Roteiro para avaliar uma negociação Luiz Augusto Costacurta Junqueira Minha experiência na preparação de serviços de consultoria e treinamento no campo da negociação tem mostrado a necessidade de um instrumento que possa ajudar os negociadores na avaliação da eficiência de suas transações. Não importa muito qual o tipo de negociação (produtos, serviços, idéias, etc.), ou a área em que ela ocorre (compras, vendas, governo, etc), o essencial é fazê-la passar pelo crivo de um roteiro de avaliação. É verdade que o resultado da negociação é muito importante; mas se vamos voltar a negociar coma mesma pessoa é critico que passemos a considerar também o andamento do processo da negociação. Certamente a próxima negociação poderá ser beneficiada ou prejudicada em função de como foi conduzida a negociação anterior. Para melhor utilização do roteiro, é importante que o leitor procure lembrar-se de fatos e situações que possam levá-lo ao diagnóstico da existência de algum problema / disfunção durante a negociação. Busque quantificar os eventuais problemas / disfunções e qualificar seus causadores. A seguir, apresento alguns problemas que mais comumente aparecem durante uma negociação: 1. Não observância de uma sequência durante o processo de negociação (etapas), que seriam: preparação (planejamento prévio, abertura, exploração, identificação das necessidades / expectativas do outro), clarificação (esclarecimento de duvidas), ação final (identificação dos sinais de compra, proposta de prazo para fazer o negócio), controle / avaliação (avaliação do previsto / realizado e planejamento da próxima negociação); 2. Identificação prévia de objetivos máximos e mínimos (margem de concessão) – quanto menor a margem de negociação tanto mais radicalização tende a acontecer; 3. Despreocupação com as características do outro negociador – negociar tendo em vista apenas as próprias necessidades é favorecer o aparecimento de conflitos. É importante pensar no outro, no que ele gosta, no que não gosta, como reage, qual a linha de argumentação, etc, 4. Inexistência de preocupação em baixar a tensão relativa a relacionamento no início da negociação (quebra – gelo) – no início de uma negociação é preciso quebrar a tensão causada por um contrato novo; uma piada, um elogio, um comentário sobre determinado livro são idéias que podem ajudar; 5. Inexistência de busca de pontos comuns entre os negociadores – não utilização de perguntas descritivas, destinadas a obter fatos e informações (no início do processo de negociação), predominando questões avaliativas (julgamentos, opiniões, etc.). Perguntas sobre fatos não provocam tomada de decisão, e tendem a aproximar e criar um clima positivo para a negociação; 6. Inexistência de definição clara à outra parte das características, soluções e benefícios do que está sendo proposto – é importante mencionar quais são as soluções e benefícios, considerando principalmente o ponto de vista do outro; 7. Inexistência de perguntas destinadas à clarificação de dúvidas reais e potenciais, eliminação de resistências incubadas – se a outra parte sente nossa preocupação com suas dúvidas, mesmo que potenciais, isto aumenta a confiança entre os negociadores; 8. Não aceitação dos sentimentos alheios (“feelings”) – por mais ilógico que pareça o ponto de vista do outro procure transmitir a ele não sua discordância, mas a possibilidade de convivência entre os dois enfoques; 9. Não aceitação da lógica do outro negociador (fatos, dados concretos, etc.) – se a idéia lhe parece lógica, lembre-se que o outro é diferente de você, pensa diferente de você procure não acirrar essas diferenças; 10. Inexistência de flexibilidade durante o processo de negociação – idéias diferentes das suas não são necessariamente ruins ou lembre-se de que toda mudança pode ser vista como uma ameaça ou como uma oportunidade; 11. Problemas de confiança causados ao outro negociador pelo seu comportamento quanto a falta de credibilidade (não cumpre o que promete); falta de coerência ( não dizer o que pensa, querer sempre agradar); falta de receptividade (não conviver com diferenças individuais); falta de clareza (não compartilhar informações relevantes); 12. Encurralamento e/ou pressão demasiada sobre o outro negociador – pessoas pressionadas tendem a radicalizar, dar o troco, etc. Procure deixar sempre uma saída honrosa para a outra parte; 13. Dificuldade em ouvir a outra parte, sem interrupções – saber ouvir é uma das grandes ferramentas do bom negociador, pois concorre para a criação de um clima de cooperação na negociação; 14. Despreocupação quanto à criação de um clima positivo - em decorrência, predominância de um clima defensivo no processo de negociação; evitar agressões, pressões, saber ouvir, acreditar no outro, trabalhar mais com fatos do que com opiniões contribuem para um clima positivo; 15. Uso demasiado de linguagem e terminologia técnica para confundir a outra parte – as pessoas tendem a radicalizar, não cooperar, quando não compreendem algo ou se sentem inferiorizadas tecnicamente; 16. Preocupação demasiada em ver e defender ou seu lado da questão, esquecendo que a outra parte também tem seus interesses – uma boa proposta sempre tem de apresentar vantagens para as duas partes; lembre-se, no entanto, de que as vantagens não precisam ser necessariamente iguais na sua distribuição ou na mesma “moeda” (uma parte pode querer dinheiro, a outra status, reconhecimento, etc); 17. Inexistência de alternativas para um único problema, com fixação em apenas uma linha de ação – para negociar é preciso haver opção, sem isso não há negociação; 18. Inexistência de caracterização daqueles objetivos realmente essenciais para o outro negociador – muitas vezes uma idéia / produto não é comprada porque não se conseguiu mostrar à outra parte quais as efetivas vantagens para essa outra parte; 19. Concentração apenas nas fraquezas do outro negociador – é um dos maiores criadores de conflito e radicalização durante a negociação (lembre-se de quando você pretende vender seu carro e o outro apenas enfatiza os pontos fracos do veículo, o que acontece ?); Estes são alguns dos problemas / inadequações mais comuns ao processo de negociação. Ao planejar ou avaliar qualquer negociação procure usar o roteiro como uma lista de verificação relativamente ao que fazer ou não fazer. Voltamos a lembrar que o “produto” da negociação é fundamental, mas certamente um bom produto inexistirá sem um adequado “processo”.