V FÓRUM IDENTIDADES E ALTERIDADES
I CONGRESSO NACIONAL EDUCAÇÃO E DIVERSIDADE
08 a 10 de setembro de 2011
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A CONSTRUÇÃO DE IDENTIDADE DO PROFESSOR DE LÍNGUA MATERNA
PELA EQUIPE DIRETIVA: UMA ABORDAGEM DISCURSIVA1
Agnaldo Almeida de Jesus (UFS)2
Cristiane dos Santos (UFS)3
INTRODUÇÃO
O ensino de Língua Portuguesa no Brasil tem passado por um processo de fracasso e
de insucesso. Tal fracasso, por sua vez, tem sido explicado por alguns teóricos a partir da
instauração da disciplina Língua Portuguesa. Ademais, sabe-se que grande parte dos
professores de LP está predeterminada a ensinar somente a gramática normativa, elegendo a
língua padrão como a única variação possível de língua. Nesse sentido, não é possível afirmar
o reconhecimento da língua sob a perspectiva da sua própria historicidade e dialogia.
Dessa forma, o ensino da gramática normativa estabelece uma relação dialogal nula
entre professor e alunos, pois a maioria desses tem em mente que, por não dominar a variante
lingüística tida como “certa”, o aluno não sabe a sua própria língua. Com efeito, tais alunos
têm as suas vozes silenciadas. Os professores, por sua vez, ao privilegiarem a norma culta
como único objeto de ensino, acabam por instaurar uma relação de poder sobre seus alunos.
Tal relação, por seu turno, já é estabelecida pela própria escola. Nesse contexto, esses
profissionais corroboram a instituição do poder no espaço escolar, na medida em que impõem
somente uma perspectiva de língua, qual seja: a norma padrão.
Com base nos pressupostos teóricos de Michel Foucault (2003, 2008), Guimarães
(2005), dentre outros, pretendemos analisar como essa relação de poder vem se
desenvolvendo desde o princípio da instauração do Português como disciplina obrigatória.
Além dessa perspectiva histórica, à luz de Amossy (2008), Maingueneau (2008), trazemos à
tona os estudos acerca do ethos discursivo, por entendermos que a construção de imagens que
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Trabalho orientado pela profª. Drª. Maria Emília de Rodat de Aguiar Barreto Barros.
2
Aluno do curso de graduação em Letras da Universidade Federal de Sergipe, Campus Itabaiana. Integrante do Projeto O
Professor de Língua Materna e as Imagens de Si (PAIRD/UFS) em 2008/2009. Monitor das disciplinas Produção e recepção de
textos II e Laboratório para o ensino de gêneros textuais no semestre 2010.1. Atualmente, é bolsista do Programa Institucional
de Iniciação à Docência (PIBID/CAPES/UFS). E-mail: [email protected]
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Aluna do curso de graduação em Letras da Universidade Federal de Sergipe, Campus Itabaiana. Integrante do Projeto O
Professor de Língua Materna e as Imagens de Si (PAIRD/UFS) em 2008/2009. Assim como do Programa Institucional de
Iniciação Científica – 2010/2011. E-mail: [email protected]
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esses profissionais fazem de si, do seu objeto de ensino (a LP), e dos alunos também
colaboram para a existência do já mencionado fracasso no ensino de língua.
As análises aqui apresentadas são parte da pesquisa de mesmo título desse artigo,
orientada pela Professora Drª Maria Emília Barreto Barros. Neste trabalho, observarmos a
construção do ethos discursivo desses profissionais, por meio de entrevistas não-diretivas.
Tais entrevistas, por seu turno, foram feitas em cinco escolas (públicas e particulares), no
município de Itabaiana – SE. À luz dos postulados teóricos da Análise do Discurso (doravante
AD), procedemos às análises dessas entrevistas. Além dessas teorias, contamos com as
contribuições de Michel Foucault, como mencionado, principalmente no que diz respeito às
relações de poder instauradas no espaço escolar.
1.
A LÍNGUA PORTUGUESA NO BRASIL: UM PERCURSO HISTÓRICO
Como citado anteriormente, acreditamos que o fracasso por que vem passando o
ensino de língua no Brasil tem raízes históricas. Nesse sentido, fazemos algumas reflexões a
respeito da chegada do português ao Brasil, apresentando o contexto histórico em que essa
língua foi transportada para as terras brasileiras.
O processo de instauração dessa língua no Brasil, segundo Guimarães (2005), ocorre
em quatro períodos. Desde as grandes navegações, passando pela colonização dos holandeses
no Brasil, a expulsão desse povo das terras brasileiras, a vinda da família real para o Brasil até
a imposição da Língua Portuguesa no Brasil pelo Marquês de Pombal. Observamos que, por
ocasião da chegada dos portugueses ao Brasil, havia múltiplas línguas nesse território. Além
dessas línguas, por conta do processo de colonização, foram importadas muitas outras. Afora
isso, por necessidade de se estabelecerem as relações entre os povos indígenas e os
colonizadores, foram instauradas as línguas gerais, cuja base era o tupi.
É nesse contexto de multiplicidade linguística que o Marquês de Pombal, na metade
do século XVIII, torna o uso da língua portuguesa obrigatória e proíbe o uso de qualquer outra
língua. Essa medida tem como pressuposto o fato de o domínio de uma terra ter suas
implicações linguísticas. Tal proibição é uma forma de impedir o uso da língua geral nas
instituições de ensino. Sendo assim, “[...] o português que já era a língua oficial do Estado
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passa a ser a língua mais falada no Brasil.” (GUIMARÃES, 2005, p.21). É nesse contexto que
a Língua Portuguesa se torna a língua em circulação. Nesse sentido, há um silenciamento das
vozes dos sujeitos falantes das outras línguas.
Por reconhecermos que tal silenciamento das vozes desses sujeitos a partir da
imposição de Língua Portuguesa no Brasil tem seus reflexos no ensino de língua atualmente,
contamos com as contribuições de dois autores, quais sejam: Pierre Bourdieu e Michel
Foucault. Para o primeiro, a língua legítima é legitimada, na medida em que aceitamos o falar
“certo” versus o “errado”. Para o segundo, a Língua Portuguesa (LP), na medida em que se
torna uma disciplina, traz em seu bojo as relações de poder institucionalmente determinadas.
Assim, trazemos à tona os postulados teóricos desses autores.
2.
MICHEL FOUCAULT E BOURDIEU: A LÍNGUA COMO UMA QUESTÃO
DE PODER
À luz das teorias de Michel Foucault (2003, 2008), abordaremos os mecanismos que
instauram vigilância, punição e disciplina na instituição escolar. É nesse contexto que
Foucault (2008) discute o ensino como algo que torna os indivíduos mecânicos, dóceis e
alienados. Além desses postulados teóricos, colocamos em discussão os mecanismos de
controle dos discursos, segundo Foucault (2003). Segundo este autor, na medida em que uma
ciência se torna disciplina traz em seu bojo as relações de poder, uma vez que há a instituição
de verdades absolutas.
Nessa perspectiva, quando a LP se torna uma disciplina, também se torna um
mecanismo de controle dos discursos em circulação. Isso porque, a instauração da LP
enquanto disciplina ocorreu sob uma única perspectiva, qual seja: a da Tradição Gramatical.
Negaram-se, portanto, todas as outras variantes existentes. E, na medida em que os
professores de língua perpetuam tal perspectiva, colaboram com as relações de poder
instituídas.
Conforme Foucault (2003), em toda sociedade ocidental, existem procedimentos de
controle do discurso tanto externos quanto internos. Fazem parte do primeiro procedimento: a
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interdição, a separação e rejeição, e a vontade de verdade que funcionam como sistema de
exclusão concernente à parte do discurso que põe em jogo o poder e o desejo.
Nessa perspectiva, a interdição restringe o discurso, pois não se pode falar de tudo
em qualquer circunstância. Na análise dos procedimentos, Separação e Rejeição, Foucault
(2003) cita como exemplo a oposição: razão e loucura. O louco é aquele cujo discurso é
impedido de circular como o dos outros. O terceiro princípio de exclusão, por sua vez, está
centrado na oposição verdadeiro versus falso. Nesse sentido, Foucault (2003) comenta que
desde a Idade Média perpetua-se o discurso verdadeiro pronunciado por quem tem direito,
segundo um ritual requerido.
Quanto aos procedimentos internos de controle e delimitação do discurso, temos: o
comentário, o princípio de autoria, a disciplina. Tais procedimentos, por sua vez, exercem o
próprio controle dos discursos. Funcionam segundo os princípios de classificação, de
ordenação e de distribuição do discurso. Partindo dessa premissa, é constatado o controle dos
discursos nas instituições de ensino, em que o discurso do professor é moldado sob as regras
das instituições escolares e o discurso do aluno é controlado e silenciado pelo professor.
A partir dos pressupostos acima mencionados, Bourdieu (1996), afirma que a
detenção do poder da língua oficial está diretamente ligada aos dominantes, ou seja, àqueles
que ditam como deve ser estabelecido o uso padrão dessa língua. Nesse contexto, as
instituições de ensino “impõem” as normas consideradas legítimas ou legitimadas pela
sociedade. Dessa forma, para não serem excluídos do sistema social, os participantes que
compõem o grupo dominado são obrigados a internalizar o conjunto de regra proposto pela
classe dominante. Como bem argumenta Bourdieu (1996, p. 32): “A língua oficial está
enredada com o estado, tanto em sua gênese como em seus usos sociais. É no processo de
constituição do Estado que se criam as condições da constituição de um mercado lingüístico
unificado e dominado pela língua oficial [...]”.
Afora tal perspectiva de disciplina, existe uma outra: a imposição de comportamento.
É nesse sentido que Foucault (2008) aborda a imposição da disciplina na escola a partir do
século XVII. Nessas instituições são ordenadas fileiras nas salas, nos corredores e pátios. Em
relação à organização das salas, ele observa que as cadeiras são enfileiradas e direcionadas ao
professor, possibilitando-lhe exercer um maior controle sobre os alunos. Portanto, a partir
dessa distribuição de posições, instauram-se relações de poder e de vigilância.
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Sobre a vigilância, o autor aponta o edifício da escola como um aparelho de controle,
o qual foi projetado com uma estrutura dividida em celas, comparada a um presídio. Tal
divisão estabelece a separação e a subordinação do indivíduo de acordo com seu nível de
conhecimento. Nessa perspectiva, Foucault (2008) acrescenta que os alunos são selecionados
pelo seu bom desempenho nas provas e tarefas. Nesse contexto, o professor analisa as
competências e aptidões de cada indivíduo, atribuindo-lhes o título de “bom” ou “mau” aluno.
Também em relação ao ensino, Foucault (2008) argumenta que este é realizado por
sinais, por apito, a partir dos quais os alunos devem reagir de imediato. Assim as palavras são
poucas, nenhuma explicação, somente o silêncio, que é interrompido somente por palmas ou
gestos. Como técnica de correção, a punição tem como objetivo corrigir os desvios. Nesse
contexto, espera-se que, através do castigo, o individuo mostre arrependimento e,
consequentemente, disciplina.
Dessa forma, ao aplicar mecanismos de vigilância e de poder, a escola transforma o
corpo em um organismo mecânico para que ele possa exercer sua função com maior eficácia e
rapidez, operando movimentos num tempo determinado. O autor chama isso de “mecânica do
poder”, pois transforma os corpos submissos e exercitados em corpos dóceis, característica
própria do aluno.
Pode-se observar tal controle no atual sistema educacional, em que o professor tenta
transformar seus alunos em “corpos dóceis”, ou seja, indivíduos obedientes e mecânicos.
Dessa forma, faz-se necessário abordar o conceito de ethos discursivo para analisarmos com
maior eficácia a imagem que a equipe diretiva edifica do professor de língua materna.
3.
O ETHOS DISCURSIVO: AS REPRESENTAÇÕES DO LOCUTOR NO SEU
PRÓPRIO DISCURSO
Ao tomarmos a palavra construímos uma imagem de si, e essa imagem não diz
respeito ao que é somente verbalizado, ou seja, ao que dizemos aos nossos interlocutores, mas
através de atos e ações, às vezes implícitas, edificamos o que chamamos de ethos discursivo.
O estudo do ethos tem sua origem nos estudos aristotélicos, o qual dizia que, além de
sabermos nos expressar perante o público, temos que mostrar confiabilidade e honestidade,
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pois na medida em que nos mostramos portadores de simplicidade e confiabilidade nosso
discurso será aderido enquanto tal e será instaurador de sentidos.
Mais tarde, esse conceito é retomado na Análise do Discurso, principalmente pelo
francês Dominique Maingueneau. Ele diz que, a imagem que fazemos de nós mesmos revela
nossas intenções acerca do que estamos nos referindo no discurso. Assim, o ethos não se
constitui um discurso que é dito claramente, mas mostrado, como bem observa este estudioso
(2008, p. 138) em: “O que o orador pretende ser, ele o dá a entender e mostra: não diz que é
simples ou honesto, mostra-o por sua maneira de se exprimir [...]”. Nesse sentido, observamos
que além de verbalizar o locutor terá que mostrar por atos e ações que o que se está dizendo é
verdadeiro e que o público pode confiar.
E o processo de construção do ethos, depende: da imagem que se faz do outro, da
imagem que outro faz do locutor, da imagem que o locutor faz de seu referente, da imagem
que o outro faz desse mesmo referente etc. E antes mesmo que o locutor tome a palavra este
outro possui um ethos pré-discursivo, ou seja, uma imagem pré-construída que pode ser
favorável ou desfavorável ao locutor. Dessa forma, a imagem tanto pode ser desfeita quanto
intensificada ao se tomar a palavra, pois sabemos que o ethos está fundamentado nas
representações valorizadas e desvalorizadas, ou seja, nos estereótipos e é a partir destes que a
enunciação se apóia e se constitui de valor.
Nessa perspectiva, o discurso do orador deve seguir as crenças partilhadas por este e
seu público. Ruth Amossy (2008), ao tratar dos estereótipos, lembra que este é uma
representação cultural preexistente, que modela a visão de si, do locutor e de sua platéia.
Dessa forma, o locutor situa seu discurso de acordo com a platéia e suas características
sociais, étnicas e políticas.
Sabemos também que o locutor deve estar autorizado a pronunciar tal discurso, pois
só convencerá seu auditório, segundo Bourdieu (1996), se possuir autoridade e encontrar-se
em uma situação legítima, pois é necessário que a platéia reconheça como “verdadeiro” o que
é pronunciado pelo orador. Nessa perspectiva, o discurso do orador deve seguir as crenças
partilhadas por este e seu público. Pois ele está representando não só a si como a outros.
Dessa maneira, concluímos que a imagem construída de si valida e legitima nosso
discurso, pois, na medida em que existem a identificação do público e o discurso proferido
pelo orador, este terá mais autoridade e poder. Assim, propomos, a seguir, verificar em qual
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medida a coordenação e a direção corroboram para a construção de imagens do professor de
Língua Portuguesa. Já que muitos atribuem a estes sujeitos o modelo preestabelecido de
ensino, ou seja, as práticas do professor em sala de aula são determinadas pelo núcleo
diretivo.
4.
ANÁLISE DE DADOS
Como já mencionado, a construção da imagem dos professores de língua materna
fundamenta-se também nas imposições e perspectivas esperadas pela instituição escolar em
que estes profissionais atuam. Dessa forma, exporemos aqui algumas questões e respostas
fornecidas por três coordenadores e uma diretora de três escolas localizadas em Itabaiana/SE.
São elas: Colégio Monteiro Lobato (ML), Colégio Estadual Dr. César Leite (CL), Escola
Estadual Prof. Nestor Carvalho Lima (NC). Sendo que a primeira se configura na Rede de
Ensino Privado, reconhecida por suas aprovações em concursos e vestibulares, e por atrai
estudantes de toda a região em sua volta, principalmente das cidades menores e que não
apresentam um alto índice de aprovações no vestibular. As duas últimas são da Rede Pública
e acolhem alunos tanto da cidade como dos povoados, a maioria de classe baixa.
A coleta de dados foi realizada por alunos do curso de Letras (5° período), os quais
são partícipes do grupo de pesquisa GELINS. Inicialmente, pretendia-se colher dados de
todos os coordenadores e diretores, o que não foi possível por se negarem a responder tais
questões alegando motivos diversos. No entanto, os dados obtidos são suficientes e propícios
para elaborarmos a análise que se segue.
Questão 1: Para você, qual a importância do ensino da gramática?
Respostas: É importante, uma vez que a mesma é a nossa língua mãe como também
por sua obrigatoriedade. (NC - direção)
É importante porque ensina: as classes gramaticais, verbos, substantivo, artigo,
pronome etc. E para termos um melhor conhecimento. (NC - coordenação)
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É de suma importância, visto que é uma seqüência da língua ao regimento do
aprendizado, é um legado profundo. (ML)
É importante na questão do conhecimento das regras da nossa língua. (CL)
A escolha dessa questão é de fundamental importância, já que como apontado em
trabalhos e análises anteriores verificamos que o ensino de Língua Portuguesa está
fundamentado na Gramática Normativa. E a partir de tais conclusões, observamos que os
professores atribuem o apego ao ensino desta gramática às exigências da instituição que
trabalham.
Podemos verificar que todas as respostas atribuem importância ao ensino da
gramática, sendo justificado ora por sua obrigatoriedade, ora para a construção do
conhecimento do aluno. No entanto, denotamos que o ensino da gramática não serve somente
para a construção do conhecimento dos alunos, como também para a adequação gráfica e
verbal voltada para o vestibular. Já que sabemos que os ingressantes da graduação são
selecionados por suas habilidades e aptidões lógicas e gramaticais da nossa língua materna.
Podemos verificar também a correspondência de gramática às normas, às regras.
Assim, podemos afirmar que a utilidade da gramática é focalizada na normativização. Outro
fator de nosso interesse é que se entende por gramática normativa, aquela que estabelece uma
variante da língua como padrão em detrimento de todas as outras. Daí surge o conceito de
“certo” versus “errado”, ou seja, tem que se aprender as regras da gramática normativa ou
seremos excluídos ou ficaremos às margem da sociedade.
Dessa forma, lançamos uma outra pergunta:
Questão 2: O que você classificaria como a maior dificuldade enfrentada pelos alunos
quanto ao ensino de língua?
Respostas: A interpretação de texto. (ML)
A interpretação e produção de textos. (NC)
A leitura, escrita e interpretação. (CL)
Corroborando essa perspectiva do ensino da gramática voltado para o vestibular,
podemos notar a partir das respostas de tais sujeitos que a principal dificuldade enfrentada
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pelos alunos é a interpretação de texto. Este é utilizado, com frequência, como pretexto para
aplicar o estudo das normas da língua. Dessa maneira, buscam-se na superfície do texto as
classificações mórfico-sitáticas da Língua Portuguesa, o que é apontado por alguns
professores como o principal problema enfrentado em sala de aula.
Dessa forma, não se observa o que o texto tem a dizer e sim o que ele pode nos
fornecer como material para aplicarmos tais regras. Além de que às vezes aparecem
descontextualizados, principalmente nos livros didáticos, que é tema da questão que se segue:
Questão 3: Qual a importância do livro didático nas aulas de LP?
Respostas: Aprofundar o conhecimento e desenvolver o estímulo, visto que o mesmo
segue padrões da gramática. (ML)
Ele é importante, porque o aluno acompanha as atividades escolares como: leitura,
exercícios, interpretação de texto etc. (NC)
Contribui para o trabalho desenvolvido em sala. (CL)
Sabemos que atualmente o livro didático exerce o papel de facilitador para os
professores. Já que traze em si o conteúdo gramatical, a interpretação textual, além de trazer
exercícios para melhor memorização dos alunos. No entanto, é necessário que se destaque a
descontextualização de alguns exemplos e a superficialidade que o texto é tratado, como
abordado acima.
De acordo com as respostas, é notável que o professor tem que seguir a rigor o que é
estabelecido pelo livro didático. Assim, podemos ver que o professor limita-se aos conteúdos
destes, já que ditam como se deve trabalhar em sala de aula.
Dessa forma, a coordenação e diretoria corroboram para a construção do ethos do
professor que deve seguir a Gramática Normativa, que tem que desenvolver durante o período
de aula todo o conteúdo proposto pela instituição, observando-se as exigências do vestibular,
pois é o foco principal das instituições escolares, principalmente no ensino médio.
5.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Podemos concluir então que o desempenho e escolhas metodológicas desenvolvidas
pelos professores de Língua Portuguesa são preestabelecida e partilhada pelo núcleo diretivo.
Ou seja, eles perpassam uma visão de que ensinar Língua Portuguesa é ensinar Gramática
Normativa, dessa forma, colaboram para a construção de uma imagem negativa da língua em
relação aos alunos. Estes que, por sua vez, são expostos à memorização e a simples decifração
de normas da nossa língua.
Assim, vemos que o ethos do professor provém do conjunto de imagens feita pelo
próprio professor, enquanto sujeito responsável por ministra aulas em favor dos alunos e da
direção, a qual exige uma postura educacional aos moldes da instituição e exerce um poder de
controle sobre o discurso do professor. Dessa forma, alguns professores se mostram
insatisfeitos e infelizes em sua profissão.
REFERÊNCIAS
AMOSSY, Ruth (org.). Imagens de si no discurso: a construção do ethos. São Paulo:
editora contexto, 2008.
BARROS, M. E. de R. de A. B. As marcas da polifonia na produção escrita de estudantes
universitários. Tese de doutorado, defendida na UFBA, Salvador – BA, em agosto de 2007,
com distinção.
BOURDIEU, P. A economia das trocas linguísticas: o que falar quer dizer. Trad. de
Sergio Miceli (et ali). São Paulo: Edusp, 1996. (Título original: Ce que parler veut dire:
L’economie des échanges linguistiques)
FOUCAULT, M. A Ordem do Discurso. Trad. Laura Fraga de Almeida Sampaio. São Paulo:
Edições Loyola, 2003.
FOUCAULT, M. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Trad. Raquel Ramalhete.
Petrópolis, RJ.: Vozes, 2008.
GUIMARÃES, E. A Língua Portuguesa no Brasil. In: Línguas do Brasil. Ciência e Cultura.
Revista da SBPC. Ano 57. n° 2. Abril – Junho, 2005. p. 24 – 28.
MAINGUENEAU, Dominique. Ethos, cenografia, incorporação. In: AMOSSY, R. (org.).
Imagens de si no discurso: a construção do ethos. São Paulo: Contexto, 2008.
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