UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO VEZ DO MESTRE
“Conhecendo as Múltiplas Inteligências e a Inteligência Emocional
aplicada às organizações”
por
Carla Regina Pereira Siqueira Campos
Orientadora: Mary Sue
Rio de Janeiro
2004/1
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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO VEZ DO MESTRE
“Conhecendo as Múltiplas Inteligências e a Inteligência Emocional
aplicada às organizações”
Apresentação de Monografia à
Universidade Cândido Mendes
como condição prévia para conclusão
do Curso de Pós-Graduação
“Lato Sensu” em Pedagogia Empresarial
por
Carla Regina Pereira Siqueira Campos
3
AGRADECIMENTOS
A Deus que me permitiu terminar este trabalho com
muita paz e saúde.
Aos meus pais que sempre incentivaram e contribuíram
para o sucesso do meu trabalho; sendo muito importantes para
meu crescimento como ser humano.
Ao meu irmão, Dudu, que sempre me apoiou com seu
sorriso amigo.
A minha querida avó Hilda, que onde estiver com certeza
está me iluminando.
A minha grande amiga Maria José que sempre esteve ao
meu lado em todos os momentos.
Ao meu namorado Ricardo, que de maneira direta e
indireta contribuiu para a realização deste trabalho com muita
paciência e carinho.
A minha orientadora Mary Sue que disponibilizou
grande parte do seu tempo para me ouvir e me ajudar no que
era preciso.
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DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a pessoas queridas
da minha família: Dudu, Maria, Ricardo, e,
em especial, a meus pais, que nunca mediram esforços
para que meus sonhos se realizassem.
Àqueles que, onde estiverem,
estão me protegendo e guiando: meus avós.
Carla R P S Campos
5
“Se não posso, de um lado,
estimular os sonhos possíveis,
não devo, de outro,
negar a quem sonha
o direito de sonhar”
Paulo Freire
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RESUMO
As questões desse estudo surgiram há algum tempo, quando, na graduação,
muito estudei sobre a Teoria das Inteligências Múltiplas, de Howard Gardner, e onde
tive a oportunidade de executar trabalhos práticos tanto nos estágios que realizei
quanto na própria Universidade Federal do Rio de Janeiro; obtendo excelentes
resultados.
Infelizmente não optei por escrever sobre esse tema anteriormente porque,
sem arrependimento, conheci, através de palestras, leitura de livros e debates, uma
pessoa maravilhosa: Paulo Freire. Por ser um ser brilhante e que muito contribuiu
para a Educação Mundial, não poderia deixar de “explorar” sua vida e sua obra.
Entretanto tinha certeza que, um dia, estudaria novamente essa teoria: a das
Inteligências Múltiplas. E mais glorificante ainda foi poder desenvolver meu trabalho
explanando não só essa teoria, como também a importância da Inteligência
Emocional aplicada às organizações empresariais.
E foi fantástico: com a finalidade de auxiliar os membros das empresas,
após conhecer seriamente a Teoria de Gardner, preocupei-me com diversos itens na
elaboração deste material, para que os resultados pudessem ser eficazes.
Ao longo deste, através da perspectiva intercultural crítica, conheceremos o
assunto na íntegra, constataremos os resultados pelos estudos e nos posicionaremos
de acordo com a análise apresentada.
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METODOLOGIA
A metodologia utilizada neste trabalho está baseada na leitura sistemática
de livros e textos complementares, segundo um estudo eminentemente teórico,
baseado na coleta de dados, onde procuro entender quais contribuições são de
extrema importância para o desenvolvimento do ser humano.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
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CAPÍTULO I: REVE HISTÓRICO DA INTELIGÊNCIA
11
CAPÍTULO II: PSICOMETRIA: CONSIDERAÇÕES GERAIS
17
CAPÍTULO III: O ÓRGÃO CHAMADO CÉREBRO
29
CAPÍTULO IV: TEORIAS RECENTES DA INTELIGÊNCIA
32
CAPÍTULO V: A NATUREZA DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
42
CAPÍTULO VI: A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL APLICADA
ÀS EMPRESAS
50
CONCLUSÃO
65
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
69
ÍNDICE
70
9
INTRODUÇÃO
O presente trabalho tem por objetivo estudar as Múltiplas Inteligências e a
Inteligência Emocional aplicada às Organizações Empresariais. Ao longo deste,
busco perceber a importância dessas Múltiplas Inteligências para o ser humano e
suas habilidades dentro das empresas.
Com uma metodologia baseada na leitura sistemática de livros, segundo um
estudo eminentemente teórico, baseado na coleta de dados, procuro entender quais
contribuições são de extrema importância para o desenvolvimento do ser humano.
Segundo Gardner (1994), todos temos instrumentos para chegar ao
conhecimento, mas não com a mesma intensidade. Aprendemos de formas diferentes.
Uns têm mais facilidade de aprender através das imagens, outros através da fala, da
música, do movimento, do isolamento ou da cooperação.
Cabe a nós cultivar nosso verdadeiro papel: valorizando outras formas de
demonstração de competências além dos tradicionais eixos lingüísticos e lógicomatemático. Para que isso aconteça, é necessário que o ser humano pense sobre
aquilo que faz e esteja em situação constante de criação ou resolução de problemas.
As mais recentes pesquisas nas organizações têm revelado novos critérios de
avaliação do ser humano, contrariando paradigmas passados onde se valorizava o
conhecimento científico, grau de especialização, enfim o grau de inteligência, o QI,
em detrimento dos sentimentos e emoções das pessoas.
O ponto incipiente para esta nova abordagem, foi a publicação em 1995 do
livro Inteligência Emocional, do psicólogo Daniel Goleman, pois o mesmo comprova
através de estudos e pesquisas realizadas por longo tempo e com grande número de
pessoas, suas teorias. Assim, também questiono em minha monografia, qual a
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influência da Inteligência Emocional na vida das pessoas e como ela deve ser
aplicada nas empresas.
Espero que consiga neste trabalho, expor, de forma clara, as principais
questões relacionadas às Múltiplas Inteligências e à Inteligência Emocional, que se
forem postas em prática poderão tentar mudar a vida dos seres humanos dentro das
organizações.
Sem dúvida, o presente estudo não esgota as inúmeras questões que
envolvem o tema, mas procura suscitar os principais pontos que emergiram na
discussão atual sobre a importância de lidar com as emoções em todas as épocas e
áreas da nossa vida em sociedade.
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CAPÍTULO I
BREVE HISTÓRICO DA INTELIGÊNCIA
Durante séculos, filósofos e cientistas se preocuparam em definir as áreas do
cérebro, que estão associadas a vários tipos de solução de problemas, e compreender
a relação entre mente e corpo.
Os filósofos gregos ajudaram a fundamentar uma visão de inteligência. A
habilidade na lógica, geometria e argumentação era o objetivo central nas escolas
estabelecidas por Platão. Assim, inicialmente, aqueles mais preocupados com o
estudo da inteligência foram educados num sistema cujo modelo de uma pessoa
inteligente era vinculado somente a alguém que dominava os assuntos e habilidades
primeiramente formalizados pelos gregos. Platão via o conhecimento como "algo
vivo e dinâmico e não um corpo de doutrinas a serem simplesmente resguardadas e
transmitidas" (Platão,1996, p.12)
Buscando estabelecer fundamentos seguros para o conhecimento e para a
ação, Platão desenvolveu teses que tendem a sustentar a realidade no âmbito
intemporal e estático. Só depois, seu pensamento irá reabilitar e reabsorver o
movimento e a transformação, estabelecendo a síntese entre a tradição eleática
(negando a racional idade de qualquer mudança) e a heraclítica (afirmando o fluxo
contínuo de todas as coisas).
Cerca de vinte séculos depois de Sócrates (discípulo de Platão), foi iniciada a
exploração das questões formuladas pelos gregos. Os racionalistas contemporâneos
atribuem suas idéias ao francês René Descartes, do século dezessete. Para ele,
algumas formas de conhecimento eram inatas. A mente (ou a alma) era imortal e um
Dom de Deus. Logo, separada e independente do corpo. No entanto, Descartes
12
entendia que "a luz, os sons, os cheiros, os gostos, o calor e todas as outras
qualidades pertencentes a objetos externos conseguiam imprimir nela [ na mente]
várias idéias, pela intervenção dos sentidos." (Descartes, 1637/1969, apud,
Gardner,1994,p.137) Ele queria provar as verdades filosóficas mais ou menos como
se prova um princípio da matemática, através da razão, como no trabalho com
números. "A razão é a única coisa capaz de nos levar a um conhecimento seguro,
pois nada nos garante que nossos sentidos são confiáveis. " (Gardner, 1995, p.255256) Ele não achava certo duvidar de tudo, mas em princípio, achava que podíamos
duvidar de tudo.
As idéias de Descartes foram contestadas desde sua época. John Locke
contestou a afirmação de um conhecimento inato. Para ele, a mente humana é
originalmente vazia, uma folha em branco. A associação de idéias, a capacidade de
elaborar pensamentos complexos e raciocínio abstrato, surge do combinar e
relacionar idéias obtidas através da reflexão e da sensação.
Os empiristas argumentavam que os pensamentos surgem da experiência e da
informação sensorial. Contrapondo- se a essas idéias, os racionalistas afirmavam que
a mente possuía determinados tipos de conhecimento inato, independentes da
experiência e das informações sensoriais. Só quem conseguiu conciliar essas visões
opostas foi o filósofo alemão lmmanuel kant. Ele cultivava alguns aspectos
racionalistas, afirmando que a mente tem certas propriedades inatas que são
independentes das experiências detectadas por nossos sentidos, ao mesmo tempo que
está organizada nos modos de espaço e tempo, com percepções organizadas em
categorias como causalidade, quantidade e qualidade. Ou seja, em parte também
depende da experiência sensorial. Segundo Kant, tanto os sentidos quanto a razão
eram muito importantes para a experiência de mundo. Ele achava que os racionalistas
atribuíam uma importância exagerada à razão, enquanto os empíricos eram parciais
demais ao defender a experiência centrada nos sentidos. Kant afirma que a
consciência humana não registra passivamente as impressões sensoriais. Ela também
é criativa, uma instância formadora. A própria consciência coloca sua marca no
modo como percebemos o mundo. Existem dois elementos que contribuem para o
13
nosso conhecimento do mundo: a experiência dos sentidos e a razão. O material para
o nosso conhecimento nos é dado através dos sentidos, mas este material se adapta às
características de nossa razão. Uma dessas características, por exemplo, é a de
perguntar pelas causas dos acontecimentos. Mas neste ponto, Kant acha que a razão
do homem nem sempre pode emitir um julgamento seguro. Era impossível a
experimentação sobre a mente, já que ela era um alvo em movimento, mudando até
mesmo no próprio momento de estudo.
Pesquisas desenvolvidas após a morte de Kant, sobre o sistema nervoso,
contestaram a existência de uma base matemática como apoio de uma ciência da
atividade mental. Entretanto Helmholtz e demais cientistas demonstraram que os
impulsos nervosos eram bastante lentos, viajando num ritmo de aproximadamente
1OOm/s.
“Toda atividade mental seja qual for reflexão ou decisão,
emoção ou sentimento, consciência de si é determinada pelo
conjunto dos influxos nervoso que circulam nos conjuntos
definidos de células nervosas, reagindo ou não a sinais
exteriores.” (CHANGEUX,1985,p.59)
Para esse neurobiólogo, a inteligência não é nada mais do que isso. Ele critica
a quantificação global da inteligência partindo do enfoque da utilização dessa medida
como uma característica cuja hereditariedade se pretende acompanhar.
"Se existe um termo que deveria ser riscado do vocabulário cientifico, é sem
dúvida a palavra inteligência." (CHANGEUX,1985,p.59)
Apesar do sucesso de experimentalistas na construção de uma base científica
para o estudo da mente, as investigações não foram completamente satisfatórias.
Charles Darwin, biólogo e pesquisador natural, foi o cientista que mais do
que qualquer outro em tempos mais modernos, questionou e colocou em dúvida a
visão bíblica sobre o lugar do homem na criação. Sua imensa contribuição, através de
14
sua teoria da evolução, causou grande impacto sobre o estudo da inteligência. Em sua
teoria, apresenta três aspectos da vida biológica, explicando a mudança evolutiva: a
VARIAÇÃO dentro das espécies, a SELEÇÃO NATURAL a partir dessas variações
e a HERANÇA de variações que permitem a adaptação aos meios ambientes. Além
disso, argumentou que:
“como os animais domesticados podem ser criados para
certos tipos de disposição, as forças evolutivas operavam
não apenas no corpo humano, mas também sobre as
capacidades mentais humanas: a aptidão mental, quase
tanto quanto a estrutura corporal... parece ser herdada”
(DARWIN, 1871, GARDNER,1994,p.256)
Ou seja, afirmou que a inteligência também era herdada. A teoria de Darwin
auxiliou no estudo das diferenças individuais da inteligência.
Francís Galton, inspirado por seu meio-primo Darwin, apoiou a afirmação de
que a inteligência é herdada apesar de tentar excluir as influências ambientais. Seu
trabalho revolucionou na aplicação da matemática ao estudo da inteligência. Seu
estudo encarava a inteligência como uma capacidade natural sem relacioná-la a
diferentes condições como educação ou classe, afirmando que a inteligência seguia a
lei do desvio em relação a uma média. Mas frustrou-se ao constatar que as
características tendem a flutuar em torno da média, regredindo com o passar das
gerações. O psicólogo francês Alfred Binet opondo- se aos testes das habilidades
sensoriais de Galton, iniciou sua investigação sob outro enfoque, explorando a
compreensão, o julgamento, o raciocínio e a invenção.
Com o crescimento da educação em massa na França e as diferentes
disposições das crianças em relação à aprendizagem, o Ministério de Instrução
Pública da França requisitou Binet para a criação de um teste que pudesse identificar
as crianças que “verdadeiramente eram incapazes de bene.ficiar-se da instrução
oferecida nas escolas comuns.” (BINET & SIMON,1916,p.9). Binet e Simon
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acreditavam que diferentes testes exigiam diferentes capacidades, que podiam ser
desenvolvidas diferencialmente em crianças também diferentes. Eles avaliavam se
uma criança estava trabalhando, no nível, acima ou abaixo das outras. Registrava- se
a idade mental e a diferença entre ela e a cronológica.
A edição mais célebre de Stanford Binet se iniciou em 1937 com a
colaboração do professor Maud Merril, em duas formas equivalentes. A última
revisão, efetuada em 1960, conserva todo o essencial da antiga revisão de 1937.
Stern desenvolveu, como meio para elucidar o funcionamento mental de
crianças de diferentes idades, uma fórmula, que dividindo a idade mental (IM) de
uma criança por sua idade cronológica (IC) e depois multiplicando o resultado por
100 (somente para reduzir o ponto decimal), calculava- se o que posteriormente foi
chamado de quociente de inteligência, o famoso teste de QI.
Binet estudou as diferenças individuais, porque interessava-se pelo
desenvolvimento do pensamento das crianças e acreditava que através da
mensuração da capacidade, as decisões educacionais poderiam ser melhor encaradas.
Anos após os estudos de Binet, um psicólogo americano John Watson junto
com Skinner e outros comportamentalistas treinaram organismos para respostas
específicas. Nesta teoria do estímulo-resposta (E-R), os comportamentos não
resultavam de pensamentos, planos, vontades ou algo parecido mas sim de eventos
provenientes do meio ambiente. Até mesmo a linguagem é um estímulo biossocial.
Eles afirmavam que o meio ambiente era o cerne das capacidades humanas. Opondose a Locke, viam a mente como uma caixa preta e não como uma caixa vazia.
Apesar das críticas experimentalistas, o trabalho de Mendel acerca da
hereditariedade explicou popularmente uma série de características, dentre elas a
inteligência humana. A herança genética de um organismo (genótipo) pode se
expressar de várias maneiras (fenótipo). A expressão fenotípica de uma característica
16
não precisa representar genes isolados. Ela representa alguma combinação de genes e
fatores ambientais.
Muitos outros pesquisadores descobriram que as capacidades mentais
(medidas pelos testes de QI) poderiam ser melhoradas, necessitando-se apenas de um
meio ambiente estimulante.
17
CAPÍTULO II
PSICOMETRIA: CONSIDERAÇÕES GERAIS
A psicometria é uma ciência que estuda os princípios e métodos da medida
psicológica, ou seja, uma ciência auxiliar da psicologia.
A partir dos estudos já vistos sobre a inteligência, cuja preocupação central
era a investigação das diferenças individuais, surgiram os chamados Psicometristas,
que exploraram variações na inteligência entre os indivíduos, criando testes
psicológicos e executando análises estatísticas de resultados de testes. Tais testes têm
sido vistos, por alguns, como instrumento que permite o reconhecimento e avanço de
indivíduos capazes de agir socialmente embasados numa medida objetiva.
Entretanto, alguns críticos afirmam que os testes de inteligência não medem a
experiência, o conhecimento e outros aspectos que permitem o bom funcionamento
das pessoas e as resoluções dos problemas em suas vidas cotidianas.
Charles Spearman, bastante influenciado por Binet e, mais ainda por Galton,
decidiu executar estudos próprios. Com base em pesquisas em escolas, descobriu
relações entre as diferentes tarefas sensoriais e matérias acadêmicas, que podiam ser
explicadas por uma teoria de dois fatores. O primeiro fator era a Inteligência Geral
ou g, um fator usado em todas as tarefas específicas ou s, descrevendo como
qualquer capacidade única para executar uma tarefa. Esses fatores não se relacionam
nas diferentes tarefas. Ou seja, é a capacidade de deduzir e aplicar relações lógicas
entre elementos. Spearman argumentou que uma única entidade (g) podia explicar
vários tipos de desempenho intelectual mas alguns não concordaram com tal
afirmação, como é o caso de Sir Godfrey Thomson, analista fatorial e psicólogo. Para
ele, a maioria dos testes media uma mistura de diferentes processos e não um tipo de
fator puro.
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Os psicometristas debatiam a teoria de dois fatores de Spearman como
também discutiam entre si. Tanto os críticos de g como os proponentes concordavam
que as análises fatoriais precisavam incorporar fatores grupais. Tais fatores são
associados a determinados grupos de testes.
Debates envolvendo os fatores de grupo originavam-se das maneiras
defensáveis e razoáveis de procedimentos na análise fatorial, embora não exista
nenhuma solução matematicamente correta. A maioria dos analistas não baseia suas
análises nos componentes originais mas sim, rotam os fatores. Neste curso, alguns
tomam-se mais relacionados às variâncias de alguns testes do que outros. Além
disso, nem todos os analistas fatoriais baseiam- se nas mesmas técnicas de rotação.
Todas essas controvérsias contribuiram para a criação de alguns modelos de
inteligência. Dentre os mais importantes, está Louis L. Thurstone, que tentou
identificar capacidades mentais separadas e únicas, chamando-as de capacidades
mentais primárias. Utilizando métodos de análise fatorial na matriz de correlação
resultante, ele afirmou que SETE capacidades primárias independentes explicavam
melhor do que um único fator geral, o funcionamento intelectual. As capacidades
mentais identificadas por ele foram:
-
Compreensão verbal - capacidade de compreender informações verbais;
-
Fluência verbal - capacidade de produzir rapidamente material verbal;
-
Número - capacidade de fazer cálculos aritméticos rapidamente e resolver
problemas aritméticos de palavras;
-
Memória - capacidade de lembrar tipos diferentes de informações;
-
Velocidade perceptual - velocidade no reconhecimento de símbolos e
objetos;
19
-
Raciocínio indutivo - compreensão de idéias a partir de exemplos
específicos;
-
Visualização espacial - capacidade de rotar objetos, resolver problemas e
visualizar formas.
Essas capacidades primárias não incluíam g, mas posteriores análises de
pesquisadores garantiram que g poderia ser extraído das capacidades primárias.
Muitos analistas fatoriais britânicos, como E. P. Vemon seguem a tradição
britânica de Spearrnan, tendo um modelo onde g é proeminente. Já nos Estados
Unidos, pesquisadores como Thurstone, Guilford e Hom e Cattell adotaram modelos
em que fatores mais estreitos explicam o desempenho nos testes, diminuindo a
importância de g.
II.1 Testes psicológicos e seus usos
Seres humanos diferem entre si com respeito às suas características
psicológicas. Os testes são os instrumentos usados pelos profissionais da psicologia
para a investigação e avaliação dessas diferenças individuais. Eles visam não apenas
conhecer aspectos da personalidade, como também predizer o comportamento
humano, base que foi revelado na situação do teste.
Os testes psicológicos são aplicados em diversos campos da Psicologia, com
finalidades teóricas e práticas, como por exemplo para:
- Diagnóstico clínico: investiga e identifica distúrbios emocionais, neuroses e
psIcoses;
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- Orientação educacional: investiga as características e capacidades dos
escolares com o objetivo de facilitar seu ajustamento e aproveitar do melhor modo
suas potencialidades;
- Orientação profissional: fornece dados a respeito das possibilidades e
tendências vocacionais do indivíduo, para que ele possa escolher uma profissão de
acordo com suas características;
- Seleção de pessoal: escolha de candidatos que se adequem a função
específica; pesquisas: os testes são os instrumentos de pesquisa mais utilizados pelos
psicólogos.
Os testes também podem ser usados nas pesquisas médicas, antropológicas e
sociológicas.
II.2 Classificação dos testes psicológicos
Há diversos tipos de testes que são, em grande maioria, descritos em termos
do relativo contraste ou dicotomia existente entre eles. Entre os mais usados estão:
- Testes de lápis e papel em oposição a testes de execução: as respostas
podem ser registradas pelo examinando ao invés de uma mera realização de tarefa;
- Testes em oposição a inventários: o julgamento é feito pelo examinando. Os
inventários eram julgados com base em respostas certas e erradas, como na maioria
dos testes, como as provas de personalidade e de interesse;
- Teste objetivo em oposição a teste projetivo: é o famoso questionário, onde
há sempre um estímulo determinado ao invés do vago estímulo do teste projetivo
onde a interpretação está baseada nas respostas dadas ao estímulo apresentado pelo
teste;
-
Testes
individuais
em
oposição
a
testes
coletivos:
aplicados
individualmente, conforme o nome já diz, e aqueles aplicados em grupos. Nesses
casos, especificamente, há vantagens e desvantagens.
21
Vantagens dos testes individuais:
a) ser aplicados a indivíduos especiais ou crianças menores de 4 anos;
b) permitem melhor observação da conduta do examinando.
Vantagens dos testes coletivos:
a) economia de tempo;
b) não exige grande prática do aplicador;
c) não sofrem a influência do estado de espírito do examinador;
d) maior facilidade de apuração.
II.3 Testes de nível mental
Alguns testes de inteligência foram desenvolvidos a partir dos estudos
realizados pelos psicometristas. Dentre os mais famosos, estão:
1) Escalas de Binet, que revisadas foram nomeadas de teste Stanford- Binet
ou Binet-Terman: o princípio geral usado para a padronização é fazer coincidir, no
nível considerado intelectualmente médio, a idade cronológica (I. C.) com a idade
mental (I. M.), resultando um Q. I igual a 100.
Idade Mental = (I.M.) = Q.I
(I.C.)
Tabela de Terman para classificação dos QIs
Superior a 140 - Inteligência genial
De 120 a 140 - Inteligência muito superior
De 110 a 120 - Inteligência superior
De 90 a 110 -Inteligência normal ou média
De 80 a 90 - Inteligência rude- raramente classificada como debilidade mental
De 70 a 80 - Inteligência deficiente -no limite de normalidade - classificada às
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vezes como rudeza e mais a miúdo como debilidade mental
Inferior a 70 - Debilidade mental
Considerando que o nível intelectual não se desenvolve continuamente na
idade adulta, o critério de comparação não é válido para este grupo.
As críticas feitas a este tipo de teste demonstram a inadequação para avaliar
os adultos, sendo mais satisfatório para crianças de 5 a 10 anos e a padronização é
julgada deficiente, já que a grande maioria das crianças testadas durante a amostra
eram da Califónia. Sendo, assim, pouco representativa.
2) Escalas Wechsler- Bellevue: são testes individualmente administrados que
estão entre os mais aplicados. As escalas foram introduzidas por David Wechsler em
1939. Elas refletem as experiências de Wechsler com os testes Army Alpha e Army
Beta, cuja porção verbal utiliza a linguagem e o conhecimento obtido através da
experiência (Alpha) e a porção restante utiliza representações pictóricas e atividades
tipo solução de problemas, que dependem menos da linguagem (Beta). Wechsler
acreditava que a inteligência envolvia persistência, motivação e valores morais e
estéticos, entre outros aspectos. Logo, seus testes não refletiam a "inteligência":
“...as capacidades requeridas para realizar essas tarefas
não constituem, em si, a inteligência, e também não
representam as únicas maneiras pelas quais ela pode se
expressar. Elas são usadas e servem como testes de
inteligência porque demonstraram correlacionar- se com
outros critérios amplamente aceitos de comportamento
inteligente.” (WECHSLER,1971, GARDNER,1994, p. 93)
23
Wechsler tentou planejar um teste de inteligência que permitisse aos
indivíduos demonstrar uma amplitude maior de forças e fraquezas do que os testes do
exército e outros testes anteriores de inteligência permitiam.
Além dos componentes "g" e "s" de Spearman, havia uma série de fatores
extra-intelectuais chamados por ele de X e z. Até então, esses fatores eram isolados,
mas o autor insistia em incluí-los nas escalas, uma vez que faziam parte de uma
determinada atividade mental. No caso dos adultos, um teste de nível mental é tanto
menos válido quanto menos mede os fatores X e z. Tratando-se da mensuração da
inteligência do adulto, torna-se menos possível a apuração do grau integral de
inteligência, através de um teste de nível mental que não focalize os múltiplos
aspectos e a complexidade de que se compõe. O critério adotado foi estatístico,
chamado de poínt escale, calculando e classificando o Q.I. do indivíduo por meio do
sistema de Erro Provável. O Q.I. pode ser transformado em percentil sendo a última
classificação mais usada para determinar o nível mental. A concepção da inteligência
como uma atividade múltipla, levou David Wechsler a escolher uma série de itens de
natureza diversa, que avaliassem todos os possíveis aspectos da inteligência. Tais
itens foram pré-elaborados e, depois das primeiras apurações, foram conservados
apenas aqueles que discriminavam, de um modo definitivo, as pessoas de mais alto
nível mental das que possuíssem um nível menos alto. Inúmeros itens foram retirados
após várias experiências, por não serem considerados suficientemente válidos e
fidedignos. O teste Wechsler-Bellevue é composto de 11 subtestes, distribuídos
assim: verbais (informação; compreensão; aritmética; números; semelhanças;
vocabulário) e execução (complementação de figuras; arrumação de figuras; reunião
de objetos; mosaicos; símbolos numéricos).
Geralmente, os portadores de lesão cerebral, esquizofrênicos1 e neuróticos2
tendem a obter mais alto escore nos testes verbais do que nos de execução. As
personalidades psicopáticas3 e deficientes mentais geralmente obtêm escores mais
altos nos testes de execução. O neurótico, usualmente, fracassa nos testes que exigem
esforço imediato. Já personalidades psicopáticas fracassam na arrumação de figuras.
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Em 1955 esses testes foram revisados. A nova edição é conhecida como
Wechsler Adult Inteligence Scale ou WAIS e não introduz nenhum princípio novo
em sua orientação. As modificações foram efetuadas em algumas partes do seu
conteúdo, na extensão da amostragem, e no aperfeiçoamento das instruções,
aplicação e apuração.
2) Matrizes Progressivas de Raven: teste produzido por John Raven, aluno de
Charles Spearman. Esse tipo de teste requer que o examinando analise, compare e
resolva analogias baseadas em figuras abstratas organizadas num padrão de matriz.
Pode ser administrado a um grupo ou individualmente e não é prescrito nenhum
limite de tempo. Os escores brutos de um indivíduo no teste, baseado no número de
problemas de matriz corretamente resolvidos, são comparados com os escores de
outros da mesma idade num grupo de norma. Uma vez que o teste consiste
unicamente em figuras não-representacionais, ele é considerado como menos
dependente da educação formal e da experiência cultural. Já que não envolve a
linguagem, eventualmente, é preferido para ser utilizado com crianças, pessoas
idosas e pessoas com dificuldade de linguagem. As vantagens desse tipo de teste
referem-se à facilidade de aplicação, economia de tempo e material e ampla margem
de aplicação: crianças, adultos, estrangeiros, iletrados, etc.
1 Esquizofrenia: estado patológico caracterizado por uma ruptura do contato com o mundo
ambiente; afastamento da realidade e pensamento autístico.
2 Neurose: transtorno mental que não afeta as funções essenciais da personalidade, das quais
o sujeito está dolorosamente consciente.
3 Psicose: doença mental grave caracterizada pela perda de contato com a realidade e
alteração fundamental do vínculo inter-humano, causa da inadaptação social do sujeito. Ao contrário
do neurótico, consciente de suas dificuldades pessoais, o psicótico ignora seus transtornos, isolando-se
do mundo exterior. Cria para si um universo provado que modela à sua vontade e no qual é
onipotente.
25
Entretanto, alguns críticos apontam para a avaliação apenas de um aspecto de
capacidade intelectual e, apesar da variedade dos desenhos, o teste é monótono por
englobar, invariavelmente, o mesmo processo intelectual.
II.4 Uso dos testes
Os testes podem ser usados com muitas finalidades:
A) Para PROGNOSTICAR: um teste preciso, e válido, pode ser um
instrumento para predizer o êxito ou fracasso na futura profissão. Na orientação
profissional, os testes são, em geral, instrumentos de prognóstico.
B) Para DIAGNOSTICAR: podem indicar as possíveis falhas numa
determinada área. Baseado nos resultados, o educador, por exemplo, pode organizar
grupos homogêneos de alunos ou organizar grupos seguindo determinadas normas
específicas.
C) Para MOTIVAR: quando bem organizados, os testes motivam a
aprendizagem concreta. Quando um aluno sabe que vai ser interrogado de maneira
concreta, ele mesmo vai se motivar e procurar meios de melhorar nos seus estudos.
D) Para melhorar o CURRÍCULO ESCOLAR: os testes podem melhorar os
programas escolares fornecendo uma visão mais científica dos avanços obtidos na
educação.
Nem todos os testes são igualmente úteis para todos os propósitos. Um teste
precisa satisfazer os padrões contemporâneos de fidedignidade e validade, ser
examinado com relação a várias formas de tendenciosidade e usar as normas
atualizadas. Podem ocorrer problemas com os testes, mas esses podem derivar-se de
26
razões externas, ou seja, da interpretação e uso dos resultados. O objetivo dos
Psicometristas não se resume à mensuração das diferenças entre indivíduos mas
também à análise dos resultados dos testes para futuros estudos entre os grupos.
II.5 Controvérsias envolvendo o uso dos testes
Desde a Segunda Guerra Mundial até o final dos anos 60, as discussões sobre
as diferenças grupais basearam-se nas explicações ambientais, ignorando as bases
biológicas da inteligência.
Muitos críticos afirmaram que o Q.I. aumentou nos últimos anos e que suas
diferenças entre grupos étnicos e raciais diminuíram. Esses fatos questionam as
afirmações sobre a imutabilidade da mensuração da inteligência. Existem
especulações que influenciam a inteligência e, ainda, outros fatores, como
relacionados à pobreza e ao crime, a considerando como uma significativa
contribuição.
Porém,
observamos
que os testes de inteligência, quando
independentes, não podem dar respostas ao indivíduo, por mais confiáveis e válidos
que sejam.
Os Psicometristas argumentam que mesmo sem análise fatorial, os testes
correlacionam-se de modo prático. Além disso, os escores de Q.I., representando g,
correlacionam-se com outras medidas relacionadas à inteligência, tais como escores
em testes de realização, anos de escola e status ocupacional.
Embora alguns pesquisadores afirmem que g não é apenas um dado
estatístico, ainda não está claro se g reflete velocidade, eficiência ou alguma outra
propriedade ou inclusive combinações de propriedades.
27
Algumas atitudes, ou ainda, posições, são tomadas diante dos testes. Como
por exemplo:
-
Os testes são infalíveis nos seus diagnósticos e nos seus prognósticos.
Essa atitude, mais do que errada, poderia ser classificada de ingênua.
-
Os testes não valem nada.
É uma posição extremista, porque supõe um desconhecimento do que, na
realidade, é uma prova psicológica. Durante a análise e construção das provas
psicológicas, nunca devemos esperar tudo, muito menos valorizar exageradamente os
testes. Isto, porém, não quer dizer que não valem para nada.
-
Os testes são instrumentos de medida. Como todo instrumento
psicológico, são imperfeitos. O valor do instrumento está em que vale e
para o que vale.
Os testes que visam somente um diagnóstico talvez sejam pouco
interessantes, ou ainda, sem utilidade. Entretanto, se visam à solução de um
problema pessoal, como instrumento para elaboração de melhores programas
escolares ou então obter um melhor ajustamento do cliente ao seu trabalho
profissional, escolar ou social, os testes demonstram eficácia.
Não basta que o teste seja apenas um instrumento psicológico, mas também
um instrumento preciso e válido.
O uso e a interpretação da testagem da inteligência para propósitos
educacionais ou outros propósitos de políticas sociais estão longe de ser simples
(Gardner, 1994, p.105).
28
Apesar dos avanços nos métodos estatísticos e no desenvolvimento dos testes,
as controvérsias permanecem, porque, apesar de os testes produzirem escores, e esses
escores poderem ser fidedignos e válidos, a interpretação dos testes e seus usos
integram um ambiente social e político em constante mudança. Assim, mesmo que 9
meça algo real, como muitos cientistas atualmente acreditam, ele não oferece uma
orientação segura para a realização das capacidades dos indivíduos na sociedade a
qual pertencem, interagem e modificam a todo instante.
29
CAPÍTULO III
O ÓRGÃO CHAMADO CÉREBRO
O cérebro humano, juntamente com suas extensões através do sistema
nervoso, é o lugar de toda a experiência e vida mental.
Somente nos dois últimos séculos é que os estudiosos dirigiram seu interesse
pela mente humana ao órgão chamado cérebro. O início do século dezenove ficou
marcado com o surgimento da frenologia, uma linha de estudos desenvolvida por
anatomistas, como por exemplo Franz Joseph Ga1l e Johann Kaspar Spurzheim. Eles
acreditavam que as pistas importantes para o intelecto humano vinham do tamanho e
forma do crânio humano (que refletiam o cérebro que nele estava alojado).
A forma da frenologia foi desacreditada pois seus meios de avaliar os
atributos humanos não eram mais desenvolvidos do que seus meios primitivos de
medir partes relevantes do crânio. Posteriormente, descobriu-se que um notável
escritor chamado Anatole France tinha um dos menores cérebros já registrados, e que
muitos indivíduos "idiotas" tinham cérebros grandes. Sendo assim, foi difícil aceitar
as formas mais ingênuas da frenologia.
III.1 A organização do cérebro
Desde a época de Gall e Spurzheim, nosso conhecimento sobre o cérebro
humano aumentou muito. Demonstrando de um modo mais simples, o cérebro
humano pode ser dividido em duas grandes seções ou hemisférios cerebrais,
popularmente conhecidos como "cérebro esquerdo" e "cérebro direito". Nesses
30
hemisférios podem ser identificadas 40 ou 50 regiões facilmente delineáveis (e
centenas de áreas menores, mas ainda reconhecíveis).
Até a década de sessenta, as funções desta parte do cérebro eram
estabelecidas por métodos bastante grosseiros. Podíamos identificar as funções dos
hemisférios esquerdo e direito apresentando sinais simultaneamente para ambas as
metades do cérebro, e então comparando a velocidade de exatidão das respostas do
indivíduo a esses sinais concorrentes. Tais estudos revelaram, por exemplo, que, nos
indivíduos destros, o hemisfério esquerdo é "dominante" para sinais lingüísticos, e
que o hemisfério direito tem "dominância" comparável para sons musicais e outros
não-verbais auditivos. Ou seja, na maioria dos indivíduos, a maior parte do
processamento lingüístico ocorre nas regiões centrais do córtex esquerdo. Já o
processamento da música e dos ruídos ocorre em regiões comparáveis do hemisfério
direito. Os indivíduos canhotos apresentam um quadro mais complexo: a maioria
deles tem as mesmas representações corticais dos destros. Mas cerca de um terço dos
canhotos apresenta o quadro oposto: eles processam os sons lingüísticos
principalmente em seu hemisfério direito (dominante), e os sons não-lingüísticos
principalmente em seu hemisfério esquerdo (não- dominante).
Graças ao trabalho pioneiro de David Hubel, Torsten Wiesel e outros
(Hubel,1979; Hubel & Wiesel,1972, Gardner, 1994,pág.154), foi desenvolvida uma
tecnologia que permite uma determinação bem mais específica das funções cerebrais.
A determinação da especificidade surpreendente do sistema nervoso
constituiu um avanço importante. Crenças anteriores de que qualquer parte do
sistema nervoso era capaz de executar qualquer função, ou que todas as partes do
sistema nervoso era capaz de executar qualquer função, ou que todas as partes do
sistema nervoso funcionam igualmente ou de modo equivalente foram seriamente
contestadas.
Segundo Gardner, o sistema nervoso não funciona como um conjunto de
milhares de centros isolados que "se desligam" quando queremos. Pelo contrário, o
31
sistema nervoso funciona como uma orquestra, de modo que as respostas raramente
interferem umas com as outras. O comportamento humano é organizado, intencional
e integrado. John Eccles, Prêmio Nobel, diz: "O nosso cérebro é uma democracia de
dez bilhões de células nervosas, e no entanto nos proporciona uma experiência
unificada". (ECCLES,1965, GARDNER, 1994, p. 155)
Alguns neuropsicólogos, como Marcel Kinsbourne (1993), afirmam que a
inteligência não é uma função dos lobos parietais, frontais ou de qualquer outra
região específica. Em vez disso, a pessoa é inteligente na extensão em que tem, no
todo, uma máquina em bom funcionamento. Segundo essa visão, o intelecto está
conectado com uma espécie de fluência ou flexibilidade do tamanho de um sistema,
e não com o funcionamento superior ou inferior de alguma engrenagem ou peça
específica na "máquina neural". O desempenho pode ser prejudicado pelo mau
funcionamento de uma parte que é importante para o transporte da informação;
podemos incapacitar qualquer máquina simplesmente desconectando-a da tomada.
Mas dizer que a função mecânica crítica na verdade está no plugue é cometer um
erro de raciocínio. Um funcionamento adequado reflete a operação fluente e
confiável de muitas partes.
O estudo da inteligência precisa ser suficientemente amplo para abranger os
pontos de vista abordados, embora aparentemente diferentes, mas talvez finalmente
conciliáveis. Como muitos estudiosos concordam, a questão não é “biologia versus
cultura” ou “hereditariedade versus meio ambiente”, e sim como pensar melhor sobre
a interação dos dados de cada par.
32
CAPÍTULO IV
TEORIAS RECENTES DA INTELIGÊNCIA
As recentes reconceitualizações da inteligência tentam explicar alguns dos
achados psicométricos e do processamento da informação. Apesar dos valiosos
objetivos, nenhuma das recentes reconceitualizações possui dados experimentais ou
outros dados confirmatórios como possuem as abordagens que elas estão
questionando. As teorias são idéias novas e provocativas. E aqui está uma delas... a
Teoria das Inteligências Múltiplas.
IV.l A Teoria das Inteligências Múltiplas
Não podemos iniciar este estudo sem antes falar quem é Howard Gardner.
Trata-se de um professor norte- americano, psicólogo especialista em educação e
neurologia, pela Universidade de Harward. Publicou vários livros sobre seus estudos
a respeito das inteligências múltiplas. Gardner é um crítico implacável dos testes de
QI e de aptidão escolar.
A proposição de sua teoria em 1983 foi um desafio direto à visão clássica da
inteligência como uma capacidade inata, geral e única, que permite aos indivíduos
uma performance, maior ou menor, em qualquer área de atuação. Sua insatisfação
com a idéia de QI e com visões unitárias de inteligência focalizam sobretudo as
habilidades importantes para o sucesso escolar, o que levou Gardner a redefinir
inteligência à luz das origens biológicas da habilidade para resolver problemas.
Através da avaliação de atuações de diferentes profissionais em diversas culturas, e
do repertório de habilidades dos seres humanos na busca de soluções, culturalmente
apropriadas, para os seus problemas, Gardner trabalhou no sentido inverso ao
33
desenvolvimento, retroagindo para eventualmente chegar às inteligências que deram
origem a tais realizações.
Ele observa que a visão unitária foi contestada bem antes de ele propor sua
teoria. Por exemplo, L. L. Thurstone (1938) e outros psicometristas afirmaram que o
intelecto humano inclui várias capacidades mentais. No entanto, as evidências
utilizadas por Gardner para comprovar suas idéias são muito diversas das usadas
pelos psicometristas. Em essência, a teoria não está tão preocupada em apresentar
padrões de escores em testes psicométricos quanto em explicar a variedade de papéis
adultos existentes nas diferentes culturas.
Gardner define inteligência como a: "capacidade de resolver problemas ou
criar produtos que são importantes num determinado ambiente cultural ou
comunidade" (GARDNER, 1993,p. 15).
Em sua apresentação original da teoria, Gardner propôs sete dessas
inteligências, mas observou que pode haver um número maior ou menor. O ponto
essencial é que não existe apenas uma capacidade mental subjacente. Ao invés,
várias inteligências, funcionando em uma combinação, necessárias para explicar
como os seres humanos assumem papéis diversos.
Em suas pesquisas antecedentes à teoria, ele estudou: (a) desenvolvimento de
diferentes habilidades em crianças normais e crianças superdotadas; (b) adultos com
lesões cerebrais e como estes não perdem a intensidade de sua produção intelectual,
mas sim uma ou algumas habilidades, sem que outras sejam sequer atingidas; (c)
populações ditas excepcionais, tais como idiot-savants e autistas, e como os
primeiros podem dispor de apenas uma competência, sendo bastante incapazes nas
demais funções cerebrais, enquanto as crianças autistas apresentam ausências nas
suas habilidades intelectuais; (d) como se deu o desenvolvimento cognitivo através
dos milênios.
34
Embora influenciado por Piaget, distingui-se de seu colega de Genebra na
medida em que Piaget acreditava que todos os aspectos da simbolização partem de
uma mesma função semiótica, enquanto ele acredita que processos psicológicos
independentes são empregados quando o indivíduo lida com símbolos lingüísticos,
numéricos, gestuais ou outros. Para Gardner, uma criança pode ter um desempenho
precoce em uma área e estar na média ou mesmo abaixo da média em outra. Ele
descreve o desenvolvimento cognitivo como uma capacidade cada vez maior de
entender e expressar significado em vários sistemas simbólicos utilizados num
contexto cultural, e sugere que não há uma ligação necessária desenvolvimento"
retroagindo para eventualmente chegar às inteligências que deram origem a tais
realizações.
Gardner sugere, ainda, que as habilidades humanas não são organizadas de
forma horizontal. Ele propõe que se pense nessas habilidades como organizadas
verticalmente, e que ao invés de haver uma faculdade mental geral, como a memória,
talvez existam formas independentes de percepção, memória e aprendizado, em cada
área ou domínio, com possíveis semelhanças entre as áreas, mas não necessariamente
relação direta.
Ao analisar e sintetizar suas fontes de evidência, Gardner defende sete
inteligências, organizadas assim:
1. Inteligência lingüística: os componentes centrais desta inteligência são a
sensibilidade para os sons, ritmos e significados das palavras, além de uma especial
percepção das diferentes funções da linguagem. É a habilidade para usar a linguagem
para convencer, agradar, estimular ou transmitir idéias. Gardner indica que é a
habilidade exibida na sua maior intensidade pelos poetas. Em crianças, esta
habilidade expressa-se através da capacidade em contar histórias originais ou para
relatar, com precisão, experiências vividas.
35
2. Inteligência musical: esta inteligência se manifesta através de uma
habilidade para apreciar, compor ou reproduzir uma peça musical. Inclui
discriminação de sons, habilidade para produzir e/ ou reproduzir música. A criança
pequena com habilidade musical especial percebe desde cedo diferentes sons no seu
ambiente e, freqüentemente, canta para si mesma. Estudos neuropsicológicos e
outros estudos do cérebro mostram que as áreas cerebrais dedicadas ao
processamento da música são distintas daquelas destinadas ao processamento da
linguagem. Componentes cruciais do processamento da informação incluem tom,
ritmo e timbre (qualidade do som).
3. Inteligência lógico-matemática: é normalmente associada a sensibilidade
para padrões, ordem e sistematização. É a habilidade para explorar relações,
categorias e padrões, através da manipulação de objetos ou símbolos, e para
experimentar de forma controlada; é a habilidade para lidar com séries de
raciocínios, para reconhecer problemas e resolvê- los. É a inteligência característica
de matemáticos e cientistas. Gardner, porém, explica que embora o talento científico
e o talento matemático possam estar presentes num mesmo indivíduo, os motivos que
movem as ações dos cientistas e dos matemáticos não são os mesmos. Enquanto os
matemáticos desejam criar um mundo abstrato consistente, os cientistas pretendem
explicar a natureza. A criança com especial aptidão nesta inteligência demonstra
facilidade para contar e fazer cálculos matemáticos e para criar notações práticas de
seu raciocínio.
4. Inteligência espacial: Gardner descreve a inteligência espacial como a
capacidade para perceber o mundo visual e espacial de forma precisa. É a habilidade
para manipular formas ou objetos mentalmente e, a partir das percepções iniciais,
criar tensão, equilíbrio e composição, numa representação visual ou espacial. É a
inteligência dos artistas plásticos, dos engenheiros e dos arquitetos. Em crianças
pequenas, o potencial especial nessa inteligência é percebido através da habilidade
para quebra-cabeças e outros jogos espaciais e a atenção a detalhes visuais. Mesmo
que as habilidades lógico-matemáticas e espaciais se desenvolvam a partir da
percepção e de objetos, a pesquisa neurológica apóia a autonomia da inteligência
espacial. A inteligência espacial é "controlada" pelo cérebro. Ela requer o
36
funcionamento intacto dos lobos parietal e temporal direitos, e conexões entre essas e
outras regiões do cérebro.
5. Inteligência corporaI-cinestésica: esta inteligência se refere à habilidade
para resolver problemas ou criar produtos através do uso de parte ou de todo o corpo.
É a habilidade para usar a coordenação grossa ou fina em esportes, artes cênicas ou
plásticas no controle dos movimentos do corpo e na manipulação de objetos com
destreza. A criança especialmente dotada na inteligência cinestésica se move com
graça e expressão a partir de estímulos musicais ou verbais demonstra grande
habilidade atlética ou uma coordenação fina apurada. Os fundamentos biológicos
dessa inteligência são complexos. Eles incluem coordenação entre sistemas neurais,
musculares e perceptuais. A existência de uma inteligência corporal-cinestésica é
apoiada pelas apraxias -síndromes neurológicas tipicamente relacionadas à lesão no
hemisfério esquerdo. Pessoas com apraxias são incapazes de realizar seqüências de
movimentos, de compreender um pedido de que realizem uma seqüência de executar
cada movimento dessa seqüência. Gardner especula que o desenvolvimento da
inteligência corporal-cinestésica avança de reflexos iniciais, como sugar, para
atividades cada vez mais intencionais, para a capacidade de imitar e criar, usando o
movimento.
6. Inteligência intrapessoal: esta inteligência é o correlativo interno da
inteligência interpessoal, isto é, a habilidade para ter acesso aos próprios
sentimentos, sonhos e idéias, para discriminá-los e lançar mão deles na solução de
problemas pessoais. É o reconhecimento de habilidades, necessidades, desejos e
inteligências próprios, a capacidade para formular uma imagem precisa de si próprio
e a habilidade para usar essa imagem para funcionar de forma efetiva. Como esta
inteligência é a mais pessoal de todas, ela só é observável através dos sistemas
simbólicos de outras inteligências, ou seja, através de manifestações lingüísticas,
musicais ou cinestésicas. Mais recentemente, Gardner (1993c, apud Gardner, 1994,
pág.221) enfatizou o papel desempenhado por essa inteligência para permitir que os
indivíduos construam um modelo acurado de si mesmos e utilizem esse modelo para
tomar boas decisões em suas vidas. Assim, essa inteligência pode agir como uma
37
"agência central de inteligências", permitindo que os indivíduos conheçam as
próprias capacidades e percebam a melhor maneira de usá-las.
7. Inteligência interpessoal: esta inteligência pode ser descrita como uma
habilidade para entender e responder adequadamente a humores, temperamentos,
motivações e desejos de outras pessoas. Ela é melhor apreciada na observação de
psicoterapeutas, professores, políticos e vendedores bem sucedidos. Na sua forma
mais primitiva, a inteligência interpessoal se manifesta em crianças pequenas como a
habilidade para distinguir pessoas, e na sua forma mais avançada, como a habilidade
para perceber intenções e desejos de outras pessoas e para reagir apropriadamente a
partir dessa percepção. Crianças especialmente dotadas demonstram muito cedo uma
habilidade para liderar outras crianças, uma vez que são extremamente sensíveis às
necessidades e sentimentos dos outros.
O funcionamento das inteligências pessoais está ligado aos lobos frontais do
cérebro. Se essa área sofre um dano, a motivação e as respostas do indivíduo podem
ficar prejudicadas, mesmo que a capacidade de desempenho num teste de QI
continue inalterada. Na vida cotidiana, aparentemente é difícil diferenciar as
inteligências pessoais. No entanto, evidências de suas autonomias surgem no estudo
das patologias que afetam cada uma. Por exemplo, a inteligência interpessoal parece
estar ausente em crianças autistas, e há doenças psicopatológicas em que um
indivíduo pode estar profundamente consciente dos sentimentos e motivações
alheios, embora seja incapaz de compreender os próprios.
A todo esse "elenco" o professor Nílson Machado, doutor em Educação pela
Universidade de São Paulo, onde leciona desde 1972, inclui ainda a competência
pictórica que se manifesta em qualquer criança através de seus desenhos ou outros
signos pictóricos, ainda antes que a linguagem escrita lhe seja acessível. Presente em
grandes pintores, é típica do cartunista cujos personagens "falam" por suas
expressões não verbais. Em sua última visita ao Brasil, em 1997, Gardner afirmou
estar estudando a hipótese de mais uma inteligência: a naturalista. Ela se refere à
habilidade humana de reconhecer objetos na natureza. Ou seja, a capacidade de
distinguir plantas, animais, rochas. Segundo ele, áreas específicas do cérebro entram
38
em ação quando precisamos nos valer dessa habilidade. Ele cita Charles Darwin
neste estudo, como possuidor dessa inteligência em nível muito elevado.
Segundo o pesquisador brasileiro, Prof. Nílson Machado, o que importa não é
o número de inteligências, o importante é a noção de que o ser não pode ser avaliado
apenas por uma ou duas de suas capacidades. Ele deve ser considerado por inteiro. O
Professor não tem o objetivo de reescrever ou criticar a obra de Gardner, somente
partiu da teoria criada por este, para desenvolver seus próprios estudos.
IV.2 O desenvolvimento das inteligências
Na sua teoria, Gardner propõe que todos os indivíduos, em princípio, têm a
habilidade de questionar e procurar respostas usando todas as inteligências. Todos os
indivíduos possuem, como parte de sua bagagem genética, certas habilidades básicas
em todas as inteligências. A linha de desenvolvimento de cada inteligência, no
entanto, será determinada tanto por fatores genéticos e neurobiológicos quanto por
condições ambientais. Ele propõe, ainda, que cada uma destas inteligências tem sua
forma própria de pensamento, ou de processamento de informações, além de seu
sistema simbólico.
Estes sistemas simbólicos estabelecem o contato entre os aspectos básicos da
cognição e a variedade de papéis e funções culturais.
A noção de cultura é básica para a Teoria das Inteligências Múltiplas. Com a
sua definição de inteligência como a habilidade para resolver problemas ou criar
problemas ou criar produtos que são significativos em um ou mais ambientes
culturais, Gardner sugere que alguns talentos só se desenvolvem porque são
valorizados pelo ambiente. Ele afirma que cada cultura valoriza certos talentos, que
devem ser dominados por uma quantidade de indivíduos e, depois, passados para a
geração seguinte.
39
Segundo Gardner, cada domínio, ou inteligência, pode ser visto em termos de
uma seqüência de estágios: enquanto todos os indivíduos normais possuem os
estágios mais básicos em todas as inteligências, os estágios mais sofisticados
dependem de maior trabalho ou aprendizado .
A seqüência de estágios se inicia com o que Gardner chama de habilidade de
padrão cru. O aparecimento da competência simbólica é visto em bebês quando eles
começam a perceber o mundo ao seu redor. Nesta fase, os bebês apresentam
capacidade de processar diferentes informações. Eles já possuem, no entanto, o
potencial para desenvolver sistemas de símbolos.
O segundo estágio, de simbolizações básicas, ocorre aproximadamente dos
dois aos cinco anos de idade. Neste estágio, as inteligências se revelam através dos
sistemas simbólicos. Aqui, a criança demonstra sua habilidade em cada inteligência
através da compreensão e uso de símbolos: a música através de sons, a linguagem
através de conversas ou histórias, a inteligência espacial através de desenhos, etc.
No estágio seguinte, a criança, depois de ter adquirido alguma competência
no uso das simbolizações básicas, prossegue para adquirir níveis mais altos de
destreza em domínios valorizados em sua cultura. À medida que as crianças
progridem na sua compreensão dos sistemas simbólicos, elas aprendem os sistemas
que Gardner chama de sistemas de Segunda Ordem, ou seja, a grafia dos sistemas ( a
escrita, os símbolos matemáticos, a música escrita, etc.). Nesta fase, os vários
aspectos da cultura têm impacto considerável sobre o desenvolvimento da criança,
uma vez que ela aprimorará os sistemas simbólicos que demonstrem ter maior
eficácia no desempenho de atividades valorizadas pelo grupo cultural. Assim, uma
cultura que valoriza a música terá um maior número de pessoas que atingirão uma
produção musical de alto nível.
Finalmente, durante a adolescência e a idade adulta, as inteligências se
revelam através de ocupações vocacionais ou não- vocacionais. Nesta fase, o
40
indivíduo adota um campo específico e focalizado, e se realiza em papéis que são
significativos em sua cultura.
IV.3 Críticas à Teoria das Inteligências Múltiplas
Gardner foi criticado, principalmente pelo teórico Scarr por elaborar essas
inteligências baseado na premissa de que a psicologia considera a inteligência como
uma capacidade unitária refletida por escores de QI. Segundo ele, os psicólogos não
acreditam que o QI reflete o universo das capacidades humanas, mas o avalia como
uma amostra do desempenho intelectual, sendo de grande utilidade para estudos
ocupacionais e acadêmicos. Rotular como inteligências capacidades diversas, não faz
avançar o conhecimento da inteligência, da personalidade ou de áreas de capacidades
especiais, como música e movimento. Talvez Gardner tenha pecado ao rotular como
inteligência algumas características humanas. As afirmações de Gardner em defesa
das várias inteligências são motivadas mais por considerações sociais do que
científicas.
Pelo menos duas críticas também foram feitas à afirmação de Gardner de que
as inteligências são autônomas. Primeiro, décadas de pesquisa psicométricas indicam
que as capacidades se correlacionam positivamente; nenhuma capacidade intelectual
tradicionalmente medida é totalmente distinta das outras.
Segundo Gardner, para compreender se as inteligências são autônomas,
precisaria usar medidas que permitissem que as pessoas usassem materiais e meios
mais relevantes para aquela inteligência.
O segundo argumento contra a autonomia das inteligências origina-se da
noção de que várias inteligências precisam ser utilizadas juntas por uma função
executiva que coordena o papel das diferentes inteligências na execução de uma
determinada tarefa. Em contraponto, Gardner afirma que a inteligência interpessoal
41
poderia cumprir esta função coordenadora. Para os críticos essa afirmação “cheira
um pouco a g”.
Gardner também foi criticado por não oferecer um programa claro para
educadores usarem na implementação da teoria das Inteligências Múltiplas nas
escolas. Talvez devido a esse fato, mais recentemente, Gardner tem se dedicado
especialmente a seus projetos em Harvard, assim como em livros que tratam
especialmente da implementação em instituições educacionais, embora afirme que as
IM não devem ser o objetivo de uma escola. O papel delas é funcionar como
instrumentos para alcançar objetivos educacionais. O currículo deve refletir os
objetivos da escola e, de forma mais ampla, os da sociedade. Em geral, o currículo
trata de um número muito grande de temas, por isso os alunos acabam se
desinteressando pelas aulas. O ideal é trabalhar com um número pequeno de assuntos
e, conseqüentemente, com mais profundidade. Quando se focalizam poucos temas de
estudo, fica mais fácil usar as IM e ajudar os estudantes a entender melhor o que está
sendo tratado. Todo tema pode ser estudado de seis ou sete maneiras, usando-se, por
exemplo, histórias, números, trabalhos de arte, projetos de grupo, experiências
práticas e outros recursos. A teoria influi no currículo à medida que diversifica o
modo de transmitir conhecimentos. Além disso, amplia o próprio conceito de
conhecimento.
Todo esse trabalho não pode ser implementado de maneira aleatória. Pelo
contrário, deve ser estudado, programado e avaliado cuidadosamente para que não
haja exageros.
42
CAPÍTULO V
A NATUREZA DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
Nos tempos atuais de mundo globalizado, poder se expressar adequadamente
e com facilidade pode ser decisivo para o sucesso pessoal. Ao contrário do que se
valorizava no passado, o conhecimento técnico, raciocínio lógico e habilidades
matemáticas e espaciais (QI) está deixando de ser o principal e exclusivo critério de
avaliação do sucesso de uma pessoa, dando lugar a um novo que está cada vez mais
importante: a inteligência emocional.
Inteligência Emocional, a tese científica que foi publicada em outubro de
1995, pelo psicólogo americano, Ph.D de Harvard, Daniel Goleman onde este
apresenta este novo conceito para inteligência mostrando que para o indivíduo
obtenha sucesso não depende do QI que possui, mas da sua capacidade de controlar
as suas emoções, esta capacidade é essencial para o desenvolvimento da inteligência
no indivíduo. O autor procura demonstrar a influência da inteligência emocional na
vida das pessoas usando para isso fatos reais, firmados em ampla pesquisa científica.
Procura ainda mostrar o que pode ser feito para evitar problemas cotidianos que
podem surgir do simples desentendimento e ainda nos fornece uma visão científica
sobre como a emoção age no corpo humano. Pois para o psicólogo a maior questão
de sua tese é: "como podemos levar inteligência às nossas emoções, civilidade as
nossas ruas e envolvimento à nossa vida comunitária?"
Goleman declara em seu livro ser um guia:
“eu atuo como um guia numa viagem pelo entendimento
científico acerca das emoções, uma viagem que visa a levar
maior compreensão a alguns dos mais intrigantes momentos
de nossas vidas e do mundo que nos cerca. O fim da jornada
é entender O que significa -e como- levar inteligência à
43
emoção. Essa compreensão, por si só, pode ajudar em certa
medida; levar a cognição para o campo do sentimento tem
um efeito meio parecido com o impacto sofrido pelo
observador no nível do quantum na física, que altera o que
observa.” (GOLEMAN, 1995)
Assim, participa-se desta viagem observando alguns conceitos, como detalhase a diante.
Pode-se definir a inteligência emocional como o comportamento do indivíduo
frente a sociedade, incluindo seu relacionamento com outras pessoas, reações a
situações diversas e capacidade de contornar problemas da maneira mais adequada
possível.
Mas para melhor explicar esta definição observa-se um exemplo usado por
Goleman em seu terceiro capítulo, do livro Inteligência Emocional, onde ele narra a
história de um professor de física do segundo grau, David Pologruto, que foi
esfaqueado na clavícula pelo aluno Jason que havia tirado nota 8,0 em uma prova, o
que poderia prejudicar a sua idéia fixa de entrar na faculdade de medicina em
Harvard. Diante do fato contudo, um juiz considerou o aluno inocente, afirmando
que este estava privado das suas faculdades mentais na hora do incidente. Estes dois
anos após ser inocentado se formou como um dos primeiros lugares da turma.
Diante deste fato, e muitos outros que se verifica no dia-a-dia, Goleman
questiona como uma pessoa tão inteligente possa ter agido com tamanha estupidez e
ele afirma que “a inteligência acadêmica pouco tem a ver com a vida emocional. As
pessoas mais brilhantes podem se afogar nos recifes de paixões e dos impulsos
desenfreados; pessoas com alto nível de QI podem ser pilotos incompetentes de sua
vida particular.”
Assim, Goleman apresenta a relação de QI e sucesso, ele aceita que a na
maioria das vezes há uma relação entre QI e as circunstâncias de vida, ou seja
pessoas de baixo QI teriam empregos medíocres e pessoas com alto QI teriam
melhores empregos. Contudo, a inúmeras exceções à esta regra onde numa estatística
44
otimista o QI representa 20% dos fatores que determinam o sucesso na vida. Os
autores de The Bell Curve, Richard Herrnstein e Charles Murray atribuem ao QI uma
importância fundamental para o sucesso, entretanto eles mesmos reconhecem que há
outros fatores determinantes além do QI como afirmam: " A ligação que existe entre
aferições e aquelas realizações é reduzida pela totalidade de outras características que
ele traz para a vida."
Portanto, Goleman afirma:
“tem sua preocupação no conjunto fundamental dessas
outras características, a inteligência emocional: por
exemplo, a capacidade de criar motivações para si próprio e
de persistir num objetivo apesar dos percalços; de controlar
impulsos e saber aguardar pela satisfação de seus desejos;
de se manter em bom estado de espírito e de impedir que
ansiedade interfira na capacidade de raciocinar; de ser
empático e autoconfiante. Ao contrário do QI, com seus
quase cem anos de história de pesquisa junto a milhares de
pessoas, a inteligência emocional é um conceito novo.
Ninguém pode ainda dizer exatamente até onde responde
pela variação, de pessoa para pessoa, no curso da vida. Mas
os dados existentes sugerem que esse tipo de inteligência
pode ser tão ou mais valioso que o QI. E, embora haja quem
argumente que através da experiência ou do aprendizado
não exista muita possibilidade de se alterar o QI, ...,que as
aptidões emocionais decisivas, na verdade, podem ser
aprendidas e aprimoradas já na tenra idade -se nos dermos
ao trabalho de ensina-las.”(GOLEMAN, 1995, p.48)
Quando se analisa que pessoas com igualdade de condições intelectuais, de
escolaridade e de oportunidade possuirão destinos diferentes, pois estas reagiram de
forma diferenciada às vicissitudes da vida.
45
“Apesar de um alto QI não ser nenhuma garantia de
prosperidade, prestígio ou felicidade na vida, nossas escolas
e nossa cultura privilegiam a aptidão no nível acadêmico,
ignorando a inteligência emocional, um conjunto de traços alguns chamariam de caráter -que também exerce um papel
importante em nosso destino pessoal. A vida emocional é um
campo com o qual se pode lidar, certamente como
matemática ou leitura, com maior ou menor talento, e exige
seu conjunto de aptidões. E a medida dessas aptidões numa
pessoa é decisiva para compreender por que uma prospera
na vida, enquanto outra, de igual nível intelectual, entre
num beco sem saída: a aptidão emocional é uma metacapacidade que determina até onde podemos usar bem
quaisquer outras aptidões que tenhamos, incluindo o
intelecto bruto” (GOLEMAN, 1995, p.48)
Pois, as pessoas com prática emocional bem desenvolvida têm mais
probabilidade de se sentirem satisfeitas e de serem eficientes em suas vidas, do
minando os hábitos mentais que fomentam sua produtividade; as que não conseguem
exercem nenhum controle sobre sua vida emocional travam batalhas internas que
sabotam a capacidade de concentração no trabalho e de pensar com clareza.
Os sociólogos verificam que, em momentos decisivos, ocorreu uma
ascendência do coração sobre a razão, o corpo é estimulado e o sistema emocional é
o primeiro a agir. Pois estes pesquisas afirmam que as nossas emoções nos orientam
diante de situações inusitadas e quando temos de tomar providencias importantes
demais para serem resolvidas unicamente pelo intelecto. Por exemplo em situações,
como: perigo, dor causada por uma perda, na ligação com um companheiro. Desta
forma, declara Goleman que fomos longe demais quando enfatizamos o valor e a
importância do puramente racional -do que mede o QI -na vida humana.
46
Pois deste modo, uma resposta de um sistema emocional desequilibrado
poderia agravar ainda mais uma determinada situação. Durante esses poucos
milésimos iniciais, o cérebro cognitivo sofre uma espécie de seqüestro, pois sua ação
demora mais tempo para concretizar-se.
Um efeito ainda mais devastador pode ocorrer dependendo da reação que as
pessoas tem sob determinados estímulos. Quando uma pessoa explode em ira,
fatalmente virá a sentir ainda mais ira. Uma resposta mais empática provavelmente
faria com que essa pessoa se sentisse melhor consigo mesma e com a outra que
provocou a situação estimulante. Além desta vantagem, pessoas com desequilíbrio
emocional tendem a ter mais doenças do coração, derrames cerebrais ou depressão.
Deve-se observar a essência das emoções que são impulsos, legados pela
evolução pra uma ação inusitada, para planejamentos instantâneos que objetivam a
lidar com a vida.
“A própria raiz da palavra emoção é do latim movere 'mover' -acrescida do prefixo 'e', que denota 'afastar-se', o
que indica que em qualquer emoção (raiva, medo,
felicidade, amor, surpresa, repugnância, tristeza) está
implícita uma propensão para um agir imediato. Essa
relação entre emoção e ação imediata fica bem clara
quando observamos animais ou crianças; é somente em
adultos' civilizados' que tantas vezes detectamos grande
anomalia no reino animal: as emoções -impulsos arraigados
para agir- divorciadas de uma reação óbvia.” (GOLEMAN,
1995, p.20)
47
V.1 As cinco aptidões principais
- Autoconsciência -refere-se a consciência de seus próprios sentimentos no
momento exato em que eles ocorrem, ou seja, como Goleman declara em seu quarto
capítulo, a recomendação de Sócrates – “Conhecer-te a ti mesmo”, sendo este
mandamento a pedra de toque da inteligência emocional. Portanto, é a capacidade de
controlar os sentimento a cada momento em que vivemos que é imprescindível para
o discernimento emocional e para a auto-compreensão. Entretanto, a incapacidade de
observar nossos sentimentos mais verdadeiros nos vulneráveis a eles. Quando se é
seguro em relação aos seus próprios sentimentos, direciona-se melhor a vida, tem
uma consciência maior de como se sente em relação a decisões pessoais.
Há pessoas, contudo, que embora possuem sentimentos não consegue
identifica-los, não conseguem expressar em palavras, é o que se pode dizer umas
pessoas com alexitímicos. Falta-lhes a aptidão imprescindível da inteligência
emocional, a autoconsciência, o saber o que se sente enquanto as emoções revolvem
dentro de nós. Pois, quando conseguimos colocar em palavras o que sentimos, este
sentimento fica sobre controle.
- Lidar com as emoções -o autocontrole tem como pré-requisito o auto
conhecimento. Desde Platão esta aptidão tem sido vista como uma virtude. Na
Grécia clássica, essa aptidão era denominada de sophrosyne, ou seja, “preocupação e
inteligência
na
condução
da
própria
vida;
equilíbrio
e
sabedoria”.
(GOLEMAN,1995,p.69) Ou seja, é a capacidade de controlar (administrar) os
impulsos, evitando pré-julgamentos e pensando antes de agir. Portanto, esta
capacidade de gerenciar os sentimentos -onde os sentimentos mais fortes do homem
são a tristeza, a alegria e a raiva são fundamentais saber lidar com eles. É essencial
para reverter a agressividade de outras pessoas e quebrar situações de tensão As
pessoas que sabem controlar suas emoções são aquelas que obtém mais sucesso na
vida.
- Motivação -Esta qualidade e traduzida por otimismo. Os otimistas são
capazes de alcançar as metas acordadas, pois põe as emoções a serviço da meta
sendo fundamental para centrar a atenção, para a automotivação e a maestria, e a
48
criatividade. Como base para qualquer tipo de realização está o autocontrole
emocional, o saber adiar a satisfação e conter a impulsividade.
Os otimistas sabem encontrar saídas e superar dificuldades, eles acham que
sempre há uma solução. Não atribuem eventuais fracassos a problemas pessoais, mas
a circunstâncias externas, que poderão ser contornadas em situações futuras.
“Os otimistas vêem um fracasso como devido a algo que
pode ser mudado, para que possam vencer da próxima vez,
enquanto os pessimistas assumem a culpa pelo fracasso,
atribuindo-o a alguma imutável característica pessoal.
Essas diferenças justificativas têm profundas implicações
sobre como as pessoas reagem à vida. Por exemplo, como
resposta a uma decepção como a rejeição num emprego, os
otimistas tendem a reagir ativa e esperançosamente,
formulando um plano de ação, por exemplo, ou buscando
ajuda e aconselhamento; vêem o revés como uma coisa que
pode ser remediada. Os pessimistas, ao contrário, reagem a
esses reveses supondo que nada podem fazer para que as
coisas melhorem na próxima vez, e, portanto, nada fazem em
relação ao problema; justificam os reveses por alguma falha
pessoal que sempre os perseguirá.” (GOLEMAN, 1995,
p.101)
- Reconhecer emoções nos outros -a empatia é muito importante, isto é,
captar os sentimentos dos outros. A empatia é fundamental nas pessoas é a aptidão
pessoal mais importante, segundo Goleman. Esta habilidade de “tratar”, relacionar-se
com as pessoas, compreender suas emoções, agindo de acordo com o momento.
Entretanto, para ser empático é preciso estar calmo. Para isso acontecer dois fatores
são fundamentais: postura interior de “deixar os problemas em casa” ou de “não
levar problemas para a sala de reunião ou para o contato com o cliente ou para”... e
49
ambiente de trabalho adequado, proporcionado pela gerencia. Outro ponto
fundamental e a capacidade de dar e receber feedback logo que um problema e
percebido e quando estiver calmo. É preciso evitar que o problema se propague, e
isso só pode ser feito através de uma conversa franca, calma e oportuna. Deve-se
evitar explosões, que são causadas quando um problema não é resolvido logo, e sua
repetição vai provocando, gradativamente, uma degradação do relacionamento.
- Lidar com relacionamentos -a aptidão social é a capacidade de lidar com
emoções em grupo, de manter os relacionamentos, reforçando as afinidades e
descobrindo os pontos em comum. São aptidões que reforçam a popularidade, a
liderança e a eficiência interpessoal. Traduz-se em "poder de persuasão". E a base de
toda a capacidade de uma equipe gerar bons resultados. As pessoas que desenvolvem
bem esta aptidão tem facilidade em qualquer coisa que depende de interagir
tranqüilamente com os outros, Goleman as chamam de estrelas sociais.
50
CAPÍTULO VI
A INTELIGËNCIA EMOCIONAL APLICADA AS
EMPRESAS
A partir da década de 80, devido as pressões da globalização e das inovações
tecnológicas houve uma mudança no cenário empresarial e conseqüentemente no
cenário emocional das pessoas, inclusive relacionado a vida profissional destas.
Como já observamos as mais recentes pesquisas nas organizações têm indicado
novos critérios de avaliação do ser humano, já não importa apenas o quanto somos
inteligentes, intelectualmente falando, nem a nossa formação ou o nosso grau de
especialização, mas principalmente a maneira como lidamos com nós mesmos e com
os outros. Além disso, indicam que as habilidades humanas são as qualidades
inerentes aos profissionais de sucesso, razão da excelência no trabalho -muito
particularmente para os cargos de liderança.
Há dados que apontam para a necessidade de levar o assunto a sério, dados
baseados em estudos sobre dezenas de milhares de pessoas que trabalham em todos
os tipos de atividades e organizações. Estes dados garantem que não é uma novidade
passageira, nem a mais recente "receita de bolo" para gerenciar.
Goleman apud Filho (2001), em seu livro Trabalhando com Inteligência
Emocional afirma que:
“Numa época em que não há garantia de estabilidade no
emprego, e quando o próprio conceito de emprego vem
sendo rapidamente substituído pelo de habilidades portáteis
-aquelas que as pessoas podem utilizar em diferentes
51
contextos profissionais, trata-se de qualidades fundamentais
para obtermos emprego. Por muitas décadas, falou-se
vagamente sobre essas habilidades, que eram chamadas de
temperamento e personalidade ou habilidades interpessoais
(habilidades ligadas ao relacionamento entre as pessoas,
como empatia, liderança, otimismo, capacidade de trabalho
em equipe, de negociação e etc. ), ou ainda competência.
Atualmente, há uma compreensão mais precisa desse talento
humano, que ganhou o nome de inteligência emocional.”
(GOLEMAN, 2001)
O fim da empregabilidade e a valorização do trabalho têm exigido níveis cada
vez maiores de especialização da parte de empresas e dos funcionários. No cerne de
todas essas mudanças, cresce a necessidade de uma profunda reformulação na
maneira de ver a pessoa humana, que constitui o principal agente na estratégia para
garantir o sucesso dos profissionais e a sobrevivência da organização em meio aos
desafios da nossa época.
Nas duas últimas décadas, tem aumentado o número de empresas que
investem no bem-estar e na satisfação dos seus funcionários, beneficiando
amplamente o delicado campo dos relacionamentos e, por conseqiiência, a
produtividade. Seja através de vivências alternativas -como aulas de ioga, de
ginástica, de musicoterapia, biodanza e etc., de atividades de autoconhecimento ou
que promovam maior integração, tais empresas estão conscientes do seu papel
enquanto entidades não separadas dos indivíduos que a compõem. Desenvolvem e
aperfeiçoam uma visão mais ampla do funcionário, considerando que ninguém
poderá dar o melhor de si se não apresentar um mínimo de harnlonia com seus
pensamentos e sentimentos.
52
Em certas organizações, por exemplo, a recompensa pelos bons serviços
prestados pode vir não como aumento de salário, mas sob a forma de uma prazerosa
e inesquecível viagem que inclua toda a família do funcionário exemplar. Um prêmio
desse tipo marca a história do casal e dos seus filhos de modo muito especial e
afetivo, favorecendo a imagem da empresa, elevando a satisfação de trabalhar nela e
o grau de comprometimento com os seus ideais.
Qualquer estrutura que reúna várias pessoas deve, inevitavelmente, criar
condições ideais para o trabalho em equipe. Sabe-se que é bem maiores a eficiência e
a produtividade entre pessoas trabalhando juntas; entretanto, quando levamos em
conta as suas diferenças naturais, começamos a ter outra perspectiva dos bloqueios
de personalidade que geralmente dificultam a cooperação. O fato é que cada um de
nós tem sua vida particular, suas capacidades e o seu estilo próprio de interagir com
os outros. E hoje, mais do que nunca, não se deve confiar apenas no raciocínio lógico
para resolver nossas diferenças e, assim, cumprir as metas da organização para a qual
trabalhamos.
Chegamos ao campo da aptidão emocional ou capacidade para lidar bem com
os nossos sentimentos e também com os sentimentos das demais pessoas. Sem ela, o
indivíduo estará sujeito a conflitos internos que tiram a sua concentração no trabalho
e comprometem a sua clareza de pensamento e a sua produtividade; pode ter a sua
memória afetada e dificuldade para tomar decisões com objetividade.
Manter-se consciente dos próprios sentimentos, permanecendo atento ao que
se está sentindo, também é uma aptidão emocional básica que auxilia o
desenvolvimento da integridade e leva a pessoa a descobrir satisfação no seu
trabalho. Igualmente importante é saber sintonizar com os sentimentos daqueles com
quem nos relacionamos no ambiente profissional, procurando aprender a lidar com as
divergências antes que elas cresçam. Observe que pessoas muito influentes numa
empresa não só têm consciência dos seus sentimentos como demonstram uma
percepção intuitiva do que motiva seus chefes, colegas de trabalho e funcionários.
53
Entretanto, no mundo dos negócios, é comum encontrar profissionais guiados
por uma lógica e objetividades excepcionais, mas sem qualquer habilidade para os
temas de origem emocional, para as questões do coração. Em parte, isto se deve a
crença obsoleta de que a intimidade representa o risco de substituir os interesses da
organização pelos interesses pessoais, interferindo na produtividade. Ou que manter
o distanciamento afetivo não compromete a tomada de decisões duras quando a
presente situação dos negócios não permite outra saída. Assim como a relação de
custo-benefício proporcionado pela inteligência emocional é uma idéia relativamente
nova no mundo empresarial. Observamos que algumas atitudes passadas são
completamente obsoletas, como comentado, portanto quando verificamos uma
pesquisa realizada na década de 70, onde 250 executivos afirmaram que no ambiente
de trabalho deveriam usar mais a cabeça que ao coração, acreditavam que empatia e
solidariedade com as pessoas com as quais trabalhavam poderiam pô-los em atritos
com as metas da empresa.
Diante da nova realidade competitiva e do crescente nível de exigência dos
clientes, torna-se inevitável a aplicação da inteligência emocional no local de
trabalho e no mercado, sendo uma condição indispensável ao planejamento das
habilidades empresariais no que se refere à liderança, gestão e organização. Do
contrário, o destino das empresas no atual momento de mudanças estruturais estará
irremediavelmente comprometido.
As organizações não podem mais ignorar a força representada pelas pessoas
que a integram, que, na melhor das hipóteses, deve compor-se de funcionários
competentes, atualizados, ágeis e inovadores. Contudo, a orientação moderna para o
sucesso pressupõe que as organizações saibam criar um ambiente de trabalho onde as
pessoas se sintam seguras e motivadas a crescer e a aprender com os desafios
requeridos por suas realizações.
As aptidões emocionais estão trazendo mudanças radicais nos ambientes das
organizações, já que não há mais dúvida de que as relações interpessoais entre os
54
seus profissionais constituem um fator prioritário à conquista da excelência em todas
as esferas. Lógica e intuição prometem fazer a parceria definitiva no paradigma da
empresa do terceiro milênio. Portanto para se adquirir uma vantagem competitiva,
destacam-se algumas aptidões emocionais: o diálogo, a crítica, a diversidade, a
confiança e a inteligência emocional do grupo.
-
O diálogo
Uns dos pilares da inteligência emocional é a capacidade de se relacionar,
como já visto, e dentro de uma organização isto também é essencial, e o
relacionamento esta intimamente ligado ao diálogo.
O diálogo começa através de uma valorização recíproca, e não a conversa
vazia e polida. A palavra diálogo deriva do grego antigo diálogo, que significa o
livre fluir de idéias entre as pessoas. Isto é que os negócios necessitam cada vez
mais, e com urgência. Estudos demonstram que líderes com alto QE não escondem
seus sentimentos, mesmo seus medos, angústias e sofrimentos. Eles o admitem
abertamente de forma natural. Jay Conger, apud Cooper, professor na Harvard
Bussiness School afirma que: “Os líderes que acumulam mais recursos para o futuro
são aqueles que aumentam sua capacidade de expressividade emocional -um
ingrediente-chave para a determinação, a persuasão e a inspiração.” (GOLEMAN,
1997, P.98)
De modo geral, acreditamos que falar consiste em emitir palavras, dirigi-las a
outras pessoas. Todavia, para um diálogo genuíno o oposto que é verdadeiro. Nessas
interações, deve-se convidar a outra pessoa a entrar em seu mundo, em sua mente e
em seu coração e assim concretizar um diálogo e mostrando respeito ao interlocutor e
pelo diálogo em si.
55
Pois, tanto para liderar ou ter sucesso, a vida exige que nos empenhamos em
perceber, e entender efetivamente o que os outros sentem e percebem, sob a
superfície das palavras.
A coragem de falar é realmente uma marca do líder e ajuda a pessoa a
conquistar o respeito dos outros. Contudo, para olharmos um líder nos olhos e
expressar com firmeza uma questão ou opinião claramente contrária requer um forte
sentido interior de igualdade humana -competência emocional. Assim, algumas vezes
o que nos impede de envolver- nos no diálogo autêntico é o medo. Medo de se expor
a
riscos,
de
revelar
nossos
verdadeiros
sentimentos,
expor
nossas
vulnerabilidades...Entretanto, como afirma w. Edwards Deming, apud Cooper,
“ninguém alcança seu melhor desempenho sem se sentir seguro. A palavra seguro
vem do latim se, que significa sem e cure, que significa medo. Seguro significa sem
medo, sem temor de expressar idéias, sem temor de fazer perguntas.” (COOPER,
1997, pág.105)
Muitas pessoas ficam receosas em envolver-se num diálogo aberto e honesto,
pois tem medo de apegar-se a raivas e ressentimentos do passado sobre deficiências,
afrontas ou erros do trabalho. Para livrar-se desta raiva e medo tem que ter a
capacidade de perdoar, que é uma qualidade da competência emocional. É
fundamental entender que perdoar é alguma coisa que se faz para liberar a parte de si
mesmo que está presa ao pesar e à raiva, e mesmo o ódio. Ou seja, perdoar é liberar a
energia aprisionada que poderia estar atuando positivamente em outro lugar .
Através da gratidão ajuda-se a si mesmo e aos outros, pois livra-se da
resistência e do medo. Como afirma Robert Cooper, Ph D, consultor de Executivos,
em seu livro Inteligência Emocional na Empresa diz que:
“ os líderes excepcionais lideram com gratidão, eles a
expressam em primeiro
lugar porque perceberam que essa é uma maneira essencial
de melhorar a vida organizacional e sabem que o sentimento
56
de apreciação pode retomar para eles em dobro. Esse
interesse pelo outro é crucial para o diálogo autêntico.
Precisamos estar presentes, importar-nos com o outro,
compartilhar idéias. E isso pode ser vantajoso de muitas
formas em nossas atividades empresariais.” (COOPER,
1997, p.106)
-
Considerações sobre o diálogo
Na prática de dialogar Cooper faz algumas considerações:
- Quando participar de uma discussão ou reunião, ouça atentamente e seja
claro em relação ao seu propósito. Esta atitude poupa tempo e gera relacionamentos
mais fortes, na maioria das vezes. Em grupo, é fundamental ampliar sua intuição e
captar o sentimento dos outros e pretendendo e após fazer perguntas esclarecedoras
para ver se alcançou o alvo;
-
Valorize a coerência e fale abertamente quando ela não estiver presente;
-
Adote códigos de grupo para compartilhar sentimentos e esclarecimentos;
-
Reaja com interesse a novas idéias -deixe de lado sua intuição crítica e
demonstre uma curiosidade e consideração sincera, se desejar levantar
algum questionamento, o faça. Assim, sem causar animosidade, usa-se o
QE para oferecer à pessoa uma oportunidade de examinar a própria idéia,
demonstrando seus pontos fortes e fracos e julgando com independência.
Desta forma, ajuda-se a preservar -e mesmo a fortalecer -sentimentos de
orgulho e entusiasmo que são tão vitais se você mesmo, e outros que
trabalham com você, almejarem continuar a novas idéias;
-
Escreva uma carta do seu privado para seu ser público.
57
-
A crítica
O administrador tem como uma das tarefas mais importantes a crítica, e neste
sentido, esta é muito temida e preterível. O que ocorre é que a maneira como as
críticas são feitas e como são recebidas revela até que ponto as pessoas estão
satisfeitas com seu trabalho, com os que trabalham com elas e a chefia.
Muitas vezes as críticas são expostas como ataques pessoais mais do que
como reclamações específicas a partir das quais alguma atitude possa ser tomada; há
agressões emocionais sobrecarregadas de repugnância, sarcasmo e descaso, esse tipo
de atitude ocasiona uma reação defensiva, ou seja, uma fuga das responsabilidades
que levam ao contato com a pessoa que fez a crítica, uma fuga daquele tipo de
sentimento novamente, isto é, ser injustamente tratado. Quando a crítica é pessoal,
generalizada, exemplo: "você está estragando tudo", inviabiliza qualquer tipo de
argumentação e sugestão de como fazer melhor. E provocam na pessoa criticados
sentimentos de impotência e rancor. Dentro da concepção de inteligência emocional,
essa crítica demonstra desconhecimento acerca dos sentimentos que serão
provocados naqueles que a recebem e do efeito devastador que esses sentimentos
terão em sua energia, motivação e segurança na execução do trabalho.
No ambiente organizacional não deve haver demora no feedback, como
afirma J.R. Larson, apud Goleman, psicólogo da universidade de Illinois:
“A maioria dos problemas no desempenho de um
empregado não surge de repente; desenvolve-se com o
tempo.
Quando o chefe não diz imediatamente o que sente, isso leva
a um lento acúmulo de frustração. E aí, um dia explode. Se a
crítica tivesse sido feita antes, o empregado poderia ter
corrigido o problema. Muitas vezes, as pessoas criticam
apenas quando a coisa transborda, quando ficam iradas
58
demais para conterem-se. E aí que fazem a crítica da pior
forma, num tom de sarcasmo mordaz, com um monte de
reclamações que guardaram para si ou fazem ameaças.
Esses ataques são como um tiro que sai pela culatra. São
recebidos como afronta, e quem os recebe fica, por sua vez,
com raiva. É a pior maneira de motivar alguém.”
(GOLEMAN, 1995, p.167)
-
Habilidades para criticar
Ao criticar não se deve identificar um traço do caráter da pessoa, mas sim se
focalizar no que a pessoa fez e no que pode fazer. Pois, quando focalizamos o
caráter, tocamos em algo que a pessoa considera imutável em si mesmo e a leva a
desilusão. Todavia, quando consideramos as circunstancias, estas são mutáveis e
podemos interferir com a finalidade de mudar para melhor .
O psicanalista e consultor de empresas Harry Levison aborda os seguintes
aspectos da crítica, na visão de quem critica, que está intimamente ligada à arte do
elogio:
- Seja específico -dizer que alguma coisa está errada, não acrescenta, deve-se
concentrar nos detalhes, informando a pessoa criticada o que está certo, o que está
errado e o por que está errado;
- Ofereça uma solução -para pessoa criticada não se sentir desmotivada,
frustrada
ou
desmoralizada,
a
crítica
deve
ser
acompanhada
por
uma
solução/sugestão para o resolver o problema, assim como todo feedback útil;
- Faça a crítica pessoalmente - é indevido o uso de memorando ou praticas
semelhantes, as pessoas que a recebem devem ter a oportunidade de responder ou
prestar esclarecimentos;
59
- Seja sensível - a empatia é fundamental ao se criticar deve-se estar
sintonizado com o impacto que irá provocar com o que diz e como o diz sobre a
pessoa a quem se dirige;
Contudo, a pessoa que é criticada também deve estar atento a sua postura
diante da critica. Assim, Levison, apud Goleman, dá alguns conselhos emocionais
para pessoa criticada:
“Um deles é vê-la como uma informação valiosa para
aprimorar o seu , próprio trabalho, e não como um ataque
pessoal. Outro é manter vigilância sobre o impulso para
cair na defensiva, em vez de assumir a responsabilidade. E,
caso seja muito perturbador, peça para continuar a
conversa mais tarde, após o período necessário para a
absorção da mensagem difícil e para esfriar um pouco.
Finalmente ele aconselha as pessoas a verem a crítica como
uma oportunidade de trabalhar junto com que critica, para
resolver o problema, e não como uma emulação.”
(GOLEMAN, 1995, p.169)
-
Ambiente organizacional e a diversidade
A diversidade ambiente profissional é algo proveitoso, pois possibilita uma
força de trabalho diversificada, com diferentes costumes, práticas, cultura o que deve
ser transformado em criatividade. Contudo, sentimentos preconceituosos podem
inibir esta criatividade já que pessoas expostas ao preconceito, independente da
forma, podem se sentir coagidas e evitarem a ser expor para evitar o preconceito, da
mesma forma que a criticada de forma errada.
60
Entretanto, acabar com os sentimentos preconceituosos dentro das
organizações não é tarefa fácil, porém necessário. Isto ocorre porque os preconceitos
são um tipo de aprendizado emocional que ocorre na tema idade, assim dificultando
eliminar este tipo de reação, mesmo em pessoas que, quando adultas, acham errado
tê-las.
“Os sentimentos preconceituosos se formam na infância, ao
passo que as crenças usadas para justificá-las vêm depois...
Mais tarde, você pode não querer mais ser preconceituoso,
mas, é muito mais fácil mudar crenças intelectuais que
sentimentos arraigados. Muitos sulistas me confessam, por
exemplo, que, embora racionalmente não mais tenham
preconceitos, sentem nojo quando apertam a mão de um
negro. Esses sentimentos são resíduos do que aprenderam
em casa quando eram crianças.” (GOLEMAN, 1995, p.171)
Muitas vezes o preconceito vem disfarçada, de maneira mais sutil, a pessoa
negam atitudes racistas mesmo quando agem com preconceito encoberto, exemplo
quando se defrontam dois candidatos um negro e outro não com as mesmas
qualificações, se escolhe o branco alegando que a experiência ou formação não é
muito adequada.
O preconceito deve ser banido das organizações e para isso deve-se tomar
posição ativa contra qualquer forma de discriminação, dos mais altos aos mais baixos
escalões da administração. Os preconceituosos não vão embora, mas os atos de
preconceito podem ser sufocados, caso não haja tolerância. O simples fato de chamar
o preconceito de preconceito ou protestar contra ele, no momento em que ele ocorre,
faz com que os preconceituosos se sintam desestimulados a agirem desta forma,
contudo se não há uma posição contrária irá parecer coonestação. Quem desempenha
papel fundamental no combate ao preconceito são os chefes, já que o fato de não
condenarem atos de preconceito equivale a dizer que tais atos são liberados. Medidas
61
como uma reprimenda envia a poderosa mensagem de que o preconceito não é uma
bobagem, mas tem conseqüências reais e negativas.
Um bom artifício no combate ao preconceito é levar as pessoas a se
colocarem no lugar do outro, a empatia e a tolerância. Pois, ao passo que as pessoas
passam a entender o sofrimento daqueles que se sentem discriminados, é mais
provável que o denunciem.
Entretanto, afirma Goleman, o preconceito como é um tipo de aprendizado
emocional tem a possibilidade de um reaprendizado -mesmo que este leve tempo e
não se deve esperar um efeito imediato, exige treinamento continuo. “O que pode
contar, porém, é a camaradagem constante e os esforços diários para uma meta
comum de pessoas de diferentes origens” (GOLEMAN, 1995, p.173)
Assim, “deixar de combater o preconceito no local de trabalho é perder uma
oportunidade maior; aproveitar as possibilidades criativas e empresariais
proporcionadas por uma força de trabalho diversificada.” (GOLEMAN, 1995,
p.173)
-
A confiança
A palavra confiança é definida como absoluta segurança na honestidade de si
mesmo ou do outro. Em nosso convívio com os outros a confiança e credibilidade
estão intimamente ligados.
A confiança não é apenas uma boa idéia ou atitude, mas sim alguma coisa
que devemos sentir sobre a qual devemos agir. Quando confiamos em nós mesmos e
podemos alongar esta confiança aos outros, há uma troca de confiança mutua, e isso
se toma o elo que mantém os relacionamento unidos e libera o diálogo sincero.
Entretanto, a falta de confiança, leva-nos a despender muito tempo e esforço
protegendo, duvidando, verificando, avaliando e inspecionando em vez de fazermos
o trabalho real - isto é, o trabalho criativo valioso e baseado no espírito de
colaboração.
62
Há uma relação direta entre a confiança e tomar-se criativo e eficaz, isto é,
quanto maior a confiança que tenho em mim mesmo e nos outros, e no ambiente,
mais criativo e eficaz eu me tomo, portanto aumento minhas chances de ser bemsucedido.
O chefe de pesquisa comportamental no Duke University Medical Center,
Redford Williams constatou em pesquisa realizada sobre a confiança que a
desconfiança crônica, e os concomitantes sentimentos de hostilidade, podem
realmente fazer mal ao coração humano e levar a um ataque do coração fatal. Assim,
Williams
indica
como
estratégia
preventiva:
“crie
mais
confiança
nos
relacionamentos em sua vida e no seu trabalho” (COOPER, 1997, p.118)
A eficiência do grupo também esta relacionada com a confiança, como
demonstra outra pesquisa. Possibilitando que os membros expressem abertamente
seus sentimentos e diferenças, e evitem sabotagens e posições defensivas típicas.
Quando as pessoas não confiam uma nas outras, elas ignoram os sentimentos e as
realizações e idéias do outro que temem poderem aumentar sua vulnerabilidade; sob
essas condições as chances de mal-entendidos e suposições incorretas aumentam
drasticamente. A confiança tem também mostrado ser o mais importante indício de
satisfação profissional individual com a empresa em que a pessoa trabalha.
A confiança se constrói e mantém sobre uma honesta e apropriada base de
transparência, autenticidade e credibilidade. É evidente que a confiança nos negócios
depende, antes de tudo, estabelecer contato emocional com o ouvinte.
-
Inteligência emocional do grupo
Atualmente, a participação no mercado de trabalho americano dos
"trabalhadores do conhecimento", pessoas cuja produção se distingue pela atribuição
de valor à informação, está crescendo a cada dia. E com este trabalhador do
conhecimento o trabalho em equipe se torna essencial, não mais o esforço do
indivíduo.
63
Observa-se que o sucesso de um grupo, o êxito de um trabalho realizado não
se dá analisando o nível do QI das pessoas envolvidas, ou seja não é o QI médio no
sentido acadêmico mas sim a inteligência emocional do grupo. Portanto, deve haver
uma harmonia entre os membros que compõe o grupo. Deve-se evitar em um grupo
para o seu bom desempenho pessoas controladoras ou dominadoras e também as
pessoas que não participam do trabalho, são omissas.
“Um dos importantes fatores para maximização da excelência de um grupo
era o quanto os participantes eram capazes de criar um clima de harmonia interna,
de forma que o talento de cada um fosse aproveitado.” (GOLEMAN, 1995, P.175)
Pois, um ambiente em harmonia propicia a maximização da capacidade criativas e
talentos as de seus membros, assim alcançando melhores resultados.
Um facilitador em ocasiões em que um grupo se depara com problemas
imprevistos é a formação de uma rede de pessoas-chave. Isto é as pessoas que
compõe o grupo investem tempo no cultivo de bons relacionamentos com pessoas
que serviços podem ser necessários numa emergência, formando assim as redes
informais. Estas pessoas praticam aspectos básicos da inteligência emocional, ou seja
lideram na formação de consenso, tem empatia tanto como cliente ou outro membro
do grupo, evita conflitos, promove cooperatividade e toma iniciativas. Assim, estas
aptidões da inteligência emocional serão cada vez mais importantes nos trabalho em
equipe deste mundo globalizado, com transformações tão rápidas é fundamental a
ajuda às pessoas para que aprendam juntas como trabalhar com mais eficiência.
Como afirma Goleman encerrado o seu capítulo sobre a nova forma de se
administrar:
64
“À medida que serviços baseados no conhecimento e no
capital intelectual se tornam mais fundamentais para as
empresas, melhoram maneira como as pessoas trabalham
em equipe será uma grande forma de influenciar o capital
intelectual, o que faz uma crítica diferença competitiva.
Para prosperar, senão para sobreviver, as empresas
deveriam desenvolver sua inteligência emocional coletiva.”
(GOLEMAN, 1995, p.178)
65
CONCLUSÃO
Posso dizer, sem dúvida, que esse trabalho foi imensamente prazeroso, apesar
de um pouco cansativo; onde, através da pesquisa e da leitura pude conhecer e
aprender muito sobre as Múltiplas Inteligências e a Inteligência Emocional.
Verificamos que na Grécia Antiga, Platão já definia o conhecimento como
algo dinâmico, seguido pelos Empiristas, que associavam os pensamentos à
experiência e aos sentidos. Tempos depois, Kant afirmou que a consciência humana
é uma instância formadora, de certo modo independente.
Já os Psicometristas, através da rotação dos fatores dos testes analisados,
contribuíram para a descoberta de outros modelos de inteligência. Entre eles, está
Thrustone, o precursor das Múltiplas Inteligências. Ele foi o primeiro a afirmar a
existência de sete capacidades primárias existentes.
Embora os estudos continuassem, a idéia de QI ainda predominava. Os testes
para sua quantificação foram bastante utilizados na época. O objetivo era investigar e
avaliar as diferenças individuais para predizer o conhecimento humano. Ainda hoje é
utilizado, mas não mais para medir o QI e sim, para melhor compreender o
comportamento, seja em condições clínicas, educacionais, profissionais, pessoais ou
de pesquisa.
Alguns neuropsicólogos, na década de 90, afirmaram que o intelecto está
conectado com uma espécie de flexibilidade do tamanho de um sistema. O mau
funcionamento de uma parte pode prejudicar todo o desempenho cerebral. A partir
dessa perspectiva, Howard Gardner redefiniu o conceito de inteligência baseado nas
origens biológicas da habilidade na resolução de problemas e apresentou a Teoria das
Inteligências Múltiplas. A proposta original sugeria sete inteligências, mas o número
pode ser maior ou menor, Segundo a Teoria, existem várias inteligências
funcionando em uma combinação. Para Gardner, o sistema nervoso funciona como
uma orquestra, de modo que as respostas raramente interferem uma com as outras,
resultando numa experiência unificada.
66
A inteligência está associada diretamente à capacidade de resolução de
problemas, cruciais num ambiente cultural. O ponto central da teoria é a não
existência de apenas uma capacidade mental, mas sim várias, funcionando em plena
combinação, explicada pelas diversas áreas de atuação na sociedade.
Gardner baseou essa Teoria em estudos rigorosos envolvendo a pesquisa do
desenvolvimento de diferentes habilidades em crianças normais e superdotadas,
adultos com lesões cerebrais, populações ditas excepcionais e como ocorreu o
desenvolvimento cognitivo através dos tempos. Sendo assim, nota-se o envolvimento
sério e amplamente pautado em constatações, que foram a base das proposições
desse estudo.
Todos os indivíduos possuem certas habilidades básicas em todas as
inteligências, como parte de sua bagagem genética. A linha de desenvolvimento de
cada inteligência será determinada tanto por fatores genéticos quanto por condições
ambientais.
O ser humano é muito pouco capacitado em controlar suas emoções, o que
leva a tomar atitudes impulsivas, pois em momentos decisivos, com muita tensão,
ocorre uma ascendência do coração sobre a razão. Como destaca o psicólogo Daniel
Goleman quando lança o seu livro Inteligência Emocional, em 1995, dando uma
nova visão quanto o papel das emoções em nossas vidas.
O indivíduo deve, primeiramente, aprender a reconhecer as suas emoções,
pois assim, sabendo o que está realmente sentindo poderá então aprender a trabalhar
com esta de forma inteligente. Sentimentos como a raiva, ira, ódio, inveja, existem e
continuaram existindo, mas quando tomamos conhecimento de qual sentimento
realmente estamos envolvidos, nos preparamos para trabalhar com este de forma
positiva. Quando fingimos que sentimentos negativos não existem, eles tendem a
crescer dentro de nós e quando explodem leva-nos a tomar atitudes que normalmente
não tomaríamos.
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Este aspecto da vida é tão importante, que mesmo pessoas com alto Q.I. de
inteligência tem o seu sucesso limitado por não saber lidar com as próprias emoções.
O uso das emoções de forma inteligente tem causado mudanças nas empresas, pois
nos últimos anos as organizações têm sofrido grandes transformações com o aumento
da competitividade, redução dos postos de trabalho, o que leva a um crescimento da
concorrência entre os funcionários elevando a pressão no ambiente de trabalho.
Crescendo assim, a necessidade de uma profunda reformulação na maneira de ver a
pessoa humana, que constitui o principal agente na estratégia para garantir o sucesso
dos profissionais e a sobrevivência da organização em meio aos desafios da nossa
época.
As organizações têm consciência, que são compostas de pessoas com vida
própria e estilos diferentes de interagirem com os outros, que se o funcionário estiver
bem será mais produtivo, por isso investem em atividades que promovem a
integração entre os funcionários e levam a um maior auto-conhecimento. Portanto,
criando um ambiente de trabalho onde as pessoas se sintam seguras e motivadas a
crescer e a aprender com os desafios requeridos por suas realizações. Embora, este
processo seja incipiente, necessitando de expansão.
Esta capacidade para tratar as emoções é algo que se pode e deve ser
aprendido, mas não é um curso com carga horária e provas, e sim é um aprendizado
diário onde a prova é o próprio cotidiano, com todos os seus imprevistos e deve
começar a ser aprendido o quanto antes por todos os indivíduos.
Portanto, para conquistarmos uma sociedade mais civilizada para nós e
nossos filhos temos que inserir em nosso aprendizado, na escola da vida, a
inteligência emocional, para que não ocorram situações inusitadas que nos levem a
questionamentos diversos. Aprender a refletir diante das situações, pois a simples
reflexão orienta nossas escolhas da direção da sabedoria. Somos capazes de criar um
mundo melhor, não simplesmente para manter acesa a chama que distingue os seres
humanos de outras espécies. A chama que não se apaga graças à evolução trilhada
pelos caminhos da mente e também pelas sendas amorosas do coração.
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Concluo o meu trabalho com a sensação de missão cumprida e, com certeza,
com uma grande bagagem que será utilizada em minha vida profissional.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CHANGEUX, Jean Pierre. L 'lndividu. Éditions La Découverte e Jornal Le Monde.
ln: O cérebro. Paris, 1985. P. 53-60.
KORNHABER, Mindy L., WAKE, Warren K. Inteligências: múltiplas perspectivas.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1998.
GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999.
PLATÃO. Os pensadores: diálogos. Brasil: Nova Cultural, 1996.
SANTOS, Antônio Raimundo dos. Metodologia científica: a construção do
conhecimento. Rio de Janeiro: 2002.
SCHEFFER, Ruth. Introdução aos testes psicológicos. Rio de Janeiro: Fundação
Getúlio Vargas, 1968.
COOPER, Robert. Inteligência Emocional na Empresa. Rio de Janeiro: Campus,
1997.
FILHO, Alírio; FACIROLLI, Margareth. A Importância da Inteligência Emocional
no Trabalho. Disponível em: http://www.plenitude.com.br.
GARDNER, Howard. Estrutura da Mente: A Teoria das Inteligências Múltiplas.
Porto Alegre: Artes médicas, 1994.
GOLEMAN, Daniel. Inteligência Emocional. Rio de Janeiro: Objetiva, 1995.
INTELIGENCIA EMOCIONAL. Disponível em: http://www.perspectiva.com.
MIRANDA. Roberto Lira. Além da Inteligência Emocional. Rio de Janeiro: Campus,
1997.
BINET, Alfred & SIMON, Theodore. Testes para a medida do desenvolvimento da
inteligência nas crianças. São Paulo: Proprietária, v.10, 1929.
70
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
9
CAPÍTULO I: BREVE HISTÓRICO DA INTELIGÊNCIA
11
CAPÍTULO II: PSICOMETRIA: CONSIDERAÇÕES GERAIS
17
II.1 Testes psicológicos e seus usos
19
II.2 Classificação dos testes psicológicos
20
II.3 Testes de nível mental
21
II.4 Uso tos testes
25
II.5 Controvérsias envolvendo o uso dos testes
26
CAPÍTULO III: O ÓRGÃO CHAMADO CÉREBRO
29
III.1 A organização do cérebro
29
CAPÍTULO IV: TEORIAS RECENTES DA INTELIGÊNCIA
32
IV.1 A teoria das inteligência múltiplas
32
IV.2 O desenvolvimento das inteligências
38
IV.3 Críticas à teoria das inteligências múltiplas
40
CAPÍTULO V: A NATUREZA DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL
V.1 As cinco aptidões principais
CAPÍTULO VI:
EMPRESAS
A
INTELIGÊNCIA
42
47
EMOCIONAL
APLICADA
ÀS
50
CONCLUSÃO
65
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
69
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