Anais do XVII Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178
Anais do II Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420
25 e 26 de setembro de 2012
Os programas de formação de professores alfabetizadores e seus
impactos: um levantamento no banco de teses e dissertações da
CAPES
Jonas Fernandes
Elvira Cristina Martins Tassoni
Faculdade de Educação
CCHSA
[email protected]
PPGE/Grupo de Pesquisa Formação e Trabalho
Docente
CCHSA
[email protected]
Resumo: Esta pesquisa refere-se a um levantamento bibliográfico das teses e dissertações no
banco de dados da Capes (Coordenadoria de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior) com o objetivo de rastrear as pesquisas, no período de 2001 a
2011, que discutem a formação de professores alfabetizadores. Trata-se de uma revisão bibliográfica
que busca contribuir para as discussões sobre os
impactos dos programas de formação continuada
nas práticas pedagógicas de alfabetização. O recorte
temporal teve como referência o Programa Letra e
Vida, idealizado em 1999, cujo material foi produzido
em 2000 pelo Ministério da Educação (MEC) e proposto à formação continuada a partir de 2001. Os
resultados apontaram que há uma busca por parte
das pesquisas em compreender devidos avanços
e/ou retrocessos ocorridos pela influência dos
programas de formação continuada de professores
alfabetizadores
na
qualidade
de
ensinoaprendizagem em sala de aula, seja na
alfabetização, na leitura e interpretação de textos, ou
de conceitos matemáticos, ou ainda da forma como o
professor interpreta, se apropria qualitativamente dos
recursos disponibilizados pelos programas de
formação.
Palavras-chave: formação continuada de professores;
políticas públicas; alfabetização.
Área do Conhecimento: Ciências Humanas – Educação.
1. INTRODUÇÃO
Trata-se de uma pesquisa bibliográfica que tem
como problema identificar o que as investigações
realizadas no estado de São Paulo têm priorizado no
que se refere às políticas públicas educacionais de
formação continuada de professores alfabetizadores
e; de que forma tais pesquisas vêm discutindo as
influências das políticas de formação continuada de
professores
alfabetizadores
nas
práticas
pedagógicas de sala de aula.
Os estudos que se caracterizam como revisões bibliográficas têm como finalidade principal levantar, de
forma detalhada e precisa, informações sobre o tema
em questão. Na área da formação de professores,
discutir as pesquisas já realizadas a respeito dos impactos dos programas de formação de professores
alfabetizadores, no aprimoramento das práticas pedagógicas de alfabetização é de fundamental importância, especialmente em virtude dos resultados obtidos no Sistema de Avaliação da Educação Básica
(Saeb).
Ribeiro [8] ao apresentar um panorama histórico sobre a educação no Brasil nos possibilita observar que
há uma descontinuidade de investimentos governamentais e de políticas educacionais, especialmente a
partir dos anos 20, em relação à alfabetização, não
demonstrando um real interesse em lidar com o analfabetismo no país. Nesse sentido, a alfabetização
ainda vem instigando muitas pesquisas e estudos.
Da mesma forma, temos observado nas últimas três
décadas um movimento intenso de elaboração de
Programas de Formação Continuada de Professores
Alfabetizadores.
As mudanças que surgem no cenário acadêmico influenciam as práticas de sala de aula, na medida em
que se alteram as visões antropológica, epistemológica e axiológica de como ver o aluno diante do quadro de alfabetização e de possíveis interferências do
professor.
Infelizmente, o professor que está na escola
dificilmente tem acesso às teorias emergentes no
cenário educacional para sua prática pedagógica
sem que essa venha em uma relação horizontal
(posta de cima para baixo, de produtores de
conhecimento à prática de sala de aula). Dificilmente
o professor participa dessas discussões, ficando à
cargo apenas a apropriação futura por meio de
formação continuada, quando se há a oportunidade.
Destaca-se aqui, Nóvoa [6] que faz duras críticas à
forma de produção de conhecimento voltada para a
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educação, no que se refere à voz do professor que
raramente está presente – a não ser como objetoinvestigado – enfrentando duras críticas sobre sua
prática, onde os louros são relegados aos investigadores por desvelar a situação vivida dia a dia em sala
de aula, excluindo-se o profissional da educação de
tais discussões, de sua própria prática.
Portanto, a pesquisa teve por objetivo rastrear, no
banco de teses e dissertações da Capes, as investigações realizadas no período de 2001 a 2011, que
discutem a formação de professores alfabetizadores,
identificando as influências dessas formações nas
práticas pedagógicas de alfabetização em sala de
aula.
A definição do período pesquisado teve como ponto
de partida o ano de 2001, em razão da implantação
do Programa Letra e Vida ter ocorrido no referido
ano. Trata-se de um Programa de grande repercussão, destinado à formação continuada de professores alfabetizadores, idealizado em 1999. Seu material
foi produzido em 2000 pelo Ministério da Educação
(MEC) e implantado a partir de 2001. O Programa
tem por objetivo “desenvolver as competências profissionais necessárias a todo professor que ensina a
ler e escrever” [2].
Para tanto, a pesquisa teve por objetivos: (1) fazer
um levantamento no Banco de Teses e Dissertações
da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior), das pesquisas em âmbito
nacional sobre políticas públicas de formação
continuada de professores alfabetizadores; (2)
identificar as pesquisas desenvolvidas no estado de
São Paulo; (3) dentre estas, identificar as que vêm
discutindo as influências das políticas de formação
continuada de professores alfabetizadores nas práticas pedagógicas da sala de aula.
METODOLOGIA
Esta pesquisa fundamenta-se numa abordagem qualitativa de investigação, cuja técnica de análise e interpretação dos dados adotada é a análise de conteúdo. Segundo Triviños [11] tal procedimento definese como um
conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando, por procedimentos sistemáticos
e objetivos de descrição do conteúdo das
mensagens, obter indicadores quantitativos ou
não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) das mensagens.
Bardin [1] sugere três etapas para a realização da
pesquisa, envolvendo a análise de conteúdo: a préanálise, exploração do material e a fase de tratamento e interpretação das informações. A pré-análise
compreende o processo de seleção do material que
constituiu o corpus da pesquisa. Bardin [1] sugere
que nesta fase inicial aconteça uma leitura flutuante,
“deixando-se invadir por impressões e orientações”
do material coletado, que possibilitará a projeção em
categorias, editando o material subjetivo em objetivo.
Essa leitura se caracteriza por uma análise bruta do
conteúdo.
Ao delimitar o universo documental ao Banco de
Teses e Dissertações da CAPES, em seu sítio na
Internet, foram selecionadas 103 pesquisas em
âmbito nacional, para um recorte inicial, segundo
quatro descritores, a seguir: (1) “Programa Ler e
Escrever”,
(2)
“Formação
de
professores
alfabetizadores”, (3) “Formação continuada de
professores alfabetizadores (4) E, por fim, o descritor
“Letra e Vida”.
CAMINHOS PERCORRIDOS
Definido o conjunto de pesquisas que comporiam a
presente investigação, havia a necessidade de
identificar deste conjunto, quais estudos ocorreram
no estado de São Paulo, uma vez que o Programa
Ler e Escrever é uma política específica deste
estado. Iniciamos, então um refinamento observando
o estado do país em que cada pesquisa foi
desenvolvida, pois considerar apenas o local da
universidade de origem da pesquisa seria suficiente
para delimitar o foco da mesma. Desta forma, por
meio de uma leitura flutuante [1] dos resumos,
realizamos uma categorização das pesquisas por: (1)
Estado; (2) Cidade; (3) Universidade. Constatou-se
que, das 103 pesquisas analisadas, 10 tinham o
estado de investigação diferente da universidade,
sendo que dessas, seis tinham como universidade de
origem o estado de São Paulo e o foco da
investigação em outros estados.
Para melhor visualização a Tabela 1 demonstra a
quantidade de pesquisas por estado.
Tabela 1. Pesquisas por unidades federativas
brasileiras.
Total de
Estado
Sigla
Porcentagem
pesquisas
Alagoas
AL
4
4%
Amazonas
AM
1
1%
Bahia
BH
3
3%
Ceará
CE
1
1%
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Estado
Sigla
Total de
pesquisas
Porcentagem
Distrito
Federal
DF
1
1%
Espírito Santo
ES
1
1%
Goiás
GO
2
2%
Maranhão
MA
3
3%
Mato Grosso
MT
1
1%
Mato Grosso
do Sul
MS
5
5%
Minas Gerais
MG
3
3%
Pará
PA
1
1%
Paraíba
PB
2
2%
Paraná
PR
4
4%
Pernambuco
PE
1
1%
Rio de
Janeiro
RJ
8
8%
Rio Grande
do Norte
RN
5
5%
Rio Grande
do Sul
RS
1
1%
Rondônia
RO
4
4%
Santa
Catarina*
SC
7
7%
São Paulo
SP
45
44%
103
100%
Total de
Pesquisas:
A segunda fase de organização dos dados, segundo
Bardin [1], é a exploração do material coletado. Nesta
fase aprofundamos as informações, identificando o
que as 45 pesquisas, que se realizaram no estado de
São Paulo, problematizavam. Desta forma, o objetivo
foi investigar o que se tem pesquisado acerca das
políticas públicas educacionais de formação
continuada de professores alfabetizadores no
período de 2001 a 2011.
Segundo Bardin [1] aqui se faz uma codificação, ou
seja, uma transformação do material bruto coletado
afim de extrair suas características sistematizadas.
Partimos, então, de uma visão do todo, que nos
trazia o resumo de cada umas das 45 pesquisas,
para um detalhamento sistemático.
Assim, a partir da leitura de cada um dos resumos,
identificamos as seguintes informações: 1 - Número
de identificação da pesquisa; 2 - Descritor; 3 - Autor;
4 - Título; 5 - Ano; 6 - Modalidade (Mestrado ou
Doutorado); 7 - Cidade; 8 - Universidade; 9 - Tipo de
pesquisa (de campo ou bibliográfica); 10 - Objetivos
da pesquisa; 11 - Sujeitos da pesquisa 12 - Material
empírico; 13 - Base teórica; 14 - Tipo(s) de formação
e nível(eis) de ensino abordado(s).
Nesse processo, uma das pesquisas foi descartada,
pois, relacionava-se à alfabetização cartográfica.
Desta forma, passamos a lidar com 44 estudos.
Buscar o detalhamento de cada pesquisa passa pela
necessidade de se por o material coletado a “falar”,
para que se possa fazer inferências e interpretações
acerca dos conteúdos, afim de delinear um perfil coerente da proposta dessa pesquisa bibliográfica. Tal
como menciona Bardin [1], “o interesse não reside na
descrição dos conteúdos, mas sim no que estes nos
poderão ensinar após serem tratados [...]”, como se
verifica na terceira fase da análise de conteúdo, que
é o momento que apresentamos a seguir.
RESULTADOS
A partir do momento em que se tem o material
categorizado que nos possibilite uma visão do todo
para as partes, pudemos iniciar uma interpretação
mais aguçada dos resumos; entramos, assim, na
terceira fase – tratamento e interpretação das
informações [1].
A primeira categorização feita foi a organização das
pesquisas em bibliográficas e de campo.
Identificamos que das 44 pesquisas desenvolvidas
no estado de São Paulo, 37 foram investigações de
campo e apenas 7 constituíram-se de pesquisas
bibliográficas.
As pesquisas de campo
Em relação às 37 pesquisas de campo, 25 delas
tiveram como sujeitos apenas os professores
alfabetizadores. Quatro delas envolveram os
professores
formadores
de
professores
alfabetizadores. Três tiveram como sujeitos da
investigação não só os professores alfabetizadores,
mas também seus alunos. Duas pesquisas
contemplaram o professor alfabetizador e o professor
formador. Uma delas foi realizada tendo como
sujeitos os professores alfabetizadores e membros
da equipe gestora e outra teve como sujeitos os
professores alfabetizadores, membros da equipe
gestora, os professores formadores e a própria
pesquisadora como formadora. Ainda identificamos
uma pesquisa que envolveu 30 alunos como sujeitos
da investigação.
Nóvoa [6] tem afirmado que o mundo acadêmico
vem excluindo a fala dos professores das
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investigações científicas. Mas, ao nos apercebermos
dessas pesquisas de campo, logo se vê uma
iniciativa interessante de buscar a fala dos próprios
profissionais que participam/participaram desses
programas de formação de alfabetizadores. Vejamos
a seguir um pouco mais detalhadamente.
A pesquisa que tem como sujeitos professores
alfabetizadores e membros da equipe gestora, focase em programas de formação continuada de
políticas públicas, como uma ação governamental
que tem em vista a melhoria da qualidade da
educação. Tal pesquisa toma como análise o
Programa Ler e Escrever e, utiliza da etnografia
como metodologia de coleta de dados, a levar em
consideração as significações que esses sujeitos de
uma unidade escolar fazem ao referido programa e
seus conteúdos.
Ao ouvir a coordenadora pedagógica (formadora de
professores alfabetizadores), e a gestão da unidade
escolar, verifica-se que esses sujeitos têm uma visão
de que o programa gera interferências nas práticas
docentes, afim de promover alterações relativas ao
aprendizado de leitura e escrita.
Segundo a autora da pesquisa, “os conteúdos do
curso são elogiados por algumas professoras,
criticado por outras e ressignificado por algumas” [4].
Isso mostra essa diversificação nas significações que
cada sujeito imprime, não recebendo passivamente
os conteúdos do programa. E, aponta para a
necessidade desses programas governamentais
considerarem o saber docente e a construção
coletiva e de responsabilidade de todos.
Isoladamente, uma pesquisa se destaca por ter
como sujeitos 30 alunos. Faz uma análise
diagnóstica das estruturas multiplicativas dos alunos,
que usam o material didático-pedagógico do
Programa Ler e Escrever. Foram feitas sondagens
com crianças de terceira série do Ensino
Fundamental, afim de identificar possíveis avanços
matemáticos, o que ocorreu, de fato, segundo
informações obtidas no resumo, embora, segundo a
autora da pesquisa, a criação de novos conceitos
não se dá em situações isoladas, mas, ao longo do
tempo [9].
As duas pesquisas que contemplaram os
professores alfabetizadores juntamente com os
professores formadores trataram de questões de
socialização durante o processo de formação
continuada
e
da
relação entre
professor
alfabetizador, formador e referencial teórico do
programa.
Uma das pesquisas tratou de turmas de formação de
professores alfabetizadores e seus respectivos
formadores responsáveis; segundo uma construção
baseada em Pierre Bourdieu, houve uma iniciativa
por parte da mesma de se aprofundar nas questões
de socialização na educação continuada.
A pesquisa de Camacho [3] ouviu os professores
alfabetizadores e os coordenadores, – responsáveis
pela formação dos professores no contexto de
formação do Programa Ler e Escrever – discutindo o
referencial teórico de programas de formação
continuada de professores alfabetizadores. Segundo
Camacho [3], em suas conclusões, o referencial do
programa
analisado
é
fundamentado
no
construtivismo, teoria que faz parte dos “documentos
institucionais da educação brasileira a mais de 25
anos [3], embora as entrevistas com os professores
tenham apontado que os mesmos acreditam que o
programa traz ideias novas.
Das três pesquisas que têm como sujeitos os
professores alfabetizadores e alunos, uma trata da
formação inicial para a alfabetização de jovens e
adultos, do movimento histórico ligado ao tema e, da
responsabilidade das universidades para tal
formação. Já a outra trata da formação
emancipatória e reflexiva no processo de
alfabetização e da relação entre o professor
alfabetizador e alfabetizandos para a emancipação,
fazendo referência ao educador Paulo Freire,
destacando-se a busca por ouvir as próprias
palavras, a própria voz. A última pesquisa relacionouse mais diretamente às políticas públicas de
capacitação docente e o aprendizado dos alunos em
sala de aula e suas devidas influências.
Os formadores de professores alfabetizadores
também entraram no quadro de investigações
realizadas pelas pesquisas de campo, mas, em
menor número, – apenas quatro pesquisas envolvem
professores alfabetizadores e formadores. Essas
pesquisas buscaram explicitar como tem acontecido
o processo de formação dos formadores de
professores alfabetizadores; da intervenção do
formador às práticas pedagógicas de sala de aula
dos cursistas, assim como suas representações em
relação ao programa de formação.
Dos resultados colhidos pelos resumos, há de se
perceber uma concordância por parte das pesquisas
no que se refere a apontar a dificuldades dos
formadores no domínio teórico e metodológico para a
formação de alfabetizadores e o conhecimento
fragmentado que permeia as visões dos formadores.
Verifica-se que três das quatro pesquisas apontaram
tais dificuldades.
Há também a dificuldade dos formadores em
responder às diversas dúvidas dos cursistas em
relação às práticas de sala de aula e dos problemas
que surgem nos cursos. Duas pesquisas ressaltam a
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inexperiência do professor formador, a má qualidade
de formação de formadores, e a dificuldade de
relacionar-se com os cursistas.
As pesquisas apontaram para a necessidade de um
olhar mais crítico e reflexivo por parte do formador e
de uma adequação à realidade dos cursistas desses
programas de formação continuada de professores
alfabetizadores. Um dos autores, Pereira [7], destaca
os traços históricos de burocratização que os
formadores trazem consigo, e a fiscalização do
trabalho docente dos professores alfabetizadores. As
conquistas verificadas na área são isoladas para o
autor, e se devem às interpretações subjetivas de
suas práticas. Outro autor, Statonato [10], evidencia
que o que motiva os formadores a buscar o exercício
de tal função é o reconhecimento profissional.
As 25 pesquisas que têm como sujeito os
professores alfabetizadores, trataram, de forma
geral, dos programas de formação continuada de
professores alfabetizadores e a identificação,
apropriação
e
transformação
das
práticas
pedagógicas de sala de aula por parte desses
cursistas. Exploraram como esses programas
contribuem e influenciam as práticas dos professores
alfabetizadores, os recursos disponibilizados para os
mesmos e as escolhas didáticas frente à
problemática do cotidiano escolar. Algumas
pesquisas propõem a formação de um professor
alfabetizador em nível inicial, como trataremos mais
a frente.
Percebemos uma tendência das pesquisas em
buscar as concepções teóricas que norteiam as
práticas
pedagógicas
dos
professores
alfabetizadores
em
sala
de
aula
e,
consequentemente, fazer a ligação entre essas
concepções e as influências dos programas de
formação continuada, oferecidos pelas políticas
públicas.
Para duas pesquisas, o foco principal foi a busca da
identidade profissional, da sua re(criação) por parte
dos professores, ouvindo-os. Também, uma outra
pesquisa fez uso de narrativas autobiográficas, o que
mostra uma forte consideração aos dizeres do
professor-alfabetizador sobre sua prática docente.
Uma pesquisa, em particular, se relacionou às
representações de professores alfabetizadores sobre
as dificuldades de aprendizagem dos alunos. O
autor, Colus [5], realça em seus resultados uma
tentativa por parte dos professores de deslocar as
dificuldades para fora da escola e desta estar em
busca alunos homogêneos, sem enfrentamento de
obstáculos.
Duas pesquisas abordaram o ensino de matemática,
sendo que uma tratou do ensino de matemática em
sua aplicação em sala de aula para a Educação de
Jovens e Adultos (EJA), explorando a formação
inicial e continuada do professor. A outra pesquisa
discutiu a apropriação de saberes teórico-práticos na
formação continuada por parte de professores para
uma alfabetização escolar cotidiana, levando em
conta as narrativas dos mesmos, explorando o
ensino de matemática para alunos cegos.
Interessante destacar que tal pesquisa somente
mencionou o ensino de matemática para alunos
cegos apenas no título, não estendendo ao resumo.
Uma das pesquisas teve como sujeito alunas de
licenciatura do curso de Pedagogia e teve como foco
de investigação a formação inicial e a relação teoria e
prática.
Sobre a avaliação, tem-se uma tímida pesquisa que
surge dentre todas a focar-se na avaliação, ou seja,
em como se avaliar o aluno que está sendo
alfabetizado. Tal pesquisa não deixa de falar dessas
práticas de sala de aula e da formação docente
frente às políticas públicas. Mas, de fato, o interesse
se dá, em linhas gerais, sobre o efeito da relação
conteúdo-sujeito, entendendo-se por sujeito o
professor alfabetizador, que será o mediador na
aprendizagem de sua prática de sala de aula.
Atualmente, estamos a ver uma necessidade de
capacitação e atualização do professor como ser
humano em formação continuada, assim, reflete-se
em políticas públicas os programas de formação
continuada, especificamente para a alfabetização e
instrumentalização por meio de diferentes teorias que
surgem no horizonte pedagógico.
Ora, o movimento que vemos aqui, de pesquisas a
ter como sujeitos os professores e suas relações
com os conteúdos teórico-metodológicos, bem como,
de suas apropriações e influências no processo de
ensino-aprendizagem, está de acordo com o
acontecer histórico vivido pelo país nas últimas
décadas, onde a relação ensino-aprendizagem é
tomada como foco e o professor volta ao centro dos
debates, deixando de ser mero facilitador, passando
a ser o mediador entre aluno-conteúdo.
As pesquisas bibliográficas
A organização com relação às pesquisas
bibliográficas foi feita por meio do enquadramento
das mesmas por assuntos abordados no conteúdo
dos resumos. O motivo dessa organização se deu
pelo pequeno número de pesquisas bibliográficas
encontradas – foram sete de um total de 44
pesquisas.
Dessas sete pesquisas, uma abordou o tema da
formação inicial e continuada; duas exploraram a
perspectiva histórica na formação de professores
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alfabetizadores e quatro delas discutiram os
documentos oficiais com relação à alfabetização.
Tais pesquisas bibliográficas apontaram para uma
necessidade de verificar como são tratadas as
questões relacionadas à alfabetização e suas
propostas para os anos inicias de escolarização.
Fizerem análises de conteúdos de documentos
envolvendo as políticas públicas, de materiais
didáticos para uso em sala de aula e também dos
currículos
de
formação
de
professores
alfabetizadores. Percebemos uma busca de evocar o
passado para se compreender a problemática
educacional no presente do país.
A pesquisa que abordou o tema da formação inicial e
continuada apontou para uma análise de lacunas
relacionadas aos conteúdos. Verificou grades
curriculares e ementas de cursos de formação
acadêmica inicial do professor alfabetizador, assim
como analisou um dos programas de formação
continuada de professores alfabetizadores, seus
materiais para a alfabetização e o uso destes em
sala de aula.
Foram duas as pesquisas que trataram diretamente
de abordar formação histórica do professor, como
foco principal. Também, se vê presente uma forma
de mostrar o movimento histórico – em dado recorte
temporal – da formação do professor alfabetizador
em nosso país.
As quatro pesquisas bibliográficas com o foco na
caracterização do professor alfabetizador nos
documentos oficiais, na legislação brasileira e nas
perspectivas oficiais de políticas públicas sobre
capacitação docente para os programas de formação
continuada de professores alfabetizadores, buscaram
verificar os princípios que norteiam a formação
desses profissionais e suas teorias subjacentes,
utilizadas em programas de formação continuada,
específicos para a área de alfabetização.
Destacamos uma pesquisa que tratou de fazer uma
análise crítica da capacitação docente a partir dos
anos 90 e de sua repercussão em políticas públicas
e em materiais de um programa de formação
continuada de professores alfabetizadores.
As pesquisas bibliográficas parecem trazer à
discussão o significado do “ser-professor”, e da
formação histórica do profissional da área educativa,
de como este é visto nos documentos oficiais e sua
capacitação através de políticas públicas de
formação continuada, tais como o de formação de
professores alfabetizadores.
CONSIDERAÇÕES
Mais do que criticar os professores alfabetizadores
em suas práticas de sala de aula e, os professores
formadores de professores, é necessário fazer uma
análise reflexiva, que leve em conta, não o olhar tãosomente do pesquisador como instrumento, mas das
falas desses sujeitos, buscando suas interpretações
a respeito desses programas de formação de
professores alfabetizadores e seus impactos para a
vida pessoal e profissional. Trazer os pontos que os
professores elencam em suas falas, tão preciosas
para identificar situações-chave para a qualidade da
alfabetização, do profissional da educação e de todos
os agentes envolvidos com o processo educativo.
Há uma busca por parte das pesquisas em
compreender devidos avanços e/ou retrocessos
ocorridos pela influência dos programas de formação
continuada de professores alfabetizadores na
qualidade de ensino-aprendizagem em sala de aula,
seja por alfabetização para a leitura e interpretação
de textos, ou de conceitos matemáticos; da forma
como o professor interpreta, se apropria
qualitativamente desses recursos disponibilizados
pelos programas.
Assim, nossa pesquisa não se finda por aqui. As
questões que são levantadas deixam-nos mais
questões e seus resultados abrem margem para
outras tantas mais. Interessante deixar para futuras
análises a iniciativa de se prestar atenção às
relações entre a universidade e as salas de aula da
escola na construção conjunta de base teórica e
metodológica para a alfabetização. Ainda mais no
que se refere aos programas de formação
continuada e das vozes dos professores que não
podem se calar e que devem fazer parte da produção
acadêmica.
AGRADECIMENTOS
Ao CNPQ pelo apoio financeiro.
À minha orientadora, Cristina Tassoni, por acreditar
em meu potencial e ao grupo de pesquisa Formação
e Trabalho Docente pelas discussões enriquecedoras.
REFERÊNCIAS
[1] BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa:
Edições 70, 1977
[2] BRASIL, Programa de Formação de Professores
Alfabetizadores. Documento de Apresentação.
São Paulo: Ministério da Educação, 2003.
[3] CAMACHO, Priscila Vita. Um estudo sobre o
“Programa Ler e Escrever” da Rede Pública do
Estado de São Paulo. Dissertação de Mestrado.
Educação. Universidade Metodista de São Paulo,
2010.
[4] CELEGATTO, Conceição Aparecida. Formação
em serviço: significado do "Programa Ler e
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[5]
[6]
[7]
[8]
Escrever" numa escola municipal de ensino
fundamental.
Dissertação
de
Mestrado.
Educação. Universidade de São Paulo, 2008.
COLUS, Fátima Aparecida Maglio. Construção
Social de Dificuldades de Aprendizagem.
Dissertação de Mestrado. Educação. Centro
Universitário Moura Lacerda, 2006.
NÓVOA, António. Professores: Imagens do futuro presente. Lisboa: Educa, 2009.
PEREIRA, Rodnei. A autoanálise de coordenadores pedagógicos sobre sua atuação como formadores de professores. Dissertação de Mestrado.
Educação (Psicologia da Educação). Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, 2010.
RIBEIRO, Maria Luisa Santos. História da educação brasileira: a organização escolar. 17ª ed.
rev. e ampl. Campinas: Autores Associados,
2001.
[9] SILVA, Sandra Regina Firmino da. Um estudo
das estruturas multiplicativas no guia de orientação curricular do Programa Ler e Escrever.
Dissertação de Mestrado. Educação Matemática.
Universidade Bandeirante de São Paulo, 2010.
[10] STATONATO, Soraia Calderoni. A formação dos
formadores: uma análise do processo formativo.
Dissertação
de
Mestrado.
Educação.
Universidade Cidade de São Paulo, 2010.
[11] TRIVIÑOS, Augusto Nibaldo Silva. Introdução à
pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa em educação. São Paulo: Atlas, 1987
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Os programas de formação de professores - PUC