Para se ter uma mudança holística em termos de qualidade de ensino, é necessário que
exista um conteúdo interdisciplinar, pois a vivência do curso superior não pode continuar a se basear em conhecimentos fundamentados na colcha de retalhos, da justaposição de informações de
especializações. Dificilmente eles encontram a interação entre as disciplinas que compreendem
um conjunto de conhecimentos específicos.
Todo o conjunto de conhecimentos, por sua vez, gera métodos, materiais e planos de ensino.
É nesse momento que a interdisciplinaridade entra, com a interação entre duas ou mais disciplinas,
partindo da comunicação até à integração mútua de conceitos, terminologias, procedimentos e metodologias.
A interdisciplinaridade é também uma forma de compreender e modificar o mundo.
Sabe-se que o termo interdisciplinaridade ainda não possui um sentido único e estável, embora as distinções e terminologias sejam muitas, o princípio é sempre o mesmo.
Segundo Hilton Japiassú (1975) “A interdisciplinaridade caracteriza-se pela intensidade das
trocas entre especialistas e pelo grau de integração real das disciplinas no interior de um mesmo
projeto de pesquisa”
Georges Gusdorf, desenvolvendo uma filosofia da história, apresenta uma evolução das
preocupações interdisciplinares, ressaltando a importância de uma nova visão, desde os sofistas e
os romanos até a atualidade, a mais de 30 anos anteviu a possibilidade da criação de uma teoria
interdisciplinar que desse conta da “abertura de olhar”, quando as ciências humanas timidamente
iniciavam e ousavam criar essa perspectiva de constituição de um homem mais humano e livre
para o próximo milênio.
A crise que atravessa a civilização contemporânea, buscando uma volta ao saber unificado,
denota a existência, conforme Hilton Japiassú (1976), de uma “Patologia do Saber”, efeito e causa
da dissociação e fragmentação das existências humanas no mundo em que vivemos.
É importante salientar, ao dissertar sobre a interdisciplinaridade, a influência do Positivismo
presente no nosso meio. Segundo Lück (1994), “O modelo positivista tem por objetivo explicar os
fenômenos, com vistas a redizê-los e contá-los em razão do quê sua orientação é conservadora.
Conseqüentemente generaliza informações de sua realidade”.
É relevante que, anterior à influência do positivismo, voltamos aos tempos pré-socráticos
e encontramos o saber como unidade. Na metafísica também existia essa modalidade que se
perde quando o universo é visto como pluriverso. Depois do processo de industrialização, avanço
tecnológico, homem versus máquina, conseqüentemente, ocorre o que vivemos hoje que são as
especializações.
Então o saber é fragmentado pelo processo social da competitividade. Processo hoje dentro
das universidades, mas acrescido de auto-afirmação não só profissional, mas também pessoal e
política, onde é negada a verdadeira ética. Cada disciplina é chavão pessoal singular, não esquecendo de que todas as disciplinas são importantes dentro do contexto interdisciplinar, colocadas
num micro objetivo primordial e também com um projeto pedagógico, onde assim possa ocorrer a
verdadeira construção do conhecimento.
Sabemos que nossa natureza micro-socio-cultural dissimula essa interação. Afinal, todas as
ciências são humanas. Tais equívocos multiplicam-se quando o prestígio de algumas ciências e
ou algumas disciplinas se impõem ao de outras.
Parece relevante relembrar que as disciplinas surgiram da necessidade de se sistematizar e
organizar o conhecimento de forma a produzi-lo e utilizá-lo melhor, mas também da preocupação
em manter uma unidade significativa do conhecimento. Parece que a própria idéia de interdisciplinaridade é baseada na procura de uma unidade do conhecimento, buscada fundamentalmente
pelo critério de utilização prática das especialidades já existentes.
Em fevereiro de 1970, um grupo de especialistas veio aprofundar na pesquisa e educação,
conforme documento de Guy Michand; tentando estabelecer o papel da interdisciplinaridade e suas
vinculações com a universidade, estabelecendo alguns pontos de partida à elucidação de alguns
conceitos onde até então se tem procurado definir a interdisciplinaridade que, às vezes, perde na
diferenciação de aspectos que esse termo mantém com determinados prefixos usados antes da
palavra disciplina com: MULTI, PLURI, TRANSdisciplinaridade, conforme defendido por Japiassú
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