Aula: 10 Temática: Espontaneidade e Equilíbrio Vamos analisar agora as características que distinguem uma transformação irreversível (real) de uma reversível (ideal). A entropia é o conceito básico para discussão das mudanças naturais, mas envolve as modificações no sistema e nas vizinhanças. Usaremos as relações que envolvem entropia nas determinações. Começaremos indagando que relações existem entre a variação de entropia numa transformação e o escoamento irreversível de calor que a acompanha. Numa transformação reversível o sistema desloca-se do equilíbrio infinitesimalmente, o sistema é transformado através da mudança reversível de estado, contudo permanece efetivamente em equilíbrio. A condição de reversibilidade é, portanto, uma condição de equilíbrio, que pode ser definido pela equação: TdS = dQrev Já a condição de irreversibilidade vem da desigualdade de Clausius: TdS > dQ Transformações irreversíveis são transformações espontâneas e nos referiremos à desigualdade como condição de espontaneidade. Usando a primeira lei da termodinâmica para substituir em dQ, a equação fica assim escrita: TdS ≥ dU + dW ou − dU − dW + TdS ≥ 0 Nas transformações em sistema isolado, dU = dW = dQ = 0, então: dS ≥ 0 Já estudamos acerca desta equação e vimos que a entropia pode apenas crescer. O máximo da entropia é atingido no equilíbrio. Para esse sistema isolado estar em equilíbrio é necessário que a temperatura seja a mesma em FÍSICO-QUÍMICA qualquer parte do sistema. Se houver diferença de temperatura no sistema, a tendência é que haja fluxo de calor espontaneamente (dS > 0) da região de maior temperatura para a de menor até chegar ao equilíbrio térmico, quando as temperaturas se igualarem. Em um sistema que sofre uma transformação isotérmica consideramos que TdS = d(TS) e escrevemos a relação da seguinte forma: − dU + d (TS ) ≥ dW ou − d (U − TS ) ≥ dW Definiremos agora a energia de Helmholtz, A, que também é uma função de estado, por ser formada de uma combinação de equações de estado: A = U − TS A relação pode ser reduzida a: − dA ≥ dW Integrando fica: − ∆A ≥ W Assim, o trabalho produzido numa transformação isotérmica é menor ou igual à diminuição da energia de Helmholtz. O trabalho máximo obtido nestas transformações é igual à variação da energia de Helmholtz e a transformação é reversível (consideração da igualdade). Vamos considerar ainda as transformações na pressão e temperatura constantes. Quando a pressão é constante temos que pdV = d(pV) e quando a temperatura é constante temos que TdS = d(TS). Então: − [dU + d ( pV ) − d (TS )] ≥ dWe ou − d (U + pV − TS ) ≥ dWe Onde W e é o trabalho extra (diferente do de expansão) FÍSICO-QUÍMICA Definiremos agora outra função de estado, a energia de Gibbs, G: G = U + pV − TS = H − TS = A + pV A relação pode ser reduzida a: − dG ≥ dWe Integrando fica: − ∆G ≥ We Então vemos que a variação da energia de Gibbs, a temperatura e pressão constantes, é igual ao trabalho máximo diferente do de expansão (−G = We,rev). O trabalho extra pode ser o trabalho elétrico que pode ser gerado por pilhas a combustível ou por pilhas eletroquímicas, por exemplo. Como, no momento, não estamos interessados em transformações rearranjadas para produzir tipos especiais de trabalho, então dWe = 0. A condição de espontaneidade fica: − dG ≥ 0 Para transformação finita: − ∆G ≥ 0 Observamos que a energia de Gibbs diminui, portanto, ∆G tem valor negativo e −∆G tem valor positivo. As transformações espontâneas podem ocorrer na medida em que a energia de Gibbs do sistema possa diminuir, ou seja, até que a energia de Gibbs tenha alcançado um valor mínimo. O sistema em equilíbrio (dG = 0) possui o valor mínimo da energia de Gibbs. Dos critérios de equilíbrio e espontaneidade, usaremos mais as que envolvem a variação da energia de Gibbs, pelo fato de que a maioria das reações químicas e mudanças de fase acontecem à pressão e temperatura constantes. Lembremos sempre que: ∆G = valor negativo a transformação é espontânea ∆G = 0 o sistema está em equilíbrio ∆G = valor positivo a transformação não é espontânea FÍSICO-QUÍMICA Numa transformação espontânea, a temperatura e pressão constantes, ∆G é negativo. Por definição, G = H − TS, então para temperatura constante, ∆G = ∆H − T∆S Podem ser verificadas como contribuições para o valor de ∆G, uma energética, ∆H, e uma entrópica, T∆S. O melhor para fazer ∆G ser negativo é com ∆H negativo (processo exotérmico) e ∆S positivo. Numa transformação espontânea o sistema procura atingir a menor entalpia (menor energia) e a maior entropia. O importante é que o compromisso entre baixa entalpia e alta entropia seja atingido de modo a maximizar a energia de Gibbs no equilíbrio. Exercícios Propostos 1. Qual é o rendimento máximo possível de uma máquina térmica que tem como fonte quente água em ebulição sob pressão a 125ºC e como fonte fria água a 25ºC? 2. Calcule as questões abaixo: a) O hélio líquido entra em ebulição a cerca de 4 K e o hidrogênio líquido a cerca de 20 K. Qual o rendimento de uma máquina reversível, operando entre essas duas fontes térmicas, a essas temperaturas? b) Se quisermos a mesma eficiência que em (a), para uma máquina com uma fonte fria à temperatura comum, 300 K, qual deveria ser a temperatura da fonte quente? Para o monitoramento da espontaneidade das transformações e do equilíbrio dos sistemas, definimos duas importantes funções de estado: a energia de Helmholtz e a mais utilizada, a energia de Gibbs. FÍSICO-QUÍMICA