V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES I CONGRESSO NACIONAL EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE 08 a 10 de setembro de 2011 UFS – Itabaiana/SE, Brasil A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE DO PROFESSOR DE LÍNGUA MATERNA PELA EQUIPE DIRETIVA: UMA ABORDAGEM DISCURSIVA1 Agnaldo Almeida de Jesus (UFS)2 Cristiane dos Santos (UFS)3 INTRODUÇÃO O ensino de Língua Portuguesa no Brasil tem passado por um processo de fracasso e de insucesso. Tal fracasso, por sua vez, tem sido explicado por alguns teóricos a partir da instauração da disciplina Língua Portuguesa. Ademais, sabe-se que grande parte dos professores de LP está predeterminada a ensinar somente a gramática normativa, elegendo a língua padrão como a única variação possível de língua. Nesse sentido, não é possível afirmar o reconhecimento da língua sob a perspectiva da sua própria historicidade e dialogia. Dessa forma, o ensino da gramática normativa estabelece uma relação dialogal nula entre professor e alunos, pois a maioria desses tem em mente que, por não dominar a variante lingüística tida como “certa”, o aluno não sabe a sua própria língua. Com efeito, tais alunos têm as suas vozes silenciadas. Os professores, por sua vez, ao privilegiarem a norma culta como único objeto de ensino, acabam por instaurar uma relação de poder sobre seus alunos. Tal relação, por seu turno, já é estabelecida pela própria escola. Nesse contexto, esses profissionais corroboram a instituição do poder no espaço escolar, na medida em que impõem somente uma perspectiva de língua, qual seja: a norma padrão. Com base nos pressupostos teóricos de Michel Foucault (2003, 2008), Guimarães (2005), dentre outros, pretendemos analisar como essa relação de poder vem se desenvolvendo desde o princípio da instauração do Português como disciplina obrigatória. Além dessa perspectiva histórica, à luz de Amossy (2008), Maingueneau (2008), trazemos à tona os estudos acerca do ethos discursivo, por entendermos que a construção de imagens que 1 Trabalho orientado pela profª. Drª. Maria Emília de Rodat de Aguiar Barreto Barros. 2 Aluno do curso de graduação em Letras da Universidade Federal de Sergipe, Campus Itabaiana. Integrante do Projeto O Professor de Língua Materna e as Imagens de Si (PAIRD/UFS) em 2008/2009. Monitor das disciplinas Produção e recepção de textos II e Laboratório para o ensino de gêneros textuais no semestre 2010.1. Atualmente, é bolsista do Programa Institucional de Iniciação à Docência (PIBID/CAPES/UFS). E-mail: [email protected] 3 Aluna do curso de graduação em Letras da Universidade Federal de Sergipe, Campus Itabaiana. Integrante do Projeto O Professor de Língua Materna e as Imagens de Si (PAIRD/UFS) em 2008/2009. Assim como do Programa Institucional de Iniciação Científica – 2010/2011. E-mail: [email protected] 1 ANAIS DO V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES GEPIADDE/UFS/ITABAIANA ISSN 2176-7033 V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES I CONGRESSO NACIONAL EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE 08 a 10 de setembro de 2011 UFS – Itabaiana/SE, Brasil esses profissionais fazem de si, do seu objeto de ensino (a LP), e dos alunos também colaboram para a existência do já mencionado fracasso no ensino de língua. As análises aqui apresentadas são parte da pesquisa de mesmo título desse artigo, orientada pela Professora Drª Maria Emília Barreto Barros. Neste trabalho, observarmos a construção do ethos discursivo desses profissionais, por meio de entrevistas não-diretivas. Tais entrevistas, por seu turno, foram feitas em cinco escolas (públicas e particulares), no município de Itabaiana – SE. À luz dos postulados teóricos da Análise do Discurso (doravante AD), procedemos às análises dessas entrevistas. Além dessas teorias, contamos com as contribuições de Michel Foucault, como mencionado, principalmente no que diz respeito às relações de poder instauradas no espaço escolar. 1. A LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL: UM PERCURSO HISTÓRICO Como citado anteriormente, acreditamos que o fracasso por que vem passando o ensino de língua no Brasil tem raízes históricas. Nesse sentido, fazemos algumas reflexões a respeito da chegada do português ao Brasil, apresentando o contexto histórico em que essa língua foi transportada para as terras brasileiras. O processo de instauração dessa língua no Brasil, segundo Guimarães (2005), ocorre em quatro períodos. Desde as grandes navegações, passando pela colonização dos holandeses no Brasil, a expulsão desse povo das terras brasileiras, a vinda da família real para o Brasil até a imposição da Língua Portuguesa no Brasil pelo Marquês de Pombal. Observamos que, por ocasião da chegada dos portugueses ao Brasil, havia múltiplas línguas nesse território. Além dessas línguas, por conta do processo de colonização, foram importadas muitas outras. Afora isso, por necessidade de se estabelecerem as relações entre os povos indígenas e os colonizadores, foram instauradas as línguas gerais, cuja base era o tupi. É nesse contexto de multiplicidade linguística que o Marquês de Pombal, na metade do século XVIII, torna o uso da língua portuguesa obrigatória e proíbe o uso de qualquer outra língua. Essa medida tem como pressuposto o fato de o domínio de uma terra ter suas implicações linguísticas. Tal proibição é uma forma de impedir o uso da língua geral nas instituições de ensino. Sendo assim, “[...] o português que já era a língua oficial do Estado 2 ANAIS DO V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES GEPIADDE/UFS/ITABAIANA ISSN 2176-7033 V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES I CONGRESSO NACIONAL EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE 08 a 10 de setembro de 2011 UFS – Itabaiana/SE, Brasil passa a ser a língua mais falada no Brasil.” (GUIMARÃES, 2005, p.21). É nesse contexto que a Língua Portuguesa se torna a língua em circulação. Nesse sentido, há um silenciamento das vozes dos sujeitos falantes das outras línguas. Por reconhecermos que tal silenciamento das vozes desses sujeitos a partir da imposição de Língua Portuguesa no Brasil tem seus reflexos no ensino de língua atualmente, contamos com as contribuições de dois autores, quais sejam: Pierre Bourdieu e Michel Foucault. Para o primeiro, a língua legítima é legitimada, na medida em que aceitamos o falar “certo” versus o “errado”. Para o segundo, a Língua Portuguesa (LP), na medida em que se torna uma disciplina, traz em seu bojo as relações de poder institucionalmente determinadas. Assim, trazemos à tona os postulados teóricos desses autores. 2. MICHEL FOUCAULT E BOURDIEU: A LÍNGUA COMO UMA QUESTÃO DE PODER À luz das teorias de Michel Foucault (2003, 2008), abordaremos os mecanismos que instauram vigilância, punição e disciplina na instituição escolar. É nesse contexto que Foucault (2008) discute o ensino como algo que torna os indivíduos mecânicos, dóceis e alienados. Além desses postulados teóricos, colocamos em discussão os mecanismos de controle dos discursos, segundo Foucault (2003). Segundo este autor, na medida em que uma ciência se torna disciplina traz em seu bojo as relações de poder, uma vez que há a instituição de verdades absolutas. Nessa perspectiva, quando a LP se torna uma disciplina, também se torna um mecanismo de controle dos discursos em circulação. Isso porque, a instauração da LP enquanto disciplina ocorreu sob uma única perspectiva, qual seja: a da Tradição Gramatical. Negaram-se, portanto, todas as outras variantes existentes. E, na medida em que os professores de língua perpetuam tal perspectiva, colaboram com as relações de poder instituídas. Conforme Foucault (2003), em toda sociedade ocidental, existem procedimentos de controle do discurso tanto externos quanto internos. Fazem parte do primeiro procedimento: a 3 ANAIS DO V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES GEPIADDE/UFS/ITABAIANA ISSN 2176-7033 V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES I CONGRESSO NACIONAL EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE 08 a 10 de setembro de 2011 UFS – Itabaiana/SE, Brasil interdição, a separação e rejeição, e a vontade de verdade que funcionam como sistema de exclusão concernente à parte do discurso que põe em jogo o poder e o desejo. Nessa perspectiva, a interdição restringe o discurso, pois não se pode falar de tudo em qualquer circunstância. Na análise dos procedimentos, Separação e Rejeição, Foucault (2003) cita como exemplo a oposição: razão e loucura. O louco é aquele cujo discurso é impedido de circular como o dos outros. O terceiro princípio de exclusão, por sua vez, está centrado na oposição verdadeiro versus falso. Nesse sentido, Foucault (2003) comenta que desde a Idade Média perpetua-se o discurso verdadeiro pronunciado por quem tem direito, segundo um ritual requerido. Quanto aos procedimentos internos de controle e delimitação do discurso, temos: o comentário, o princípio de autoria, a disciplina. Tais procedimentos, por sua vez, exercem o próprio controle dos discursos. Funcionam segundo os princípios de classificação, de ordenação e de distribuição do discurso. Partindo dessa premissa, é constatado o controle dos discursos nas instituições de ensino, em que o discurso do professor é moldado sob as regras das instituições escolares e o discurso do aluno é controlado e silenciado pelo professor. A partir dos pressupostos acima mencionados, Bourdieu (1996), afirma que a detenção do poder da língua oficial está diretamente ligada aos dominantes, ou seja, àqueles que ditam como deve ser estabelecido o uso padrão dessa língua. Nesse contexto, as instituições de ensino “impõem” as normas consideradas legítimas ou legitimadas pela sociedade. Dessa forma, para não serem excluídos do sistema social, os participantes que compõem o grupo dominado são obrigados a internalizar o conjunto de regra proposto pela classe dominante. Como bem argumenta Bourdieu (1996, p. 32): “A língua oficial está enredada com o estado, tanto em sua gênese como em seus usos sociais. É no processo de constituição do Estado que se criam as condições da constituição de um mercado lingüístico unificado e dominado pela língua oficial [...]”. Afora tal perspectiva de disciplina, existe uma outra: a imposição de comportamento. É nesse sentido que Foucault (2008) aborda a imposição da disciplina na escola a partir do século XVII. Nessas instituições são ordenadas fileiras nas salas, nos corredores e pátios. Em relação à organização das salas, ele observa que as cadeiras são enfileiradas e direcionadas ao professor, possibilitando-lhe exercer um maior controle sobre os alunos. Portanto, a partir dessa distribuição de posições, instauram-se relações de poder e de vigilância. 4 ANAIS DO V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES GEPIADDE/UFS/ITABAIANA ISSN 2176-7033 V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES I CONGRESSO NACIONAL EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE 08 a 10 de setembro de 2011 UFS – Itabaiana/SE, Brasil Sobre a vigilância, o autor aponta o edifício da escola como um aparelho de controle, o qual foi projetado com uma estrutura dividida em celas, comparada a um presídio. Tal divisão estabelece a separação e a subordinação do indivíduo de acordo com seu nível de conhecimento. Nessa perspectiva, Foucault (2008) acrescenta que os alunos são selecionados pelo seu bom desempenho nas provas e tarefas. Nesse contexto, o professor analisa as competências e aptidões de cada indivíduo, atribuindo-lhes o título de “bom” ou “mau” aluno. Também em relação ao ensino, Foucault (2008) argumenta que este é realizado por sinais, por apito, a partir dos quais os alunos devem reagir de imediato. Assim as palavras são poucas, nenhuma explicação, somente o silêncio, que é interrompido somente por palmas ou gestos. Como técnica de correção, a punição tem como objetivo corrigir os desvios. Nesse contexto, espera-se que, através do castigo, o individuo mostre arrependimento e, consequentemente, disciplina. Dessa forma, ao aplicar mecanismos de vigilância e de poder, a escola transforma o corpo em um organismo mecânico para que ele possa exercer sua função com maior eficácia e rapidez, operando movimentos num tempo determinado. O autor chama isso de “mecânica do poder”, pois transforma os corpos submissos e exercitados em corpos dóceis, característica própria do aluno. Pode-se observar tal controle no atual sistema educacional, em que o professor tenta transformar seus alunos em “corpos dóceis”, ou seja, indivíduos obedientes e mecânicos. Dessa forma, faz-se necessário abordar o conceito de ethos discursivo para analisarmos com maior eficácia a imagem que a equipe diretiva edifica do professor de língua materna. 3. O ETHOS DISCURSIVO: AS REPRESENTAÇÕES DO LOCUTOR NO SEU PRÓPRIO DISCURSO Ao tomarmos a palavra construímos uma imagem de si, e essa imagem não diz respeito ao que é somente verbalizado, ou seja, ao que dizemos aos nossos interlocutores, mas através de atos e ações, às vezes implícitas, edificamos o que chamamos de ethos discursivo. O estudo do ethos tem sua origem nos estudos aristotélicos, o qual dizia que, além de sabermos nos expressar perante o público, temos que mostrar confiabilidade e honestidade, 5 ANAIS DO V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES GEPIADDE/UFS/ITABAIANA ISSN 2176-7033 V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES I CONGRESSO NACIONAL EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE 08 a 10 de setembro de 2011 UFS – Itabaiana/SE, Brasil pois na medida em que nos mostramos portadores de simplicidade e confiabilidade nosso discurso será aderido enquanto tal e será instaurador de sentidos. Mais tarde, esse conceito é retomado na Análise do Discurso, principalmente pelo francês Dominique Maingueneau. Ele diz que, a imagem que fazemos de nós mesmos revela nossas intenções acerca do que estamos nos referindo no discurso. Assim, o ethos não se constitui um discurso que é dito claramente, mas mostrado, como bem observa este estudioso (2008, p. 138) em: “O que o orador pretende ser, ele o dá a entender e mostra: não diz que é simples ou honesto, mostra-o por sua maneira de se exprimir [...]”. Nesse sentido, observamos que além de verbalizar o locutor terá que mostrar por atos e ações que o que se está dizendo é verdadeiro e que o público pode confiar. E o processo de construção do ethos, depende: da imagem que se faz do outro, da imagem que outro faz do locutor, da imagem que o locutor faz de seu referente, da imagem que o outro faz desse mesmo referente etc. E antes mesmo que o locutor tome a palavra este outro possui um ethos pré-discursivo, ou seja, uma imagem pré-construída que pode ser favorável ou desfavorável ao locutor. Dessa forma, a imagem tanto pode ser desfeita quanto intensificada ao se tomar a palavra, pois sabemos que o ethos está fundamentado nas representações valorizadas e desvalorizadas, ou seja, nos estereótipos e é a partir destes que a enunciação se apóia e se constitui de valor. Nessa perspectiva, o discurso do orador deve seguir as crenças partilhadas por este e seu público. Ruth Amossy (2008), ao tratar dos estereótipos, lembra que este é uma representação cultural preexistente, que modela a visão de si, do locutor e de sua platéia. Dessa forma, o locutor situa seu discurso de acordo com a platéia e suas características sociais, étnicas e políticas. Sabemos também que o locutor deve estar autorizado a pronunciar tal discurso, pois só convencerá seu auditório, segundo Bourdieu (1996), se possuir autoridade e encontrar-se em uma situação legítima, pois é necessário que a platéia reconheça como “verdadeiro” o que é pronunciado pelo orador. Nessa perspectiva, o discurso do orador deve seguir as crenças partilhadas por este e seu público. Pois ele está representando não só a si como a outros. Dessa maneira, concluímos que a imagem construída de si valida e legitima nosso discurso, pois, na medida em que existem a identificação do público e o discurso proferido pelo orador, este terá mais autoridade e poder. Assim, propomos, a seguir, verificar em qual 6 ANAIS DO V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES GEPIADDE/UFS/ITABAIANA ISSN 2176-7033 V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES I CONGRESSO NACIONAL EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE 08 a 10 de setembro de 2011 UFS – Itabaiana/SE, Brasil medida a coordenação e a direção corroboram para a construção de imagens do professor de Língua Portuguesa. Já que muitos atribuem a estes sujeitos o modelo preestabelecido de ensino, ou seja, as práticas do professor em sala de aula são determinadas pelo núcleo diretivo. 4. ANÁLISE DE DADOS Como já mencionado, a construção da imagem dos professores de língua materna fundamenta-se também nas imposições e perspectivas esperadas pela instituição escolar em que estes profissionais atuam. Dessa forma, exporemos aqui algumas questões e respostas fornecidas por três coordenadores e uma diretora de três escolas localizadas em Itabaiana/SE. São elas: Colégio Monteiro Lobato (ML), Colégio Estadual Dr. César Leite (CL), Escola Estadual Prof. Nestor Carvalho Lima (NC). Sendo que a primeira se configura na Rede de Ensino Privado, reconhecida por suas aprovações em concursos e vestibulares, e por atrai estudantes de toda a região em sua volta, principalmente das cidades menores e que não apresentam um alto índice de aprovações no vestibular. As duas últimas são da Rede Pública e acolhem alunos tanto da cidade como dos povoados, a maioria de classe baixa. A coleta de dados foi realizada por alunos do curso de Letras (5° período), os quais são partícipes do grupo de pesquisa GELINS. Inicialmente, pretendia-se colher dados de todos os coordenadores e diretores, o que não foi possível por se negarem a responder tais questões alegando motivos diversos. No entanto, os dados obtidos são suficientes e propícios para elaborarmos a análise que se segue. Questão 1: Para você, qual a importância do ensino da gramática? Respostas: É importante, uma vez que a mesma é a nossa língua mãe como também por sua obrigatoriedade. (NC - direção) É importante porque ensina: as classes gramaticais, verbos, substantivo, artigo, pronome etc. E para termos um melhor conhecimento. (NC - coordenação) 7 ANAIS DO V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES GEPIADDE/UFS/ITABAIANA ISSN 2176-7033 V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES I CONGRESSO NACIONAL EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE 08 a 10 de setembro de 2011 UFS – Itabaiana/SE, Brasil É de suma importância, visto que é uma seqüência da língua ao regimento do aprendizado, é um legado profundo. (ML) É importante na questão do conhecimento das regras da nossa língua. (CL) A escolha dessa questão é de fundamental importância, já que como apontado em trabalhos e análises anteriores verificamos que o ensino de Língua Portuguesa está fundamentado na Gramática Normativa. E a partir de tais conclusões, observamos que os professores atribuem o apego ao ensino desta gramática às exigências da instituição que trabalham. Podemos verificar que todas as respostas atribuem importância ao ensino da gramática, sendo justificado ora por sua obrigatoriedade, ora para a construção do conhecimento do aluno. No entanto, denotamos que o ensino da gramática não serve somente para a construção do conhecimento dos alunos, como também para a adequação gráfica e verbal voltada para o vestibular. Já que sabemos que os ingressantes da graduação são selecionados por suas habilidades e aptidões lógicas e gramaticais da nossa língua materna. Podemos verificar também a correspondência de gramática às normas, às regras. Assim, podemos afirmar que a utilidade da gramática é focalizada na normativização. Outro fator de nosso interesse é que se entende por gramática normativa, aquela que estabelece uma variante da língua como padrão em detrimento de todas as outras. Daí surge o conceito de “certo” versus “errado”, ou seja, tem que se aprender as regras da gramática normativa ou seremos excluídos ou ficaremos às margem da sociedade. Dessa forma, lançamos uma outra pergunta: Questão 2: O que você classificaria como a maior dificuldade enfrentada pelos alunos quanto ao ensino de língua? Respostas: A interpretação de texto. (ML) A interpretação e produção de textos. (NC) A leitura, escrita e interpretação. (CL) Corroborando essa perspectiva do ensino da gramática voltado para o vestibular, podemos notar a partir das respostas de tais sujeitos que a principal dificuldade enfrentada 8 ANAIS DO V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES GEPIADDE/UFS/ITABAIANA ISSN 2176-7033 V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES I CONGRESSO NACIONAL EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE 08 a 10 de setembro de 2011 UFS – Itabaiana/SE, Brasil pelos alunos é a interpretação de texto. Este é utilizado, com frequência, como pretexto para aplicar o estudo das normas da língua. Dessa maneira, buscam-se na superfície do texto as classificações mórfico-sitáticas da Língua Portuguesa, o que é apontado por alguns professores como o principal problema enfrentado em sala de aula. Dessa forma, não se observa o que o texto tem a dizer e sim o que ele pode nos fornecer como material para aplicarmos tais regras. Além de que às vezes aparecem descontextualizados, principalmente nos livros didáticos, que é tema da questão que se segue: Questão 3: Qual a importância do livro didático nas aulas de LP? Respostas: Aprofundar o conhecimento e desenvolver o estímulo, visto que o mesmo segue padrões da gramática. (ML) Ele é importante, porque o aluno acompanha as atividades escolares como: leitura, exercícios, interpretação de texto etc. (NC) Contribui para o trabalho desenvolvido em sala. (CL) Sabemos que atualmente o livro didático exerce o papel de facilitador para os professores. Já que traze em si o conteúdo gramatical, a interpretação textual, além de trazer exercícios para melhor memorização dos alunos. No entanto, é necessário que se destaque a descontextualização de alguns exemplos e a superficialidade que o texto é tratado, como abordado acima. De acordo com as respostas, é notável que o professor tem que seguir a rigor o que é estabelecido pelo livro didático. Assim, podemos ver que o professor limita-se aos conteúdos destes, já que ditam como se deve trabalhar em sala de aula. Dessa forma, a coordenação e diretoria corroboram para a construção do ethos do professor que deve seguir a Gramática Normativa, que tem que desenvolver durante o período de aula todo o conteúdo proposto pela instituição, observando-se as exigências do vestibular, pois é o foco principal das instituições escolares, principalmente no ensino médio. 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS 9 ANAIS DO V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES GEPIADDE/UFS/ITABAIANA ISSN 2176-7033 V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES I CONGRESSO NACIONAL EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE 08 a 10 de setembro de 2011 UFS – Itabaiana/SE, Brasil Podemos concluir então que o desempenho e escolhas metodológicas desenvolvidas pelos professores de Língua Portuguesa são preestabelecida e partilhada pelo núcleo diretivo. Ou seja, eles perpassam uma visão de que ensinar Língua Portuguesa é ensinar Gramática Normativa, dessa forma, colaboram para a construção de uma imagem negativa da língua em relação aos alunos. Estes que, por sua vez, são expostos à memorização e a simples decifração de normas da nossa língua. Assim, vemos que o ethos do professor provém do conjunto de imagens feita pelo próprio professor, enquanto sujeito responsável por ministra aulas em favor dos alunos e da direção, a qual exige uma postura educacional aos moldes da instituição e exerce um poder de controle sobre o discurso do professor. Dessa forma, alguns professores se mostram insatisfeitos e infelizes em sua profissão. REFERÊNCIAS AMOSSY, Ruth (org.). Imagens de si no discurso: a construção do ethos. São Paulo: editora contexto, 2008. BARROS, M. E. de R. de A. B. As marcas da polifonia na produção escrita de estudantes universitários. Tese de doutorado, defendida na UFBA, Salvador – BA, em agosto de 2007, com distinção. BOURDIEU, P. A economia das trocas linguísticas: o que falar quer dizer. Trad. de Sergio Miceli (et ali). São Paulo: Edusp, 1996. (Título original: Ce que parler veut dire: L’economie des échanges linguistiques) FOUCAULT, M. A Ordem do Discurso. Trad. Laura Fraga de Almeida Sampaio. São Paulo: Edições Loyola, 2003. FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Trad. Raquel Ramalhete. Petrópolis, RJ.: Vozes, 2008. GUIMARÃES, E. A Língua Portuguesa no Brasil. In: Línguas do Brasil. Ciência e Cultura. Revista da SBPC. Ano 57. n° 2. Abril – Junho, 2005. p. 24 – 28. MAINGUENEAU, Dominique. Ethos, cenografia, incorporação. In: AMOSSY, R. (org.). Imagens de si no discurso: a construção do ethos. São Paulo: Contexto, 2008. 10 ANAIS DO V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES GEPIADDE/UFS/ITABAIANA ISSN 2176-7033