Curso de Pensamento Crítico Filosofia Prática e Pensamento Crítico FLUP Tomás Magalhães Carneiro [email protected] O que significa “Pensamento Crítico”? - escreva uma definição - Algumas definições John Dewey – O Pensamento Crítico é o estudo activo, persistente e cuidado de uma crença ou de uma suposta forma de conhecimento através da análise dos fundamentos que a apoiam e das conclusões para que apontam. Algumas definições Robert Ennis – O Pensamento Crítico é um pensamento razoável e reflectido, preocupado em ajudar-nos a decidir em que acreditar ou o que fazer. Algumas definições Michael Scriven – O Pensamento Crítico é uma interpretação e avaliação activa e competente de observações, comunicações, informações e argumentos. Algumas definições Richard Paul – O Pensamento Crítico é uma forma de pensamento – acerca de qualquer assunto ou problema – no qual o pensador melhora a qualidade dos seus raciocínios recorrendo a técnicas que lhe permitem captar as estruturas inerentes ao pensamento e impondo-lhes padrões intelectuais elevados. Padrões Intelectuais Clareza Precisão Exactidão Pertinência Profundidade Padrões Intelectuais Clareza Como clarificar um argumento? 1- “Pode desenvolver o que disse por outras palavras?” 2 – “Consegue ilustrar o que disse?” (esquema, desenho, analogia, uma metáfora, um modelo…) 3 – “Pode dar-me um exemplo?” (ligar o pensamento à vida real) Padrões Intelectuais Precisão Acrescenta detalhe e especificidade a essa clareza Exemplo: - “Queres comer?” - “Sim.” É uma resposta bastante clara – “Sim” – mas não diz especificamente o que se quer comer. Pergunta: “Pode dar-me os detalhes?” Padrões Intelectuais Exactidão A um bom argumento não basta ser claro e preciso, é também necessário que a sua conclusão seja verdadeira. O contexto da pergunta determina o grau de precisão e exactidão relevante da resposta. Padrões Intelectuais Pertinência Os nossos argumentos adequam-se ao tipo de problema / pergunta que procuramos responder? Padrões Intelectuais de Profundidade Sempre que uma pergunta é complexa a profundidade da resposta é importante. Não é possível lidar com uma pergunta complexa de forma superficial. O contexto ajuda-nos a perceber a complexidade da pergunta. Exemplo: Quem és tu? Esta é uma pergunta simples ou complexa? Somos Livres? – simples ou complexa? Competências e Técnicas do Pensador Crítico identificação (análise) e avaliação dos diferentes elementos presentes num raciocínio (razões, conclusões, pressupostos, valores, informações, explicações, exemplos, analogias, etc.); clarificação e interpretação de expressões e ideias; avaliação da credibilidade de afirmações; analisar, avaliar e formular explicações; analisar, avaliar e tomar decisões; concluir correctamente a partir das razões apresentadas; produzir argumentos claros e precisos. Estrutura do Curso Módulo I – Análise de argumentos Módulo II – Avaliação de argumentos Módulo III – Formulação de argumentos Estruturação do Curso: objectivos gerais de cada um dos módulos Módulo I – Análise de argumentos. No fim deste módulo os alunos deverão conseguir dominar as técnicas mais básicas de Pensamento Crítico que lhes permitirão, com alguma facilidade, compreender o significado dos argumentos, identificar e analisar a estrutura dos raciocínios, assim como começar a produzir os seus próprios raciocínios e argumentos de forma mais clara e precisa. Estruturação do Curso: objectivos gerais de cada um dos módulos Módulo II – Avaliação de argumentos. Neste módulo espera-se que os alunos já saibam quando estão diante de um raciocínio e que saibam identificar as diferentes partes de um argumento (Módulo I). Agora procurar-se-á iniciar os alunos na área do Pensamento Crítico propriamente dito incentivando os alunos a avaliar criticamente os argumentos que têm pela frente. Estruturação do Curso: objectivos gerais de cada um dos módulos Módulo III – Formulação de argumentos. Neste módulo procuraremos pôr em prática os ensinamentos dos dois módulos anteriores. Os alunos serão incentivados a escrever os seus próprios argumentos sobre os mais variados temas, a apresentálos nas aulas e a discuti-los com os seus colegas. Espera-se que os alunos aprendam a exprimir e defender bem as suas ideias. Módulo I 1 - Argumentos, Razões e Conclusões 2 - A linguagem do raciocínio 3 - Pressupostos 4 - A estrutura dos argumentos - mapas de argumentos 5 – Os cinco passos da análise 6 - Exercícios Módulo I 1 - Argumentos, Razões e Conclusões Módulo I 1 - Argumentos, Razões e Conclusões Como sabemos se estamos diante de um argumento? Estamos diante de um argumento quando estamos perante um raciocínio que procura atingir uma conclusão. Argumentar é, por isso, diferente de discutir, descrever alguma coisa, insultar, pedir, perguntar, explicar, etc. Por outras palavras, estamos a argumentar quando apresentamos razões para defender uma determinada conclusão. Módulo I 1 - Argumentos, Razões e Conclusões O que é uma conclusão e como a descobrimos num argumento? Uma conclusão é a mensagem que o argumento quer que aceitemos. Descobrimos a conclusão de um argumento perguntando: o que é que o autor do argumento quis provar? Uma conclusão pode surgir num argumento na forma de uma recomendação, de uma validação de uma crença, um conselho, um aviso… Módulo I 1 - Argumentos, Razões e Conclusões O que é uma razão e para que serve? As razões (ou razão) são as partes de um argumento que apoiam a conclusão, ou seja, são as razões que nos levam a defender determinada conclusão. Importante Argumentar não é simplesmente apresentar informações, é apresentar uma conclusão baseada em informações ou razões. Sem conclusão não temos argumento. Módulo I 1 - Argumentos, Razões e Conclusões Exercício_1 Quais das seguintes passagens são um argumento? Se for um argumento indica a sua conclusão Módulo I 1 - Argumentos, Razões e Conclusões a) O Joaquim saiu a correr da alfândega, com relógios e diamantes a cairem da sua mala enquanto fugia. Ao chegar à paragem de táxis esta estava cheia de passageiros. Joaquim correu até ao táxi mais próximo e apontou uma arma ao motorista e gritou: “Para a baixa, rápido!” O táxi arrancou e virou para a saída do aeroporto para a auto-estrada. Módulo I 1 - Argumentos, Razões e Conclusões b) Muitos problemas ambientais não podem ser resolvidos por acções individuais ou locais, por exemplo, a poluição provocada pelos automóveis é um problema à escala mundial. Como tal, tais problemas só podem ser resolvidos através de uma acção internacional. Módulo I 1 - Argumentos, Razões e Conclusões c) No século XVII a cannabis era usada para tratar todo o tipo de doenças, desde espasmos musculares a reumatismo. Agora o seu uso é ilegal mesmo para fins medicinais. Foi descoberto que a cannabis pode ajudar a aliviar os sintomas da esclerose múltipla. Módulo I 1 - Argumentos, Razões e Conclusões Importante Quando procuramos argumentos estamos à procura de razões e de conclusões. Ou seja estamos à procura de razões que apoiem uma conclusão e não à procura de frases e opiniões sem ligação umas com as outras. Módulo I - Análise 1 - Argumentos, Razões e Conclusões Exercício_2 Para a conclusão apresentada escolhe aquela que achas que é a melhor razão. Conclusão: Os dadores de sangue deviam ser pagos. 1) A recolha de sangue é um processo muito caro. 2) As pessoas que dão sangue normalmente fazem-no porque querem ajudar os outros. 3) Existem muito poucos dadores de sangue e o pagamento iria incentivar mais pessoas a dar sangue. Módulo I – Análise 2 - A linguagem do raciocínio Módulo I – Análise 2 - A linguagem do raciocínio Algumas palavras indicadoras de razões e de conclusões: “Porque...”; “Como tal”; “Portanto...”; “Além disso…”; “Acredito que…”; “Pois…”; “Em primeiro lugar…”; “Em segundo lugar…” “E ainda…”; “No entanto…”; “Dessa forma...”; “Consequentemente...”; ; “Daí concluo que...”; “Sou forçado a admitir que...”; ; “Temos de aceitar que...”; “Uma vez que…”; “Dado que...”; ; “Se aceitarmos estas razões…;“Temos de concluir que...”; “Por isso…”; “As razões são…”; “Se… então…”; Módulo I - Análise 2 - A linguagem do raciocínio Exemplo de argumento sem palavras indicadoras Comprei o meu bilhete de avião há mais de dois meses. A TAP tem de me pagar uma indemnização pelos prejuízos que me causou. O hotel que reservei no Brasil para passar as férias já está pago. Não tenho culpa da greve de pilotos que me fez perder o avião. Exercício_3 Encontra as razões e a conclusão deste argumento. Re-escreve o argumento de forma clara usando as palavras indicadoras nos locais adequados: Módulo I – Análise 2 - A linguagem do raciocínio Argumento com palavras indicadoras Comprei o meu bilhete há mais de dois meses e já paguei o hotel que reservei no Brasil para passar as férias. Além disso não tenho culpa da greve dos pilotos que me fez perder o avião, por todos esses motivos acho que a TAP deve pagar-me uma indemnização pelos prejuízos que me causou. Módulo I – Análise 3 - Pressupostos Módulo I – Análise 3 - Pressupostos Na tradição do Pensamento Crítico entendese por pressuposto uma premissa que não está explícita no argumento, mas que o autor toma por garantida. Módulo I – Análise 3 - Pressupostos Exercício_4 Encontra os pressuposto em que autor dos seguintes argumentos tem de acreditar para que as suas conclusões sejam verdadeiras: 1) O cérebro das mulheres é em média mais pequeno que o dos homens, daí podemos concluir que as mulheres são menos inteligentes que os homens. Pressuposto: o tamanho do cérebro de uma pessoa indica o seu grau de inteligência. Módulo I – Análise 3 - Pressupostos 2) Como o gelo dos Pólos está a derreter, a temperatura do planeta deve estar a aumentar. Por esse motivo é de esperar que o nível das águas do mar continue a subir, inundando muitas das zonas costeiras do planeta. Pressuposto A única explicação para o derretimento do gelo dos pólos é o aumento da temperatura do planeta. Módulo I – Análise 3.1 - O que é preciso saber sobre pressupostos 1) Quando identificamos os pressupostos de um raciocínio/argumento estamos a identificar as ideias que o autor tem de dar por garantidas para que as suas razões apoiem a conclusão. Para identificar um pressuposto temos de aprender a ler “entre as linhas” do argumento. Módulo I – Análise 3.1 - O que é preciso saber sobre pressupostos 2) Ao tornarmos visíveis as partes invisíveis dos argumentos estamos a contribuir para a sua melhor compreensão, i.e., para saber que elementos desse raciocínio os pressupostos apoiam. Módulo I – Análise 3.1 - O que é preciso saber sobre pressupostos 3) Existem pressupostos factuais (o autor pressupõe que algo acontece, aconteceu ou acontecerá) e pressupostos valorativos (o autor tem determinados valores dos quais depende a conclusão do argumento). - ver glossário Módulo I – Análise 3.1 - O que é preciso saber sobre pressupostos 4) Existem pressupostos necessários para as razões serem verdadeiras e pressupostos necessários para passarmos das razões para as conclusões. Ou seja, um pressuposto pode apoiar uma razão, uma conclusão intermédia ou a ligação de uma destas para a conclusão. Módulo I – Análise 3.1 - O que é preciso saber sobre pressupostos 5) Depois de identificarmos um pressuposto é altura de perguntarmos se é verdadeiro ou falso. Módulo I – Análise 4 - A estrutura dos argumentos - mapas de argumentos - Módulo I – Análise 4 - A estrutura dos argumentos Ao analisarmos as várias estruturas possíveis dos argumentos percebemos que as razões podem apoiar as conclusões de diferentes maneiras. Razões independentes – apoiam sozinhas a conclusão Razões conjuntas – precisam do apoio de outras razões para apoiarem a conclusão Conclusões intermédias – funcionam ao mesmo tempo como conclusão e razão que apoia a conclusão principal. Módulo I – Análise 4 - A estrutura dos argumentos – mapas de argumentos Uma forma de tornarmos visível a estrutura de um argumento é através do desenho de um mapa do argumento. Módulo I – Análise 4 - A estrutura dos argumentos – mapas de argumentos Exercício_5 Encontra a estrutura e desenha o mapa dos seguintes argumentos: 1) As pessoas deviam poder fumar em todo o lado. Fumar não é ilegal e, além disso, milhões de pessoas têm muito prazer em fumar. A estrutura deste argumento é a seguinte: Conclusão - As pessoas deviam poder fumar em todo o lado Razão 1 - Fumar não é ilegal. Razão 2 – (…) milhões de pessoas têm muito prazer em fumar Módulo I – Análise 4 - A estrutura dos argumentos – mapas de argumentos Desenha o mapa da estrutura dos seguinte argumentos: As pessoas deviam poder fumar em todo o lado (C). Fumar não é ilegal (R1) e, além disso, milhões de pessoas têm muito prazer em fumar (R2). R1 R2 C Este é um exemplo de um mapa de argumento com razões independentes em que cada uma das (duas) razões é capaz de, por si só, apoiar a conclusão. Módulo I – Análise A estrutura dos argumentos – mapas de argumentos Exercício_6 A poluição nos nossos rios está a aumentar a cada ano que passa (R1). Quanto mais poluído for um rio, mais danos são causados aos animais que nele vivem.(R2) Como tal, a menos que se faça algo em relação à poluição dos rios o número de animais que vivem nos rios irá diminuir drasticamente (CI). Contudo, não existem planos para diminuir a poluição dos nossos rios (R3). Por isso muitos dos animais que vivem nos nossos rios irão morrer (C). R1 + R2 CI + R3 C Este é um mapa de argumento com duas razões conjuntas (R1 e R2) e uma conclusão intermédia que, aliada a uma terceira Razão (R3) de forma também conjunta conduz à conclusão principal. Exercício_7 - Desenhar um argumento com pressupostos Como o gelo dos Pólos está a derreter (R), a temperatura do planeta deve estar a aumentar (CI). Por esse motivo é de esperar que o nível das águas do mar continue a subir, inundando muitas das zonas costeiras do planeta (C). Press: A única explicação para o derretimento do gelo dos pólos é o aumento da temperatura do planeta. Assim, o mapa deste argumento é o seguinte: R + [Press] CI C Na verdade podemos encontrar ainda outro pressuposto neste argumento. Onde? Módulo I – Análise 5 – Os cinco passos da análise Módulo I – Análise 5 – Os cinco passos da análise 1 – Encontrar o Tema e a Conclusão Principal do argumento. 2 – Quais são as Razões apresentadas? 3 – Que palavras ou frases são ambíguas / vagas? 4 – O argumento depende de algum pressuposto? Qual? 5 – Qual a estrutura do argumento? Desenha o Mapa do Argumento. Módulo I – Análise 6 - Exercícios Módulo I – Análise 6 - Exercícios 1 - Lê os seguintes argumentos. 2 - Sublinha e indica as Razões e as Conclusões dos argumentos. 3 - Constrói um mapa do argumento e encontra os seus pressupostos. 4 – Indica a função que esse pressuposto desempenha no argumento: é uma razão adicional ou uma conclusão intermédia? Módulo I – Análise Exercício_8 (5 min.) O boxe é o único desporto cujo objectivo é deixar os adversários inconscientes. Na verdade é o único desporto em que um atleta tem autorização para lesionar o outro. Deve ser, como tal, o desporto mais perigoso de todos. Já foram propostas algumas soluções para estes problemas – uso obrigatório de luvas e capacetes – mas nenhuma delas eliminaria o perigo de lesões graves. Por todos estes motivos o boxe devia ser proibido. Módulo I – Análise Exercício_9 (5 min.) Na China é comum as crianças começarem a trabalhar em fábricas e nos campos, muitas vezes ainda antes de começarem a andar. Alguns governos ocidentais têm feito pressão com o governo chinês no sentido de este acabar com estas situações. No entanto esta é uma questão cultural do povo chinês. Há centenas de anos, se não mesmo há milhares de anos, que é comum as crianças trabalharem para ajudarem os seus pais. Os governos ocidentais não têm o direito de criticar o governo Chinês Módulo I – Análise Exercício_10 (20 min.) Análise Crítica dos argumentos de 1) São Tomás de Aquino 2) Spinoza 3) Bergson 4) Nietzsche - ver anexos - Módulo II – Avaliação de argumentos. Módulo II - Avaliação Estrutura do Módulo II Os três focos da avaliação Cinco perguntas da avaliação Resumo dos Módulos I e II Exercícios Módulo II - Avaliação Síntese Depois de termos compreendido bem o argumento e dissecado a sua estrutura, é agora altura de perguntarmos se um argumento é um bom argumento, é altura de avaliarmos o argumento. Módulo II - Avaliação Os três focos de avaliação I – Avaliar as razões II – Avaliar o raciocínio III – Avaliação Final Módulo II - Avaliação As cinco perguntas da avaliação I – Avaliar as razões 1 – Concordas com as razões apresentadas? 2 – Aceitas os seus pressupostos (factuais ou valorativos)? II – Avaliar o raciocínio 3 – Existem falácias no raciocínio? 4 – Que outras conclusões são possíveis? III – Avaliação final 5 – Qual a avaliação final do argumento? Módulo II – Avaliação I – Avaliar as razões 1 – Concordas com as razões apresentadas? As razões apresentadas no argumento são verdadeiras?; prováveis?; plausíveis?; verosímeis?; credíveis?; duvidosas? O seu contexto é importante?; A fonte é credível?; Precisamos de ouvir um perito?; São compatíveis com o nosso conjunto de crenças? Aceitas as razões? Quais? Todas? Só algumas? Nenhumas? Módulo II – Avaliação I – Avaliar as razões 2 – Aceitas os seus pressupostos? Os pressupostos do argumento são pressupostos de valor ou factuais? Até que ponto concordas com os pressupostos do argumento? Podes confirmar a sua veracidade? Que papel desempenham no argumento e que consequências tem a sua rejeição para a conclusão final? Módulo II – Avaliação II – Avaliar o raciocínio Vimos que ao avaliarmos um argumento temos de começar por saber se: I - as razões apresentadas no argumento são verdadeiras? e II - das razões apresentadas podemos chegar à conclusão do argumento? Importante - Para um argumento ser bom a resposta a essas duas perguntas tem de ser sim! Agora vamos preocupar-nos com II: 3 – Existem falácias no raciocínio? Módulo II – Avaliação II – Avaliar o raciocínio 3 – Existem falácias no raciocínio? É claro que é extremamente importante avaliarmos as razões de um argumento para descobrirmos se é bom ou mau. Se as razões forem más o argumento também será mau. Mas por vezes acontece que as Razões apresentadas são verdadeiras e plausíveis e, mesmo assim, a Conclusão a que o autor chega não é verdadeira ou provável. Quando isto acontece o autor pode estar a cometer uma Falácia. 3 – Existem falácias no raciocínio? Exercício 11 1) Quem faz musculação regularmente tem os músculos bem desenvolvidos. O meu amigo Miguel é todo pele e osso, não tem músculos, por isso quando ele diz que faz musculação quase todos os dias há mais de 3 anos só pode estar a mentir. a) Quais são as razões e a conclusão deste argumento? b) Vamos partir do princípio que as razões são verdadeiras. A Conclusão também é verdadeira? 3 – Existem falácias no raciocínio? Exercício 12 2) Quem faz musculação regularmente tem os músculos bem desenvolvidos. Assim, se o Miguel tem músculos bem desenvolvidos é porque faz regularmente musculação. a) Encontra as razões e a conclusão deste argumento. b) Mais uma vez imagina que as razões são verdadeiras. Parece-te que as razões apoiam a conclusão? Porquê? 3 – Existem falácias no raciocínio? Exercício 13 E quanto a este argumento? Faz uma avaliação seguindo os mesmo passos a) e b). 3) Todos os grandes pensadores tinham uma coisa em comum. Olhem para pinturas e fotografias de Platão, Galileu Galilei, Karl Marx, Darwin e Freud. Todos eles tinham longas barbas. Como tal a sua genialidade e grandeza foi devida às suas barbas. 3 – Existem falácias no raciocínio? O argumento 1) é um bom argumento (assumindo que as razões são verdadeiras). Já os argumentos 2) e 3) são falácias. Podem, há primeira vista, parecer bons argumentos (sobretudo 2), mas se os leres com mais atenção vês que a partir das suas razões não podes chegar à sua conclusão Em 2) mesmo que a razão seja verdadeira e que quem faz musculação regularmente tem os músculos bem desenvolvidos, daí não podemos concluir que o Miguel vai regularmente ao ginásio só porque tem músculos bem desenvolvidos. O Miguel podia muito bem ter ganho esses músculos noutro sítio qualquer que não o ginásio de musculação, como por exemplo na natação, no remo, no rugby ou na construção civil. Já 3) é um simples caso de uma generalização abusiva. 3 – Existem falácias no raciocínio? Exercício 14 4) Fiquei chocada com o Senhor Joaquim por ele ter defendido publicamente que as bebidas alcoólicas deviam pagar menos impostos. É claro que ele defende isso, toda a gente sabe que ele é um grande bêbado. As bebidas alcoólicas devem pagar mais impostos. 3 – Existem falácias no raciocínio? 5) João – Eu sou contra o aborto porque acredito que um feto é um ser humano com direito à vida, tal como qualquer um de nós. Mariana – É claro que tu tens de dizer isso, tu és padre. João – Mas... e quanto à razão que eu apresentei a defender a minha posição? Mariana – Essa razão não conta para nada. Tu és padre e, como tal, só dizes aquilo que o Papa diz para tu dizeres. 3 – Existem falácias no raciocínio? Os textos 4) e 5) que acabámos de ler contêm um tipo de falácia muito comum em discussões e argumentos. Esta falácia tem o nome de ad hominem (que em grego quer dizer “ao homem” – Aristóteles foi o primeiro a catalogar as diversas falácias). A razão porque esta falácia tem este nome é porque ataca o autor do argumento e não o argumento em si. Ora num argumento normalmente não importa o autor do argumento (o seu carácter, o que ele faz, etc.) mas sim o que ele diz, ou seja, as razões que ele apresenta. Assim, ao “atacar o homem” (o autor do argumento) em vez de se “atacar o que o homem diz” (o argumento) está-se a cometer uma falácia. 3 – Existem falácias no raciocínio? É claro que, por vezes, uma informação sobre o carácter de determinada pessoa pode ajudar-nos a decidir se devemos ou não acreditar nela. 3 – Existem falácias no raciocínio? 6) O nosso chefe prometeu que este ano iria subir o salário a todos os empregados da empresa, no entanto o ano passado ele disse a mesma coisa e não o cumpriu. Fez o mesmo há dois anos atrás. E, se bem me lembro, há três anos atrás também. Por isso, uma vez que já estamos habituados às suas mentiras, é de esperar que este ano ninguém seja aumentado. 7) O nosso chefe prometeu que este ano iria subir o salário a todos os empregados da empresa, no entanto nos últimos dois anos ele já foi apanhado a conduzir com álcool no sangue. Por isso é de esperar que este ano ninguém seja aumentado. a) Qual dos dois te parece conter uma falácia ad hominem? b) Qual destes “ataques à pessoa” te parece relevante para a conclusão? Porquê? 3 – Existem falácias no raciocínio? Exercício 15 8) A televisão da Francisca deixou de dar. Ela levantou-se e deulhe um murro. Logo a seguir a televisão começou a dar. Essa é a prova que é possível arranjar a televisão com um simples murro. 9) O Henrique tinha já há alguns anos um grande cravo num dos dedos da mão. Uma tia-avó do Henrique aconselhou-o a descascar uma batata e enterrá-la no jardim numa noite de lua cheia. Três meses depois o cravo desapareceu. Não há dúvida que foi a batata que o curou. 10) A única forma de reduzir o número de crimes é permitir que os cidadãos andem armados. No estado do Texas, desde que em 1980 se legalizou o uso de armas de defesa pessoal o número de crimes violentos baixou cerca de 10%. O que têm em comum todos estes argumentos? 3 – Existem falácias no raciocínio? Os argumentos 8), 9) e 10) têm uma coisa em comum, todos eles concluem que um determinado acontecimento foi a causa de outro acontecimento. Assim, concluiu-se em 8) que o concerto da televisão foi o murro da Francisca; em 9) que o desaparecimento do cravo foi causado pela batata enterrada na noite de lua cheia; e em 10) que mais armas nas mãos das pessoas ajuda a prevenir crimes. 3 – Existem falácias no raciocínio? Todos estes argumentos são falaciosos, uma vez que as suas conclusões não são apoiadas pela força das suas razões, mas apenas pelo facto de essas razões terem acontecido antes daquilo que se quer provar. Ora, o simples facto de uma coisa anteceder temporalmente outra não prova que uma é a causa de outra A este tipo de falácia dá-se o nome latim de post hoc (ergo propter hoc) – a sua tradução é algo como “Depois disto, como tal por causa disto.” Cometer uma falácia post hoc é, basicamente, retirar uma conclusão precipitada. 3 – Existem falácias no raciocínio? Como evitar cair numa falácia Post Hoc Quando nos deparamos com este tipo de argumentos temos de procurar saber se essa relação de causa/consequência existe de facto, ou se é uma mera coincidência. Depois devemos procurar explicações alternativas para as consequências apresentadas. Tenta arranjar uma explicação alternativa para cada uma das razões dos três argumentos acima. Explicações Importante As explicações não são argumentos, mas as explicações podem servir de razões em argumentos. 3 – Existem falácias no raciocínio? Exercício 16 11) Se não estiveres em boa forma física não consegues ganhar um jogo de ténis que chegue aos 5 sets. Mas tu estás em melhor forma que o teu adversário, por isso vais ganhar o jogo. Este argumento é um mau argumento pois apesar de ser necessário eu estar em boa forma física para ganhar um jogo de ténis tão longo, isso não é uma suficiente para eu ganhar o jogo. Também é necessário que eu jogue bem ténis, ou pelo menos tão bem quanto o meu adversário. Esta falácia tem o nome de falácia das condições necessárias e suficientes 3 – Existem falácias no raciocínio? Exercício 17 - Encontra as falácias dos próximos argumentos 12) Se ganhares o euromilhões ficarás multimilionário. Mas tu nunca jogas no euromilhões, como tal nunca ficarás milionário. 3 – Existem falácias no raciocínio? 13) Há muitos anos que os cientistas perguntam quem terão sido os primeiros homens a cozinhar alimentos. Uma vez que cozinhar alimentos requer calor, os primeiros cozinheiros devem ter usado o fogo. Até muito recentemente pensava-se que foram os Homo sapiens que inventaram o fogo há cerca de 200 mil anos. Mas agora alguns cientistas descobriram que uns antepassados dos Homo sapiens, os Homo sapiens heidelbergensis já faziam fogueiras há 400 mil anos. Por isso esses antepassados dos Homo sapiens já cozinhavam alimentos há muito mais tempo que estes. 3 – Existem falácias no raciocínio? 14) As diferenças que existem entre homens e mulheres não nascem connosco, mas são o resultado de educações diferentes dadas aos rapazes e às raparigas. Como tal, os comportamentos dos seres humanos é algo que é ensinado e não algo que nasce connosco. 3 – Existem falácias no raciocínio? 15) Não concordo com a lei que proíbe fumar em locais fechados. Se proibirem primeiro o fumo em locais fechados, depois vão proibir o fumo em espaços abertos e depois o fumo em casa das pessoas. E não só, se começarem aqui, não tarda nada estão também a proibir os churrascos por fazerem muito fumo 3 – Existem falácias no raciocínio? 16) Os jovens que cometam pequenos crimes deviam ser punidos com mais severidade que os adultos que cometam pequenos crimes. Uma vez que um jovem cometa um pequeno crime, como roubar num supermercado, está aberta uma porta para cometer outro crime maior, como roubar um banco. E daqui o jovem passa facilmente para outro ainda maior, como matar. Como tal, se queremos evitar que os jovens delinquentes se tornem grandes criminosos, temos de punir severamente os primeiros crimes dos jovens. 3 – Existem falácias no raciocínio? 17) Se subirmos o preço do tabaco o número de pessoas que fuma diminuirá. O preço do tabaco tem subido ao longo dos anos e o número de fumadores tem descido. 3 – Existem falácias no raciocínio? 18) A maior parte das pessoas poderia ser um génio musical se estas trabalhassem bastante para isso. Um psicólogo estudou a vida de 70 compositores e concluiu que a maioria deles tinha estudado arduamente durante pelo menos dez anos, antes de se tornarem compositores de génio. Mozart, por exemplo, foi obrigado pelo seu pai a estudar horas a fio obras de música e técnicas de composição antes de compor a sua primeira obra de génio aos 12 anos. 3 – Existem falácias no raciocínio? 19) Têm sido cometidos imensos crimes por variadíssimas pessoas em noites de lua cheia. O que se pode concluir daqui é que quando a lua está cheia não devemos confiar em absolutamente ninguém. 3 – Existem falácias no raciocínio? 20) É claro que eu acredito que Deus existe. Temos duas alternativas para explicar a existência do mundo. Ou foi Deus que fez tudo isto à nossa volta, ou então tudo no universo surgiu por mero acaso. Todos os átomos se juntaram e, de repente, surgiram as estrelas, os planetas, as pessoas e os animais. Acho que é mais fácil ganhar mil vezes seguidas no euromilhões que ser verdade que o universo tenha surgido por mero acaso. Tudo na natureza funciona na perfeição, como o mecanismo de um relógio. Como é óbvio que um relógio precisa de um relojoeiro, também é óbvio que Deus existe. 4 – Que outras conclusões são possíveis? Módulo II – Avaliação 4 – Que outras conclusões são possíveis? Pensa em conclusões alternativas às apresentadas no argumento que pretendes avaliar. Problematiza o argumento; procura falhas, outras interpretações possíveis, outro significado para os seus conceitos… É altura de seres criativo e pensar o impensável (ver glossário) por forma a testar todas as possibilidades do argumento. 5 – Qual a avaliação final do argumento Módulo II – Avaliação 5 – Qual a avaliação final do argumento Com todos estas dados na mão agora sim serás capaz de dizer de forma competente e crítica se aceitas ou não o argumento. Poderás querer modificá-lo nalgumas partes, melhorar as suas razões, sublinhar uma dúvida. Podes aceitá-lo em parte ou então, rejeitá-lo completamente. Resumo dos Módulos I e II 1) Análise - encontrar a estrutura do argumento e, se necessário, resumir por palavras nossas esse argumento. 2) Avaliação – avaliação do argumento; para avaliar correctamente um argumento é preciso: a) avaliar cada uma das razões e pressupostos do argumento; b) avaliar o raciocínio e procurar falácias por trás do argumento; ser imaginativo e procurar alternativas tanto às razões como à conclusão; c) avaliação final. Só no fim de todo este processo estarás preparado para fazer a tua avaliação do argumento. É aqui que decides se aceitas ou não a sua conclusão. 6 - Exercícios Módulo II - Avaliação Exercício de Análise Exercício 18 A maior parte dos pais, se pudesse escolher, preferia ter filhos rapazes. Assim, se devido aos avanços da medicina os pais puderem escolher o sexo dos seus filhos é provável que comecem a nascer mais meninos que meninas. Isto pode trazer problemas sociais muito sérios, como tal devemos proibir o uso de técnicas que permitam que as pessoas escolham o sexo dos seus filhos. 1 ) Análise do argumento –Segue os cinco passos da análise e desenha o mapa do argumento. 1 - Encontra o Tema e a Conclusão Principal do argumento. 2 - Quais são as Razões apresentadas? 3 – Que palavras ou frases são ambíguas / vagas? 4 – O argumento depende de algum pressuposto? Qual? 5 – Qual a estrutura do argumento? Desenha o Mapa do Argumento. Módulo II - Avaliação Exercício de Avaliação Exercício 19 A maior parte dos pais, se pudesse escolher, preferia ter filhos rapazes. Assim, se devido aos avanços da medicina os pais puderem escolher o sexo dos seus filhos é provável que comecem a nascer mais meninos que meninas. Isto pode trazer problemas sociais muito sérios, como tal devemos proibir o uso de técnicas que permitam que as pessoas escolham o sexo dos seus filhos. 2) Avaliação do argumento a) Avaliação de cada uma das razões do argumento b) Avaliação do raciocínio – Encontras alguma falácia neste argumento? Imaginas conclusões alternativas ao argumento apresentado? c) Avaliação final –Faz uma breve avaliação final deste argumento. Módulo II - Avaliação Exercício de Análise e Avaliação Exercício 20 Análise e Avaliação Crítica dos argumentos de 1) São Tomás de Aquino 2) Spinoza 3) Bergson 4) Nietzsche - ver anexos - 1 ) Análise do argumento –Segue os cinco passos da análise e desenha o mapa do argumento. 1 - Encontra o Tema e a Conclusão Principal do argumento. 2 - Quais são as Razões apresentadas? 3 – Que palavras ou frases são ambíguas / vagas? 4 – O argumento depende de algum pressuposto? Qual? 5 – Qual a estrutura do argumento? Desenha o Mapa do Argumento. 2) Avaliação do argumento 1) Avaliação de cada uma das razões do argumento 2) Avaliação do raciocínio – Encontras alguma falácia neste argumento? Imaginas conclusões alternativas ao argumento apresentado? 3) Avaliação final – Faz uma breve avaliação final deste argumento. Bibliografia Critical Reasoning – a practical introduction, Anne Thomson, ed. Routledge Critical Thinking – an introduction, Alec Ficher, ed. Cambridge Univ. Press Asking the Right Questions – A Guide to Critical Thinking, M. N. Browne and S.M.Keeley, ed. Prentice Hall Critical Thinking for Students, Roy van den Brink-Budgen, ed. Howtobooks How to think about weird things – Critical Thinking for a new age, T. Schick, Jr. and L.Vaughn, ed. McGraw Hill A Arte de Argumentar, Anthony Weston, ed. Gradiva Fim! Tomás Magalhães Carneiro [email protected] http://filosofiacritica.wordpress.com/