Arquivo <cad22> Título: “Reinventando o Governo” Autor: Ricardo Barbosa da Silveira e Antonio M.A. Calil Professor Responsável: Prof. M.Sc. Durval Corrêa Meirelles Número de Páginas: 17 A. GOVERNO CATALISADOR: NAVEGANDO EM VEZ DE REMAR A administração pública deve entender sua função cada vez mais como catalisadora e facilitadora, definindo s problemas, para reunir recursos que outros usarão a fim de solucionar estes problemas . Essa concepção contradiz com a maneira como os governadores e prefeitos interpretam seu papel . Nos últimos cinqüenta anos , a maioria dos líderes públicos presumia que o papel do governos era unidimensional : coletar impostos e prestar serviços. Na década de 70, poucos prefeitos, governadores ou legisladores poderiam conceber outro modo de governar, pois estavam presos à corrente dos impostos e serviços prestados. O sistema funciona bem enquanto a arrecadação cresce, mas quando a taxa de crescimento diminui, e a crise fiscal surge, a equação muda, e os políticos só enxergam duas saídas para os problemas – aumentar impostos ou dizer não. No Brasil, os líderes políticos da nação fugiram ao dilema aumentando a dívida externa e interna. As restrições orçamentárias de diversas nações do mundo desenvolvido contribuíram para que houvesse uma mudança de rumo na postura dos governantes , os quais deixaram de ser meros supridores de serviços e envolveram-se diretamente na busca de novos negócios que beneficiassem as suas administrações envolvendo parcerias com o setor privado. 4 Ao estudar a atividade governamental nos Estados Unidos, encontramos não menos de 36 alternativas distintas para a prestação tradicional de serviços ao público – 36 instrumentos diferente à disposição dos governos. Algumas delas, como a regulamentação, a política tributária, a contratação, a doação, são antigas e bem conhecidas . Outras, no entanto, são surpreendentes . Encontramos governos que fizeram investimento de capital de risco, criaram instituições financeiras privadas, usaram voluntários para administrar bibliotecas e parques, trocaram terrenos e chegaram a estruturar para encorajar a conservação de energia, a reciclagem de matérias-primas e a proteção ambiental. Segundo Lester Salamon, da Universidade Jonhs Hopkins, “ essa utilização ampla de terceiros para executar tarefas públicas tornou-se, normalmente, o padrão do governo federal na esfera nacional.” Essa forma de governo terceirizado deixa ao governo “ o que ele faz melhor – levantar recursos e estabelecer as prioridades sociais, mediante o processo político democrático – reservando para o setor privado aquilo que é sua especialidade – organizar a produção de bens e serviços. Segundo palavras do governador de New York, Mario Cuomo, “ a obrigação do governo não é prestar serviços ao público, mas garantir que eles sejam prestados. “ Para citar Peter Drucker, no seu livro A Era da Descontinuidade: “Qualquer tentativa de combinar a ação governamental com o fazer , numa escala mais ampla, paralisa a capacidade de decidir. Qualquer tentativa de fazer com que os órgãos decisórios executem leva também a uma execução muito deficiente, porque eles não estão focalizados no modo de executar, nem equipados para isso. Essa não é sua preocupação fundamental.” Os governos que se interessam primordialmente pelo rumo da sociedade, estão empenhados de forma ativa em modelar suas comunidades, seus estados e nações. Tomam um maior número de decisões sobre as políticas a seguir; movimentam um maior número de instituições econômicas e sociais. Alguns deles chegam a regulamentar mais a sociedade . Em vez de admitir mais funcionários, garantem que outras instituições estejam prestando serviço e atendendo às demandas da comunidade. Em contraste, os governos preocupados com a prestação direta de serviços muitas vezes chegam a abdicar da sua função de indicar o rumo para a sociedade. 4 5 Alternativas para prestação de serviços. HÁ MUITOS INSTRUMENTOS À DISPOSIÇÃO DO GOVERNO Identificamos 36 alternativas para prestação de serviços à comunidade pelo governo, que vão das tradicionais às de vanguarda. Elas foram distribuídas arbitrariamente em três categorias: Tradicionais 1. criação de normas legais com sanções 6. doações 2. regulamentação ou desregulamentação 7. subsídios 3. monitoramento e investigação 8. empréstimos 4. licenciamentos 9. garantia de empréstimos 5. política tributária 10. contratações Inovadoras 11. franquias 20. assistência técnica 12. parcerias públicas – privadas 21. informação 13. parcerias públicas – públicas 22. recomendações 14. paragovernamentais 23. voluntários 15. empresas públicas 24. vales 16. compras 25. taxas de impacto 17. seguros 26. catálise de esforços não governamentais 18. recompensas 27. junção de esforços com líderes não governamentais 19. alterações na política de investimento público 28. discussão De vanguarda 29. “semeadura”de dinheiro 33. arranjos quid pro quod 30. investimentos acionários 34. gerenciamento da demanda 31. associações voluntárias 35. venda, troca ou uso de propriedade 32. co-produção ou auto-ajuda 36. reestruturação do mercado Separando a ação de navegar da ação de remar No mundo contemporâneo as instituições públicas precisam também da flexibilidade para reagir a condições complexas que mudam rapidamente. O que se torna difícil se os responsáveis pela condução política da comunidade usarem um único método – a prestação de serviços produzidos pela sua própria burocracia. E se torna virtualmente impossível se os seus empregados não puderem ser transferidos de ocupação quando mudarem as demandas do público – transferidos para organizações não-governamentais, onde podem ter melhor desempenho ou despedidos por não trabalharem bem. Os governos burocráticos 5 6 não podem fazer isso com facilidade devido aos regulamentos de pessoal do serviço público e à estabilidade que confere aos seus funcionários.Com efeito, eles são prisioneiros de um monopólio, fonte exclusiva de força de trabalho: seus próprios funcionários. A navegação requer que se veja todo o universo dos temas e possibilidades e pode contrabalançar demandas diferentes que competem por recursos escassos. Remar é uma atividade que exige concentração numa missão exclusiva, que precisa ser bem executada. Quem navega necessita dos melhores métodos para atingir seus objetivos.Os que se dedicam tendem a defender seus métodos a qualquer preço. Os governos que procuram o mercado podem até mesmo promover a experimentação e aprender com o sucesso. Em contraste, os governos que juntam a orientação e o remo na mesma organização, limitam-se a uma gama de estratégias relativamente estreita. Sua linha de ataque é definida por programas, e não por problemas. Naturalmente, há o temor que usar instituições não-governamentais para remar custe o emprego de muitos servidores públicos. Trata-se de um temor legítimo – na verdade, a perspectiva de desemprego maciço é um dos obstáculos a que os governos de modo mais estimulador. Muitos servidores dos governos burocráticos se consideram prisioneiros de normas e regulamentos, entediados por tarefas monótonas, responsáveis por serviços que , bem sabem, poderiam ser completados em metade do tempo, e pudessem usar a própria cabeça. Quando têm oportunidade de trabalhar para uma organização com objetivo claro e uma burocracia mínima estes funcionários renascem. Os governos que passam do remo para a navegação têm menos trabalhadores envolvidos na prestação direta de serviços, mas um maior número de gerentes, catalisadores e corretores. Têm menos pessoas trabalhando com papéis e mais trabalhadores com conhecimento. 6 7 Segundo Fernando Noriega, Diretor de Desenvolvimento de Tampa na Flórida, “ a melhor reação aos cortes de recursos públicos não é reduzir os serviços prestados, mas encontrar novos modos de fazer as coisas” . Por alguma razão, a filosofia do setor público é a seguinte: quando os recursos são cortados, não há outra saída a não ser cortar também os serviços prestados à comunidade. Algumas vezes os cortes orçamentários fazem surgir melhores oportunidades, porque impõem a necessidade de fazer as coisas de modo diferente. Setor público, setor privado ou um terceiro setor A maioria das pessoas aprendeu que o setor público e o privado ocupam mundos diferentes: o governo não deve interferir nos negócios, e as empresas não devem se imiscuir com o governo. Este era um objetivo central do modelo burocrático. No entanto, vimos que hoje, sob forte pressão para resolver os problemas sociais sem gastar mais dinheiro, os governos procuram o melhor método disponível, não importando em que setor se encontre. Uma alternativa que vem se impondo naturalmente como mecanismo preferencial da sociedade para fornecer bens coletivos é o terceiro setor . Estamos verificando um crescimento muito grande no número de serviços públicos que vêem sendo prestados por organizações do terceiro setor. A privatização é uma resposta, não a resposta Há muito tempo os conservadores argumentam que os governos deveriam transferir muitas das suas funções para o setor privado – abandonando algumas delas, vendendo outras, e contratando empresas para executar ainda outras . É óbvio que, em muitos casos, essa recomendação faz todo sentido. A privatização é um dos instrumentos à disposição do governo. No entanto, é também óbvio que a privatização não representa a solução. Os que advogam com base ideológica – porque acreditam que o setor privado é sempre superior ao governo – estão vendendo ao público uma idéia falsa. 7 8 Aqueles que defendem a privatização em todos os casos, porque não gostam do governo, estão tão enganados quanto aos que se opões a ela em todos os caos porque detestam a mentalidade empresarial. A verdade é que a propriedade de um bem ou serviço, seja público ou privado, é muito menos importante do que dinâmica do mercado ou da instituição que o produz. Os fatores determinantes têm a ver com os incentivos que movimentam os que estão dentro do sistema. Essas pessoas estão sendo motivadas para a excelência? São responsáveis pelos resultados? A autoridade está suficientemente descentralizada, permitindo assim uma flexibilidade adequada ? As recompensas refletem a qualidade do seu rendimento? Perguntas como essas são as mais importantes – Não é tão importante saber se a atividade em questão é pública ou privada. Muitas vezes, quando os governos privatizam uma atividade – contratando uma empresa privada para recolher o lixo ou administrar uma prisão por exemplo – terminam por confia-la a um monopólio particular, e assim aumentam tanto o custo do serviço, quanto a ineficiência! “Não estamos diante de um desaparecimento do estado. Pelo contrário, precisamos de um governo forte, vigoroso, muito ativo. Mas enfrentamos a escolha entre o governo extenso e impotente e o governo forte porque se limita a decidir e a dirigir, deixando o fazer para outrem. Precisamos de um governo que pode e deve governar. Isto é, não um governo que faz ; não um governo que administra – mas, sim, um governo que governa.” Adaptações ao exemplo brasileiro Adaptando o texto acima relatado, ao contexto brasileiro, podemos destacar algumas situações que traduzem de forma clara e objetiva a participação do governo como catalisador. A expressão “navegando em vez de remar” como muito bem empregou Osborne (1992), pode ser utilizado, de acordo com os exemplos abaixo: - Os Bancos de Desenvolvimento estaduais e regionais, criados para implementar políticas de desenvolvimento regional, apoiando a iniciativa privada. Entretanto, pelo uso político destas instituições, os mesmos foram extintos pelo poder central. Para citar alguns exemplos, temos a SUDAM, cuja instituição financeira 8 9 era o Banco da Amazônia; a SUDENE, cuja instituição financeira era o Banco do Nordeste. - Como experiência bem sucedida, podemos mencionar o BNDESPAR, órgão pertencente ao BNDES, que atua junto ao setor privado aportando capital de risco. - Mais recentemente, encontramos o governo estimulando a prestação de serviços voluntários no campo da educação, através do projeto “Amigo da Escola”. - A adoção por parte de organizações não-governamentais e empresas privadas nacionais de áreas de preservação ambiental, parques, jardins e outras áreas de uso comum da população. - Os incentivos fiscais beneficiando as empresas privadas que realizarem investimentos em projetos de natureza cultural, exemplo: Lei Sarney. - A criação do SEBRAE, com o intuito de orientar, analisar e viabilizar projetos para as micros e pequenas empresas. - As atuais agências reguladoras setoriais, tais como a ANP – Agência Nacional de Petróleo, ANATEL – Agência Nacional de Telecomunicações dentre outras. 9 10 B. GOVERNO ORIENTADO PARA O MERCADO: INDUZINDO MUDANÇAS ATRAVÉS DO MERCADO. Os governos sempre usaram, em algumas medidas, os mecanismos do mercado para alcançar seus objetivos. Há muito empregamos o zoneamento urbano para mantermos o crescimento das nossas cidades e dos incentivos fiscais, visando influenciar os gastos dos indivíduos e das empresas. Sempre estabelecemos as regras do mercado, mudando-as, muitas vezes, quando queremos resultados diferentes. Ao serem confrontados com um problema, os funcionários governamentais reagem, instintivamente, procurando um programa administrativo, pois eles acreditam que sua função é administrar e não estruturar o mercado. Numa cidade, num estado, ou nação, os administradores não podem controlar as decisões. Pode haver programas administrativos controlando atividades específicas, mas para gerenciar o conjunto da cidade, seus administradores precisam aprender a estruturar o mercado, criando incentivos para que, com suas próprias decisões, as pessoas se movimentem na direção escolhida pela comunidade. Como exemplo disso, podemos citar a forma como nos Estados Unidos foi tratado o problema das latas e garrafas jogadas nos lixos e locais públicos. No lugar de instituir programas caros elaborados de reciclagem, eles, simplesmente, determinaram que os consumidores fizessem obrigatoriamente um depósito de cinco centavos de dólar em cada lata ou garrafa comprada – valor a ser restituído contra a entrega da lata ou garrafa vazia. O público pode ver a dramática diferença que fez essa “lei do casco” nos estados que a adotaram: menos vidro quebrado nos parques e menos garrafas vazias jogadas nas ruas, além de um volume menor de lixo levado para os aterros. Essa tendências foram estimuladas pelo colapso do comunismo da Europa Oriental, um acontecimento que dramatizou em cores vivas, a superioridade do mecanismo de mercado sobre os sistemas administrativos. 10 11 Isso, entretanto, não significa aceitar a pregação conservadora em favor de “deixar que o mercado decida”. Com efeito, estruturar o mercado, para perseguir um objetivo público, é o contrário de “deixar as coisas para o livre jogo das forças do mercado” – representa, de fato, uma modalidade de intervencionismo. Na verdade, o “mercado livre”, isento de qualquer influência governamental, não existe. Todos os mercados legais são estruturados com regras estabelecidas pelos governos. Portanto, estruturar o mercado é, também, o oposto de criar burocracias administradas pelo setor público para prestar serviços. É uma terceira alternativa, entre os programas administrativos preconizados pelos liberais e o desejo, manifestado pelos conservadores de que o governo não se intrometa com as forças do mercado. É uma forma de usar a alavancagem do setor público para orientar as decisões dos agentes privadas, de modo a alcançar metas coletivas. Como os governos reestruturam o mercado Em sua maioria, os programas administrativos são orientados para mercado. São muitas as maneiras de um governo estruturar o mercado para atingir seus objetivos; elas são usadas todo o tempo – e muitas, como os incentivos fiscais e as taxas de utilização, são tão comuns que mal as notamos. Estabelecendo as regras do mercado É o que os governos têm feito desde que foram inventados. As leis de zoneamento regulam o desenvolvimento imobiliário; há leis que estabelecem normas para o mercado de capital e, até mesmo, algo tão simples, como o mercado dos táxis, é disciplinado por regras públicas. 11 12 O que é importante para que um mercado possa funcionar Alguns mercados têm defeitos sérios. Quando são dominados por um pequeno número de empresas (oligopólio), a verdadeira competição, em grande parte, desaparece. Se os consumidores não têm proteção adequada, muitas vezes são vitimados pelo sistema. Para que funcionem com eficácia e eqüidade, os mercados necessitam de certos elementos, que resumimos abaixo: • Oferta – deve haver uma oferta adequada do serviço ou produto em questão – seja ele o cuidado à infância, os abrigos para os idosos, habitação popular ou os lares coletivos para retardados mentais. Deve existir um número suficiente de fornecedores, para assegurar a competição. • Demanda – os clientes devem dispor de suficiente poder aquisitivo para adquirir o produto ou serviço, e o desejo de usar esse poder. No mercado de retreinamento profissional, por exemplo, muitos clientes individuais não têm condições de adquirir tal serviço. E muitas empresas não são estimuladas a treinar seus empregados, porque, às vezes, os perdem, depois de treinados, para os concorrentes. • Acessibilidade - os que vendem, devem ter acesso fácil aos que compram. Em certos casos, é necessário usar corretores para desenvolver as transações. Já em serviços, como o treinamento profissional, a intermediação é rara. • Informação – quando os consumidores não têm informação adequada sobre o preço, a qualidade e os riscos de um produto ou serviço, suas decisões ficarão prejudicadas. Terminarão pagando um alto preço por um produto inferior. • Regras – normalmente são fixadas pelos governos. • Policiamento – como em qualquer outra atividade, os que pretendem agir de forma predatória contra pessoas desinformadas, precisam saber que poderão ser punidos. Usando o Código Tributário para formar o preço das atividades O incentivo fiscal é, sem dúvida, o método preferido para provocar mudanças no mercado. Usando incentivos fiscais para estimular as pessoas a comprar casas e a fazer doações de caridade; se encoraja as empresas a dar mais emprego e a investir em pesquisa e 12 13 desenvolvimento. Se usam também os impostos para desencorajar o que não se quer proibir, como fumar cigarros. Formando o preço das atividades mediante taxas de impacto Chamamos “taxa de impacto” ao tributo destinado a cobrir o custo social de uma atividade, onerando diretamente os que a exercem, como a de dirigir automóvel, que além de provocar poluição também danifica as estradas. Orientação do mercado aplicada a outra função do governo: “Regulamentação” A regulamentação é um campo completamente diverso, no qual os governos tradicionais empregam mecanismos de comando e controle: estabelecem regras e esperam que as pessoas as respeitem. Entretanto, a estratégia de comando e controle apresenta uma série de inconvenientes: - em primeiro lugar, não altera os incentivos econômicos subjacentes, que motivam as empresas e os indivíduos. As empresas, muitas vezes, fazem o possível para contornálos, de forma legal ou ilegal. Gasta-se muito tempo e dinheiro lutando contra as regras. - Em segundo lugar, a estratégia de comando e controle se baseia na ameaça de penalidades mas, num ambiente político, muitas dessas penalidades nunca podem ser avaliadas. - Em terceiro lugar, a regulamentação do tipo comando e controle é um processo muito lento. - Em quarto lugar, quando especifica a tecnologia a ser usada pela indústria para controlar a poluição, a regulamentação desestimula a inovação. - Em quinto lugar, porque a abordagem do comando e controle impõe os mesmos requisitos às indústrias de todo o país e, por isso, é extremamente dispendiosa. - Em sexto lugar, porque a abordagem do comando e controle obriga a focalizar, primariamente, as organizações maiores, no setor público e no privado. - Finalmente, a regulamentação pelo sistema do comando e controle tende a focalizar os sintomas e não as causas. Um exemplo é o caso da norma que exige tecnologias 13 14 específicas para os automóveis, mas não levam em conta quanto tempo as pessoas dirigem. A política da regulamentação por meio do mercado: incentivos em lugar de comandos Há vinte anos os economistas têm-nos dito que há uma maneira simples de evitar esses problemas. Escreve James Q. Wilson: “Os economistas que estudaram o assunto, são quase unânimes em afirmar que o modo mais eficiente de reduzir a poluição seria cobrar uma taxa às empresas poluidoras. Os órgãos de controle ignorou o conselho e tem preferido levar os poluidores aos tribunais”. Como acontece com as outras taxas de impacto, a idéia é garantir que todos, produtores e consumidores, sejamos inteiramente responsáveis pelos custos e conseqüências das nossas decisões, quando somos nós mesmos que tomamos essas decisões. Isto se consegue incluindo o custo da poluição para a sociedade no custo do produto – seja gasolina, pesticidas e outros. Os economistas se referem a esses custos sociais como “custos externos”. Peter Drucker mostra que, no passado alguns desses custos externos já foram levados em conta: “no século passado, todos os países desenvolvidos transformaram os acidentes industriais da empresa envolvida de custo externo em custo direto: todos esses países adotaram o sistema pelo qual o empregador se responsabiliza por um prêmio de seguro em favor dos trabalhadores, calculado com base na sua própria experiência com acidentes de trabalho, o que torna os prejuízos, causados pelas operações pouco seguras, um custo direto da empresa.” O surgimento de mercados mais inteligentes As estratégias baseadas no mercado, como as que descrevemos, só são possíveis porque a era da informação aumentou, radicalmente, nossa capacidade de medir a poluição e quantificar o seu impacto. Só na década passada, por exemplo, desenvolvemos monitores contínuos de emissões tóxicas, capazes de medir as emissões de enxofre de uma usina, ou 14 15 sistemas eletrônicos que podem registrar os automóveis que passam por uma rodovia e em que momento, permitindo a cobrança de pedágio sem a presença humana. As empresas estão desenvolvendo sistemas que poderão medir a poluição dos gases emitidos pelos automóveis, à medida que eles forem passando por um ponto determinado da estrada. Tecnologias como essas tornam possível usar os mecanismos do mercado de diversas maneiras, há dez anos fora do nosso alcance. O Instituto de Futuros Alternativos (Institute for Alternative Futures), dirigido pelo futurologista Clement Bezold, chama essa tendência de “a emergência de mercados mais inteligentes”, nos quais compradores e vendedores têm acesso a uma informação muito mais ampla do que acontecia anteriormente. Reestruturando os mercados dentro do setor público Os mercados não existem só no setor privado, como também dentro do setor público. Normalmente, nós os chamamos de “sistemas”: o sistema de educação, o de treinamento profissional e o de ensino. Se aplicássemos o pensamento orientado para o mercado a esses sistemas público, conseguiríamos bons resultados. Infelizmente, poucas pessoas pensam no governo dessa maneira. Até, mesmo, os empresários abandonam sua visão empresarial quando trabalham com o governo. A idéia é aplicar, ao setor público, a mesma análise com que procuramos compreender como funciona o mercado, e perguntar: o que há de errado aqui? Que está faltando? Será demanda, informação ou competição? Que elementos do mercado precisam ser aperfeiçoados para que ele funcione efetivamente? Que outros sistemas públicos precisam mudar para tornar possível esta mudança? O sistema de orçamento, de pessoal, de recursos humanos? Há quem prefira chamar esse exercício de abordagem sistêmica. Alguns governos fazem isso; os que adotam a Administração da Qualidade Total (TQM – Total Quality Management), por exemplo, aprendem que, tipicamente, 85% dos problemas em uma operação derivam dos sistemas, e só 15%, das pessoas envolvidas. 15 16 Equilibrando os mercados e a comunidade Muito do que discutimos neste livro poderia ser resumido sob o título do governo orientado para o mercado: não só as mudanças de sistema, mas também a competição e as opções do consumidor, a responsabilidade pelos resultados e, naturalmente, a iniciativa privada no setor público. Mas os mecanismos do mercado representam apenas metade da equação. Os mercados são impessoais e não perdoam; mesmo aqueles, mais cuidadosamente estruturados, tendem a levar a resultados pouco eqüitativos. Por isso, acentuamos, também, a outra metade da nossa equação: a transferência de poder para as coletividades. Precisamos do calor e do cuidado das famílias, dos vizinhos e das comunidades, para complementar a eficiência e efetividade dos mecanismos de mercado. Governo reinventando: uma visão de conjunto “ A forma assumida (pela inovação social, de 1875 à década de 30) foi a criação de instituições de serviço público... Os próximos 20 ou 30 anos vão ser muito diferentes. A necessidade de inovação social poderá ser ainda maior, mas terá de ser, em larga medida, uma inovação social dentro das instituições de serviço público que já existem. A tarefa política mais importante desta geração poderá ser, portanto, o empreendedora desenvolvimento nas de instituições uma de administração serviço público existentes.” (Peter Drucker, Innovation and entrepreneurship, apud Osborne, David; Gaebler, Ted). Experiências brasileiras incentivando e induzindo mudanças Dentro deste contexto, e a partir da década de 1990, notamos que o governo brasileiro tem adotado medidas contemplando algumas mudanças necessárias na economia, com a 16 17 participação da iniciativa privada, sendo o processo de privatização o principal indutor desta estratégia. - Um exemplo bem sucedido no Brasil, diz respeito ao processo de reciclagem de latas de alumínio e papel. O Brasil, hoje uma posição de destaque, como o terceiro maior reciclador de latas de alumínio do mundo. Com isso, criou-se uma nova forma de obtenção de renda, apesar de informal, abrigando um contingente considerável de pessoas que estavam alijadas do mercado de trabalho. - Um outro exemplo, é a coleta de lixo que deixou de ser uma função única e exclusivamente do setor público, para ser explorada também pelo setor privado. - Dentro do processo de privatização, constatamos a participação governo através da criação das agências reguladoras dos setores de telecomunicações, petróleo, energia elétrica, saúde, que tem como finalidade precípua regular e orientar os respectivos mercados. - Os incentivos fiscais para implantação de projetos que contribuam para o fortalecimento do emprego, e aumento do nível de desenvolvimento regional. - A criação do Banco do Povo, através do BNDES – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, que tem como missão de apoiar as iniciativas empresariais informais, que poderão vir integrar-se à economia formal após o crescimento e estabilização do seu negócio. - 17 18 CONCLUSÃO Dentro do contexto brasileiro, apesar de algumas intervenções positivas, conforme alguns exemplos citados no corpo deste trabalho, como o estímulo à coleta de lixo e de reciclagem de materiais; a criação das agências de desenvolvimento, SUDAM e SUDENE, iniciativas ao trabalho voluntário Amigo da Escola, o processo de privatização, a criação de agências setoriais reguladoras, órgãos como o SEBRAE etc., podemos observar que ainda sofremos de forma acentuada, com a atuação do governo em alguns setores da economia, de forma desastrosa. Como exemplo podemos citar a excessiva carga tributária e a elevadíssima taxa de juros, que incide sobre a população brasileira inibindo iniciativas empreendedoras e reduzindo a disponibilidade de renda, o que favoreceria um aumento de investimentos e da própria arrecadação. Podemos também ressaltar a ineficiência administrativa de algumas agências reguladoras em uma de suas diversas responsabilidades, que seria acompanhar as distorções de mercado, como o não cumprimento das metas de investimento e operacionais para um melhor atendimento à população. Como um forte exemplo, é aquele que estamos vivendo no momento, no que toca o setor de energia elétrica. Apesar do conhecimento do governo no que se refere ao crescimento da demanda em função das próprias metas econômicas, constatamos a total ineficiência da intervenção da agência reguladora, quanto as necessidades previstas de investimentos. O fato de termos de racionar energia e ainda pagarmos caro pela cota excedente que o próprio governo estipula, e considerando o atual problema como uma conseqüência da sua má atuação, fica claro que ainda estamos num estágio embrionário no processo de quebra de paradigmas que compõem o contexto da nossa abordagem. Sendo assim, podemos concluir que neste contexto do “governo catalisador: navegando em vez de remar” e do “governo orientado para o mercado: induzindo mudanças através do mercado”, já foram implementadas algumas iniciativas bastante positivas do governo brasileiro. 18 19 BIBLIOGRAFIA OSBORNE, David e GAEBLER, Ted. Reinventando o governo. Brasília: Editora MH Comunicação, 8ª edição, 1992. GIAMBIAGI, Fábio. Finanças públicas. Rio de Janeiro: Campus, 1999. 19