Trabalho Decente e Gênero Monica Veloso Os Operários - Tarsila do Amaral - 1933 Quando se fala de equidade, com frequência escutamos que as mulheres já entraram maciçamente no mercado de trabalho e no ensino superior. Entretanto, a igualdade de capacidades não se traduz na igualdade de resultados. Quando as mulheres entram no mercado de trabalho, o fazem em desvantagem em relação aos homens, por causa das considerações de gênero que condicionam a divisão sexual do trabalho. Segundo dados do Relatório de Desenvolvimento Humano da Organização das Nações Unidas - ONU, de 2011, as mulheres representam 70% da população mundial que vive em situação de miséria absoluta. Sua jornada de trabalho, incluindo o trabalho doméstico, é aproximadamente 13% superior à dos homens, sendo que as mulheres recebem em média 30% a menos do que os homens. A Declaração dos Direitos e Princípios Fundamentais no Trabalho e a Agenda do Trabalho Decente da OIT adotam a promoção da igualdade de oportunidades e a eliminação de todas as formas de discriminação, como eixos centrais de seus princípios. Embora o Brasil seja signatário destes dois instrumentos internacionais, ainda não ratificou a Convenção 156 da OIT, que define a responsabilidade com o cuidado das crianças e da família como uma ação a ser compartilhada entre homens e mulheres. A ampliação do acesso a creches públicas e às escolas de tempo integral é fundamental para mudar a realidade das trabalhadoras. É através do trabalho que ocorre a superação da pobreza e da exclusão social e, nos últimos anos, trabalhadores de vários setores produtivos vem se organizando para reivindicar emprego com qualidade, com base no conceito de Trabalho Decente. Trabalho produtiva, Decente, entendido adequadamente como uma remunerada, ocupação exercida em condições de liberdade, eqüidade, segurança, capaz de garantir uma vida digna. A Agenda do Trabalho Decente, adotada pelo Brasil em 2006, definiu três prioridades: 1. a geração de mais e melhores empregos, com igualdade de oportunidades e de tratamento; 2. a erradicação do trabalho escravo e eliminação do trabalho infantil, em especial em suas piores formas; 3. e o fortalecimento dos atores tripartites e do diálogo social como um instrumento de governabilidade democrática. No setor metalúrgico, temos feito um esforço para incorporar a questão de gênero na discussão do trabalho decente, como uma maneira de contribuir para superar os desafios surgidos com a maior participação das mulheres no setor. E, embora as dificuldades sejam grandes, temos conseguido alguns avanços significativos, como a presença de companheiras na direção dos principais sindicatos do setor. As dificuldades familiares que condicionam a participação da mulher nos sindicatos do setor, aumentam diante de uma cultura nitidamente masculina do movimento sindical. Há alguns desafios a serem vencidos: 1. Criar canais efetivos para a participação sindical feminina que aglutine as companheiras no Sindicato; 2. Melhorar os níveis de sindicalização das mulheres; 3. Desenvolver cursos de formação sindical para mulheres; 4. Manter um sistema de informações sobre a participação da mulher no mercado de trabalho por regiões, setores e sub-setores; 5. Garantir que as mulheres participem diretamente na negociação coletiva, pois na definição da pauta de negociação das categorias, as demandas de gênero ainda não são devidamente priorizadas e, quando integram a pauta, poucas vezes são defendidas com a mesma intensidade das questões gerais. Esses desafios são comuns para diversos países na América Latina. E, embora a participação feminina na força de trabalho na América Latina tenha aumentado, a representação sindical da mulher ainda é muito baixa na Região. Na Região, em alguns países reprimem a sindicalização e a maior parte das trabalhadoras não está organizada. o que justifica o numero reduzido de mulheres nas representações e nas direções das organizações sindicais, que ainda demonstram dificuldades para enfrentar os desafios gerados pela incorporação das mulheres no mundo do trabalho. Reconhecemos que nos últimos anos, várias organizações as dirigentes sindicais da Região assumiram um importante papel na luta pela integração das mulheres nas estruturas sindicais, e passaram a participar ativamente em reuniões ou encontros de mulheres. No entanto, apesar desta evolução, a grande maioria dos sindicatos latino-americanos demonstrou que a questão da igualdade de gênero em estruturas sindicais precisa evoluir. Ainda é limitada a inclusão das questões de gênero nos processos de negociação coletiva e a cultura sindical masculina dificulta uma resposta dos sindicatos a essa realidade. A baixa sindicalização feminina acaba sendo causa e consequência desta realidade, impedindo com que as companheiras tenham mais acesso aos cargos diretivos. Cabe destacar que algumas organizações sindicais começaram a tomar consciência da incorporação das mulheres nas estruturas sindicais e empenham esforços para fortalecer as Comissões, Departamentos e/ou Secretarias da Mulher, através de diversas estratégias para incorporar as demandas de gênero nas agendas sindicais e promover a liderança das mulheres no sindicato. Porém, ainda são poucas as ações concretas para obter bons resultados, as mudanças ainda não foram totalmente colocadas em prática. No entanto, apesar desta evolução, a grande maioria dos sindicatos latino-americanos filiados a FITIM demonstrou que a questão da igualdade de gênero nas suas estruturas sindicais precisa evoluir. A resistência de alguns sindicatos de enfrentar os desafios da participação das mulheres mostram que na América Latina as experiências de gênero tiveram diferentes níveis de resultados na mudança cultural,. No entanto, a igualdade de gênero nos sindicatos é uma questão ainda não resolvida. Precisamos desenvolver as condições apropriadas para facilitar a sindicalização das mulheres em grande parte dos países Latino-Americanos. Vivemos uma oportunidade na América Latina para reduzir as desigualdades de gênero, com significativas condições políticas, sociais e econômicas para a reversão da pobreza e da exclusão social na qual vivem a maioria das mulheres. Nesse quadro, é essencial o apoio e suporte da Industriall e seus parceiros, com programas e projetos que contribuam para igualdade de gênero em grande parte dos países da Região. Países que enfrentam a mudança cultural na incorporação de mulheres nas estruturas sindicais. Alta mudança cultural Média mudança cultural Baixa mudança cultural Não há informações ou não há afiliados. Fonte: FITIM Esse é um processo lento e exige uma politica especifica de superação e canais abertos a participação feminina. Um exemplo interessante é o caso do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco e Região que criou, faz 5 anos, um coletivo de mulheres Sindmetal. No final de 2007, no bojo da campanha salarial dos metalúrgicos do Estado de São Paulo, as trabalhadoras de Osasco e Região se organizaram no Mulheres Sindmetal, Esse coletivo de mulheres metalúrgicas, composto por companheiras de diferentes fábricas se organizou como forma de fortalecer a representatividade das trabalhadoras metalúrgicas no Sindicato. Hoje, o Coletivo se reúne mensalmente no Sindicato para discutir problemas da mulher no trabalho, na vida cotidiana, na família e na política. Elas formam um Coletivo, reconhecido pela Diretoria do Sindicato. Participam de programas de formação sindical, das delegações em eventos sindicais, definem os temas que precisam de formação e de mais informações, divulgam o trabalho do Sindicato nas suas empresas, trazem os principais problemas enfrentados pelas companheiras nos seus locais de trabalho, multiplicam a politica e as ações do Sindicato na categoria. E, a medida que aumenta a sua participação entendem que a questão de gênero, embora específica, se vincula as questões gerais de todo o setor. Hoje, o Sindicato tem 2 novas diretoras oriundas deste Coletivo. O Coletivo de mulheres Sindmetal, hoje, é uma realidade no Sindicato e um canal efetivo de participação das companheiras de fábrica. As delegadas na 1ª Conferência da Mulher Metalúrgica da CNTM deliberaram sobre essas prioridades: • • • • • • • • • • • • Defender a participação das mulheres metalúrgicas nos sindicatos e na CNTM; Defender a isonomia salarial (mesma função) entre mulheres e homens; Definir linhas de ações para um Centro de Referência da Mulher; Desenvolver ações voltadas à qualificação profissional para mulheres metalúrgicas; Lutar contra o assédio moral; Fortalecer o movimento das mulheres metalúrgicas; Desenvolver a Rede de Mulheres da CNTM; Organizar o 2º Congresso das Mulheres Metalúrgicas; Combater a violência Defender questões ligadas à família; Defender a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher; Defender a ampliação para 180 dias da licença-maternidade. “Luta, a palavra vibrante que levanta os fracos e determina os fortes !” CORA CORALINA, QUEM É VOCÊ ?? Obrigada!!! Monica