A polêmica do lixo em Pouso Alegre. As conversas da população de Pouso Alegre têm girado em torno de dois assuntos ligados ao lixo, (nenhuma referência à situação atual da política brasileira), a primeira delas é o projeto do executivo de concessão do serviço de limpeza urbana por um período de 20 anos e a segunda é a questão da escolha do Bairro da Cava para instalação do futuro aterro sanitário. O projeto de “ privatização do lixo” foi retirado da pauta de votação da Câmara Municipal e deverá ser melhor discutido pela população antes de sua implantação. Já o local do aterro sanitário está definido e algumas considerações devem ser feitas sobre a questão. Todas as cidades de Minas Gerais, de mais de 50.000 habitantes foram convocados pelo governo estadual, através de uma Deliberação Normativa do COPAM (Conselho de Política Ambiental de Minas Gerais), a implantar aterros sanitários em substituição aos atuais lixões, Pouso Alegre é uma delas. Para implantar uma obra desse porte, que vai tem impactos no meio ambiente, é preciso realizar um longo e sério processo de licenciamento ambiental, que se divide em três fases. A primeira delas é a chamada fase da Licença Prévia, e esse documento só é concedido depois de feita uma análise técnica sobre a viabilidade ambiental da instalação do projeto, e de uma verificação da legalidade de sua implantação. Não é fácil para uma cidade encontrar uma área adequada para instalação de um aterro sanitário, pois existe uma série de restrições definidas nas regras da Associação Brasileira de Normas Técnicas ABNT, que tem que ser obedecidas para a escolha do terreno. O tipo de solo é definido, as distâncias de núcleos habitacionais, aeroportos, centro da propriedades cidade, rurais atividades produtivas, econômicas, a existência cursos de de água, estradas, a capacidade do terreno de receber o resíduo urbano durante um período mínimo de 10 anos, são alguns exemplos das exigências existentes. A escolha é tão restritiva que muitos municípios não conseguem encontrar um terreno em condições dentro dos limites do seu território, o que o obriga a negociar com outra cidade a instalação do aterro. A cidade de Belo Horizonte está vivendo esse drama atualmente. Outro fator importante de ser considerado é que “lixão” é muito diferente de aterro sanitário e a realidade de Pouso Alegre hoje ( como a da maioria das cidades de Minas Gerais) é a do lixão, ou seja, um depósito de lixo que não atende as determinações legais para sua operação. Esse é o conceito da população de disposição do lixo urbano. É fundamental diferenciar essas duas formas de destinação final de resíduos urbanos, pois o aterro sanitário tem uma série de medidas de controle que seguidas garantem o seu funcionamento sem comprometimento do meio ambiente ou da saúde pública. No caso específico de Pouso Alegre, os órgãos ambientais do Estado fizeram o estudo técnico e legal e verificaram que o local escolhido no Bairro da Cava, está adequado e que tem condições de receber um aterro sanitário, e emitiram a Licença Prévia para continuidade do processo de sua instalação. O ponto crucial da questão parece ser o processo de conscientização da população sobre essas questões, pois a princípio ninguém quer que se instale no seu bairro, ou nas vizinhanças um “depósito de lixo”, independente do nome que ele tenha ou da técnica de gerenciamento que será adotada para seu controle. Um processo de discussão e de educação ambiental que seja conduzido de maneira clara e ampla com a população da cidade tem o condão de evitar vários problemas e as discussões sobre a escolha do local, que não sejam baseadas em dados concretos. É importante ainda considerar que a propriedade no Brasil desde a edição da Constituição Federal de 1988, tem uma função social, que contempla inclusive o componente de preservação do meio ambiente. E a instalação de um aterro sanitário em substituição ao lixão é uma medida de melhoria da qualidade ambiental para a população. Finalmente é necessário que todo cidadão tenha consciência de que é parte ativa da geração do problema, pois todos produzem lixo diariamente, e se é assim, é fundamental que todos sejam parte da solução do problema. Pouso Alegre, julho de 2005