da elaboração de planilhas de custos, redobrando os cuidados com os financiamentos, cartões de crédito, entre outros. Desta forma, prosseguiremos com exemplos fornecidos pelo professor e atividades propostas para os alunos, permitindo maior conexão com a primeira etapa. 6 Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 5, número 20, novembro de 2015. www.faceq.edu.br/regs Exemplo 1: pesquisas comprovam que lâmpadas fluorescentes consomem 40 watts em relação às fluorescentes que consomem 60 watts. Desta forma, calcule a porcentagem de consumo e a economia das lâmpadas fluorescentes em relação às incandescentes, e ainda a economia de uma família que gasta R$ 80,00 com iluminação, usando lâmpadas incandescentes. 2.1 Solução evidenciando conteúdos matemáticos básicos, interpretação e argumentação Inicialmente alguns alunos poderiam fazer a seguinte argumentação: se as lâmpadas fluorescentes consumissem 30 watts e as incandescentes 60 watts, a razão seria 30/60, o que significa que as lâmpadas fluorescentes consomem a metade das lâmpadas incandescentes, gerando uma economia de 50%. Aleatoriamente, em relação aos dados do problema, concluímos que a razão entre as lâmpadas fluorescentes e as lâmpadas incandescentes é de: 40/60 = 0,66666.... ou 66,66%. Podemos também provar esta relação por regra de três, exemplo: 60 = 40 = 100% x Aplicando a propriedade fundamental das proporções e resolvendo a equação do 1º grau, chegaríamos ao mesmo resultado 66,66%, que significa uma economia de 33,33%. Esta aplicação poderia ser feita em qualquer outro tipo de lâmpada. Mas, neste caso específico, tendo o consumidor um gasto mensal de R$ 80,00 com iluminação, usando lâmpadas incandescentes, ele passa a economizar 33,33% que corresponde a R$ 26,66, ou seja, gastaria apenas R$ 53,34 com iluminação. Conteúdo evidenciado: as quatro operações (adição, subtração, multiplicação e divisão), frações, equivalência, proporção, regra de três, porcentagem e uma boa interpretação. No exemplo anterior (exemplo 1), evidenciamos a economia doméstica de uma família no consumo de energia; agora veremos um exemplo da economia doméstica na construção civil, que se refere ao acabamento na reforma de uma residência Exemplo 2: Para que não haja desperdícios, Pedro deseja calcular quantas caixas de ladrilhos gastaria para revestir o piso de um cômodo de 5 m de comprimento por 3 m de largura. Sabendo-se que cada ladrilho mede 40 cm de comprimento, 30 cm 7 Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 5, número 20, novembro de 2015. www.faceq.edu.br/regs de largura e cada caixa contém 24 ladrilhos. 2.2 Solução evidenciando conceitos de área de figuras planas e medidas Primeiramente devemos nos ater às medidas, pois as mesmas não são compatíveis. Que tal transformarmos as medidas do ladrilho em metros? Comprimento = 40 cm = 0,40 m Largura = 30 cm = 0,30 m Agora vamos calcular as áreas do cômodo e do ladrilho: Área do cômodo = largura . comprimento Área do cômodo = 3 . Em seguida, 5 = 15 m² calcularemos a área do ladrilho em metros: Área do ladrilho = base . altura Área do ladrilho = 0,30 . 0,40 = 0,12 m² Dividindo a área maior (cômodo) pela área menor (Ladrilho), temos : 15 / 0,12 = 125 ladrilhos. Sabendo-se que cada caixa contém 24 ladrilhos, dividiremos o número total de ladrilhos pelo conteúdo de cada caixa e obteremos aproximadamente o número de caixas a serem utilizadas. 125 / 24 = 5,2 Então devemos comprar seis caixas, isso não é desperdício, pois eventualmente podemos substituir algum ladrilho quebrado ou ladrilhar outro cômodo com os mesmos ladrilhos. Exemplo 3: Em um supermercado dois concorrentes anunciam seus preços e marcas de sucos de fruta, Suco A e Suco B, ambos com a mesma aceitação de mercado. O fabricante do suco A vende a caixa contendo 600 ml por R$ 5,00, enquanto seu concorrente que resolve competir pela preferência dos clientes, vende a caixa do suco B, contendo 550 ml por R$ 3,20. Desta forma, comprando qual dos produtos terei economia, sabendo-se que ambos possuem a mesma qualidade? Inicialmente, devemos verificar quanto custaria o suco A se fosse vendido em embalagens de 550 ml. Volume (ml) 600 Preço (R$) 5 8 Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 5, número 20, novembro de 2015. www.faceq.edu.br/regs 550 x 600 x = 2750 x = 2750/600 x = R$ 4,58 Assim sendo, comprando o suco B, por R$ 3,20, lucrarei R$ 1,38, o equivalente a uma economia de 28%. Veja: Preço ( R$ ) Percentual ( % ) 5 100 1,38 x Multiplicando os extremos e os meios e resolvendo a equação do 1º grau, temos: x = 28% . Conteúdo evidenciado: grandezas proporcionais, regra de três, porcentagem, propriedade fundamental das proporções e equação do 1º grau. Comentários/justificativas: o exemplo apresentado evidencia a relação entre matemática básica e sustentabilidade financeira num plano contextualizado, como proposta deste artigo, envolvendo conteúdos das últimas séries do Ensino Fundamental. Devemos salientar que além de entenderem conceitos e desenvolverem competências, os alunos do 9º ano já são capazes de pensar em um planejamento financeiro. Desta forma, propomos que elaborem uma Tabela de Custos Fixos e Custos Variáveis, lembrando aos alunos que estes últimos revelam, muitas vezes, o consumo desenfreado. Em alguns momentos aumentamos as nossas despesas domésticas com custos variáveis, e não lembramos em que gastamos; isto significa que poderíamos ter evitado esse gasto. Prosseguiremos, a seguir, com uma atividade relacionada ao exemplo. Atividade proposta: elaborar uma tabela de custos fixos e custos variáveis, verificando as possibilidades de obter economia. Faça comparação de preços, evite desperdícios e faça uso dos conceitos de grandezas proporcionais e porcentagem. Compare esta tabela com a do mês anterior e verifique se houve ganhos financeiros e qual foi o percentual. A proposta desta atividade é desenvolver as seguintes habilidades e competências: Habilidades: entender os conceitos de grandezas proporcionais, porcentagem, 9 Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 5, número 20, novembro de 2015. www.faceq.edu.br/regs equações do 1º grau, além de problemas contextualizados, envolvendo propriedades algébricas. Competências: interpretar problemas de qualquer natureza, que envolvam grandezas proporcionais e porcentagem. Após terem concluído esta atividade cabe a seguinte reflexão: agregar valores sempre foi prioridade, em vista aos gastos desnecessários. Nesse sentido, devemos preferir investir nossas economias a financiar, mesmo que, muitas vezes, utilizemos nossos investimentos, como forma de pagamento. Os próximos exemplos e atividades desta etapa serão voltados a investimentos e financiamentos, assuntos que julgamos relevantes para o 9º ano do Ensino Fundamental. Antes de iniciarmos nossas atividades devemos nos ater à existência de financiamentos e investimentos de curto e de longo prazo. Entretanto, daremos ênfase aos de longo prazo, passando superficialmente pelo investimento de curto prazo, como segue: Exemplo 4: quanto terei daqui a 83 dias, caso aplique um capital de R$ 20.000 à taxa de 12% ao ano? Analisando o problema, podemos notar que se refere ao cálculo do montante, uma vez, que se pretende calcular o valor futuro. Sendo assim, temos: M? C = R$ 20.000,00 i = 0,12 a.a n = 83 dias Em todo tipo de problema que envolve taxas e prazos, devemos verificar a compatibilidade dos prazos desejados em relação aos prazos da taxa, verificando se são equivalentes, ou seja, proporcionais, neste caso específico, não são. Então, iniciaremos o problema fazendo estas transformações: M = C . ( 1 + i )n M = 20.000 . ( 1,12 )83/360 M = 20.000 . ( 1,12 )0,23, Então temos: M = R$ 20.528,17 Com uma calculadora científica, calculamos o montante do seguinte modo: 1,12 yx ou ^ 023 = x 20.000 = 10 Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 5, número 20, novembro de 2015. www.faceq.edu.br/regs Como M = C + J J=M–C J = 20.528,17 – 20.000 J = R$ 528,17 Isto significa que tive um rendimento de R$ 528,17 por 33 dias. Vimos uma situação problema de curto prazo. O ideal é verificar também outro exemplo de longo prazo e fazer as devidas comparações entre financiamentos e investimentos. Imaginemos que uma família, atentando ao consumo sustentável, consiga economizar R$ 350,00 mensais. Tendo em vista este dinheiro extra, resolve comprar um automóvel de R$ 20.000,00 em 72 parcelas, à taxa de 2,80% ao mês, ao invés de investir. Será que ela teria feito um bom negócio? Solução: inicialmente calcularemos o valor das parcelas do financiamento, em seguida, iremos calcular quanto teria economizado, caso tivesse aplicado em um fundo de previdência privada, no mesmo período. PMT = ? P = R$ 20.000,00 i = 0,028 a.m n = 72 parcelas PMT = P . [ ( 1 + i )n . i ] / [ ( 1 + i )n – 1 ] PMT = 20.000 . [ ( 1,028 )72 . 0,028 ] / [ ( 1,028 )72 – 1 ] PMT = 20.000 . [ 0,204485391 / 6,303049688 ] PMT = 20.000 . [ 0,032442294 ] PMT = R$ 648,85 Neste caso a pessoa usaria a sua economia e ainda teria que completar, devido à alta taxa de juros. Veja-se que um carro de R$ 20.000,00, custaria R$ 648,85 x 72 = R$ 46.717,20, mais que o dobro. Então vamos verificar a situação inversa. Caso ela fizesse uma aplicação num fundo de previdência privada que paga por volta de 0,8 % ao mês, neste mesmo período, temos: M = C . [ ( 1 + i )n – 1 ] / i Aplicando a fórmula do Montante em n parcelas, temos: M = 350 . [ ( 1,008 )72 – 1 ] / 0,008 M = 350 . [ 0,774836338 / 0,008 ] 11 Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 5, número 20, novembro de 2015. www.faceq.edu.br/regs M = 350 . [ 96,85454225 ] M = R$ 33.899,09 Assim, investir é sempre um ótimo negócio, pois com apenas uma economia de R$ 350,00 a pessoa, após 72 meses, poderia comprar o carro e ainda ficar com saldo positivo, isto é, teria R$ 13.899,09 além do automóvel, podendo estar melhorando consideravelmente a Qualidade de Vida. Conteúdos evidenciados: as quatro operações, potenciação, equivalência, proporção, porcentagem e conceitos financeiros. Fórmulas utilizadas: M = C . ( 1 + i )n Cálculo do Montante onde: M = montante C = capital i = taxa n = prazo PMT = P . [ ( 1 + i )n . i ] / [ ( 1 + i )n – 1 ] Cálculo das Prestações onde : PMT = valor das prestações P = valor do bem financiado i = taxa n = prazo M = C . [ ( 1 + 1 )n – 1 ] / i Cálculo do Montante em “n” parcelas onde : M = montante em “n” parcelas C = capital aplicado mensalmente i = taxa n = prazo Comentários/justificativas: este conteúdo pode ser contemplado no 9º ano do Ensino Fundamental, devido a evidente relação das fórmulas com taxas equivalentes, grandezas proporcionais, porcentagem, equações do 1º grau e conceitos financeiros. Material utilizado: calculadora financeira Atividade proposta: verificar a partir de uma tabela de Custos Fixos e Custos Variáveis a quantia que uma família poderia economizar caso tivesse atentado ao consumo sustentável. Utilize a Fórmula de Investimentos: 12 Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 5, número 20, novembro de 2015. www.faceq.edu.br/regs M = C . [ ( 1 + i )n – 1 ] / i e verifique se houve ganho em longo prazo. A proposta desta atividade é desenvolver as seguintes habilidades: entender conceitos e fórmulas financeiras; resolver exercícios observando a importância dos conteúdos: grandezas proporcionais e porcentagem (embora com utilização de calculadora científicas). Competências: saber interpretar e comparar situações problemas que envolvam juros compostos, nas diversas operações financeiras de crédito e investimento. 3 Qualidade de vida Para Pereira, Teixeira e Santos (2012), o conceito de Qualidade de Vida é abordado, por muitos autores, como sinônimo de saúde e, por outros, como um conceito mais abrangente, em que as condições de saúde seriam um dos aspectos a serem considerados: “Suas definições na literatura especializada apresentam-se, tanto de forma global, enfatizando a satisfação geral com a vida, como dividida em componentes, que, em conjunto, indicariam uma aproximação do conceito geral” (PEREIRA; TEIXEIRA; SANTOS, 2012, p. 241). Almeida, Gutierrez e Marques (2012) afirmam que a Qualidade de Vida também se relaciona a um alto padrão de bem-estar na vida das pessoas, sejam elas de ordem econômica, social ou emocional. A área de conhecimento em qualidade de vida encontra-se numa fase de construção de identidade: “ora identificam-na em relação à saúde, ora à moradia, ao lazer, aos hábitos de atividade física e alimentação, mas o fato é que essa forma de saber afirma que todos esses fatores levam a uma percepção positiva de bem-estar” (ALMEIDA; GUTIERREZ; MARQUES, 2012, p. 15). Assim, não existe um consenso sobre o que constitui Qualidade de Vida (conceitos e dimensões), se levarmos em consideração métodos específicos de avaliação. A Qualidade de Vida vai ao encontro da situação que o indivíduo vivencia no momento. Por exemplo: encontra-se enfermo, diz que a qualidade de vida está relacionada à saúde. Quando está bem, relaciona este bem-estar aos bens materiais. Para outros, Qualidade de Vida pode representar beleza numa paisagem, na satisfação de uma vida familiar em comunhão. Poderíamos, então, tentar definir Qualidade de Vida como a busca incessante da satisfação pessoal por meio de conhecimentos adquiridos e de alterações no estilo de 13 Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 5, número 20, novembro de 2015. www.faceq.edu.br/regs vida, no sentido de obter um equilíbrio entre o individual (corpo, mente) e o social. Enfim, acreditamos que seja um comportamento pessoal, por desejar mudanças. Neste sentido, podemos dizer que o resultado do consumo sustentável deve estar atrelado à Qualidade de Vida do indivíduo, principalmente, ao bem estar financeiro, em viver uma vida tranquila, sem os tormentos dos financiamentos. Usufruir de bons momentos de lazer, manter seus filhos em boas escolas e universidades, poder pagar um bom plano de saúde e ainda adquirir bens. 4 Direito à educação Considerando o movimento “Todos pela Educação”, fundado em 2006, que congrega a iniciativa privada, especialistas e gestores da Educação, na missão de contribuir para a garantia de que todas as crianças e jovens tenham uma educação de qualidade até 2022, ano do bicentenário da independência do Brasil, o movimento só será de fato, independente, quando todas as crianças e jovens tiverem acesso a uma educação de qualidade. Para isso, foram estabelecidas cinco metas (TPE, 2006): 1) Toda criança e jovem de 4 a 7 anos na escola; 2) Toda criança plenamente alfabetizada até oito anos; 3) Todo aluno com aprendizado adequado à sua série; 4) Todo aluno com o ensino médio concluído até os 19 anos; 5) Investimento em Educação ampliado e bem gerido. Com relação à terceira meta, “Todo aluno com o aprendizado adequado à sua série”, é necessário que se investigue o que leva os alunos a se desinteressar pelos estudos, para saber os reais motivos do baixo rendimento, e por que não conseguem desenvolver os conteúdos necessários à sua série. Uma questão importante é buscar as razões da pouca participação dos alunos em atividades que envolvam a Língua Portuguesa, em especial, a linguagem escrita e que estão relacionadas às dificuldades de interpretação, sobretudo em matemática. Isto sugere a adequação de um projeto amplo, relacionado a narrativas que são ferramentas muito importantes no processo ensino-aprendizagem, que ainda podem ser complementadas com o percurso de escolas bem definidas, amparadas pela recuperação contínua e apresentação de temas contextualizados, que são imprescindíveis à 14 Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 5, número 20, novembro de 2015. www.faceq.edu.br/regs aprendizagem significativa e foram o foco deste artigo. Assim, acreditamos que tais ferramentas são meios e não fins, pois enxergar “fundo e largo” é ultrapassar os limites da escola, investigando os problemas que envolvem família, escola e comunidade. O que poderia fazer a diferença é uma maior integração entre corpo docente, gestores, pais de alunos e comunidade escolar, a fim de entender melhor os aspectos internos e externos que inibem o crescimento dos alunos, por meio de pesquisas estatísticas bem elaboradas. Considerações finais Destacamos a necessidade de uma discussão mais profunda em torno da atual Proposta Curricular de Matemática para o Ensino Fundamental II, que deveria incluir Grandezas Proporcionais e Estatística Descritiva, conteúdos que deveriam ser voltados a Projetos de Pesquisas e Educação Financeira, em todas as séries do Ensino Fundamental. Se essa reforma já houvesse sido implantada, nossos alunos estariam constantemente interagindo com Educação Financeira e Estatística Descritiva, desenvolvendo habilidades e competências nas diversas áreas do saber. Os conteúdos mencionados poderiam ser tratados como temas transversais, sem prejuízo às atuais propostas de ensino. Atentando à evidente importância destes conteúdos no percurso do Ensino Fundamental, podemos afirmar que só foi possível obter resultados favoráveis nas demonstrações de exemplos e atividades propostas devido à implementação de estratégias. Trabalhamos em pequenos grupos de atividades, apropriando-nos do conhecimento prévio de alguns alunos que interagiram de forma colaborativa com os demais. Enfim, acreditamos que em breve quando os alunos vivenciarem a prática dos conteúdos estatísticos e financeiros os resultados serão ainda melhores. Referências bibliográficas ALMEIDA, Marcos Antonio Bettine de; GUTIERREZ, Gustavo Luis; MARQUES, Renato. Qualidade de vida: definição, conceitos e interfaces com outras áreas de pesquisa. São Paulo: Escola de Artes, Ciências e Humanidades – EACH/USP, 2012. 15 Educação, Gestão e Sociedade: revista da Faculdade Eça de Queirós, ISSN 2179-9636, Ano 5, número 20, novembro de 2015. www.faceq.edu.br/regs BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Ministério da Educação. Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor. Manual de Educação para o Consumo Sustentável. Brasília: Consumers International/ MMA/ MEC/ IDEC, 2005. CANSIAN, Maricy Moreno. 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