1. Introdução A gestão democrática é de suma importância para o desenvolvimento da rede pública de ensino tendo papel decisivo na vida das comunidades e no processo de emancipação dos cidadãos, pois como afirma Bordignon; Gracindo (2000), a gestão democrática da educação “[...] trabalha visualizando o presente e o futuro, identificando as forças, valores, surpresas e incertezas e a ação dos atores sociais e suas relações com o ambiente, como sujeitos da construção da história humana [...]”. (p. 159). Portanto os atores sociais constroem a gestão democrática no interior dos órgãos administrativos dos sistemas educacionais e das instituições escolares. A gestão democrática da educação está atrelada aos mecanismos legais e institucionais de participação da comunidade escolar e local, destacando-se as eleições diretas para os dirigentes escolares, a formação de colegiados, a autonomia da unidade escolar. A concretização do mecanismo de eleições diretas para gestores escolares, quando definido pelos sistemas de ensino, visa atenuar e/ou superar os vestígios do autoritarismo presentes no cargo de direção escolar, que, segundo Luce (1987) vem sofrendo “[...] influências oligárquicas e personalistas nas decisões a nível de escola e sistema”. (p. 27). Outra forma de limitar o poder autoritário dos diretores escolares é a implantação de colegiados, que consiste na participação de diretores, professores, funcionários, estudantes, pais e outros representantes da comunidade para debater, determinar e acompanhar assuntos referentes à gestão pedagógica. (RODRIGUES 1985 apud MARCIEL, 1997, p. 72). Já as referencias á autonomia da unidade escolar presente na legislação e em normas dos sistemas de ensino brasileiro (LDB e CF de 1988), são realizados de maneira vaga. Dessa forma, as referencias á autonomia escolar são consideradas como um valor, mas não definem mecanismos concretos para sua conquista efetiva (MENDONÇA, 2001, p. 93), que precisa ser construída cotidianamente pelos segmentos da escola, não sendo, portanto, resultado de atos e resoluções decretadas. Diante dessas discussões, o principal interesse dessa pesquisa é compreender: quais os desafios cotidianos enfrentados pela gestão escolar para a implantação de uma gestão democrática em escolas de ensino fundamental do município de Campina Grande. 1 2. Objetivos 2.1. Objetivo Geral Analisar os desafios cotidianos encontrados pela gestão escolar para a implementação de uma gestão democrática em escolas pública municipais de Campina Grande. 2.2. Objetivos específicos 1. Conhecer a proposta de organização da gestão escolar em duas escolas de ensino fundamental do município de Campina Grande. 2. Identificar princípios / indicadores constitutivos de uma gestão democrática da escola pública. 3. Investigar os indicadores de democratização da gestão presentes nas escolas estudadas. 4. Discutir os desafios cotidianos existentes na gestão das escolas estudadas para a implantação de uma gestão democrática. 1. Justificativa Estudar os desafios cotidianos da gestão educacional democrática nas escolas de ensino fundamental é fruto de uma proposta de pesquisa da disciplina Pesquisa 2 Educacional I, ministrada pela professora Andreia Ferreira da Silva, que visa o aprofundamento da temática “gestão democrática” discutida em suas aulas. A gestão democrática contribui para o desenvolvimento de uma gestão participativa de toda a comunidade escolar em conjunto com a comunidade local. Para essa interação ser concretizada é preciso promover o envolvimento e a atuação dos indivíduos nessa ação. Dessa forma, a descentralização do poder e atuação de todos os segmentos para a construção de uma proposta coletiva de educação são fundamentais. Segundo Maciel (1992) apud Cabral Neto; Almeida (1997), a democratização das escolas públicas não é uma temática recente, ela vem sendo objeto de preocupação e de pesquisa desde os anos 1980, pois trata-se de um debate movido pela luta de educadores e movimentos sociais em prol de um projeto de educação pública de qualidade. Como consequência dessa luta pela democratização, surgiu o princípio da gestão democrática escolar estabelecida na Constituição Federal (BRASIL, 1988, art. 206, Inciso VI). A partir desse momento, as instituições escolares de ensino público passaram a ter que realizar a democratização da gestão para contribuir com a melhoria do processo educacional e para a formação da cidadania. A LDB (1996), Lei n°. 9.394/1996, estabeleceu, como um dos princípios da gestão democrática da educação a participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola e a participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (BRASIL, 1996, Art. 14, inciso I; II). Portanto, a gestão democrática supõe um modo de agir coletivamente, proporcionando aos participantes da sociedade local e escolar possibilidades para realizar um plano de ação para reduzir ou resolver problemas existentes na instituição de ensino, contribuindo também para a realização do projeto político pedagógico (PPP). (LIBANEO, 2001, p. 102). O projeto de pesquisa aqui apresentado é de grande relevância, pois busca compreender as ações e dificuldades no processo de construção da gestão democrática em escolas públicas de ensino fundamental, levando em consideração o espaço na qual está inserida e preservando os princípios que constituem a concepção democrática. 2. Metodologia 3 Para a realização dessa pesquisa optou-se por fazer um estudo de caso qualitativo. Segundo André e Ludke (1986), o estudo de caso, “é o estudo de um caso, seja ele simples e específico [...]. O caso é sempre bem delimitado, devendo ter seus contornos claramente definidos no desenrolar do estudo”. (p. 17). Sendo assim, o estudo de caso é um meio de pesquisa compreendido como uma metodologia ou como a escolha de um objeto de estudo definido pelo interesse da investigação de casos específicos. Através de um estudo de caso, nos propomos a fazer um levantamento de informações e estudo a respeito da gestão educacional em duas escolas do município de Campina Grande, que serão visitadas. Serão utilizados os seguintes instrumentos para a coleta de dados: 1º) Estudo bibliográfico; 2°) Pesquisa documental; 3º) Estudo de campo; 4º) Entrevistas semi- estruturadas com os gestores e professores das instituições. A pesquisa será de natureza bibliográfica que é “caracterizada por buscar os dados a serem analisados na literatura disponível” (MALHEIROS, 2011, p. 112). Sendo assim serão analisados os principais trabalhos e descobertas na área de estudo sobre a gestão democrática, capazes de fornecer dados atuais e relevantes relacionados ao tema para fundamentação teórica da pesquisa. Para isso o nosso trabalho fundamenta-se nas concepções teóricas dos estudiosos: Ferreira (2000), Hora (2007), Paro (2001; 2004), Libâneo (2001) A pesquisa será também de base documental que consiste no tipo de pesquisa que “[...] tem seus dados extraídos exclusivamente de documentos. [...] que podem aparecer de forma visual, escrita ou oral e devem necessariamente encontrar-se em um material que seja de uma fonte durável de armazenamento”. (MALHEIROS, 2011, p. 85). Dito de outra maneira, a pesquisa documental é realizada a partir de documentos considerados cientificamente autênticos. Nessa pesquisa analisaremos as seguintes leis federais, a Constituição Federal de 1988 e a LDB (Lei de Diretrizes de Bases da Educação), que definem princípios e normas da gestão democrática do ensino público na educação básica brasileira. Além disso, serão analisados o Regimento da secretaria municipal de educação, o regimento da escola, o regimento do conselho escolar e o projeto político pedagógico (PPP) das escolas que serão investigadas. 4 Sobre o estudo de campo Malheiros (2011), o caracteriza como “uma técnica que se relaciona muito mais á forma de coleta de dados do que propriamente ao modelo metodológico de condução da pesquisa”. (p. 96). Completando esse sentido Deslandes (1994) apud Minayo (1992), concebe campo de pesquisa como o recorte que o pesquisador faz em termos de espaço, representando uma realidade empírica a ser estudada a partir das concepções teóricas que fundamentam o objeto da investigação. (p. 53). Portanto conforme foi dito pelos autores concebemos o estudo de campo como uma técnica que incorpora todas as pesquisas que vão buscar os dados no ambiente natural no qual estão inseridos, onde o pesquisador realiza a coleta de dados delimitando o tempo e o espaço de uma realidade empírica a ser estudada, por meio das concepções teóricas que fundamentam o objeto da investigação. Para o estudo de campo, nessa pesquisa será observada como está organizada a gestão escolar em duas escolas do município de Campina Grande, a partir dos indicadores de democratização da gestão no interior das escolas. Além dessa observação da organização da gestão escolar, serão realizadas entrevistas semi- estruturadas com os gestores e professores das instituições. A entrevista semi-estruturada, para Triviños (1987), caracteriza-se como questionamentos básicos que são apoiados em teorias e hipóteses que estão relacionados ao tema da pesquisa. Os questionamentos faz surgir a novas hipóteses fruto das respostas dos informantes. (p. 146). Mediante a observação da gestão das escolas e analise das entrevistas, procuraremos descrever os obstáculos existentes na democratização da gestão escolar, o perfil e formação dos gestores e sua atuação enquanto participantes desse contexto, analisando os principais trajetos para a implantação de uma gestão escolar democrática. 3. Fundamentação Teórica 5.1. Gestão escolar democrática: aspectos legais e seus significados 5 A Constituição Federal de 1988 consiste em um grande avanço para a democratização da educação ao instituir o principio da gestão democrática do ensino público. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96) estabelece em seus artigos 3°, 14° e 15° os princípios referentes a gestão democrática. O art. 3° estabelece no inciso “VIII- gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino”, garantindo dessa forma a organização democrática no interior da escola, assegurado na forma desta lei. (BRASIL, 1996). O art. 14 º da LDB reforça a participação entre a comunidade escolar e local, como também dos docentes na elaboração do projeto pedagógico da escola. Esta é uma novidade que aparece pela primeira vez na legislação educacional brasileira e que determina às normas a que serão estabelecidas conforme ás distinções de cada sistema de ensino. Para melhor compreensão do que está sendo dito, citaremos o que diz os princípios: “I – participação dos profissionais da educação básica na elaboração projeto pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes”. (BRASIL, 1996). O art. 15º trata da autonomia da unidade escolar, sendo assim complementa o que foi estabelecido no art. 14º, quando dispõe que: “Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão financeira, observadas as normas gerais do direito financeiro público.” (BRASIL, 1996, art. 15º) As lutas e movimentos que ocorreram a favor da gestão democrática aconteceram entre os anos de 1980 e 1990 em um período de descentralização da gestão escolar. Até então, em nosso país, o modelo educacional era caracterizado por um modelo centralizado, baseado no ensino tradicional. Portanto não havia a participação dos segmentos da escola para a construção de uma gestão democrática. (MACIEL 1992 apud CABRAL NETO; ALMEIDA, 1997, p. 155). A gestão democrática do ensino público requer que projetos e ações sejam realizados com mais clareza, para que todos tenham conhecimento e possam participar do processo administrativo da escola, ou seja, as decisões administrativas necessitam ser compartilhas e socializadas. 6 Paro (2001), tem uma visão não muito otimista a respeito da função desempenhada pela escola na sociedade hoje. Para ele a escola “pode contribuir para a transformação social”, o que não quer dizer que ela está cumprindo esse papel, tendo em vista que ela caracteriza-se como reprodutora de certas ideologias dominantes de um sistema hierárquico que centraliza todo o poder nas mãos do diretor. (p. 10). A escola tem que ter um compromisso político com a comunidade, diante desse contexto a gestão democrática tem esse objetivo social e político, onde o que deve prevalecer é o interesse de todos. 5.2. Indicadores e principais mecanismos da gestão escolar democrática Para o processo de democratização da gestão é necessário alguns indicadores para a implantação de uma gestão democrática, são eles: a autonomia, a descentralização e a participação. O conceito de autonomia, segundo Barroso (2001), está etimologicamente relacionado à ideia de autogoverno, de se reger por regras próprias. Se a autonomia pressupõe a liberdade de decidir, ela não se confunde com a independência. A ação da autonomia se pratica sempre num contexto de interdependência e num sistema de relações, exprimindo sempre certo grau de relatividade: pode-se ser autônomo em relação a umas coisas e não o ser em relação à outra. (p. 16). A autonomia pedagógica, administrativa e de gestão financeira não torna a escola independente para “fazermos aquilo que queremos e o que entendemos ser melhor para a escola, em um determinado momento”, mas sim caracteriza-se como um processo construído coletivamente tendo em vista as diretrizes estabelecidas pelos sistemas de ensino e as condições para viabilizá-la na forma da lei. (DOURADO 2001 apud DOURADO 2003, p. 72). As diretrizes estabelecidas pelos sistemas de ensino, definidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394/96), já citada no tópico anterior, são alvo de algumas críticas e questionamentos por serem ainda vagas na própria legislação. Sendo assim, mesmo não estando claros os mecanismos para a democratização da gestão escolar, é por meio da descentralização, que se pode alcançar à autonomia da 7 instituição educativa. Portanto é necessário persistir nesta conquista, pois, tal como cita Fogaça (1999), quando trata das relações educação e trabalho, o verdadeiro sentido desta descentralização é a manutenção das decisões relevantes [...] ao nível do poder central, enquanto se “democratiza” os problemas, com a transmissão ao sistemas e unidades escolares e, por extensão, às comunidades às quais servem da responsabilidade e do ônus da resolução dos seus problemas, sem que se ofereça a essas instâncias os instrumentos para tanto. (p. 60). Outro indicador importante para a construção de uma gestão democrática, segundo Libâneo (2001), é a participação “principal meio de se assegurar a gestão democrática da escola, possibilitando o envolvimento de profissionais e usuários no processo de tomada de decisões e no funcionamento da organização escolar” (p.79). Com base no autor cabe destacar que, para que a mesma possa ser útil dentro da escola (como meio de auxilio para as discussões dos embates organizacionais, visando soluções e decisões para beneficio da escola) tem que existir uma relação de parceria entre o educador, o gestor e as instituições públicas. No que diz respeito aos mecanismos da gestão escolar democrática, destaca-se nas escolas públicas: 1) a constituição do Conselho Escolar; 2) a elaboração do Projeto Político Pedagógico (PPP); 3) A elaboração do Regimento da escola; 4) existência de espaços para órgãos dos alunos; 5) existência da participação dos pais. (DOURADO, 2001, p. 25). A seguir falaremos sucintamente sobre esses mecanismos, para compreendermos que esses, e outros, são indispensáveis ao fortalecimento de ações democráticas no âmbito da escola. O Conselho Escolar consiste em um órgão deliberativo, composto por representantes de todos os segmentos da comunidade escolar. O Conselho Escolar, “será a voz e o voto dos diferentes atores da escola, internos e externos, desde os diferentes pontos de vista, deliberando sobre a construção e a gestão de seu projeto político pedagógico” (BORDIGNON, 2004, p. 34). Portanto é por meio dele que a comunidade escolar poderá controlar a qualidade dos serviços prestados na escola e de modo democrático, professores, pais, funcionários, alunos e outros debatem de maneira crítica sobre o cotidiano escolar. O Projeto Político Pedagógico (PPP) se caracteriza “como um dos principais instrumentos para a organização do trabalho e das atividades da escola e, particularmente, para a definição de sua própria organização pedagógica”. (p. 56). A elaboração do PPP da escola é indispensável na esfera de uma gestão escolar 8 democrática, pois é com a sua elaboração coletiva que as propostas e ações nele contidas são executadas e analisadas com o intuito de obter os objetivos a que se propõe, designando, sobretudo, os caminhos para o futuro da gestão escolar democrática, descentralizada e com autonomia nos processos de tomada de decisões da escola. (DOURADO, 2003, p. 48-52). Toda a instituição oficialmente formalizada deve ter como base um documento que guie e regulamente suas atividades. No contexto educacional, faz-se necessário que os estabelecimentos escolares sejam regulamentados por regimentos internos para que venham a estabelecer as ações pedagógicas previstas no plano político pedagógico. Em outras palavras, afirma Alvarez (2004), que é por meio deste regimento interno (o regimento escolar), que o PPP passa a ser realizado. Daí procede à importância do regimento escolar, “[...] a fim de que essa estrutura funcione corretamente, é necessário que sejam adotadas uma série de regras, normas e procedimentos sem os quais as organizações não operam devidamente” (p. 73). Contudo, Mendonça (2001), afirma que o próprio Regimento escolar é um exemplo de falta de autonomia da escola, que geralmente tem forma única estabelecida pelas administrações centrais e aprovadas pelos órgãos normativos dos sistemas, tornado-se um desrespeito ao aspecto pedagógico e cultural de cada unidade escolar, na sua relação com as comunidades locais. (p. 93). Outro mecanismo indispensável ao fortalecimento de ações democráticas no âmbito da escola é a existência de espaços para órgãos dos alunos. Segundo Veiga (1998), em um ambiente escolar cujo objetivo é formar sujeitos participativos, críticos e criativos, os órgãos estudantil assumem um papel relevante, a medida que constitui numa "instância onde se cultiva gradativamente o interesse do aluno, para além da sala de aula". (p. 113). Desse modo, o grêmio estudantil (estabelecido legalmente por meio da Lei nº 7.398/85, especificamente no Art. 1º), é um exemplo de um espaço de participação dos estudantes nos debates cotidianos escolares e ações decisórias, constituindo-se assim em um meio de aprendizagem da função política da educação e do processo democrático. A Associação de pais e mestres deixou de ser uma necessidade passando a ser uma obrigatoriedade determinada pela LDB (Lei n° 5.692/1971), em seu artigo 62º determina que “Art. 62- Cada sistema de ensino compreenderá obrigatoriamente, [...] entidades que congreguem professores e pais de alunos, com o objetivo de colaborar para o eficiente funcionamento dos estabelecimentos de ensino”. (BRASIL, 1971). A associação de pais e mestres constitui-se em mais um dos mecanismos de participação 9 da comunidade na escola, tornando-se um importante meio de aproximação entre os pais e a instituição, contribuindo para que a educação escolarizada ultrapasse os muros da escola e a democratização da gestão seja uma conquista possível. (DOURADO, 2001, p. 26). Para a efetivação desses mecanismos já citados, cabe salientar que a participação de toda comunidade escolar na elaboração de projetos pedagógicos e do regimento é de suma relevância para o processo de gestão democrática, tendo em vista que esse comprometimento e participação no cotidiano escolar nos conduzem à construção da democracia. 5.3. Gestores: seu papel e formação para a atuação na gestão democrática Segundo Paro (2005), o gestor escolar deve ser um líder da equipe escolar que concilia o trabalho pedagógico com o administrativo. A gestão escolar exige dos gestores várias habilidades e conhecimentos, considerando que ele é responsável por aquele ambiente educacional e deve ter total compromisso ao desempenhar seu trabalho, onde deve exercer sua liderança administrativa e pedagógica visando a participação de todos os seguimentos da escola. (p. 07). Em contrapartida, cabe-nos ressaltar com base no modelo de gestão educacional centralizado presente atualmente em nosso país, que quando falamos na função do gestor escolar, imaginamos um diretor que controla todas as atividades administrativas da escola, fazendo com que todos cumpram as regras estabelecidas para se alcançar determinados fins. Esse perfil de diretor não se baseia em princípios democráticos, pois, para que os mesmos sejam adotados é preciso que o diretor deixe de executar esse modelo de gestão burocrática e passe a adotar um perfil de gestor que propicie a participação na escola de pais, alunos, professores e funcionários e que assuma um compromisso de promover a efetiva participação desses segmentos nas relações pedagógicas da escola. 10 A formação dos gestores educacionais é de grande importância no contexto escolar, na medida em que é por meio da valorização e investimentos desses profissionais, que se pode contribuir para a formação dos alunos e da escola. A LDB não traz mudanças significativas em relação à formação do cargo de diretor escolar, pois para os profissionais da educação estabelece apenas a formação destes com o curso de pedagogia, conforme estabelece o art. 64º, A formação de profissionais de educação para administração, planejamento, inspeção, supervisão e orientação educacional para a educação básica, será feita em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta formação, a base comum nacional. (BRASIL, 1996). Esse princípio, em relação ao diretor escolar, não contempla uma formação distinta para esse cargo com conhecimentos específicos para sua atuação, pois os conhecimentos adquiridos no curso de pedagogia não são o bastante para a função diretiva na escola. É necessário que esses profissionais tenham uma formação continuada visando á construção de uma gestão democrática, melhor qualidade de ensino, e que se torne um profissional apto a assumir os desafios existentes na sociedade atual. (FERREIRA, 2000, p. 115). 5.4. Desafios cotidianos de uma gestão democrática A gestão democrática é um modelo de administração, que substitui aquele modelo burocrático e patrimonialista para adotar um modelo de administração integrada ao contexto escolar e social. Mas essa integração deve envolver todos os segmentos da escola, como também a sociedade de modo geral. Isso traz alguns desafios a serem enfrentados pela escola, conforme afirma Alonso (1988), Repensar a escola como um espaço democrático de troca e produção de conhecimento que é o grande desafio que os profissionais da educação, especificamente o gestor escolar, deverão enfrentar neste novo contexto educacional, pois o gestor escolar é o maior articulador deste processo e possui um papel fundamental na organização do processo de democratização escolar. (p. 11). 11 É preciso que a escola tome conhecimento dos problemas existentes na comunidade, onde a instituição está inserida, e dessa forma promova a participação desses indivíduos dentro desse contexto. Não é fácil construir uma integração entre a escola e comunidade escolar, mais é necessário que a gestão escolar crie mecanismos para mobilizar todos a participar do desenvolvimento da escolar e assim superar os desafios presentes para implantação da gestão democrática. A seguir citaremos cinco categorias sistematizadas por Mendonça (2001), existentes no processo de concretização de alguns indicadores e mecanismos democráticos usados pelos sistemas de ensino brasileiro, que compreendemos como desafios a serem enfrentados pela gestão escolar para implementação da democratização. A primeira categoria diz respeito à participação, apesar das legislações definirem critérios de proporção na participação aos “segmentos” da comunidade escolar, ainda existe uma monopolização de participação por parte dos diretores, professores e funcionários. Mesmo adotando mecanismos de participação, ainda há resistências e atitudes de dominação dos docentes sobre os demais membros da escola. (p. 87). A segunda categoria refere-se a escolha de diretores. No Brasil, é possível identificar quatro formas de provimento de diretor escolar, são eles: indicação; concurso; eleição; seleção e eleição. Sendo que a eleição é o mecanismo de provimento do cargo de diretor mais adotado (53%), seguido de indicação (44%). Esses mecanismos mostram as concepções de gestão democrática incorporadas pelos sistemas de ensino. A eleição representa a luta contra o clientelismo e autoritarismo na gestão da educação e utilizada por muitos sistemas de ensino, visando a democratização. (p. 88). Mendonça elenca como terceira categoria a implantação dos colegiados que consiste em uma das formas de limitação do poder do diretor como expressão da gestão democrática utilizados pelo sistema de ensino. O colegiado representa todos os segmentos da escola, que visa o bem comum; mesmo assim, muitas vezes os docentes exercem certa dominação sobre os demais segmentos. (p. 90; 91). A quarta categoria apresentada pelo autor é a descentralização. Segundo o mesmo a democratização não é intrinsecamente democratizante. Embora muitos sistemas de ensino ressaltem a importância da mesma, são poucos os que elaboram projetos ou programas para concretizá-la. A forma mais utilizada de descentralização é a financeira, seguida da pedagógica e da administrativa. No entanto, a precariedade dos 12 recursos traz como consequência uma descentralização financeira escassa, onde a escolas faz parcerias com os outros setores da comunidade, ficando as escolas situadas em ambiente menos favorecidos, mais desprivilegiadas, uma vez que são as que mais necessitam de recursos. ( p. 92). Como ultima categoria o autor faz referencia a autonomia das escolas que são contempladas nas legislações de maneira vaga. Na pesquisa do autor, não há registros de que as administrações centrais tenham realizado adaptações significativas, e sim, documentos referentes às normas elaboradas pelos sistemas de ensino, que instituem mais limites do que mecanismos de autogoverno da instituição escolar. (p. 93). A partir das categorias aqui apresentadas, Mendonça (2001), conclui que as dificuldades e as resistências existentes contra ao movimento de democratização são de diferentes naturezas, como, a interferência política na educação, o funcionamento do sistema de ensino, que estão relacionados aos processos administrativos, á inflexibilidade na rotina administrativa e ao autoritarismo nas relações do sistema da escola. (p. 94). É importante enfatizar que não só há estes desafios citados, existem outros em relação ao ensino democrático, que precisam ser avaliados em todos os aspectos políticos pedagógicos, para que sejam superados mediante em ações e reflexões feitas coletivamente. E o estado deve cumprir com suas obrigações com o ensino público, para a realização do processo de participação nas escolas do Brasil. 6. Referências ALONSO, Myrtes. O papel do diretor na administração escolar. Rio de Janeiro: Bertand, 1988. ALVAREZ, Manuel Alvarez, (org.). O projeto educativo da escola. 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