UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO VEZ DO MESTRE “Conhecendo as Múltiplas Inteligências e a Inteligência Emocional aplicada às organizações” por Carla Regina Pereira Siqueira Campos Orientadora: Mary Sue Rio de Janeiro 2004/1 2 UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO VEZ DO MESTRE “Conhecendo as Múltiplas Inteligências e a Inteligência Emocional aplicada às organizações” Apresentação de Monografia à Universidade Cândido Mendes como condição prévia para conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu” em Pedagogia Empresarial por Carla Regina Pereira Siqueira Campos 3 AGRADECIMENTOS A Deus que me permitiu terminar este trabalho com muita paz e saúde. Aos meus pais que sempre incentivaram e contribuíram para o sucesso do meu trabalho; sendo muito importantes para meu crescimento como ser humano. Ao meu irmão, Dudu, que sempre me apoiou com seu sorriso amigo. A minha querida avó Hilda, que onde estiver com certeza está me iluminando. A minha grande amiga Maria José que sempre esteve ao meu lado em todos os momentos. Ao meu namorado Ricardo, que de maneira direta e indireta contribuiu para a realização deste trabalho com muita paciência e carinho. A minha orientadora Mary Sue que disponibilizou grande parte do seu tempo para me ouvir e me ajudar no que era preciso. 4 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a pessoas queridas da minha família: Dudu, Maria, Ricardo, e, em especial, a meus pais, que nunca mediram esforços para que meus sonhos se realizassem. Àqueles que, onde estiverem, estão me protegendo e guiando: meus avós. Carla R P S Campos 5 “Se não posso, de um lado, estimular os sonhos possíveis, não devo, de outro, negar a quem sonha o direito de sonhar” Paulo Freire 6 RESUMO As questões desse estudo surgiram há algum tempo, quando, na graduação, muito estudei sobre a Teoria das Inteligências Múltiplas, de Howard Gardner, e onde tive a oportunidade de executar trabalhos práticos tanto nos estágios que realizei quanto na própria Universidade Federal do Rio de Janeiro; obtendo excelentes resultados. Infelizmente não optei por escrever sobre esse tema anteriormente porque, sem arrependimento, conheci, através de palestras, leitura de livros e debates, uma pessoa maravilhosa: Paulo Freire. Por ser um ser brilhante e que muito contribuiu para a Educação Mundial, não poderia deixar de “explorar” sua vida e sua obra. Entretanto tinha certeza que, um dia, estudaria novamente essa teoria: a das Inteligências Múltiplas. E mais glorificante ainda foi poder desenvolver meu trabalho explanando não só essa teoria, como também a importância da Inteligência Emocional aplicada às organizações empresariais. E foi fantástico: com a finalidade de auxiliar os membros das empresas, após conhecer seriamente a Teoria de Gardner, preocupei-me com diversos itens na elaboração deste material, para que os resultados pudessem ser eficazes. Ao longo deste, através da perspectiva intercultural crítica, conheceremos o assunto na íntegra, constataremos os resultados pelos estudos e nos posicionaremos de acordo com a análise apresentada. 7 METODOLOGIA A metodologia utilizada neste trabalho está baseada na leitura sistemática de livros e textos complementares, segundo um estudo eminentemente teórico, baseado na coleta de dados, onde procuro entender quais contribuições são de extrema importância para o desenvolvimento do ser humano. 8 SUMÁRIO INTRODUÇÃO 9 CAPÍTULO I: REVE HISTÓRICO DA INTELIGÊNCIA 11 CAPÍTULO II: PSICOMETRIA: CONSIDERAÇÕES GERAIS 17 CAPÍTULO III: O ÓRGÃO CHAMADO CÉREBRO 29 CAPÍTULO IV: TEORIAS RECENTES DA INTELIGÊNCIA 32 CAPÍTULO V: A NATUREZA DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL 42 CAPÍTULO VI: A INTELIGÊNCIA EMOCIONAL APLICADA ÀS EMPRESAS 50 CONCLUSÃO 65 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 69 ÍNDICE 70 9 INTRODUÇÃO O presente trabalho tem por objetivo estudar as Múltiplas Inteligências e a Inteligência Emocional aplicada às Organizações Empresariais. Ao longo deste, busco perceber a importância dessas Múltiplas Inteligências para o ser humano e suas habilidades dentro das empresas. Com uma metodologia baseada na leitura sistemática de livros, segundo um estudo eminentemente teórico, baseado na coleta de dados, procuro entender quais contribuições são de extrema importância para o desenvolvimento do ser humano. Segundo Gardner (1994), todos temos instrumentos para chegar ao conhecimento, mas não com a mesma intensidade. Aprendemos de formas diferentes. Uns têm mais facilidade de aprender através das imagens, outros através da fala, da música, do movimento, do isolamento ou da cooperação. Cabe a nós cultivar nosso verdadeiro papel: valorizando outras formas de demonstração de competências além dos tradicionais eixos lingüísticos e lógicomatemático. Para que isso aconteça, é necessário que o ser humano pense sobre aquilo que faz e esteja em situação constante de criação ou resolução de problemas. As mais recentes pesquisas nas organizações têm revelado novos critérios de avaliação do ser humano, contrariando paradigmas passados onde se valorizava o conhecimento científico, grau de especialização, enfim o grau de inteligência, o QI, em detrimento dos sentimentos e emoções das pessoas. O ponto incipiente para esta nova abordagem, foi a publicação em 1995 do livro Inteligência Emocional, do psicólogo Daniel Goleman, pois o mesmo comprova através de estudos e pesquisas realizadas por longo tempo e com grande número de pessoas, suas teorias. Assim, também questiono em minha monografia, qual a 10 influência da Inteligência Emocional na vida das pessoas e como ela deve ser aplicada nas empresas. Espero que consiga neste trabalho, expor, de forma clara, as principais questões relacionadas às Múltiplas Inteligências e à Inteligência Emocional, que se forem postas em prática poderão tentar mudar a vida dos seres humanos dentro das organizações. Sem dúvida, o presente estudo não esgota as inúmeras questões que envolvem o tema, mas procura suscitar os principais pontos que emergiram na discussão atual sobre a importância de lidar com as emoções em todas as épocas e áreas da nossa vida em sociedade. 11 CAPÍTULO I BREVE HISTÓRICO DA INTELIGÊNCIA Durante séculos, filósofos e cientistas se preocuparam em definir as áreas do cérebro, que estão associadas a vários tipos de solução de problemas, e compreender a relação entre mente e corpo. Os filósofos gregos ajudaram a fundamentar uma visão de inteligência. A habilidade na lógica, geometria e argumentação era o objetivo central nas escolas estabelecidas por Platão. Assim, inicialmente, aqueles mais preocupados com o estudo da inteligência foram educados num sistema cujo modelo de uma pessoa inteligente era vinculado somente a alguém que dominava os assuntos e habilidades primeiramente formalizados pelos gregos. Platão via o conhecimento como "algo vivo e dinâmico e não um corpo de doutrinas a serem simplesmente resguardadas e transmitidas" (Platão,1996, p.12) Buscando estabelecer fundamentos seguros para o conhecimento e para a ação, Platão desenvolveu teses que tendem a sustentar a realidade no âmbito intemporal e estático. Só depois, seu pensamento irá reabilitar e reabsorver o movimento e a transformação, estabelecendo a síntese entre a tradição eleática (negando a racional idade de qualquer mudança) e a heraclítica (afirmando o fluxo contínuo de todas as coisas). Cerca de vinte séculos depois de Sócrates (discípulo de Platão), foi iniciada a exploração das questões formuladas pelos gregos. Os racionalistas contemporâneos atribuem suas idéias ao francês René Descartes, do século dezessete. Para ele, algumas formas de conhecimento eram inatas. A mente (ou a alma) era imortal e um Dom de Deus. Logo, separada e independente do corpo. No entanto, Descartes 12 entendia que "a luz, os sons, os cheiros, os gostos, o calor e todas as outras qualidades pertencentes a objetos externos conseguiam imprimir nela [ na mente] várias idéias, pela intervenção dos sentidos." (Descartes, 1637/1969, apud, Gardner,1994,p.137) Ele queria provar as verdades filosóficas mais ou menos como se prova um princípio da matemática, através da razão, como no trabalho com números. "A razão é a única coisa capaz de nos levar a um conhecimento seguro, pois nada nos garante que nossos sentidos são confiáveis. " (Gardner, 1995, p.255256) Ele não achava certo duvidar de tudo, mas em princípio, achava que podíamos duvidar de tudo. As idéias de Descartes foram contestadas desde sua época. John Locke contestou a afirmação de um conhecimento inato. Para ele, a mente humana é originalmente vazia, uma folha em branco. A associação de idéias, a capacidade de elaborar pensamentos complexos e raciocínio abstrato, surge do combinar e relacionar idéias obtidas através da reflexão e da sensação. Os empiristas argumentavam que os pensamentos surgem da experiência e da informação sensorial. Contrapondo- se a essas idéias, os racionalistas afirmavam que a mente possuía determinados tipos de conhecimento inato, independentes da experiência e das informações sensoriais. Só quem conseguiu conciliar essas visões opostas foi o filósofo alemão lmmanuel kant. Ele cultivava alguns aspectos racionalistas, afirmando que a mente tem certas propriedades inatas que são independentes das experiências detectadas por nossos sentidos, ao mesmo tempo que está organizada nos modos de espaço e tempo, com percepções organizadas em categorias como causalidade, quantidade e qualidade. Ou seja, em parte também depende da experiência sensorial. Segundo Kant, tanto os sentidos quanto a razão eram muito importantes para a experiência de mundo. Ele achava que os racionalistas atribuíam uma importância exagerada à razão, enquanto os empíricos eram parciais demais ao defender a experiência centrada nos sentidos. Kant afirma que a consciência humana não registra passivamente as impressões sensoriais. Ela também é criativa, uma instância formadora. A própria consciência coloca sua marca no modo como percebemos o mundo. Existem dois elementos que contribuem para o 13 nosso conhecimento do mundo: a experiência dos sentidos e a razão. O material para o nosso conhecimento nos é dado através dos sentidos, mas este material se adapta às características de nossa razão. Uma dessas características, por exemplo, é a de perguntar pelas causas dos acontecimentos. Mas neste ponto, Kant acha que a razão do homem nem sempre pode emitir um julgamento seguro. Era impossível a experimentação sobre a mente, já que ela era um alvo em movimento, mudando até mesmo no próprio momento de estudo. Pesquisas desenvolvidas após a morte de Kant, sobre o sistema nervoso, contestaram a existência de uma base matemática como apoio de uma ciência da atividade mental. Entretanto Helmholtz e demais cientistas demonstraram que os impulsos nervosos eram bastante lentos, viajando num ritmo de aproximadamente 1OOm/s. “Toda atividade mental seja qual for reflexão ou decisão, emoção ou sentimento, consciência de si é determinada pelo conjunto dos influxos nervoso que circulam nos conjuntos definidos de células nervosas, reagindo ou não a sinais exteriores.” (CHANGEUX,1985,p.59) Para esse neurobiólogo, a inteligência não é nada mais do que isso. Ele critica a quantificação global da inteligência partindo do enfoque da utilização dessa medida como uma característica cuja hereditariedade se pretende acompanhar. "Se existe um termo que deveria ser riscado do vocabulário cientifico, é sem dúvida a palavra inteligência." (CHANGEUX,1985,p.59) Apesar do sucesso de experimentalistas na construção de uma base científica para o estudo da mente, as investigações não foram completamente satisfatórias. Charles Darwin, biólogo e pesquisador natural, foi o cientista que mais do que qualquer outro em tempos mais modernos, questionou e colocou em dúvida a visão bíblica sobre o lugar do homem na criação. Sua imensa contribuição, através de 14 sua teoria da evolução, causou grande impacto sobre o estudo da inteligência. Em sua teoria, apresenta três aspectos da vida biológica, explicando a mudança evolutiva: a VARIAÇÃO dentro das espécies, a SELEÇÃO NATURAL a partir dessas variações e a HERANÇA de variações que permitem a adaptação aos meios ambientes. Além disso, argumentou que: “como os animais domesticados podem ser criados para certos tipos de disposição, as forças evolutivas operavam não apenas no corpo humano, mas também sobre as capacidades mentais humanas: a aptidão mental, quase tanto quanto a estrutura corporal... parece ser herdada” (DARWIN, 1871, GARDNER,1994,p.256) Ou seja, afirmou que a inteligência também era herdada. A teoria de Darwin auxiliou no estudo das diferenças individuais da inteligência. Francís Galton, inspirado por seu meio-primo Darwin, apoiou a afirmação de que a inteligência é herdada apesar de tentar excluir as influências ambientais. Seu trabalho revolucionou na aplicação da matemática ao estudo da inteligência. Seu estudo encarava a inteligência como uma capacidade natural sem relacioná-la a diferentes condições como educação ou classe, afirmando que a inteligência seguia a lei do desvio em relação a uma média. Mas frustrou-se ao constatar que as características tendem a flutuar em torno da média, regredindo com o passar das gerações. O psicólogo francês Alfred Binet opondo- se aos testes das habilidades sensoriais de Galton, iniciou sua investigação sob outro enfoque, explorando a compreensão, o julgamento, o raciocínio e a invenção. Com o crescimento da educação em massa na França e as diferentes disposições das crianças em relação à aprendizagem, o Ministério de Instrução Pública da França requisitou Binet para a criação de um teste que pudesse identificar as crianças que “verdadeiramente eram incapazes de bene.ficiar-se da instrução oferecida nas escolas comuns.” (BINET & SIMON,1916,p.9). Binet e Simon 15 acreditavam que diferentes testes exigiam diferentes capacidades, que podiam ser desenvolvidas diferencialmente em crianças também diferentes. Eles avaliavam se uma criança estava trabalhando, no nível, acima ou abaixo das outras. Registrava- se a idade mental e a diferença entre ela e a cronológica. A edição mais célebre de Stanford Binet se iniciou em 1937 com a colaboração do professor Maud Merril, em duas formas equivalentes. A última revisão, efetuada em 1960, conserva todo o essencial da antiga revisão de 1937. Stern desenvolveu, como meio para elucidar o funcionamento mental de crianças de diferentes idades, uma fórmula, que dividindo a idade mental (IM) de uma criança por sua idade cronológica (IC) e depois multiplicando o resultado por 100 (somente para reduzir o ponto decimal), calculava- se o que posteriormente foi chamado de quociente de inteligência, o famoso teste de QI. Binet estudou as diferenças individuais, porque interessava-se pelo desenvolvimento do pensamento das crianças e acreditava que através da mensuração da capacidade, as decisões educacionais poderiam ser melhor encaradas. Anos após os estudos de Binet, um psicólogo americano John Watson junto com Skinner e outros comportamentalistas treinaram organismos para respostas específicas. Nesta teoria do estímulo-resposta (E-R), os comportamentos não resultavam de pensamentos, planos, vontades ou algo parecido mas sim de eventos provenientes do meio ambiente. Até mesmo a linguagem é um estímulo biossocial. Eles afirmavam que o meio ambiente era o cerne das capacidades humanas. Opondose a Locke, viam a mente como uma caixa preta e não como uma caixa vazia. Apesar das críticas experimentalistas, o trabalho de Mendel acerca da hereditariedade explicou popularmente uma série de características, dentre elas a inteligência humana. A herança genética de um organismo (genótipo) pode se expressar de várias maneiras (fenótipo). A expressão fenotípica de uma característica 16 não precisa representar genes isolados. Ela representa alguma combinação de genes e fatores ambientais. Muitos outros pesquisadores descobriram que as capacidades mentais (medidas pelos testes de QI) poderiam ser melhoradas, necessitando-se apenas de um meio ambiente estimulante. 17 CAPÍTULO II PSICOMETRIA: CONSIDERAÇÕES GERAIS A psicometria é uma ciência que estuda os princípios e métodos da medida psicológica, ou seja, uma ciência auxiliar da psicologia. A partir dos estudos já vistos sobre a inteligência, cuja preocupação central era a investigação das diferenças individuais, surgiram os chamados Psicometristas, que exploraram variações na inteligência entre os indivíduos, criando testes psicológicos e executando análises estatísticas de resultados de testes. Tais testes têm sido vistos, por alguns, como instrumento que permite o reconhecimento e avanço de indivíduos capazes de agir socialmente embasados numa medida objetiva. Entretanto, alguns críticos afirmam que os testes de inteligência não medem a experiência, o conhecimento e outros aspectos que permitem o bom funcionamento das pessoas e as resoluções dos problemas em suas vidas cotidianas. Charles Spearman, bastante influenciado por Binet e, mais ainda por Galton, decidiu executar estudos próprios. Com base em pesquisas em escolas, descobriu relações entre as diferentes tarefas sensoriais e matérias acadêmicas, que podiam ser explicadas por uma teoria de dois fatores. O primeiro fator era a Inteligência Geral ou g, um fator usado em todas as tarefas específicas ou s, descrevendo como qualquer capacidade única para executar uma tarefa. Esses fatores não se relacionam nas diferentes tarefas. Ou seja, é a capacidade de deduzir e aplicar relações lógicas entre elementos. Spearman argumentou que uma única entidade (g) podia explicar vários tipos de desempenho intelectual mas alguns não concordaram com tal afirmação, como é o caso de Sir Godfrey Thomson, analista fatorial e psicólogo. Para ele, a maioria dos testes media uma mistura de diferentes processos e não um tipo de fator puro. 18 Os psicometristas debatiam a teoria de dois fatores de Spearman como também discutiam entre si. Tanto os críticos de g como os proponentes concordavam que as análises fatoriais precisavam incorporar fatores grupais. Tais fatores são associados a determinados grupos de testes. Debates envolvendo os fatores de grupo originavam-se das maneiras defensáveis e razoáveis de procedimentos na análise fatorial, embora não exista nenhuma solução matematicamente correta. A maioria dos analistas não baseia suas análises nos componentes originais mas sim, rotam os fatores. Neste curso, alguns tomam-se mais relacionados às variâncias de alguns testes do que outros. Além disso, nem todos os analistas fatoriais baseiam- se nas mesmas técnicas de rotação. Todas essas controvérsias contribuiram para a criação de alguns modelos de inteligência. Dentre os mais importantes, está Louis L. Thurstone, que tentou identificar capacidades mentais separadas e únicas, chamando-as de capacidades mentais primárias. Utilizando métodos de análise fatorial na matriz de correlação resultante, ele afirmou que SETE capacidades primárias independentes explicavam melhor do que um único fator geral, o funcionamento intelectual. As capacidades mentais identificadas por ele foram: - Compreensão verbal - capacidade de compreender informações verbais; - Fluência verbal - capacidade de produzir rapidamente material verbal; - Número - capacidade de fazer cálculos aritméticos rapidamente e resolver problemas aritméticos de palavras; - Memória - capacidade de lembrar tipos diferentes de informações; - Velocidade perceptual - velocidade no reconhecimento de símbolos e objetos; 19 - Raciocínio indutivo - compreensão de idéias a partir de exemplos específicos; - Visualização espacial - capacidade de rotar objetos, resolver problemas e visualizar formas. Essas capacidades primárias não incluíam g, mas posteriores análises de pesquisadores garantiram que g poderia ser extraído das capacidades primárias. Muitos analistas fatoriais britânicos, como E. P. Vemon seguem a tradição britânica de Spearrnan, tendo um modelo onde g é proeminente. Já nos Estados Unidos, pesquisadores como Thurstone, Guilford e Hom e Cattell adotaram modelos em que fatores mais estreitos explicam o desempenho nos testes, diminuindo a importância de g. II.1 Testes psicológicos e seus usos Seres humanos diferem entre si com respeito às suas características psicológicas. Os testes são os instrumentos usados pelos profissionais da psicologia para a investigação e avaliação dessas diferenças individuais. Eles visam não apenas conhecer aspectos da personalidade, como também predizer o comportamento humano, base que foi revelado na situação do teste. Os testes psicológicos são aplicados em diversos campos da Psicologia, com finalidades teóricas e práticas, como por exemplo para: - Diagnóstico clínico: investiga e identifica distúrbios emocionais, neuroses e psIcoses; 20 - Orientação educacional: investiga as características e capacidades dos escolares com o objetivo de facilitar seu ajustamento e aproveitar do melhor modo suas potencialidades; - Orientação profissional: fornece dados a respeito das possibilidades e tendências vocacionais do indivíduo, para que ele possa escolher uma profissão de acordo com suas características; - Seleção de pessoal: escolha de candidatos que se adequem a função específica; pesquisas: os testes são os instrumentos de pesquisa mais utilizados pelos psicólogos. Os testes também podem ser usados nas pesquisas médicas, antropológicas e sociológicas. II.2 Classificação dos testes psicológicos Há diversos tipos de testes que são, em grande maioria, descritos em termos do relativo contraste ou dicotomia existente entre eles. Entre os mais usados estão: - Testes de lápis e papel em oposição a testes de execução: as respostas podem ser registradas pelo examinando ao invés de uma mera realização de tarefa; - Testes em oposição a inventários: o julgamento é feito pelo examinando. Os inventários eram julgados com base em respostas certas e erradas, como na maioria dos testes, como as provas de personalidade e de interesse; - Teste objetivo em oposição a teste projetivo: é o famoso questionário, onde há sempre um estímulo determinado ao invés do vago estímulo do teste projetivo onde a interpretação está baseada nas respostas dadas ao estímulo apresentado pelo teste; - Testes individuais em oposição a testes coletivos: aplicados individualmente, conforme o nome já diz, e aqueles aplicados em grupos. Nesses casos, especificamente, há vantagens e desvantagens. 21 Vantagens dos testes individuais: a) ser aplicados a indivíduos especiais ou crianças menores de 4 anos; b) permitem melhor observação da conduta do examinando. Vantagens dos testes coletivos: a) economia de tempo; b) não exige grande prática do aplicador; c) não sofrem a influência do estado de espírito do examinador; d) maior facilidade de apuração. II.3 Testes de nível mental Alguns testes de inteligência foram desenvolvidos a partir dos estudos realizados pelos psicometristas. Dentre os mais famosos, estão: 1) Escalas de Binet, que revisadas foram nomeadas de teste Stanford- Binet ou Binet-Terman: o princípio geral usado para a padronização é fazer coincidir, no nível considerado intelectualmente médio, a idade cronológica (I. C.) com a idade mental (I. M.), resultando um Q. I igual a 100. Idade Mental = (I.M.) = Q.I (I.C.) Tabela de Terman para classificação dos QIs Superior a 140 - Inteligência genial De 120 a 140 - Inteligência muito superior De 110 a 120 - Inteligência superior De 90 a 110 -Inteligência normal ou média De 80 a 90 - Inteligência rude- raramente classificada como debilidade mental De 70 a 80 - Inteligência deficiente -no limite de normalidade - classificada às 22 vezes como rudeza e mais a miúdo como debilidade mental Inferior a 70 - Debilidade mental Considerando que o nível intelectual não se desenvolve continuamente na idade adulta, o critério de comparação não é válido para este grupo. As críticas feitas a este tipo de teste demonstram a inadequação para avaliar os adultos, sendo mais satisfatório para crianças de 5 a 10 anos e a padronização é julgada deficiente, já que a grande maioria das crianças testadas durante a amostra eram da Califónia. Sendo, assim, pouco representativa. 2) Escalas Wechsler- Bellevue: são testes individualmente administrados que estão entre os mais aplicados. As escalas foram introduzidas por David Wechsler em 1939. Elas refletem as experiências de Wechsler com os testes Army Alpha e Army Beta, cuja porção verbal utiliza a linguagem e o conhecimento obtido através da experiência (Alpha) e a porção restante utiliza representações pictóricas e atividades tipo solução de problemas, que dependem menos da linguagem (Beta). Wechsler acreditava que a inteligência envolvia persistência, motivação e valores morais e estéticos, entre outros aspectos. Logo, seus testes não refletiam a "inteligência": “...as capacidades requeridas para realizar essas tarefas não constituem, em si, a inteligência, e também não representam as únicas maneiras pelas quais ela pode se expressar. Elas são usadas e servem como testes de inteligência porque demonstraram correlacionar- se com outros critérios amplamente aceitos de comportamento inteligente.” (WECHSLER,1971, GARDNER,1994, p. 93) 23 Wechsler tentou planejar um teste de inteligência que permitisse aos indivíduos demonstrar uma amplitude maior de forças e fraquezas do que os testes do exército e outros testes anteriores de inteligência permitiam. Além dos componentes "g" e "s" de Spearman, havia uma série de fatores extra-intelectuais chamados por ele de X e z. Até então, esses fatores eram isolados, mas o autor insistia em incluí-los nas escalas, uma vez que faziam parte de uma determinada atividade mental. No caso dos adultos, um teste de nível mental é tanto menos válido quanto menos mede os fatores X e z. Tratando-se da mensuração da inteligência do adulto, torna-se menos possível a apuração do grau integral de inteligência, através de um teste de nível mental que não focalize os múltiplos aspectos e a complexidade de que se compõe. O critério adotado foi estatístico, chamado de poínt escale, calculando e classificando o Q.I. do indivíduo por meio do sistema de Erro Provável. O Q.I. pode ser transformado em percentil sendo a última classificação mais usada para determinar o nível mental. A concepção da inteligência como uma atividade múltipla, levou David Wechsler a escolher uma série de itens de natureza diversa, que avaliassem todos os possíveis aspectos da inteligência. Tais itens foram pré-elaborados e, depois das primeiras apurações, foram conservados apenas aqueles que discriminavam, de um modo definitivo, as pessoas de mais alto nível mental das que possuíssem um nível menos alto. Inúmeros itens foram retirados após várias experiências, por não serem considerados suficientemente válidos e fidedignos. O teste Wechsler-Bellevue é composto de 11 subtestes, distribuídos assim: verbais (informação; compreensão; aritmética; números; semelhanças; vocabulário) e execução (complementação de figuras; arrumação de figuras; reunião de objetos; mosaicos; símbolos numéricos). Geralmente, os portadores de lesão cerebral, esquizofrênicos1 e neuróticos2 tendem a obter mais alto escore nos testes verbais do que nos de execução. As personalidades psicopáticas3 e deficientes mentais geralmente obtêm escores mais altos nos testes de execução. O neurótico, usualmente, fracassa nos testes que exigem esforço imediato. Já personalidades psicopáticas fracassam na arrumação de figuras. 24 Em 1955 esses testes foram revisados. A nova edição é conhecida como Wechsler Adult Inteligence Scale ou WAIS e não introduz nenhum princípio novo em sua orientação. As modificações foram efetuadas em algumas partes do seu conteúdo, na extensão da amostragem, e no aperfeiçoamento das instruções, aplicação e apuração. 2) Matrizes Progressivas de Raven: teste produzido por John Raven, aluno de Charles Spearman. Esse tipo de teste requer que o examinando analise, compare e resolva analogias baseadas em figuras abstratas organizadas num padrão de matriz. Pode ser administrado a um grupo ou individualmente e não é prescrito nenhum limite de tempo. Os escores brutos de um indivíduo no teste, baseado no número de problemas de matriz corretamente resolvidos, são comparados com os escores de outros da mesma idade num grupo de norma. Uma vez que o teste consiste unicamente em figuras não-representacionais, ele é considerado como menos dependente da educação formal e da experiência cultural. Já que não envolve a linguagem, eventualmente, é preferido para ser utilizado com crianças, pessoas idosas e pessoas com dificuldade de linguagem. As vantagens desse tipo de teste referem-se à facilidade de aplicação, economia de tempo e material e ampla margem de aplicação: crianças, adultos, estrangeiros, iletrados, etc. 1 Esquizofrenia: estado patológico caracterizado por uma ruptura do contato com o mundo ambiente; afastamento da realidade e pensamento autístico. 2 Neurose: transtorno mental que não afeta as funções essenciais da personalidade, das quais o sujeito está dolorosamente consciente. 3 Psicose: doença mental grave caracterizada pela perda de contato com a realidade e alteração fundamental do vínculo inter-humano, causa da inadaptação social do sujeito. Ao contrário do neurótico, consciente de suas dificuldades pessoais, o psicótico ignora seus transtornos, isolando-se do mundo exterior. Cria para si um universo provado que modela à sua vontade e no qual é onipotente. 25 Entretanto, alguns críticos apontam para a avaliação apenas de um aspecto de capacidade intelectual e, apesar da variedade dos desenhos, o teste é monótono por englobar, invariavelmente, o mesmo processo intelectual. II.4 Uso dos testes Os testes podem ser usados com muitas finalidades: A) Para PROGNOSTICAR: um teste preciso, e válido, pode ser um instrumento para predizer o êxito ou fracasso na futura profissão. Na orientação profissional, os testes são, em geral, instrumentos de prognóstico. B) Para DIAGNOSTICAR: podem indicar as possíveis falhas numa determinada área. Baseado nos resultados, o educador, por exemplo, pode organizar grupos homogêneos de alunos ou organizar grupos seguindo determinadas normas específicas. C) Para MOTIVAR: quando bem organizados, os testes motivam a aprendizagem concreta. Quando um aluno sabe que vai ser interrogado de maneira concreta, ele mesmo vai se motivar e procurar meios de melhorar nos seus estudos. D) Para melhorar o CURRÍCULO ESCOLAR: os testes podem melhorar os programas escolares fornecendo uma visão mais científica dos avanços obtidos na educação. Nem todos os testes são igualmente úteis para todos os propósitos. Um teste precisa satisfazer os padrões contemporâneos de fidedignidade e validade, ser examinado com relação a várias formas de tendenciosidade e usar as normas atualizadas. Podem ocorrer problemas com os testes, mas esses podem derivar-se de 26 razões externas, ou seja, da interpretação e uso dos resultados. O objetivo dos Psicometristas não se resume à mensuração das diferenças entre indivíduos mas também à análise dos resultados dos testes para futuros estudos entre os grupos. II.5 Controvérsias envolvendo o uso dos testes Desde a Segunda Guerra Mundial até o final dos anos 60, as discussões sobre as diferenças grupais basearam-se nas explicações ambientais, ignorando as bases biológicas da inteligência. Muitos críticos afirmaram que o Q.I. aumentou nos últimos anos e que suas diferenças entre grupos étnicos e raciais diminuíram. Esses fatos questionam as afirmações sobre a imutabilidade da mensuração da inteligência. Existem especulações que influenciam a inteligência e, ainda, outros fatores, como relacionados à pobreza e ao crime, a considerando como uma significativa contribuição. Porém, observamos que os testes de inteligência, quando independentes, não podem dar respostas ao indivíduo, por mais confiáveis e válidos que sejam. Os Psicometristas argumentam que mesmo sem análise fatorial, os testes correlacionam-se de modo prático. Além disso, os escores de Q.I., representando g, correlacionam-se com outras medidas relacionadas à inteligência, tais como escores em testes de realização, anos de escola e status ocupacional. Embora alguns pesquisadores afirmem que g não é apenas um dado estatístico, ainda não está claro se g reflete velocidade, eficiência ou alguma outra propriedade ou inclusive combinações de propriedades. 27 Algumas atitudes, ou ainda, posições, são tomadas diante dos testes. Como por exemplo: - Os testes são infalíveis nos seus diagnósticos e nos seus prognósticos. Essa atitude, mais do que errada, poderia ser classificada de ingênua. - Os testes não valem nada. É uma posição extremista, porque supõe um desconhecimento do que, na realidade, é uma prova psicológica. Durante a análise e construção das provas psicológicas, nunca devemos esperar tudo, muito menos valorizar exageradamente os testes. Isto, porém, não quer dizer que não valem para nada. - Os testes são instrumentos de medida. Como todo instrumento psicológico, são imperfeitos. O valor do instrumento está em que vale e para o que vale. Os testes que visam somente um diagnóstico talvez sejam pouco interessantes, ou ainda, sem utilidade. Entretanto, se visam à solução de um problema pessoal, como instrumento para elaboração de melhores programas escolares ou então obter um melhor ajustamento do cliente ao seu trabalho profissional, escolar ou social, os testes demonstram eficácia. Não basta que o teste seja apenas um instrumento psicológico, mas também um instrumento preciso e válido. O uso e a interpretação da testagem da inteligência para propósitos educacionais ou outros propósitos de políticas sociais estão longe de ser simples (Gardner, 1994, p.105). 28 Apesar dos avanços nos métodos estatísticos e no desenvolvimento dos testes, as controvérsias permanecem, porque, apesar de os testes produzirem escores, e esses escores poderem ser fidedignos e válidos, a interpretação dos testes e seus usos integram um ambiente social e político em constante mudança. Assim, mesmo que 9 meça algo real, como muitos cientistas atualmente acreditam, ele não oferece uma orientação segura para a realização das capacidades dos indivíduos na sociedade a qual pertencem, interagem e modificam a todo instante. 29 CAPÍTULO III O ÓRGÃO CHAMADO CÉREBRO O cérebro humano, juntamente com suas extensões através do sistema nervoso, é o lugar de toda a experiência e vida mental. Somente nos dois últimos séculos é que os estudiosos dirigiram seu interesse pela mente humana ao órgão chamado cérebro. O início do século dezenove ficou marcado com o surgimento da frenologia, uma linha de estudos desenvolvida por anatomistas, como por exemplo Franz Joseph Ga1l e Johann Kaspar Spurzheim. Eles acreditavam que as pistas importantes para o intelecto humano vinham do tamanho e forma do crânio humano (que refletiam o cérebro que nele estava alojado). A forma da frenologia foi desacreditada pois seus meios de avaliar os atributos humanos não eram mais desenvolvidos do que seus meios primitivos de medir partes relevantes do crânio. Posteriormente, descobriu-se que um notável escritor chamado Anatole France tinha um dos menores cérebros já registrados, e que muitos indivíduos "idiotas" tinham cérebros grandes. Sendo assim, foi difícil aceitar as formas mais ingênuas da frenologia. III.1 A organização do cérebro Desde a época de Gall e Spurzheim, nosso conhecimento sobre o cérebro humano aumentou muito. Demonstrando de um modo mais simples, o cérebro humano pode ser dividido em duas grandes seções ou hemisférios cerebrais, popularmente conhecidos como "cérebro esquerdo" e "cérebro direito". Nesses 30 hemisférios podem ser identificadas 40 ou 50 regiões facilmente delineáveis (e centenas de áreas menores, mas ainda reconhecíveis). Até a década de sessenta, as funções desta parte do cérebro eram estabelecidas por métodos bastante grosseiros. Podíamos identificar as funções dos hemisférios esquerdo e direito apresentando sinais simultaneamente para ambas as metades do cérebro, e então comparando a velocidade de exatidão das respostas do indivíduo a esses sinais concorrentes. Tais estudos revelaram, por exemplo, que, nos indivíduos destros, o hemisfério esquerdo é "dominante" para sinais lingüísticos, e que o hemisfério direito tem "dominância" comparável para sons musicais e outros não-verbais auditivos. Ou seja, na maioria dos indivíduos, a maior parte do processamento lingüístico ocorre nas regiões centrais do córtex esquerdo. Já o processamento da música e dos ruídos ocorre em regiões comparáveis do hemisfério direito. Os indivíduos canhotos apresentam um quadro mais complexo: a maioria deles tem as mesmas representações corticais dos destros. Mas cerca de um terço dos canhotos apresenta o quadro oposto: eles processam os sons lingüísticos principalmente em seu hemisfério direito (dominante), e os sons não-lingüísticos principalmente em seu hemisfério esquerdo (não- dominante). Graças ao trabalho pioneiro de David Hubel, Torsten Wiesel e outros (Hubel,1979; Hubel & Wiesel,1972, Gardner, 1994,pág.154), foi desenvolvida uma tecnologia que permite uma determinação bem mais específica das funções cerebrais. A determinação da especificidade surpreendente do sistema nervoso constituiu um avanço importante. Crenças anteriores de que qualquer parte do sistema nervoso era capaz de executar qualquer função, ou que todas as partes do sistema nervoso era capaz de executar qualquer função, ou que todas as partes do sistema nervoso funcionam igualmente ou de modo equivalente foram seriamente contestadas. Segundo Gardner, o sistema nervoso não funciona como um conjunto de milhares de centros isolados que "se desligam" quando queremos. Pelo contrário, o 31 sistema nervoso funciona como uma orquestra, de modo que as respostas raramente interferem umas com as outras. O comportamento humano é organizado, intencional e integrado. John Eccles, Prêmio Nobel, diz: "O nosso cérebro é uma democracia de dez bilhões de células nervosas, e no entanto nos proporciona uma experiência unificada". (ECCLES,1965, GARDNER, 1994, p. 155) Alguns neuropsicólogos, como Marcel Kinsbourne (1993), afirmam que a inteligência não é uma função dos lobos parietais, frontais ou de qualquer outra região específica. Em vez disso, a pessoa é inteligente na extensão em que tem, no todo, uma máquina em bom funcionamento. Segundo essa visão, o intelecto está conectado com uma espécie de fluência ou flexibilidade do tamanho de um sistema, e não com o funcionamento superior ou inferior de alguma engrenagem ou peça específica na "máquina neural". O desempenho pode ser prejudicado pelo mau funcionamento de uma parte que é importante para o transporte da informação; podemos incapacitar qualquer máquina simplesmente desconectando-a da tomada. Mas dizer que a função mecânica crítica na verdade está no plugue é cometer um erro de raciocínio. Um funcionamento adequado reflete a operação fluente e confiável de muitas partes. O estudo da inteligência precisa ser suficientemente amplo para abranger os pontos de vista abordados, embora aparentemente diferentes, mas talvez finalmente conciliáveis. Como muitos estudiosos concordam, a questão não é “biologia versus cultura” ou “hereditariedade versus meio ambiente”, e sim como pensar melhor sobre a interação dos dados de cada par. 32 CAPÍTULO IV TEORIAS RECENTES DA INTELIGÊNCIA As recentes reconceitualizações da inteligência tentam explicar alguns dos achados psicométricos e do processamento da informação. Apesar dos valiosos objetivos, nenhuma das recentes reconceitualizações possui dados experimentais ou outros dados confirmatórios como possuem as abordagens que elas estão questionando. As teorias são idéias novas e provocativas. E aqui está uma delas... a Teoria das Inteligências Múltiplas. IV.l A Teoria das Inteligências Múltiplas Não podemos iniciar este estudo sem antes falar quem é Howard Gardner. Trata-se de um professor norte- americano, psicólogo especialista em educação e neurologia, pela Universidade de Harward. Publicou vários livros sobre seus estudos a respeito das inteligências múltiplas. Gardner é um crítico implacável dos testes de QI e de aptidão escolar. A proposição de sua teoria em 1983 foi um desafio direto à visão clássica da inteligência como uma capacidade inata, geral e única, que permite aos indivíduos uma performance, maior ou menor, em qualquer área de atuação. Sua insatisfação com a idéia de QI e com visões unitárias de inteligência focalizam sobretudo as habilidades importantes para o sucesso escolar, o que levou Gardner a redefinir inteligência à luz das origens biológicas da habilidade para resolver problemas. Através da avaliação de atuações de diferentes profissionais em diversas culturas, e do repertório de habilidades dos seres humanos na busca de soluções, culturalmente apropriadas, para os seus problemas, Gardner trabalhou no sentido inverso ao 33 desenvolvimento, retroagindo para eventualmente chegar às inteligências que deram origem a tais realizações. Ele observa que a visão unitária foi contestada bem antes de ele propor sua teoria. Por exemplo, L. L. Thurstone (1938) e outros psicometristas afirmaram que o intelecto humano inclui várias capacidades mentais. No entanto, as evidências utilizadas por Gardner para comprovar suas idéias são muito diversas das usadas pelos psicometristas. Em essência, a teoria não está tão preocupada em apresentar padrões de escores em testes psicométricos quanto em explicar a variedade de papéis adultos existentes nas diferentes culturas. Gardner define inteligência como a: "capacidade de resolver problemas ou criar produtos que são importantes num determinado ambiente cultural ou comunidade" (GARDNER, 1993,p. 15). Em sua apresentação original da teoria, Gardner propôs sete dessas inteligências, mas observou que pode haver um número maior ou menor. O ponto essencial é que não existe apenas uma capacidade mental subjacente. Ao invés, várias inteligências, funcionando em uma combinação, necessárias para explicar como os seres humanos assumem papéis diversos. Em suas pesquisas antecedentes à teoria, ele estudou: (a) desenvolvimento de diferentes habilidades em crianças normais e crianças superdotadas; (b) adultos com lesões cerebrais e como estes não perdem a intensidade de sua produção intelectual, mas sim uma ou algumas habilidades, sem que outras sejam sequer atingidas; (c) populações ditas excepcionais, tais como idiot-savants e autistas, e como os primeiros podem dispor de apenas uma competência, sendo bastante incapazes nas demais funções cerebrais, enquanto as crianças autistas apresentam ausências nas suas habilidades intelectuais; (d) como se deu o desenvolvimento cognitivo através dos milênios. 34 Embora influenciado por Piaget, distingui-se de seu colega de Genebra na medida em que Piaget acreditava que todos os aspectos da simbolização partem de uma mesma função semiótica, enquanto ele acredita que processos psicológicos independentes são empregados quando o indivíduo lida com símbolos lingüísticos, numéricos, gestuais ou outros. Para Gardner, uma criança pode ter um desempenho precoce em uma área e estar na média ou mesmo abaixo da média em outra. Ele descreve o desenvolvimento cognitivo como uma capacidade cada vez maior de entender e expressar significado em vários sistemas simbólicos utilizados num contexto cultural, e sugere que não há uma ligação necessária desenvolvimento" retroagindo para eventualmente chegar às inteligências que deram origem a tais realizações. Gardner sugere, ainda, que as habilidades humanas não são organizadas de forma horizontal. Ele propõe que se pense nessas habilidades como organizadas verticalmente, e que ao invés de haver uma faculdade mental geral, como a memória, talvez existam formas independentes de percepção, memória e aprendizado, em cada área ou domínio, com possíveis semelhanças entre as áreas, mas não necessariamente relação direta. Ao analisar e sintetizar suas fontes de evidência, Gardner defende sete inteligências, organizadas assim: 1. Inteligência lingüística: os componentes centrais desta inteligência são a sensibilidade para os sons, ritmos e significados das palavras, além de uma especial percepção das diferentes funções da linguagem. É a habilidade para usar a linguagem para convencer, agradar, estimular ou transmitir idéias. Gardner indica que é a habilidade exibida na sua maior intensidade pelos poetas. Em crianças, esta habilidade expressa-se através da capacidade em contar histórias originais ou para relatar, com precisão, experiências vividas. 35 2. Inteligência musical: esta inteligência se manifesta através de uma habilidade para apreciar, compor ou reproduzir uma peça musical. Inclui discriminação de sons, habilidade para produzir e/ ou reproduzir música. A criança pequena com habilidade musical especial percebe desde cedo diferentes sons no seu ambiente e, freqüentemente, canta para si mesma. Estudos neuropsicológicos e outros estudos do cérebro mostram que as áreas cerebrais dedicadas ao processamento da música são distintas daquelas destinadas ao processamento da linguagem. Componentes cruciais do processamento da informação incluem tom, ritmo e timbre (qualidade do som). 3. Inteligência lógico-matemática: é normalmente associada a sensibilidade para padrões, ordem e sistematização. É a habilidade para explorar relações, categorias e padrões, através da manipulação de objetos ou símbolos, e para experimentar de forma controlada; é a habilidade para lidar com séries de raciocínios, para reconhecer problemas e resolvê- los. É a inteligência característica de matemáticos e cientistas. Gardner, porém, explica que embora o talento científico e o talento matemático possam estar presentes num mesmo indivíduo, os motivos que movem as ações dos cientistas e dos matemáticos não são os mesmos. Enquanto os matemáticos desejam criar um mundo abstrato consistente, os cientistas pretendem explicar a natureza. A criança com especial aptidão nesta inteligência demonstra facilidade para contar e fazer cálculos matemáticos e para criar notações práticas de seu raciocínio. 4. Inteligência espacial: Gardner descreve a inteligência espacial como a capacidade para perceber o mundo visual e espacial de forma precisa. É a habilidade para manipular formas ou objetos mentalmente e, a partir das percepções iniciais, criar tensão, equilíbrio e composição, numa representação visual ou espacial. É a inteligência dos artistas plásticos, dos engenheiros e dos arquitetos. Em crianças pequenas, o potencial especial nessa inteligência é percebido através da habilidade para quebra-cabeças e outros jogos espaciais e a atenção a detalhes visuais. Mesmo que as habilidades lógico-matemáticas e espaciais se desenvolvam a partir da percepção e de objetos, a pesquisa neurológica apóia a autonomia da inteligência espacial. A inteligência espacial é "controlada" pelo cérebro. Ela requer o 36 funcionamento intacto dos lobos parietal e temporal direitos, e conexões entre essas e outras regiões do cérebro. 5. Inteligência corporaI-cinestésica: esta inteligência se refere à habilidade para resolver problemas ou criar produtos através do uso de parte ou de todo o corpo. É a habilidade para usar a coordenação grossa ou fina em esportes, artes cênicas ou plásticas no controle dos movimentos do corpo e na manipulação de objetos com destreza. A criança especialmente dotada na inteligência cinestésica se move com graça e expressão a partir de estímulos musicais ou verbais demonstra grande habilidade atlética ou uma coordenação fina apurada. Os fundamentos biológicos dessa inteligência são complexos. Eles incluem coordenação entre sistemas neurais, musculares e perceptuais. A existência de uma inteligência corporal-cinestésica é apoiada pelas apraxias -síndromes neurológicas tipicamente relacionadas à lesão no hemisfério esquerdo. Pessoas com apraxias são incapazes de realizar seqüências de movimentos, de compreender um pedido de que realizem uma seqüência de executar cada movimento dessa seqüência. Gardner especula que o desenvolvimento da inteligência corporal-cinestésica avança de reflexos iniciais, como sugar, para atividades cada vez mais intencionais, para a capacidade de imitar e criar, usando o movimento. 6. Inteligência intrapessoal: esta inteligência é o correlativo interno da inteligência interpessoal, isto é, a habilidade para ter acesso aos próprios sentimentos, sonhos e idéias, para discriminá-los e lançar mão deles na solução de problemas pessoais. É o reconhecimento de habilidades, necessidades, desejos e inteligências próprios, a capacidade para formular uma imagem precisa de si próprio e a habilidade para usar essa imagem para funcionar de forma efetiva. Como esta inteligência é a mais pessoal de todas, ela só é observável através dos sistemas simbólicos de outras inteligências, ou seja, através de manifestações lingüísticas, musicais ou cinestésicas. Mais recentemente, Gardner (1993c, apud Gardner, 1994, pág.221) enfatizou o papel desempenhado por essa inteligência para permitir que os indivíduos construam um modelo acurado de si mesmos e utilizem esse modelo para tomar boas decisões em suas vidas. Assim, essa inteligência pode agir como uma 37 "agência central de inteligências", permitindo que os indivíduos conheçam as próprias capacidades e percebam a melhor maneira de usá-las. 7. Inteligência interpessoal: esta inteligência pode ser descrita como uma habilidade para entender e responder adequadamente a humores, temperamentos, motivações e desejos de outras pessoas. Ela é melhor apreciada na observação de psicoterapeutas, professores, políticos e vendedores bem sucedidos. Na sua forma mais primitiva, a inteligência interpessoal se manifesta em crianças pequenas como a habilidade para distinguir pessoas, e na sua forma mais avançada, como a habilidade para perceber intenções e desejos de outras pessoas e para reagir apropriadamente a partir dessa percepção. Crianças especialmente dotadas demonstram muito cedo uma habilidade para liderar outras crianças, uma vez que são extremamente sensíveis às necessidades e sentimentos dos outros. O funcionamento das inteligências pessoais está ligado aos lobos frontais do cérebro. Se essa área sofre um dano, a motivação e as respostas do indivíduo podem ficar prejudicadas, mesmo que a capacidade de desempenho num teste de QI continue inalterada. Na vida cotidiana, aparentemente é difícil diferenciar as inteligências pessoais. No entanto, evidências de suas autonomias surgem no estudo das patologias que afetam cada uma. Por exemplo, a inteligência interpessoal parece estar ausente em crianças autistas, e há doenças psicopatológicas em que um indivíduo pode estar profundamente consciente dos sentimentos e motivações alheios, embora seja incapaz de compreender os próprios. A todo esse "elenco" o professor Nílson Machado, doutor em Educação pela Universidade de São Paulo, onde leciona desde 1972, inclui ainda a competência pictórica que se manifesta em qualquer criança através de seus desenhos ou outros signos pictóricos, ainda antes que a linguagem escrita lhe seja acessível. Presente em grandes pintores, é típica do cartunista cujos personagens "falam" por suas expressões não verbais. Em sua última visita ao Brasil, em 1997, Gardner afirmou estar estudando a hipótese de mais uma inteligência: a naturalista. Ela se refere à habilidade humana de reconhecer objetos na natureza. Ou seja, a capacidade de distinguir plantas, animais, rochas. Segundo ele, áreas específicas do cérebro entram 38 em ação quando precisamos nos valer dessa habilidade. Ele cita Charles Darwin neste estudo, como possuidor dessa inteligência em nível muito elevado. Segundo o pesquisador brasileiro, Prof. Nílson Machado, o que importa não é o número de inteligências, o importante é a noção de que o ser não pode ser avaliado apenas por uma ou duas de suas capacidades. Ele deve ser considerado por inteiro. O Professor não tem o objetivo de reescrever ou criticar a obra de Gardner, somente partiu da teoria criada por este, para desenvolver seus próprios estudos. IV.2 O desenvolvimento das inteligências Na sua teoria, Gardner propõe que todos os indivíduos, em princípio, têm a habilidade de questionar e procurar respostas usando todas as inteligências. Todos os indivíduos possuem, como parte de sua bagagem genética, certas habilidades básicas em todas as inteligências. A linha de desenvolvimento de cada inteligência, no entanto, será determinada tanto por fatores genéticos e neurobiológicos quanto por condições ambientais. Ele propõe, ainda, que cada uma destas inteligências tem sua forma própria de pensamento, ou de processamento de informações, além de seu sistema simbólico. Estes sistemas simbólicos estabelecem o contato entre os aspectos básicos da cognição e a variedade de papéis e funções culturais. A noção de cultura é básica para a Teoria das Inteligências Múltiplas. Com a sua definição de inteligência como a habilidade para resolver problemas ou criar problemas ou criar produtos que são significativos em um ou mais ambientes culturais, Gardner sugere que alguns talentos só se desenvolvem porque são valorizados pelo ambiente. Ele afirma que cada cultura valoriza certos talentos, que devem ser dominados por uma quantidade de indivíduos e, depois, passados para a geração seguinte. 39 Segundo Gardner, cada domínio, ou inteligência, pode ser visto em termos de uma seqüência de estágios: enquanto todos os indivíduos normais possuem os estágios mais básicos em todas as inteligências, os estágios mais sofisticados dependem de maior trabalho ou aprendizado . A seqüência de estágios se inicia com o que Gardner chama de habilidade de padrão cru. O aparecimento da competência simbólica é visto em bebês quando eles começam a perceber o mundo ao seu redor. Nesta fase, os bebês apresentam capacidade de processar diferentes informações. Eles já possuem, no entanto, o potencial para desenvolver sistemas de símbolos. O segundo estágio, de simbolizações básicas, ocorre aproximadamente dos dois aos cinco anos de idade. Neste estágio, as inteligências se revelam através dos sistemas simbólicos. Aqui, a criança demonstra sua habilidade em cada inteligência através da compreensão e uso de símbolos: a música através de sons, a linguagem através de conversas ou histórias, a inteligência espacial através de desenhos, etc. No estágio seguinte, a criança, depois de ter adquirido alguma competência no uso das simbolizações básicas, prossegue para adquirir níveis mais altos de destreza em domínios valorizados em sua cultura. À medida que as crianças progridem na sua compreensão dos sistemas simbólicos, elas aprendem os sistemas que Gardner chama de sistemas de Segunda Ordem, ou seja, a grafia dos sistemas ( a escrita, os símbolos matemáticos, a música escrita, etc.). Nesta fase, os vários aspectos da cultura têm impacto considerável sobre o desenvolvimento da criança, uma vez que ela aprimorará os sistemas simbólicos que demonstrem ter maior eficácia no desempenho de atividades valorizadas pelo grupo cultural. Assim, uma cultura que valoriza a música terá um maior número de pessoas que atingirão uma produção musical de alto nível. Finalmente, durante a adolescência e a idade adulta, as inteligências se revelam através de ocupações vocacionais ou não- vocacionais. Nesta fase, o 40 indivíduo adota um campo específico e focalizado, e se realiza em papéis que são significativos em sua cultura. IV.3 Críticas à Teoria das Inteligências Múltiplas Gardner foi criticado, principalmente pelo teórico Scarr por elaborar essas inteligências baseado na premissa de que a psicologia considera a inteligência como uma capacidade unitária refletida por escores de QI. Segundo ele, os psicólogos não acreditam que o QI reflete o universo das capacidades humanas, mas o avalia como uma amostra do desempenho intelectual, sendo de grande utilidade para estudos ocupacionais e acadêmicos. Rotular como inteligências capacidades diversas, não faz avançar o conhecimento da inteligência, da personalidade ou de áreas de capacidades especiais, como música e movimento. Talvez Gardner tenha pecado ao rotular como inteligência algumas características humanas. As afirmações de Gardner em defesa das várias inteligências são motivadas mais por considerações sociais do que científicas. Pelo menos duas críticas também foram feitas à afirmação de Gardner de que as inteligências são autônomas. Primeiro, décadas de pesquisa psicométricas indicam que as capacidades se correlacionam positivamente; nenhuma capacidade intelectual tradicionalmente medida é totalmente distinta das outras. Segundo Gardner, para compreender se as inteligências são autônomas, precisaria usar medidas que permitissem que as pessoas usassem materiais e meios mais relevantes para aquela inteligência. O segundo argumento contra a autonomia das inteligências origina-se da noção de que várias inteligências precisam ser utilizadas juntas por uma função executiva que coordena o papel das diferentes inteligências na execução de uma determinada tarefa. Em contraponto, Gardner afirma que a inteligência interpessoal 41 poderia cumprir esta função coordenadora. Para os críticos essa afirmação “cheira um pouco a g”. Gardner também foi criticado por não oferecer um programa claro para educadores usarem na implementação da teoria das Inteligências Múltiplas nas escolas. Talvez devido a esse fato, mais recentemente, Gardner tem se dedicado especialmente a seus projetos em Harvard, assim como em livros que tratam especialmente da implementação em instituições educacionais, embora afirme que as IM não devem ser o objetivo de uma escola. O papel delas é funcionar como instrumentos para alcançar objetivos educacionais. O currículo deve refletir os objetivos da escola e, de forma mais ampla, os da sociedade. Em geral, o currículo trata de um número muito grande de temas, por isso os alunos acabam se desinteressando pelas aulas. O ideal é trabalhar com um número pequeno de assuntos e, conseqüentemente, com mais profundidade. Quando se focalizam poucos temas de estudo, fica mais fácil usar as IM e ajudar os estudantes a entender melhor o que está sendo tratado. Todo tema pode ser estudado de seis ou sete maneiras, usando-se, por exemplo, histórias, números, trabalhos de arte, projetos de grupo, experiências práticas e outros recursos. A teoria influi no currículo à medida que diversifica o modo de transmitir conhecimentos. Além disso, amplia o próprio conceito de conhecimento. Todo esse trabalho não pode ser implementado de maneira aleatória. Pelo contrário, deve ser estudado, programado e avaliado cuidadosamente para que não haja exageros. 42 CAPÍTULO V A NATUREZA DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL Nos tempos atuais de mundo globalizado, poder se expressar adequadamente e com facilidade pode ser decisivo para o sucesso pessoal. Ao contrário do que se valorizava no passado, o conhecimento técnico, raciocínio lógico e habilidades matemáticas e espaciais (QI) está deixando de ser o principal e exclusivo critério de avaliação do sucesso de uma pessoa, dando lugar a um novo que está cada vez mais importante: a inteligência emocional. Inteligência Emocional, a tese científica que foi publicada em outubro de 1995, pelo psicólogo americano, Ph.D de Harvard, Daniel Goleman onde este apresenta este novo conceito para inteligência mostrando que para o indivíduo obtenha sucesso não depende do QI que possui, mas da sua capacidade de controlar as suas emoções, esta capacidade é essencial para o desenvolvimento da inteligência no indivíduo. O autor procura demonstrar a influência da inteligência emocional na vida das pessoas usando para isso fatos reais, firmados em ampla pesquisa científica. Procura ainda mostrar o que pode ser feito para evitar problemas cotidianos que podem surgir do simples desentendimento e ainda nos fornece uma visão científica sobre como a emoção age no corpo humano. Pois para o psicólogo a maior questão de sua tese é: "como podemos levar inteligência às nossas emoções, civilidade as nossas ruas e envolvimento à nossa vida comunitária?" Goleman declara em seu livro ser um guia: “eu atuo como um guia numa viagem pelo entendimento científico acerca das emoções, uma viagem que visa a levar maior compreensão a alguns dos mais intrigantes momentos de nossas vidas e do mundo que nos cerca. O fim da jornada é entender O que significa -e como- levar inteligência à 43 emoção. Essa compreensão, por si só, pode ajudar em certa medida; levar a cognição para o campo do sentimento tem um efeito meio parecido com o impacto sofrido pelo observador no nível do quantum na física, que altera o que observa.” (GOLEMAN, 1995) Assim, participa-se desta viagem observando alguns conceitos, como detalhase a diante. Pode-se definir a inteligência emocional como o comportamento do indivíduo frente a sociedade, incluindo seu relacionamento com outras pessoas, reações a situações diversas e capacidade de contornar problemas da maneira mais adequada possível. Mas para melhor explicar esta definição observa-se um exemplo usado por Goleman em seu terceiro capítulo, do livro Inteligência Emocional, onde ele narra a história de um professor de física do segundo grau, David Pologruto, que foi esfaqueado na clavícula pelo aluno Jason que havia tirado nota 8,0 em uma prova, o que poderia prejudicar a sua idéia fixa de entrar na faculdade de medicina em Harvard. Diante do fato contudo, um juiz considerou o aluno inocente, afirmando que este estava privado das suas faculdades mentais na hora do incidente. Estes dois anos após ser inocentado se formou como um dos primeiros lugares da turma. Diante deste fato, e muitos outros que se verifica no dia-a-dia, Goleman questiona como uma pessoa tão inteligente possa ter agido com tamanha estupidez e ele afirma que “a inteligência acadêmica pouco tem a ver com a vida emocional. As pessoas mais brilhantes podem se afogar nos recifes de paixões e dos impulsos desenfreados; pessoas com alto nível de QI podem ser pilotos incompetentes de sua vida particular.” Assim, Goleman apresenta a relação de QI e sucesso, ele aceita que a na maioria das vezes há uma relação entre QI e as circunstâncias de vida, ou seja pessoas de baixo QI teriam empregos medíocres e pessoas com alto QI teriam melhores empregos. Contudo, a inúmeras exceções à esta regra onde numa estatística 44 otimista o QI representa 20% dos fatores que determinam o sucesso na vida. Os autores de The Bell Curve, Richard Herrnstein e Charles Murray atribuem ao QI uma importância fundamental para o sucesso, entretanto eles mesmos reconhecem que há outros fatores determinantes além do QI como afirmam: " A ligação que existe entre aferições e aquelas realizações é reduzida pela totalidade de outras características que ele traz para a vida." Portanto, Goleman afirma: “tem sua preocupação no conjunto fundamental dessas outras características, a inteligência emocional: por exemplo, a capacidade de criar motivações para si próprio e de persistir num objetivo apesar dos percalços; de controlar impulsos e saber aguardar pela satisfação de seus desejos; de se manter em bom estado de espírito e de impedir que ansiedade interfira na capacidade de raciocinar; de ser empático e autoconfiante. Ao contrário do QI, com seus quase cem anos de história de pesquisa junto a milhares de pessoas, a inteligência emocional é um conceito novo. Ninguém pode ainda dizer exatamente até onde responde pela variação, de pessoa para pessoa, no curso da vida. Mas os dados existentes sugerem que esse tipo de inteligência pode ser tão ou mais valioso que o QI. E, embora haja quem argumente que através da experiência ou do aprendizado não exista muita possibilidade de se alterar o QI, ...,que as aptidões emocionais decisivas, na verdade, podem ser aprendidas e aprimoradas já na tenra idade -se nos dermos ao trabalho de ensina-las.”(GOLEMAN, 1995, p.48) Quando se analisa que pessoas com igualdade de condições intelectuais, de escolaridade e de oportunidade possuirão destinos diferentes, pois estas reagiram de forma diferenciada às vicissitudes da vida. 45 “Apesar de um alto QI não ser nenhuma garantia de prosperidade, prestígio ou felicidade na vida, nossas escolas e nossa cultura privilegiam a aptidão no nível acadêmico, ignorando a inteligência emocional, um conjunto de traços alguns chamariam de caráter -que também exerce um papel importante em nosso destino pessoal. A vida emocional é um campo com o qual se pode lidar, certamente como matemática ou leitura, com maior ou menor talento, e exige seu conjunto de aptidões. E a medida dessas aptidões numa pessoa é decisiva para compreender por que uma prospera na vida, enquanto outra, de igual nível intelectual, entre num beco sem saída: a aptidão emocional é uma metacapacidade que determina até onde podemos usar bem quaisquer outras aptidões que tenhamos, incluindo o intelecto bruto” (GOLEMAN, 1995, p.48) Pois, as pessoas com prática emocional bem desenvolvida têm mais probabilidade de se sentirem satisfeitas e de serem eficientes em suas vidas, do minando os hábitos mentais que fomentam sua produtividade; as que não conseguem exercem nenhum controle sobre sua vida emocional travam batalhas internas que sabotam a capacidade de concentração no trabalho e de pensar com clareza. Os sociólogos verificam que, em momentos decisivos, ocorreu uma ascendência do coração sobre a razão, o corpo é estimulado e o sistema emocional é o primeiro a agir. Pois estes pesquisas afirmam que as nossas emoções nos orientam diante de situações inusitadas e quando temos de tomar providencias importantes demais para serem resolvidas unicamente pelo intelecto. Por exemplo em situações, como: perigo, dor causada por uma perda, na ligação com um companheiro. Desta forma, declara Goleman que fomos longe demais quando enfatizamos o valor e a importância do puramente racional -do que mede o QI -na vida humana. 46 Pois deste modo, uma resposta de um sistema emocional desequilibrado poderia agravar ainda mais uma determinada situação. Durante esses poucos milésimos iniciais, o cérebro cognitivo sofre uma espécie de seqüestro, pois sua ação demora mais tempo para concretizar-se. Um efeito ainda mais devastador pode ocorrer dependendo da reação que as pessoas tem sob determinados estímulos. Quando uma pessoa explode em ira, fatalmente virá a sentir ainda mais ira. Uma resposta mais empática provavelmente faria com que essa pessoa se sentisse melhor consigo mesma e com a outra que provocou a situação estimulante. Além desta vantagem, pessoas com desequilíbrio emocional tendem a ter mais doenças do coração, derrames cerebrais ou depressão. Deve-se observar a essência das emoções que são impulsos, legados pela evolução pra uma ação inusitada, para planejamentos instantâneos que objetivam a lidar com a vida. “A própria raiz da palavra emoção é do latim movere 'mover' -acrescida do prefixo 'e', que denota 'afastar-se', o que indica que em qualquer emoção (raiva, medo, felicidade, amor, surpresa, repugnância, tristeza) está implícita uma propensão para um agir imediato. Essa relação entre emoção e ação imediata fica bem clara quando observamos animais ou crianças; é somente em adultos' civilizados' que tantas vezes detectamos grande anomalia no reino animal: as emoções -impulsos arraigados para agir- divorciadas de uma reação óbvia.” (GOLEMAN, 1995, p.20) 47 V.1 As cinco aptidões principais - Autoconsciência -refere-se a consciência de seus próprios sentimentos no momento exato em que eles ocorrem, ou seja, como Goleman declara em seu quarto capítulo, a recomendação de Sócrates – “Conhecer-te a ti mesmo”, sendo este mandamento a pedra de toque da inteligência emocional. Portanto, é a capacidade de controlar os sentimento a cada momento em que vivemos que é imprescindível para o discernimento emocional e para a auto-compreensão. Entretanto, a incapacidade de observar nossos sentimentos mais verdadeiros nos vulneráveis a eles. Quando se é seguro em relação aos seus próprios sentimentos, direciona-se melhor a vida, tem uma consciência maior de como se sente em relação a decisões pessoais. Há pessoas, contudo, que embora possuem sentimentos não consegue identifica-los, não conseguem expressar em palavras, é o que se pode dizer umas pessoas com alexitímicos. Falta-lhes a aptidão imprescindível da inteligência emocional, a autoconsciência, o saber o que se sente enquanto as emoções revolvem dentro de nós. Pois, quando conseguimos colocar em palavras o que sentimos, este sentimento fica sobre controle. - Lidar com as emoções -o autocontrole tem como pré-requisito o auto conhecimento. Desde Platão esta aptidão tem sido vista como uma virtude. Na Grécia clássica, essa aptidão era denominada de sophrosyne, ou seja, “preocupação e inteligência na condução da própria vida; equilíbrio e sabedoria”. (GOLEMAN,1995,p.69) Ou seja, é a capacidade de controlar (administrar) os impulsos, evitando pré-julgamentos e pensando antes de agir. Portanto, esta capacidade de gerenciar os sentimentos -onde os sentimentos mais fortes do homem são a tristeza, a alegria e a raiva são fundamentais saber lidar com eles. É essencial para reverter a agressividade de outras pessoas e quebrar situações de tensão As pessoas que sabem controlar suas emoções são aquelas que obtém mais sucesso na vida. - Motivação -Esta qualidade e traduzida por otimismo. Os otimistas são capazes de alcançar as metas acordadas, pois põe as emoções a serviço da meta sendo fundamental para centrar a atenção, para a automotivação e a maestria, e a 48 criatividade. Como base para qualquer tipo de realização está o autocontrole emocional, o saber adiar a satisfação e conter a impulsividade. Os otimistas sabem encontrar saídas e superar dificuldades, eles acham que sempre há uma solução. Não atribuem eventuais fracassos a problemas pessoais, mas a circunstâncias externas, que poderão ser contornadas em situações futuras. “Os otimistas vêem um fracasso como devido a algo que pode ser mudado, para que possam vencer da próxima vez, enquanto os pessimistas assumem a culpa pelo fracasso, atribuindo-o a alguma imutável característica pessoal. Essas diferenças justificativas têm profundas implicações sobre como as pessoas reagem à vida. Por exemplo, como resposta a uma decepção como a rejeição num emprego, os otimistas tendem a reagir ativa e esperançosamente, formulando um plano de ação, por exemplo, ou buscando ajuda e aconselhamento; vêem o revés como uma coisa que pode ser remediada. Os pessimistas, ao contrário, reagem a esses reveses supondo que nada podem fazer para que as coisas melhorem na próxima vez, e, portanto, nada fazem em relação ao problema; justificam os reveses por alguma falha pessoal que sempre os perseguirá.” (GOLEMAN, 1995, p.101) - Reconhecer emoções nos outros -a empatia é muito importante, isto é, captar os sentimentos dos outros. A empatia é fundamental nas pessoas é a aptidão pessoal mais importante, segundo Goleman. Esta habilidade de “tratar”, relacionar-se com as pessoas, compreender suas emoções, agindo de acordo com o momento. Entretanto, para ser empático é preciso estar calmo. Para isso acontecer dois fatores são fundamentais: postura interior de “deixar os problemas em casa” ou de “não levar problemas para a sala de reunião ou para o contato com o cliente ou para”... e 49 ambiente de trabalho adequado, proporcionado pela gerencia. Outro ponto fundamental e a capacidade de dar e receber feedback logo que um problema e percebido e quando estiver calmo. É preciso evitar que o problema se propague, e isso só pode ser feito através de uma conversa franca, calma e oportuna. Deve-se evitar explosões, que são causadas quando um problema não é resolvido logo, e sua repetição vai provocando, gradativamente, uma degradação do relacionamento. - Lidar com relacionamentos -a aptidão social é a capacidade de lidar com emoções em grupo, de manter os relacionamentos, reforçando as afinidades e descobrindo os pontos em comum. São aptidões que reforçam a popularidade, a liderança e a eficiência interpessoal. Traduz-se em "poder de persuasão". E a base de toda a capacidade de uma equipe gerar bons resultados. As pessoas que desenvolvem bem esta aptidão tem facilidade em qualquer coisa que depende de interagir tranqüilamente com os outros, Goleman as chamam de estrelas sociais. 50 CAPÍTULO VI A INTELIGËNCIA EMOCIONAL APLICADA AS EMPRESAS A partir da década de 80, devido as pressões da globalização e das inovações tecnológicas houve uma mudança no cenário empresarial e conseqüentemente no cenário emocional das pessoas, inclusive relacionado a vida profissional destas. Como já observamos as mais recentes pesquisas nas organizações têm indicado novos critérios de avaliação do ser humano, já não importa apenas o quanto somos inteligentes, intelectualmente falando, nem a nossa formação ou o nosso grau de especialização, mas principalmente a maneira como lidamos com nós mesmos e com os outros. Além disso, indicam que as habilidades humanas são as qualidades inerentes aos profissionais de sucesso, razão da excelência no trabalho -muito particularmente para os cargos de liderança. Há dados que apontam para a necessidade de levar o assunto a sério, dados baseados em estudos sobre dezenas de milhares de pessoas que trabalham em todos os tipos de atividades e organizações. Estes dados garantem que não é uma novidade passageira, nem a mais recente "receita de bolo" para gerenciar. Goleman apud Filho (2001), em seu livro Trabalhando com Inteligência Emocional afirma que: “Numa época em que não há garantia de estabilidade no emprego, e quando o próprio conceito de emprego vem sendo rapidamente substituído pelo de habilidades portáteis -aquelas que as pessoas podem utilizar em diferentes 51 contextos profissionais, trata-se de qualidades fundamentais para obtermos emprego. Por muitas décadas, falou-se vagamente sobre essas habilidades, que eram chamadas de temperamento e personalidade ou habilidades interpessoais (habilidades ligadas ao relacionamento entre as pessoas, como empatia, liderança, otimismo, capacidade de trabalho em equipe, de negociação e etc. ), ou ainda competência. Atualmente, há uma compreensão mais precisa desse talento humano, que ganhou o nome de inteligência emocional.” (GOLEMAN, 2001) O fim da empregabilidade e a valorização do trabalho têm exigido níveis cada vez maiores de especialização da parte de empresas e dos funcionários. No cerne de todas essas mudanças, cresce a necessidade de uma profunda reformulação na maneira de ver a pessoa humana, que constitui o principal agente na estratégia para garantir o sucesso dos profissionais e a sobrevivência da organização em meio aos desafios da nossa época. Nas duas últimas décadas, tem aumentado o número de empresas que investem no bem-estar e na satisfação dos seus funcionários, beneficiando amplamente o delicado campo dos relacionamentos e, por conseqiiência, a produtividade. Seja através de vivências alternativas -como aulas de ioga, de ginástica, de musicoterapia, biodanza e etc., de atividades de autoconhecimento ou que promovam maior integração, tais empresas estão conscientes do seu papel enquanto entidades não separadas dos indivíduos que a compõem. Desenvolvem e aperfeiçoam uma visão mais ampla do funcionário, considerando que ninguém poderá dar o melhor de si se não apresentar um mínimo de harnlonia com seus pensamentos e sentimentos. 52 Em certas organizações, por exemplo, a recompensa pelos bons serviços prestados pode vir não como aumento de salário, mas sob a forma de uma prazerosa e inesquecível viagem que inclua toda a família do funcionário exemplar. Um prêmio desse tipo marca a história do casal e dos seus filhos de modo muito especial e afetivo, favorecendo a imagem da empresa, elevando a satisfação de trabalhar nela e o grau de comprometimento com os seus ideais. Qualquer estrutura que reúna várias pessoas deve, inevitavelmente, criar condições ideais para o trabalho em equipe. Sabe-se que é bem maiores a eficiência e a produtividade entre pessoas trabalhando juntas; entretanto, quando levamos em conta as suas diferenças naturais, começamos a ter outra perspectiva dos bloqueios de personalidade que geralmente dificultam a cooperação. O fato é que cada um de nós tem sua vida particular, suas capacidades e o seu estilo próprio de interagir com os outros. E hoje, mais do que nunca, não se deve confiar apenas no raciocínio lógico para resolver nossas diferenças e, assim, cumprir as metas da organização para a qual trabalhamos. Chegamos ao campo da aptidão emocional ou capacidade para lidar bem com os nossos sentimentos e também com os sentimentos das demais pessoas. Sem ela, o indivíduo estará sujeito a conflitos internos que tiram a sua concentração no trabalho e comprometem a sua clareza de pensamento e a sua produtividade; pode ter a sua memória afetada e dificuldade para tomar decisões com objetividade. Manter-se consciente dos próprios sentimentos, permanecendo atento ao que se está sentindo, também é uma aptidão emocional básica que auxilia o desenvolvimento da integridade e leva a pessoa a descobrir satisfação no seu trabalho. Igualmente importante é saber sintonizar com os sentimentos daqueles com quem nos relacionamos no ambiente profissional, procurando aprender a lidar com as divergências antes que elas cresçam. Observe que pessoas muito influentes numa empresa não só têm consciência dos seus sentimentos como demonstram uma percepção intuitiva do que motiva seus chefes, colegas de trabalho e funcionários. 53 Entretanto, no mundo dos negócios, é comum encontrar profissionais guiados por uma lógica e objetividades excepcionais, mas sem qualquer habilidade para os temas de origem emocional, para as questões do coração. Em parte, isto se deve a crença obsoleta de que a intimidade representa o risco de substituir os interesses da organização pelos interesses pessoais, interferindo na produtividade. Ou que manter o distanciamento afetivo não compromete a tomada de decisões duras quando a presente situação dos negócios não permite outra saída. Assim como a relação de custo-benefício proporcionado pela inteligência emocional é uma idéia relativamente nova no mundo empresarial. Observamos que algumas atitudes passadas são completamente obsoletas, como comentado, portanto quando verificamos uma pesquisa realizada na década de 70, onde 250 executivos afirmaram que no ambiente de trabalho deveriam usar mais a cabeça que ao coração, acreditavam que empatia e solidariedade com as pessoas com as quais trabalhavam poderiam pô-los em atritos com as metas da empresa. Diante da nova realidade competitiva e do crescente nível de exigência dos clientes, torna-se inevitável a aplicação da inteligência emocional no local de trabalho e no mercado, sendo uma condição indispensável ao planejamento das habilidades empresariais no que se refere à liderança, gestão e organização. Do contrário, o destino das empresas no atual momento de mudanças estruturais estará irremediavelmente comprometido. As organizações não podem mais ignorar a força representada pelas pessoas que a integram, que, na melhor das hipóteses, deve compor-se de funcionários competentes, atualizados, ágeis e inovadores. Contudo, a orientação moderna para o sucesso pressupõe que as organizações saibam criar um ambiente de trabalho onde as pessoas se sintam seguras e motivadas a crescer e a aprender com os desafios requeridos por suas realizações. As aptidões emocionais estão trazendo mudanças radicais nos ambientes das organizações, já que não há mais dúvida de que as relações interpessoais entre os 54 seus profissionais constituem um fator prioritário à conquista da excelência em todas as esferas. Lógica e intuição prometem fazer a parceria definitiva no paradigma da empresa do terceiro milênio. Portanto para se adquirir uma vantagem competitiva, destacam-se algumas aptidões emocionais: o diálogo, a crítica, a diversidade, a confiança e a inteligência emocional do grupo. - O diálogo Uns dos pilares da inteligência emocional é a capacidade de se relacionar, como já visto, e dentro de uma organização isto também é essencial, e o relacionamento esta intimamente ligado ao diálogo. O diálogo começa através de uma valorização recíproca, e não a conversa vazia e polida. A palavra diálogo deriva do grego antigo diálogo, que significa o livre fluir de idéias entre as pessoas. Isto é que os negócios necessitam cada vez mais, e com urgência. Estudos demonstram que líderes com alto QE não escondem seus sentimentos, mesmo seus medos, angústias e sofrimentos. Eles o admitem abertamente de forma natural. Jay Conger, apud Cooper, professor na Harvard Bussiness School afirma que: “Os líderes que acumulam mais recursos para o futuro são aqueles que aumentam sua capacidade de expressividade emocional -um ingrediente-chave para a determinação, a persuasão e a inspiração.” (GOLEMAN, 1997, P.98) De modo geral, acreditamos que falar consiste em emitir palavras, dirigi-las a outras pessoas. Todavia, para um diálogo genuíno o oposto que é verdadeiro. Nessas interações, deve-se convidar a outra pessoa a entrar em seu mundo, em sua mente e em seu coração e assim concretizar um diálogo e mostrando respeito ao interlocutor e pelo diálogo em si. 55 Pois, tanto para liderar ou ter sucesso, a vida exige que nos empenhamos em perceber, e entender efetivamente o que os outros sentem e percebem, sob a superfície das palavras. A coragem de falar é realmente uma marca do líder e ajuda a pessoa a conquistar o respeito dos outros. Contudo, para olharmos um líder nos olhos e expressar com firmeza uma questão ou opinião claramente contrária requer um forte sentido interior de igualdade humana -competência emocional. Assim, algumas vezes o que nos impede de envolver- nos no diálogo autêntico é o medo. Medo de se expor a riscos, de revelar nossos verdadeiros sentimentos, expor nossas vulnerabilidades...Entretanto, como afirma w. Edwards Deming, apud Cooper, “ninguém alcança seu melhor desempenho sem se sentir seguro. A palavra seguro vem do latim se, que significa sem e cure, que significa medo. Seguro significa sem medo, sem temor de expressar idéias, sem temor de fazer perguntas.” (COOPER, 1997, pág.105) Muitas pessoas ficam receosas em envolver-se num diálogo aberto e honesto, pois tem medo de apegar-se a raivas e ressentimentos do passado sobre deficiências, afrontas ou erros do trabalho. Para livrar-se desta raiva e medo tem que ter a capacidade de perdoar, que é uma qualidade da competência emocional. É fundamental entender que perdoar é alguma coisa que se faz para liberar a parte de si mesmo que está presa ao pesar e à raiva, e mesmo o ódio. Ou seja, perdoar é liberar a energia aprisionada que poderia estar atuando positivamente em outro lugar . Através da gratidão ajuda-se a si mesmo e aos outros, pois livra-se da resistência e do medo. Como afirma Robert Cooper, Ph D, consultor de Executivos, em seu livro Inteligência Emocional na Empresa diz que: “ os líderes excepcionais lideram com gratidão, eles a expressam em primeiro lugar porque perceberam que essa é uma maneira essencial de melhorar a vida organizacional e sabem que o sentimento 56 de apreciação pode retomar para eles em dobro. Esse interesse pelo outro é crucial para o diálogo autêntico. Precisamos estar presentes, importar-nos com o outro, compartilhar idéias. E isso pode ser vantajoso de muitas formas em nossas atividades empresariais.” (COOPER, 1997, p.106) - Considerações sobre o diálogo Na prática de dialogar Cooper faz algumas considerações: - Quando participar de uma discussão ou reunião, ouça atentamente e seja claro em relação ao seu propósito. Esta atitude poupa tempo e gera relacionamentos mais fortes, na maioria das vezes. Em grupo, é fundamental ampliar sua intuição e captar o sentimento dos outros e pretendendo e após fazer perguntas esclarecedoras para ver se alcançou o alvo; - Valorize a coerência e fale abertamente quando ela não estiver presente; - Adote códigos de grupo para compartilhar sentimentos e esclarecimentos; - Reaja com interesse a novas idéias -deixe de lado sua intuição crítica e demonstre uma curiosidade e consideração sincera, se desejar levantar algum questionamento, o faça. Assim, sem causar animosidade, usa-se o QE para oferecer à pessoa uma oportunidade de examinar a própria idéia, demonstrando seus pontos fortes e fracos e julgando com independência. Desta forma, ajuda-se a preservar -e mesmo a fortalecer -sentimentos de orgulho e entusiasmo que são tão vitais se você mesmo, e outros que trabalham com você, almejarem continuar a novas idéias; - Escreva uma carta do seu privado para seu ser público. 57 - A crítica O administrador tem como uma das tarefas mais importantes a crítica, e neste sentido, esta é muito temida e preterível. O que ocorre é que a maneira como as críticas são feitas e como são recebidas revela até que ponto as pessoas estão satisfeitas com seu trabalho, com os que trabalham com elas e a chefia. Muitas vezes as críticas são expostas como ataques pessoais mais do que como reclamações específicas a partir das quais alguma atitude possa ser tomada; há agressões emocionais sobrecarregadas de repugnância, sarcasmo e descaso, esse tipo de atitude ocasiona uma reação defensiva, ou seja, uma fuga das responsabilidades que levam ao contato com a pessoa que fez a crítica, uma fuga daquele tipo de sentimento novamente, isto é, ser injustamente tratado. Quando a crítica é pessoal, generalizada, exemplo: "você está estragando tudo", inviabiliza qualquer tipo de argumentação e sugestão de como fazer melhor. E provocam na pessoa criticados sentimentos de impotência e rancor. Dentro da concepção de inteligência emocional, essa crítica demonstra desconhecimento acerca dos sentimentos que serão provocados naqueles que a recebem e do efeito devastador que esses sentimentos terão em sua energia, motivação e segurança na execução do trabalho. No ambiente organizacional não deve haver demora no feedback, como afirma J.R. Larson, apud Goleman, psicólogo da universidade de Illinois: “A maioria dos problemas no desempenho de um empregado não surge de repente; desenvolve-se com o tempo. Quando o chefe não diz imediatamente o que sente, isso leva a um lento acúmulo de frustração. E aí, um dia explode. Se a crítica tivesse sido feita antes, o empregado poderia ter corrigido o problema. Muitas vezes, as pessoas criticam apenas quando a coisa transborda, quando ficam iradas 58 demais para conterem-se. E aí que fazem a crítica da pior forma, num tom de sarcasmo mordaz, com um monte de reclamações que guardaram para si ou fazem ameaças. Esses ataques são como um tiro que sai pela culatra. São recebidos como afronta, e quem os recebe fica, por sua vez, com raiva. É a pior maneira de motivar alguém.” (GOLEMAN, 1995, p.167) - Habilidades para criticar Ao criticar não se deve identificar um traço do caráter da pessoa, mas sim se focalizar no que a pessoa fez e no que pode fazer. Pois, quando focalizamos o caráter, tocamos em algo que a pessoa considera imutável em si mesmo e a leva a desilusão. Todavia, quando consideramos as circunstancias, estas são mutáveis e podemos interferir com a finalidade de mudar para melhor . O psicanalista e consultor de empresas Harry Levison aborda os seguintes aspectos da crítica, na visão de quem critica, que está intimamente ligada à arte do elogio: - Seja específico -dizer que alguma coisa está errada, não acrescenta, deve-se concentrar nos detalhes, informando a pessoa criticada o que está certo, o que está errado e o por que está errado; - Ofereça uma solução -para pessoa criticada não se sentir desmotivada, frustrada ou desmoralizada, a crítica deve ser acompanhada por uma solução/sugestão para o resolver o problema, assim como todo feedback útil; - Faça a crítica pessoalmente - é indevido o uso de memorando ou praticas semelhantes, as pessoas que a recebem devem ter a oportunidade de responder ou prestar esclarecimentos; 59 - Seja sensível - a empatia é fundamental ao se criticar deve-se estar sintonizado com o impacto que irá provocar com o que diz e como o diz sobre a pessoa a quem se dirige; Contudo, a pessoa que é criticada também deve estar atento a sua postura diante da critica. Assim, Levison, apud Goleman, dá alguns conselhos emocionais para pessoa criticada: “Um deles é vê-la como uma informação valiosa para aprimorar o seu , próprio trabalho, e não como um ataque pessoal. Outro é manter vigilância sobre o impulso para cair na defensiva, em vez de assumir a responsabilidade. E, caso seja muito perturbador, peça para continuar a conversa mais tarde, após o período necessário para a absorção da mensagem difícil e para esfriar um pouco. Finalmente ele aconselha as pessoas a verem a crítica como uma oportunidade de trabalhar junto com que critica, para resolver o problema, e não como uma emulação.” (GOLEMAN, 1995, p.169) - Ambiente organizacional e a diversidade A diversidade ambiente profissional é algo proveitoso, pois possibilita uma força de trabalho diversificada, com diferentes costumes, práticas, cultura o que deve ser transformado em criatividade. Contudo, sentimentos preconceituosos podem inibir esta criatividade já que pessoas expostas ao preconceito, independente da forma, podem se sentir coagidas e evitarem a ser expor para evitar o preconceito, da mesma forma que a criticada de forma errada. 60 Entretanto, acabar com os sentimentos preconceituosos dentro das organizações não é tarefa fácil, porém necessário. Isto ocorre porque os preconceitos são um tipo de aprendizado emocional que ocorre na tema idade, assim dificultando eliminar este tipo de reação, mesmo em pessoas que, quando adultas, acham errado tê-las. “Os sentimentos preconceituosos se formam na infância, ao passo que as crenças usadas para justificá-las vêm depois... Mais tarde, você pode não querer mais ser preconceituoso, mas, é muito mais fácil mudar crenças intelectuais que sentimentos arraigados. Muitos sulistas me confessam, por exemplo, que, embora racionalmente não mais tenham preconceitos, sentem nojo quando apertam a mão de um negro. Esses sentimentos são resíduos do que aprenderam em casa quando eram crianças.” (GOLEMAN, 1995, p.171) Muitas vezes o preconceito vem disfarçada, de maneira mais sutil, a pessoa negam atitudes racistas mesmo quando agem com preconceito encoberto, exemplo quando se defrontam dois candidatos um negro e outro não com as mesmas qualificações, se escolhe o branco alegando que a experiência ou formação não é muito adequada. O preconceito deve ser banido das organizações e para isso deve-se tomar posição ativa contra qualquer forma de discriminação, dos mais altos aos mais baixos escalões da administração. Os preconceituosos não vão embora, mas os atos de preconceito podem ser sufocados, caso não haja tolerância. O simples fato de chamar o preconceito de preconceito ou protestar contra ele, no momento em que ele ocorre, faz com que os preconceituosos se sintam desestimulados a agirem desta forma, contudo se não há uma posição contrária irá parecer coonestação. Quem desempenha papel fundamental no combate ao preconceito são os chefes, já que o fato de não condenarem atos de preconceito equivale a dizer que tais atos são liberados. Medidas 61 como uma reprimenda envia a poderosa mensagem de que o preconceito não é uma bobagem, mas tem conseqüências reais e negativas. Um bom artifício no combate ao preconceito é levar as pessoas a se colocarem no lugar do outro, a empatia e a tolerância. Pois, ao passo que as pessoas passam a entender o sofrimento daqueles que se sentem discriminados, é mais provável que o denunciem. Entretanto, afirma Goleman, o preconceito como é um tipo de aprendizado emocional tem a possibilidade de um reaprendizado -mesmo que este leve tempo e não se deve esperar um efeito imediato, exige treinamento continuo. “O que pode contar, porém, é a camaradagem constante e os esforços diários para uma meta comum de pessoas de diferentes origens” (GOLEMAN, 1995, p.173) Assim, “deixar de combater o preconceito no local de trabalho é perder uma oportunidade maior; aproveitar as possibilidades criativas e empresariais proporcionadas por uma força de trabalho diversificada.” (GOLEMAN, 1995, p.173) - A confiança A palavra confiança é definida como absoluta segurança na honestidade de si mesmo ou do outro. Em nosso convívio com os outros a confiança e credibilidade estão intimamente ligados. A confiança não é apenas uma boa idéia ou atitude, mas sim alguma coisa que devemos sentir sobre a qual devemos agir. Quando confiamos em nós mesmos e podemos alongar esta confiança aos outros, há uma troca de confiança mutua, e isso se toma o elo que mantém os relacionamento unidos e libera o diálogo sincero. Entretanto, a falta de confiança, leva-nos a despender muito tempo e esforço protegendo, duvidando, verificando, avaliando e inspecionando em vez de fazermos o trabalho real - isto é, o trabalho criativo valioso e baseado no espírito de colaboração. 62 Há uma relação direta entre a confiança e tomar-se criativo e eficaz, isto é, quanto maior a confiança que tenho em mim mesmo e nos outros, e no ambiente, mais criativo e eficaz eu me tomo, portanto aumento minhas chances de ser bemsucedido. O chefe de pesquisa comportamental no Duke University Medical Center, Redford Williams constatou em pesquisa realizada sobre a confiança que a desconfiança crônica, e os concomitantes sentimentos de hostilidade, podem realmente fazer mal ao coração humano e levar a um ataque do coração fatal. Assim, Williams indica como estratégia preventiva: “crie mais confiança nos relacionamentos em sua vida e no seu trabalho” (COOPER, 1997, p.118) A eficiência do grupo também esta relacionada com a confiança, como demonstra outra pesquisa. Possibilitando que os membros expressem abertamente seus sentimentos e diferenças, e evitem sabotagens e posições defensivas típicas. Quando as pessoas não confiam uma nas outras, elas ignoram os sentimentos e as realizações e idéias do outro que temem poderem aumentar sua vulnerabilidade; sob essas condições as chances de mal-entendidos e suposições incorretas aumentam drasticamente. A confiança tem também mostrado ser o mais importante indício de satisfação profissional individual com a empresa em que a pessoa trabalha. A confiança se constrói e mantém sobre uma honesta e apropriada base de transparência, autenticidade e credibilidade. É evidente que a confiança nos negócios depende, antes de tudo, estabelecer contato emocional com o ouvinte. - Inteligência emocional do grupo Atualmente, a participação no mercado de trabalho americano dos "trabalhadores do conhecimento", pessoas cuja produção se distingue pela atribuição de valor à informação, está crescendo a cada dia. E com este trabalhador do conhecimento o trabalho em equipe se torna essencial, não mais o esforço do indivíduo. 63 Observa-se que o sucesso de um grupo, o êxito de um trabalho realizado não se dá analisando o nível do QI das pessoas envolvidas, ou seja não é o QI médio no sentido acadêmico mas sim a inteligência emocional do grupo. Portanto, deve haver uma harmonia entre os membros que compõe o grupo. Deve-se evitar em um grupo para o seu bom desempenho pessoas controladoras ou dominadoras e também as pessoas que não participam do trabalho, são omissas. “Um dos importantes fatores para maximização da excelência de um grupo era o quanto os participantes eram capazes de criar um clima de harmonia interna, de forma que o talento de cada um fosse aproveitado.” (GOLEMAN, 1995, P.175) Pois, um ambiente em harmonia propicia a maximização da capacidade criativas e talentos as de seus membros, assim alcançando melhores resultados. Um facilitador em ocasiões em que um grupo se depara com problemas imprevistos é a formação de uma rede de pessoas-chave. Isto é as pessoas que compõe o grupo investem tempo no cultivo de bons relacionamentos com pessoas que serviços podem ser necessários numa emergência, formando assim as redes informais. Estas pessoas praticam aspectos básicos da inteligência emocional, ou seja lideram na formação de consenso, tem empatia tanto como cliente ou outro membro do grupo, evita conflitos, promove cooperatividade e toma iniciativas. Assim, estas aptidões da inteligência emocional serão cada vez mais importantes nos trabalho em equipe deste mundo globalizado, com transformações tão rápidas é fundamental a ajuda às pessoas para que aprendam juntas como trabalhar com mais eficiência. Como afirma Goleman encerrado o seu capítulo sobre a nova forma de se administrar: 64 “À medida que serviços baseados no conhecimento e no capital intelectual se tornam mais fundamentais para as empresas, melhoram maneira como as pessoas trabalham em equipe será uma grande forma de influenciar o capital intelectual, o que faz uma crítica diferença competitiva. Para prosperar, senão para sobreviver, as empresas deveriam desenvolver sua inteligência emocional coletiva.” (GOLEMAN, 1995, p.178) 65 CONCLUSÃO Posso dizer, sem dúvida, que esse trabalho foi imensamente prazeroso, apesar de um pouco cansativo; onde, através da pesquisa e da leitura pude conhecer e aprender muito sobre as Múltiplas Inteligências e a Inteligência Emocional. Verificamos que na Grécia Antiga, Platão já definia o conhecimento como algo dinâmico, seguido pelos Empiristas, que associavam os pensamentos à experiência e aos sentidos. Tempos depois, Kant afirmou que a consciência humana é uma instância formadora, de certo modo independente. Já os Psicometristas, através da rotação dos fatores dos testes analisados, contribuíram para a descoberta de outros modelos de inteligência. Entre eles, está Thrustone, o precursor das Múltiplas Inteligências. Ele foi o primeiro a afirmar a existência de sete capacidades primárias existentes. Embora os estudos continuassem, a idéia de QI ainda predominava. Os testes para sua quantificação foram bastante utilizados na época. O objetivo era investigar e avaliar as diferenças individuais para predizer o conhecimento humano. Ainda hoje é utilizado, mas não mais para medir o QI e sim, para melhor compreender o comportamento, seja em condições clínicas, educacionais, profissionais, pessoais ou de pesquisa. Alguns neuropsicólogos, na década de 90, afirmaram que o intelecto está conectado com uma espécie de flexibilidade do tamanho de um sistema. O mau funcionamento de uma parte pode prejudicar todo o desempenho cerebral. A partir dessa perspectiva, Howard Gardner redefiniu o conceito de inteligência baseado nas origens biológicas da habilidade na resolução de problemas e apresentou a Teoria das Inteligências Múltiplas. A proposta original sugeria sete inteligências, mas o número pode ser maior ou menor, Segundo a Teoria, existem várias inteligências funcionando em uma combinação. Para Gardner, o sistema nervoso funciona como uma orquestra, de modo que as respostas raramente interferem uma com as outras, resultando numa experiência unificada. 66 A inteligência está associada diretamente à capacidade de resolução de problemas, cruciais num ambiente cultural. O ponto central da teoria é a não existência de apenas uma capacidade mental, mas sim várias, funcionando em plena combinação, explicada pelas diversas áreas de atuação na sociedade. Gardner baseou essa Teoria em estudos rigorosos envolvendo a pesquisa do desenvolvimento de diferentes habilidades em crianças normais e superdotadas, adultos com lesões cerebrais, populações ditas excepcionais e como ocorreu o desenvolvimento cognitivo através dos tempos. Sendo assim, nota-se o envolvimento sério e amplamente pautado em constatações, que foram a base das proposições desse estudo. Todos os indivíduos possuem certas habilidades básicas em todas as inteligências, como parte de sua bagagem genética. A linha de desenvolvimento de cada inteligência será determinada tanto por fatores genéticos quanto por condições ambientais. O ser humano é muito pouco capacitado em controlar suas emoções, o que leva a tomar atitudes impulsivas, pois em momentos decisivos, com muita tensão, ocorre uma ascendência do coração sobre a razão. Como destaca o psicólogo Daniel Goleman quando lança o seu livro Inteligência Emocional, em 1995, dando uma nova visão quanto o papel das emoções em nossas vidas. O indivíduo deve, primeiramente, aprender a reconhecer as suas emoções, pois assim, sabendo o que está realmente sentindo poderá então aprender a trabalhar com esta de forma inteligente. Sentimentos como a raiva, ira, ódio, inveja, existem e continuaram existindo, mas quando tomamos conhecimento de qual sentimento realmente estamos envolvidos, nos preparamos para trabalhar com este de forma positiva. Quando fingimos que sentimentos negativos não existem, eles tendem a crescer dentro de nós e quando explodem leva-nos a tomar atitudes que normalmente não tomaríamos. 67 Este aspecto da vida é tão importante, que mesmo pessoas com alto Q.I. de inteligência tem o seu sucesso limitado por não saber lidar com as próprias emoções. O uso das emoções de forma inteligente tem causado mudanças nas empresas, pois nos últimos anos as organizações têm sofrido grandes transformações com o aumento da competitividade, redução dos postos de trabalho, o que leva a um crescimento da concorrência entre os funcionários elevando a pressão no ambiente de trabalho. Crescendo assim, a necessidade de uma profunda reformulação na maneira de ver a pessoa humana, que constitui o principal agente na estratégia para garantir o sucesso dos profissionais e a sobrevivência da organização em meio aos desafios da nossa época. As organizações têm consciência, que são compostas de pessoas com vida própria e estilos diferentes de interagirem com os outros, que se o funcionário estiver bem será mais produtivo, por isso investem em atividades que promovem a integração entre os funcionários e levam a um maior auto-conhecimento. Portanto, criando um ambiente de trabalho onde as pessoas se sintam seguras e motivadas a crescer e a aprender com os desafios requeridos por suas realizações. Embora, este processo seja incipiente, necessitando de expansão. Esta capacidade para tratar as emoções é algo que se pode e deve ser aprendido, mas não é um curso com carga horária e provas, e sim é um aprendizado diário onde a prova é o próprio cotidiano, com todos os seus imprevistos e deve começar a ser aprendido o quanto antes por todos os indivíduos. Portanto, para conquistarmos uma sociedade mais civilizada para nós e nossos filhos temos que inserir em nosso aprendizado, na escola da vida, a inteligência emocional, para que não ocorram situações inusitadas que nos levem a questionamentos diversos. Aprender a refletir diante das situações, pois a simples reflexão orienta nossas escolhas da direção da sabedoria. Somos capazes de criar um mundo melhor, não simplesmente para manter acesa a chama que distingue os seres humanos de outras espécies. A chama que não se apaga graças à evolução trilhada pelos caminhos da mente e também pelas sendas amorosas do coração. 68 Concluo o meu trabalho com a sensação de missão cumprida e, com certeza, com uma grande bagagem que será utilizada em minha vida profissional. 69 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CHANGEUX, Jean Pierre. L 'lndividu. Éditions La Découverte e Jornal Le Monde. ln: O cérebro. Paris, 1985. P. 53-60. KORNHABER, Mindy L., WAKE, Warren K. Inteligências: múltiplas perspectivas. 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Testes para a medida do desenvolvimento da inteligência nas crianças. São Paulo: Proprietária, v.10, 1929. 70 ÍNDICE INTRODUÇÃO 9 CAPÍTULO I: BREVE HISTÓRICO DA INTELIGÊNCIA 11 CAPÍTULO II: PSICOMETRIA: CONSIDERAÇÕES GERAIS 17 II.1 Testes psicológicos e seus usos 19 II.2 Classificação dos testes psicológicos 20 II.3 Testes de nível mental 21 II.4 Uso tos testes 25 II.5 Controvérsias envolvendo o uso dos testes 26 CAPÍTULO III: O ÓRGÃO CHAMADO CÉREBRO 29 III.1 A organização do cérebro 29 CAPÍTULO IV: TEORIAS RECENTES DA INTELIGÊNCIA 32 IV.1 A teoria das inteligência múltiplas 32 IV.2 O desenvolvimento das inteligências 38 IV.3 Críticas à teoria das inteligências múltiplas 40 CAPÍTULO V: A NATUREZA DA INTELIGÊNCIA EMOCIONAL V.1 As cinco aptidões principais CAPÍTULO VI: EMPRESAS A INTELIGÊNCIA 42 47 EMOCIONAL APLICADA ÀS 50 CONCLUSÃO 65 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 69