GOVERNO DO ESTADO DO CEARÁ SECRETARIA DA CIÊNCIA E TECNOLOGIA – SECITECE FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE REGIONAL DO CARIRI – URCA PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA GRUPO TEMÁTICO: PESQUISA E PRÁTICAS EDUCATIVAS AUTORES: PROFª. ESP. CRISTINA ALEXANDRINO DE FIGUEIREDO PROFª. MS. MARIA DA PROF. ESP. CONCEIÇÃO PARENTE JARDIM CÍCERO ESMERALDO ROLIM MONITORES: ALUNOS DO CURSO DE PEDAGOGIA – 8ª SEMESTRE ANA ISABEL LEONEL TAVARES FRANCISCO FEITOSA CHAVES ISAIAS DA SILVA MARIA PEREIRA DA SILVA MARISTELA DIESEL JANAINA AMANADA SOBRAL MACEDO A FORMAÇÃO CONTINUADA COMO PROCESSO DE MELHORIA DA QUALIDADE E DA INTERVENÇÃO DO ALFABETIZADOR DE JOVENS E ADULTOS. CRATO-CE JULHO/ 2005 INTRODUÇÃO Ao se analisar a Educação de Jovens e Adultos em um sentido mais amplo, tomando como referência a pluralidade dos sujeitos que dela fazem parte, constata-se que, longe de estar servindo à democratização das oportunidades educacionais, ela se conforma no lugar dos que “podem menos e também obtêm menos”. Conforme lembra Arroyo (2001.p.10), “os olhares sobre a condição social política, e cultural dos alunos da educação de Jovens e Adultos têm condicionado as diversas concepções da educação oferecida”. Arroyo (2001), ainda chama atenção para o discurso escolar que os trata, a priori, como evadidos, defasados e outros, deixando de fora dimensões da condição humana desses sujeitos, básicas para o processo educacional. Portanto, construir uma educação de Jovens e Adultos que produza seus processos pedagógicos, considerando quem são esses sujeitos, implica pensar sobre as possibilidades de transformar a escola que os atende em uma instituição aberta, que valorize seus interesses, conhecimentos e expectativas; que favoreça a sua participação; que respeite seus direitos como cidadãos e não somente como objeto de aprendizagem. Para tanto, é essencial que os processos de formação de educadores procurem conhecer as diferentes formas de atendimento da educação de Jovens e Adultos, identificando seus sujeitos, os cotidianos deles, e, fundamentalmente, pensar as possibilidades de um dia-a-dia mais promissor para todos aqueles que encontram nessa modalidade educativa, muitas vezes, a última chance de escolarização. Por outro lado, os educadores precisam estar atentos para as demandas e potencialidades dos sujeitos da Educação de Jovens e Adultos, considerando-os sujeitos em todas as propostas e projetos pedagógicos. Nessa perspectiva e atendendo as dificuldades detectadas pelos educadores do Programa Educação Solidária, por ocasião das visitas dos coordenadores, desenvolvemos uma formação continuada durante todo o semestre, no sentido de colaborar com o desenvolvimento das capacidades intelectuais, afetivas, motoras e sociais do educando. Visando possibilitar uma qualidade de vida melhor, através da capacidade de ler, escrever, interpretar e utilizar o que aprendeu no trabalho, nas questões culturais e sociais. A formação continuada dos educadores, buscou entre outras coisas, estabelecer relações entre o conhecimento produzido pelo educando, na sua prática social, com o conhecimento cientifico. Proporcionando a experimentação de várias atividades de leitura e escrita de forma prazerosa, realçando a importância de se trabalhar com valores, atitudes e princípios democráticos. Hoje, mais do que nunca, a educação e a aprendizagem dos adultos constituem a chave indispensável para liberar as forças criativas das pessoas, dos movimentos sociais e das nações. A paz, a justiça, a auto confiança, o desenvolvimento econômico, a coesão social e a solidariedade continuam a ser metas e obrigações indispensáveis, que terão de ser perseguidas, reforçadas por meio da educação e da aprendizagem dos adultos. OBJETIVOS: Refletir com os educadores a necessidade de conhecer os educandos, suas expectativas, sua cultura, problemas e a importância da aprendizagem na sua vida; Desenvolver habilidades e competências com o fazer pedagógico do educador de Jovens e adultos, suas metodologias , destacando a leitura e escrita; Acompanhar, sistematicamente, as atividades didático-pedagógicas em função da qualidade do ensino aprendizagem. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Visando atender as necessidades dos professores alfabetizadores do Programa Educação Solidaria, e analisando o diagnóstico feito pelos coordenadores pedagógicos que acompanham os municípios, elaboramos um projeto de formação continuada. A formação foi realizada no 1º semestre de 2005, no 1º sábado de cada mês, com a participação de 15 municípios da Região do Cariri-Ce. Contou com 180 alfabetizadores, tendo como local de realização a Universidade Regional do Cariri – URCA- Ceará. Os trabalhos foram organizados em cinco salas, tendo em cada uma, alfabetizadores de três municípios. Contamos com a colaboração de monitores, que foram os alunos do 8ª Semestre de Pedagogia da URCA e a coordenação do encontro, com os Coordenadores Pedagógicos do programa. Nesse sentido os momentos foram organizados seguindo um roteiro lógico de informações, de maneira que todos os alfabetizadores, monitores e coordenadores envolvidos pudessem repensar a sua prática. ANÁLISE DE RESULTADOS Os encontros foram desenvolvidos de forma estratégica, nos quais os temas abordados em um encontro viabilizava o inicio do outro. Para que isso pudesse acontecer de maneira contextualizada, com resultados a curto prazo, utilizamos atividades para serem desenvolvidas na sala com os alunos e o alfabetizador apresentava um diário reflexivo sobre os resultados. As atividades foram elaboradas atendendo a três sugestões básicas sobre a prática educativa dos alfabetizandos, com um espaço de tempo de um encontro para o outro: i) relatar as práticas realizadas junto aos alunos e que foram bem sucedidas; ii) as dificuldades encontradas nesse período de tempo e, iii) sugestões para avançar. Podemos destacar um ponto importante nessa atividades segundo a apresentação dos resultados e depoimentos dos coordenadores, que os trabalhos eram planejados coletivamente em cada município, acompanhado pelo coordenador municipal, desenvolvidos em sala e apresentando os resultados em cada encontro. Esses momentos foram importantíssimos, pois os alfabetizadores trocaram experiências e apresentaram seus trabalhos de forma criativa, inovadora. Procuramos, por outro lado, despertar e esclarecer aos alfabetizadores através dos conteúdos abordados, as múltiplas linguagens: oral, visual, corporal, escrita, e a conexão que se estabelece entre elas. Para desenvolver essa abordagem dentro de uma visão que considera os saberes como construção holistica e transformadora, utilizamos recursos envolventes, reflexivos, e humanizadores, entre eles podemos citar: i)leituras de imagens diversificadas, considerando o olhar e a interpretação de cada um; ii) técnicas de dinâmicas estabelecendo o vinculo entre os sentidos, os sentimentos e o equilíbrio das emoções; iii) debates sobre as experiências apresentadas, ambiência de sala de aula, perfil do alfabetizador e alfabetizando; iv) textos reflexivos, projeção de vídeo, músicas de vários estilos; v) estudo dos conteúdos nos módulos “viver e aprender” vol - 1-2-3. Percebemos durante os encontros, o grande envolvimento dos alfabetizadores e foi proclamado o sucesso no dia da culminância, quando todos se envolveram para apresentar em forma de painel a produção dos seus alunos. Na oportunidade a coordenação registrou em forma de filmagem e fotografias, para posteriores apresentações. Podemos citar algumas falas: “ As outras capacitações não foram parecidas com essa. Essa foi diferente, mais proveitosa”.( Alfabetizadora – Jardim) “Os encontros aqui estão sendo muito proveitosos, para nós aplicarmos em sala de aula; contamos com professores capacitados”. (Alfabeti zadora – Barros) “ Nos encontros foram trabalhadas dinâmicas para serem aplicadas em sala, construção de instrumentos que auxiliam no processo de alfabetização, e principalmente as experiências promovidas de forma oral e escrita. Essa ultima de grande valia nos encontros, pois além das experiências apresentadas por nos monitores, eram apresentadas diversas por parte dos alfabetizadores, tornando riquíssimo cada momento”. ( Monitor do curso – Crato) Além da exposição dos trabalhos, houve um espaço para as apresentações artísticas como: dramatização, paródia, poesias, mensagens, danças. Os alfabetizadores de cada município exerceram seu papel com compromisso, participação. Contamos também com a participação de alguns números musicais apresentados por alunos da Alfabetização Solidária. Fala de um monitor: “ Esse trabalho contribuiu de forma significativa, dentro de uma perspectiva de transformação da ação pedagógica, percebido nos depoimentos dos alfabetizadores de trabalhos realizados com seus alunos”. Detectamos, em relação às expectativas da formação continuada, através das avaliações aplicadas aos alfabetizadores: “Os objetivos foram alcançados à medida em que socializamos nossos trabalhos e construímos novos conhecimentos, o que nos amadureceu ainda mais, nesses encontros produtivos”. (Alfabetizador- Barros) “ Com muito êxito, pois através da troca de experiência que ampliamos nossos conhecimentos. A socialização nos enriqueceu muito”. ( Alfabetizador – Grangeiro) Na avaliação em relação ao item da proposta da formação continuada, podemos citar algumas falas: “ Crescemos como grupo e como pessoa, adquirimos experiências, convivemos com outras realidades e outros fatores que podemos associar a nossa vida profissional”. (Alfabetizador – Penaforte) “Foram temas que atendiam à necessidade da nossa clientela, dentro da nossa realidade”. ( Alfabetizador – Grangeiro) “Aprendemos muito e aprimoramos nossa prática através dos temas abordados nos encontros”.(Alfabetizador – Potengi). Os resultados analisados durante e no final da formação vêm a certificar que os objetivos foram alcançados. Os momentos apresentados foram reflexivos e como diz Freire “...ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar as possibilidades para a sua produção ou a sua construção”. (1996, p.14). À GUISA DE CONSIDERAÇÕES A complexidade do mundo exige um aprender continuadamente, por toda a vida, ante os avanços do conhecimento e a permanente criação do códigos, linguagens, símbolos e de sua recriação diária. Exige não só o domínio do código da leitura e escrita, mas exige também competência como leitor e escritor de seu próprio texto, de sua história, de sua passagem pelo mundo. Buscou-se a todo momento destacar a importância do conhecimento sistematizado analisando as práticas realizadas no dia-a-dia, suas experiências e estudos reflexivos. Percebeu-se durante todo os encontros entusiasmo, participação, vontade de aprofundar seus conhecimentos na busca da melhoria do processo ensino-aprendizagem. O que cabe pois, à alfabetização de Jovens e Adultos assumir como política pública, é, por um lado o aprender por toda a vida, o que faz o homem ser mais, humaniza-o, potencializa sua condição de sujeito pensante, que interfere e transforma, com seu agir, o mundo. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ANDRADE, Eliane Ribeiro. Os jovens da EJA e a EJA dos jovens. In: BARBOSA, Inês º,PAIVA, Jane (orgs. ). Educação de Jovens e adultos. Rio de Janeiro: DP&A, 2004. ARROYO, Miguel. A Educação de Jovens e Adultos em tempos de exclusão. Alfabetização e Cidadania. São Paulo: Rede de Apoio à Ação Alfabetizadora do Brasil(RAAAB), n.11,abril 2001. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9394/96). Brasília, 1996. CARRANO, Paulo Cesar Rodrigues. Identidades juvenis e escola. Alfabetização e Cidadania. São Paulo: Rede de Apoio à Ação Alfabetizadora no Brasil (RAAAB), n.10, nov. 2000. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessário à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. Ler e escrever com muito prazer: Adversidade textual na alfabetização de jovens e adultos: Guia com dicas para uso da série de programas./ Programa Alfabetização Solidária – MEC: SEED, 2001. (RÁDIO ESCOLA).