Caso Clínico: Isoimunização Rh Internato em GO – Junho de 2008 HRAS Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS)/SES/DF Apresentadoras: Andresa Lima Melo e Cynthia Bettini L. de C. Monteiro Coordenador: Dr. Paulo Sérgio França www.paulomargotto.com.br Caso Clínico Identificação: APC, feminina, parda, 42 anos, natural de Arinos-MG, residente em Arinos, 2º grau completo, diretora de escola, solteira com união estável, católica QP: encaminhada de Unaí por isoimunização HDA: Iniciou pré-natal em dez/07, quando foi observado resultado de TS: A (-) e Coombs indireto (-). Em abr/08, Coombs indireto: 1:64. Caso Clínico Antecedentes ginecológicos: Menarca – 13 anos. Ciclos regulares (28/3) Vida sexual ativa. Nega anticoncepção e DST. Antecedentes obstétricos: G4C2A1 G1 (1983): cesárea por DCP. S/ intercorrências. RN= 3250g – boa evolução. G2 (1985): cesárea por DCP. S/ intercorrências. RN= 3650g – boa evolução. G3 (2000): aborto no 3° mês. Caso Clínico Gestação atual: DUM: 28/07/07 DPP: 05/07/08 Ganho ponderal: 15 kg ITU (2 episódios) – E. coli. Tto com nitrofurantoína e cefalexina Hipertensão crônica (desde 24 anos): 1,5g/dia de metildopa antes da gravidez. Parecer da cardio: 2g/dia metildopa + 20mg/dia nifedipina durante a gravidez. Diabetes gestacional – dieta p/ diabético Caso Clínico Antecedentes pessoais: Nega alergias e uso de drogas ilícitas. Refere cefaléia, astenia, insônia e edema de MMII. Corrimento esbranquiçado sem cheiro - Colpistatin Ex-tabagista há 1 ano. Possui filhos (Rh+) de pais diferentes e não sabe informar o TS do pai. Nega uso de Rhogan. Antecedentes familiares: Mãe hipertensa. Irmã gemelar. Irmã diabética. Caso Clínico Exame físico: PA: 130x80 mmHg, FC: 100bpm, FR: 23 ipm BEG, LOTE, normocorada, hidratada, calma Exames da cabeça, das mamas, cardíaco, pulmonar, abdominal, vulvar e vaginal normais. AFU: 31cm, BCF: 145bpm, DU: 0, mov. fetais + MMII: edema bilateral, mais acentuado à E. Perfusão preservada. Hm Hg Leu Bast Seg Eos Linf Plq Ur Cr Controle laboratorial 7/12/8 28/2/8 18/4/8 28/5/8 3,97 3,94 3,88 3,91 10,7 11,5 11,5 12,2 7,7 9,5 10,5 9,7 0 3 4 0 55 68 73 69 3 3 3 2 31 21 217 170 196 232 15 14 0,58 0,8 0,5 Glic jejum Controle laboratorial 7/12/8 28/2/8 18/4/8 28/5/8 92 76 91 TOTG 75g 103/138 TGO TGP DHL 14 10 330 3,9 Ác. Úr. normal EAS Nit + Uroc. E. coli E. coli E. coli Controle laboratorial 7/12/8 28/2/8 18/4/8 VDRL NR Toxo IgG+/IgMRubéola Neg HCV Neg HIV Neg Controle laboratorial 7/12/8 18/4/8 14/5/8 Coombs indireto neg 1/64 1/32 4/6/8 1/512 Avaliação do feto Cardiotocografia Padrão 2/6/8 Ativo 6/6/8 Ativo 8/6/8 Ativo 9/6/8 Ativo 11/6/8 Reativo/umbilical 11/6/8 Ativo 12/6/8 Ativo 13/6/8 Ativo Avaliação do feto Ultra-sonografia Ig CA Peso fetal Placenta 14/5/8 33+5 275 1950g I N 27/5/8 34+3 317 2620g I +/4+ 4/6/8 35+4 307 2530g II N 6/6/8 35+6 331 3060g II N Líquido Avaliação do feto Dopplerfluxometria Art uter E Umbilical Art Cer M Rel umb/am S/ incis S/ incis A/B=2,5 50,2 56 58,5 53,3 61,1 0,61 Art uter D 14/5/8 21/5/8 27/5/8 4/6/8 11/6/8 1,03 1,13 Dopplerfluxometria 21/5/8 Dopplerfluxometria 27/5/8 Dopplerfluxometria 4/6/8 Dopplerfluxometria 6/6/8 Dopplerfluxometria 14/6/8 Caso Clínico Dados do Nascimento: – – – – Chorou ao nascer, Apgar 8/9; Peso: 2865g (AIG); Capurro: 38s + 5d; Exame físico imediato normal; Reanimação: O2 inalatório; Exames maternos: – TS mãe: A-; Coombs indireto 1/64 no 3° trimestre (13/05/08); – VDRL NR (1°, 3° e após nascimento); HIV NR; Comorbidades maternas: – Hipertensão arterial crônica e pré-eclâmpsia sobreposta; – DMG; Evolução RN 1° dia de vida (24h): – Icterícia +/4 até Zona II Kramer; Relação BT/Albumina = 3,56 – Exames: Hemácias 4,02 x 106/mm³; Hg 13,3; Ht 41,4%; Albumina: 3,7 mg/dl; BT: 13,2 (BD 0,4); Leucócitos: 32.200/mm³ Predicção para aumento de bilirrubina livre = 7,2 – Conduta: observação. Zonas de Kramer. Evolução RN 2° dia de vida (48h): – Icterícia +/4 até Zona III Kramer; – Exames: Relação BT/Albumina = 4,89 Hemácias 3,42 x 106/mm3; Predicção para aumento Hg 9,0; de bilirrubina livre = 7,2 Ht 35,9%; Velocidade de Hemólise = 0,2 mg%/h Albumina: 3,8 mg/dl; BT: 18,6 (BD 1,5); Leucócitos: 6.300/mm³ – Conduta: Iniciada fototerapia com Bilitron (1 fonte) e feito gamaglobulina (2,5g EV em 2h). Colhido novo controle às 18h. Evolução RN 2° dia de vida às 22h: – Icterícia Zona IV de Kramer; – Exame das 18h: Hemácias 4,44 x 106/mm³; Hg 14,2; Ht 45,8%; Albumina: 3,8 mg/dl; BT: 22,7 (BD 1,7); Leucócitos: 22.300/mm³ Relação BT/Albumina = 5,97 Predicção para aumento de bilirrubina livre = 7,2 Para RN com hemólise ou doente, atualmente, é indicada EXT se BT > 20 mg%. Condutas individualizadas. – Conduta: UTI. Apesar dos níveis, foi optada pela fototerapia com Bilitron (2 fontes). Evolução RN 3° dia de vida (72h): – Icterícia ++/4 até Zona III e +/4 em Zona IV de Kramer (Zona V livre); – Exames: Hemácias 2,97 x 106/mm3; Hg 14,5; Ht 35,8%; Albumina: 3,8 mg/dl; BT: 20,4 (BD 0,2); Leucócitos: 16.600/mm³ – Conduta: Mantida fototerapia com Bilitron (1 fonte). Evolução RN 3° dia de vida às 19h30: – RN praticamente anictérco. – Conduta: Mantida fototerapia com Bilitron (1 fonte). Alta para o ALCON. 4° dia de vida: – Exame físico normal. RN pouco bronzeado. – Conduta mantida. Evolução RN 5° dia de vida: – Exame físico normal. – Exames: Hemácias 3,85 x 106/mm3; Hg 11,4; Ht 38,7%; Albumina: 3,5 mg/dl; BT: 17 (BD 1,3); Leucócitos: 10.900/mm³ – Conduta mantida. Relação BT/Albumina = 5,36 VR para EXT = 7,2 Evolução RN 6° dia de vida: – Exame físico normal. RN pouco bronzeado. – Conduta mantida. 7° dia de vida: – Exame físico normal. – Exames: Hemácias 4,15 x 106/mm3; Hg 15,5; Ht 42,5%; Albumina: 3,5 mg/dl; BT: 19 (BD 0,7); Leucócitos: 12.700/mm³ – Conduta mantida. Nível exsanguineotransfusão = 20mg/dl BT Evolução RN 8° dia de vida: – Exame físico normal. – Conduta mantida (fototerapia 1 fonte Bilitron). 9° dia de vida: – Exame físico normal. – Conduta mantida. Isoimunização Rh e Eritroblastose Fetal Isoimunização Rh Doença Hemolítica Perinatal auto-imune (DHPN): – Cerca de 98% dos casos de isoimunização são decorrentes da incompatibilidade Rh (antígeno D); – Mais freqüente e mais grave. Hidropisia e morte fetal. Incidência: 1-10% das gestações de mulheres RhRisco de sensibilização: – Aumenta com a paridade; Risco 1° gestação mãe Rh- e feto Rh+: 0,8% (0,3 a 5,6%). Isoimunização Rh Complexo Rh (3 pares de antígenos): Dd, Cc e Ee; Ausência de D: Rh -; Antígeno D C C E, e ABO Lewis Kell Duffy Kidd X,P,M,N,S Hemólise fetal Grave Grave Grave Moderada Leve Grave Grave Grave Moderada Grave Isoimunização Rh Isoimunização Rh Sensibilização: transfusões incompatíveis (1-2%), aborto, gravidez e parto; Destaque: HMF* (65% de todas as gestantes); 60% - vol<0,1mL 1% - vol>5mL 0,25% - vol>30mL. *hemorragia materno-fetal Aumento do risco: hemorragias anteparto, DHEG, Procedimentos invasivos, curagem, etc. Isoimunização Rh Aborto espontâneo: 3,5% HMF e provocado: 20% HMF; Amniocentese: 1-5% HMF e cordocentese: até 50% de HMF grave; Isoimunização Rh Resposta primária Lenta: 8-9 sem a 6 m; Fraca; Ac IgM; Necessário vol>1mL p/ desencadear a resposta. Resposta secundária Rápida: 7 dias; Ac IgG – atravessa a placenta; Vol<0,1mL deflagra a resposta; Exposições subseqüentes têm maior magnitude. Anemia Fetal IgG anti-D – destruição das céls fetais. Aumento da eritropoietina e eritropoiese medular; Eritropoiese extramedular (fígado, baço, supra-renais, intestinos, rins) 50% RN – hg>12g% 25% RN – 8<hg<12g% 25% RN – hg<8g% (grave!) Anemia Fetal Distorção nos cordões de hepatócitos Obstrução portal + aumento na resistência ao Fluxo na veia umbilical Ascite fetal Disfunção hepatocelular Hipoalbuminemia Hipóxia miocárdica Anasarca fetal ICC Diagnóstico Avaliação Rh materno e do parceiro. – Teste de Coombs indireto. Falso-positivos: fármacos (ex. metildopa) e raras situações de sensibilização aos antígenos eritrocitários (ex. hemólise materna auto-imune); Após confirmação: – Painel de hemácias identificação do antígeno específico (D, c, C, E, e). Grau de Anemia Fetal Determinação do grau de anemia fetal: – História obstétrica; – Titulação do teste de Coombs indireto; Teste com sensibilidade de 65% para detectar fetos com anemia grave, geralmente com titulações ≥ 1/128. – Cordocentese; – Espectrofotometria do líquido Amniótico; – USG e Dopplervelocimetria; Cordocentese Cordocentese: – A melhor maneiraRiscos: de se avaliar a anemia fetal é a avaliação direta do HFM emhematimétrica 50% dos concepto. procedimentos e 1,55% de perdas fetais. – Método invasivo: Procedimento de risco e que pode associar-se à piora da aloimunização maternal e à perda fetal. Espectrofotometria do LA Espectrofotometria do Líquido Amniótico (Liley, 1961): – LA coletado por amniocentese guiada por USG (método invasivo). Riscos: – Capaz de determinar a concentração de bilirrubina no Infecção, e hemolítico e LA de maneira indiretaamniorrexe e avaliar o estado hematimétrico do concepto. da aumento – Por meio gráfico, calcula-se a diferença de densidade sensibilização óptica a 450 µm (DO450) entre o líquido amniótico normal e aquele com bilirrubina. Espectrofotometria do LA Ultra-sonografia Hidropsia Anemia grave; Transfusões intra-uterinas; Outros parâmetros: alteração da ecogenicidade da placenta ou aumento de sua espessura, derrame pericárdico, Avaliação do coração fetal: cardiomegalia, redução da contratilidade Aumento das câmaras ventriculares cardíaca, ascite, aumento ou redução (Diâmetro biventricular do LA.do coração/fêmur > 0,6) Hemoglobina fetal < 10g/dl no sangue fetal. Dopplervelocimetria Dopplervelocimetria: – DHPN constitui um estado hiperdinâmico do fluxo sanguíneo fetal (anemia) Artéria cerebral média com velocidade máx maior do que 2 desvios-padrão para adoidade gestacional curva Aumento pico da velocidade pela sistólica nosde territórios da aorta descendente e artéria cerebral média. Carmo. – Contribui para o diagnóstico da anemia fetal em estágios iniciais melhor prognóstico; Dopplervelocimetria Noninvasive Fetal Anemia Diagnosis by Middle Cerebral Artery Peak Systolic Velocity Waveform Measurement Cardiotocografia Padrão sinusoidal desacelerações. ou presença Mobilograma Redução dos movimentos fetais. de Conduta Rh - Não sensibilizadas Sensibilizadas Pesquisa mensal de ac e profilaxia com Rhogan na 28° semana e pós-parto. Repetir títulos de anti-D mensalmente. Títulos>ou=1:16 Títulos<1:16 US + Dopplervelocimetria da artéria cerebral média S/ alterações Parto no termo Repetir mensalmente Hidropsia Cordocentese com sangue p/ TIU Acompanhamento – História Leve ou Moderada História prévia Sinais US Vmáx ACM Conduta Leve ou moderada Nenhum < 2DP US+Doppler em 3-4s ou se MF 1 < 2DP US+Doppler em 2s ou se MF 2 ou + < 2DP US+Doppler em 1s ou se MF 2 ou + > ou = 2DP Cordocentese c/ sangue p/ TIU Leve Nenhum ou 1 > ou = 2DP Moderada Nenhum ou 1 > ou = 2DP US+Doppler em 1s ou se MF. TIU se VmáxACM ou acima do DP Cordocentese c/ sangue p/ TIU Acompanhamento – História grave Sinal US V máx ACM Conduta Nenhum < 2 DP US+Doppler em 2 s ou se MF. 1 < 2 DP US+Doppler em 1 s ou se MF. Nenhum > ou = 2 DP Cordocentese com sangue preparado p/TIU 1 ou + > 1,5 DP Após 35s de gestação, todas os que não necessitaram de TIU devem ser acompanhadas semanalmente. Parto Fetos tratados com TIU: interromper entre 35 e 37 sem; Demais casos: interromper entre 37 e 40 semanas. A via é de conduta obstétrica. Prevenção Indicações de Rhogan em pacientes Rh- não sensibilizadas Natimorto; Gestantes não sensibilizadas na Pós-procedimento invasivo; 28°semana; Sínd. Hemorrágicas Pós-parto RN Rh+ ou durante a gestação; DU+, até 72h; Trauma abdominal; Abortamento; Versão cefálica Gravidez molar; externa; Prenhez ectópica; Pós-transfusão de Óbito intra-uterino; sangue incompatível. Prevenção Apresentação da imunoglobulina anti-D: frasco de 300mcg; No pós-parto, pode ser postergada até 28 dias, mas ↓ eficácia com o tempo; Tentar quantificar o volume da HMF para ajustar dose de imunoglobulina: – 300 mcg neutraliza 30 mL de sangue fetal; Realizar teste de Coombs indireto ou de Kleihauer para confirmar eficácia. Referências Bibliográficas Protocolo de Dispensação de Imunoglobulina Anti-Rh. Prefeitura do Município de São Paulo, Secretaria Municipal da Saúde. PASTORE, Ayrton Roberto. Dopplervelocimetria da artéria cerebral média fetal: o divisor de águas no diagnóstico da anemia fetal. Radiol Bras , São Paulo, v. 39, n. 1, 2006 . NARDOZZA, Luciano M. Machado. Alterações ultrasonográficas na gravidez Rh negativo sensibilizada avaliada pela espectrofotometria do líquido amniótico e pela Dopplervelocimetria da artéria cerebral média. Radiol Bras , São Paulo, v. 39, n. 1, 2006 . Referências Bibliográficas TAVEIRA, Marcos Roberto, CABRAL, Antônio Carlos Vieira, LEITE, Henrique Vítor et al. Diagnóstico não invasivo da anemia fetal pela medida do pico de velocidade sistólica na dopplervelocimetria da artéria cerebral média . Rev. Bras. Ginecol. Obstet., Sept. 2004, vol.26, no.8, p.649-653. SOGIMIG, 2007; Hiperbilirrubinemia Neonatal. Liu Campello de Mello, Ana Maria C Paula,Paulo R. Margotto Zugaib M, Bittar R E. Protocolos Assistenciais, 3° ed. Ed Atheneu, jul/07. OBRIGADA!!!