Aula: 20 Temática: Equilíbrio Químico – Reações Químicas Espontâneas Vamos iniciar o estudo do equilíbrio químico. Veremos como a termodinâmica pode ser usada no sentido de determinar a composição dos componentes das reações em equilíbrio, sob qualquer condição. Partiremos da consideração de uma reação bem simples: A B. Se um número infinitesimal de mols de A, dξ, se transformar em B, a variação do número de mols de A é dnA = − dξ e de B é dnB = + dξ, onde ξ é o grau avanço da reação. Para avanço da reação finito, ∆ξ, os números de mols podem ser determinados a partir da quantidade inicial. A taxa de aumento da energia de Gibbs com o avanço ξ da reação é a energia de Gibbs da reação, ∆rG: ∂G ∆ r G = ∂ξ p ,T ∆rG pode ser interpretada como a diferença entre os potenciais químicos de produtos e reagentes na composição da mistura reacional: ∆rG = µB − µA. Sabendo que a reação espontânea avança no sentido da variação da energia de Gibbs negativa, verificamos que a reação será espontânea no sentido A B se µA > µB, enquanto a reação inversa B A será espontânea se µB > µA. Quando a variação de G é nula, µA = µB, a reação não é espontânea para nenhum sentido, portanto, a composição da mistura reacional estará no equilíbrio. O valor da energia de Gibbs da reação não exprime somente a espontaneidade de uma reação, a temperatura e pressão constantes, revela também se as reações são exoérgicas ou endoérgicas. Uma reação é exoérgica se tiver ∆rG < 0 e significa que produz trabalho. Por outro lado uma reação endoérgica FÍSICO-QUÍMICA consome trabalho e é indicada por ∆rG > 0. As reações em equilíbrio não são exoérgicas nem endoérgicas. Nas reações onde A e B são gases perfeitos usamos a equação determinada em aulas passadas, µ = µ° + RT ln p, com p (quociente adimensional) = p / p°, para: p ∆ r G = µ B − µ A = ∆ r G o + RT ln B pA ∆ r G = ∆ r G o + RT ln Q Q= pB pA onde Q é chamado quociente reacional, com valores que variam de 0 (componente A puro) e ∞ (componente B puro). A energia de Gibbs padrão da reação segue a mesma definição que a entalpia padrão de reação. ∆ r G o = GBo ,m − G Ao ,m A diferença entre as energias de Gibbs padrões molares dos produtos e dos reagentes é igual à diferença entre as energias de Gibbs padrões de formação: ∆ r G o = ∆ f G o ( B) − ∆ f G o ( A) ∆rG = 0 no equilíbrio e para as condições de equilíbrio a razão entre as pressões parciais é indicada por K e a equação onde havia o termo Q fica RT ln K = − ∆ r G o p K = B p A equilíbrio A equação mostra que, se ∆rG° > 0 K < 1, logo, na condição de equilíbrio pA > pB, sendo o reagente A favorecido pelo equilíbrio. Mas, se ∆rG° < 0 K > 1, a pressão parcial de B é maior que de A e o equilíbrio favorece o produto B. Se a álgebra correspondente for usada para gases reais, podemos generalizar para uma reação qualquer. Neste caso, a variação do número de mols de FÍSICO-QUÍMICA qualquer substância J é νJ∆ξ, onde νJ é o coeficiente estequiométrico de J na equação química analisada. Temos a energia de Gibbs da reação com a mesma definição ( ∆ r G = ∆ r G o + RT ln Q ), mas o quociente reacional assume a contribuição dos coeficientes estequiométricos. A energia de Gibbs padrão da reação, neste caso, é: ∆ rG o = ∑ ν∆ f G o − produtos ∑ ν∆ f G o = ∑ν J ∆ f G o ( J ) reagentes J O quociente reacional assume a forma: Q= atividades dos produtos = Π aνJ atividades dos reagentes J J Os expoentes das atividades dos reagentes são negativos e, por isso, aparecem no denominar da equação. Para um gás aJ = fJ / p°, onde f é a fugacidade (no caso de gás ideal, fJ = pJ que é a pressão parcial de J). Como feito no caso anterior, vamos substituir Q por K para tratar do equilíbrio, sendo que K é a constante termodinâmica do equilíbrio (adimensional). A relação termodinâmica que estávamos deduzindo para as condições de equilíbrio (∆rG = 0) resulta em: RT ln K = − ∆ r G o K = Π aνJ J J Só nos resta agora exprimir a constante de equilíbrio em termos de frações molares, xJ, ou molalidades, bJ. Para isso, vamos usar os coeficientes de atividade: aj = γJxJ ou aj = γJbJ / b°. Para o exemplo da reação A + B C + D, com todas as espécies sendo solutos, em termos das molalidades: K= aC a D γ C γ D bC bD = × = Kγ K b a A a B γ Aγ B bAbB Os cálculos para estimar os coeficientes de atividade no equilíbrio tendem a ser muito complicados, portanto, em aplicações elementares podemos admitir que FÍSICO-QUÍMICA os coeficientes de atividade se cancelam na expressão ou que possuem valor próximo a unidade, assim Kγ = 1. Desta maneira ficamos com K ≈ Kb e discutir os termos em função da molalidade, ou da molaridade. Exercícios Propostos 1. Dar o número de componentes de cada sistema: a) Água, admitindo a autoprotólise b) Solução de ácido acético em água c) Carbonato de magnésio em equilíbrio com seus produtos de decomposição 2. A pressão de vapor de um líquido A puro é 575 torr a 300 K e a de outro líquido B, também puro, é 390 torr. Os dois compostos solubilizam-se formando soluções ideais e a fase vapor tem também comportamento de gás perfeito. Imaginemos o equilíbrio de uma solução com um vapor no qual a fração molar de A é 0,350. Calcular a pressão total do vapor e a composição da fase líquida. 3. Ao serem aquecidos, os cristais azuis de CuSO4 5H2O cedem a água de hidratação. Quantas fases e quantos componentes existem num balão fechado e aquecido que só contém, no estado inicial, o sulfato hidratado? 4. Num balão fechado, uma solução saturada de Na2SO4, com excesso de sólido, está em equilíbrio com o seu vapor. a) Quantas são as fases e quantos os componentes do sistema? b) Qual a variância (o número de graus de liberdade) do sistema? Identifique as variáveis independentes. 5. Achar a constante de equilíbrio da reação N2o4 (g) 2 NO2 (g) a 298 K. Nesta aula demos início ao estudo do equilíbrio químico através das análises e considerações acerca das reações químicas espontâneas. Durante este estudo definimos a constante termodinâmica de equilíbrio. FÍSICO-QUÍMICA