PROJETOS DE TRABALHO E INTERDISCIPLINARIDADE NA
EDUCAÇÃO BÁSICA: RELAÇÕES ENTRE CIÊNCIAS NATURAIS,
PORTUGUÊS E MATEMÁTICA NO ESTUDO DA ASTRONOMIA E DA
INFORMÁTICA
Leandro Ferreira
Universidade Federal Fluminense [email protected]
Ana Carolina Almeida
Universidade Federal Fluminense [email protected]
Desirre Mazzarella
Universidade Federal Fluminense [email protected]
Douglas Pinheiro
Universidade Federal Fluminense [email protected]
Mônica Vasconcellos
Universidade Federal Fluminense [email protected]
INTRODUÇÃO
A escola é o principal ambiente das ações educativas. Por conta disso, é considerada
uma instituição importante para a sociedade, uma vez que forma novas gerações e, portanto,
precisa levar em conta as características e necessidades individuais e coletivas. Nesse espaço,
os educadores dedicam o tempo à realização de atividades voltadas à aprendizagem dos
alunos, lidam com expectativas, interesses e cobranças da sociedade, dos gestores das
políticas públicas e da própria comunidade escolar.
Acontece, que o modelo de organização escolar vigente vem sendo questionado
porque, na maior parte das vezes, não leva em conta as reais necessidades dos alunos, suas
diferenças e o contexto social. Trata-se de um modelo pautado pela padronização do ensino,
hierarquia entre as disciplinas, meritocracia, competitividade e desrespeito às diferenças, o
que torna a vida escolar distante da sua vida cotidiana e contribui para a perda do interesse
pela busca do conhecimento.
Na contramão desse entendimento, acreditamos que a escola deve ser espaço de
problematização, revisão e ampliação dos conhecimentos já produzidos e sistematizados por
meio da propositura e da solução de problemas, que de fato, sejam instigantes e
enriquecedores para os alunos. Com esta perspectiva, a escola deixa de ser entendida como
um lugar que privilegia a simples transmissão do conhecimento, a submissão e a passividade
do aluno, para ser compreendida como um lugar de aproximação e interação entre os campos
do conhecimento, mediante observações, análises, trabalhos em parceria e debates. Neste
sentido, acreditamos que as práticas, o planejamento e o encaminhamento do trabalho, bem
como a organização curricular e a fragmentação do conhecimento precisam ser repensados.
Afinal, sabemos que a disciplinaridade compartimentaliza as possibilidades de ensino e pode
comprometer o estabelecimento de conexões entre os assuntos abordados.
Uma das formas de promover essa interação é a partir da realização de um trabalho de
natureza interdisciplinar, por meio do desenvolvimento de projetos (HERNÁNDEZ e
VENTURA, 1998). O trabalho com projetos pode ser positivo para todos os envolvidos. Isto
porque, são fortes as chances do professor sentir-se mais desafiado e satisfeito com seu
trabalho, diante do envolvimento e do desempenho dos alunos, que, por sua vez, se
defrontam, com a oportunidade de aprender mediante a participação em situações
desafiadoras. Sob esta perspectiva, o conhecimento passa a ser tratado de forma construtiva,
coletiva e proveitosa e o estudante é instigado a desenvolver a capacidade de selecionar,
organizar, priorizar, analisar, relacionar e sintetizar as informações abordadas (BARBOSA,
2011; BRASIL, 1998).
Quanto à interdisciplinaridade, Fazenda (2011) esclarece que esta abordagem promove
uma visão mais ampla do ser humano, na qual todo o conhecimento é importante, inclusive
aquele produzido fora dos espaços formais de educação. Esta abordagem não deve ser
pensada como fusão de conteúdos e sim como uma nova atitude frente ao conhecimento, cuja
implementação pressupõe abertura para os questionamentos que envolvem a aprendizagem e
baseia-se na humildade, coerência, espera, respeito e exige desapego por parte de todos.
Trabalhar de modo interdisciplinar significa ativar a memória em torno daquilo que já
foi vivido; ultrapassar a abstração e fazer uso de procedimentos que provoquem nos alunos o
desejo e o gosto pela aprendizagem e por tudo o que isso significa. Para realizar esse trabalho
é necessário propor ações que levem em conta, que o conhecimento nasce da dúvida, se
alimenta da incerteza e deve estar relacionado com novas formas de aproximação com a
realidade sociocultural da comunidade. Considerando esse entendimento, cabe indagar: Como
nasce um projeto? Surge dos questionamentos e da necessidade de ensinar algo ou das
dúvidas e curiosidades dos alunos? De que modo os temas são definidos?
Estudiosos da área (HERNÁNDEZ e VENTURA, 1998; BARBOSA, 2011)
esclarecem que a realização de um projeto e a escolha do tema podem surgir tanto do aluno
quanto do professor, desde que sejam considerados aspectos como a curiosidade, a
necessidade e o desejo de compreender e intervir na realidade.
Por todas as possibilidades de contribuição que a realização de projetos
interdisciplinares pode proporcionar à comunidade escolar e acadêmica preparamos e
implementamos, em 2014, um projeto interdisciplinar que envolveu alunos e professores de
uma escola pública, localizada no município de Niterói/RJ. Os dados referentes a este trabalho
encontram-se em processo de organização e análise. As informações sobre a pesquisa, tais
como objetivos e metodologia, estão dispostas nos tópicos subsequentes.
O trabalho com projetos interdisciplinares na escola: definições, dificuldades e
possibilidades de contribuição
Iniciamos nossos esclarecimentos ressaltando que, no Brasil,
Qualquer pessoa ligada às práticas escolares contemporâneas, seja como
educador, seja como educando, ou público mais geral (pais, comunidade
etc.), consegue ter uma razoável clareza quanto àquilo que nos acostumamos
a reconhecer como a ‘crise da educação’. Sabemos todos diagnosticar sua
presença, mas não sabemos direito sua extensão nem suas razões exatas. De
qualquer modo, o indício mais evidente dessa ‘crise’ é que boa parte da
população de crianças que ingressam nas escolas não consegue concluir
satisfatoriamente sua jornada escolar [...]; processo este que se convencionou
nomear como ‘fracasso escolar’, e que pode ser constatado no simples fato
de que um considerável número de pessoas à nossa volta, egressos do
contexto escolar, parece ter uma história de inadequação ou insucesso para
contar (AQUINO, 1998, p. 1-2).
Problemas dessa natureza geram altos índices de retenção e evasão escolar, além do
comprometimento da aprendizagem e da trajetória de muitos daqueles que concluíram o
processo de escolarização. Este fenômeno, conhecido como o "fracasso dos incluídos”, afeta
tanto o desempenho escolar como a trajetória pessoal desses sujeitos (AQUINO, 1998).
Apesar disso, a maior parte das escolas ainda encontra dificuldades para romper com a adoção
de práticas cristalizadas, calcadas na fragmentação das disciplinas. Poucas conhecem, de fato
e/ou fazem uso da abordagem interdisciplinar e isso se deve a fatores variados, tais como:
limitações decorrentes da formação docente, que dificultam a compreensão desse tema;
dificuldade de ultrapassar a fase de integração das disciplinas no processo de construção da
interdisciplinaridade; limitações metodológicas, materiais e/ou ideológicas, dentre outras
(FAZENDA, 2011). Em contrapartida, estudiosos do assunto (HERNÁNDEZ e VENTURA,
1998; LELIS e NASCIMENTO, 2009) explicam que o trabalho desenvolvido por meio de
projetos interdisciplinares permite que o professor tenha flexibilidade para articular diferentes
conhecimentos e potencializar as aprendizagens dos alunos. Dessa forma, o aluno pode
envolver-se em situações que suscitem questionamentos, críticas, sobretudo, acerca do
contexto social e econômico no qual vivemos e ainda reconhecer seu papel na sociedade. Isto
porque, o projeto interdisciplinar é um plano de ação que oferece uma capacidade
metodológica rica, instigante, interessante e favorece a escolha de meios necessários para a
concretização da aprendizagem. Possibilita, também, compreender que o conhecimento não é
fragmentado e, portanto, a compartimentalização das disciplinas precisa ser superada. Com
esse enfoque, o aluno deixa de ser tratado como um receptor de informações e passa a atuar
como produtor de conhecimento.
Vale lembrar que a realização de um projeto envolve a escolha de um tema e esta é
uma etapa importante que pode ficar a cargo do professor, da equipe pedagógica ou ocorrer
em parceria com os alunos. Entretanto, acreditamos que ouvir as opiniões dos alunos e decidir
o tema de modo coletivo pode aguçar ainda mais o interesse e a curiosidade dos estudantes,
além de facilitar o desenvolvimento do sentimento de apropriação dos estudos que serão
realizados (HERNÁNDEZe VENTURA, 1998).
O apelo dessa abordagem está na originalidade da experiência, considerando que os
estudantes assumem o papel de parceiros no encaminhamento do trabalho e, normalmente, se
comportam como tal. Na realização do trabalho são envolvidos em atividades reais que são
investigadas/abordadas em articulação com os conteúdos curriculares previstos para serem
trabalhados naquele determinado segmento, o que lhes permite atribuir um significado que
extrapola os limites da sala de aula (BARBOSA, 2011).
OBJETIVO GERAL
Identificar conhecimentos produzidos/adquiridos por licenciandos, a partir da
preparação e implementação de um projeto interdisciplinar na educação básica.
METODOLOGIA
As informações referentes a esta pesquisa foram coletadas por meio dos registros
produzidos por 4 alunos da graduação, matriculados em 3 diferentes cursos de licenciatura de
uma universidade pública federal, sendo 2 deles ligados ao curso de Ciências Biológicas; 1
vinculado ao curso de Letras e 1 aluna oriunda do curso de Matemática. Os registros foram
feitos por meio de anotações contínuas em seus respectivos diários pessoais, fichas
individuais preenchidas com base nas aulas observadas na escola parceira, filmagens e fotos.
Esse material foi compartilhado/analisado durante as reuniões com a professora universitária,
coordenadora da pesquisa. Essas, por sua vez, eram realizadas semanalmente ou
quinzenalmente, dependendo da necessidade e do andamento do trabalho. As reuniões tiveram
por finalidade promover: a seleção e o estudo de obras relacionadas aos problemas apontados;
a elaboração e a implementação de atividades ligadas aos temas e aos conteúdos selecionados
para o projeto; a produção e a análise de materiais didáticos; a avaliação da aprendizagem dos
alunos, dos professores e de todo o processo implementado.
As avaliações do trabalho ocorreram ao longo de todo o processo e desencadearam
novas ações num processo denominado “ciclo colaborativo” (IBIAPINA, 2008), sendo
realizado por meio da adoção “[...] de procedimentos essenciais para a construção de
processos efetivos de investigação que partam dessa abordagem” (Ibid., p. 38). Em cada um
deles foram previstas situações específicas – aproximação com a escola, elaboração e
implementação do projeto, por exemplo – sempre abertas às modificações, de acordo com o
desenrolar da ação, pois estes procedimentos além de não serem estanques, muitas vezes
ocorreram simultaneamente.
No caso dos temas contemplados no projeto desenvolvido na escola, vale esclarecer
que durante o primeiro semestre de 2014 realizamos um período de aproximação com a
escola, no qual tivemos a oportunidade de conhecer as reais necessidades e interesses dos
alunos e professores e contribuir com a implementação do trabalho. Isto favoreceu a
construção de laços de confiança e respeito entre os envolvidos, o que nos permitiu instigar os
alunos a definirem o tema e a se envolverem no processo de desenvolvimento do projeto.
As informações adquiridas durante o período de aproximação com a escola serviram
como referência para a elaboração do projeto, que foi preparado em acordo com o referencial
teórico estudado (FAZENDA, 2011; HERNÁNDEZ e VENTURA, 1998) e em sintonia com
os conteúdos previstos para serem ensinados nesta etapa da Educação Básica. Para tanto, no
decorrer do período de aproximação, observamos o cotidiano dos alunos, seus interesses e
dificuldades, as práticas adotadas pelos docentes e as relações que se estabeleceram naquele
espaço. Utilizamos este período, para dialogar com os professores de Ciências, Matemática e
Língua Portuguesa para que, juntos, pudéssemos definir os conteúdos e a data de início do
projeto (segundo semestre de 2014).
As disciplinas citadas foram escolhidas por fazerem parte da grade curricular do
Ensino Fundamental e por termos condições de atuar nesses campos, considerando a
formação universitária dos quatro licenciandos envolvidos.
Ao final da fase de aproximação com a escola, instigamos os alunos a elencarem os
temas de seu interesse e realizamos uma votação. Os mais votados foram Astronomia e
Informática e, com base nesta escolha organizamos as atividades relacionadas ao projeto em 8
encontros, que contaram com a colaboração ativa dos alunos e professores.
Os resultados decorrentes dessa investigação encontram-se em fase de organização e
categorização, para que posteriormente possamos descrevê-los e analisá-los em sintonia com
o referencial teórico adotado.
REFERÊNCIAS
AQUINO, J. G. A indisciplina e a escola atual. Revista da Faculdade de Educação.
Disponível
em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010225551998000200011&lng=pt&nrm=iso> Acesso em 29 de março de 2014.
BARBOSA, M. C. S. Trabalhando com projetos. In: Maria Isabel H. Dalla Zen e Maria Luisa
M. Xavier. Planejamento em destaque: análises menos convencionais. Porto Alegre: Editora
Mediação, 2011. p. 152.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto/Secretaria de Educação Fundamental.
Parâmetros Curriculares Nacionais. Brasília: MEC/SEF, 1998. 8 v.
FAZENDA, I. C. A. Integração e interdisciplinaridade no ensino brasileiro. Efetividade
ou ideologia; 6ª. São Paulo: Edições Loyola, 2011. p. 176.
HERNÁNDEZ, F. VENTURA, M. Os projetos de trabalho: uma forma de organizar os
conhecimentos escolares. A organização do currículo por projetos de trabalho. [trad.] Jussara
Haubert Rodrigues. 5ª. Porto Alegre: Artmed, 1998.
IBIAPINA, Ivana Maria Lopes de Melo. Pesquisa Colaborativa: investigação, formação e
produção de conhecimento. Brasília: Líber Livro Editora, 2008.
LELIS, I. NASCIMENTO, M. G. (Orgs.). O trabalho docente no século XXI: quais
perspectivas?. 1ª. Rio de Janeiro: Forma e Ação, 2009.
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