SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA DA PRODUÇÃO DE LEITE EM UMA
UNIDADE DE PRODUÇÃO FAMILIAR NO MUNICÍPIO DE MIRAGUAI - RS
José Rubens Hermann dos Santos1; Anderson Clayton Rhoden2, Fabiana Raquel Mühl3, Neuri
Antonio Feldmann4
Palavras-Chave: Programa Rede Leite; Rentabilidade; Unidade de Observação.
INTRODUÇÃO
A produção de leite, como fonte de renda mensal ao produtor e sua família,
desempenha um importante papel socioeconômico essencial à manutenção de pequenas
propriedades. Em função disso, muitos produtores buscam novos métodos de produção, novas
tecnologias e novos processos de gestão que possibilitem um aumento da produção, da
produtividade e da renda, quer seja pela diminuição nos custos de produção com a atividade,
quer seja por uma menor dependência de fatores externos à propriedade. A produção de leite à
base de pasto em sistema de pastoreio rotativo constitui-se como uma alternativa de produção
bastante rentável em unidades de produção familiares.
O presente trabalho descreve e analisa o sistema de produção de leite implantado em
uma Unidade de Observação (UO) no município de Miraguaí - RS, que participa do Programa
Rede Leite, bem como a sustentabilidade econômica dessa atividade, através do levantamento
de indicadores técnicos e econômicos, além do processo de tomada de decisão da família
rural.
METODOLOGIA
A metodologia utilizada é de estudo de caso desenvolvido em uma Unidade de
Observação (UO), ligada ao Programa Rede Leite, localizada no Lajeado Mangueirão, Zona
Rural do município de Miraguaí, RS. Ressalta-se que está UO participa do programa desde
2003. Foi realizado, segundo Gil (2009), um estudo de caso descritivo, procurando identificar
1
Acadêmico do Curso de Agronomia da FAI Faculdades, Itapiranga, SC.
Professor e Coordenador do Curso de Agronomia da FAI Faculdades, Itapiranga, SC. E-mail:
[email protected]
3
Bióloga. Doutora em Agronomia. Professora do Curso de Agronomia da Faculdade de Itapiranga – FAI.
4
Engenheiro Agrônomo, Mestre em Fitotecnia. Professor do Curso de Agronomia da Faculdade de Itapiranga –
FAI.
2
as múltiplas manifestações dos fatos ou fenômenos e descrevendo-os de forma a tentar
compreender a importância da produção leiteira em uma unidade de produção agrícola
familiar usando, segundo Thrusfield (2004), uma amostragem não probabilística por
conveniência, pois a propriedade escolhida apresentou determinadas facilidades para a coleta
dos dados para o trabalho.
Para coleta dos dados foram utilizadas ferramentas como a planilha contábil PSP,
aplicação de questionário com a família e pesquisa documental. De posse dos resultados dos
indicadores econômicos procedeu-se a análise e discussão dos mesmos.
LEVANTAMENTO DE DADOS
A UO possui uma superfície total de 9,2 ha, sendo que desses 7,7 ha são de superfície
agrícola útil (SAU). A propriedade localiza-se na região Noroeste do Rio Grande do Sul, na
Bacia Hidrográfica do Rio Uruguai. O relevo é acidentado e os solos são rasos e de elevada
fertilidade. A propriedade é banhada pelo Lajeado Água Fria, o qual permite uso da água em
períodos de estiagem para a dessedentação dos animais.
A UO em estudo realiza cultivo e criações diversas para a subsistência da família,
sendo a produção leiteira a única fonte de renda. O sistema utilizado busca a eficiência
máxima dos fatores de produção. O rebanho é composto por 11 vacas leiteiras, 2 vacas de
tração, 2 novilhas de 1 a 2 anos e 1 terneira. O número médio de vacas em lactação é de 9
animais (56,25 % em lactação).
A alimentação do gado é à base de pastejo rotacionado sobre pastagens anuais e
perenes, com suplementação de ração e silagem. Os alimentos fornecidos ao rebanho são:
pastagens de tifton 85, ervilhaca, aveia, azevém e capim Sudão, silagem de milho, ração
concentrada á base de milho e farelo de soja misturada na propriedade, sal mineral e sal
comum.
As áreas de melhor fertilidade da UO são destinadas para as pastagens perenes e a
grama tifton 85 ocupa área de 1,5 ha. No inverno, a partir do mês de maio, implantam-se
pastagens anuais de azevém e ervilhaca consorciadas em sobressemeadura. A propriedade
adota o pastejo rotacionado, onde os animais ficam um dia em cada piquete, em média,
dependendo da disponibilidade de forragem. Segundo Faria (2004), um conceito importante
que deve ser seguido pelas famílias na produção de leite a pasto é o bem estar animal, pois a
vaca gosta de sombra e água fresca. As pastagens anuais de inverno (aveia e azévem
consociados) e verão (capim Sudão) são implantadas de forma escalonada a fim de garantir
pastagens de boa qualidade aos animais. Aveia preta e azevém são consorciados em área de 4
ha para pastejo no inverno e o capim sudão é cultivado em área de 0,7 ha para pastejo no
verão.
A cultura do milho é de grande importância para a UO, sendo realizado o plantio na
safra e safrinha nas áreas mais planas. O plantio da safra é realizado entre os meses de agosto
e setembro. Já o de safrinha é realizado em parte desta mesma área nos meses de janeiro a
fevereiro, após a colheita para silagem. A fertilização é realizada com adubo químico e as
sementes são oriundas do Programa Troca- Troca de Sementes do Governo Estadual. A
produção obtida é consumida na propriedade sob a forma de silagem e grão. A família produz
silagem de planta inteira do milho em uma área de 02 ha, sendo esta usada, principalmente,
para as vacas em lactação, a fim de aumentar a produção de leite, além de servir como um
alimento estratégico nas épocas de escassez de pastagens, normalmente na transição do
outono para o inverno. O milho em grão é plantado em área de 1,8 ha e a produção obtida
destinada à alimentação dos animais leiteiros, além da alimentação de suínos e aves
destinados à subsistência familiar.
A UO realiza a suplementação das vacas em ordenha com ração concentrada preparada
na propriedade na proporção de 67 % de milho triturado, 30% de farelo de soja triturado e 3%
de sal mineral. O objetivo é obter uma ração de baixo custo com 20% de proteína. É fornecido
1 kg de ração para cada 3 litros de leite produzidos acima de 12 litros diários. Conforme
Faria; Penati (2007), para quem produz um bem comum como o leite, não basta obter alta
produtividade para ser eficiente, é preciso reduzir os custos de produção e ao mesmo tempo
obter qualidade.
AVALIAÇÃO DA PROPRIEDADE
Considerando os anos agrícolas de 2006 a 2013 (Quadro 1), os dados levantados e
avaliados na UO permite dizer que ano após ano a unidade de produção evoluiu positivamente
na produção de leite, sendo que a produção em litros de leite/vaca/ano cresceu 136 % no
período. A margem bruta por vaca no período cresceu 334,60 %, passando de R$ 583,44 no
ano de 2006 para R$ 2.594,00 no ano de 2013. O custo total de produção por litro de leite
aumentou 84,2 %, enquanto que o preço médio do produto aumentou 86,67 %.
Os resultados podem ser considerados excelentes, mesmo havendo aumento dos custos,
devido ao aumento em 136 % na produção/vaca/ano. O que também favoreceu o resultado
positivo foi o aumento do preço médio do leite.
No Quadro 01 também se destaca a relação entre o número total de animais no rebanho
versus o número de vacas no rebanho, que no ano de 2013 foi de 0,68 vacas para cada
unidade animal, ou seja, 68% do rebanho é composto por vacas. Conforme Faria (2010), para
se ter um rebanho equilibrado, entre 62% a 69% dos animais devem ser vacas, desse total,
83% deveriam estar em produção, para a melhoria da eficiência do processo produtivo. A UO
possui 11 vacas, sendo que em média 9 vacas estão em lactação.
Quadro 1: Histórico do desempenho da atividade leiteira da UO estudada.
Ano
Agrícola
Nº de
animais
Litros de leite Margem bruta/vaca
Vaca/ano
(R$)
2006
10
2244
2007
10
2600
2008
10
3050
2009
10
4000
2010
10
4587
2011
11
4748
2012
11
4911
2013
11
5294
Fonte: Emater de Miraguaí/RS.
583,44
572,00
915,00
1.200,00
1.605,45
1.994,16
2.062,62
2.594,00
Custo total
por litro
(R$)
0,19
0,19
0,25
0,25
0,26
0,30
0,30
0,35
Preço médio por UAV/UAT
litro de leite
(R$)
0,45
0,62
0,41
0,67
0,55
0,67
0,55
0,62
0,61
0,67
0,72
0,68
0,72
0,68
0,84
0,68
N° animais = n° médio de vacas no plantel.
UAV/UAT = Unidade Animal Vaca (450 kg) / Unidade Animal Total na unidade de produção.
O Quadro 2 evidencia que a família busca a máxima eficiência econômica, representada
pela margem bruta total de R$ 28.534,66 e, principalmente, a remuneração da mão-de-obra
familiar que chegou a R$ 1.097,48 por UTH (Unidade Trabalho Homem) ao mês.
Quadro 2 - Resultados da Atividade Leiteira na UO no ano de 2013.
Discriminação
Renda Bruta Total
Custos operacionais efetivos
Margem Bruta Total
Margem Bruta por SAU – R$/ha
Remuneração da Mão de obra familiar/Mês/UTH (13 meses)
Fonte: Emater de Miraguaí/RS.
Valor R$
48.916,56
20.381,90
28.534,66
3.705,80
1.097,48
SAU = Superfície Agrícola Útil.
UTH = Unidade Trabalho Homem
Segundo, Gomes (2006), o lucro do produtor do sistema familiar corresponde à
remuneração do trabalho dele e de sua família. Cita ainda que para alcançar o nível de
reprodução social, cada integrante da família deve obter como renda mínima o salário mínimo
vigente no país. Portanto, em 2013, cada integrante da UO teve renda 1,62 salários mínimos a
cada mês, considerando que o salário mínimo vigente no país em 2010 era de R$ 678,00.
Para medir a eficiência da produção de leite a base de pasto utiliza-se o indicador
litros/ha/ano, que é reconhecido com um indicador mundial. Na UO em análise, a produção
total de leite em 2013 foi de 58.234 litros, em uma área útil de 7,7 ha, portanto, a produção foi
de 7.563 litros/ha/ano. No Brasil, a produção média é de 520 litros/ha/ano, enquanto que na
Nova Zelândia alcança 8.030 litros/ha/ano. (LEITE/DPA, 2008). Pode-se evidenciar que a UO
está mais do que 14 vezes acima da média nacional.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os resultados da UO revela que a sustentabilidade econômica da atividade leiteira
desenvolvida pela família está fortemente relacionada às questões de gestão e planejamento
implementadas pela mesma.
Os indicadores econômicos demonstram a evolução da quantidade de leite produzido e
também os índices de produtividade/vaca/ano que foram alcançados graças ao planejamento
alimentar.
O sistema de produção da UO se mostrou viável economicamente pela implantação de
um processo de planejamento da atividade leiteira.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
EMATER/RS-ASCAR. Dados do produtor. Miraguaí, RS. 2014. Dados não publicados.
FARIA, V. P. de. O que é tecnologia na pecuária leiteira. Revista Balde Branco, ano XL, n.
480A, nov. 2004, p. 64-65.
FARIA, V. P.; PENATI, M. A. Planejamento e gerenciamento de fazendas leiteiras.
Revista Mundo do Leite, n. 26, jul./ago 2007, p. 18-21.
FARIA, V. P. de. Como todo negócio, a atividade precisa ser rentável. Revista Mundo do
Leite, n. 41, fev./mar, 2010, p. 08-09.
GIL, A.C. Estudo de caso: estratégia de pesquisa.. São Paulo, Atlas, 2009.
LEITE DPA. Revista. Ano 8, n. 90, setembro de 2008.
THRUSFIELD, M. Epidemiologia Veterinária. São Paulo, Roca, 2004.
Download

SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA DA PRODUÇÃO DE LEITE EM