0 UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Faculdade de Ciências – Campus Bauru Departamento de Educação Licenciatura em Pedagogia GABRIELY CABESTRÉ HIPERATIVIDADE: O QUE ACONTECE NA SALA DE AULA? BAURU 2010 1 GABRIELY CABESTRÉ HIPERATIVIDADE: O QUE ACONTECE NA SALA DE AULA? Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Educação da Faculdade de Ciências - UNESP, Bauru, como parte dos requisitos para obtenção do título de graduação em Pedagogia, sob a orientação da Professora Doutora Eliana Marques Zanata. Orientadora: Profa. Dra. Eliana Marques Zanata BAURU 2010 2 Cabestré, Gabriely. Hiperatividade: o que acontece na sala de aula? / Gabriely Cabestré, 2010. 79 f. : il. Orientador: Eliana Marques Zanata. Monografia (Graduação)–Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências, Bauru, 2010. 1. Hiperatividade. 2. TDAH. 3. Sala de aula. 5. Inter-relação. I. Universidade Estadual Paulista. Faculdade de Ciências. II. Título. 3 GABRIELY CABESTRÉ HIPERATIVIDADE: O QUE ACONTECE NA SALA DE AULA? Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Educação da Faculdade de Ciências - UNESP, Bauru, como parte dos requisitos para obtenção do título de graduação em Pedagogia, sob a orientação da Professora Doutora Eliana Marques Zanata. Banca Examinadora: __________________________________________________ Profa. Dra. Eliana Marques Zanata – Orientadora Faculdade de Ciências – Unesp – Bauru __________________________________________________ Prof. Dr. Antonio Francisco Marques Faculdade de Ciências – Unesp – Bauru __________________________________________________ Profa. Dra. Vera Lúcia Messias Fialho Capellini Faculdade de Ciências – Unesp – Bauru Bauru, 11 de novembro de 2010. 4 DEDICATÓRIA __________________________________________________________ Aos meus pais, Luiz e Cristina, que me apoiaram e incentivaram. Ao meu noivo, Paulo, pela paciência e amor imensurável. À minha irmã, Nathalia, querida e companheira. Ao meu querido irmão, Marcelo, minha inspiração em conhecer o mundo dos hiperativos, bem como, alternativas pedagógicas. 5 AGRADECIMENTOS __________________________________________________________ À Deus pelo dom da vida e ar que respiro. À querida e admirável mestra Eliana Marques Zanata pela sabedoria, empenho, paciência e por passar tranquilidade no que parecia difícil em terminar. Obrigada pela confiança, dedicação e ensinamento. Aos membros que compõe a banca, Vera e Antonio, que se predispuseram em participar, contribuir e somar a esta pesquisa. À Escola Estadual, pela oportunidade de realizar este trabalho, abrindo as portas e recebendo com toda atenção. Aos participantes desta pesquisa que estavam sempre prontos e não negaram nenhuma informação. À todos que direta ou indiretamente contribuíram para finalização deste trabalho. 6 EPÍGRAFE __________________________________________________________ _ Tenho andado distraído Impaciente e indeciso E ainda estou confuso Só que agora é diferente Estou tão tranquilo E tão contente Quantas chances desperdicei Quando o que eu mais queria Era provar pra todo o mundo Que eu não precisava Provar nada pra ninguém “Quase sem querer” (Legião Urbana) 7 RESUMO A hiperatividade vem sendo discutida com frequência, pesquisada e acompanhada, porém é importante investigar o aluno, as inter-relações que existem na sala de aula e tudo o que acontece nesse âmbito, quais as dificuldades, facilidades e comportamentos. Pretendeu-se com este trabalho contribuir para a área da educação, buscando respostas para os questionamentos sobre hiperatividade e o que acontece na sala de aula, ou seja, esse foi o objeto de estudo: a sala de aula e sua dinâmica. Trata-se de uma pesquisa de campo que teve como objetivo analisar os aspectos educacionais e de inter-relação pessoal aluno-aluno e professor-aluno em uma sala de aula de inclusiva em que haja um aluno com hiperatividade devidamente diagnosticado. Foi proposto traçar um perfiL do aluno hiperativo, uma vez que se constitui em um estudo de caso. O sujeito da pesquisa foi um aluno do 3º ano do Ensino Fundamental de escola pública estadual, diagnosticado clinicamente como hiperativo e que conta com acompanhamento familiar, escolar e médico. Para coleta de dados foi elaborado um protocolo de observação, preenchido diariamente. O aluno foi observado durante dois meses, em dias e horários alternados, totalizando 18 aulas. Foram feitas entrevistas com a professora e a mãe do aluno com o intuito de traçar o perfil do aluno participante. Após a compilação dos dados, foi possível encontrar as respostas dos questionamentos que motivaram esta pesquisa, sendo possível identificar o despreparo dos professores em lidar com aluno hiperativo em sala de aula; a generalização de comportamentos, considerando vários alunos como hiperativo, porém sem diagnóstico; necessidade de adaptar o conteúdo, porém de forma adequada e não apenas recreativa; falta de diálogo entre escola e família. Palavras-chave: hiperatividade, TDAH, sala de aula, inter-relações, inclusão. 8 ABSTRACT Hyperactivity has been frequently discussed, researched and monitored, but it is important to investigate the student, the interrelationships that exist in the classroom and everything that happens in that context, what are the difficulties, facilities and behaviors. The intention of this work contribute to the education, seeking answers to the questions about hyperactivity and what happens in the classroom, or that was the object of study: classroom and its dynamics. This is a field study aimed to analyze the educational aspects and inter-personal relationship student-student and studentteacher in an inclusive classroom where there is a student with hyperactivity properly diagnosed. It was proposed to draw a profile of the hyperactive student, since it constitutes a case study. The research subject was a student of 3rd year of elementary school to public school, clinically diagnosed as hyperactive and who is backed by family, school and doctor. For data collection was developed an observation protocol, completed daily. The student was observed for two months on alternate days and times, totaling 18 classes. Interviews were conducted with the teacher and the student's mother in order to profile the student participant. After compiling the data, we can find the answers of the questions that motivated this research, it is possible to identify the unpreparedness of teachers to deal with hyperactive students in the classroom, the spread of behaviors, considering many students as hyperactive, but no diagnosis; need to adapt the content, but properly and not just recreational; lack of dialogue between school and family. Keywords: hyperactivity, ADHD, classroom, interrelations, inclusion. 9 LISTA DE ILUSTRAÇÕES __________________________________________________________ FIGURA 1 – Córtex Cerebral.....................................................................................17 FIGURA 2 – Planta da sala de aula...........................................................................54 QUADRO 1 – Características da Hiperatividade em Idade Escolar...........................19 QUADRO 2 – Comportamentos associados ao TDAH segundo Barkley..................21 QUADRO 3 – Boletim para um programa doméstico de gratificações voltado ao comportamento em sala de aula................................................................................37 QUADRO 4 – Comportamentos durante as atividades..............................................47 QUADRO 5 – Comportamentos constantes durante as aulas...................................48 QUADRO 6 – Relação aluno x aluno.........................................................................49 QUADRO 7 – Relação aluno x professor...................................................................50 QUADRO 8 – Dificuldades apresentadas pelo aluno durante as aulas.....................51 QUADRO 9 – Atitudes da professora durante a aula, acerca do aluno hiperativo....................................................................................................................55 10 LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS __________________________________________________________ HTPC – Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo. TC – Transtorno de Conduta. TDA – Transtorno de Déficit de Atenção. TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. TDO – Transtorno Desafiador Opositivo. 11 SUMÁRIO 1 Introdução......................................................................................................13 2 Definição e Breve Histórico da Hiperatividade...........................................16 3 Aspectos Médicos e Educacionais..............................................................24 3.1 Aspectos Médicos............................................................................................24 3.2 Aspectos Educacionais....................................................................................26 4 Hiperatividade na sala de aula......................................................................29 4.1 Formação e informação dos professores sobre Hiperatividade......................29 4.2 Ensino e sala de aula inclusiva........................................................................31 4.3 A convivência em sala de aula........................................................................32 4.4 Amizades.........................................................................................................33 4.5 Alternativas em sala de aula............................................................................34 5 Metodologia....................................................................................................39 5.1 Formulação do problema.................................................................................39 5.2 Definição da unidade caso..............................................................................40 5.3 Determinação do número de caso...................................................................41 5.4 Elaboração do protocolo..................................................................................41 5.5 Coleta de dados...............................................................................................42 5.6 Avaliação e análise de dados..........................................................................42 5.7 Preparação do relatório (apresentação dos resultados)..................................43 6 Apresentação e discussão dos resultados.................................................44 6.1 Observações....................................................................................................44 6.2 Discussões.......................................................................................................46 6.3 Entrevista com a professora............................................................................58 6.4 Entrevista com os pais.....................................................................................61 12 7 Considerações Finais....................................................................................65 Referênciais..............................................................................................................69 Apêndice...................................................................................................................71 13 1 Introdução A Hiperatividade é um tema polêmico que vem sendo pesquisado cada vez mais. Há uma necessidade em compreender tal transtorno que afeta crianças e adultos, na capacidade de inibir reações como o impulso e autocontrole. É necessário que diretores, coordenadores, professores, pais, alunos, a sociedade em geral, tenham conhecimento sobre este transtorno, afim de não “rotular” crianças hiperativas como “indisciplinadas”, já que na maioria das vezes é assim que são denominadas, uma vez que o transtorno apresenta sintomas similares a tal mau comportamento, porém são distintos. Atualmente há uma grande procura de educadores e familiares por informações e orientações acerca da hiperatividade, principalmente quando se dá o ingresso da criança na Educação Infantil e/ou Fundamental. Neste momento os professores começam a apontar as discrepâncias de comportamento desta criança, porém devemos tomar cuidado para não dar ao professor à responsabilidade do diagnóstico. O transtorno da hiperatividade realmente existe, contudo, a afirmativa do diagnóstico necessita de avaliação clínica, cuja responsabilidade e competência não são dos professores. Por outro lado, comportamentos inadequados, agitação e inquietação presentes no dia a dia da sala de aula não dão autoridade ao professor de afirmar que todas as crianças são hiperativas, mas sim estabelecer indicativos. Mediante a premissa presente nas escolas atualmente, a delimitação deste tema de pesquisa se deu por meio de inquietações e indagações tais como: A escola e os professores são capazes ou não de identificar características de um aluno com hiperatividade? Ou, por outro lado, há uma generalização de comportamentos inadequados classificados como hiperatividade? Há ou não a necessidade de se adaptar conteúdos e processos de avaliação para atender as necessidades especiais de um aluno com hiperatividade? O que a sala de aula deveria ter ou oportunizar para que o aluno com hiperatividade tivesse sucesso educacional? Nos estudos sobre prevalência de escolares com sintomas de TDAH, encontramos na literatura de 3 a 5% das crianças. Em relação ao sexo, as 14 pesquisas mostram o predomínio do transtorno em meninos, essa predominância é 9:1 em relação às meninas. Estes números são encontrados em literatura estrangeira, conforme obra de Barkley (2008). Uma pesquisa realizada por Fontana et al. no Brasil em 2003 no município de São Gonçalo (Rio de Janeiro) registrou a prevalência de 13% em quatro escolas da região e a proporção masculina: feminino foi 2:1. Percebemos que há grande variação na prevalência dos sintomas de TDAH que vai de 0,5% a 26% em estudos já realizados no mundo. Nesse sentido, e com tamanha incidência de temas correlatos e diretamente relacionados à hiperatividade, é de suma importância a proposição de estudos que promovam a descrição e colaborem para a construção do conhecimento científico, no que diz respeito aos aspectos educacionais de crianças acometidas da hiperatividade. Justifica-se também, pela necessidade latente frente à quebra de paradigmas e o preconceito com diagnósticos incorretos, pela sociedade e/ou profissional não qualificado. Em se tratando especificamente da área educacional, é imprescindível que o professor tenha a formação e informação, para poder identificar atributos indicativos da hiperatividade em sala de aula, oportunizar o encaminhamento sem, contudo tomar a frente quanto ao diagnóstico. O intuito é sempre o de promover um ambiente de aprendizagem efetivo, acolhedor e que atenda as necessidades especificas dos educandos. Essa prática passa, sem dúvida, pela competência e formação e informação do educador. O ambiente escolar é vasto, envolve escola, diretor, professor, aluno, família, estrutura, intervalo entre as aulas. Sendo este estudo constituído apenas como um trabalho de conclusão de curso, a proposta é analisar os aspectos educacionais e de inter-relação pessoal aluno-aluno e professor-aluno. O objeto de estudo é então definido como sendo a sala de aula inclusiva e sua dinâmica, em que haja um aluno com hiperatividade devidamente diagnosticado. Tem como objetivos específicos: levantar quais são os aspectos educacionais que influenciam no desenvolvimento do aluno com hiperatividade em sala de aula comum; observar e descrever os comportamentos sociais e interpessoais existentes em sala de aula comum envolvendo o aluno com hiperatividade, seu professor e seus pares; mapear e descrever o ambiente escolar, especificamente a sala de aula, e analisar suas inter-relações. 15 Nesta pesquisa foi realizado um estudo de caso que de acordo com João Cardoso Palma Filho (2004) é uma estratégia de pesquisa a fim de investigar os dados com profundidade. Trata-se de um estudo de caso realizado em uma única sala de aula, do 3º ano do Ensino Fundamental da Rede Estadual, com um aluno hiperativo devidamente diagnosticado, com acompanhamento clínico, familiar e escolar. Esta pesquisa foi embasada teoricamente nos estudos de Abram Topczewski, Benczik e Rohde, Bonet, C. Keith Conners, Goldstein e Goldstein, Russel A. Barkley e Sylvia Maria Ciasca. O leitor encontrará no primeiro capítulo a definição de hiperatividade de acordo com os autores contemplados, as associações, características do transtorno e todo embasamento teórico. Já no segundo capítulo foram abordados os aspectos educacionais e a influência da hiperatividade no desenvolvimento escolar da criança e quais recursos podem ser utilizados tanto pedagógicos quanto médicos. No terceiro capítulo aborda o eixo central da pesquisa que é a Hiperatividade na sala de aula, na qual será explicitado ao leitor todo o universo da sala de aula, como se dá a convivência e relação entre os envolvidos. O quarto capítulo apresenta a metodologia utilizada na pesquisa, como foi realizada, local, participantes, etc. O quinto capítulo apresenta os resultados encontrados nesta pesquisa, as observações, entrevistas, o que foi possível constatar e por fim no sexto capítulo são apresentadas as considerações finais deste trabalho, que nos instiga a querer saber e entender este transtorno que está tão presente no nosso dia a dia. 16 2 Definição e Breve Histórico da Hiperatividade Neste capítulo a proposta foi abordar questões relevantes frente à hiperatividade, especificamente quanto a sua definição e breve histórico. Tal levantamento bibliográfico foi feito por meio de materiais disponíveis nas bibliotecas UNESP e USP, e foram contemplados os autores Barkley, Benczik e Rohde, Bonet, Ciasca, Conners, Goldstein e Goldstein, Topczewski. De acordo com Barkley (2008) umas das primeiras referências de Hiperatividade foi publicada no ano de 1965, com os autores George Still e Alfred Tredgold, que se dedicaram à pesquisa sobre crianças com os comportamentos que hoje conhecemos como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). No período de 1920 a 1950 houve grande interesse pelo TDAH na América do Norte, devido a uma crise epidêmica de encefalite1, uma vez que as crianças que sobreviveram ficaram com sequelas comportamentais e cognitivas, eram limitadas à concentração e impulsividade. Nesse período, consideravam que as crianças que possuíam essa lesão cerebral deviam ser educadas e tratadas fora de casa, longe da educação normal. Na década de 1950 crianças com hiperatividade eram consideradas indivíduos com transtorno de impulso hipercinético, ou seja, havia excesso de estimulação que chegava ao cérebro. Ao final dessa década foi aceita a hiperatividade como lesão cerebral, mesmo não tendo evidências de tal lesão (BARKLEY, 2008). Acompanhando as publicações científicas, verificamos que no período de 1960 a 1969 o termo disfunção cerebral mínima, foi substituído por nomenclaturas específicas para os transtornos cognitivos comportamentais, como: dislexia, transtorno de linguagem, dificuldades de aprendizagem e hiperatividade. As pesquisas clínicas avançaram e mostraram que a hiperatividade está relacionada ao Transtorno Déficit de Atenção (TDA) assim denominado por volta dos anos 70. Com isso o transtorno recebeu um novo nome por volta de 1987, passando a se chamar Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). São raros os 1 De acordo com o Dicionário Aurélio, trata-se da inflamação no encéfalo. 17 livros que tratam a hiperatividade de forma isolada, constantemente está associada ao TDAH, pois de certa forma a mesma é um déficit de atenção, visto que o indivíduo não consegue focar, tem “atenção” em diversos elementos ao mesmo tempo, ou seja, acaba não se atendo em nenhum foco “específico” o que implica no déficit. Quanto a sua origem, há pesquisas que apontam que a Hiperatividade é predominantemente de base genética relacionada ao desenvolvimento/ funcionamento do cérebro. As causas também, podem estar relacionadas, aos genes que produzem a dopamina e noradrenalina, que são produzidas em maior quantidade. Assim, segundo Abram Topczewski (1999) a hiperatividade é genética, predominando a existência de casos entre familiares próximos (pai, mãe, irmão, tio ou avó), e é considerada uma disfunção orgânica, pois envolve várias áreas do cérebro, conforme descrito na figura 1. FIGURA 1 - Córtex cerebral. Fonte: CIASCA, S. Maria. TDAH: Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade / Sylvia Maria Ciasca, Sonia das Dores Rodrigues, Cíntia Alves Salgado. Rio de Janeiro: Revinter, 2010. 18 De acordo com Ciasca (2010), caracterizam o TDAH fatores neurológicos e neuropsicológicos, sendo eles: A) Diminuição no metabolismo de glicose em áreas pré-frontais, regiões anteriores, caudado e cerebelo, tornando-as subativas. B) As áreas pré-frontais são ricas em dopamina, estão associadas tanto à inibição do comportamento, como a outras funções executivas. C) O funcionamento reduzido de determinadas vias pode gerar comprometimentos distintos em nível comportamental e motor no TDAH (CIASCA, 2010, p.33). Para Ciasca (2010), há também, fatores ligados à gestação e ao parto que podem desencadear a hiperatividade, como a toxemia2 gravídica, eclampsia3, duração do parto, estresse fetal, baixo peso, hemorragia pré-parto, exposição ao chumbo, rubéola, encefalite, meningite e traumatismo cranioencefálico. Conners (2009) cita que para os especialistas há dificuldade na definição de TDAH devido às diferentes apresentações, além disso, há controvérsias acerca do diagnóstico, porém isso se dá pela incapacidade de seguir as diretrizes recomendadas. Segundo ele, há evidências científicas que sugerem que o transtorno tem base biológica para causas existentes, porém fatores ambientais afetam significadamente o quadro, tais como presença de chumbo no ambiente, o tabagismo4, consumo de álcool durante a gravidez, traumas infantis, negligência ou abuso. Vejamos a definição que Conners (2009) cita no livro Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade: as mais recentes estratégias de avaliação e tratamento. O transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) é um dos transtornos mentais diagnosticados com maior frequência em crianças, sendo responsável por 30 a 40% dos encaminhamentos para clínicas de orientação infantil, pediátricas, de atendimento familiar e de clínica geral. O TDAH também, é responsável por uma porcentagem significativa dos encaminhamentos de adultos para tratamento. O transtorno mental crônico começa cedo e apresenta um curso de desenvolvimento e um quadro de sintomas característicos ao longo da vida. Os sintomas do TDAH frequentemente dificultam o desempenho social, escolar e ocupacional em várias situações. Cabe salientar que tais sintomas não são causados por outros transtornos mentais (CONNERS, 2009, p.9). 2 De acordo com o Dicionário Aurélio, trata-se de intoxicação do sangue. De acordo com o Dicionário Aurélio, trata-se de um estado caracterizado por uma série de convulsões. 4 O tabagismo durante a gravidez é o fator mais importante de risco para TDAH. 3 19 Ainda, de acordo com Conners (2009), são atribuídas como características de crianças hiperativas, comportamentos de sobe e desce, de não parar na cadeira enquanto assiste à televisão, correr para a rua sem olhar para os lados, pular de um telhado por “parecer legal”, envolver-se em atividades motoras ininterruptas, sendo mais inquietas do que as outras crianças enquanto dorme. O autor aponta algumas características descritas na idade escolar conforme quadro 1: QUADRO 1 – Características da Hiperatividade em Idade Escolar. - Distrai-se facilmente enquanto realiza tarefas; - Hiperativo; - Pouco organizado; participa de atividades sem tarefas a serem cumpridas; - Não completa deveres de casa nem outros projetos; - Pertuba em sala de aula, age como o palhaço da turma; - Constantemente entediado; - Interrompe; - Não espera a sua vez; - Impulsivo; - Demonstra agressividade; - Tem crescente dificuldade de relacionamento com colegas. Fonte: Adaptado pelo pesquisador do texto de CONNERS, C. Keith. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: as mais recentes estratégias de avaliação e tratamento. Tradução Marina Fodra. – 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009. Segundo Bonet (2008) os comportamentos das crianças hiperativas se manifestam da seguinte forma: ü As crianças são ativas. ü Elas estão em “constante movimento”: movimentam mãos e pés, balançam o corpo, etc. ü Não conseguem ficar sentadas ou quietas. Se permanecem sentadas por muito tempo, mudam de posição e se balançam. ü Tocam tudo com as mãos. ü O movimento dessas crianças parece não ter uma meta, é a atividade pela mera atividade: perambulam e vagam sem sentido nem objetivo. ü Falam demais, verborragia constante. ü Cantarolam, fazem barulhos com a boca, assobiam. ü Mordiscam, chupam, mordem tudo (lápis, borracha, mangas da camiseta). ü Elas têm menos necessidade de descansar e dormir (BONET, 2008, pp.36-37). 20 Ainda apresenta inabilidade motora, que se manifesta da seguinte forma: ü Dificuldades na motricidade grossa para, por exemplo, manter o equilíbrio ou realizar movimentos coordenados. ü Dificuldades na motricidade fina que podem ser observadas no uso do lápis, da tesoura, do caderno, do apontador, e trabalhos manuais no geral, desenhos, caligrafias, etc (BONET, 2008, p. 75). Ciasca (2010) também, ressalta a atividade motora do hiperativo e a impulsividade, que são aspectos importantes: (...) mexer em excesso na cadeira; mexem pés e mãos exageradamente e não conseguem ficar sentados, quando a situação exige; estão sempre “a mil por horas”; falam excessivamente; não conseguem brincar silenciosamente; correm, escalam e, muitas vezes, se colocam em risco físico. São indivíduos impulsivos, pois não conseguem esperar sua vez, comumente, interrompem uma conversa ou atividade, além de responderem às questões antes de serem totalmente formuladas (CIASCA, 2010, p.38). Goldstein e Goldstein (1998) falam da Hiperatividade de forma “isolada”, sem associar a outro distúrbio. Caracteriza como desatenção, agitação, excesso de atividade, emotividade, impulsividade e baixo limiar de frustrações. Ressaltam que a criança hiperativa apresenta as dificuldades comuns de uma criança, porém de forma exagerada. De acordo com Barkley (2008), renomado pesquisador desta área, o transtorno foi reconhecido apenas na história recente, pois antes era visto como um “problema” que as crianças tinham em aprender voluntariamente a inibir seu comportamento e aderir às regras, ou seja, fundamentos morais da época, porém foram sendo pesquisadas as possíveis causas. Vejamos o trecho abaixo com a definição de TDAH na concepção de Barkley: O transtorno de déficit de atenção/hiperatividade é um termo atual para designar um transtorno desenvolvimental específico observado tanto em crianças quanto em adultos, que compreende déficits na inibição comportamental, atenção sustentada e resistência à distração, bem como a regulação do nível de atividade da pessoa às demandas de uma situação (hiperatividade ou inquietação). Hoje, muitos pesquisadores clínicos acreditam que o TDAH é um transtorno de inibição e auto-regulação que dá origem a outros desses sintomas. O transtorno já teve muitos nomes diferentes durante o século passado, incluindo síndrome da criança hiperativa, reação hipercinétrica da infância, disfunção cerebral mínima e transtorno de déficit de atenção (com ou sem hiperatividade) (BARKLEY, 2008, p.9). 21 Barkley (2008) faz um resumo dos comprometimentos provavelmente associados ao TDAH, sendo eles cognitivos, de linguagem, desenvolvimento motor, emoção e desempenho escolar, conforme descrito no Quadro 2: QUADRO 2 - Comportamentos associados ao TDAH segundo Barkley. Cognitivos Pequenos déficits de inteligência. Deficiências em habilidades acadêmicas. Dificuldades de aprendizagem: leitura, ortografia, matemática e escrita cursiva. Uso inadequado do tempo cotidiano, reprodução incorreta do tempo. Menos memória de trabalho verbal. Capacidade de planejamento comprometida. Menor sensibilidade a erros. Funcionamento adaptativo e social retardado. Linguagem Início retardado da linguagem. Comprometimento da fala, principalmente expressivos e pragmáticos. Fala conversacional excessiva. Menor fluência verbal. Pouca organização e expressão ilógica e ineficiente de idéias. Comprometimento da resolução de problemas verbais. Dificuldades para seguir regras comportamentais. Internalização retardada da fala. Deficiências na compreensão auditiva, especialmente na presença de distrações. Pouco desenvolvimento do raciocínio moral. 22 Desenvolvimento motor Retardos na coordenação motora. Indicativos neurológicos relacionados com a coordenação motora e movimentos de descarga motora. Movimentos motores brutos lentos. Pouca habilidade gradomotora. Emoção Pouca auto-regulação da emoção, mais expressão emocional, especialmente de raiva e agressividade. Mais problemas para lidar com frustrações. Possível redução da empatia. Excitação sub-reativa em testes e estimulação. Desempenho escolar Comportamento disruptivo na sala de aula. Desempenho fraco na escola, em relação à capacidade. Monitores acadêmicos. Repetência. Colocação em um ou mais programas de educação especial. Suspensões da escola. Expulsões da escola. Abandono do ensino médio. Fonte: Adaptado pelo pesquisador do texto de autor BARKLEY, R.A. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: manual para diagnóstico e tratamento. Porto Alegre: ARTMED, 2008. pp.178-179 Esse quadro relata alguns comportamentos que provavelmente a criança com TDAH apresentará, porém temos que tomar cuidado para não “rotularmos” as crianças como hiperativas apenas por associar seu comportamento rotineiro a algum dos sintomas acima relacionados. A avaliação deve seguir as diretrizes de especialistas, parâmetros para prática clínica da American Academy of Child and Adolescent Psychiatry e escalas de avaliação normatizadas, e ser realizadas por profissional da saúde devidamente habilitado para tal. Na sequência, o próximo capítulo aborda quais aspectos educacionais estão relacionados à criança hiperativa, se a mesma tem dificuldades na aprendizagem, quais os recursos pedagógicos podem ser adotados, a fim de 23 estabelecer uma eficiente aprendizagem ao aluno hiperativo e também, quais recursos médicos podem ser utilizados. 24 3 Aspectos Médicos e Educacionais Neste capítulo são apresentados alguns dos aspectos relacionados à hiperatividade, sendo eles: o médico, que são as formas de tratamento da hiperatividade; e os educacionais que envolvem todo corpo docente, bem como a família, a fim de promover um ensino de qualidade e que leve o aluno ao prestígio de estudar e obter sucesso. 3.1 Aspectos Médicos Pesquisas médicas indicam que há recursos medicamentosos para serem utilizados no tratamento de TDAH, como por exemplo, os estimulantes, que de acordo com Conners (2009) vem sendo usados há mais de 40 anos para tratamentos, e interferem positivamente nas características do transtorno, como: - Hiperatividade, impulsividade, desatenção...; - Condutas inadequadas como a mentira e roubos, entre outras; - Relacionamentos com a família, escola; - Melhora o humor. Entretanto, segundo o mesmo autor, não existem apenas benefícios, há alguns efeitos colaterais referente ao uso de medicamentos: - Diminuição do apetite; - Insônia; - Taquicardia; - Aumento da pressão sanguínea; - Supressão do crescimento; - Perda de peso; - Tontura; - Entre outros. 25 Por isso deve ser avaliada pela família e médico a necessidade da utilização do medicamento, além de monitorar qualquer efeito colateral. Entretanto, pesquisas mostram eficácia nos tratamentos medicamentosos. Milhares de pesquisas já documentaram a eficácia dos estimulantes para crianças com TDAH, e as revisões dessas pesquisas corroboram os benefícios. Tais estudos normalmente mostram que os medicamentos são eficazes na redução de uma variedade de comportamentos-problema; em geral, os efeitos sobre os comportamentos visíveis são maiores do que os efeitos sobre os problemas cognitivos ou o desempenho escolar. No entanto, a maioria dos estudos observa que o processamento cognitivo também, melhora (p.ex., velocidade de assimilação da informação, precisão, tempo de manutenção na tarefa e seletividade ou manutenção da atenção) (CONNERS, 2009, pp. 63-64). Ainda de acordo com Conners (2009), além da utilização de medicamentos, é possível realizar tratamentos psicológicos (psicoterapias), como por exemplo: - Manejo direto por contigência: - Treinamento dos Pais; - Manejo de comportamento em sala de aula; - Terapia para habilidades escolares; - Terapia para habilidades sociais; - Terapia multimodal. Em termos de críticas referentes à intervenção medicamentosa, de acordo com Ciasca (2010) há grandes queixas nos consultórios médicos que os portadores de TDAH, apresentam o Transtorno Desafiador Opositivo (TDO) e Transtorno de Conduta (TC). O TDO está relacionado ao comportamento desafiador de não seguir regras, ser provocativo e desobediente, essa comorbidade gira em torno de 35 a 65% das pessoas com TDAH. Já o TC se caracteriza por conduta antissocial e agressiva, sendo essas condutas relacionadas às brigas, mentiras, maltrato aos animas e pessoas. 26 A frequente associação com outros transtornos psiquiátricos tem colocado o TDAH entre umas das mais estudadas patologias psiquiátricas da infância e adolescência. Raramente, os sintomas de TDAH caminham sozinhos. Flutuações constantes de humor, comportamentos opositor, dificuldades de aprendizagem, falta de amigos, comportamento sexual precoce e insônia são exemplos de problemas comumente associados ao quadro. Muitas vezes, esses fenômenos são expressões de patologias psiquiátricas associadas ao TDAH. Transtorno de humor bipolar, transtornos disruptivos (transtorno desafiador opositivo e transtorno de conduta), transtorno misto de habilidades escolares, transtorno de ansiedade generalizada e transtorno de tique são exemplos de transtornos psiquiátricos que usualmente encontram-se associados ao TDAH (CIASCA, 2010, p.49). Tendo em vista, os aspectos médicos que envolvem a pessoa com TDAH, a melhor maneira para saber qual tratamento seguir, é conversar paralelamente com médicos especialistas e professores, para saber qual a intensidade do transtorno, se é necessário à utilização de medicamentos e/ou tratamentos psicológicos, ou se uma sala de aula diferenciada basta para que o aluno obtenha o sucesso escolar, visto que a hiperatividade impacta diretamente no desenvolvimento do indivíduo. Uma frase que retrata muito bem é “assim como não se negam óculos a uma criança míope, não podemos negar tratamento a uma criança com TDAH” (BONET, 2008). 3.2 Aspectos Educacionais A hiperatividade impacta na vida escolar da criança, e se não for tratada de maneira diferenciada, pode levar ao fracasso. Por isso se faz necessário uma reflexão dos professores acerca do aluno, quais fatores são determinantes para o sucesso de um aluno, de que maneira pode ser tratado o ensino para a criança hiperativa, como estimular incentivar a aprendizagem, e delimitar quais recursos pedagógicos podem ser utilizados na sala de aula. Quando o aluno inicia na idade escolar, recai um fardo enorme, que a própria família, sociedade lançam sobre ele. É o momento do estudo compulsório, da educação formal, por vezes o aluno se considera preso, amedrontado, forçado, obrigado a estudar, assim a escola e a sala de aula são vistas como inimigas do aluno, pois ele não consegue se manter sentado por horas e realizar atividades impostas. Nesta hora é extremamente importante o professor identificar este aluno, 27 e auxiliá-lo, pois os comportamentos da criança hiperativa impactam na sua vida escolar. O trecho abaixo fala sobre como tais comportamentos do transtorno impactam na vida da criança e como a mesma inicia a idade escolar. Os comportamentos do transtorno podem ser exacerbados pela natureza estruturada e de memorização de muitas tarefas escolares (p. ex., a sensação de que as tarefas designadas são muito difíceis, muito fáceis ou chatas), o que resulta no recebimento de reforço insuficiente ou inconsistente para aprender tarefas que requerem esforço. A falta crônica de reforço de atividades que requerem a manutenção do esforço pode levar a criança a “desistir”, e conferir-lhe o rótulo de “preguiçosa”. Aquelas que recebem o diagnóstico de TDAH durante a infância com frequência iniciam um processo de fracasso escolar e social que resulta em baixa autoestima e depressão (p. ex., sentindo-se incapazes e não queridas por outras crianças). Esse padrão normalmente tem origem na impulsividade comportamental e na impulsividade cognitiva, assim como em prejuízos nas habilidades sociais (CONNERS, 2009, p. 20). A chegada do aluno hiperativo na escola, pode causar preocupação nos professores, pois os mesmos não têm o conhecimento sobre o transtorno, não sabem lidar com a situação e como promover uma aprendizagem satisfatória. Portanto, criam um pré-conceito do aluno, o considerando mal-educado, sem limite e sem acompanhamento familiar. Porém isso não é real, as características de um aluno hiperativo acabam sendo confundidas com as de uma criança mal-educada. Portanto, é importante que os professores, assim como todos que compõe o grupo escolar, tenham a sensibilidade para entender o aluno hiperativo, oferecendo atividades prazerosas ao mesmo, mas com o intuito pedagógico de ensinar, vale à pena questionar o aluno qual tipo de atividade ele gosta, a fim de favorecer a realização da mesma, desta forma, eleva sua autoestima e consequentemente o leva ao sucesso escolar. Vale ressaltar que, em alguns casos, o aluno chega à escola já com o diagnóstico de hiperatividade. Neste caso, é fundamental que os pais entrem em contato com a escola para informar sobre as condições da criança, se há acompanhamento médico, se faz algum tratamento, seja por meio de medicamentos ou até mesmo terapias. Desta forma, a escola receberá essa criança já com o desafio, mas também, com possibilidades reais de planejar uma estratégia, que leve o aluno ao sucesso escolar. Muitas vezes há o acompanhamento de uma 28 psicopedagoga que auxilia a aprendizagem desse aluno. Também, há os alunos que chegam à escola sem nenhum diagnóstico, que por vezes o próprio professor, acaba suspeitando que o aluno possa ser hiperativo, neste caso a equipe escolar deverá entrar em contato com os pais, para conversar a respeito e orientar sobre possíveis ações e encaminhamentos. Lembrando que isso só ocorre se a equipe escolar tiver conhecimento sobre o assunto. (CONNERS, 2009) Assim considera-se de extrema importância que o professor, diretor, coordenador, e toda equipe escolar tenham informações e conhecimentos sobre o transtorno, quais medidas devem ser tomadas, como deve ser o ensino para essas crianças, quais estratégias que podem funcionar ou aprimorar a aprendizagem, para que o aluno seja auxiliado, acompanhado e tenha a possibilidade de desenvolver na vida acadêmica de forma que alcance êxito. 29 4 Hiperatividade na sala de aula Este capítulo aborda o eixo central deste trabalho, que é a hiperatividade na sala de aula, o que acontece afinal? Quais as problemáticas, alternativas, como se dá o convívio com os demais alunos e professores? De acordo com Benczik e Rohde (1999) “sabe-se que o TDAH tem um grande impacto no desenvolvimento educacional da criança”, por isso o professor tem o papel de entender, motivar, incentivar o aluno hiperativo, identificar os problemas que lhe afligem quais as dificuldades encontradas no conteúdo, procurar soluções para que a aprendizagem ocorra de maneira eficiente, sem causar “traumas” no aluno, pois muitas vezes o mesmo se sente incapaz. A hiperatividade interfere diretamente no desenvolvimento escolar da criança, pois a mesma apresenta comportamentos que não permitem que aprendizagem flua de maneira positiva, o aluno não têm nenhum prazer no ato de estudar, além disso, os professores têm dificuldades em ministrar aulas com alunos hiperativos, pois os mesmos chamam a atenção dos outros alunos, fazem brincadeiras, conversam, levantam a todo o momento, são desatentos, entre outros comportamentos, esses que acabam por desestabilizar a organização e rotina proposta para o desenvolvimento das atividades educativas em sala de aula. 4.1 Formação e informação dos professores sobre Hiperatividade Para que o aluno hiperativo consiga alcançar êxito é necessário o professor ter consciência do que realmente é o TDAH, a Hiperatividade, pois de nada adianta ter recursos tecnológicos se a instituição não aprovar a intervenção e mudanças curriculares para o tratamento do transtorno, assim como os professores não terem conhecimento. Esses são pontos cruciais para o tratamento da hiperatividade, uma instituição e professores receptivos e dispostos a ajudar voluntariamente. Portanto, de acordo com Barkley (2008) há necessidade dos professores estarem cientes que: 30 ü O TDAH tem base biológica tratável, mas não curável; ü Consiste em uma dificuldade para manter a atenção, o esforço e a motivação e inibir; ü As intervenções mais efetivas para melhorar o desempenho escolar são as aplicadas dentro do ambiente escolar, tais intervenções devem ser proativas e reativas para elevar a mudança de comportamento; ü Devem-se considerar o uso de colegas, pais e computadores para intervenções na sala de aula. Foi realizada uma pesquisa5 em 2006 e publicada em 2007 para verificar os conhecimentos e percepções sobre TDAH no Brasil, com patrocínio do Laboratório Novartis e participação da Associação Brasileira do Déficit de Atenção (entidade sem fins lucrativos). Foram coletados dados em todas as regiões brasileiras para dados da população em geral, para grupos de profissionais, foram coletados nas 10 principais capitais brasileiras: Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. Os dados foram coletados pelo Datafolha. Considerando os dados obtidos sobre educadores, 87% manifestaram ter ouvido falar sobre TDAH; 50% não consideram como uma doença; 67% afirmam conhecer algum portador de TDAH; 77% acreditam que o portador pode ser tratado apenas com psicoterapia; 59% acreditam que as crianças têm diagnóstico de TDAH, porque os pais são ausentes e não impõe limites. As principais fontes citadas de informação foram escola/faculdade (35%), livros (32%), revistas (27%), jornal (17%) e palestras, seminários, congressos (13%). Por meio desses dados percebemos que os conceitos não são tão coerentes, além de perceber a falta de seminários, palestras e congressos que abordem o tema para a capacitação dos professores, tendo em vista, a necessidade dos professores terem conhecimentos sobre o transtorno, para que sua prática seja 5 Pesquisa realizada por Marcelo Gomes, André Palmini, Fabio Barbirato, Luis Augusto Rohde e Paulo Mattos, intitulada como Conhecimento sobre o transtorno do déficit de atenção/hiperatividade no Brasil. 31 eficaz e traga benefícios para o aluno hiperativo. Esse é o primeiro passo para a possibilidade de uma aprendizagem de sucesso. 4.2 Ensino e sala de aula inclusiva Segundo Stainback e Stainback (1999, p.21) “o ensino inclusivo é a prática da inclusão de todos – independentemente de seu talento, deficiência, origem socioeconômica ou origem cultural – em escolas e salas de aulas provedoras”. A sala de aula deve proporcionar ao aluno hiperativo uma aprendizagem igual ao dos demais colegas, portanto, se faz necessário à inclusão, uma sala de aula estruturada de forma inclusiva. De acordo com Stainback e Stainback (1999) a sala de aula deve estar estruturada de forma que minimize comportamentos inadequados. Os autores ressaltam alguns fatores importantes como: - Disposição da sala de aula: os móveis e equipamentos devem estar dispostos de maneira que permita o professor ter o controle de tudo que está acontecendo na sala de aula, portanto ele deve ter organizar a sala de uma maneira que ele possa visualizar cada aluno, se estiver sentado ou em pé; - Controle de tempo: é importante reduzir o tempo ocioso que acaba envolvendo os alunos em comportamentos inadequados. Por isso é necessário o controle de tempo, isso implica em aumentar o tempo do aluno na tarefa; - Práticas de agrupamento: agrupar alunos inadaptados com alunos bemcomportados, essa junção faz com que reduza os comportamentos desordeiros, pois os alunos bem-comportados ignoram esse tipo de atitude, valorizando apenas as atitudes adequadas. Além de promover a cooperação; - Atmosfera da sala de aula: é muito importante uma atmosfera harmoniosa na sala de aula, para que isso aconteça é necessário que os alunos percebam que os professores são positivos, satisfeitos e gostam dos seus alunos; - Conduta profissional: o professor deve adotar uma postura, conduta profissional, ou seja, procurar ser calmo, controlado, não enfatizar, nem valorizar muito os atos infratores, mau comportamento, e sim engrandecer as atitudes adequadas (STAINBACK E STAINBACK, 1999, pp. 387-392). 32 Um ensino eficiente e significativo, assim como a sala de aula, devem ser inclusivos, promover uma aprendizagem de qualidade que ofereça oportunidades ao aluno hiperativo. Além de impulsionar o convívio social e fortalecer amizades. 4.3 A convivência em sala de aula A convivência do aluno hiperativo com as demais crianças não é considerada tranquila nem das melhores. Tal transtorno tem características que interferem no convívio, na inter-relação entre aluno-aluno e aluno-professor, pois a desatenção e a impulsividade, fazem com que o aluno hiperativo não saiba lidar com limites, regras e ordens, agem sem pensar, costumam ser agressivos e esses fatores impactam na convivência com os demais alunos principalmente dentro da sala de aula, por atrapalhar, acabar incomodando a aula (BARKLEY, 2008). Este contexto acaba gerando estresse na relação entre professor-aluno e aluno-aluno, inviabilizando o processo de aprendizagem. É neste momento que o professor deve analisar e refletir sobre a metodologia de trabalho até então adotada, e procurar elencar possibilidades de intervenção para que o seu trabalho seja realizado da melhor forma, com o intuito de proporcionar um ensino de qualidade a todos, levando em consideração as características peculiares de cada aluno. Vale lembrar que o aluno hiperativo apresenta um comportamento, cujo destaque, nos remete a idéia de que ele tende a querer chamar a atenção a qualquer custo, portanto, acabam sendo “populares” por ser aquele aluno engraçado, extrovertido, mas nem sempre essa popularidade é positiva, muitas vezes todas as traquinagens e o que acontece de errado ou ruim no ambiente escolar acaba se voltando à ele, devido à fama que o mesmo têm, como sendo o “bagunceiro”, “agitador”, “mal-educado”, entre outros adjetivos à ele atribuídos. De acordo com Barkley (2002) é importante em casa os pais estimularem habilidades sociais, ou seja, estabelecer com a criança hiperativa alguns pontos importantes de convívio social, na qual a mesma pode melhorar, indicando alguns comportamentos inadequados que ela está tendo, e sugerir alguma atividade, brincadeira em troca, se ela melhorar estes comportamentos que foram indicados. Entretanto, os pais devem acompanhar a evolução da criança, os avanços de 33 melhora nestes comportamentos, elogiando sempre que houver progressos, assim a estimulando. É notório que a convivência entre os seres humanos não é fácil, pois cada um pensa de determinada forma, têm seus costumes e manias, porém quando a convivência é entre pessoas hiperativas a dificuldade é elevada, uma vez que as características do transtorno interferem negativamente nas relações. Portanto, na sala de aula é de extrema importância que o professor saiba lidar com essas dificuldades, tenha em mente o desafio e proporcione a esse aluno um ambiente que possa ser no mínimo harmônico, que haja respeito, que entenda suas limitações e incentive a cooperação entre os alunos, incluindo o aluno hiperativo. Benczik e Rohde (1999) dizem que “o aluno com TDAH impulsiona o professor a uma constante reflexão sobre sua atuação pedagógica”. Realmente o aluno hiperativo impulsiona o professor a meditar acerca da convivência, como a mesma pode ser sensata, ponderada, de modo que os alunos possam conviver de maneira adequada e que seja afável. 4.4 Amizades A amizade é importante para o desenvolvimento humano, pois envolve o social, emocional e cognitivo. De acordo com o artigo de Souza e Hutz (2008), a amizade na infância é caracterizada pelo afeto, diversão, sentimentos recíprocos, que faz com que os amigos sintam prazer na companhia um do outro, há trocas sociais. Já na adolescência envolve sentimentos de intimidade, lealdade, interesses, confiança, um comprometimento um com outro. Podemos concluir que a amizade é de suma valia no desenvolvimento do indivíduo, pois faz com que haja trocas de experiências com o outro, portanto, há uma evolução, um desenvolvimento necessário para o aperfeiçoamento do indivíduo. Entretanto, o que presenciamos com os alunos hiperativos, é que os mesmos costumam ficar isolados, por não saberem lidar com o convívio social, além de afastar as pessoas, devido ao comportamento que para os outros é inadequado, taxando-o como louco, maluco, considerando que o melhor a fazer é se afastar do hiperativo. A citação abaixo ilustra muito bem essa situação: 34 Uma criança com TDAH apresenta, geralmente, problemas sérios para se envolver com outras crianças. A hiperatividade da criança com TDAH e a impulsividade são geralmente aversivas a outras crianças, especialmente se as outras crianças tentam trabalhar ou jogar um jogo juntas. Outras crianças não gostarão, também, da aspereza e sinceridade da criança com TDAH, especialmente se ela fizer comentários cruéis. Certamente outras crianças sentem-se amedrontados com a facilidade com que a criança com TDAH se torna irritada, frustrada ou agressiva (BARKLEY, 2002, p. 208). Ciasca (2010) menciona que o relacionamento da criança com TDAH com outras crianças é dificultado pelas próprias características da patologia, ou seja, a impulsividade, o fato de trocar de brincadeiras com frequência e não se fixar nas atividades. Portanto, o professor deve proporcionar momentos coletivos, que possam aflorar a cooperação, bem como, o trabalho em equipe, esses estímulos são precisos, pois o aluno hiperativo, muitas vezes é excluído do círculo de amizades e tal convivência é importante para o próprio desenvolvimento, pois sabemos que é quase impossível viver isoladamente no mundo. 4.5 Alternativas em sala de aula Lidar com alunos hiperativos em sala de aula não é uma das tarefas mais fáceis de realizar, porém não é impossível. É imprescindível uma reflexão acerca do aluno, uma análise da metodologia que será utilizada em sala de aula, para que alcance esse aluno e promova um espaço de aprendizagem efetivo. Para isso há algumas adaptações que devem ser consideradas em sala de aula. De acordo com Benczik e Rohde (1999) é necessária uma programação na sala de aula, ou seja, o professor deve saber aonde quer chegar com o conteúdo, qual metodologia, materiais, serão utilizados. Tal programação deve ser flexível, pois trabalha com o grupo e também, individualmente. O ponto de partida é a programação na sala de aula, elemento fundamental, pois guia e orienta o processo de ensino-aprendizagem. Esse programa é composto pelos objetivos, conteúdos, metodologia, recursos humanos, processos de avaliação e os materiais que serão utilizados. A programação deverá conter as adaptações curriculares necessárias e se estender a todos os alunos. A meta final é o equilíbrio necessário entre dar resposta ao grupo e a cada aluno dentro do grupo. Essa forma de programação de aula 35 mostra-se flexível e dinâmica, pois busca trabalhar de forma simultânea com o grupo e com o individual, respeitando as diferenças de cada um (BENCZIK e ROHDE, 1999, pp.205-206). Benczik e Rohde também, abordam com propriedades a questão da organização da sala de aula, conforme descrito abaixo: Propõe-se uma organização que seja dinâmica e flexível que facilite o processo ensino-aprendizagem e a participação ativa de todos os envolvidos nesse processo. Arrumar a sala de modo a haver um bom acesso e boa visibilidade para todos, evitando-se que as carteiras estejam sempre dispostas em fila, ou que as atividades sejam sempre as mesmas para todos, utilizando-se do mesmo livro, no mesmo momento. Quando o professor escolhe os grupos de trabalho a disposição do espaço, do tempo e dos móveis, deve ter em mente as necessidades específicas desses alunos, de modo que favoreça, ao máximo, sua participação total na dinâmica da aula. O aluno com TDAH deverá sentar-se próximo, ou ao alcance do olhar direto do professor, distante da janela ou da porta, num local onde tenha menor possibilidade de se distrair, longe de colegas antagonistas, no meio de ser lembrado a respeito das atividades, das regras, das diretrizes e da organização, é importante dispor na sala de aula alguns cartazes com orientações. O professor deve circular pela sala com frequência, usando a proximidade física para controlar a disciplina ou o foco de atenção, bem como avisar os alunos de algo anteriormente combinado, fazendo um contrato de olhar, colocando a mão no ombro ou um toque na carteira. Retirar dos alunos objetos que possam distraí-los, embora algumas crianças com TDAH precisem manusear um objeto para ajudar a focalizar a atenção. Permitir o uso de algo que passe o mais despercebido possível, como uma bolinha de exercício. Os alunos com TDAH devem ser supervisionados e ajudados na organização do lugar de trabalho, do material, das escolhas e do tempo a ser destinado para uma atividade. Proporcionar oportunidades para movimentação dentro da sala de aula e intervalos entre as atividades (BENCZIK e ROHDE, 1999, pp.208-209). Desta forma, o professor deve ser dinâmico, sagaz, perceber a necessidade de cada aluno, pensar nas atividades no todo e também, em cada indivíduo. Assim, é possível inferir que alguns dos recursos pedagógicos que podem ser utilizados, para o ensino de crianças hiperativas, segundo Benczik e Rohde (1999, p.52-67) são: - Posição da sala de aula - dinâmica: um dia as carteiras ficarão em fila, no outro em círculo, assim sucessivamente. Desta forma a aula torna-se atrativa, inovadora para o aluno; - Lugar na sala de aula - aluno hiperativo: o aluno hiperativo deve sentar-se sempre próximo do professor, pois dessa forma o professor consegue controlar mais as atitudes, o andamento das tarefas em sala de aula; 36 - Movimentação dentro e fora da sala de aula: o aluno hiperativo necessita movimentar-se, pois não consegue permanecer muito tempo em uma única atividade, portanto o professor deve enxergar uma oportunidade o escolhendo como “ajudante” da sala de aula, o aluno que busca os livros na outra sala de aula, chama a inspetora, entre outras atividades, desta forma o aluno hiperativo sentirá útil e conseguirá movimentar-se. Assim quando voltar para a atividade manterá a concentração (por algum tempo); - Atividades diferenciadas: o aluno hiperativo muitas vezes sabe o conteúdo de uma prova, porém no momento da avaliação o mesmo distrai facilmente, pois não consegue focar na prova, desta forma tira notas muito baixa. O professor pode propor algumas atividades diferenciadas, como por exemplo, um questionário oral, gincanas na sala de aula com todos os alunos, com premiações, isso estimula a criança hiperativa a competir, a querer ganhar, assim a aprendizagem é executada de maneira diferenciada, tendo resultados positivos; - Conversas x Castigos: o professor pode ficar mais próximo do aluno mantendo o diálogo, evitando castigos, suspensões da aula, pois os alunos hiperativos acabam involuntariamente tomando algumas atitudes, tais como, subir na cadeira, dançar durante a aula, jogar aviãozinho, tudo para chamar a atenção, por não terem a concentração devida na sala de aula (...) A conversa, o procurar soluções para o aluno, entender o que passa com o mesmo, são as melhores opções, pois visa à compreensão e a reflexão de quais métodos utilizarem para condução de determinadas situações. Mattos (2007, p.120-124) apresenta ações e posicionamentos que podem vir a colaborar para com o trabalho do professor como: - Expressar-se claramente, de forma concisa, e utilizar recursos visuais para prender a atenção do aluno, como slides, pôster, utilização do quadro negro, entre outros recursos que podem fazer uso. - Sinalizar quando está trocando de tarefa ou atividade e ressaltar as diferenças entre elas; - Quando o aluno tiver algum comportamento bom, ou até mesmo se respeitar as regras, se comportar durante a aula, o professor deve elogiá-lo na frente de todos, pois ele se sentirá importante, elevará sua auto-estima. - Utilizar agenda para comunicar com os pais. Neste caso é muito imprescindível que os pais leiam e participem deixando informações na agenda. Segundo Barkley (2008) há programas de contingência para casa, ou seja, o professor estipula um boletim com avaliação em sala de aula desse aluno, o mesmo leva para os pais e/ou responsáveis, que o gratificam, conforme modelo descrito no Quadro 3. 37 QUADRO 3 - Boletim para um programa doméstico de gratificações voltado ao comportamento em sala de aula. Avaliação em sala de aula Nome _________________________________________________________ Data _________________ Avalie a criança nas áreas abaixo, segundo a escala a seguir: 2 = Muito bom 1 = Bom 0 = Precisa melhorar COMPORTAMENTO-ALVO 1 2 Período / Disciplina 3 4 5 6 Participação Trabalho de aula Trabalho entregue Interação com colegas 6 Iniciais do professor Total de pontos ganhos: ________________ Tarefas de casa para hoje: Comentários: Fonte: Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: manual para diagnóstico e tratamento / Russell A, Barkley (org); Arthur D. Anastopoulos ... [et al.] ; tradução Ronaldo Cataldo Costa. – 3. ed. – Porto Alegre: Artmed, 2008, p. 581. Vale ressaltar que para esse tipo de avaliação atingir o verdadeiro objetivo, é essencial um trabalho em conjunto com a escola e família, pois os professores devem estar preparados e dispostos a fazer essa avaliação diariamente, bem como os pais acompanharem as avaliações recebidas. Outro fator importante é o aluno colaborar e não burlar, adulterar o boletim. Portanto, deve ser bem trabalhado esse tipo de avaliação para que funcione. É um método interessante de avaliar, faz com que os professores se atentem mais para esse aluno, passe a observar, sobrevir nas atitudes do mesmo. Além dos pais receberem o feedback 6 No livo consta iniciais, pois trata-se de uma tradução, porém quer dizer iniciativas do professor. 38 (retorno) diário do comportamento dos filhos, podendo intervir e reforçar determinados comportamentos e atitudes. Como vimos à hiperatividade na sala de aula é como se fosse uma viagem em alto mar, repleta de altos e baixos, e com muita turbulência. A convivência, as relações com os amigos, professores, não são as mais amenas, há dificuldades devido ao transtorno, é um desafio à todos, alunos, professores, ensino, pais, e todo desafio deve ser cumprido. Entretanto, há possibilidades, alternativas para que o ensino se concretize da melhor maneira. 39 5 Metodologia No primeiro momento deste trabalho foi feito o levantamento bibliográfico, com o objetivo de fundamentá-lo teoricamente. Este trabalho se configura numa pesquisa de abordagem qualitativa, especificamente centrada em um estudo de caso, que de acordo com João Cardoso Palma Filho (2004) é uma estratégia de pesquisa a fim de investigar os dados com profundidade. A natureza do problema a ser investigado é fundamental na escolha do tipo de pesquisa. 5.1 Formulação do problema As inquietações que levaram a pesquisar o tema Hiperatividade, foram os questionamentos em torno da verificação da hipótese de se a escola e os professores são capazes ou não de identificar características de um aluno hiperativo, ou se por outro lado há uma generalização de comportamentos inadequados classificados como hiperativos. Se há ou não a necessidade de se adaptar conteúdos e processos de avaliação para atender as necessidades especiais de um aluno hiperativo. O que realmente a sala de aula deveria ter ou oportunizar para que o aluno com hiperatividade tivesse sucesso educacional. Atualmente há uma grande generalização de comportamentos que sempre são denominados como hiperatividade, porém o diagnóstico não é tão simples assim. Há muita falta de informação no âmbito escolar sobre hiperatividade, geralmente as crianças hiperativas são consideradas como crianças mal-criadas, sem limites, não levam em conta que se trata de um transtorno, que deve ser acompanhado, para que o aluno obtenha sucesso escolar. Portanto, é necessário estudar o que acontece na sala de aula com aluno hiperativo. Tais questionamentos são pertinentes para a realização desta pesquisa, que irá contribuir com informações importantes acerca do tema que está sendo estudado. 40 5.2 Definição da unidade caso Este trabalho foi desenvolvido em uma escola da rede estadual, em bairro de classe média, com um aluno que possui diagnóstico de TDAH com acompanhamento clínico, familiar e escolar, buscando a realização de uma pesquisa assertiva. Esta preocupação se deve ao fato de que qualquer aluno pode ter atitudes que “aparentam” ser de alunos hiperativos, mas na realidade são comportamentos que indicam falta de limite e não o transtorno em si. A pesquisa foi feita em uma única sala de aula, do 3º ano do Ensino Fundamental, com um aluno hiperativo de 07 anos que completou 08 anos no final da pesquisa, mora com a mãe, uma irmã mais nova e os avós maternos. Os pais são separados e nos finais de semana o Leandro (nome fictício) fica com o pai. Os avós não aceitam a condição do neto de ser hiperativo, a mãe o acompanha, levando em neurologista, fonoaudiólogo, entre outros especialistas. A mãe informou que o Leandro não costumava sair de casa, não brincava na rua nem na casa de algum colega, brigava muito com a irmã, por isso preferia não deixá-los brincarem juntos. Durante o ano letivo de 2009, Leandro demonstrou muita agressividade na escola, bateu nos colegas e professora, não realizou as atividades, era inquieto, fazia brincadeiras fora de hora, gritou e cantou durante as aulas, devido a esses comportamentos a escola solicitou à mãe um diagnóstico clínico, e por meio deste foi constatado que o Leandro era hiperativo dando inicio ao tratamento médico. A escola tinha conhecimento do transtorno deste aluno, os professores também, portanto, utilizava-se de métodos diferenciados para que ocorresse a aprendizagem. Foram realizados duas vezes por semana um reforço, havia participação apenas de dois alunos, Leandro e outra menina. Esse reforço era feito de terça e quinta, após o término da aula, tinha duração de aproximadamente de 1 hora, era realizado com a professora titular, sendo realizado na mesma sala de aula e apenas com os dois alunos, porém as atividades realizadas eram praticamente as mesmas do período normal, sendo: cruzadas, caça-palavras, entre outras. Entretanto, a professora os estimulava na execução e término das mesmas. 41 5.3 Determinação do número de caso Foi analisada apenas uma sala de aula com um aluno com hiperatividade, visto que, trata-se de um estudo de caso. 5.4 Elaboração do protocolo O protocolo foi elaborado com base nos comportamentos que foram apontados, de acordo com o levantamento teórico, levando em conta o ambiente e as pessoas que ali estão inseridas (Apêndice C). O mesmo continha os comportamentos do aluno hiperativo em sala de aula: levantou-se a todo momento (em horas impróprias), atrapalhou a aula, falou demasiadamente, brigou com os colegas de classe, respeitou ou não o professor, quais atitudes apresentou durante a realização de tarefas, ou seja, distraiu facilmente, realizou até o fim a atividade, teve dificuldade em atividades em grupos, aprendeu o conteúdo com facilidade, quais dificuldades o aluno demonstrou na sala de aula, seja na realização de trabalhos, ou até mesmo no convívio interpessoal. Durante as observações foram registradas as ações que cercaram a relação entre aluno–professor, se a professora tirou dúvidas, tratou o aluno de forma diferenciada, chamou lhe a atenção constantemente, se houve respeito mútuo. Também, foi levado em conta, se a escola tinha o conhecimento do que é hiperatividade, se houve métodos diferenciados para este aluno hiperativo, se de certa forma houve uma generalização do que é hiperatividade de fato, considerando todos os alunos inquietos como hiperativo. Para o registro, foi aplicado um protocolo para cada data de observação. Após o período de aplicação, que foi realizada no período dois meses, pois se a duração fosse menor, não seria suficiente, tendo em vista que o aluno podia não se sentir a vontade com a presença de alguém observando a aula. Vale ressaltar que a pesquisa foi realizada em dias e horários alternados, totalizando 18 aulas. 42 5.5 Coleta de dados Para a coleta de dados, foi imprescindível a solicitação de autorização da escola e dos pais do aluno participante da pesquisa. Os formulários de autorização estão disponíveis no Apêndice A e B. Participou desta pesquisa uma professora com formação acadêmica específica para a série que lecionava, da rede pública, ministrando aulas para o 3º ano; um aluno com hiperatividade, frequente na sala de aula, devidamente diagnosticado por especialistas (neurologista e/ou psicólogos), contando com acompanhamento (médico/pais/professor) e a escola tenha consciência do caso; também, participou os colegas de classe, para avaliação da relação aluno hiperativo – aluno comum. Para a coleta de dados foi elaborado um protocolo de observação de sala de aula, conforme Apêndice C, constando de pontos de observação referentes aos procedimentos didáticos e atitudinais da professora, ações e respostas do aluno com hiperatividade e os inter-relacionamentos professor-aluno e aluno-aluno. As observações foram feitas no período de dois meses. Durante esse período foi utilizado o protocolo, um por dia. Após a conclusão da observação, os mesmos foram analisados e agrupados por categorias. Foi realizada uma entrevista, conforme apêndice D, com a professora e uma entrevista com os pais, conforme apêndice E, com o intuito de traçar o perfil do aluno com hiperatividade participante, sob a ótica dos pais e professora. 5.6 Avaliação e análise dos dados A análise dos resultados foi realizada com base na compilação dos dados das entrevistas do protocolo e posterior agrupamento por categorias e incidências atitudinais, didáticas e de relacionamento. 43 5.7 Preparação do relatório (apresentação dos resultados) Os resultados foram apresentados após a compilação dos dados obtidos na pesquisa de campo, em forma de texto e também, quadros para melhor visualização, constando no texto à média em percentual que representam as incidências atitudinais por parte do aluno, do professor e demais colegas de classe, além de apresentar as incidências didáticas. 44 6 Apresentação de Análise dos Resultados Neste capítulo o leitor poderá mergulhar no estudo de caso, ler sobre todas as observações, as discussões do que foram observados neste período, quais foram às posturas da escola, professores, colegas de classe e da mãe. 6.1 Observações O protocolo se propôs a observar a participação do aluno hiperativo em sala de aula em momentos de atividades individuais e em grupo. Depois de concluído o período de observação foi constatado que não houve momentos de interação entre Leandro e as demais crianças. Foram observadas suas atitudes na sala de aula, aulas de Educação Física, Educação Artísticas e recreio. A sala de aula era organizada com as carteiras enfileiradas. Em determinadas atividades as filas eram duplas. Dava-se essa disposição quando as atividades foram de leitura, ou atividades em duplas, porém Leandro quase sempre ficou sozinho, raras exceções de sentar com outra criança e quando aconteceu foi com uma aluna que tinha dificuldade de aprendizagem. Essa turma possuía trinta e cinco alunos. Esta sala de aula contava com uma lousa na cor verde, em cima dela tinha um relógio que não funcionava, no lado direito, em cima da lousa havia uma bandeira do Brasil que ficava suspensa, dois ventiladores no teto. Ao lado direito, três janelas nas laterais, na lateral esquerda havia trabalhos expostos das outras turmas e dois mapas grandes pregados na parede, um do Brasil e outro do mundo, ao fundo da sala havia dois armários, um da professora, outro com material das crianças, duas prateleiras, uma com livros, e outra prateleira com vários papéis a serem utilizados (cartolinas, papel sulfite, celofane, crepom, entre outros), e duas caixas uma com livros infantis e outra com gibis. No período de observação na sala de aula, Leandro demonstrou ser egocêntrico, queria tudo para ele, além de não interagir com os colegas, em vários 45 momentos ele gritou o nome de determinado aluno e xingou de “bobo”, “feio”, “fedido” entre outros palavreados. Também, tinha o costume de cutucar os colegas com o lápis, não interagiu sociavelmente com seus pares em sala de aula. As crianças não se aproximaram dele. Ele não participou das mesmas atividades da classe, portanto, não foram proporcionados momentos de interação, pois as atividades à ele propostas, pela professora eram de cruzadas, desenho para colorir, caça palavras, enquanto as demais crianças realizavam contas, liam textos, respondiam questionários. Durante as aulas de Educação Física ficou isolado, brincou sozinho com a bola, não permitiu que ninguém chegasse perto. Houve aulas que jogou a bola na rua de propósito, também, jogou a bola no rosto de um colega, demonstrou muita agressividade e também, gritou e cantou. Aparentemente as crianças tinham receio em brincar com ele, algumas diziam para não chegar perto dele, pois tinha problema, era doidinho e tomava remédios. Fica explicito que neste contexto que havia questões de preconceito para com a criança hiperativa, sendo esta excluída das atividades e recebendo apelidos. Essas aulas eram realizadas num corredor largo no fundo da escola. Na frente tinha a quadra que estava em construção, nesse espaço que eram realizadas as aulas de Educação Física. Havia duas árvores no meio do corredor e na lateral uma escada, onde as meninas costumavam a brincar durante as aulas com boneca e os meninos ficavam na parte de baixo com a bola, havia também, vários pedaços de ferros e madeiras no canto do corredor, devido à construção. As aulas de Educação Artística costumaram ser em grupos, porém o Leandro sempre ficou isolado, jogou tinta no chão, cantou. Quando foi necessário levar algum material diferenciado para aula, Leandro nunca levou, porém também, não era questionado, é como se não estivesse na sala. No recreio, o Leandro correu bastante, gritou, e tinha o hábito de jogar o lanche nos amigos. Houve um episódio em que ele pegou caixinhas de leite (chocolate) do lixo e jogou nas crianças, ficaram todos sujos. O aluno também, frequentou aulas na sala de recurso, com uma psicóloga. As atividades foram realizadas na sala de computação, a qual possuía quatro mesas redondas e nas laterais tinham computadores, seis no total, havia um armário e algumas caixas empilhadas no canto da sala. Entretanto, até o término das observações, essas aulas não foram mais ministradas por não haver mais um 46 profissional na sala de recursos. Desta forma, o aluno não teve mais esse respaldo e ajuda. Durante o período foi possível observar que Leandro se mostrou motivado a ir para a sala de recursos, pois foi possível realizar atividades no computador, porém ele demonstrou não ter um período grande de concentração na atividade proposta, pois desligava o computador, batia na tela e CPU. A seguir apresentamos e discutimos os resultados compilados dos protocolos de observação do aluno. 6.2 Discussões Vale recordar que as observações foram realizadas durante dois meses, em dias e horários alternados, sendo preenchido um protocolo para cada aula, totalizando dezoito protocolos. Foram relacionados no protocolo, os comportamentos presentes no dia observado, não relatando, por exemplo, a quantidade de vezes que ele levantou naquele dia, e sim o comportamento que apresentou na sala de aula, portanto, foram listados todos os comportamentos manifestados no dia. Após a compilação dos dados foram somados a prevalência de cada comportamento, considerando os dezoito protocolos preenchidos. Vale ressaltar que optamos em relacionar apenas os comportamentos, pois Leandro, foi observado durante 2 dias e percebemos que os movimentos dele, eram repetidos em demasia, comparando com as outras crianças, a intensidade e repitação eram continuas. O quadro 4 apresenta os principais comportamentos do aluno. Esses comportamentos por sua vez, vão ao encontro da literatura na medida em que foram observados durante o período de execução das atividades, os comportamentos de inquietude e distração, corresponderam a 50,7%, não realizou a atividade por completo representou 18,3% e não seguiu as orientações da professora teve a incidência de 16,9%. Apresentou comportamentos que atrapalhavam a execução das atividades, um exemplo foi cantar durante a aula, que teve o índice de 14,1%. Na literatura são apresentados tais atos como característicos da Hiperatividade, no decorrer do trabalho foi apresentado aos leitores um quadro de Conners, que menciona exatamente esses comportamentos que foram 47 diagnosticados durante a observação, ou seja, foi possível constatar que tais condutas apresentadas na literatura são de fato o que acontece no cotidiano. QUADRO 4 – Comportamentos durante as atividades Comportamentos / Atividades Inquieto Distraiu facilmente Não realizou a atividade até o fim Não seguiu as orientações da professora Cantou durante a atividade Eventos 18 18 13 12 10 Bonet (2008) menciona que as crianças com TDAH são desorganizadas, distraídas, não concluem as tarefas, esse aspecto foi observado durante o período da pesquisa, confirmando os estudos já realizados. O quadro 5 apresenta os principais comportamentos do aluno. Esses comportamentos por sua vez, vão ao encontro da literatura na medida em que o participante apresentou constantemente durante as aulas, atos que são considerados comuns nos hiperativos, sendo eles: mexer as pernas (7,6%), estojo (7,6%), caderno (7,6%), cantar (7,6%), sentar incorretamente (7,6%), levantar (7,1%), morder o lápis (6,7%), morder a borracha (6,7%), bater o lápis na mesa (6,7%), balançar a cadeira (6,3%), morder o caderno e/ou livros (5,5%) tais comportamentos corresponderam a 76,9%, houve outros comportamentos, porém com índices menores. 48 Quadro 5 – Comportamentos constantes durante as aulas Comportamentos / Atividades Mexeu as pernas Mexeu no estojo Mexeu no caderno Cantou nas aulas Sentou torto Levantou durante a aula Mordeu o lápis Mordeu a borracha Bateu o lápis no caderno e/ou mesa Balançou a cadeira Mordeu o caderno Agressividade Rasgou as folhas do caderno Xingou os colegas Fingiu chorar nas aulas Gritou durante a aula Colocou o estojo na cabeça Jogou objetos nos colegas Pulou durante a aula Comeu a folha de papel Mexeu no lixo e joga nos colegas Bateu na tela do computador e mouse Jogou água no caderno Jogou tinta no chão Desligou os computadores Eventos 18 18 18 18 18 17 16 16 16 15 13 09 08 07 06 05 04 04 03 02 02 02 01 01 01 É nítido que o hiperativo é impaciente não consegue parar para fazer qualquer coisa, está sempre se mexendo, movimentando, não consegue se controlar. Goldstein e Goldstein (1998) mencionam o excesso de atividade, tal fator foi possível observar durante a pesquisa, os dados falam por si. Os atos que demonstraram ser agressivos tiveram índices menores em relação aos que demonstraram inquietude, ou seja, nesse caso o aluno hiperativo, demonstrou ser mais inquieto, impaciente, do que agressivo, foi possível concluir isso, pois os comportamentos como agressividade (3,8%), rasgou as folhas do caderno (3,4%), xingou os colegas (2,9%), gritou (2,1%), jogou objetos nos colegas (1,7%) representam apenas 14,7% de todos os comportamentos manifestados durante a aula, conforme quadro 5. 49 O quadro 6 apresenta os principais comportamentos do aluno na relação aluno x aluno. Esses comportamentos por sua vez, vão ao encontro da literatura na medida em que apresentou atos que atrapalharam a sala de aula, ou seja, o aluno hiperativo não sabe lidar com limites, regras, ordens, age sem pensar, costuma ser agressivo e esses fatores impactam na convivência com os demais alunos principalmente dentro da sala de aula, por atrapalhar, acaba incomodando a aula (Barkley, 2008). QUADRO 6 - Relação aluno x aluno Comportamentos / Atividades Conversou com os colegas Xingou os colegas Brincadeiras de mão Cutucou colega com lápis Eventos 7 7 5 3 Durante as observações na relação com os demais alunos, Leandro apresentou comportamentos constante de conversar com os colegas e xingar os mesmos, tendo o índice de 63,6%, essas condutas interferiram no andamento da sala de aula, bem como a relação aluno x aluno, gerou um entrave, pois ficavam incomodados. Por isso é essencial os pais e a escola estimularem habilidades sociais com a criança hiperativa, afim de promover um convívio social sadio, por meio deste ela saberá como se comportar de acordo com cada situação (BARKLEY, 2002). Segundo Bonet (2008) as crianças com TDAH não pensam nem antes nem depois de agir, não aproveitam a experiência e tropeçam centenas de vezes na mesma pedra. Isso de fato é o que acontece na sala de aula, Leandro repetiu os mesmos comportamentos de impulsividade em diversos momentos, com frequência xingou os colegas, por mais que já tenha levado advertência por isso, repetiu a mesma atitude. As brincadeiras de mão7 corresponderam a 22,7% dos comportamentos evidentes na relação aluno x aluno. Vale ressaltar que tais brincadeiras eram iniciadas pelo aluno hiperativo, durante a execução das tarefas. Essas brincadeiras 7 Cutucar os colegas com a mão e/ou lápis; bater nas costas para chamar atenção; fazer cócegas; bater na cabeça; estalar os dedos próximos do ouvido. 50 iniciaram, pois Leandro estava sem fazer nada, e acabou mexendo com os colegas, para chamar a atenção, e também, para brincar. Entretanto, os colegas sempre corresponderam a essas brincadeiras. Durante as observações 13,6% dos comportamentos na relação entre os alunos, foi cutucar os colegas com o lápis, porém sempre que o aluno hiperativo cometeu esse ato, foi para perguntar alguma coisa, ele possuía essa característica de falar com as mãos, ou seja, ele não chamava as pessoas pelo nome quando queria conversar, sempre cutucava, mas nem sempre os colegas reagiram bem, houve episódios em que os alunos ficaram irritados e chamaram a professora, dizendo que ele estava machucando, com o lápis. O quadro 7 apresenta os principais comportamentos do aluno na relação aluno-professor. Esses comportamentos por sua vez, vão ao encontro da literatura na medida em que houve a interação aluno-professor, por mais que teve picos de agressividade e passividade, foi possível observar fatores interessantes nessa relação. QUADRO 7 - Relação aluno x professor Comportamentos / Atividades Atividades diferenciadas Respeitou o professor Desrespeitou o professor Falou alto com professor Levantou a mão ao professor Eventos 11 9 7 6 5 No período da pesquisa a professora preparou atividades diferenciadas, correspondentes a 28,9% dos comportamentos observados na relação aluno x professor. Entretanto, vale ressaltar que as atividades tinham cunho recreativo, ou seja, foram cruzadas, desenhos para pintar, caça-palavra, e sempre remetida a personagens de histórias em quadrinho. De acordo com Conners (2009) o aluno hiperativo necessita que o professor dê instruções repetidamente, esse fator foi observado nessa pesquisa, há todo momento Leandro pediu orientações, mesmo que a professora já tinha passado, ele perguntava várias vezes, e quando ela estava ocupada, questionava aos colegas, isso em todas as atividades dentro da sala de aula. 51 Leandro desrespeitou a professora diversas vezes, tendo o índice de 18,4%, mas mesmo assim o índice referente a respeitar o professor foi maior, atingindo 23,7%. Entretanto, apresentou atitudes agressivas equivalente a 28,9%, falando alto com o professor e levantando a mão, com o intuito de amedrontar, insinuar que é superior. O quadro 8 apresenta os principais comportamentos do aluno e suas dificuldades durante a aula. Esses comportamentos por sua vez, vão ao encontro da literatura na medida em que apresentou atos que remetem ao transtorno. QUADRO 8 - Dificuldades apresentadas pelo aluno durante as aulas Comportamentos / Atividades Baixa concentração Baixa atenção Relacionamento com as crianças Impulsividade Agressividade Não levar o material Eventos 18 16 13 11 09 04 Durante as observações, Leandro, teve grande dificuldade em se concentrar, tendo o índice de 25,4% de baixa concentração. Conners (2009) menciona a baixa concentração e a distração enquanto realiza as atividades, como sintomas e estágios de desenvolvimento do TDAH. Mattos (2007) cita que o portador de TDAH, tem dificuldade de se concentrar e presta pouca atenção, essas posturas realmente foram observadas. A dificuldade de prestar atenção correspondeu a 22,5%. Os dois maiores índices foram concentração e baixa atenção. O aluno também, apresentou muita dificuldade quanto ao relacionamento com os demais colegas de classe, tendo o índice de 18,3%. Barkley (2002) cita que a criança com TDAH tem problemas sérios em se relacionar com outras crianças, devido à hiperatividade e impulsividade, tais fatores são aversivos a outras crianças. Já que as crianças hiperativas não entendem o conceito de construir um relacionamento íntimo baseados em trocas de favores e interesses, por não ter essa percepção, acabam não conseguindo se relacionar, pois não vêem “vantagem” ou até mesmo o porquê desses relacionamentos. 52 Conners (2009) também, ressalta essa dificuldade de relacionamento com os colegas. Leandro também, apresentou dificuldade em lidar com a impulsividade que correspondeu a 15,5%. Barkley (2008) menciona que a impulsividade relacionada ao TDAH envolve o descontrole comportamental, incapacidade de retardar uma resposta ou gratificação, além de ter aversão por esperar, isso faz com que agem de maneira impulsiva. Conners (2009) também, menciona a impulsividade comportamental que seria agitar as mãos e pés, falar alto, levantar todo momento e há a impulsividade cognitiva que remete a desorganização, cometer os mesmos erros com frequência. Foi possível associar esses comportamentos contidos na literatura com a realidade, pois Leandro apresentou características semelhantes às mencionadas por Barkley (2008) e Conners (2009), ele agiu impulsivamente, chamando os colegas com palavras e nomes que vinham na cabeça, constantemente chamou os colegas de bobo, feio, fedido, quando a professora pediu para esperar uma orientação, ele falou mais alto, começou a bater o lápis com força na mesa, demonstrou impulsividade e a tal aversão por esperar. A impulsividade comportamental também, foi observada, pois todo momento ele mexeu os pés, mãos, levantou com frequência, cantou durante as aulas. Durante o período da pesquisa houve repetição de erros durante a execução de tarefas e também, mostrou ser desorganizado. Barkley (2008) cita que o portador de TDAH tem pouca auto-regulação da emoção, tendo mais expressão emocional, especialmente de agressividade e raiva. Foram nítidos tais comportamentos durante a observação, pois Leandro tinha a emoção à flor da pele, tudo era ao extremo, se estava feliz, sorria, cantava, brincava em demasia, já quando estava irritado, gritava, chorava, xingava, não havia um equilíbrio nas emoções. Também, encontramos na literatura que a criança com TDAH, apresenta frequentemente o material sujo, rasgado e com rabiscos. Além de esquecer-se de fazer lições (BONET, 2008).Realmente foi essa realidade encontrada, pois o seu caderno era sujo e repleto de rabiscos e desenhos, além de quase todas as folhas estarem rasgadas nas pontas. A figura 2 apresenta o aspecto físico da sala de aula, que era organizada com as carteiras enfileiradas, haviam vários tipos de mesas e cadeiras e muitas 53 estavam quebradas, desparafusadas as tampas da mesa, algumas cadeiras eram mais altas, e não estavam alinhadas de maneira uniforme. A sala de aula contava com uma lousa na cor verde, em cima dela tinha um relógio que não funcionava, não tendo nenhuma utilidade, porém estava lá para chamar a atenção. No lado direito, em cima da lousa havia uma bandeira do Brasil que ficava suspensa, dois ventiladores no teto. Ao lado direito, três janelas nas laterais, na lateral esquerda havia trabalhos expostos das outras turmas, tivemos a impressão que estavam expostos há muito tempo, e dois mapas grandes pregados na parede, um do Brasil e outro do mundo. No fundo da sala havia dois armários, um da professora, outro com material das crianças, ambos organizados, duas prateleiras, uma com livros didáticos, que por sinal não estavam sendo utilizados, permaneciam embalados, e outra prateleira com vários papéis a serem utilizados (cartolinas, papel sulfite, celofane, crepom, entre outros), e duas caixas uma com livros infantis e outra com gibis. 54 FIGURA 2 – Planta da sala de aula: como estão distribuídas as carteiras, quais objetos estão presentes. Fonte: Elaborado pelo autor 55 Vale ressaltar que Benczik e Rohde (1999) mencionam que “a sala de aula pode ser criativa, colorida, ativa e estimulante. Mas é importante achar o meio termo entre a escassa motivação visual e estímulos em excesso”. Durante as observações foram registrados alguns estímulos em excesso e desnecessários, pois havia vários trabalhos de outras turmas e acabam por dispersar a atenção. Por isso temos que tomar cuidado com a disposição da sala de aula e os objetos que contém nela, para promover um ambiente propicio e harmonioso à aprendizagem. O quadro 9 apresenta os principais comportamentos da professora. Esses comportamentos por sua vez, vão ao encontro da literatura na medida em que a professora auxiliou o aluno durante as atividades, correspondendo a 16%, deixou a carteira do Leandro ao seu lado (12%), deixou a carteira dele ao lado de outra criança (5,3%), mandou bilhete à mãe com o intuito de conversar com ela sobre o comportamento do filho (5,3%). QUADRO 9 - Atitudes da professora durante a aula, acerca do aluno hiperativo Comportamentos / Atividades Chamou a atenção Falou alto com o aluno Auxiliou nas atividades Não teve paciência Deixou a carteira do Leandro ao lado da sua mesa Ignorou algumas atitudes do aluno Deixou a carteira do Leandro ao lado de outra criança Mandou bilhete para mãe Chamou a diretora na sala de aula Deixou a carteira do Leandro virada para parede Eventos 14 13 12 10 09 06 04 04 02 01 Benczik e Rohde (1999) mencionam que algumas características que o professor deve apresentar em relação ao aluno hiperativo, sendo elas: 1) Oferecer apoio, incentivo e ajuda pessoal; 2) Sinais discretos para chamar a atenção; 3) Dar punição, sem sermão, de maneira calma. Não enfatizar o fracasso; 4) Manter contato frequente com os pais; 5) Estimular o interesse e a motivação da criança para aprender (pp.210-211). 56 Entretanto, vale ressaltar que durante as observações a professora chamou a atenção do aluno (18,7%), falou alto com ele (17,3%), não demonstrou paciência (13,3%), ignorou as atitudes do aluno (8%), chamou a diretora na sala de aula (2,7%), deixou a carteira virada para a parede (1,3%). Essas atitudes não ajudaram em nada o desenvolvimento escolar do aluno, conforme na literatura, o professor deve ser discreto ao chamar a atenção, ser calmo, estimular a criança, porém com essas atitudes Leandro acabou por ficar mais irritado e frustrado, pois foi ignorado, quando foi deixado virado para a parede os demais alunos riram dele, gerando assim um fracasso, uma falta de motivação em ir à escola. Foi notória durante as observações a dificuldade em lidar com uma sala de aula que haja um aluno hiperativo. Porém o professor deve ter jogo de cintura, saber lidar com as situações de maneira madura, e pensar nas consequências de seus atos. Em se tratando agora da apresentação e discussão da avaliação geral do período observado, verificou-se que Leandro é uma criança muito ativa, esperta, não é muito de falar e sim agir, comportamento esse que de certa forma o torna um excluído frente ao grupo classe. Tem pouquíssimos amigos, e mesmo assim não é de ficar com eles durante as aulas ou recreio, os demais alunos não se aproximam dele por medo. Demonstrou ser uma criança que recebe tudo o que quer, quando dizem “NÃO” na escola, ele não aceita, finge chorar, fala mais alto. Um aspecto interessante visto durante as observações, foi que Leandro tem o olfato muito aguçado, todo momento pergunta: - Que cheiro é esse? Conversando com a professora ela também, mencionou que acha curioso esse aspecto, pois sempre que está ao lado dela, ele pergunta que cheiro tem a sua boca, que cheiro é esse no seu cabelo. Neste trabalho não foi encontrado nada relacionado a isso na literatura, porém há relatos informais de outras pessoas hiperativas, devidamente diagnosticas e acompanhadas, que também, demonstram a mesma característica. Levando em consideração a aprendizagem de Leandro, é nítido que ele estava inserido num ambiente com métodos de ensino inadequados, pois apresentou muita dificuldade, não conseguiu reconhecer os números de 0 a 10, não leu nem escreveu, e nesse processo de aquisição da leitura e escrita estava na fase silábico de valor sonoro, sendo que para um 3º ano é considerado atrasado. Mesmo a professora levando atividades diferenciadas, ele não estava aprendendo, pois as 57 atividades tinham cunho recreativo, passatempo, são cruzadinhas, desenho para pintar, caça palavras, e mesmo assim ele não conseguia realizar, pela dificuldade em compreender o enunciado, por não saber ler e a falta de paciência. Foi perceptível durante as observações que ele nunca participou das aulas nas quais era possível sua interação com a turma. Tiveram aulas de leitura de texto, com música, reportagens que a professora leu e a turma podia observar o jornal, porém ele ficou isolado no canto, como se não fizesse parte da turma. Na aula de artes teve uma atividade, onde os alunos fizeram o auto-retrato em seguida com a câmera fotográfica da professora tiravam foto do trabalho e de si mesmos mesmo, porém Leandro não participou, nem foi questionado se tinha feito o desenho ou se trouxera o material. Durante o recreio por várias vezes ele foi chamado de doidinho, maluco, louco pelas crianças de diversos anos. Quando um aluno era indagado sobre o porquê dessa forma de tratamento, de o chamarem desses nomes, a resposta foi que este é o apelido dele, pois ele não é normal, grita, corre, pula sozinho. Foi nítido o preconceito sofrido pelo Leandro, a agressividade que ele demonstrou, por ser isolado e taxado de doido. Leandro costumava dar o seu lanche para as crianças com frequência e, em seguida ficava sorrindo para eles, correndo em volta deles, tudo para chamar a atenção. Durante as aulas Leandro teve o costume de ficar com a borracha, cola, estojo, caderno, livro na cabeça, para chamar a atenção de seus colegas e professor. Também, cantou, gritou, algumas vezes levantou e pulou no meio da aula. Teve um dia em que pegou sua garrafa, que leva água todos os dias, e simplesmente jogou toda água no seu caderno. Comportamento provavelmente para chamar a atenção para si. Num determinado dia de observação Leandro estava virado para parede, com a sua carteira, atrás da mesa da professora, ele ficou durante toda a aula desta forma. Ao questionar a professora o que havia acontecido, a resposta foi que ele estava muito bagunceiro, por isso o deixou ali. Neste dia ele ficou muito agressivo, toda vez que a professora ia até sua mesa, ele levantava a mão, num gesto agressivo, porém talvez ele estava desta forma, pelo constrangimento que lhe aconteceu, todas as crianças estavam rindo dele, por estar naquela posição. Fazer uma avaliação global de Leandro é repensar em toda prática pedagógica, todo respaldo e aprendizagem. Quando nos reportamos a todos os 58 fatos, observações, falas dos professores, colegas até mesmo do Leandro, é notório o despreparo, desconhecimento sobre Hiperatividade. Ele é uma criança esperta, sabida, sabe aproveitar de sua condição para exercer uma ação de convencimento sobre todos que o cercam, como por exemplo, não fazer as atividades. Porém, também, é notório que a escola não está preparada para receber crianças com algum transtorno. Dizem ter atividades diferenciadas, porém não adequadas para a efetivação da aprendizagem. É difícil controlar uma sala com trinta e cinco alunos, e ter um aluno hiperativo, com dificuldade de aprendizagem, porém se faz necessário repensar no que fazer e como fazer, em ajudar essa criança, que está passando por todos os anos, porém não levando nenhuma bagagem. Merece destaque a observação referente à convivência com os demais colegas, pois Leandro, apresentou ser extremamente sozinho, não possui amigos, laços de amizades, sofreu bullying,8 foi discriminado, tinha vários apelidos e era conhecido por outras turmas como “o doidinho”, “maluquinho”, “louco”, “com problema”, “toma remédio para cabeça”. Para uma criança de apenas 8 anos isso é péssimo, pois marcará sua vida eternamente. 6.3 Entrevista com a professora Ao final das observações foi realizada uma entrevista de forma escrita com a professora do Leandro. Quando questionada se a escola sabe o que é Hiperatividade e como tratá-la no âmbito escolar, a professora respondeu que: 9 A escola sabe e esses assuntos são discutidos no HTPC com a coordenadora e também, temos a orientação da professora da sala itinerante (Educação Especial). Entretanto, não demonstrou muito conhecimento sobre o assunto, pois em diversos momentos não sabia lidar com as atitudes do aluno como, por exemplo, quando ele cantava, levantava, perdia paciência com o mesmo e não utilizava estratégias na sala de aula para esse aluno hiperativo. 8 Conforme dicionário online Priberam a definição é um conjunto de maus-tratos, ameaças, de intimidação física ou psicológica exercido de forma continuada sobre uma pessoa considerada mais fraca ou mais vulnerável. 9 HTPC - Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo. 59 Tal comportamento destoante da prática conduz a idéia de que apenas informações sobre a hiperatividade não são suficientes para garantir uma prática pedagógica efetiva. Questionada sobre quando percebeu que o aluno Leandro tinha Hiperatividade, se partiu da escola ou dos pais, a professora afirmou que: A escola pediu uma avaliação do Leandro o ano passado, devido ao comportamento e agressividade na sala de aula. Fez um acompanhamento psicológico e uso de medicamento que o ajudou bastante. A professora mencionou que partiu da escola a solicitação do diagnóstico, porém na entrevista com a mãe, a mesma informou que partiu dela, com as informações passadas ao neurologista por ela. Em conversa com a diretora, informou que Leandro estava muito agressivo e por isso a escola conversou com a mãe para solicitar um diagnóstico médico. Em 2009 ele foi diagnosticado, e esse ano foi muito complicado, pois a escola informou que ele chegou a bater em uma professora, que acabou saindo da escola, pois a convivência estava difícil, isso aconteceu na época que Leandro, não tomava medicamento algum. Quando questionada se havia um acompanhamento da escola em relação à evolução do Leandro e se há reuniões com os pais para avaliarem a situação, a professora afirmou que: Sim, a escola sempre está em contato com a mãe. Foi possível observar que havia certo contato entre a professora e a família, porém não são laços estreitos. Leandro possuía um caderno e por meio deste, a professora conversava com a mãe do aluno, falava as dificuldades, comportamentos, porém esse diálogo acontecia apenas nos casos extremos, como: atrito sério com os colegas; levantou a mão para professora. Não eram mencionadas as dificuldades em sala de aula, por exemplo, “hoje ele não trouxe o material, portanto, não realizou a atividade, ou, comentar que o Leandro não se concentrou, estava impaciente”. Contar um pouco sobre o dia escolar, talvez ajudasse e manteria o contato com a família, dessa forma seria mais fácil de trabalhar, pois haveria uma aproximação da escola com a família. 60 Quando questionada se eram utilizados métodos diferenciados para avaliação do aluno, a professora informou que: Sim, todas as atividades são diferenciadas e a avaliação é feita de acordo com o nível que ele está (Silábico com valor sonoro). As atividades realmente eram diferenciadas, porém com o cunho recreativo, durante as observações foi possível registrar atividades da Turma da Mônica, de cruzadinha, colorir, caça palavras. Para Leandro era um passatempo, quando ele não esteve a fim de realizar essas atividades, levantou, caminhou até o fundo da sala e pegou gibis para olhar. Na observação realizada no dia de avaliação (prova), Leandro, simplesmente não recebeu a prova e ficou sem fazer nada. As avaliações foram feitas de acordo com a percepção da professora, não houve nenhuma atividade documentada que atribuiu qualquer tipo de nota. Esse fator impacta diretamente na evolução do aluno, no desenvolvimento, pois ele deixou de participar, de tentar encontrar uma maneira de se concentrar para realizar a prova, de entender a importância dos estudos, bem como as avaliações. Nesse item entra novamente a falta de formação e informação do professor, pois não está preparado em lidar com essa criança hiperativa, que possui uma dificuldade de aprendizagem, não tendo conhecimento em adaptar conteúdos e formas de avaliação. Quando questionada sobre quais as maiores dificuldades encontradas pela escola para o processo de ensino aprendizagem, a professora afirmou que: No momento a concentração e a falta de interesse do Leandro. Os registros indicaram que as maiores dificuldades encontradas pela escola é falta de informação, o despreparo para lidar com hiperativos. A concentração e a falta de interesse impactam, porém isso é uma característica do próprio transtorno. Há necessidade de um aprimoramento na formação dos professores atuantes, afim de indicar alternativas para o ensino de uma criança hiperativa, como deve deixar a disposição da sala de aula, como realizar avaliações, intervenções, durante a dinâmica da aula. 61 Quando questionada para definir um perfil do aluno na sala de aula e seu convívio com os demais colegas, a professora mencionou que: O Leandro está sempre em movimento, pés balançando, lápis batendo na carteira, canta ou fica chamando os colegas. Aceita ajuda dos colegas para ajudá-lo nas atividades. Raramente brinca com alguém, sempre fica sozinho. Tais particularidades foram observadas, reafirmando o que consta na literatura. A professora retratou muito bem como Leandro é na sala de aula. Durante as observações foi registrado que ele faz barulhos estranhos com a boca, quando não está cantando, está fazendo tais barulhos. Bonet (2008, p.37) ressalta a presença de comportamentos como “cantoria, barulhos com a boca e o assobio”. Quando questionada se há mais alguma consideração, a professora informou que: A mãe parou com o acompanhamento psicológico no ano passado, só retornando agora por solicitação da escola. A escola informou que a mãe parou por um tempo o acompanhamento psicológico devido aos gastos. Entretanto, em conversa com a mãe a mesma informou que o tratamento está em andamento, com acompanhamento psicológico, fonológico e neurológico. 6.4 Entrevista com os pais Foi realizada uma entrevista com a mãe do Leandro. Essa entrevista foi escrita e realizada no final das observações. Quando questionada sobre as informações da gravidez e parto, a mãe informou que: Não teve nenhum problema durante a gravidez. Foi uma gravidez desejada. Tomou sulfato ferroso durante a gravidez. Não fuma nem bebe. O parto foi normal. 62 Vale ressaltar que em conversa com a mãe, fui informada que Leandro nasceu prematuro, com sete meses, ficou durante um mês e meio na incubadora. Além de apresentar atraso na fala e andar. Na literatura encontram-se informações que crianças com TDAH têm maior probabilidade de apresentar problemas na linguagem expressiva (BARKLEY, 2008, p. 140). Também, é mencionado que as crianças com TDAH têm um risco maior de retardos para caminhar, por terem pouca coordenação motora (BARKLEY, 2008, p. 166). Quando questionada sobre as informações do Leandro, a mãe informou que: Sempre foi ativo e considerado “bagunceiro”. Sempre apresentou dificuldades em se concentrar e também, interrompe as conversas alheias. Encontramos na literatura a notória falta de atenção desde o primeiro trimestre de vida. Ciasca (2010) “a criança com TDAH pode apresentar, nessa fase, dificuldade em focar e sustentar sua atenção, mesmo que por um período curto de tempo”. Durante as observações percebemos que Leandro é realmente ativo, não conseguia ficar parado, mas no ambiente escolar não apresentou ser bagunceiro e sim impaciente, ativo e impulsivo. Quando questionada sobre o diagnóstico, quem indicou, se toma algum remédio, a mãe respondeu que: O diagnóstico foi dado por psicólogos e o neurologista Dr. Plínio e foi baseado nas informações passadas por mim sobre o comportamento do Leandro e algumas coisas foram observado por ele mesmo, atualmente o Leandro toma medicação de uso continuo e por tempo indeterminado. Em nenhum momento a mãe informou que a escola pediu uma avaliação, um diagnóstico, tendo em vista, seus comportamentos durante as aulas. Percebemos que o diagnóstico seguiu as orientações contidas na literatura, pois foi avaliado por um neurologista, psicólogos, considerando as observações feitas pela família e também, as observações feitas pelos próprios profissionais durante as consultas. Conforme Barkley (2008) o diagnóstico envolve: 63 ü A coleta de dados de escalas de avaliação e informações prévias. ü Uma entrevista semi-estruturada com o cliente. ü Revisão de registros anteriores que possam documentar o comprometimento. ü Testes psicológicos para descartar um retardo cognitivo geral ou dificuldades de aprendizagem. ü Confirmação de relatos do paciente por pelo menos outra fonte que o conheça bem. ü Um exame médico geral em casos em que se preveja o uso de medicação, ou se condições medicas coexistentes justificarem outra avaliação e tratamento (BARKLEY, 2008, p.460). Em conversa com a mãe a mesma informou que Leandro toma o medicamento Concerta® diariamente. Segundo Conners (2009, p. 49) trata-se de “uma cápsula rígida praticamente inquebrável, com uma membrana osmótica que permite a liberação do medicamento durante 12 horas”. Percebemos que no início da aula, especificamente na primeira aula, Leandro parecia dopado, com o efeito do medicamento, porém ele ia se soltando, depois do recreio ele tornava-se outro, ficando muito agitado. A professora também, notou essa característica. Quando questionada sobre a relação entre o Leandro e a escola, se tem algum tratamento diferenciado, como tarefas, avaliações e se acompanha as atividades do seu filho, a mãe respondeu que: A relação do Leandro com a escola é muito tumultuada, tenho recebido muitas reclamações sobre o comportamento e ele não tem se desenvolvido na escola, o único tratamento diferenciado que ele tem é o caderno de tarefa que ele trás para casa toda semana, mas não tem muito resultado por ele não ter concentração para fazer. A escola não tem o preparo para lidar com crianças com a Hiperatividade, acho que deveria ter um outro professor na sala para ajudar crianças com essa dificuldade assim ajudaria muito essas crianças no desenvolvimento escolar, acho que tem um resultado muito bom. Estou sempre acompanhando meu filho em tudo que está relacionado a escola, estou sempre presente na vida dele. A mãe demonstrou grande insatisfação em relação à aprendizagem do seu filho, pois não estava percebendo avanço, em conversa com a mãe, ela a todo o momento comparava seu filho com outras crianças da mesma idade, o que lhe preocupa é o fato do filho ler e escrever com muita dificuldade, e estar no 3º ano e não demonstrar evolução. Quando a mãe mencionou que a escola não estava preparada para lidar com crianças hiperativas, é um fato, mas isso se deve a falta de informação, 64 preparação, capacitação dos profissionais, se faz necessário uma formação voltada para essas dificuldades de aprendizagens. Havia atividades diferenciadas, porém não adequadas, por falta de orientação. A mãe falou que acompanha o seu filho, porém a professora sentia dificuldade, pois quando mandava bilhete pedindo para ela comparecer na escola, não eram todas as vezes que ela comparecia, então à professora ficava no portão esperando a mãe para conversar. Quando questionada se tinha alguma consideração para fazer, a mãe respondeu que: Acredito muito que o acompanhamento médico e com psicólogos vai ajudar o Leandro, mas se não tiver outro professor com a Lúcia (nome fictício) para ajudar o Leandro, pois a dificuldade dele aprender ser maior que a dos outros vai ser bem mais complicado o desenvolvimento escolar dele. A última fala da mãe demonstrou o medo de seu filho não desenvolver na vida escolar. Para a mãe ter uma segunda professora na sala de aula adiantaria, porém não basta ter mais uma pessoa se a mesma não estiver preparada, não ter formação e informação sobre hiperatividade, como lidar, quais alternativas para promover um ensino de qualidade. Também, é necessário a família estar junto com a escola, dessa forma trabalhando em equipe é possível um desenvolvimento escolar para Leandro, pois a escola em conjunto com a família, buscará soluções e alternativas para o progresso escolar. 65 7 Considerações Finais Ao findar a elaboração desta pesquisa, percebemos o quanto é fascinante este tema, tendo em vista que é um assunto recente, está sendo pesquisado com mais frequência, porém falta informação aos professores e pais que lidam com as crianças hiperativas, essas crianças tão especiais, com uma disposição de dar inveja a qualquer um, que tem um instinto aguçado em descobrir, querer saber, e que vivem no mundo da lua. A cada leitura, cada descoberta, sejam sobre as características, dificuldades, anseios, medos, maior era à vontade, o prazer em descobrir mais, entender o transtorno, buscar alternativas no ensino, para então promover o desenvolvimento escolar dessas crianças tão ativas. Foi encantador conviver com o Leandro, durante dois meses, mapear o ambiente escolar, ler os depoimentos da professora, da mãe, perceber os anseios. Foi possível notar as particularidades deste caso, o olhar esteve sempre atento para perceber cada atitude, ação, do Leandro, da professora, dos colegas, para deixar a pesquisa rica em detalhes, que faça com que o leitor se envolva, e com a leitura possa imaginar e vivenciar as situações e casos descritos ao longo da pesquisa. Com este trabalho, foi possível aprofundar um pouco os conhecimentos sobre a hiperatividade, conhecer a definição, breve histórico, bem como aspectos médicos e educacionais, além de aprofundar o que acontece na sala de aula, o que o professor deve esperar, como deve se preparar para lidar com determinadas situações e também, perceber a relação existente entre escola e família. Todos esses aspectos visam contribuir a área educacional. O que motivou está pesquisa foi o levantamento de algumas indagações como, se a escola e os professores são capazes ou não de identificar características de um aluno hiperativo, ou se por outro lado há uma generalização de comportamentos inadequados classificados como hiperativos. Se há ou não a necessidade de se adaptar conteúdos e processos de avaliação para atender as necessidades especiais de um aluno hiperativo. O que realmente a sala de aula deveria ter ou oportunizar para que o aluno com hiperatividade tivesse sucesso 66 educacional. Especificamente neste estudo de caso tais questionamentos foram respondidos. Pudemos constatar que a escola e os professores acabam identificando alguns indícios que levam a crer que o aluno é hiperativo, porém em larga escala, ou seja, alguns alunos que possuem dificuldades em relação a falta de limite, não respeitam professores e/ou colegas, são agressivos, acabam sendo considerados como tal, porém de maneira errônea, pois o que percebemos nesta pesquisa, foi que nas escolas, em geral, há alunos hiperativos em grande quantidade, porém sem o diagnóstico adequado, podemos afirmar isso, pois até encontrar Leandro, tivemos que visitar outras escolas, para encontrar o perfil do indivíduo para este estudo de caso e foi essa realidade encontrada nas escolas. Infelizmente há uma generalização de comportamento inadequado classificado como hiperativo, isso se dá por falta de formação e informação do que é hiperatividade. Pensar na adequação de conteúdos e avaliações para atender as necessidades do aluno hiperativo é repensar na prática, na metodologia, além de encontrar um caminho de medir o conhecimento deste aluno. Foi nítida durante a pesquisa que é necessária essa adequação, pois neste caso o aluno estava atrasado em relação às demais crianças, como não ficou retido no ano adequado, acabou por gerar uma defasagem no conteúdo, sendo necessária a adequação. Além disso, Leandro mostrou-se muito inteligente, porém pouco estimulado, e como possui dificuldade em se concentrar, acaba não realizando as atividades nem provas, se fosse possível utilizar algumas estratégias mencionadas ao longo deste trabalho, por exemplo, deixá-lo como ajudante, ao lado de outro colega para auxiliálo nas atividades, utilizasse método avaliativo oral, isso ajudaria a perceber o progresso escolar, isto que a sala de aula deveria proporcionar a essa criança hiperativa. Foi possível analisar os aspectos educacionais e a relação pessoal entre professor e demais colegas, na sala de aula que diz ser inclusiva, porém o que percebemos durante o período da pesquisa, que promove práticas que excluem esse aluno no âmbito escolar. A relação com os professores não é ruim, porém não há práticas que promovem realmente uma aprendizagem inclusiva, que dê a ele o direito em aprender como os outros colegas, em determinadas atividades não participa e o tratam como se não estivesse na sala de aula. As crianças acabam por 67 promover prática de bullying, com apelidos maldosos, evitam ao máximo o convívio com Leandro. Notamos que alguns fatores influenciam diretamente no desenvolvimento deste aluno hiperativo na sala aula. O fato de a professora ignorá-lo várias vezes, falar alto, colocar sua carteira virada para parede acabou deixando-o mais frustrado, irritado, fez com que permanecesse as mesmas atitudes para chamar a atenção, além de atrapalhar o desenvolvimento escolar dele mesmo e dos colegas. Por meio das entrevistas realizadas com a professora e mãe do aluno, foi possível analisar a relação existente entre escola e família, e foi claro certo distanciamento de ambos. A professora citou as dificuldades do aluno, frisou que o diagnóstico foi solicitado pela escola, que conhecia o que era hiperatividade, que sempre esteve em contato com a mãe, que havia métodos diferenciados para avaliálo. Entretanto, a convivência não foi tão amena e simples assim, percebemos durante a observação, o estresse existente na relação aluno e sala de aula. Várias vezes a professora mostrou-se insatisfeita e descontente com o fato de Leandro ter dificuldades e não evoluir. Também, colocou a responsabilidade do não aprendizado a mãe, pois ela não o acompanhava, de acordo com a professora. Em paralelo, a entrevista da mãe demonstrou grande insatisfação no que se referia ao aprendizado do filho, culpando a escola pela não evolução acadêmica. Em nenhum momento citou que o diagnóstico foi solicitado pela escola, usou a palavra “tumultuada” para representar a relação de Leandro com a escola. Comparando as duas entrevistas, podemos concluir a falta de diálogo entre família e escola, pois eles acreditam ser mais fácil culpar um ao outro, do que sentar e procurar alternativas para ajudar Leandro. A escola, representada pela professora, em nenhum momento disse que não estava preparada em lidar com o aluno hiperativo e que precisava de uma formação adequada e despejou toda culpa na família pelo insucesso escolar. Já a mãe, disse que o maior problema foi não ter uma professora auxiliar na sala de aula para ajudar seu filho. A falta de diálogo e de uma relação estreita entre família e escola, fez com que o aluno não se desenvolvesse, pois não houve a colaboração de um com o outro, a fim de promover o sucesso educacional, é imprescindível uma flexibilidade de ambas as partes em entender o motivo, causa e soluções acadêmicas. Com a conclusão deste trabalho foi possível perceber as dificuldades da sala de aula com aluno hiperativo, sensibilizar com as práticas educacionais e falta 68 de formação para lidar com esse aluno. Cabe em uma oportunidade futura aprofundar tal pesquisa, e realizar novas práticas educacionais, para comparar como será o aprendizado deste aluno. 69 Referências BARKLEY, R.A. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade. São Paulo: ARTMED, 2002. BARKLEY, R.A. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: manual para diagnóstico e tratamento. 3ª ed. Porto Alegre: ARTMED, 2008. BENCZIK, E. B. P.; RODHE, L. A. P. Transtorno de déficit de atenção hiperatividade: o que é? Como ajudar? Porto Alegre: ARTES MÉDICAS SUL, 1999. BONET, T.; SORIANO, Y.; SOLANO, C. Aprendendo com Crianças Hiperativas. 1ª ed. São Paulo: CENGAGE LEARNING, 2008 CIASCA, S.M. et al. TDAH: transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. 1ª ed. Rio Janeiro: REVINTER, 2010. CONNERS, C.K. Transtorno de deficit de atenção/hiperatividade: as mais recentes estratégias de avaliação e tratamento. 3ª ed. Porto Alegre: ARTMED, 2009. FONTANA, R. S. et al. Prevalência de TDAH em quatro escolas públicas brasileiras. Arq. Neuro-Psiquiatr., Mar 2007, vol.65, no.1, p.134-137. ISSN 0004-282X. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0004282X2007000100027&script=sci_arttext>, Acesso em: 17 abril.2010 GOMES, M. et al. Conhecimento sobre o transtorno do déficit de atenção/hiperatividade no Brasil. J. bras. psiquiatr., 2007, vol.56, no.2, p.94-101. ISSN 0047-2085. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/jbpsiq/v56n2/a04v56n2.pdf>, Acesso em: 10 abril.2010 GOLDSTEIN, S. e GOLDSTEIN, M. Hiperatividade: como desenvolver a capacidade de atenção da criança. Campinas: PAPIRUS EDITORA, 1998. MATTOS, P. No Mundo da Lua: Perguntas e respostas sobre o transtorno do déficit de atenção com hiperatividade em crianças, adolescentes e adultos. 7ª ed. São Paulo: LEMOS EDITORIAL, 2007 70 PALMA FILHO, J.C.P. Estudo de caso. In: Pedagogia cidadã cadernos de formação metodologia de pesquisa científica e educacional. São Paulo: UNESP, 2004. p. 123126. STAINBACK, S.; STAINBACK, W. Inclusão um guia para educadores. Porto Alegre: ARTMED, 1999. SOUZA, Luciana Karine de and HUTZ, Claudio Simon. Relacionamentos pessoais e sociais: amizade em adultos. Psicol. estud. [online]. 2008, vol.13, n.2, pp. 257-265. ISSN 1413-7372. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pe/v13n2/a08v13n2.pdf, Acesso em: 21 maio 2010. TOPCZEWSKI, A. Hiperatividade – Como lidar? 3ª ed. São Paulo: CASA DO PSICÓLOGO, 1999. 71 Apêndice A MODELO DE AUTORIZAÇÃO PARA PESQUISA À Escola Ilustríssima Senhora Diretora REF.: Autorização para pesquisa Pela presente venho solicitar autorização para desenvolver pesquisa intitulada “Hiperatividade: o que acontece na sala de aula?”, cujo conteúdo é de responsabilidade de Gabriely Cabestré, sob a orientação da Professora Doutora Eliana Marques Zanata. Será utilizado um protocolo de observação, que será aplicado na sala de aula que possui o aluno ________________________ que é hiperativo, devidamente diagnosticado e acompanhado por especialista e a escola tem consciência do caso do aluno. Os pais do participante preencheram um questionário, assim como o professor (a) para traçar o perfil do mesmo, Esta pesquisa tem por objetivo analisar os aspectos educacionais e de inter-relação pessoal aluno-aluno e professor-aluno em uma sala de aula inclusiva em que haja um aluno com hiperatividade devidamente diagnosticado. Em hipótese alguma serão utilizadas as informações desta pesquisa com finalidades diversas ao conteúdo do trabalho acadêmico e será mantida em sigilo a identidade da instituição, bem como os dados de identificação dos participantes, preservando seu anonimato. Esta pesquisa fornecerá informações importantes para o trabalho de conclusão de curso de graduação em Pedagogia e para futuros trabalhos na área de educação, onde os pesquisadores estão compromissados com o Código de Ética, assegurando total sigilo quanto aos dados obtidos durante a pesquisa. Sem mais, certa de contar com seu apoio, Bauru, SP, ___________ de 2010. Gabriely Cabestré Ciente e de acordo: ___________________________________________ 72 Apêndice B MODELO DE TERMO DE CONSENTIMENTO Eu, _________________________________________________________________, portador do RG nº _________________________, residente à Rua (Av.) _________________________________________________________________, nº ________, na cidade de _______________, estado ______, concordo em participar da pesquisa de título “HIPERATIVIDADE: O QUE ACONTECE NA SALA DE AULA?”, a qual constitui pesquisa de Iniciação Científica da aluna Gabriely Cabestré, regularmente matriculada no Curso de Graduação em Pedagogia da Faculdade de Ciências da UNESP Bauru, sob orientação da Professora Dra. Eliana Marques Zanata. E fui orientado(a) do seguinte: - A proposta de trabalho não apresenta procedimentos invasores nem exposição a materiais prejudiciais à saúde, portanto, não apresenta riscos aos participantes. - A proposta pode apresentar benefícios uma vez que oferece subsídios para a melhoria da prática educacional na área de inclusão. - Todos os dados de identificação dos participantes, bem como da Unidade Escolar serão omitidos preservando o anonimato. Estou ciente também, de que minha participação é voluntária e dela posso desistir a qualquer momento, sem explicar os motivos. Bauru, _____/_____/_____ ______________________________________ Assinatura do Participante ou Responsável 73 Apêndice C MODELO DE PROTOCOLO DE OBSERVAÇÃO Nome do observado: __________________________________________________ Observador: _________________________________________________________ Data da Observação: ____/____/____ Tempo de Observação: ____h____m Profª: __________________________ Disciplina: _________________________ Atividade individual ou grupo?: _________________________________________ 1. Durante as atividades: presta atenção, é inquieto, conversa muito, distrai com facilidade, segue as orientações da professora, realiza a atividade até o fim. Diferenças em atividade individual e em grupo. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 2. Quais comportamentos o aluno constantemente apresenta durante a aula. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 3. Relação aluno x aluno: conversa em horas impróprias, briga com os colegas de classe, ajuda ou atrapalha. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 74 4. Relação aluno x professor: há cooperação em ambas partes, aluno respeita o professor, o professora auxilia o aluno de maneira diferenciada. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 5. Quais dificuldades o aluno apresenta durante a aula. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 6. Sala de aula: como está distribuída as carteiras, quais objetos estão presentes. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 7. Atitudes da professora durante a aula, acerca do aluno hiperativo. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 8. Avaliação global da observação. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 75 Apêndice D ENTREVISTA – PROFESSORA 1) A escola sabe o que é Hiperatividade e como trata-la no âmbito escolar? Se sim, onde adquiriu tal conhecimento? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 2) Quando percebeu que o aluno (NOME) tinha hiperatividade? Esse questionamento partiu da escola ou os pais já haviam informado? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 3) A escola acompanha a evolução do aluno? Há reuniões com os pais para avaliarem a situação? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 4) São utilizados métodos diferenciados para avaliação do aluno? Se sim, quais? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 76 5) Quais as maiores dificuldades encontradas pela escola para o processo de ensino aprendizagem do aluno? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 6) Relate como é o aluno (NOME) na sala de aula e seu convívio com os demais colegas. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 7) Considerações importantes ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 77 Apêndice E QUESTIONÁRIO – ENTREVISTA (PAIS) Nome da criança: ______________________________ D/N: _____/_____/_____ Nome da mãe: ________________________________ D/N:_____/_____/_____ Nome do pai: _________________________________ D/N:_____/_____/_____ Informações da gravidez e parto 1. Teve problema durante a gravidez? SIM ____ NÃO____ Se, sim, qual? ______________________________________________________ 2. A gravidez foi desejada? SIM ____ NÃO____ 3. Tomou alguma medicação durante a gravidez? SIM ____ NÃO____ Se, sim, qual? ______________________________________________________ 4. Usou bebidas alcoólicas durante a gravidez? SIM ____ NÃO____ 5. Fumou durante a gravidez? SIM ____ NÃO____ 6. O parto foi normal ou cesariana? _____________________________________ 7. Teve depressão pós-parto? SIM ____ NÃO____ Informações do (nome do aluno) 1. O (nome do aluno) sempre foi ativo, esperto? SIM ____ NÃO____ 2. Sempre foi considerado “bagunceiro” ou algo semelhante? SIM ____ NÃO____ 3. Sempre foi falante? SIM ____ NÃO____ 78 4. Não consegue ficar parado? SIM ____ NÃO____ 5. Constantemente interrompe as conversas alheias? SIM ____ NÃO____ Outras observações: __________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Diagnostico e Medicamentos: Como foi feito o diagnóstico, quem indicou? O (nome do aluno) toma algum remédio? Se sim com qual frequência? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ Aluno x Escola Qual a relação entre o (nome do aluno) com a escola? Tem algum tratamento diferenciado, como tarefas, avaliações, etc? Qual a sua opinião, como deveria ser tratada a hiperatividade na escola? A senhora acompanha as atividades do seu filho? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 79 Considerações finais ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________