METODOLOGIA DE MAPEAMENTO GEORREFERENCIADO ASSOCIADA A DADOS
DE INCIDÊNCIA DE DOENÇAS DE VEICULAÇÃO HÍDRICA
Teófilo Carlos do Nascimento Monteiro(*)
Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública/DSSA
Cassia Regina Alves Pereira
Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública/DSSA
Aldo Pacheco Ferreira
Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública/DSSA
(*) Fundação Oswaldo Cruz, Escola Nacional de Saúde Pública, Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental, Rua
Leopoldo Bulhões, 1480 – Manguinhos - Rio de Janeiro – CEP: 21041-210 – Brasil, Tel.:+55(21)25982725 – Fax:
+55(21)22707352. e-mail: [email protected]
RESUMO
É essencial que água de abastecimento periodicamente seja reavaliada quanto às operações que assegurem condições
adequadas. Muitos problemas potenciais podem ser prevenidos salvaguardando a integridade das fontes de captação de
água e sua bacia, por própria manutenção e inspeção da planta de tratamento e sistema de distribuição, pelo treinamento
de gerentes e pessoal de operação e através de educação de consumidor.
Com procedimentos baseados no inter-relacionamento entre dados ambientais e de saúde, georeferenciou-se dados do
Município de Nova Iguaçu para avaliar a exposição de grupos da população a doenças de veiculação hídrica.
Palavras Chave: água de abastecimento, coliformes, sistema de informação geográfica.
INTRODUÇÂO
É essencial que água utilizada pela população periodicamente seja reavaliada quanto às operações que assegurem
condições adequadas. Muitos problemas potenciais podem ser prevenidos salvaguardando a integridade da fonte de
captação de água e sua bacia, por própria manutenção e inspeção da planta de tratamento e sistema de distribuição, pelo
treinamento de gerentes e pessoal de operação e através de educação de consumidor. Os sistemas de informações
geográficas (SIG) têm sido utilizados como ferramenta de consolidação e análise de grandes bases de dados sobre saúde
e ambiente. Estes sistemas permitem a captura, armazenamento, manipulação, análise e exibição de dados
georeferenciados, isto é, relacionados à entidades gráficas com representação espacial (Barthes, 1989; Christofoletti et
al., 1992; Xavier da Silva & Mendes, 1993).
Por intermédio de operações espaciais, pode-se obter informações sobre variáveis contidas nestas camadas, tais como a
incidência dos casos de doenças de veiculação hídrica e a morbidade frente aos resultados das análises colimétricas.
Utilizou-se a metodologia de mapeamento em dois trabalhos de campo. O primeiro estudo avaliou-se a qualidade da
água de consumo humano oriunda de poços sub-superficiais de bairros da Região Oceânica do Município de Niterói –
RJ – Brasil. O segundo estudo com procedimentos baseados no inter-relacionamento entre dados ambientais e de saúde,
georeferenciou o Município de Nova Iguaçú – RJ – Brasil, para avaliar a exposição da população à doenças de
veiculação hídrica. Estas regiões foram divididas em setores censitários e através de análises microbiológicas periódicas
para a pesquisa de coliformes termotolerantes em pontos pré-estabelecidos por GPS - Sistema de Posicionamento
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Geográfico, estabeleceu-se um índice de positividade quanto à contaminação. Usando sistemas de informação
populacional, grupos geográficos expostos a riscos foram situados com operações espaciais entre estas camadas.
Foi estabelecida por amostras de coleta de água das áreas, inspeção sistemática dos reservatórios domiciliares, de forma
a tornar possível o monitoramento da qualidade da água em distritos municipais que possuam dificuldades de
adequarem-se aos padrões estabelecidos.
Bactérias Fecais como Índice de Poluição Fecal
Devido a grande dificuldade para identificação dos vários organismos patogênicos encontrados na água, dá-se
preferência, para isso, a métodos que permitam a identificação de bactérias do “grupo coliforme” que, por serem
habitantes normais do intestino humano, existem, obrigatoriamente, em águas poluídas por matéria fecal. As bactérias
coliformes são normalmente eliminadas com a matéria fecal, a razão de 50 a 400 bilhões de células por pessoas por dia.
Dado o grande número de coliformes existentes na matéria fecal (até 300 milhões por grama de fezes), os testes de
avaliação qualitativa desses organismos na água tem uma precisão ou sensibilidade muito maior do que a de qualquer
outro teste. No Brasil, acham-se em vigor as normas e o padrão de potabilidade da água, estabelecidos pelo Ministério
da Saúde, através da Portaria n.º 1469, 2000.
Deve-se assinalar que, em princípio, existe uma certa correlação entre a concentração de coliformes e a incidência de
doenças. Estudos epidemiológicos com bases estatísticas podem, inclusive, correlacionar o número de coliformes com o
número de determinados microrganismos patogênicos, para uma região em uma dada ocasião. Entretanto, a presença de
coliformes nem sempre indica a obrigatoriedade de existência de germes patogênicos e, portanto, a ocorrência de
doenças.
METODOLOGIA APLICADA
O avanço da microbiologia sanitária e ambiental e o incremento do seu uso pelo serviço de vigilância sanitária no
abastecimento de água geraram a necessidade de se aprimorar os padrões de monitoramento. O tratamento adequado se
torna assim o requisito fundamental para a saúde da população. De forma geral, os planejamentos ambientais são
elaborados como sistemas estruturados que envolvem etapas distintas. Cada etapa compreendeu uma série de
procedimentos que comumente são desenvolvidos usando-se metodologias cujos arcabouços originaram-se dos
planejamentos urbanos, sistemas de avaliação de recursos hídricos e avaliações de impacto ambiental. Estas etapas, bem
como o conjunto de métodos adotado dependeu, em muito, do tipo de planejamento ambiental que se estava objetivando.
Em um SIG estas estratégias podem ser encadeadas ou combinadas, e dessa forma, foram manuseados dados entre as
etapas de diagnóstico e seleção de alternativas, ou seja, aquelas que se utilizaram métodos que envolvem análise
espacial, sistemas de listagens, matrizes e modelos. Visou-se, assim, a inter-relação entre a morbidade das doenças de
veiculação hídrica com os resultados das análises. Os contornos dos setores censitários [Município de Nova Iguaçu e
Município de Niterói], foram transcritos visualmente da base cartográfica do IBGE, para plantas na escala 1:5000
obtidas junto ao CIDE/FIOCRUZ. A aquisição envolveu importação e edição dos contornos dos Municípíos para
ambiente ARC/Info e posterior exportação para formato Mapinfo, mantendo-se como indexador de dados os códigos dos
setores censitários.
Coleta de amostras
Segundo a portaria 1.469 (Brasil, 2000), o número mínimo de amostras e freqüência mínima de amostragem para o
controle de qualidade da água, considera uma amostra mensal retirada de um ponto de consumo para cada 500
habitantes. Estabeleceu-se como metodologia de coleta de amostras de acordo com o Censo demográfico do IBGE
(1991), que em cada setor censitário, com área correspondente a 1000 habitantes, houvesse três pontos eqüidistantes por
coordenadas GPS para coleta de água de sítios domiciliares. Nesses três pontos de coleta por setor, fez-se 2 sucessivas
coletas periódicas, com um intervalo de três semanas entre as coletas num mesmo ponto e todas as amostras foram
analisadas quanto ao teor colimétrico e teor de cloro residual.
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Análise microbiológica da água
Os coliformes termotolerantes, assim classificados, têm sido parâmetro de avaliação de comprometimento da água à
poluição por fezes humanas e animais, sendo utilizados, convencionalmente, como critério de risco da água ao consumo
humano. Atualmente, os métodos padronizados para determinação de coliformes totais e termotolerantes (fermentação
em tubos múltiplos e filtração em membrana) exigem etapas complementares e testes bioquímicos para especificação
dos coliformes. Utilizou-se a metodologia preconizada pelo Standard Methods for Examination of Water and
Wastewater (APHA, 2001) onde a técnica usada é a de fermentação em tubos múltiplos (NMP/100 ml).
RESULTADOS
No Município de Nova Iguaçú, pesquisou-se um total de 241 domicílios dos quais 237 possuem abastecimento da
Cedae, correspondendo a 98.34%, três domicílios com abastecimento da Cedae e utilização de água de poço, perfazendo
um total de 1.24% e, finalmente, quatro domicílios que utilizam somente água de poço, correspondendo a 1.66%.
Quanto a o número total de análises bacterianas, foram realizadas um total de 930 provas para coliformes totais e
coliformes fecais.
A figura 1 denota os casos de morbidade notificados a Secretaria de Saúde do Estado do Rio de Janeiro quanto ao
acometimento da população do Município de Nova Iguaçu às doenças de veiculação hídrica ocorridas no ano de 2000 e
os resultados positivos das análises.
FIGURA 1: Resultados do Município de N. Iguaçú [Morbidade X provas positivas]
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No Município de Niterói, estabeleceu-se como metodologia de coleta de amostras que, em cada setor censitário (de
acordo com Censo Demográfico do IBGE (1991) área correspondente a 1000 hab.) houvesse três pontos eqüidistantes
por coordenadas geográficas, para coleta de água de poços sub-superficiais (figura 2).
Nesses três pontos de coleta por setor fez-se 3 sucessivas coletas periódicas, com um intervalo de 3 semanas entre as
coletas num mesmo ponto; todas as 189 amostras sofreram análises colimétricas. Observou-se um perfil ou índice de
contaminação dos setores censitários quanto a positividade das análises colimétricas. Dos 21 setores censitários nenhum
se apresentou com grau zero de contaminação, 14,4% com uma contaminação, 47,6% com duas contaminações e 38,0%
com todos os pontos contaminados ou grau 3 de contaminação.
FIGURA 2: Coleta de amostras de Niterói em setores censitários para análises colimétricas
CONCLUSÃO
O perfil global dos sítios estudados, como método de avaliação dos dados agrupados para água e esgotamento sanitário,
correlacionou-os aos obtidos através das análises das amostras de águas coletadas e dados de morbidade fornecidos pela
Vigilância Sanitária. Observou-se, ainda, que houve uma superposição de fatores que concorrem para explicar os
resultados aleatórios de contaminação das águas por coliformes termotolerantes, tais como a ausência de ligações dos
domicílios à rede geral de abastecimento de água, quer sejam esses domicílios de áreas de pequena urbanização, áreas de
focos de favelização ou áreas de bairros nobres onde as condições socioeconômicas são melhores; a ausência de rede
geral de esgoto com o solo saturado pelos efluentes.
O estudo mostrou que a fisiografia de baixada encontrada nos Municípios contribuiu para a saturação do solo e
conseqüente contaminação dos lençóis por águas poluídas, onde a falta de sistemas de esgotamento sanitário afeta
diretamente a qualidade da água, como observado no aumento no grau de contaminação com a diminuição da mediana
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de instalação sanitária de fossa séptica e também com a diminuição da mediana de instalação sanitária de fossa séptica
com o lançamento em rede pluvial.
Agradecimentos. – Ao Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento Científico (CNPq).
REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS
American Public Health Association (2001), Standard methods for the examination of the water and wastewater, 20 ed.,
New York.
Barthes D.P.P. (1989). Tratamiento da dados ambientales en um sistema de informacion. In: II Conferência LatinoAmericana sobre Tecnologia de Los Sistemas de Informacion Geográfica. 331-333. Merida, Venezuela.
Ministério da Saúde: Norma de qualidade da água para consumo humano (2000). Portaria n° 1469, Brasília, Brasil.
Christofoletti A., Moretti E. & Teixeira A.L.A. (1992). Introdução aos sistemas de informação geográfica. Rio Claro - SP
193 pp.
Xavier da Silva J. & Mendes L.C. (1993). Sistema geográfico de informação: uma proposta metodológica. In: 4º
Conferencia Latino-Americana sobre Sistema geográfico de informação e 2º Simpósio brasileiro de Geoprocessamento, 609-628 pp.
USP/São Paulo – Brasil.
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1 metodologia de mapeamento georreferenciado