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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
Faculdade de Ciências – Campus Bauru
Departamento de Educação
Licenciatura em Pedagogia
GABRIELY CABESTRÉ
HIPERATIVIDADE: O QUE ACONTECE NA SALA DE AULA?
BAURU
2010
1
GABRIELY CABESTRÉ
HIPERATIVIDADE: O QUE ACONTECE NA SALA DE AULA?
Trabalho
de
Conclusão
de
Curso
apresentado ao Departamento de Educação
da Faculdade de Ciências - UNESP, Bauru,
como parte dos requisitos para obtenção do
título de graduação em Pedagogia, sob a
orientação da Professora Doutora Eliana
Marques Zanata.
Orientadora: Profa. Dra. Eliana Marques Zanata
BAURU
2010
2
Cabestré, Gabriely.
Hiperatividade: o
que
acontece
na
sala
de
aula? / Gabriely Cabestré, 2010.
79 f. : il.
Orientador: Eliana Marques Zanata.
Monografia (Graduação)–Universidade Estadual
Paulista. Faculdade de Ciências, Bauru, 2010.
1. Hiperatividade. 2. TDAH. 3. Sala de aula.
5. Inter-relação. I. Universidade Estadual
Paulista. Faculdade de Ciências. II. Título.
3
GABRIELY CABESTRÉ
HIPERATIVIDADE: O QUE ACONTECE NA SALA DE AULA?
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Educação
da Faculdade de Ciências - UNESP, Bauru, como parte dos requisitos para
obtenção do título de graduação em Pedagogia, sob a orientação da
Professora Doutora Eliana Marques Zanata.
Banca Examinadora:
__________________________________________________
Profa. Dra. Eliana Marques Zanata – Orientadora
Faculdade de Ciências – Unesp – Bauru
__________________________________________________
Prof. Dr. Antonio Francisco Marques
Faculdade de Ciências – Unesp – Bauru
__________________________________________________
Profa. Dra. Vera Lúcia Messias Fialho Capellini
Faculdade de Ciências – Unesp – Bauru
Bauru, 11 de novembro de 2010.
4
DEDICATÓRIA
__________________________________________________________
Aos meus pais, Luiz e Cristina, que me apoiaram e incentivaram.
Ao meu noivo, Paulo, pela paciência e amor imensurável.
À minha irmã, Nathalia, querida e companheira.
Ao meu querido irmão, Marcelo, minha inspiração em conhecer o mundo dos
hiperativos, bem como, alternativas pedagógicas.
5
AGRADECIMENTOS
__________________________________________________________
À Deus pelo dom da vida e ar que respiro.
À querida e admirável mestra Eliana Marques Zanata pela sabedoria, empenho,
paciência e por passar tranquilidade no que parecia difícil em terminar. Obrigada
pela confiança, dedicação e ensinamento.
Aos membros que compõe a banca, Vera e Antonio, que se predispuseram em
participar, contribuir e somar a esta pesquisa.
À Escola Estadual, pela oportunidade de realizar este trabalho, abrindo as portas e
recebendo com toda atenção.
Aos participantes desta pesquisa que estavam sempre prontos e não negaram
nenhuma informação.
À todos que direta ou indiretamente contribuíram para finalização deste trabalho.
6
EPÍGRAFE
__________________________________________________________
_
Tenho andado distraído
Impaciente e indeciso
E ainda estou confuso
Só que agora é diferente
Estou tão tranquilo
E tão contente
Quantas chances desperdicei
Quando o que eu mais queria
Era provar pra todo o mundo
Que eu não precisava
Provar nada pra ninguém
“Quase sem querer”
(Legião Urbana)
7
RESUMO
A hiperatividade vem sendo discutida com frequência, pesquisada e acompanhada,
porém é importante investigar o aluno, as inter-relações que existem na sala de aula
e tudo o que acontece nesse âmbito, quais as dificuldades, facilidades e
comportamentos. Pretendeu-se com este trabalho contribuir para a área da
educação, buscando respostas para os questionamentos sobre hiperatividade e o
que acontece na sala de aula, ou seja, esse foi o objeto de estudo: a sala de aula e
sua dinâmica. Trata-se de uma pesquisa de campo que teve como objetivo analisar
os aspectos educacionais e de inter-relação pessoal aluno-aluno e professor-aluno
em uma sala de aula de inclusiva em que haja um aluno com hiperatividade
devidamente diagnosticado. Foi proposto traçar um perfiL do aluno hiperativo, uma
vez que se constitui em um estudo de caso. O sujeito da pesquisa foi um aluno do 3º
ano do Ensino Fundamental de escola pública estadual, diagnosticado clinicamente
como hiperativo e que conta com acompanhamento familiar, escolar e médico. Para
coleta de dados foi elaborado um protocolo de observação, preenchido diariamente.
O aluno foi observado durante dois meses, em dias e horários alternados,
totalizando 18 aulas. Foram feitas entrevistas com a professora e a mãe do aluno
com o intuito de traçar o perfil do aluno participante. Após a compilação dos dados,
foi possível encontrar as respostas dos questionamentos que motivaram esta
pesquisa, sendo possível identificar o despreparo dos professores em lidar com
aluno hiperativo em sala de aula; a generalização de comportamentos, considerando
vários alunos como hiperativo, porém sem diagnóstico; necessidade de adaptar o
conteúdo, porém de forma adequada e não apenas recreativa; falta de diálogo entre
escola e família.
Palavras-chave: hiperatividade, TDAH, sala de aula, inter-relações, inclusão.
8
ABSTRACT
Hyperactivity has been frequently discussed, researched and monitored, but it is
important to investigate the student, the interrelationships that exist in the classroom
and everything that happens in that context, what are the difficulties, facilities and
behaviors. The intention of this work contribute to the education, seeking answers to
the questions about hyperactivity and what happens in the classroom, or that was the
object of study: classroom and its dynamics. This is a field study aimed to analyze
the educational aspects and inter-personal relationship student-student and studentteacher in an inclusive classroom where there is a student with hyperactivity properly
diagnosed. It was proposed to draw a profile of the hyperactive student, since it
constitutes a case study. The research subject was a student of 3rd year of
elementary school to public school, clinically diagnosed as hyperactive and who is
backed by family, school and doctor. For data collection was developed an
observation protocol, completed daily. The student was observed for two months on
alternate days and times, totaling 18 classes. Interviews were conducted with the
teacher and the student's mother in order to profile the student participant. After
compiling the data, we can find the answers of the questions that motivated this
research, it is possible to identify the unpreparedness of teachers to deal with
hyperactive students in the classroom, the spread of behaviors, considering many
students as hyperactive, but no diagnosis; need to adapt the content, but properly
and not just recreational; lack of dialogue between school and family.
Keywords: hyperactivity, ADHD, classroom, interrelations, inclusion.
9
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
__________________________________________________________
FIGURA 1 – Córtex Cerebral.....................................................................................17
FIGURA 2 – Planta da sala de aula...........................................................................54
QUADRO 1 – Características da Hiperatividade em Idade Escolar...........................19
QUADRO 2 – Comportamentos associados ao TDAH segundo Barkley..................21
QUADRO 3 – Boletim para um programa doméstico de gratificações voltado ao
comportamento em sala de aula................................................................................37
QUADRO 4 – Comportamentos durante as atividades..............................................47
QUADRO 5 – Comportamentos constantes durante as aulas...................................48
QUADRO 6 – Relação aluno x aluno.........................................................................49
QUADRO 7 – Relação aluno x professor...................................................................50
QUADRO 8 – Dificuldades apresentadas pelo aluno durante as aulas.....................51
QUADRO 9 – Atitudes da professora durante a aula, acerca do aluno
hiperativo....................................................................................................................55
10
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
__________________________________________________________
HTPC – Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo.
TC – Transtorno de Conduta.
TDA – Transtorno de Déficit de Atenção.
TDAH – Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.
TDO – Transtorno Desafiador Opositivo.
11
SUMÁRIO
1
Introdução......................................................................................................13
2
Definição e Breve Histórico da Hiperatividade...........................................16
3
Aspectos Médicos e Educacionais..............................................................24
3.1
Aspectos Médicos............................................................................................24
3.2
Aspectos Educacionais....................................................................................26
4
Hiperatividade na sala de aula......................................................................29
4.1
Formação e informação dos professores sobre Hiperatividade......................29
4.2
Ensino e sala de aula inclusiva........................................................................31
4.3
A convivência em sala de aula........................................................................32
4.4
Amizades.........................................................................................................33
4.5
Alternativas em sala de aula............................................................................34
5
Metodologia....................................................................................................39
5.1
Formulação do problema.................................................................................39
5.2
Definição da unidade caso..............................................................................40
5.3
Determinação do número de caso...................................................................41
5.4
Elaboração do protocolo..................................................................................41
5.5
Coleta de dados...............................................................................................42
5.6
Avaliação e análise de dados..........................................................................42
5.7
Preparação do relatório (apresentação dos resultados)..................................43
6
Apresentação e discussão dos resultados.................................................44
6.1
Observações....................................................................................................44
6.2
Discussões.......................................................................................................46
6.3
Entrevista com a professora............................................................................58
6.4
Entrevista com os pais.....................................................................................61
12
7
Considerações Finais....................................................................................65
Referênciais..............................................................................................................69
Apêndice...................................................................................................................71
13
1
Introdução
A Hiperatividade é um tema polêmico que vem sendo pesquisado cada
vez mais. Há uma necessidade em compreender tal transtorno que afeta crianças e
adultos, na capacidade de inibir reações como o impulso e autocontrole.
É necessário que diretores, coordenadores, professores, pais, alunos, a
sociedade em geral, tenham conhecimento sobre este transtorno, afim de não
“rotular” crianças hiperativas como “indisciplinadas”, já que na maioria das vezes é
assim que são denominadas, uma vez que o transtorno apresenta sintomas
similares a tal mau comportamento, porém são distintos.
Atualmente há uma grande procura de educadores e familiares por
informações e orientações acerca da hiperatividade, principalmente quando se dá o
ingresso da criança na Educação Infantil e/ou Fundamental. Neste momento os
professores começam a apontar as discrepâncias de comportamento desta criança,
porém devemos tomar cuidado para não dar ao professor à responsabilidade do
diagnóstico. O transtorno da hiperatividade realmente existe, contudo, a afirmativa
do diagnóstico necessita de avaliação clínica, cuja responsabilidade e competência
não são dos professores. Por outro lado, comportamentos inadequados, agitação e
inquietação presentes no dia a dia da sala de aula não dão autoridade ao professor
de afirmar que todas as crianças são hiperativas, mas sim estabelecer indicativos.
Mediante a premissa presente nas escolas atualmente, a delimitação
deste tema de pesquisa se deu por meio de inquietações e indagações tais como: A
escola e os professores são capazes ou não de identificar características de um
aluno com hiperatividade? Ou, por outro lado, há uma generalização de
comportamentos inadequados classificados como hiperatividade? Há ou não a
necessidade de se adaptar conteúdos e processos de avaliação para atender as
necessidades especiais de um aluno com hiperatividade? O que a sala de aula
deveria ter ou oportunizar para que o aluno com hiperatividade tivesse sucesso
educacional?
Nos estudos sobre prevalência de escolares com sintomas de TDAH,
encontramos na literatura de 3 a 5% das crianças. Em relação ao sexo, as
14
pesquisas mostram o predomínio do transtorno em meninos, essa predominância é
9:1 em relação às meninas. Estes números são encontrados em literatura
estrangeira, conforme obra de Barkley (2008). Uma pesquisa realizada por Fontana
et al. no Brasil em 2003 no município de São Gonçalo (Rio de Janeiro) registrou a
prevalência de 13% em quatro escolas da região e a proporção masculina: feminino
foi 2:1. Percebemos que há grande variação na prevalência dos sintomas de TDAH
que vai de 0,5% a 26% em estudos já realizados no mundo.
Nesse sentido, e com tamanha incidência de temas correlatos e
diretamente relacionados à hiperatividade, é de suma importância a proposição de
estudos que promovam a descrição e colaborem para a construção do
conhecimento científico, no que diz respeito aos aspectos educacionais de crianças
acometidas da hiperatividade. Justifica-se também, pela necessidade latente frente à
quebra de paradigmas e o preconceito com diagnósticos incorretos, pela sociedade
e/ou profissional não qualificado.
Em se tratando especificamente da área educacional, é imprescindível
que o professor tenha a formação e informação, para poder identificar atributos
indicativos da hiperatividade em sala de aula, oportunizar o encaminhamento sem,
contudo tomar a frente quanto ao diagnóstico. O intuito é sempre o de promover um
ambiente de aprendizagem efetivo, acolhedor e que atenda as necessidades
especificas dos educandos. Essa prática passa, sem dúvida, pela competência e
formação e informação do educador.
O ambiente escolar é vasto, envolve escola, diretor, professor, aluno,
família, estrutura, intervalo entre as aulas. Sendo este estudo constituído apenas
como um trabalho de conclusão de curso, a proposta é analisar os aspectos
educacionais e de inter-relação pessoal aluno-aluno e professor-aluno. O objeto de
estudo é então definido como sendo a sala de aula inclusiva e sua dinâmica, em que
haja um aluno com hiperatividade devidamente diagnosticado. Tem como objetivos
específicos: levantar quais são os aspectos educacionais que influenciam no
desenvolvimento do aluno com hiperatividade em sala de aula comum; observar e
descrever os comportamentos sociais e interpessoais existentes em sala de aula
comum envolvendo o aluno com hiperatividade, seu professor e seus pares; mapear
e descrever o ambiente escolar, especificamente a sala de aula, e analisar suas
inter-relações.
15
Nesta pesquisa foi realizado um estudo de caso que de acordo com João
Cardoso Palma Filho (2004) é uma estratégia de pesquisa a fim de investigar os
dados com profundidade. Trata-se de um estudo de caso realizado em uma única
sala de aula, do 3º ano do Ensino Fundamental da Rede Estadual, com um aluno
hiperativo devidamente diagnosticado, com acompanhamento clínico, familiar e
escolar.
Esta pesquisa foi embasada teoricamente nos estudos de Abram
Topczewski, Benczik e Rohde, Bonet, C. Keith Conners, Goldstein e Goldstein,
Russel A. Barkley e Sylvia Maria Ciasca. O leitor encontrará no primeiro capítulo a
definição de hiperatividade de acordo com os autores contemplados, as
associações, características do transtorno e todo embasamento teórico.
Já no segundo capítulo foram abordados os aspectos educacionais e a
influência da hiperatividade no desenvolvimento escolar da criança e quais recursos
podem ser utilizados tanto pedagógicos quanto médicos. No terceiro capítulo aborda
o eixo central da pesquisa que é a Hiperatividade na sala de aula, na qual será
explicitado ao leitor todo o universo da sala de aula, como se dá a convivência e
relação entre os envolvidos. O quarto capítulo apresenta a metodologia utilizada na
pesquisa, como foi realizada, local, participantes, etc. O quinto capítulo apresenta os
resultados encontrados nesta pesquisa, as observações, entrevistas, o que foi
possível constatar e por fim no sexto capítulo são apresentadas as considerações
finais deste trabalho, que nos instiga a querer saber e entender este transtorno que
está tão presente no nosso dia a dia.
16
2
Definição e Breve Histórico da Hiperatividade
Neste capítulo a proposta foi abordar questões relevantes frente à
hiperatividade, especificamente quanto a sua definição e breve histórico. Tal
levantamento bibliográfico foi feito por meio de materiais disponíveis nas bibliotecas
UNESP e USP, e foram contemplados os autores Barkley, Benczik e Rohde, Bonet,
Ciasca, Conners, Goldstein e Goldstein, Topczewski.
De acordo com Barkley (2008) umas das primeiras referências de
Hiperatividade foi publicada no ano de 1965, com os autores George Still e Alfred
Tredgold, que se dedicaram à pesquisa sobre crianças com os comportamentos que
hoje conhecemos como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH).
No período de 1920 a 1950 houve grande interesse pelo TDAH na
América do Norte, devido a uma crise epidêmica de encefalite1, uma vez que as
crianças que sobreviveram ficaram com sequelas comportamentais e cognitivas,
eram limitadas à concentração e impulsividade. Nesse período, consideravam que
as crianças que possuíam essa lesão cerebral deviam ser educadas e tratadas fora
de casa, longe da educação normal.
Na década de 1950 crianças com hiperatividade eram consideradas
indivíduos com transtorno de impulso hipercinético, ou seja, havia excesso de
estimulação que chegava ao cérebro. Ao final dessa década foi aceita a
hiperatividade como lesão cerebral, mesmo não tendo evidências de tal lesão
(BARKLEY, 2008).
Acompanhando as publicações científicas, verificamos que no período de
1960 a 1969 o termo disfunção cerebral mínima, foi substituído por nomenclaturas
específicas para os transtornos cognitivos comportamentais, como: dislexia,
transtorno de linguagem, dificuldades de aprendizagem e hiperatividade.
As pesquisas clínicas avançaram e mostraram que a hiperatividade está
relacionada ao Transtorno Déficit de Atenção (TDA) assim denominado por volta dos
anos 70. Com isso o transtorno recebeu um novo nome por volta de 1987, passando
a se chamar Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH). São raros os
1
De acordo com o Dicionário Aurélio, trata-se da inflamação no encéfalo.
17
livros que tratam a hiperatividade de forma isolada, constantemente está associada
ao TDAH, pois de certa forma a mesma é um déficit de atenção, visto que o
indivíduo não consegue focar, tem “atenção” em diversos elementos ao mesmo
tempo, ou seja, acaba não se atendo em nenhum foco “específico” o que implica no
déficit.
Quanto a sua origem, há pesquisas que apontam que a Hiperatividade é
predominantemente
de
base
genética
relacionada
ao
desenvolvimento/
funcionamento do cérebro. As causas também, podem estar relacionadas, aos
genes que produzem a dopamina e noradrenalina, que são produzidas em maior
quantidade. Assim, segundo Abram Topczewski (1999) a hiperatividade é genética,
predominando a existência de casos entre familiares próximos (pai, mãe, irmão, tio
ou avó), e é considerada uma disfunção orgânica, pois envolve várias áreas do
cérebro, conforme descrito na figura 1.
FIGURA 1 - Córtex cerebral.
Fonte: CIASCA, S. Maria. TDAH: Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade / Sylvia
Maria Ciasca, Sonia das Dores Rodrigues, Cíntia Alves Salgado. Rio de Janeiro: Revinter,
2010.
18
De acordo com Ciasca (2010), caracterizam o TDAH fatores neurológicos
e neuropsicológicos, sendo eles:
A) Diminuição no metabolismo de glicose em áreas pré-frontais, regiões
anteriores, caudado e cerebelo, tornando-as subativas.
B) As áreas pré-frontais são ricas em dopamina, estão associadas tanto
à inibição do comportamento, como a outras funções executivas.
C) O funcionamento reduzido de determinadas vias pode gerar
comprometimentos distintos em nível comportamental e motor no TDAH
(CIASCA, 2010, p.33).
Para Ciasca (2010), há também, fatores ligados à gestação e ao parto
que podem desencadear a hiperatividade, como a toxemia2 gravídica, eclampsia3,
duração do parto, estresse fetal, baixo peso, hemorragia pré-parto, exposição ao
chumbo, rubéola, encefalite, meningite e traumatismo cranioencefálico.
Conners (2009) cita que para os especialistas há dificuldade na definição
de TDAH devido às diferentes apresentações, além disso, há controvérsias acerca
do diagnóstico, porém isso se dá pela incapacidade de seguir as diretrizes
recomendadas. Segundo ele, há evidências científicas que sugerem que o
transtorno tem base biológica para causas existentes, porém fatores ambientais
afetam significadamente o quadro, tais como presença de chumbo no ambiente, o
tabagismo4, consumo de álcool durante a gravidez, traumas infantis, negligência ou
abuso.
Vejamos a definição que Conners (2009) cita no livro Transtorno de
Déficit de Atenção/Hiperatividade: as mais recentes estratégias de avaliação e
tratamento.
O transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) é um dos
transtornos mentais diagnosticados com maior frequência em crianças,
sendo responsável por 30 a 40% dos encaminhamentos para clínicas de
orientação infantil, pediátricas, de atendimento familiar e de clínica geral. O
TDAH também, é responsável por uma porcentagem significativa dos
encaminhamentos de adultos para tratamento.
O transtorno mental crônico começa cedo e apresenta um curso de
desenvolvimento e um quadro de sintomas característicos ao longo da vida.
Os sintomas do TDAH frequentemente dificultam o desempenho social,
escolar e ocupacional em várias situações. Cabe salientar que tais sintomas
não são causados por outros transtornos mentais (CONNERS, 2009, p.9).
2
De acordo com o Dicionário Aurélio, trata-se de intoxicação do sangue.
De acordo com o Dicionário Aurélio, trata-se de um estado caracterizado por uma série de
convulsões.
4
O tabagismo durante a gravidez é o fator mais importante de risco para TDAH.
3
19
Ainda,
de
acordo
com
Conners
(2009),
são
atribuídas
como
características de crianças hiperativas, comportamentos de sobe e desce, de não
parar na cadeira enquanto assiste à televisão, correr para a rua sem olhar para os
lados, pular de um telhado por “parecer legal”, envolver-se em atividades motoras
ininterruptas, sendo mais inquietas do que as outras crianças enquanto dorme. O
autor aponta algumas características descritas na idade escolar conforme quadro 1:
QUADRO 1 – Características da Hiperatividade em Idade Escolar.
- Distrai-se facilmente enquanto realiza tarefas;
- Hiperativo;
- Pouco organizado; participa de atividades sem tarefas a serem
cumpridas;
- Não completa deveres de casa nem outros projetos;
- Pertuba em sala de aula, age como o palhaço da turma;
- Constantemente entediado;
- Interrompe;
- Não espera a sua vez;
- Impulsivo;
- Demonstra agressividade;
- Tem crescente dificuldade de relacionamento com colegas.
Fonte: Adaptado pelo pesquisador do texto de CONNERS, C. Keith. Transtorno de
déficit de atenção/hiperatividade: as mais recentes estratégias de avaliação e
tratamento. Tradução Marina Fodra. – 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2009.
Segundo Bonet (2008) os comportamentos das crianças hiperativas se
manifestam da seguinte forma:
ü As crianças são ativas.
ü Elas estão em “constante movimento”: movimentam mãos e pés,
balançam o corpo, etc.
ü Não conseguem ficar sentadas ou quietas. Se permanecem sentadas por
muito tempo, mudam de posição e se balançam.
ü Tocam tudo com as mãos.
ü O movimento dessas crianças parece não ter uma meta, é a atividade
pela mera atividade: perambulam e vagam sem sentido nem objetivo.
ü Falam demais, verborragia constante.
ü Cantarolam, fazem barulhos com a boca, assobiam.
ü Mordiscam, chupam, mordem tudo (lápis, borracha, mangas da
camiseta).
ü Elas têm menos necessidade de descansar e dormir (BONET, 2008,
pp.36-37).
20
Ainda apresenta inabilidade motora, que se manifesta da seguinte forma:
ü Dificuldades na motricidade grossa para, por exemplo, manter o equilíbrio
ou realizar movimentos coordenados.
ü Dificuldades na motricidade fina que podem ser observadas no uso do
lápis, da tesoura, do caderno, do apontador, e trabalhos manuais no
geral, desenhos, caligrafias, etc (BONET, 2008, p. 75).
Ciasca (2010) também, ressalta a atividade motora do hiperativo e a
impulsividade, que são aspectos importantes:
(...) mexer em excesso na cadeira; mexem pés e mãos exageradamente e
não conseguem ficar sentados, quando a situação exige; estão sempre “a
mil por horas”; falam excessivamente; não conseguem brincar
silenciosamente; correm, escalam e, muitas vezes, se colocam em risco
físico.
São indivíduos impulsivos, pois não conseguem esperar sua vez,
comumente, interrompem uma conversa ou atividade, além de responderem
às questões antes de serem totalmente formuladas (CIASCA, 2010, p.38).
Goldstein e Goldstein (1998) falam da Hiperatividade de forma “isolada”,
sem associar a outro distúrbio. Caracteriza como desatenção, agitação, excesso de
atividade, emotividade, impulsividade e baixo limiar de frustrações. Ressaltam que a
criança hiperativa apresenta as dificuldades comuns de uma criança, porém de
forma exagerada.
De acordo com Barkley (2008), renomado pesquisador desta área, o
transtorno foi reconhecido apenas na história recente, pois antes era visto como um
“problema” que as crianças tinham em aprender voluntariamente a inibir seu
comportamento e aderir às regras, ou seja, fundamentos morais da época, porém
foram sendo pesquisadas as possíveis causas. Vejamos o trecho abaixo com a
definição de TDAH na concepção de Barkley:
O transtorno de déficit de atenção/hiperatividade é um termo atual para
designar um transtorno desenvolvimental específico observado tanto em
crianças quanto em adultos, que compreende déficits na inibição
comportamental, atenção sustentada e resistência à distração, bem como a
regulação do nível de atividade da pessoa às demandas de uma situação
(hiperatividade ou inquietação). Hoje, muitos pesquisadores clínicos
acreditam que o TDAH é um transtorno de inibição e auto-regulação que dá
origem a outros desses sintomas. O transtorno já teve muitos nomes
diferentes durante o século passado, incluindo síndrome da criança
hiperativa, reação hipercinétrica da infância, disfunção cerebral mínima e
transtorno de déficit de atenção (com ou sem hiperatividade) (BARKLEY,
2008, p.9).
21
Barkley (2008) faz um resumo dos comprometimentos provavelmente
associados ao TDAH, sendo eles cognitivos, de linguagem, desenvolvimento motor,
emoção e desempenho escolar, conforme descrito no Quadro 2:
QUADRO 2 - Comportamentos associados ao TDAH segundo Barkley.
Cognitivos
Pequenos déficits de inteligência.
Deficiências em habilidades acadêmicas.
Dificuldades de aprendizagem: leitura, ortografia,
matemática e escrita cursiva.
Uso inadequado do tempo cotidiano, reprodução
incorreta do tempo.
Menos memória de trabalho verbal.
Capacidade de planejamento comprometida.
Menor sensibilidade a erros.
Funcionamento adaptativo e social retardado.
Linguagem
Início retardado da linguagem.
Comprometimento da fala, principalmente
expressivos e pragmáticos.
Fala conversacional excessiva.
Menor fluência verbal.
Pouca organização e expressão ilógica e
ineficiente de idéias.
Comprometimento da resolução de problemas
verbais.
Dificuldades para seguir regras comportamentais.
Internalização retardada da fala.
Deficiências na compreensão auditiva,
especialmente na presença de distrações.
Pouco desenvolvimento do raciocínio moral.
22
Desenvolvimento motor
Retardos na coordenação motora.
Indicativos neurológicos relacionados com a
coordenação motora e movimentos de descarga
motora.
Movimentos motores brutos lentos.
Pouca habilidade gradomotora.
Emoção
Pouca auto-regulação da emoção, mais expressão
emocional, especialmente de raiva e
agressividade.
Mais problemas para lidar com frustrações.
Possível redução da empatia.
Excitação sub-reativa em testes e estimulação.
Desempenho escolar
Comportamento disruptivo na sala de aula.
Desempenho fraco na escola, em relação à
capacidade.
Monitores acadêmicos.
Repetência.
Colocação em um ou mais programas de
educação especial.
Suspensões da escola.
Expulsões da escola.
Abandono do ensino médio.
Fonte: Adaptado pelo pesquisador do texto de autor BARKLEY, R.A. Transtorno de déficit
de atenção/hiperatividade: manual para diagnóstico e tratamento. Porto Alegre: ARTMED,
2008. pp.178-179
Esse quadro relata alguns comportamentos que provavelmente a criança
com TDAH apresentará, porém temos que tomar cuidado para não “rotularmos” as
crianças como hiperativas apenas por associar seu comportamento rotineiro a algum
dos sintomas acima relacionados. A avaliação deve seguir as diretrizes de
especialistas, parâmetros para prática clínica da American Academy of Child and
Adolescent Psychiatry e escalas de avaliação normatizadas, e ser realizadas por
profissional da saúde devidamente habilitado para tal.
Na sequência, o próximo capítulo aborda quais aspectos educacionais
estão relacionados à criança hiperativa, se a mesma tem dificuldades na
aprendizagem, quais os recursos pedagógicos podem ser adotados, a fim de
23
estabelecer uma eficiente aprendizagem ao aluno hiperativo e também, quais
recursos médicos podem ser utilizados.
24
3
Aspectos Médicos e Educacionais
Neste capítulo são apresentados alguns dos aspectos relacionados à
hiperatividade, sendo eles: o médico, que são as formas de tratamento da
hiperatividade; e os educacionais que envolvem todo corpo docente, bem como a
família, a fim de promover um ensino de qualidade e que leve o aluno ao prestígio
de estudar e obter sucesso.
3.1
Aspectos Médicos
Pesquisas médicas indicam que há recursos medicamentosos para serem
utilizados no tratamento de TDAH, como por exemplo, os estimulantes, que de
acordo com Conners (2009) vem sendo usados há mais de 40 anos para
tratamentos, e interferem positivamente nas características do transtorno, como:
- Hiperatividade, impulsividade, desatenção...;
- Condutas inadequadas como a mentira e roubos, entre outras;
- Relacionamentos com a família, escola;
- Melhora o humor.
Entretanto, segundo o mesmo autor, não existem apenas benefícios, há
alguns efeitos colaterais referente ao uso de medicamentos:
- Diminuição do apetite;
- Insônia;
- Taquicardia;
- Aumento da pressão sanguínea;
- Supressão do crescimento;
- Perda de peso;
- Tontura;
- Entre outros.
25
Por isso deve ser avaliada pela família e médico a necessidade da
utilização do medicamento, além de monitorar qualquer efeito colateral. Entretanto,
pesquisas mostram eficácia nos tratamentos medicamentosos.
Milhares de pesquisas já documentaram a eficácia dos estimulantes para
crianças com TDAH, e as revisões dessas pesquisas corroboram os
benefícios. Tais estudos normalmente mostram que os medicamentos são
eficazes na redução de uma variedade de comportamentos-problema; em
geral, os efeitos sobre os comportamentos visíveis são maiores do que os
efeitos sobre os problemas cognitivos ou o desempenho escolar. No
entanto, a maioria dos estudos observa que o processamento cognitivo
também, melhora (p.ex., velocidade de assimilação da informação,
precisão, tempo de manutenção na tarefa e seletividade ou manutenção da
atenção) (CONNERS, 2009, pp. 63-64).
Ainda de acordo com Conners (2009), além da utilização de
medicamentos, é possível realizar tratamentos psicológicos (psicoterapias), como
por exemplo:
- Manejo direto por contigência:
- Treinamento dos Pais;
- Manejo de comportamento em sala de aula;
- Terapia para habilidades escolares;
- Terapia para habilidades sociais;
- Terapia multimodal.
Em termos de críticas referentes à intervenção medicamentosa, de
acordo com Ciasca (2010) há grandes queixas nos consultórios médicos que os
portadores de TDAH, apresentam o Transtorno Desafiador Opositivo (TDO) e
Transtorno de Conduta (TC). O TDO está relacionado ao comportamento desafiador
de não seguir regras, ser provocativo e desobediente, essa comorbidade gira em
torno de 35 a 65% das pessoas com TDAH. Já o TC se caracteriza por conduta
antissocial e agressiva, sendo essas condutas relacionadas às brigas, mentiras,
maltrato aos animas e pessoas.
26
A frequente associação com outros transtornos psiquiátricos tem colocado o
TDAH entre umas das mais estudadas patologias psiquiátricas da infância e
adolescência. Raramente, os sintomas de TDAH caminham sozinhos.
Flutuações constantes de humor, comportamentos opositor, dificuldades de
aprendizagem, falta de amigos, comportamento sexual precoce e insônia
são exemplos de problemas comumente associados ao quadro. Muitas
vezes, esses fenômenos são expressões de patologias psiquiátricas
associadas ao TDAH. Transtorno de humor bipolar, transtornos disruptivos
(transtorno desafiador opositivo e transtorno de conduta), transtorno misto
de habilidades escolares, transtorno de ansiedade generalizada e transtorno
de tique são exemplos de transtornos psiquiátricos que usualmente
encontram-se associados ao TDAH (CIASCA, 2010, p.49).
Tendo em vista, os aspectos médicos que envolvem a pessoa com TDAH,
a melhor maneira para saber qual tratamento seguir, é conversar paralelamente com
médicos especialistas e professores, para saber qual a intensidade do transtorno, se
é necessário à utilização de medicamentos e/ou tratamentos psicológicos, ou se
uma sala de aula diferenciada basta para que o aluno obtenha o sucesso escolar,
visto que a hiperatividade impacta diretamente no desenvolvimento do indivíduo.
Uma frase que retrata muito bem é “assim como não se negam óculos a uma criança
míope, não podemos negar tratamento a uma criança com TDAH” (BONET, 2008).
3.2
Aspectos Educacionais
A hiperatividade impacta na vida escolar da criança, e se não for tratada
de maneira diferenciada, pode levar ao fracasso. Por isso se faz necessário uma
reflexão dos professores acerca do aluno, quais fatores são determinantes para o
sucesso de um aluno, de que maneira pode ser tratado o ensino para a criança
hiperativa, como estimular incentivar a aprendizagem, e delimitar quais recursos
pedagógicos podem ser utilizados na sala de aula.
Quando o aluno inicia na idade escolar, recai um fardo enorme, que a
própria família, sociedade lançam sobre ele. É o momento do estudo compulsório,
da educação formal, por vezes o aluno se considera preso, amedrontado, forçado,
obrigado a estudar, assim a escola e a sala de aula são vistas como inimigas do
aluno, pois ele não consegue se manter sentado por horas e realizar atividades
impostas. Nesta hora é extremamente importante o professor identificar este aluno,
27
e auxiliá-lo, pois os comportamentos da criança hiperativa impactam na sua vida
escolar.
O trecho abaixo fala sobre como tais comportamentos do transtorno
impactam na vida da criança e como a mesma inicia a idade escolar.
Os comportamentos do transtorno podem ser exacerbados pela natureza
estruturada e de memorização de muitas tarefas escolares (p. ex., a
sensação de que as tarefas designadas são muito difíceis, muito fáceis ou
chatas), o que resulta no recebimento de reforço insuficiente ou
inconsistente para aprender tarefas que requerem esforço. A falta crônica
de reforço de atividades que requerem a manutenção do esforço pode levar
a criança a “desistir”, e conferir-lhe o rótulo de “preguiçosa”. Aquelas que
recebem o diagnóstico de TDAH durante a infância com frequência iniciam
um processo de fracasso escolar e social que resulta em baixa autoestima e
depressão (p. ex., sentindo-se incapazes e não queridas por outras
crianças). Esse padrão normalmente tem origem na impulsividade
comportamental e na impulsividade cognitiva, assim como em prejuízos nas
habilidades sociais (CONNERS, 2009, p. 20).
A chegada do aluno hiperativo na escola, pode causar preocupação nos
professores, pois os mesmos não têm o conhecimento sobre o transtorno, não
sabem lidar com a situação e como promover uma aprendizagem satisfatória.
Portanto, criam um pré-conceito do aluno, o considerando mal-educado, sem limite e
sem acompanhamento familiar. Porém isso não é real, as características de um
aluno hiperativo acabam sendo confundidas com as de uma criança mal-educada.
Portanto, é importante que os professores, assim como todos que
compõe o grupo escolar, tenham a sensibilidade para entender o aluno hiperativo,
oferecendo atividades prazerosas ao mesmo, mas com o intuito pedagógico de
ensinar, vale à pena questionar o aluno qual tipo de atividade ele gosta, a fim de
favorecer a realização da mesma, desta forma, eleva sua autoestima e
consequentemente o leva ao sucesso escolar.
Vale ressaltar que, em alguns casos, o aluno chega à escola já com o
diagnóstico de hiperatividade. Neste caso, é fundamental que os pais entrem em
contato com a escola para informar sobre as condições da criança, se há
acompanhamento médico, se faz algum tratamento, seja por meio de medicamentos
ou até mesmo terapias. Desta forma, a escola receberá essa criança já com o
desafio, mas também, com possibilidades reais de planejar uma estratégia, que leve
o aluno ao sucesso escolar. Muitas vezes há o acompanhamento de uma
28
psicopedagoga que auxilia a aprendizagem desse aluno. Também, há os alunos que
chegam à escola sem nenhum diagnóstico, que por vezes o próprio professor, acaba
suspeitando que o aluno possa ser hiperativo, neste caso a equipe escolar deverá
entrar em contato com os pais, para conversar a respeito e orientar sobre possíveis
ações e encaminhamentos. Lembrando que isso só ocorre se a equipe escolar tiver
conhecimento sobre o assunto. (CONNERS, 2009)
Assim considera-se de extrema importância que o professor, diretor,
coordenador, e toda equipe escolar tenham informações e conhecimentos sobre o
transtorno, quais medidas devem ser tomadas, como deve ser o ensino para essas
crianças, quais estratégias que podem funcionar ou aprimorar a aprendizagem, para
que o aluno seja auxiliado, acompanhado e tenha a possibilidade de desenvolver na
vida acadêmica de forma que alcance êxito.
29
4
Hiperatividade na sala de aula
Este capítulo aborda o eixo central deste trabalho, que é a hiperatividade
na sala de aula, o que acontece afinal? Quais as problemáticas, alternativas, como
se dá o convívio com os demais alunos e professores?
De acordo com Benczik e Rohde (1999) “sabe-se que o TDAH tem um
grande impacto no desenvolvimento educacional da criança”, por isso o professor
tem o papel de entender, motivar, incentivar o aluno hiperativo, identificar os
problemas que lhe afligem quais as dificuldades encontradas no conteúdo, procurar
soluções para que a aprendizagem ocorra de maneira eficiente, sem causar
“traumas” no aluno, pois muitas vezes o mesmo se sente incapaz.
A hiperatividade interfere diretamente no desenvolvimento escolar da
criança, pois a mesma apresenta comportamentos que não permitem que
aprendizagem flua de maneira positiva, o aluno não têm nenhum prazer no ato de
estudar, além disso, os professores têm dificuldades em ministrar aulas com alunos
hiperativos, pois os mesmos chamam a atenção dos outros alunos, fazem
brincadeiras, conversam, levantam a todo o momento, são desatentos, entre outros
comportamentos, esses que acabam por desestabilizar a organização e rotina
proposta para o desenvolvimento das atividades educativas em sala de aula.
4.1
Formação e informação dos professores sobre Hiperatividade
Para que o aluno hiperativo consiga alcançar êxito é necessário o
professor ter consciência do que realmente é o TDAH, a Hiperatividade, pois de
nada adianta ter recursos tecnológicos se a instituição não aprovar a intervenção e
mudanças curriculares para o tratamento do transtorno, assim como os professores
não terem conhecimento. Esses são pontos cruciais para o tratamento da
hiperatividade, uma instituição e professores receptivos e dispostos a ajudar
voluntariamente. Portanto, de acordo com Barkley (2008) há necessidade dos
professores estarem cientes que:
30
ü O TDAH tem base biológica tratável, mas não curável;
ü Consiste em uma dificuldade para manter a atenção, o esforço e a
motivação e inibir;
ü As intervenções mais efetivas para melhorar o desempenho
escolar são as aplicadas dentro do ambiente escolar, tais
intervenções devem ser proativas e reativas para elevar a
mudança de comportamento;
ü Devem-se considerar o uso de colegas, pais e computadores para
intervenções na sala de aula.
Foi realizada uma pesquisa5 em 2006 e publicada em 2007 para verificar
os conhecimentos e percepções sobre TDAH no Brasil, com patrocínio do
Laboratório Novartis e participação da Associação Brasileira do Déficit de Atenção
(entidade sem fins lucrativos). Foram coletados dados em todas as regiões
brasileiras para dados da população em geral, para grupos de profissionais, foram
coletados nas 10 principais capitais brasileiras: Belém, Fortaleza, Recife, Salvador,
Brasília, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. Os
dados foram coletados pelo Datafolha. Considerando os dados obtidos sobre
educadores, 87% manifestaram ter ouvido falar sobre TDAH; 50% não consideram
como uma doença; 67% afirmam conhecer algum portador de TDAH; 77% acreditam
que o portador pode ser tratado apenas com psicoterapia; 59% acreditam que as
crianças têm diagnóstico de TDAH, porque os pais são ausentes e não impõe
limites. As principais fontes citadas de informação foram escola/faculdade (35%),
livros (32%), revistas (27%), jornal (17%) e palestras, seminários, congressos (13%).
Por meio desses dados percebemos que os conceitos não são tão
coerentes, além de perceber a falta de seminários, palestras e congressos que
abordem o tema para a capacitação dos professores, tendo em vista, a necessidade
dos professores terem conhecimentos sobre o transtorno, para que sua prática seja
5
Pesquisa realizada por Marcelo Gomes, André Palmini, Fabio Barbirato, Luis Augusto Rohde e
Paulo Mattos, intitulada como Conhecimento sobre o transtorno do déficit de atenção/hiperatividade
no Brasil.
31
eficaz e traga benefícios para o aluno hiperativo. Esse é o primeiro passo para a
possibilidade de uma aprendizagem de sucesso.
4.2
Ensino e sala de aula inclusiva
Segundo Stainback e Stainback (1999, p.21) “o ensino inclusivo é a
prática da inclusão de todos – independentemente de seu talento, deficiência,
origem socioeconômica ou origem cultural – em escolas e salas de aulas
provedoras”.
A sala de aula deve proporcionar ao aluno hiperativo uma aprendizagem
igual ao dos demais colegas, portanto, se faz necessário à inclusão, uma sala de
aula estruturada de forma inclusiva.
De acordo com Stainback e Stainback (1999) a sala de aula deve estar
estruturada de forma que minimize comportamentos inadequados. Os autores
ressaltam alguns fatores importantes como:
- Disposição da sala de aula: os móveis e equipamentos devem estar
dispostos de maneira que permita o professor ter o controle de tudo que
está acontecendo na sala de aula, portanto ele deve ter organizar a sala de
uma maneira que ele possa visualizar cada aluno, se estiver sentado ou
em pé;
- Controle de tempo: é importante reduzir o tempo ocioso que acaba
envolvendo os alunos em comportamentos inadequados. Por isso é
necessário o controle de tempo, isso implica em aumentar o tempo do
aluno na tarefa;
- Práticas de agrupamento: agrupar alunos inadaptados com alunos bemcomportados, essa junção faz com que reduza os comportamentos
desordeiros, pois os alunos bem-comportados ignoram esse tipo de atitude,
valorizando apenas as atitudes adequadas. Além de promover a
cooperação;
- Atmosfera da sala de aula: é muito importante uma atmosfera harmoniosa
na sala de aula, para que isso aconteça é necessário que os alunos
percebam que os professores são positivos, satisfeitos e gostam dos seus
alunos;
- Conduta profissional: o professor deve adotar uma postura, conduta
profissional, ou seja, procurar ser calmo, controlado, não enfatizar, nem
valorizar muito os atos infratores, mau comportamento, e sim engrandecer
as atitudes adequadas (STAINBACK E STAINBACK, 1999, pp. 387-392).
32
Um ensino eficiente e significativo, assim como a sala de aula, devem ser
inclusivos, promover uma aprendizagem de qualidade que ofereça oportunidades ao
aluno hiperativo. Além de impulsionar o convívio social e fortalecer amizades.
4.3
A convivência em sala de aula
A convivência do aluno hiperativo com as demais crianças não é
considerada tranquila nem das melhores. Tal transtorno tem características que
interferem no convívio, na inter-relação entre aluno-aluno e aluno-professor, pois a
desatenção e a impulsividade, fazem com que o aluno hiperativo não saiba lidar com
limites, regras e ordens, agem sem pensar, costumam ser agressivos e esses
fatores impactam na convivência com os demais alunos principalmente dentro da
sala de aula, por atrapalhar, acabar incomodando a aula (BARKLEY, 2008).
Este contexto acaba gerando estresse na relação entre professor-aluno e
aluno-aluno, inviabilizando o processo de aprendizagem. É neste momento que o
professor deve analisar e refletir sobre a metodologia de trabalho até então adotada,
e procurar elencar possibilidades de intervenção para que o seu trabalho seja
realizado da melhor forma, com o intuito de proporcionar um ensino de qualidade a
todos, levando em consideração as características peculiares de cada aluno.
Vale lembrar que o aluno hiperativo apresenta um comportamento, cujo
destaque, nos remete a idéia de que ele tende a querer chamar a atenção a
qualquer custo, portanto, acabam sendo “populares” por ser aquele aluno
engraçado, extrovertido, mas nem sempre essa popularidade é positiva, muitas
vezes todas as traquinagens e o que acontece de errado ou ruim no ambiente
escolar acaba se voltando à ele, devido à fama que o mesmo têm, como sendo o
“bagunceiro”, “agitador”, “mal-educado”, entre outros adjetivos à ele atribuídos.
De acordo com Barkley (2002) é importante em casa os pais estimularem
habilidades sociais, ou seja, estabelecer com a criança hiperativa alguns pontos
importantes de convívio social, na qual a mesma pode melhorar, indicando alguns
comportamentos inadequados que ela está tendo, e sugerir alguma atividade,
brincadeira em troca, se ela melhorar estes comportamentos que foram indicados.
Entretanto, os pais devem acompanhar a evolução da criança, os avanços de
33
melhora nestes comportamentos, elogiando sempre que houver progressos, assim a
estimulando.
É notório que a convivência entre os seres humanos não é fácil, pois cada
um pensa de determinada forma, têm seus costumes e manias, porém quando a
convivência é entre pessoas hiperativas a dificuldade é elevada, uma vez que as
características do transtorno interferem negativamente nas relações. Portanto, na
sala de aula é de extrema importância que o professor saiba lidar com essas
dificuldades, tenha em mente o desafio e proporcione a esse aluno um ambiente que
possa ser no mínimo harmônico, que haja respeito, que entenda suas limitações e
incentive a cooperação entre os alunos, incluindo o aluno hiperativo.
Benczik e Rohde (1999) dizem que “o aluno com TDAH impulsiona o
professor a uma constante reflexão sobre sua atuação pedagógica”. Realmente o
aluno hiperativo impulsiona o professor a meditar acerca da convivência, como a
mesma pode ser sensata, ponderada, de modo que os alunos possam conviver de
maneira adequada e que seja afável.
4.4
Amizades
A amizade é importante para o desenvolvimento humano, pois envolve o
social, emocional e cognitivo. De acordo com o artigo de Souza e Hutz (2008), a
amizade na infância é caracterizada pelo afeto, diversão, sentimentos recíprocos,
que faz com que os amigos sintam prazer na companhia um do outro, há trocas
sociais. Já na adolescência envolve sentimentos de intimidade, lealdade, interesses,
confiança, um comprometimento um com outro.
Podemos concluir que a amizade é de suma valia no desenvolvimento do
indivíduo, pois faz com que haja trocas de experiências com o outro, portanto, há
uma evolução, um desenvolvimento necessário para o aperfeiçoamento do
indivíduo. Entretanto, o que presenciamos com os alunos hiperativos, é que os
mesmos costumam ficar isolados, por não saberem lidar com o convívio social, além
de afastar as pessoas, devido ao comportamento que para os outros é inadequado,
taxando-o como louco, maluco, considerando que o melhor a fazer é se afastar do
hiperativo. A citação abaixo ilustra muito bem essa situação:
34
Uma criança com TDAH apresenta, geralmente, problemas sérios para se
envolver com outras crianças. A hiperatividade da criança com TDAH e a
impulsividade são geralmente aversivas a outras crianças, especialmente se
as outras crianças tentam trabalhar ou jogar um jogo juntas. Outras crianças
não gostarão, também, da aspereza e sinceridade da criança com TDAH,
especialmente se ela fizer comentários cruéis. Certamente outras crianças
sentem-se amedrontados com a facilidade com que a criança com TDAH se
torna irritada, frustrada ou agressiva (BARKLEY, 2002, p. 208).
Ciasca (2010) menciona que o relacionamento da criança com TDAH com
outras crianças é dificultado pelas próprias características da patologia, ou seja, a
impulsividade, o fato de trocar de brincadeiras com frequência e não se fixar nas
atividades.
Portanto, o professor deve proporcionar momentos coletivos, que possam
aflorar a cooperação, bem como, o trabalho em equipe, esses estímulos são
precisos, pois o aluno hiperativo, muitas vezes é excluído do círculo de amizades e
tal convivência é importante para o próprio desenvolvimento, pois sabemos que é
quase impossível viver isoladamente no mundo.
4.5
Alternativas em sala de aula
Lidar com alunos hiperativos em sala de aula não é uma das tarefas mais
fáceis de realizar, porém não é impossível. É imprescindível uma reflexão acerca do
aluno, uma análise da metodologia que será utilizada em sala de aula, para que
alcance esse aluno e promova um espaço de aprendizagem efetivo. Para isso há
algumas adaptações que devem ser consideradas em sala de aula.
De acordo com Benczik e Rohde (1999) é necessária uma programação
na sala de aula, ou seja, o professor deve saber aonde quer chegar com o conteúdo,
qual metodologia, materiais, serão utilizados. Tal programação deve ser flexível, pois
trabalha com o grupo e também, individualmente.
O ponto de partida é a programação na sala de aula, elemento fundamental,
pois guia e orienta o processo de ensino-aprendizagem. Esse programa é
composto pelos objetivos, conteúdos, metodologia, recursos humanos,
processos de avaliação e os materiais que serão utilizados. A programação
deverá conter as adaptações curriculares necessárias e se estender a todos
os alunos. A meta final é o equilíbrio necessário entre dar resposta ao grupo
e a cada aluno dentro do grupo. Essa forma de programação de aula
35
mostra-se flexível e dinâmica, pois busca trabalhar de forma simultânea
com o grupo e com o individual, respeitando as diferenças de cada um
(BENCZIK e ROHDE, 1999, pp.205-206).
Benczik e Rohde também, abordam com propriedades a questão da
organização da sala de aula, conforme descrito abaixo:
Propõe-se uma organização que seja dinâmica e flexível que facilite o
processo ensino-aprendizagem e a participação ativa de todos os
envolvidos nesse processo. Arrumar a sala de modo a haver um bom
acesso e boa visibilidade para todos, evitando-se que as carteiras estejam
sempre dispostas em fila, ou que as atividades sejam sempre as mesmas
para todos, utilizando-se do mesmo livro, no mesmo momento. Quando o
professor escolhe os grupos de trabalho a disposição do espaço, do tempo
e dos móveis, deve ter em mente as necessidades específicas desses
alunos, de modo que favoreça, ao máximo, sua participação total na
dinâmica da aula.
O aluno com TDAH deverá sentar-se próximo, ou ao alcance do olhar direto
do professor, distante da janela ou da porta, num local onde tenha menor
possibilidade de se distrair, longe de colegas antagonistas, no meio de ser
lembrado a respeito das atividades, das regras, das diretrizes e da
organização, é importante dispor na sala de aula alguns cartazes com
orientações.
O professor deve circular pela sala com frequência, usando a proximidade
física para controlar a disciplina ou o foco de atenção, bem como avisar os
alunos de algo anteriormente combinado, fazendo um contrato de olhar,
colocando a mão no ombro ou um toque na carteira. Retirar dos alunos
objetos que possam distraí-los, embora algumas crianças com TDAH
precisem manusear um objeto para ajudar a focalizar a atenção. Permitir o
uso de algo que passe o mais despercebido possível, como uma bolinha de
exercício.
Os alunos com TDAH devem ser supervisionados e ajudados na
organização do lugar de trabalho, do material, das escolhas e do tempo a
ser destinado para uma atividade. Proporcionar oportunidades para
movimentação dentro da sala de aula e intervalos entre as atividades
(BENCZIK e ROHDE, 1999, pp.208-209).
Desta forma, o professor deve ser dinâmico, sagaz, perceber a
necessidade de cada aluno, pensar nas atividades no todo e também, em cada
indivíduo. Assim, é possível inferir que alguns dos recursos pedagógicos que podem
ser utilizados, para o ensino de crianças hiperativas, segundo Benczik e Rohde
(1999, p.52-67) são:
- Posição da sala de aula - dinâmica: um dia as carteiras ficarão em fila, no
outro em círculo, assim sucessivamente. Desta forma a aula torna-se
atrativa, inovadora para o aluno;
- Lugar na sala de aula - aluno hiperativo: o aluno hiperativo deve sentar-se
sempre próximo do professor, pois dessa forma o professor consegue
controlar mais as atitudes, o andamento das tarefas em sala de aula;
36
- Movimentação dentro e fora da sala de aula: o aluno hiperativo necessita
movimentar-se, pois não consegue permanecer muito tempo em uma única
atividade, portanto o professor deve enxergar uma oportunidade o
escolhendo como “ajudante” da sala de aula, o aluno que busca os livros
na outra sala de aula, chama a inspetora, entre outras atividades, desta
forma o aluno hiperativo sentirá útil e conseguirá movimentar-se. Assim
quando voltar para a atividade manterá a concentração (por algum tempo);
- Atividades diferenciadas: o aluno hiperativo muitas vezes sabe o
conteúdo de uma prova, porém no momento da avaliação o mesmo distrai
facilmente, pois não consegue focar na prova, desta forma tira notas muito
baixa. O professor pode propor algumas atividades diferenciadas, como por
exemplo, um questionário oral, gincanas na sala de aula com todos os
alunos, com premiações, isso estimula a criança hiperativa a competir, a
querer ganhar, assim a aprendizagem é executada de maneira
diferenciada, tendo resultados positivos;
- Conversas x Castigos: o professor pode ficar mais próximo do aluno
mantendo o diálogo, evitando castigos, suspensões da aula, pois os alunos
hiperativos acabam involuntariamente tomando algumas atitudes, tais
como, subir na cadeira, dançar durante a aula, jogar aviãozinho, tudo para
chamar a atenção, por não terem a concentração devida na sala de aula
(...) A conversa, o procurar soluções para o aluno, entender o que passa
com o mesmo, são as melhores opções, pois visa à compreensão e a
reflexão de quais métodos utilizarem para condução de determinadas
situações.
Mattos (2007, p.120-124) apresenta ações e posicionamentos que podem
vir a colaborar para com o trabalho do professor como:
- Expressar-se claramente, de forma concisa, e utilizar recursos visuais
para prender a atenção do aluno, como slides, pôster, utilização do quadro
negro, entre outros recursos que podem fazer uso.
- Sinalizar quando está trocando de tarefa ou atividade e ressaltar as
diferenças entre elas;
- Quando o aluno tiver algum comportamento bom, ou até mesmo se
respeitar as regras, se comportar durante a aula, o professor deve elogiá-lo
na frente de todos, pois ele se sentirá importante, elevará sua auto-estima.
- Utilizar agenda para comunicar com os pais. Neste caso é muito
imprescindível que os pais leiam e participem deixando informações na
agenda.
Segundo Barkley (2008) há programas de contingência para casa, ou
seja, o professor estipula um boletim com avaliação em sala de aula desse aluno, o
mesmo leva para os pais e/ou responsáveis, que o gratificam, conforme modelo
descrito no Quadro 3.
37
QUADRO 3 - Boletim para um programa doméstico de gratificações voltado ao
comportamento em sala de aula.
Avaliação em sala de aula
Nome _________________________________________________________ Data _________________
Avalie a criança nas áreas abaixo, segundo a escala a seguir:
2 = Muito bom
1 = Bom
0 = Precisa melhorar
COMPORTAMENTO-ALVO
1
2
Período / Disciplina
3
4
5
6
Participação
Trabalho de aula
Trabalho entregue
Interação com colegas
6
Iniciais do professor
Total de pontos ganhos: ________________
Tarefas de casa para hoje:
Comentários:
Fonte: Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: manual para diagnóstico e tratamento /
Russell A, Barkley (org); Arthur D. Anastopoulos ... [et al.] ; tradução Ronaldo Cataldo Costa. – 3. ed.
– Porto Alegre: Artmed, 2008, p. 581.
Vale ressaltar que para esse tipo de avaliação atingir o verdadeiro
objetivo, é essencial um trabalho em conjunto com a escola e família, pois os
professores devem estar preparados e dispostos a fazer essa avaliação diariamente,
bem como os pais acompanharem as avaliações recebidas. Outro fator importante é
o aluno colaborar e não burlar, adulterar o boletim. Portanto, deve ser bem
trabalhado esse tipo de avaliação para que funcione. É um método interessante de
avaliar, faz com que os professores se atentem mais para esse aluno, passe a
observar, sobrevir nas atitudes do mesmo. Além dos pais receberem o feedback
6
No livo consta iniciais, pois trata-se de uma tradução, porém quer dizer iniciativas do professor.
38
(retorno) diário do comportamento dos filhos, podendo intervir e reforçar
determinados comportamentos e atitudes.
Como vimos à hiperatividade na sala de aula é como se fosse uma
viagem em alto mar, repleta de altos e baixos, e com muita turbulência. A
convivência, as relações com os amigos, professores, não são as mais amenas, há
dificuldades devido ao transtorno, é um desafio à todos, alunos, professores, ensino,
pais, e todo desafio deve ser cumprido. Entretanto, há possibilidades, alternativas
para que o ensino se concretize da melhor maneira.
39
5
Metodologia
No primeiro momento deste trabalho foi feito o levantamento bibliográfico,
com o objetivo de fundamentá-lo teoricamente.
Este trabalho se configura numa pesquisa de abordagem qualitativa,
especificamente centrada em um estudo de caso, que de acordo com João Cardoso
Palma Filho (2004) é uma estratégia de pesquisa a fim de investigar os dados com
profundidade. A natureza do problema a ser investigado é fundamental na escolha
do tipo de pesquisa.
5.1
Formulação do problema
As inquietações que levaram a pesquisar o tema Hiperatividade, foram os
questionamentos em torno da verificação da hipótese de se a escola e os
professores são capazes ou não de identificar características de um aluno
hiperativo, ou se por outro lado há uma generalização de comportamentos
inadequados classificados como hiperativos. Se há ou não a necessidade de se
adaptar conteúdos e processos de avaliação para atender as necessidades
especiais de um aluno hiperativo. O que realmente a sala de aula deveria ter ou
oportunizar para que o aluno com hiperatividade tivesse sucesso educacional.
Atualmente há uma grande generalização de comportamentos que
sempre são denominados como hiperatividade, porém o diagnóstico não é tão
simples assim. Há muita falta de informação no âmbito escolar sobre hiperatividade,
geralmente as crianças hiperativas são consideradas como crianças mal-criadas,
sem limites, não levam em conta que se trata de um transtorno, que deve ser
acompanhado, para que o aluno obtenha sucesso escolar. Portanto, é necessário
estudar o que acontece na sala de aula com aluno hiperativo. Tais questionamentos
são pertinentes para a realização desta pesquisa, que irá contribuir com informações
importantes acerca do tema que está sendo estudado.
40
5.2
Definição da unidade caso
Este trabalho foi desenvolvido em uma escola da rede estadual, em bairro
de classe média, com um aluno que possui diagnóstico de TDAH com
acompanhamento clínico, familiar e escolar, buscando a realização de uma pesquisa
assertiva. Esta preocupação se deve ao fato de que qualquer aluno pode ter atitudes
que “aparentam” ser de alunos hiperativos, mas na realidade são comportamentos
que indicam falta de limite e não o transtorno em si.
A pesquisa foi feita em uma única sala de aula, do 3º ano do Ensino
Fundamental, com um aluno hiperativo de 07 anos que completou 08 anos no final
da pesquisa, mora com a mãe, uma irmã mais nova e os avós maternos. Os pais
são separados e nos finais de semana o Leandro (nome fictício) fica com o pai. Os
avós não aceitam a condição do neto de ser hiperativo, a mãe o acompanha,
levando em neurologista, fonoaudiólogo, entre outros especialistas.
A mãe informou que o Leandro não costumava sair de casa, não brincava
na rua nem na casa de algum colega, brigava muito com a irmã, por isso preferia
não deixá-los brincarem juntos. Durante o ano letivo de 2009, Leandro demonstrou
muita agressividade na escola, bateu nos colegas e professora, não realizou as
atividades, era inquieto, fazia brincadeiras fora de hora, gritou e cantou durante as
aulas, devido a esses comportamentos a escola solicitou à mãe um diagnóstico
clínico, e por meio deste foi constatado que o Leandro era hiperativo dando inicio ao
tratamento médico.
A escola tinha conhecimento do transtorno deste aluno, os professores
também, portanto, utilizava-se de métodos diferenciados para que ocorresse a
aprendizagem.
Foram realizados duas vezes por semana um reforço, havia participação
apenas de dois alunos, Leandro e outra menina. Esse reforço era feito de terça e
quinta, após o término da aula, tinha duração de aproximadamente de 1 hora, era
realizado com a professora titular, sendo realizado na mesma sala de aula e apenas
com os dois alunos, porém as atividades realizadas eram praticamente as mesmas
do período normal, sendo: cruzadas, caça-palavras, entre outras. Entretanto, a
professora os estimulava na execução e término das mesmas.
41
5.3
Determinação do número de caso
Foi analisada apenas uma sala de aula com um aluno com hiperatividade,
visto que, trata-se de um estudo de caso.
5.4
Elaboração do protocolo
O protocolo foi elaborado com base nos comportamentos que foram
apontados, de acordo com o levantamento teórico, levando em conta o ambiente e
as pessoas que ali estão inseridas (Apêndice C).
O mesmo continha os comportamentos do aluno hiperativo em sala de
aula: levantou-se a todo momento (em horas impróprias), atrapalhou a aula, falou
demasiadamente, brigou com os colegas de classe, respeitou ou não o professor,
quais atitudes apresentou durante a realização de tarefas, ou seja, distraiu
facilmente, realizou até o fim a atividade, teve dificuldade em atividades em grupos,
aprendeu o conteúdo com facilidade, quais dificuldades o aluno demonstrou na sala
de aula, seja na realização de trabalhos, ou até mesmo no convívio interpessoal.
Durante as observações foram registradas as ações que cercaram a
relação entre aluno–professor, se a professora tirou dúvidas, tratou o aluno de forma
diferenciada, chamou lhe a atenção constantemente, se houve respeito mútuo.
Também, foi levado em conta, se a escola tinha o conhecimento do que é
hiperatividade, se houve métodos diferenciados para este aluno hiperativo, se de
certa forma houve uma generalização do que é hiperatividade de fato, considerando
todos os alunos inquietos como hiperativo.
Para o registro, foi aplicado um protocolo para cada data de observação.
Após o período de aplicação, que foi realizada no período dois meses, pois se a
duração fosse menor, não seria suficiente, tendo em vista que o aluno podia não se
sentir a vontade com a presença de alguém observando a aula. Vale ressaltar que a
pesquisa foi realizada em dias e horários alternados, totalizando 18 aulas.
42
5.5
Coleta de dados
Para a coleta de dados, foi imprescindível a solicitação de autorização da
escola e dos pais do aluno participante da pesquisa. Os formulários de autorização
estão disponíveis no Apêndice A e B.
Participou desta pesquisa uma professora com formação acadêmica
específica para a série que lecionava, da rede pública, ministrando aulas para o 3º
ano; um aluno com hiperatividade, frequente na sala de aula, devidamente
diagnosticado por especialistas (neurologista e/ou psicólogos), contando com
acompanhamento (médico/pais/professor) e a escola tenha consciência do caso;
também, participou os colegas de classe, para avaliação da relação aluno hiperativo
– aluno comum.
Para a coleta de dados foi elaborado um protocolo de observação de sala
de aula, conforme Apêndice C, constando de pontos de observação referentes aos
procedimentos didáticos e atitudinais da professora, ações e respostas do aluno com
hiperatividade e os inter-relacionamentos professor-aluno e aluno-aluno.
As observações foram feitas no período de dois meses. Durante esse
período foi utilizado o protocolo, um por dia. Após a conclusão da observação, os
mesmos foram analisados e agrupados por categorias.
Foi realizada uma entrevista, conforme apêndice D, com a professora e
uma entrevista com os pais, conforme apêndice E, com o intuito de traçar o perfil do
aluno com hiperatividade participante, sob a ótica dos pais e professora.
5.6
Avaliação e análise dos dados
A análise dos resultados foi realizada com base na compilação dos dados
das entrevistas do protocolo e posterior agrupamento por categorias e incidências
atitudinais, didáticas e de relacionamento.
43
5.7
Preparação do relatório (apresentação dos resultados)
Os resultados foram apresentados após a compilação dos dados obtidos
na pesquisa de campo, em forma de texto e também, quadros para melhor
visualização, constando no texto à média em percentual que representam as
incidências atitudinais por parte do aluno, do professor e demais colegas de classe,
além de apresentar as incidências didáticas.
44
6
Apresentação de Análise dos Resultados
Neste capítulo o leitor poderá mergulhar no estudo de caso, ler sobre
todas as observações, as discussões do que foram observados neste período, quais
foram às posturas da escola, professores, colegas de classe e da mãe.
6.1
Observações
O protocolo se propôs a observar a participação do aluno hiperativo em
sala de aula em momentos de atividades individuais e em grupo. Depois de
concluído o período de observação foi constatado que não houve momentos de
interação entre Leandro e as demais crianças.
Foram observadas suas atitudes na sala de aula, aulas de Educação
Física, Educação Artísticas e recreio.
A sala de aula era organizada com as carteiras enfileiradas. Em
determinadas atividades as filas eram duplas. Dava-se essa disposição quando as
atividades foram de leitura, ou atividades em duplas, porém Leandro quase sempre
ficou sozinho, raras exceções de sentar com outra criança e quando aconteceu foi
com uma aluna que tinha dificuldade de aprendizagem. Essa turma possuía trinta e
cinco alunos.
Esta sala de aula contava com uma lousa na cor verde, em cima dela
tinha um relógio que não funcionava, no lado direito, em cima da lousa havia uma
bandeira do Brasil que ficava suspensa, dois ventiladores no teto. Ao lado direito,
três janelas nas laterais, na lateral esquerda havia trabalhos expostos das outras
turmas e dois mapas grandes pregados na parede, um do Brasil e outro do mundo,
ao fundo da sala havia dois armários, um da professora, outro com material das
crianças, duas prateleiras, uma com livros, e outra prateleira com vários papéis a
serem utilizados (cartolinas, papel sulfite, celofane, crepom, entre outros), e duas
caixas uma com livros infantis e outra com gibis.
No período de observação na sala de aula, Leandro demonstrou ser
egocêntrico, queria tudo para ele, além de não interagir com os colegas, em vários
45
momentos ele gritou o nome de determinado aluno e xingou de “bobo”, “feio”,
“fedido” entre outros palavreados. Também, tinha o costume de cutucar os colegas
com o lápis, não interagiu sociavelmente com seus pares em sala de aula. As
crianças não se aproximaram dele. Ele não participou das mesmas atividades da
classe, portanto, não foram proporcionados momentos de interação, pois as
atividades à ele propostas, pela professora eram de cruzadas, desenho para colorir,
caça palavras, enquanto as demais crianças realizavam contas, liam textos,
respondiam questionários.
Durante as aulas de Educação Física ficou isolado, brincou sozinho com a
bola, não permitiu que ninguém chegasse perto. Houve aulas que jogou a bola na
rua de propósito, também, jogou a bola no rosto de um colega, demonstrou muita
agressividade e também, gritou e cantou. Aparentemente as crianças tinham receio
em brincar com ele, algumas diziam para não chegar perto dele, pois tinha
problema, era doidinho e tomava remédios. Fica explicito que neste contexto que
havia questões de preconceito para com a criança hiperativa, sendo esta excluída
das atividades e recebendo apelidos.
Essas aulas eram realizadas num corredor largo no fundo da escola. Na
frente tinha a quadra que estava em construção, nesse espaço que eram realizadas
as aulas de Educação Física. Havia duas árvores no meio do corredor e na lateral
uma escada, onde as meninas costumavam a brincar durante as aulas com boneca
e os meninos ficavam na parte de baixo com a bola, havia também, vários pedaços
de ferros e madeiras no canto do corredor, devido à construção.
As aulas de Educação Artística costumaram ser em grupos, porém o
Leandro sempre ficou isolado, jogou tinta no chão, cantou. Quando foi necessário
levar algum material diferenciado para aula, Leandro nunca levou, porém também,
não era questionado, é como se não estivesse na sala.
No recreio, o Leandro correu bastante, gritou, e tinha o hábito de jogar o
lanche nos amigos. Houve um episódio em que ele pegou caixinhas de leite
(chocolate) do lixo e jogou nas crianças, ficaram todos sujos.
O aluno também, frequentou aulas na sala de recurso, com uma
psicóloga. As atividades foram realizadas na sala de computação, a qual possuía
quatro mesas redondas e nas laterais tinham computadores, seis no total, havia um
armário e algumas caixas empilhadas no canto da sala. Entretanto, até o término
das observações, essas aulas não foram mais ministradas por não haver mais um
46
profissional na sala de recursos. Desta forma, o aluno não teve mais esse respaldo e
ajuda.
Durante o período foi possível observar que Leandro se mostrou motivado
a ir para a sala de recursos, pois foi possível realizar atividades no computador,
porém ele demonstrou não ter um período grande de concentração na atividade
proposta, pois desligava o computador, batia na tela e CPU.
A seguir apresentamos e discutimos os resultados compilados dos
protocolos de observação do aluno.
6.2
Discussões
Vale recordar que as observações foram realizadas durante dois meses,
em dias e horários alternados, sendo preenchido um protocolo para cada aula,
totalizando dezoito protocolos. Foram relacionados no protocolo, os comportamentos
presentes no dia observado, não relatando, por exemplo, a quantidade de vezes que
ele levantou naquele dia, e sim o comportamento que apresentou na sala de aula,
portanto, foram listados todos os comportamentos manifestados no dia. Após a
compilação dos dados foram somados a prevalência de cada comportamento,
considerando os dezoito protocolos preenchidos.
Vale ressaltar que optamos em relacionar apenas os comportamentos,
pois Leandro, foi observado durante 2 dias e percebemos que os movimentos dele,
eram repetidos em demasia, comparando com as outras crianças, a intensidade e
repitação eram continuas.
O quadro 4 apresenta os principais comportamentos do aluno. Esses
comportamentos por sua vez, vão ao encontro da literatura na medida em que foram
observados durante o período de execução das atividades, os comportamentos de
inquietude e distração, corresponderam a 50,7%, não realizou a atividade por
completo representou 18,3% e não seguiu as orientações da professora teve a
incidência de 16,9%. Apresentou comportamentos que atrapalhavam a execução
das atividades, um exemplo foi cantar durante a aula, que teve o índice de 14,1%.
Na literatura são apresentados tais atos como característicos da
Hiperatividade, no decorrer do trabalho foi apresentado aos leitores um quadro de
Conners,
que
menciona
exatamente
esses
comportamentos
que
foram
47
diagnosticados durante a observação, ou seja, foi possível constatar que tais
condutas apresentadas na literatura são de fato o que acontece no cotidiano.
QUADRO 4 – Comportamentos durante as atividades
Comportamentos / Atividades
Inquieto
Distraiu facilmente
Não realizou a atividade até o fim
Não seguiu as orientações da professora
Cantou durante a atividade
Eventos
18
18
13
12
10
Bonet (2008) menciona que as crianças com TDAH são desorganizadas,
distraídas, não concluem as tarefas, esse aspecto foi observado durante o período
da pesquisa, confirmando os estudos já realizados.
O quadro 5 apresenta os principais comportamentos do aluno. Esses
comportamentos por sua vez, vão ao encontro da literatura na medida em que o
participante
apresentou
constantemente
durante
as
aulas,
atos
que
são
considerados comuns nos hiperativos, sendo eles: mexer as pernas (7,6%), estojo
(7,6%), caderno (7,6%), cantar (7,6%), sentar incorretamente (7,6%), levantar
(7,1%), morder o lápis (6,7%), morder a borracha (6,7%), bater o lápis na mesa
(6,7%), balançar a cadeira (6,3%), morder o caderno e/ou livros (5,5%) tais
comportamentos corresponderam a 76,9%, houve outros comportamentos, porém
com índices menores.
48
Quadro 5 – Comportamentos constantes durante as aulas
Comportamentos / Atividades
Mexeu as pernas
Mexeu no estojo
Mexeu no caderno
Cantou nas aulas
Sentou torto
Levantou durante a aula
Mordeu o lápis
Mordeu a borracha
Bateu o lápis no caderno e/ou mesa
Balançou a cadeira
Mordeu o caderno
Agressividade
Rasgou as folhas do caderno
Xingou os colegas
Fingiu chorar nas aulas
Gritou durante a aula
Colocou o estojo na cabeça
Jogou objetos nos colegas
Pulou durante a aula
Comeu a folha de papel
Mexeu no lixo e joga nos colegas
Bateu na tela do computador e mouse
Jogou água no caderno
Jogou tinta no chão
Desligou os computadores
Eventos
18
18
18
18
18
17
16
16
16
15
13
09
08
07
06
05
04
04
03
02
02
02
01
01
01
É nítido que o hiperativo é impaciente não consegue parar para fazer
qualquer coisa, está sempre se mexendo, movimentando, não consegue se
controlar. Goldstein e Goldstein (1998) mencionam o excesso de atividade, tal fator
foi possível observar durante a pesquisa, os dados falam por si.
Os atos que demonstraram ser agressivos tiveram índices menores em
relação aos que demonstraram inquietude, ou seja, nesse caso o aluno hiperativo,
demonstrou ser mais inquieto, impaciente, do que agressivo, foi possível concluir
isso, pois os comportamentos como agressividade (3,8%), rasgou as folhas do
caderno (3,4%), xingou os colegas (2,9%), gritou (2,1%), jogou objetos nos colegas
(1,7%) representam apenas 14,7% de todos os comportamentos manifestados
durante a aula, conforme quadro 5.
49
O quadro 6 apresenta os principais comportamentos do aluno na relação
aluno x aluno. Esses comportamentos por sua vez, vão ao encontro da literatura na
medida em que apresentou atos que atrapalharam a sala de aula, ou seja, o aluno
hiperativo não sabe lidar com limites, regras, ordens, age sem pensar, costuma ser
agressivo e esses fatores impactam na convivência com os demais alunos
principalmente dentro da sala de aula, por atrapalhar, acaba incomodando a aula
(Barkley, 2008).
QUADRO 6 - Relação aluno x aluno
Comportamentos / Atividades
Conversou com os colegas
Xingou os colegas
Brincadeiras de mão
Cutucou colega com lápis
Eventos
7
7
5
3
Durante as observações na relação com os demais alunos, Leandro
apresentou comportamentos constante de conversar com os colegas e xingar os
mesmos, tendo o índice de 63,6%, essas condutas interferiram no andamento da
sala de aula, bem como a relação aluno x aluno, gerou um entrave, pois ficavam
incomodados. Por isso é essencial os pais e a escola estimularem habilidades
sociais com a criança hiperativa, afim de promover um convívio social sadio, por
meio deste ela saberá como se comportar de acordo com cada situação (BARKLEY,
2002).
Segundo Bonet (2008) as crianças com TDAH não pensam nem antes
nem depois de agir, não aproveitam a experiência e tropeçam centenas de vezes na
mesma pedra. Isso de fato é o que acontece na sala de aula, Leandro repetiu os
mesmos comportamentos de impulsividade em diversos momentos, com frequência
xingou os colegas, por mais que já tenha levado advertência por isso, repetiu a
mesma atitude.
As brincadeiras de mão7 corresponderam a 22,7% dos comportamentos
evidentes na relação aluno x aluno. Vale ressaltar que tais brincadeiras eram
iniciadas pelo aluno hiperativo, durante a execução das tarefas. Essas brincadeiras
7
Cutucar os colegas com a mão e/ou lápis; bater nas costas para chamar atenção; fazer cócegas;
bater na cabeça; estalar os dedos próximos do ouvido.
50
iniciaram, pois Leandro estava sem fazer nada, e acabou mexendo com os colegas,
para chamar a atenção, e também, para brincar. Entretanto, os colegas sempre
corresponderam a essas brincadeiras.
Durante as observações 13,6% dos comportamentos na relação entre os
alunos, foi cutucar os colegas com o lápis, porém sempre que o aluno hiperativo
cometeu esse ato, foi para perguntar alguma coisa, ele possuía essa característica
de falar com as mãos, ou seja, ele não chamava as pessoas pelo nome quando
queria conversar, sempre cutucava, mas nem sempre os colegas reagiram bem,
houve episódios em que os alunos ficaram irritados e chamaram a professora,
dizendo que ele estava machucando, com o lápis.
O quadro 7 apresenta os principais comportamentos do aluno na relação
aluno-professor. Esses comportamentos por sua vez, vão ao encontro da literatura
na medida em que houve a interação aluno-professor, por mais que teve picos de
agressividade e passividade, foi possível observar fatores interessantes nessa
relação.
QUADRO 7 - Relação aluno x professor
Comportamentos / Atividades
Atividades diferenciadas
Respeitou o professor
Desrespeitou o professor
Falou alto com professor
Levantou a mão ao professor
Eventos
11
9
7
6
5
No período da pesquisa a professora preparou atividades diferenciadas,
correspondentes a 28,9% dos comportamentos observados na relação aluno x
professor. Entretanto, vale ressaltar que as atividades tinham cunho recreativo, ou
seja, foram cruzadas, desenhos para pintar, caça-palavra, e sempre remetida a
personagens de histórias em quadrinho. De acordo com Conners (2009) o aluno
hiperativo necessita que o professor dê instruções repetidamente, esse fator foi
observado nessa pesquisa, há todo momento Leandro pediu orientações, mesmo
que a professora já tinha passado, ele perguntava várias vezes, e quando ela estava
ocupada, questionava aos colegas, isso em todas as atividades dentro da sala de
aula.
51
Leandro desrespeitou a professora diversas vezes, tendo o índice de
18,4%, mas mesmo assim o índice referente a respeitar o professor foi maior,
atingindo 23,7%. Entretanto, apresentou atitudes agressivas equivalente a 28,9%,
falando alto com o professor e levantando a mão, com o intuito de amedrontar,
insinuar que é superior.
O quadro 8 apresenta os principais comportamentos do aluno e suas
dificuldades durante a aula. Esses comportamentos por sua vez, vão ao encontro da
literatura na medida em que apresentou atos que remetem ao transtorno.
QUADRO 8 - Dificuldades apresentadas pelo aluno durante as aulas
Comportamentos / Atividades
Baixa concentração
Baixa atenção
Relacionamento com as crianças
Impulsividade
Agressividade
Não levar o material
Eventos
18
16
13
11
09
04
Durante as observações, Leandro, teve grande dificuldade em se
concentrar, tendo o índice de 25,4% de baixa concentração. Conners (2009)
menciona a baixa concentração e a distração enquanto realiza as atividades, como
sintomas e estágios de desenvolvimento do TDAH. Mattos (2007) cita que o portador
de TDAH, tem dificuldade de se concentrar e presta pouca atenção, essas posturas
realmente foram observadas. A dificuldade de prestar atenção correspondeu a
22,5%. Os dois maiores índices foram concentração e baixa atenção.
O aluno também, apresentou muita dificuldade quanto ao relacionamento
com os demais colegas de classe, tendo o índice de 18,3%. Barkley (2002) cita que
a criança com TDAH tem problemas sérios em se relacionar com outras crianças,
devido à hiperatividade e impulsividade, tais fatores são aversivos a outras crianças.
Já que as crianças hiperativas não entendem o conceito de construir um
relacionamento íntimo baseados em trocas de favores e interesses, por não ter essa
percepção, acabam não conseguindo se relacionar, pois não vêem “vantagem” ou
até mesmo o porquê desses relacionamentos.
52
Conners (2009) também, ressalta essa dificuldade de relacionamento com
os colegas.
Leandro também, apresentou dificuldade em lidar com a impulsividade
que correspondeu a 15,5%. Barkley (2008) menciona que a impulsividade
relacionada ao TDAH envolve o descontrole comportamental, incapacidade de
retardar uma resposta ou gratificação, além de ter aversão por esperar, isso faz com
que agem de maneira impulsiva. Conners (2009) também, menciona a impulsividade
comportamental que seria agitar as mãos e pés, falar alto, levantar todo momento e
há a impulsividade cognitiva que remete a desorganização, cometer os mesmos
erros com frequência.
Foi possível associar esses comportamentos contidos na literatura com a
realidade, pois Leandro apresentou características semelhantes às mencionadas por
Barkley (2008) e Conners (2009), ele agiu impulsivamente, chamando os colegas
com palavras e nomes que vinham na cabeça, constantemente chamou os colegas
de bobo, feio, fedido, quando a professora pediu para esperar uma orientação, ele
falou mais alto, começou a bater o lápis com força na mesa, demonstrou
impulsividade e a tal aversão por esperar. A impulsividade comportamental também,
foi observada, pois todo momento ele mexeu os pés, mãos, levantou com
frequência, cantou durante as aulas. Durante o período da pesquisa houve repetição
de erros durante a execução de tarefas e também, mostrou ser desorganizado.
Barkley (2008) cita que o portador de TDAH tem pouca auto-regulação da
emoção, tendo mais expressão emocional, especialmente de agressividade e raiva.
Foram nítidos tais comportamentos durante a observação, pois Leandro tinha a
emoção à flor da pele, tudo era ao extremo, se estava feliz, sorria, cantava, brincava
em demasia, já quando estava irritado, gritava, chorava, xingava, não havia um
equilíbrio nas emoções.
Também, encontramos na literatura que a criança com TDAH, apresenta
frequentemente o material sujo, rasgado e com rabiscos. Além de esquecer-se de
fazer lições (BONET, 2008).Realmente foi essa realidade encontrada, pois o seu
caderno era sujo e repleto de rabiscos e desenhos, além de quase todas as folhas
estarem rasgadas nas pontas.
A figura 2 apresenta o aspecto físico da sala de aula, que era organizada
com as carteiras enfileiradas, haviam vários tipos de mesas e cadeiras e muitas
53
estavam quebradas, desparafusadas as tampas da mesa, algumas cadeiras eram
mais altas, e não estavam alinhadas de maneira uniforme.
A sala de aula contava com uma lousa na cor verde, em cima dela tinha
um relógio que não funcionava, não tendo nenhuma utilidade, porém estava lá para
chamar a atenção.
No lado direito, em cima da lousa havia uma bandeira do Brasil que ficava
suspensa, dois ventiladores no teto. Ao lado direito, três janelas nas laterais, na
lateral esquerda havia trabalhos expostos das outras turmas, tivemos a impressão
que estavam expostos há muito tempo, e dois mapas grandes pregados na parede,
um do Brasil e outro do mundo.
No fundo da sala havia dois armários, um da professora, outro com
material das crianças, ambos organizados, duas prateleiras, uma com livros
didáticos, que por sinal não estavam sendo utilizados, permaneciam embalados, e
outra prateleira com vários papéis a serem utilizados (cartolinas, papel sulfite,
celofane, crepom, entre outros), e duas caixas uma com livros infantis e outra com
gibis.
54
FIGURA 2 – Planta da sala de aula: como estão distribuídas as carteiras,
quais objetos estão presentes.
Fonte: Elaborado pelo autor
55
Vale ressaltar que Benczik e Rohde (1999) mencionam que “a sala de
aula pode ser criativa, colorida, ativa e estimulante. Mas é importante achar o meio
termo entre a escassa motivação visual e estímulos em excesso”. Durante as
observações foram registrados alguns estímulos em excesso e desnecessários, pois
havia vários trabalhos de outras turmas e acabam por dispersar a atenção. Por isso
temos que tomar cuidado com a disposição da sala de aula e os objetos que contém
nela, para promover um ambiente propicio e harmonioso à aprendizagem.
O quadro 9 apresenta os principais comportamentos da professora. Esses
comportamentos por sua vez, vão ao encontro da literatura na medida em que a
professora auxiliou o aluno durante as atividades, correspondendo a 16%, deixou a
carteira do Leandro ao seu lado (12%), deixou a carteira dele ao lado de outra
criança (5,3%), mandou bilhete à mãe com o intuito de conversar com ela sobre o
comportamento do filho (5,3%).
QUADRO 9 - Atitudes da professora durante a aula, acerca do aluno
hiperativo
Comportamentos / Atividades
Chamou a atenção
Falou alto com o aluno
Auxiliou nas atividades
Não teve paciência
Deixou a carteira do Leandro ao lado da sua mesa
Ignorou algumas atitudes do aluno
Deixou a carteira do Leandro ao lado de outra criança
Mandou bilhete para mãe
Chamou a diretora na sala de aula
Deixou a carteira do Leandro virada para parede
Eventos
14
13
12
10
09
06
04
04
02
01
Benczik e Rohde (1999) mencionam que algumas características que o
professor deve apresentar em relação ao aluno hiperativo, sendo elas:
1) Oferecer apoio, incentivo e ajuda pessoal;
2) Sinais discretos para chamar a atenção;
3) Dar punição, sem sermão, de maneira calma. Não enfatizar o
fracasso;
4) Manter contato frequente com os pais;
5) Estimular o interesse e a motivação da criança para aprender
(pp.210-211).
56
Entretanto, vale ressaltar que durante as observações a professora
chamou a atenção do aluno (18,7%), falou alto com ele (17,3%), não demonstrou
paciência (13,3%), ignorou as atitudes do aluno (8%), chamou a diretora na sala de
aula (2,7%), deixou a carteira virada para a parede (1,3%). Essas atitudes não
ajudaram em nada o desenvolvimento escolar do aluno, conforme na literatura, o
professor deve ser discreto ao chamar a atenção, ser calmo, estimular a criança,
porém com essas atitudes Leandro acabou por ficar mais irritado e frustrado, pois foi
ignorado, quando foi deixado virado para a parede os demais alunos riram dele,
gerando assim um fracasso, uma falta de motivação em ir à escola.
Foi notória durante as observações a dificuldade em lidar com uma sala
de aula que haja um aluno hiperativo. Porém o professor deve ter jogo de cintura,
saber lidar com as situações de maneira madura, e pensar nas consequências de
seus atos.
Em se tratando agora da apresentação e discussão da avaliação geral do
período observado, verificou-se que Leandro é uma criança muito ativa, esperta, não
é muito de falar e sim agir, comportamento esse que de certa forma o torna um
excluído frente ao grupo classe. Tem pouquíssimos amigos, e mesmo assim não é
de ficar com eles durante as aulas ou recreio, os demais alunos não se aproximam
dele por medo.
Demonstrou ser uma criança que recebe tudo o que quer, quando dizem
“NÃO” na escola, ele não aceita, finge chorar, fala mais alto. Um aspecto
interessante visto durante as observações, foi que Leandro tem o olfato muito
aguçado, todo momento pergunta: - Que cheiro é esse? Conversando com a
professora ela também, mencionou que acha curioso esse aspecto, pois sempre que
está ao lado dela, ele pergunta que cheiro tem a sua boca, que cheiro é esse no seu
cabelo. Neste trabalho não foi encontrado nada relacionado a isso na literatura,
porém há relatos informais de outras pessoas hiperativas, devidamente diagnosticas
e acompanhadas, que também, demonstram a mesma característica.
Levando em consideração a aprendizagem de Leandro, é nítido que ele
estava inserido num ambiente com métodos de ensino inadequados, pois
apresentou muita dificuldade, não conseguiu reconhecer os números de 0 a 10, não
leu nem escreveu, e nesse processo de aquisição da leitura e escrita estava na fase
silábico de valor sonoro, sendo que para um 3º ano é considerado atrasado. Mesmo
a professora levando atividades diferenciadas, ele não estava aprendendo, pois as
57
atividades tinham cunho recreativo, passatempo, são cruzadinhas, desenho para
pintar, caça palavras, e mesmo assim ele não conseguia realizar, pela dificuldade
em compreender o enunciado, por não saber ler e a falta de paciência. Foi
perceptível durante as observações que ele nunca participou das aulas nas quais
era possível sua interação com a turma. Tiveram aulas de leitura de texto, com
música, reportagens que a professora leu e a turma podia observar o jornal, porém
ele ficou isolado no canto, como se não fizesse parte da turma. Na aula de artes
teve uma atividade, onde os alunos fizeram o auto-retrato em seguida com a câmera
fotográfica da professora tiravam foto do trabalho e de si mesmos mesmo, porém
Leandro não participou, nem foi questionado se tinha feito o desenho ou se trouxera
o material.
Durante o recreio por várias vezes ele foi chamado de doidinho, maluco,
louco pelas crianças de diversos anos. Quando um aluno era indagado sobre o
porquê dessa forma de tratamento, de o chamarem desses nomes, a resposta foi
que este é o apelido dele, pois ele não é normal, grita, corre, pula sozinho. Foi nítido
o preconceito sofrido pelo Leandro, a agressividade que ele demonstrou, por ser
isolado e taxado de doido. Leandro costumava dar o seu lanche para as crianças
com frequência e, em seguida ficava sorrindo para eles, correndo em volta deles,
tudo para chamar a atenção.
Durante as aulas Leandro teve o costume de ficar com a borracha, cola,
estojo, caderno, livro na cabeça, para chamar a atenção de seus colegas e
professor. Também, cantou, gritou, algumas vezes levantou e pulou no meio da
aula. Teve um dia em que pegou sua garrafa, que leva água todos os dias, e
simplesmente jogou toda água no seu caderno.
Comportamento provavelmente
para chamar a atenção para si.
Num determinado dia de observação Leandro estava virado para parede,
com a sua carteira, atrás da mesa da professora, ele ficou durante toda a aula desta
forma. Ao questionar a professora o que havia acontecido, a resposta foi que ele
estava muito bagunceiro, por isso o deixou ali. Neste dia ele ficou muito agressivo,
toda vez que a professora ia até sua mesa, ele levantava a mão, num gesto
agressivo, porém talvez ele estava desta forma, pelo constrangimento que lhe
aconteceu, todas as crianças estavam rindo dele, por estar naquela posição.
Fazer uma avaliação global de Leandro é repensar em toda prática
pedagógica, todo respaldo e aprendizagem. Quando nos reportamos a todos os
58
fatos, observações, falas dos professores, colegas até mesmo do Leandro, é notório
o despreparo, desconhecimento sobre Hiperatividade. Ele é uma criança esperta,
sabida, sabe aproveitar de sua condição para exercer uma ação de convencimento
sobre todos que o cercam, como por exemplo, não fazer as atividades. Porém,
também, é notório que a escola não está preparada para receber crianças com
algum transtorno. Dizem ter atividades diferenciadas, porém não adequadas para a
efetivação da aprendizagem. É difícil controlar uma sala com trinta e cinco alunos, e
ter um aluno hiperativo, com dificuldade de aprendizagem, porém se faz necessário
repensar no que fazer e como fazer, em ajudar essa criança, que está passando por
todos os anos, porém não levando nenhuma bagagem.
Merece destaque a observação referente à convivência com os demais
colegas, pois Leandro, apresentou ser extremamente sozinho, não possui amigos,
laços de amizades, sofreu bullying,8 foi discriminado, tinha vários apelidos e era
conhecido por outras turmas como “o doidinho”, “maluquinho”, “louco”, “com
problema”, “toma remédio para cabeça”. Para uma criança de apenas 8 anos isso é
péssimo, pois marcará sua vida eternamente.
6.3
Entrevista com a professora
Ao final das observações foi realizada uma entrevista de forma escrita
com a professora do Leandro. Quando questionada se a escola sabe o que é
Hiperatividade e como tratá-la no âmbito escolar, a professora respondeu que:
9
A escola sabe e esses assuntos são discutidos no HTPC com a
coordenadora e também, temos a orientação da professora da sala
itinerante (Educação Especial).
Entretanto, não demonstrou muito conhecimento sobre o assunto, pois
em diversos momentos não sabia lidar com as atitudes do aluno como, por exemplo,
quando ele cantava, levantava, perdia paciência com o mesmo e não utilizava
estratégias na sala de aula para esse aluno hiperativo.
8
Conforme dicionário online Priberam a definição é um conjunto de maus-tratos, ameaças, de
intimidação física ou psicológica exercido de forma continuada sobre uma pessoa considerada mais
fraca ou mais vulnerável.
9
HTPC - Hora de Trabalho Pedagógico Coletivo.
59
Tal comportamento destoante da prática conduz a idéia de que apenas
informações sobre a hiperatividade não são suficientes para garantir uma prática
pedagógica efetiva.
Questionada sobre quando percebeu que o aluno Leandro tinha
Hiperatividade, se partiu da escola ou dos pais, a professora afirmou que:
A escola pediu uma avaliação do Leandro o ano passado, devido ao
comportamento e agressividade na sala de aula. Fez um acompanhamento
psicológico e uso de medicamento que o ajudou bastante.
A professora mencionou que partiu da escola a solicitação do diagnóstico,
porém na entrevista com a mãe, a mesma informou que partiu dela, com as
informações passadas ao neurologista por ela. Em conversa com a diretora,
informou que Leandro estava muito agressivo e por isso a escola conversou com a
mãe para solicitar um diagnóstico médico. Em 2009 ele foi diagnosticado, e esse
ano foi muito complicado, pois a escola informou que ele chegou a bater em uma
professora, que acabou saindo da escola, pois a convivência estava difícil, isso
aconteceu na época que Leandro, não tomava medicamento algum.
Quando questionada se havia um acompanhamento da escola em relação
à evolução do Leandro e se há reuniões com os pais para avaliarem a situação, a
professora afirmou que:
Sim, a escola sempre está em contato com a mãe.
Foi possível observar que havia certo contato entre a professora e a
família, porém não são laços estreitos. Leandro possuía um caderno e por meio
deste, a professora conversava com a mãe do aluno, falava as dificuldades,
comportamentos, porém esse diálogo acontecia apenas nos casos extremos, como:
atrito sério com os colegas; levantou a mão para professora. Não eram mencionadas
as dificuldades em sala de aula, por exemplo, “hoje ele não trouxe o material,
portanto, não realizou a atividade, ou, comentar que o Leandro não se concentrou,
estava impaciente”. Contar um pouco sobre o dia escolar, talvez ajudasse e
manteria o contato com a família, dessa forma seria mais fácil de trabalhar, pois
haveria uma aproximação da escola com a família.
60
Quando questionada se eram utilizados métodos diferenciados para
avaliação do aluno, a professora informou que:
Sim, todas as atividades são diferenciadas e a avaliação é feita de acordo
com o nível que ele está (Silábico com valor sonoro).
As atividades realmente eram diferenciadas, porém com o cunho
recreativo, durante as observações foi possível registrar atividades da Turma da
Mônica, de cruzadinha, colorir, caça palavras. Para Leandro era um passatempo,
quando ele não esteve a fim de realizar essas atividades, levantou, caminhou até o
fundo da sala e pegou gibis para olhar.
Na observação realizada no dia de avaliação (prova), Leandro,
simplesmente não recebeu a prova e ficou sem fazer nada. As avaliações foram
feitas de acordo com a percepção da professora, não houve nenhuma atividade
documentada que atribuiu qualquer tipo de nota. Esse fator impacta diretamente na
evolução do aluno, no desenvolvimento, pois ele deixou de participar, de tentar
encontrar uma maneira de se concentrar para realizar a prova, de entender a
importância dos estudos, bem como as avaliações. Nesse item entra novamente a
falta de formação e informação do professor, pois não está preparado em lidar com
essa criança hiperativa, que possui uma dificuldade de aprendizagem, não tendo
conhecimento em adaptar conteúdos e formas de avaliação.
Quando questionada sobre quais as maiores dificuldades encontradas
pela escola para o processo de ensino aprendizagem, a professora afirmou que:
No momento a concentração e a falta de interesse do Leandro.
Os registros indicaram que as maiores dificuldades encontradas pela
escola é falta de informação, o despreparo para lidar com hiperativos. A
concentração e a falta de interesse impactam, porém isso é uma característica do
próprio transtorno.
Há necessidade de um aprimoramento na formação dos professores
atuantes, afim de indicar alternativas para o ensino de uma criança hiperativa, como
deve deixar a disposição da sala de aula, como realizar avaliações, intervenções,
durante a dinâmica da aula.
61
Quando questionada para definir um perfil do aluno na sala de aula e seu
convívio com os demais colegas, a professora mencionou que:
O Leandro está sempre em movimento, pés balançando, lápis batendo na
carteira, canta ou fica chamando os colegas. Aceita ajuda dos colegas para
ajudá-lo nas atividades. Raramente brinca com alguém, sempre fica
sozinho.
Tais particularidades foram observadas, reafirmando o que consta na
literatura. A professora retratou muito bem como Leandro é na sala de aula. Durante
as observações foi registrado que ele faz barulhos estranhos com a boca, quando
não está cantando, está fazendo tais barulhos. Bonet (2008, p.37) ressalta a
presença de comportamentos como “cantoria, barulhos com a boca e o assobio”.
Quando questionada se há mais alguma consideração, a professora
informou que:
A mãe parou com o acompanhamento psicológico no ano passado, só
retornando agora por solicitação da escola.
A escola informou que a mãe parou por um tempo o acompanhamento
psicológico devido aos gastos. Entretanto, em conversa com a mãe a mesma
informou que o tratamento está em andamento, com acompanhamento psicológico,
fonológico e neurológico.
6.4
Entrevista com os pais
Foi realizada uma entrevista com a mãe do Leandro. Essa entrevista foi
escrita e realizada no final das observações.
Quando questionada sobre as informações da gravidez e parto, a mãe
informou que:
Não teve nenhum problema durante a gravidez. Foi uma gravidez desejada.
Tomou sulfato ferroso durante a gravidez. Não fuma nem bebe. O parto foi
normal.
62
Vale ressaltar que em conversa com a mãe, fui informada que Leandro
nasceu prematuro, com sete meses, ficou durante um mês e meio na incubadora.
Além de apresentar atraso na fala e andar.
Na literatura encontram-se informações que crianças com TDAH têm
maior probabilidade de apresentar problemas na linguagem expressiva (BARKLEY,
2008, p. 140). Também, é mencionado que as crianças com TDAH têm um risco
maior de retardos para caminhar, por terem pouca coordenação motora (BARKLEY,
2008, p. 166).
Quando questionada sobre as informações do Leandro, a mãe informou
que:
Sempre foi ativo e considerado “bagunceiro”. Sempre apresentou
dificuldades em se concentrar e também, interrompe as conversas alheias.
Encontramos na literatura a notória falta de atenção desde o primeiro
trimestre de vida. Ciasca (2010) “a criança com TDAH pode apresentar, nessa fase,
dificuldade em focar e sustentar sua atenção, mesmo que por um período curto de
tempo”.
Durante as observações percebemos que Leandro é realmente ativo, não
conseguia ficar parado, mas no ambiente escolar não apresentou ser bagunceiro e
sim impaciente, ativo e impulsivo.
Quando questionada sobre o diagnóstico, quem indicou, se toma algum
remédio, a mãe respondeu que:
O diagnóstico foi dado por psicólogos e o neurologista Dr. Plínio e foi
baseado nas informações passadas por mim sobre o comportamento do
Leandro e algumas coisas foram observado por ele mesmo, atualmente o
Leandro toma medicação de uso continuo e por tempo indeterminado.
Em nenhum momento a mãe informou que a escola pediu uma avaliação,
um diagnóstico, tendo em vista, seus comportamentos durante as aulas.
Percebemos que o diagnóstico seguiu as orientações contidas na literatura, pois foi
avaliado por um neurologista, psicólogos, considerando as observações feitas pela
família e também, as observações feitas pelos próprios profissionais durante as
consultas. Conforme Barkley (2008) o diagnóstico envolve:
63
ü A coleta de dados de escalas de avaliação e informações prévias.
ü Uma entrevista semi-estruturada com o cliente.
ü Revisão de registros anteriores que possam documentar o
comprometimento.
ü Testes psicológicos para descartar um retardo cognitivo geral ou
dificuldades de aprendizagem.
ü Confirmação de relatos do paciente por pelo menos outra fonte que o
conheça bem.
ü Um exame médico geral em casos em que se preveja o uso de
medicação, ou se condições medicas coexistentes justificarem outra
avaliação e tratamento (BARKLEY, 2008, p.460).
Em conversa com a mãe a mesma informou que Leandro toma o
medicamento Concerta® diariamente. Segundo Conners (2009, p. 49) trata-se de
“uma cápsula rígida praticamente inquebrável, com uma membrana osmótica que
permite a liberação do medicamento durante 12 horas”.
Percebemos que no início da aula, especificamente na primeira aula,
Leandro parecia dopado, com o efeito do medicamento, porém ele ia se soltando,
depois do recreio ele tornava-se outro, ficando muito agitado. A professora também,
notou essa característica.
Quando questionada sobre a relação entre o Leandro e a escola, se tem
algum tratamento diferenciado, como tarefas, avaliações e se acompanha as
atividades do seu filho, a mãe respondeu que:
A relação do Leandro com a escola é muito tumultuada, tenho recebido
muitas reclamações sobre o comportamento e ele não tem se desenvolvido
na escola, o único tratamento diferenciado que ele tem é o caderno de
tarefa que ele trás para casa toda semana, mas não tem muito resultado por
ele não ter concentração para fazer. A escola não tem o preparo para lidar
com crianças com a Hiperatividade, acho que deveria ter um outro professor
na sala para ajudar crianças com essa dificuldade assim ajudaria muito
essas crianças no desenvolvimento escolar, acho que tem um resultado
muito bom. Estou sempre acompanhando meu filho em tudo que está
relacionado a escola, estou sempre presente na vida dele.
A mãe demonstrou grande insatisfação em relação à aprendizagem do
seu filho, pois não estava percebendo avanço, em conversa com a mãe, ela a todo o
momento comparava seu filho com outras crianças da mesma idade, o que lhe
preocupa é o fato do filho ler e escrever com muita dificuldade, e estar no 3º ano e
não demonstrar evolução.
Quando a mãe mencionou que a escola não estava preparada para lidar
com crianças hiperativas, é um fato, mas isso se deve a falta de informação,
64
preparação, capacitação dos profissionais, se faz necessário uma formação voltada
para essas dificuldades de aprendizagens.
Havia atividades diferenciadas, porém não adequadas, por falta de
orientação. A mãe falou que acompanha o seu filho, porém a professora sentia
dificuldade, pois quando mandava bilhete pedindo para ela comparecer na escola,
não eram todas as vezes que ela comparecia, então à professora ficava no portão
esperando a mãe para conversar.
Quando questionada se tinha alguma consideração para fazer, a mãe
respondeu que:
Acredito muito que o acompanhamento médico e com psicólogos vai ajudar
o Leandro, mas se não tiver outro professor com a Lúcia (nome fictício) para
ajudar o Leandro, pois a dificuldade dele aprender ser maior que a dos
outros vai ser bem mais complicado o desenvolvimento escolar dele.
A última fala da mãe demonstrou o medo de seu filho não desenvolver na
vida escolar. Para a mãe ter uma segunda professora na sala de aula adiantaria,
porém não basta ter mais uma pessoa se a mesma não estiver preparada, não ter
formação e informação sobre hiperatividade, como lidar, quais alternativas para
promover um ensino de qualidade. Também, é necessário a família estar junto com
a escola, dessa forma trabalhando em equipe é possível um desenvolvimento
escolar para Leandro, pois a escola em conjunto com a família, buscará soluções e
alternativas para o progresso escolar.
65
7
Considerações Finais
Ao findar a elaboração desta pesquisa, percebemos o quanto é fascinante
este tema, tendo em vista que é um assunto recente, está sendo pesquisado com
mais frequência, porém falta informação aos professores e pais que lidam com as
crianças hiperativas, essas crianças tão especiais, com uma disposição de dar
inveja a qualquer um, que tem um instinto aguçado em descobrir, querer saber, e
que vivem no mundo da lua.
A cada leitura, cada descoberta, sejam sobre as características,
dificuldades, anseios, medos, maior era à vontade, o prazer em descobrir mais,
entender o transtorno, buscar alternativas no ensino, para então promover o
desenvolvimento escolar dessas crianças tão ativas.
Foi encantador conviver com o Leandro, durante dois meses, mapear o
ambiente escolar, ler os depoimentos da professora, da mãe, perceber os anseios.
Foi possível notar as particularidades deste caso, o olhar esteve sempre atento para
perceber cada atitude, ação, do Leandro, da professora, dos colegas, para deixar a
pesquisa rica em detalhes, que faça com que o leitor se envolva, e com a leitura
possa imaginar e vivenciar as situações e casos descritos ao longo da pesquisa.
Com este trabalho, foi possível aprofundar um pouco os conhecimentos
sobre a hiperatividade, conhecer a definição, breve histórico, bem como aspectos
médicos e educacionais, além de aprofundar o que acontece na sala de aula, o que
o professor deve esperar, como deve se preparar para lidar com determinadas
situações e também, perceber a relação existente entre escola e família. Todos
esses aspectos visam contribuir a área educacional.
O que motivou está pesquisa foi o levantamento de algumas indagações
como, se a escola e os professores são capazes ou não de identificar características
de um aluno hiperativo, ou se por outro lado há uma generalização de
comportamentos inadequados classificados como hiperativos. Se há ou não a
necessidade de se adaptar conteúdos e processos de avaliação para atender as
necessidades especiais de um aluno hiperativo. O que realmente a sala de aula
deveria ter ou oportunizar para que o aluno com hiperatividade tivesse sucesso
66
educacional. Especificamente neste estudo de caso tais questionamentos foram
respondidos.
Pudemos constatar que a escola e os professores acabam identificando
alguns indícios que levam a crer que o aluno é hiperativo, porém em larga escala, ou
seja, alguns alunos que possuem dificuldades em relação a falta de limite, não
respeitam professores e/ou colegas, são agressivos, acabam sendo considerados
como tal, porém de maneira errônea, pois o que percebemos nesta pesquisa, foi que
nas escolas, em geral, há alunos hiperativos em grande quantidade, porém sem o
diagnóstico adequado, podemos afirmar isso, pois até encontrar Leandro, tivemos
que visitar outras escolas, para encontrar o perfil do indivíduo para este estudo de
caso e foi essa realidade encontrada nas escolas. Infelizmente há uma
generalização de comportamento inadequado classificado como hiperativo, isso se
dá por falta de formação e informação do que é hiperatividade.
Pensar na adequação de conteúdos e avaliações para atender as
necessidades do aluno hiperativo é repensar na prática, na metodologia, além de
encontrar um caminho de medir o conhecimento deste aluno. Foi nítida durante a
pesquisa que é necessária essa adequação, pois neste caso o aluno estava
atrasado em relação às demais crianças, como não ficou retido no ano adequado,
acabou por gerar uma defasagem no conteúdo, sendo necessária a adequação.
Além disso, Leandro mostrou-se muito inteligente, porém pouco estimulado, e como
possui dificuldade em se concentrar, acaba não realizando as atividades nem
provas, se fosse possível utilizar algumas estratégias mencionadas ao longo deste
trabalho, por exemplo, deixá-lo como ajudante, ao lado de outro colega para auxiliálo nas atividades, utilizasse método avaliativo oral, isso ajudaria a perceber o
progresso escolar, isto que a sala de aula deveria proporcionar a essa criança
hiperativa.
Foi possível analisar os aspectos educacionais e a relação pessoal entre
professor e demais colegas, na sala de aula que diz ser inclusiva, porém o que
percebemos durante o período da pesquisa, que promove práticas que excluem
esse aluno no âmbito escolar. A relação com os professores não é ruim, porém não
há práticas que promovem realmente uma aprendizagem inclusiva, que dê a ele o
direito em aprender como os outros colegas, em determinadas atividades não
participa e o tratam como se não estivesse na sala de aula. As crianças acabam por
67
promover prática de bullying, com apelidos maldosos, evitam ao máximo o convívio
com Leandro.
Notamos que alguns fatores influenciam diretamente no desenvolvimento
deste aluno hiperativo na sala aula. O fato de a professora ignorá-lo várias vezes,
falar alto, colocar sua carteira virada para parede acabou deixando-o mais frustrado,
irritado, fez com que permanecesse as mesmas atitudes para chamar a atenção,
além de atrapalhar o desenvolvimento escolar dele mesmo e dos colegas.
Por meio das entrevistas realizadas com a professora e mãe do aluno, foi
possível analisar a relação existente entre escola e família, e foi claro certo
distanciamento de ambos. A professora citou as dificuldades do aluno, frisou que o
diagnóstico foi solicitado pela escola, que conhecia o que era hiperatividade, que
sempre esteve em contato com a mãe, que havia métodos diferenciados para avaliálo. Entretanto, a convivência não foi tão amena e simples assim, percebemos
durante a observação, o estresse existente na relação aluno e sala de aula. Várias
vezes a professora mostrou-se insatisfeita e descontente com o fato de Leandro ter
dificuldades e não evoluir. Também, colocou a responsabilidade do não aprendizado
a mãe, pois ela não o acompanhava, de acordo com a professora.
Em paralelo, a entrevista da mãe demonstrou grande insatisfação no que
se referia ao aprendizado do filho, culpando a escola pela não evolução acadêmica.
Em nenhum momento citou que o diagnóstico foi solicitado pela escola, usou a
palavra “tumultuada” para representar a relação de Leandro com a escola.
Comparando as duas entrevistas, podemos concluir a falta de diálogo
entre família e escola, pois eles acreditam ser mais fácil culpar um ao outro, do que
sentar e procurar alternativas para ajudar Leandro. A escola, representada pela
professora, em nenhum momento disse que não estava preparada em lidar com o
aluno hiperativo e que precisava de uma formação adequada e despejou toda culpa
na família pelo insucesso escolar. Já a mãe, disse que o maior problema foi não ter
uma professora auxiliar na sala de aula para ajudar seu filho.
A falta de diálogo e de uma relação estreita entre família e escola, fez
com que o aluno não se desenvolvesse, pois não houve a colaboração de um com o
outro, a fim de promover o sucesso educacional, é imprescindível uma flexibilidade
de ambas as partes em entender o motivo, causa e soluções acadêmicas.
Com a conclusão deste trabalho foi possível perceber as dificuldades da
sala de aula com aluno hiperativo, sensibilizar com as práticas educacionais e falta
68
de formação para lidar com esse aluno. Cabe em uma oportunidade futura
aprofundar tal pesquisa, e realizar novas práticas educacionais, para comparar como
será o aprendizado deste aluno.
69
Referências
BARKLEY, R.A. Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade. São Paulo:
ARTMED, 2002.
BARKLEY, R.A. Transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: manual para
diagnóstico e tratamento. 3ª ed. Porto Alegre: ARTMED, 2008.
BENCZIK, E. B. P.; RODHE, L. A. P. Transtorno de déficit de atenção hiperatividade:
o que é? Como ajudar? Porto Alegre: ARTES MÉDICAS SUL, 1999.
BONET, T.; SORIANO, Y.; SOLANO, C. Aprendendo com Crianças Hiperativas. 1ª
ed. São Paulo: CENGAGE LEARNING, 2008
CIASCA, S.M. et al. TDAH: transtorno do déficit de atenção e hiperatividade. 1ª ed.
Rio Janeiro: REVINTER, 2010.
CONNERS, C.K. Transtorno de deficit de atenção/hiperatividade: as mais recentes
estratégias de avaliação e tratamento. 3ª ed. Porto Alegre: ARTMED, 2009.
FONTANA, R. S. et al. Prevalência de TDAH em quatro escolas públicas brasileiras.
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Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0004282X2007000100027&script=sci_arttext>, Acesso em: 17 abril.2010
GOMES, M. et al. Conhecimento sobre o transtorno do déficit de
atenção/hiperatividade no Brasil. J. bras. psiquiatr., 2007, vol.56, no.2, p.94-101.
ISSN 0047-2085. Disponível em:
<http://www.scielo.br/pdf/jbpsiq/v56n2/a04v56n2.pdf>, Acesso em: 10 abril.2010
GOLDSTEIN, S. e GOLDSTEIN, M. Hiperatividade: como desenvolver a capacidade
de atenção da criança. Campinas: PAPIRUS EDITORA, 1998.
MATTOS, P. No Mundo da Lua: Perguntas e respostas sobre o transtorno do déficit
de atenção com hiperatividade em crianças, adolescentes e adultos. 7ª ed. São
Paulo: LEMOS EDITORIAL, 2007
70
PALMA FILHO, J.C.P. Estudo de caso. In: Pedagogia cidadã cadernos de formação
metodologia de pesquisa científica e educacional. São Paulo: UNESP, 2004. p. 123126.
STAINBACK, S.; STAINBACK, W. Inclusão um guia para educadores. Porto Alegre:
ARTMED, 1999.
SOUZA, Luciana Karine de and HUTZ, Claudio Simon. Relacionamentos pessoais e
sociais: amizade em adultos. Psicol. estud. [online]. 2008, vol.13, n.2, pp. 257-265.
ISSN 1413-7372. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/pe/v13n2/a08v13n2.pdf,
Acesso em: 21 maio 2010.
TOPCZEWSKI, A. Hiperatividade – Como lidar? 3ª ed. São Paulo: CASA DO
PSICÓLOGO, 1999.
71
Apêndice A
MODELO DE AUTORIZAÇÃO PARA PESQUISA
À
Escola
Ilustríssima Senhora Diretora
REF.: Autorização para pesquisa
Pela presente venho solicitar autorização para desenvolver
pesquisa intitulada “Hiperatividade: o que acontece na sala de aula?”, cujo conteúdo
é de responsabilidade de Gabriely Cabestré, sob a orientação da Professora
Doutora Eliana Marques Zanata.
Será utilizado um protocolo de observação, que será aplicado na
sala de aula que possui o aluno ________________________ que é hiperativo,
devidamente diagnosticado e acompanhado por especialista e a escola tem
consciência do caso do aluno. Os pais do participante preencheram um questionário,
assim como o professor (a) para traçar o perfil do mesmo, Esta pesquisa tem por
objetivo analisar os aspectos educacionais e de inter-relação pessoal aluno-aluno e
professor-aluno em uma sala de aula inclusiva em que haja um aluno com
hiperatividade devidamente diagnosticado.
Em hipótese alguma serão utilizadas as informações desta
pesquisa com finalidades diversas ao conteúdo do trabalho acadêmico e será
mantida em sigilo a identidade da instituição, bem como os dados de identificação
dos participantes, preservando seu anonimato.
Esta pesquisa fornecerá informações importantes para o trabalho
de conclusão de curso de graduação em Pedagogia e para futuros trabalhos na área
de educação, onde os pesquisadores estão compromissados com o Código de
Ética, assegurando total sigilo quanto aos dados obtidos durante a pesquisa.
Sem mais, certa de contar com seu apoio,
Bauru, SP, ___________ de 2010.
Gabriely Cabestré
Ciente e de acordo:
___________________________________________
72
Apêndice B
MODELO DE TERMO DE CONSENTIMENTO
Eu,
_________________________________________________________________,
portador do RG nº _________________________, residente à Rua (Av.)
_________________________________________________________________, nº
________, na cidade de _______________, estado ______, concordo em participar
da pesquisa de título “HIPERATIVIDADE: O QUE ACONTECE NA SALA DE
AULA?”, a qual constitui pesquisa de Iniciação Científica da aluna Gabriely
Cabestré, regularmente matriculada no Curso de Graduação em Pedagogia da
Faculdade de Ciências da UNESP Bauru, sob orientação da Professora Dra. Eliana
Marques Zanata.
E fui orientado(a) do seguinte:
- A proposta de trabalho não apresenta procedimentos invasores nem exposição a
materiais prejudiciais à saúde, portanto, não apresenta riscos aos participantes.
- A proposta pode apresentar benefícios uma vez que oferece subsídios para a
melhoria da prática educacional na área de inclusão.
- Todos os dados de identificação dos participantes, bem como da Unidade Escolar
serão omitidos preservando o anonimato.
Estou ciente também, de que minha participação é voluntária e dela posso desistir a
qualquer momento, sem explicar os motivos.
Bauru, _____/_____/_____
______________________________________
Assinatura do Participante ou Responsável
73
Apêndice C
MODELO DE PROTOCOLO DE OBSERVAÇÃO
Nome do observado: __________________________________________________
Observador: _________________________________________________________
Data da Observação: ____/____/____
Tempo de Observação: ____h____m
Profª: __________________________ Disciplina: _________________________
Atividade individual ou grupo?: _________________________________________
1. Durante as atividades: presta atenção, é inquieto, conversa muito, distrai com
facilidade, segue as orientações da professora, realiza a atividade até o fim.
Diferenças em atividade individual e em grupo.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
2. Quais comportamentos o aluno constantemente apresenta durante a aula.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
3. Relação aluno x aluno: conversa em horas impróprias, briga com os colegas
de classe, ajuda ou atrapalha.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
74
4. Relação aluno x professor: há cooperação em ambas partes, aluno respeita o
professor, o professora auxilia o aluno de maneira diferenciada.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
5. Quais dificuldades o aluno apresenta durante a aula.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
6. Sala de aula: como está distribuída as carteiras, quais objetos estão
presentes.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
7. Atitudes da professora durante a aula, acerca do aluno hiperativo.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
8. Avaliação global da observação.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
75
Apêndice D
ENTREVISTA – PROFESSORA
1) A escola sabe o que é Hiperatividade e como trata-la no âmbito escolar? Se
sim, onde adquiriu tal conhecimento?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
2) Quando percebeu que o aluno (NOME) tinha hiperatividade? Esse
questionamento partiu da escola ou os pais já haviam informado?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
3) A escola acompanha a evolução do aluno? Há reuniões com os pais para
avaliarem a situação?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
4) São utilizados métodos diferenciados para avaliação do aluno? Se sim,
quais?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
76
5) Quais as maiores dificuldades encontradas pela escola para o processo de
ensino aprendizagem do aluno?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
6) Relate como é o aluno (NOME) na sala de aula e seu convívio com os demais
colegas.
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
7) Considerações importantes
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
77
Apêndice E
QUESTIONÁRIO – ENTREVISTA (PAIS)
Nome da criança: ______________________________ D/N: _____/_____/_____
Nome da mãe: ________________________________ D/N:_____/_____/_____
Nome do pai: _________________________________ D/N:_____/_____/_____
Informações da gravidez e parto
1. Teve problema durante a gravidez?
SIM ____ NÃO____
Se, sim, qual? ______________________________________________________
2. A gravidez foi desejada?
SIM ____ NÃO____
3. Tomou alguma medicação durante a gravidez?
SIM ____ NÃO____
Se, sim, qual? ______________________________________________________
4. Usou bebidas alcoólicas durante a gravidez?
SIM ____ NÃO____
5. Fumou durante a gravidez?
SIM ____ NÃO____
6. O parto foi normal ou cesariana? _____________________________________
7. Teve depressão pós-parto?
SIM ____ NÃO____
Informações do (nome do aluno)
1. O (nome do aluno) sempre foi ativo, esperto?
SIM ____ NÃO____
2. Sempre foi considerado “bagunceiro” ou algo semelhante? SIM ____ NÃO____
3. Sempre foi falante?
SIM ____ NÃO____
78
4. Não consegue ficar parado?
SIM ____ NÃO____
5. Constantemente interrompe as conversas alheias?
SIM ____ NÃO____
Outras observações:
__________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Diagnostico e Medicamentos:
Como foi feito o diagnóstico, quem indicou? O (nome do aluno) toma algum
remédio? Se sim com qual frequência?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Aluno x Escola
Qual a relação entre o (nome do aluno) com a escola? Tem algum tratamento
diferenciado, como tarefas, avaliações, etc? Qual a sua opinião, como deveria ser
tratada a hiperatividade na escola? A senhora acompanha as atividades do seu
filho?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
79
Considerações finais
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
Download

Hiperatividade: o que acontece na sala de aula?