ESCOLA DE ENFERMAGEM WENCESLAU BRAZ
FERNANDA ARAÚJO RIBEIRO
LILIAN PEREIRA COSTA
TAÍS BESSA WERNECK
O SENTIMENTO DE UM MEMBRO DA FAMÍLIA DIANTE DE UM DEPENDENTE
QUÍMICO
ITAJUBÁ-MG
2012
FERNANDA ARAÚJO RIBEIRO
LILIAN PEREIRA COSTA
TAÍS BESSA WERNECK
O SENTIMENTO DE UM MEMBRO DA FAMÍLIA DIANTE DE UM DEPENDENTE
QUÍMICO
Trabalho de Conclusão de Curso de
Graduação em Enfermagem apresentado
à Escola de Enfermagem Wenceslau
Braz, como requisito parcial para
obtenção do título de Enfermeira.
Orientadora: Prof.ª M.ª Débora Vitória
Alexandrina Lisboa Vilella.
ITAJUBÁ-MG
2012
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação
Escola de Enfermagem Wenceslau Braz (EEWB)
Bibliotecária - Karina Morais Parreira - CRB 6/2777
R484s
Ribeiro, Fernanda Araújo.
O sentimento de um membro da família diante de um
dependente químico / Fernanda Araújo Ribeiro ; Lilian Pereira Costa ; Taís Bessa Werneck. - 2012.
55 f.
Orientadora: Profª. M.ª Débora Vitória A. Lisboa Villela.
Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Enfermagem) -Escola de Enfermagem Wenceslau Braz – EEWB,
Itajubá, 2012.
1. Dependente químico. 2. Sentimento. 3. Família. 4.
Droga. I. Costa, Lilian Pereira. II. Werneck, Taís Bessa. III.
Título.
NLM: WM 270
Aos nossos familiares, pelo apoio e incentivo.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos por essa vitória primeiramente aos nossos pais, que com sua
sabedoria, nos criaram, e nunca pouparam esforços para oferecer, amor, carinho e a
melhor educação em todos esses anos.
À nossa orientadora Débora Vitória
Alexandrina Lisboa Vilella pela dedicação, compromisso e paciência. Aos amigos,
em especial a Hanna pela fiel amizade, e aos que estavam sempre presentes nas
horas tristes, felizes. À turma 54 por proporcionar quatro anos inesquecíveis. E por
fim agradecemos a DEUS por guiar nossos caminhos, dando força e ajudando a
enfrentar todos os obstáculos.
“O
conhecimento
nunca
está
terminado. É uma teia que vamos
tecendo a partir da superação dos
limites: eu respeito o limite do outro
e estabeleço com ele o pacto do
cuidado, ao mesmo tempo em que
ambos avançamos. [...] Não posso
negar o que o outro é e nem encarar
o não saber como limite. Toda
estranheza cai por terra se dividimos
nossas necessidades".
PADRE FÁBIO MELO
RESUMO
O problema das drogas não é uma questão moral, e sim uma questão de saúde
pública, onde a droga não afeta somente o dependente químico, mas
também a sua família e até mesmo a comunidade onde se insere. Este trabalho trata
de uma pesquisa de abordagem qualitativa, do tipo exploratória, descritiva e
transversal. Os participantes deste estudo foram familiares que os dependentes
químicos disseram ser, não necessariamente consanguíneo, tendo vínculo positivo
ou negativo. O tamanho da amostra na pesquisa qualitativa foi determinado pela
necessidade de informações. Um princípio que orienta a amostragem é a saturação
de dados A amostra deste estudo dependeu das respostas fornecidas pelos
participantes. Os dados foram analisados e interpretados por meio da metodologia
da Análise do Conteúdo de Bardin. Tem como objetivo identificar o sentimento de
um membro da família diante de um dependente químico, onde os participantes
desse estudo frequentavam as reuniões de família do Centro de Tratamento Laura
Saia Palombo. Amostra foi composta de 10 familiares, o instrumento de pesquisa
utilizado foi uma entrevista semiestruturada, contendo a seguinte questão: “O que
você sente em ter um familiar dependente químico?”. Tivemos como resultados os
seguintes sentimentos: impotência 40%; raiva e revolta 20%; medo da recaída 10%;
compaixão 20%; tristeza 40%; esperança e fé 30%; dor 20% e culpa 40%,
expressados por 4 pais, 3 irmãos, 2 filhos, 1 esposas. Concluímos que a
dependência química interfere no cotidiano e vida não só do dependente químico,
mas da família como um todo, podendo alterar a saúde mental de seus membros.
Palavras chave: Dependente químico. Sentimento. Família. Droga.
ABSTRACT
The drug problem is not the a moral issue, but a public health matter where the drug
doesn’t affect the drug addict only, but also his/her family and even the community
where he/she belongs to. This work is a qualitative research, with exploratory type,
descriptive and transversal. The study participants were relatives that the drug addict
said to be, not necessarily blood related, but with positive or negative relationship.
The sample size in the qualitative research was given by the information needed. The
principle that directs the sampling is saturation data. The study sample was based on
provided responses by participants. The data were analyzed and interpreted by the
methodology of Bardin Content Analysis. It aims to identify a family member’s feeling
before a drug addict and the participants of this study go to family meetings at Laura
Saia Palombo Treatment Center. The sample were based on 10 families, the
research instrument used was the semistructered interview, having the following
question: “What do you feel about having a drug addict in your family?”. We had as
results the following feelings: Impotence 40%, anger and uprising 20%, fear of
relapse 10%, compassion 20%, sadness 40%, hope and faith 30%, pain 20% and
guilt 40%, showed for 4 fathers, 3 brothers, 2 sons, 1 wife. We concluded that drug
addict interferes not only addict’s daily life, but in the whole family, changing each
one’s mental health.
Key Words: Drug addict. Feeling. Family. Drug.
SUMÁRIO
1
INTRODUÇÃO ....................................................................................................11
2
MARCO CONCEITUAL.......................................................................................15
2.1
EPIDEMIOLOGIA DAS DROGAS .......................................................................15
2.2
TIPOS DE DROGAS ...........................................................................................16
2.2.1 Solventes ou Inalantes..................................................................................... 16
2.2.2 Bebidas Alcoólicas........................................................................................... 17
2.2.3 Tabaco ............................................................................................................... 17
2.2.4 Anfetaminas ...................................................................................................... 18
2.2.5 Cocaína.............................................................................................................. 18
2.2.6 Maconha ............................................................................................................ 19
2.2.7 Esteroides ......................................................................................................... 19
2.2.8 Ópio e morfina .................................................................................................. 20
2.3
ABUSO, DEPENDÊNCIA E ABSTINÊNCIA ........................................................20
2.4
A FAMÍLIA ...........................................................................................................21
2.5
O INDIVÍDUO CODEPENDENTE........................................................................22
3
TRAJETÓRIA METODOLOGICA .......................................................................25
3.1
CENÁRIO ............................................................................................................25
3.2
LOCAL DO ESTUDO...........................................................................................26
3.3
DELINEAMENTO DO ESTUDO ..........................................................................27
3.4
SUJEITO, AMOSTRA E AMOSTRAGEM............................................................28
3.4.1 Critérios de inclusão ........................................................................................ 29
3.4.2 Critérios de exclusão ....................................................................................... 29
3.5
COLETA DE DADOS...........................................................................................29
3.6
PRÉ-TESTE ........................................................................................................30
3.7
INSTRUMENTO DE PESQUISA .........................................................................30
3.8
ANÁLISE DOS DADOS .......................................................................................30
3.9
ÉTICA DE PESQUISA.........................................................................................31
4
RESULTADOS E DISCUSSÃO ..........................................................................33
4.1
IMPOTÊNCIA ......................................................................................................33
4.2
REVOLTA E RAIVA.............................................................................................34
4.3
DOR.....................................................................................................................35
4.4
MEDO DA RECAÍDA ...........................................................................................35
4.5
COMPAIXÃO.......................................................................................................36
4.6
TRISTEZA ...........................................................................................................37
4.7
ESPERANÇA E FÉ..............................................................................................37
4.8
4.8 CULPA...........................................................................................................38
5
CONCLUSÃO .....................................................................................................40
6
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................41
REFERÊNCIAS ...................................................................................................42
APÊNDICE A - Carta de solicitação de autorização........................................46
APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.......................47
APÊNDICE C - Roteiro de entrevista semiestruturada ...................................49
ANEXO A - Entrevistas ......................................................................................50
ANEXO B – Parecer Consubstanciado ............................................................54
11
1 INTRODUÇÃO
Segundo a United Nations Office on Drugs and Crime – UNODC (2008), cerca
de 200 milhões de pessoas, ou 4,8% da população mundial entre 15 e 64 anos,
usam drogas ilícitas. O tabaco mata 5 milhões de pessoas por ano; o álcool, cerca
de 2,5 milhões e as drogas ilícitas, cerca de 200 mil pessoas por ano em todo o
mundo.
O autor afirma que ao contrário das tendências de estabilização mundial, o
consumo de cocaína e maconha aumentaram no Brasil. A ONU afirma que o
crescimento do uso da droga no Brasil foi o principal fator para a elevação da taxa
de consumo na América do Sul.
Uma pesquisa levantada pelo Observatório Mineiro de Informações sobre
Drogas - OMID (2009) informa as características dos usuários mineiros, indicando
que 87,2% dos usuários são do sexo masculino contra 12,8% do sexo feminino; 43%
dos usuários correspondem à faixa etária que varia dos 25 aos 39 anos; 67,3% dos
usuários são solteiros; 53% possuem ensino fundamental incompleto; 26,2% dos
usuários tiveram como droga de início o tabaco, sendo seguido pelo álcool (20,1%) e
pela maconha (10,7%); total de atendimentos no Centro de Acolhimento SOS
Drogas em 2006 foi de 3.104 contra 12.139 pessoas atendidas no ano de 2009.
Já havia, de nossa parte, o interesse em falar sobre o dependente químico,
devido ao aumento do consumo de drogas no Brasil, e principalmente em nosso
estado, como constatado acima. A partir do ensino clínico de Saúde da Família,
obtivemos o conceito que a mudança em um membro afeta a todos no convívio
familiar, portanto, podemos perceber que não só o paciente é abalado pela doença,
mas também todo o contexto no qual esse indivíduo está inserido, principalmente o
ciclo familiar que se esforça para se adaptar à situação.
A Organização Mundial de Saúde apud Sá (2004), define saúde como o
estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de
doença. A doença implica a perda da homeostase, fazendo com que o paciente
sinta-se desestruturado e entre em crise, afetando profundamente sua família, que
representa o primeiro grupo de relações em que esse está inserido. Geralmente, os
familiares são as pessoas que têm mais contato com o paciente e suas vivências
(MESSA, 2005).
12
A família tem fundamental importância para a formação do indivíduo, porque
constitui a base, o alicerce principal para o desenvolvimento humano. Embora seja
quase sempre representada por um conjunto de pessoas, ela também se constitui de
relações afetivas estabelecidas entre os membros sanguíneos ou não (WRIGHT;
LEASHEY, 2012)
De acordo com Schrank e Olschowsky (2008), quando um familiar adoece,
ocorre uma mudança na convivência diária da família, causando ansiedade e
preocupação, pois, na maioria das vezes, acreditamos que estamos imunes à
doença. O adoecimento é um evento imprevisto que desorganiza o modo de
funcionamento de uma família. De acordo com o Observatório Mineiro de
Informações sobre Drogas – OMID (2009), a dependência química também deve ser
vista como uma doença que se tornou um problema de saúde pública, um problema
que traz efeitos em todos os setores da sociedade: família, economia, saúde,
segurança pública, educação e mercado de trabalho.
Segundo a OMS apud Núccia (2009), droga é qualquer substância química
que altera a função biológica. Já para Figueiredo (2005), droga é toda e qualquer
substância psicoativa, ou seja, qualquer substância que altera a consciência, a
percepção ou as sensações.
A dependência é uma doença que requer cuidados específicos na busca de
um tratamento e controle, mesmo que muitas vezes haja certa resistência por parte
dos familiares de encará-la como uma doença (PEREIRA; SOUZA, 2010).
Para Townsend (2002), o abuso de drogas é definido como o uso de drogas
psicoativas de qualquer classe e tipo, usadas isoladamente ou em combinação,
acarretando um risco significativo para a saúde.
A autora acima também classifica as drogas psicoativas em onze classes, tais
como: álcool; anfetaminas; cafeína; maconha; cocaína; alucinógenos; drogas por
inalação; nicotina; opióides; fenciclidina; sedativos; hipnóticos ou ansiolíticos.
Os transtornos mentais induzidos pelo uso de substâncias psicoativas
definem os padrões de comportamento mal – adaptado relacionado à
busca, à ingestão e ao abuso dessas substâncias. O abuso ou o uso nocivo
se caracteriza pela incapacidade de reduzir ou interromper a utilização da
substância, apesar do prejuízo no funcionamento mental, físico, social ou
ocupacional provocado pelo uso da mesma. Na dependência, além do forte
desejo de uso da substância, há o surgimento da síndrome da abstinência
ou da tolerância (NUNES; BUENO; NARDI, 2005).
13
Segundo Townsend (2002), a abstinência à droga é o desenvolvimento de
uma alteração de comportamento não adaptativa específica da droga, com
concomitantes fisiológicos e cognitivos, que se deve à cessação do uso intenso e
prolongado de uma droga, ou a uma redução no mesmo.
A tolerância é a necessidade de aumentar progressivamente a quantidade a
fim de obter o mesmo efeito. Diversas substâncias psicoativas podem causar
transtornos mentais ou anormalidades do comportamento (NUNES; BUENO; NARDI,
2005).
A única preocupação do dependente químico é a obtenção da droga. Ele se
vê frequentemente envolvido em problemas sociais, legais e morais. É incapaz de
admitir o impacto do transtorno sobre seus padrões de vida pessoal e familiar
(STEFANELLI; FUKUDA; ARANTES, 2008).
Segundo Moraes et al (2009), na assistência ao dependente químico observase a pouca atuação de profissionais da saúde em relação aos seus familiares, sendo
importante incentivá-los a participar do tratamento de seu componente usuário,
visualizando-os na qualidade de codependentes, ou seja, como aquela pessoa que
também sofre com a dependência química.
Para esses autores, os codependentes químicos são seres humanos
visivelmente afetados, na maior parte das vezes, pela convivência com um ou mais
dependentes químicos. E tem uma enorme dificuldade em pedir e aceitar ajuda. É
todo aquele que está emocionalmente ligado e oferece seus sentimentos e sua vida
para "proteger seu dependente", visando impedir que comportamentos antissociais
tornem-se transparentes.
O
indivíduo
codependente
se
torna
incapaz
de
manter
e
nutrir
relacionamentos saudáveis com os outros e consigo mesmo. Nos relacionamentos
codependentes não existe a discussão direta dos problemas, expressão aberta dos
sentimentos e pensamentos, comunicação honesta e franca, expectativas realistas,
individualidade, confiança nos outros e em si mesmo (MORAES et al., 2009).
Ainda para estes autores, ser um familiar codependente é ser alguém que
vivencia inúmeros sofrimentos, necessitando de ajuda e assistência profissional, pois
os familiares têm sentimentos ambivalentes entre o querer e o não querer mudar seu
comportamento diante do que vivenciam.
Uma pesquisa feita com 485 famílias e coordenada pelo psiquiatra Jorge
Jaber, em parceria com a Universidade Federal do Rio de Janeiro, constatou que
14
97% das mulheres de alcoólatras preenchem o diagnóstico de codependência e
possui algum distúrbio de ansiedade, como síndrome do pânico e fobia social. De
acordo com Sergio Nicastri, coordenador do Programa Álcool e Drogas do hospital
Albert Einstein, temendo perder o controle do sujeito subordinado, o codependente
chega até a comprar ou pagar o vício do dependente (OLIVEIRA, 2004).
O uso de drogas é uma questão que envolve uma interdependência de
diversos contextos como: individual, familiar, escolar, grupos de amigos, a mídia e a
comunidade. Em função da complexidade deste tema, os órgãos governamentais
devem se mobilizar a fim de promover políticas e estratégias que visam à diminuição
e prevenção do uso de substâncias psicoativas (PEREIRA; SOUZA, 2010).
A relevância social é que o abuso de drogas verificado nos últimos anos, e
suas consequências na vida do indivíduo e da sociedade, pode ser considerado um
problema de saúde pública (CALDEIRA, 1999). A situação vem se tornando cada
vez mais alarmante e com grande impacto social, reivindicando maior atenção dos
profissionais de saúde. Quaglia (2007), afirma que o problema das drogas não é
uma questão moral, e sim uma questão de saúde pública. A partir daí vemos que a
droga não afeta somente o dependente químico, mas também a sua família e até
mesmo a comunidade onde esse se insere.
A relevância científica deste trabalho é que, ao realizarmos uma revisão
bibliográfica, encontramos poucas pesquisas relacionadas a uma visão mais
específica de um membro da família de um dependente químico.
Já a relevância profissional é que cada vez mais a enfermagem tem prestado
assistência ao dependente químico e a sua família. E com este estudo os
sentimentos dos familiares serão ressaltados e a equipe de enfermagem poderá
prestar um melhor cuidado baseado nesses sentimentos.
A partir destes conceitos, ficou evidenciado o seguinte questionamento: qual o
sentimento de um membro da família diante de um dependente químico?
Com este estudo tivemos como objetivo:
- Identificar o sentimento de um membro da família diante de um dependente
químico.
15
2 MARCO CONCEITUAL
Nesta etapa do estudo serão abordados a epidemiologia das drogas, os tipos
de drogas, as definições de abuso, dependência e abstinência, o conceito e os tipos
de família e o individuo codependente.
2.1
EPIDEMIOLOGIA DAS DROGAS
O Brasil é um país de dimensões continentais com uma área de 8.547.403,5
Km2, o que o configura como o maior país do continente sul-americano. O último
censo demográfico revelou uma população de 175.195.399 habitantes (IBGE, 2005).
Dados do II Levantamento Domiciliar sobre o Uso de Drogas psicotrópicas no
Brasil – 2005, realizado pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas
Psicotrópicas - CEBRID, indicaram que 22,8% dos entrevistados já haviam utilizado
algum tipo de droga, excluindo-se álcool e tabaco. Esta porcentagem é, por
exemplo, próxima ao Chile (23,4%) e quase metade dos EUA (45,8%).
Segundo dados deste levantamento, as porcentagens de uso das drogas
equivalem a 74,6% para o álcool, 44% para o tabaco, 8,8% para a maconha, 6,1%
para os solventes, ficando as porcentagens restantes para outras substâncias. A
dependência de maconha apareceu em 1,2% dos entrevistados nas 108 maiores
cidades do Brasil. Já a prevalência do uso de álcool e tabaco, nessas mesmas
cidades foi de 12,3 e 10,1% respectivamente. Entre os medicamentos usados com
fins de abuso, os estimulantes (anfetaminas) tiveram 3,2% de prevalência do uso.
O CEBRID (2005), afirma que a prevalência da Cocaína nas 108 maiores
cidades do país foi de 2,9%, sendo próxima à Alemanha (3,2%), porém bem
inferiores aos EUA com 14,2% e Chile com 5,3%. A Região Sudeste foi aquela onde
se verificaram as maiores porcentagens (3,7%) e a menor, no Norte com,
aproximadamente, 1%.
O uso de Crack foi de 1,5% para as maiores 108 cidades do País, cerca de
duas vezes menor que em um estudo americano. O uso de Merla (uma forma de
cocaína) apareceu na região Norte com 1,0%, a maior do Brasil (CEBRID, 2005).
O mesmo levantamento realizado pelo CEBRID, afirma que o uso de
Solventes foi de 6,1%, prevalência superior à verificada na Colômbia (1,4%) e
Espanha ao redor de 4,0%. Por outro lado, a prevalência do uso de solventes nos
16
EUA foi de 9,5%. A região Nordeste teve as maiores porcentagens de uso dessas
substâncias com 8,4%.
Esse levantamento confirma ainda que o uso de medicamentos sem
prescrição médica teve um fato em comum: mais mulheres usaram do que os
homens, para qualquer das faixas etárias estudadas. Os estimulantes aparecem
com 3,2% de usuários na vida. Os benzodiazepínicos com 5,6% menos que o
observado nos EUA (8,3%).
A Maconha seria a droga mais facilmente encontrada, segundo a percepção
dos entrevistados com 65,1% das respostas. A Cocaína aparece em segundo lugar
com 51,1% e o LSD-25 tem porcentagens idênticas à da Heroína, ao redor dos 30%
(CEBRID, 2005).
Segundo a United Nations Office on Drugs and Crime – UNODC (2008), cerca
de 64% dos entrevistados afirmaram ter visto pessoas alcoolizadas nos 30 dias
prévios à pesquisa. Já a percepção de pessoas sob efeitos de outras drogas foi de
36,9%. De qualquer forma, as porcentagens são muito elevadas, o que pode ser,
simplesmente, reflexo de uma hipervalorização da sociedade, delegando às drogas
qualquer alteração comportamental.
O uso de drogas, por alterarem o comportamento, está intimamente ligado ao
aumento da gravidade de agressões e crimes violentos. A prevenção e o controle do
uso de drogas, e consequentemente da violência, devem ser vistos como um
problema de saúde pública (COSTA; CARBONE, 2009).
2.2
TIPOS DE DROGAS
Os tipos de drogas são subdivididos em:
2.2.1 Solventes ou Inalantes
Segundo o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas –
CEBRID (2010), a palavra solvente significa substância capaz de dissolver coisas, e
inalante é toda substância que pode ser inalada, isto é, introduzida no organismo
através da aspiração pelo nariz ou pela boca. São substâncias como: cola de
sapateiro; esmalte; lança perfume; acetona e gasolina, que podem ser aspirados
17
tanto involuntária como voluntariamente. Pertencem a um grupo químico chamado
hidrocarbonetos.
A dependência entre aqueles que abusam cronicamente de solventes é
comum, sendo os componentes psíquicos da dependência os mais evidentes, tais
como desejo de usar a substância, perda de outros interesses que não seja o
solvente (CEBRID, 2010).
De acordo com a World Health Organization – WHO (2004) e o CEBRID
(2010), durante a abstinência, há o aumento da vulnerabilidade a convulsões, sendo
comum ansiedade, agitação, tremores, cãibras nas pernas e insônia.
De acordo com os autores acima, após o consumo prolongado há alterações
da ligação e da função dos receptores de dopamina, diminuição da função cognitiva,
problemas psiquiátricos e neurológicos.
2.2.2 Bebidas alcoólicas
Para o CEBRID (2010), apesar do desconhecimento por parte da maioria das
pessoas, o álcool também é considerado uma droga psicotrópica, pois atua no
sistema nervoso central, provocando mudança no comportamento de quem o
consome, além de ter potencial para desenvolver dependência.
Segundo a WHO (2004), há o desenvolvimento de tolerância devido ao maior
metabolismo no fígado, e alterações nos receptores do cérebro. A abstinência de
consumo crônico pode incluir tremores, transpiração, fraqueza, agitação, cefaléias,
náuseas, vômitos, convulsões, delirium tremens.
O mesmo autor relata que após consumo crônico, há alterações da função e
da estrutura cerebrais, especialmente do córtex pré-frontal, há perturbações
cognitivas e diminuição do volume do cérebro.
Apesar de sua ampla aceitação social, o consumo de bebidas alcoólicas,
quando excessivo, passa a ser um problema.
2.2.3 Tabaco
O tabaco é uma planta cujo nome científico é Nicotina tabacum, da qual é
extraída uma substância chamada nicotina. O hábito de fumar é muito freqüente na
18
população. A associação do cigarro com imagens de pessoas bem-sucedidas,
jovens, esportistas é muito comum (CEBRID, 2010).
A abstinência do tabaco é caracterizada por irritabilidade, hostilidade,
ansiedade, disforia, depressão, diminuição do ritmo cardíaco, aumento do apetite
(WHO, 2004).
2.2.4 Anfetaminas
Para o CEBRID (2010), as anfetaminas são drogas estimulantes da atividade
do sistema nervoso central, isto é, fazem o cérebro trabalhar mais depressa,
deixando as pessoas mais “acesas”, “ligadas”, com “menos sono”, “elétricas” etc.
De acordo com a United Nations Office on Drugs and Crime – UNODC (2007),
a anfetamina é vendida em pó, pastilhas ou cristais que se parecem com fragmentos
de vidro, podendo ela ser tragada, inalada, fumada ou injetada.
Quando uma anfetamina é continuamente tomada por uma pessoa, o
organismo acaba por se acostumar ou ficar tolerante à droga. Por outro lado, o
tempo prolongado de uso também pode trazer uma sensibilização do organismo aos
efeitos desagradáveis (paranóia, agressividade etc) (CEBRID, 2010).
Segundo a WHO (2004), a abstinência caracteriza-se por fadiga, depressão,
ansiedade e necessidade imperiosa da droga. Já o consumo prolongado pode
acarretar perturbações do sono, ansiedade, perda de apetite, alterações em
receptores cerebrais de dopamina, alterações metabólicas regionais, insuficiências
motoras e cognitivas.
2.2.5 Cocaína
A cocaína é uma substância natural, extraída das folhas de uma planta
denominada Erythroxylon coca, a coca. A cocaína pode chegar até o consumidor
sob a forma de um sal, o cloridrato de cocaína, que é solúvel em água e serve para
ser aspirado ou dissolvido em água para uso intravenoso, ou sob a forma de base, o
crack, que é pouco solúvel em água, mas que se volatiliza quando aquecida e,
portanto, é fumada em “cachimbos”. Também sob a forma base, a merla, um produto
ainda sem refino, é preparada de forma diferente do crack, mas também é fumada
(CEBRID, 2010).
19
Para esse autor, há ainda a pasta de coca, que é um produto grosseiro,
obtido das primeiras fases de extração de cocaína. Essa pasta contém muitas
impurezas tóxicas e é fumada em cigarros.
A UNODC (2007), informa que os efeitos em curto prazo incluem a perda de
apetite, aceleração da respiração e aumentos da temperatura do corpo e aceleração
do ritmo cardíaco. Os usuários podem comportar-se grotescamente e às vezes
violentamente.
Doses excessivas de cocaína podem causar convulsões, ataques, derrame
cerebral
ou
parada
cardíaca,
forte
dependência
psicológica,
desnutrição,
desorientação, apatia e um estado semelhante de psicose paranóica (UNODC,
2007).
2.2.6 Maconha
De acordo com o CEBRID (2010), a maconha é o nome dado aqui no Brasil a
uma planta chamada cientificamente de Cannabis sativa. O THC (tetraidrocanabinol)
é uma substância química fabricada pela própria maconha, sendo o principal
responsável pelos efeitos desta.
A UNODC (2007), afirma que a cannabis pode provocar uma sensação de
bem estar e relaxamento e às vezes euforia. Os usuários também podem sofrer um
senso mais vívido de visão, cheiro, gosto e audição.
Este autor relata ainda que o fumo da cannabis expõe os usuários a um maior
risco de contrair o câncer do pulmão e outras doenças das vias respiratórias.
2.2.7 Esteroides
Segundo o CEBRID (2010), os esteroides anabolizantes, são substitutos
sintéticos do hormônio masculino testosterona fabricada pelos testículos. Levam ao
crescimento da musculatura por efeito anabólico e ao desenvolvimento das
características sexuais masculinas por efeito androgênico
O uso clínico dos anabolizantes se dá para reposição da testosterona nos
casos de algum déficit da mesma. Atualmente, os anabolizantes são comumente
utilizados sem prescrição médica para melhorar o desempenho e a aparência física.
20
Esse uso estético inadequado é ilegal e ainda acarreta problemas à saúde (CEBRID,
2010).
2.2.8 Ópio e morfina
Muitas substâncias com grande atividade farmacológica podem ser extraídas
de uma planta chamada Papaver somniferum, conhecida popularmente com o nome
de “Papoula do Oriente”. E a ação de ambos é deprimir o sistema nervoso central
(CEBRID, 2010).
Segundo a UNODC (2007) e a Organização Mundial de Saúde – OMS (2004),
o ópio e a morfina podem ser injetados, fumados ou inalados. Em curto prazo,
provocam a contração da pupila, náusea, vômitos, sonolência, perda de
concentração e apatia. São muito viciadores e seu uso prolongado pode causar
vários efeitos severos à saúde como perda de peso, desnutrição e constipação,
irregularidade no ciclo menstrual, sedação e apatia crônica.
2.3
ABUSO, DEPENDÊNCIA E ABSTINÊNCIA
De acordo com Sadock e Sadock (2007), têm sido empregados dois conceitos
para definição de diferentes aspectos da dependência: comportamental e física. Na
dependência comportamental, destaca-se a procura de substâncias e evidências
relacionadas ao uso patológico, e a dependência física são os efeitos fisiológicos de
episódios múltiplos do uso de substâncias.
Segundo Mello (2008), abstinência é o quadro resultante da dependência que
surge quando não há possibilidade de o organismo ter a droga, caracterizada pela
presença de sintomas físicos e psicológicos graves, causadores de grande
sofrimento.
O abuso e dependência de substância resultam do ato de consumir
determinada substância segundo o padrão abusivo, mas esse tipo de simplificação
não explica por que algumas pessoas desenvolvem abuso ou dependência e outras
não (SADOCK; SADOCK, 2007).
Para esses autores, ainda a abstinência leve e moderada se desenvolve
porque o cérebro se adaptou fisicamente à presença de substância depressiva
cerebral e não pode funcionar de forma adequada na ausência dela.
21
O fornecimento de depressivo cerebral no primeiro dia, suficiente para reduzir
os sintomas, e depois retirar a substância de forma gradual ao longo dos próximos
cinco dias, oferecem a melhor forma de alivio e minimiza a possibilidade de
desenvolver abstinência grave (SADOCK; SADOCK, 2007).
Eles ainda relatam que a regra sobre o início e a duração dos sintomas da
abstinência é que as substâncias com ação curta tendem a produzir síndromes de
abstinência curtas e intensas, e aquelas com ação longa geram síndrome de
abstinências prolongadas mais leves.
2.4
A FAMÍLIA
Família é uma palavra que evoca diferentes imagens para cada indivíduo e
grupo, cujo significado tem evoluído ao longo do tempo (HANSON, 2001).
Segundo Hanson (2001), a família refere-se a dois ou mais indivíduos, que
dependem um do outro para dar apoio emocional, físico e econômico. Os membros
da família são autodefinidos.
Já para Messa (2005), a família é um grupo de pessoas com características
distintas, formando um sistema social, baseados numa proposta de ligação afetiva
duradoura, estabelecendo relação de cuidado dentro de um processo histórico de
vida. A noção de saúde da família depende dos recursos de cada membro e da
família como unidade, para a superação de crises e conflitos, evidenciando a busca
por normalizar o seu funcionamento através do cuidado e do estar com o outro.
Os enfermeiros ao lidar com a família devem perguntar aos clientes quem é
que eles consideram sua família, e incluir essas pessoas no planejamento de
cuidados de saúde. A família pode ir desde noções tradicionais de família às
estruturas familiares pós-modernas (HANSON, 2001). Segundo o Centro juvenil
Salesiano (S/D), dentre os tipos de famílias existentes, encontram-se:
1) Nuclear simples: Família em que o pai e a mãe estão presentes no domicílio.
Todos os filhos são do mesmo pai e da mesma mãe. Não há mais qualquer
adulto ou criança (que não sejam filhos) morando no domicílio.
2) Monoparental feminina simples: Família em que apenas a mãe está presente
no domicílio, vivendo com seus filhos, mas também eventualmente com
outros filhos menores de idade sob sua responsabilidade.
22
3) Monoparental masculina (simples ou extensa): Família em que apenas o pai
está presente no domicílio, vivendo com seus filhos e possivelmente com
outros filhos menores de idade sob sua responsabilidade e/ou outros adultos
sem filhos menores de 18 anos.
4) Nuclear extensa: Família em que o pai e a mãe estão presentes no domicílio,
vivendo com seus filhos e outros menores sob sua responsabilidade e
também com outros adultos, parentes ou não do pai e/ou da mãe.
5) Monoparental feminina extensa: Família em que apenas a mãe está presente
no domicílio, vivendo com seus filhos e outros menores de 18 anos, sob sua
responsabilidade, e também com outros adultos, parentes ou não.
6) Família convivente: Famílias que moram juntas, no mesmo domicílio, sendo
ou não parentes entre si. Nessa categoria, foram também agrupadas famílias
compostas por duas ou mais gerações, desde que cada geração houvesse
pelo menos uma mãe ou um pai com filhos até18 anos de idade.
7) Família nuclear reconstituída: Família em que o pai e/ou a mãe estão vivendo
em uma nova união, podendo também a companheira ou o companheiro ter
filhos com a idade até 18 anos, vivendo ou não no domicílio.
8) Família de genitores ausentes: Família que nem o pai e nem a mãe estão
presentes, mas outros adultos são responsáveis pelos menores (avós, tios).
9) Família nuclear com crianças/adolescentes agregados: Família em que o pai
e a mãe estão presentes no domicílio com seus filhos e também com outros
menores sob sua responsabilidade, sendo que não há outro adulto morando
no domicílio.
10)
Os familiares representam grande ajuda na intervenção. Devem aprender a
não proteger o paciente dos problemas causado pelas drogas, sugerindo que o
paciente se reúna com pessoas que estão se recuperando da dependência química.
Para auxiliar os familiares a passarem por essa fase o ideal seria os mesmos
procurarem grupos de auto ajuda.
2.5
O INDIVÍDUO CODEPENDENTE
23
Para Sadock e Sadock (2007), a codependência é um termo usado para
designar os padrões comportamentais de pessoas afetadas de forma significativa
pelo uso ou pela dependência de substâncias de um de seus familiares.
Segundo Viana e Tereza (2007), o codependente pode ser o familiar, o colega
de trabalho, o chefe, o amigo, o vizinho, e todos que procuram remover as
consequências dolorosas do abuso de drogas do dependente, para e pelo
dependente, com a intenção de minimizar ou de esconder o ocorrido, facilitando a
vida do dependente químico.
De acordo com Sadock e Sadock (2007), o indivíduo codependente apresenta
algumas características em comum. Uma das características mais aceitas da
codependência é a facilitação. Muitas vezes, os familiares sentem que tem pouco ou
nenhum controle sobre os atos de facilitação, isso se dá por causa das pressões
sociais para proteger e amparar os parentes ou por causa de interdependências
patológicas ou ambas.
Para Beattie (2011), o codependente é uma pessoa que deixa o
comportamento
do
outro
afetá-lo,
tendo
a
necessidade
de
controlar
o
comportamento dessa outra pessoa.
Segundo os Codependentes Anônimos – CoDA (1998), há algumas
características que são padrões de codependência. Entre essas características,
estão o fato do indivíduo codependente se sentir constantemente responsável por
outra pessoa; sentir pena, culpa e até mesmo ansiedade quando outras pessoas
têm problemas; ter dificuldades de dizer “não” para terceiros; tentar agradar aos
outros
ao invés de agradar a si mesmo; buscar desesperadamente amor e
aprovação; ter tendência a repetir relacionamentos destrutivos; sentir-se inadequado
e tolerar abusos para não perder o amor de outras pessoas.
Para Sadock e Sadock (2007), outra característica do codependente é a
dificuldade de aceitar a dependência como doença, ou seja, acreditam que o ato de
usar substâncias seja voluntário ou intencional, é como se o usuário se interessasse
mais pelas drogas do que pelos membros de sua família.
Os codependentes podem ter sentimentos como raiva, rejeição, fracasso,
além de se sentirem deprimidos e até mesmo culpados. Estes sentimentos se dão
na tentativa do usuário de negar a perda do controle sobre as drogas e afastar o
foco de preocupação do uso, que na maioria das vezes acabam responsabilizando
24
os outros membros da família que, com frequência, parecem aceitar parte ou toda
responsabilidade (SADOCK; SADOCK, 2007).
Esses autores falam que há também a negação, onde os familiares, assim
como os próprios usuários podem se comportar como se o uso da substância não
fosse realmente uma preocupação. Ou seja, nega-se sua existência. As razões para
indisposição em aceitar algo tão evidente variam. Às vezes, a negação é
autoprotetora no sentido de que os membros da família acreditam ser responsáveis
pelo possível problema com as drogas (SADOCK; SADOCK, 2007).
Os familiares codependentes não parecem dispostos a aceitar que é
necessária uma intervenção externa e, apesar de fracassos repetidos, continuam a
acreditar que maior força de vontade e esforços mais extensos de controle poderão
restaurar a tranquilidade. Quando as tentativas de controlar fracassam, atribuem o
insucesso a si mesmos, e não ao dependente ou ao processo de doença, e,
juntamente com o fracasso , surgem sentimentos de raiva, baixa autoestima e
depressão (SADOCK; SADOCK, 2007).
Para Viana e Tereza (2007), o codependente que age escondendo os fatos
que se constituem numa vergonha para todos por total desinformação, muitas vezes
imagina que está ajudando, mas na realidade está ajudando a que possíveis
pedidos de tratamentos e/ou internação sejam adiados.
Os mesmo autores dizem que os codependentes precisam ter coragem de
colocar limites, de desligar-se emocionalmente do dependente, sentindo seus
próprios sentimentos e vivendo suas próprias vidas. Os codependentes só
conseguirão entrar em recuperação informando-se, fazendo psicoterapia e,
sobretudo, frequentando as salas dos grupos de mútua ajuda.
25
3 TRAJETÓRIA METODOLOGICA
Esta etapa apresentará a trajetória metodológica desta pesquisa, no que se
refere à descrição do cenário, local do estudo, delineamento do estudo, sujeito
amostra e amostragem bem como os critérios de inclusão e exclusão, a coleta de
dados, o pré-teste, o instrumento de pesquisa, a análise de dados e a ética de
pesquisa.
3.1
CENÁRIO
O estudo foi realizado no município de Itajubá que se situa no sul do Estado
de Minas Gerais, acima do nível do mar, ocupando uma área de 290,45 Km² de
extensão, com população de 90.812 habitantes, de acordo com o IBGE de 2006, o
equivalente a 312,65 hab./km², numa taxa anual de crescimento de 1,26%
habitantes por ano. Conta com 219,75Km² de área rural e 70,70Km² de área urbana
(ITAJUBÁ, 2010).
Segundo a Prefeitura Municipal de Itajubá (2010), o município de Itajubá é o
núcleo urbano mais importante da região, beneficiado por uma boa malha viária,
permitindo a concentração e a distribuição de bens e serviços para os municípios
circunvizinhos. A cidade possui 57 bairros e limita-se com os municípios de São
José do Alegre, Maria da Fé, Wenceslau Bráz, Piranguinho e Delfim Moreira,
exercendo influência direta sobre 14 municípios da microrregião. Além disso, é
privilegiada devido a sua posição em relação às grandes capitais na região sudeste:
Belo Horizonte (445km), São Paulo (261km), Rio de Janeiro (318km).
O município possui um dos maiores Distritos Industriais do Sul de Minas, com
indústrias de grande e médio porte, gerando aproximadamente 2500 empregos
(ITAJUBÁ, 2010).
Ainda para a mesma fonte, o comércio varejista de Itajubá é bem diversificado
contando, atualmente, com aproximadamente 400 comércios registrados na
Associação Comercial, Industrial e Empresarial de Itajubá – ACIEI.
Para a Prefeitura Municipal De Itajubá (2010), o município de Itajubá é centro
de referência em assistência à saúde para dezesseis municípios da chamada
microrregião do Alto Sapucaí. A cidade conta com 2 (dois) hospitais credenciados
para o Sistema Único de Saúde – SUS: Santa Casa de Misericórdia de Itajubá e
26
Hospital Escola de Itajubá, da Faculdade de Medicina de Itajubá, com níveis de
atendimento de atenção básica até alta complexidade.
Oferece ainda assistência na área privada de convênios com Hospitais
Odontomed, Saúde Ceam e Unimed Itajubá, além do hospital Bezerra de Menezes,
voltado à saúde mental.
A assistência ambulatorial, além dos serviços privados, é realizada nos
hospitais credenciados do SUS, nas Unidades Básicas de Saúde do município e nas
duas policlínicas municipais. Exames laboratoriais e de imagem são realizados por
prestadores de serviços credenciados para o SUS, e ou contratados pela Prefeitura
Municipal, através da Secretaria de Saúde (ITAJUBÁ, 2010).
De acordo com a Prefeitura Municipal de Itajubá (2010), a farmácia da
Policlínica de Itajubá fornece gratuitamente aos parceiros cadastrados nos vários
programas de saúde, medicamentos para diabéticos, hipertensos, gestantes,
pacientes portadores de doenças infecto-contagiosas e para o programa DST/AIDS.
A Secretaria Municipal de Saúde mantém vários programas diferenciados de
assistência à Saúde, como o programa para Diabetes, Hipertensão, Saúde da
Mulher, Tuberculose e Hanseníase, Programa de Combate às Carências
Nutricionais, entre outros (ITAJUBÁ, 2010).
3.2
LOCAL DO ESTUDO
Segundo o Projeto Centro de Tratamento Laura Saia Palombo - Resgatando
Vidas, o Centro de Tratamento Laura Saia Palombo- CTLSP está localizado no
município de Itajubá, sendo uma instituição sem fins lucrativos. Seu objetivo é atuar
na promoção e na defesa dos Direitos Humanos de indivíduos e comunidade. Foi
fundado em 22 de dezembro de 2008, por seu idealizador Luiz Gustavo Ferreira de
Carvalho, que homenageou a sua mãe, pois esta lutou muito pela causa contra a
dependência química.
A meta do projeto do CTLSP é atender 30 dependentes, no período mínimo
de 9 meses, diretamente em recuperação no CTLSP, ao custo de R$ 20,00 por
residente/dia totalizando um custo de R$ 15.462,00 ao mês (CTLSP, SD).
O Projeto CTLSP está baseado principalmente nos 12 passos de Alcoólicos e
Narcóticos Anônimos, que são irmandades coirmãs, que tem um dos maiores
índices de recuperação em todo mundo, fazendo um trabalho inicial de
27
conscientização, de que dependência química é uma doença incurável, progressiva,
e fatal, que só levam a três caminhos: instituições, cadeia, ou morte.
O dependente, só é confinado no CTLSP desde que aceite tratar-se
voluntariamente, e então começar a recuperar sua vida graças à metodologia
desenvolvida pelo modelo sistêmico. As entidades terapêuticas como o CTLSP
visam equilibrar, através de terapias, o estado físico, mental, emocional e espiritual
do dependente e abrem as portas para uma recuperação sólida e consistente, e as
famílias podem recuperar o norte e o equilíbrio nas reuniões de autoajuda (CTLSP,
SD).
De acordo com o CTLSP, as famílias também estão inseridas no projeto,
após os primeiros 30 dias de confinamento, tanto na adaptação do dependente após
a internação quanto no que diz respeito a necessidades como codependentes deste,
por meio de trabalhos em grupos, e individuais são orientados, e ajudados nesta
caminhada.
3.3
DELINEAMENTO DO ESTUDO
Trata-se de uma pesquisa exploratória - descritiva de abordagem qualitativa e
transversal. Foi desenvolvida após aprovação pelo CEP- Comitê de Ética em
Pesquisa da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz.
Gil (2002), argumenta que as pesquisas exploratórias têm como objetivo
proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais
explícito, possibilitando a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato
estudado.
Para o mesmo autor citado acima, as pesquisas exploratórias, em sua
grande maioria, envolvem: entrevistas com pessoas que tenham tido experiências
práticas com o problema que está sendo pesquisado, levantamento bibliográfico e
análise de exemplos.
E ainda relata que as pesquisas descritivas têm como objetivo primordial a
descrição das características de determinada população ou fenômeno, ou, então, o
estabelecimento de relações entre variáveis. Uma de suas características mais
significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coletas de dados, tais
como questionário e a observação sistemática.
Segundo Gil (2002), as pesquisas de abordagem qualitativa baseiam-se na
28
premissa de que o conhecimento sobre as pessoas só é possível a partir da
descrição da experiência humana tal como ela é vivida e tal como é definida pelos
seus próprios atores, propiciando campo livre ao rico potencial das percepções e
subjetividades dos seres humanos. Essa escolha de abordagem da pesquisa é
guiada pela visão de mundo do pesquisador e por sua capacidade de captar a
realidade dinâmica e complexa de seu objeto de estudo. O processo de investigação
qualitativa reflete uma espécie de diálogo entre os investigadores e os respectivos
sujeitos.
Para Polit, Beck e Hungler (2004), a abordagem transversal é a coleta de
dados em um ponto do tempo. O delineamento transversal é apropriado para
descrever a situação, o status do fenômeno ou as suas relações entre os fenômenos
em um ponto fixo. Os dados relativos às variáveis dependentes ou independentes
são coletados concorrentemente, mas a variável independente geralmente capta
eventos ou comportamentos ocorridos no passado. Sua principal vantagem é ser
econômico e fácil de controlar.
3.4
SUJEITO, AMOSTRA E AMOSTRAGEM
Os participantes deste estudo foram familiares que os dependentes químicos
disseram ser, não necessariamente consanguíneos, tendo vínculo positivo ou
negativo e que frequentassem as reuniões de família no Centro de Recuperação
Laura Saia Palombo.
Segundo Polit, Beck e Hungler (2004), a amostragem é o processo de
seleção de uma porção da população para representar toda a população. Já a
amostra é um subconjunto dessa população. O tamanho da amostra na pesquisa
qualitativa foi determinado pela necessidade de informações. Um princípio que
orienta a amostragem é a saturação de dados, ou seja, o ponto em que não é obtida
nenhuma informação nova e atingida a redundância.
A amostra deste estudo dependeu das respostas fornecidas pelos
participantes. Quando percebemos que os dados estavam se repetindo e novos
dados não estavam surgindo, a coleta de dados foi interrompida.
A amostragem foi do tipo intencional ou teórica, onde ocorreu a seleção
intencional dos participantes que melhor iriam ajudar o entendimento da pesquisa,
29
sendo baseada na hipótese do conhecimento do pesquisador sobre a população,
onde pinçamos os casos a serem incluídos na amostra.
Sendo assim, tivemos a opção de decidir selecionar propositalmente a maior
variedade possível de respondentes, ou escolher sujeitos que sejam considerados
típicos da população em questão, ou particularmente conhecedores do assunto em
estudo (POLIT; BECK; HUNGLER, 2004).
3.4.1 Critérios de inclusão
Os critérios para participar da pesquisa foram:
- A pessoa ser da família do indivíduo dependente químico;
- Frequentar as reuniões de família do Centro de Tratamento Laura Saia Palombo;
- Ter mais de 18 anos;
- Aceitar participar da pesquisa;
- Assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (APÊNDICE – B);
- Ter contato com o dependente químico há pelo menos três meses.
3.4.2 Critérios de exclusão
Foram excluídos da pesquisa os participantes que:
- Não fossem da família do indivíduo dependente químico;
- Não frequentassem as reuniões de família do Centro de Tratamento Laura Saia
Palombo;
- Fossem menores de 18 anos;
- Não aceitassem participar da pesquisa;
- Não assinassem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.
3.5
COLETA DE DADOS
Os dados foram coletados posteriormente à aprovação da pesquisa pelo
Comitê de Ética e Pesquisa (CEP) da Escola de Enfermagem Wenceslau Braz. A
pesquisa foi realizada após as reuniões de família do Centro de Tratamento Laura
30
Saia Palombo, no município de Itajubá – MG, após esclarecimento dos objetivos do
estudo, garantia do anonimato dos participantes e explicação do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), bem como na leitura e assinatura.
3.6
PRÉ-TESTE
Segundo Lakatos e Marcone (2001), o pré-teste é o procedimento mais
utilizado para averiguar a validade de uma pesquisa, consiste em testar os
instrumentos da pesquisa sobre uma pequena parte da população, ou sua amostra,
antes de ser aplicado definitivamente, a fim de evitar que a pesquisa chegue a um
falso resultado.
De acordo com Boaventura (2009), o pré-teste tem como finalidade testar o
instrumento de coleta de dados, verificar o tempo gasto para sua aplicação, detectar
dificuldades de entendimento e ambiguidade das questões. Uma vez constatadas
falhas, reformulam-se os itens, explicitando melhor alguma questão ou modificando
outra.
A reformulação das falhas no questionário definitivo da pesquisa, só pode ser
realizada a partir da aplicação do pré-teste, que mostra possíveis erros (LAKATOS;
MARCONE, 2001).
O pré-teste foi realizado com 2 (dois) familiares de dependentes químicos que
reuniram os critérios de elegibilidade, que foram incluídos na amostra.O presente
estudo seguiu os preceitos estabelecidos pela Resolução 196/96 do Conselho
Nacional de Saúde, de 16/10/1996.
3.7
INSTRUMENTO DE PESQUISA
O instrumento de pesquisa utilizado foi uma entrevista semiestruturada
contendo uma questão (APÊNDICE – C) realizada oralmente e registrada por um
gravador de voz, onde os dados foram transcritos e analisados posteriormente. A
pergunta realizada aos participantes foi: “O que você sente em ter um familiar
dependente químico?”.
3.8
ANÁLISE DOS DADOS
31
Os dados foram analisados e interpretados por meio da metodologia da
análise do conteúdo Bardin. A análise de conteúdo Bardin é definida como um
conjunto de técnicas de análise de comunicação, visando obter, através de
procedimentos objetivos de transcrição das mensagens, indicadores que permitam a
indução de conhecimentos relativos às condições de produção/reprodução dessas
mensagens (BREVIDELLI; DOMENICO, 2006).
Segundo Bardin (2011), as diferentes fases do conteúdo são divididas em
três:
- Pré - análise: É a fase da organização, tem como objetivo operacionalizar e
sistematizar as ideias iniciais. Estabelece um programa que pode ser flexível e deve
ser preciso. Nesta fase, acontece a leitura, estabelece-se contato com os
documentos, a escolha dos documentos e análise dos mesmos.
- Exploração do material: Depois de concluir a pré-análise, esta nova fase é a
aplicação sistemática das decisões tomadas. É uma fase longa e consiste em
operações de codificação, decomposição ou enumeração.
- Tratamento dos resultados obtidos e interpretação: Os resultados brutos são
tratados de maneira a serem significativos e válidos. Para um maior rigor, esses
resultados são submetidos a provas estatísticas e testes de validação.
3.9
ÉTICA DE PESQUISA
Este projeto foi analisado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Escola
de Enfermagem Wenceslau Braz, colocado na Plataforma Brasil com o número do
parecer 36478, CAAE número: 03343612.7.0000.5099, seguindo as normas
estabelecidas pela Resolução 196/96, 16/10/1999, do Ministério da Saúde. Essa
etapa é fundamental quando seres humanos estão envolvidos na realização da
pesquisa (BREVIDELLI; DOMENICO, 2006).
O termo de consentimento livre esclarecido teve como dados fundamentais o
titulo do estudo; objetivos; esclarecimentos sobre a possibilidade de o participante
desistir de integrar o grupo de investigados qualquer momento da pesquisa;
identificação dos pesquisadores; entre outros.
A autonomia dos participantes da pesquisa foi respeitada pela sua livre
decisão de participação. O TCLE do presente estudo foi apresentado aos
respondentes para ser lido, discutido e assinado por eles.
32
Este estudo garantiu a privacidade dos sujeitos através da substituição de
seus nomes reais por nomes de cores (exemplo: amarelo, azul, vermelho...).
33
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para Beattie (2011), entre os codependentes é comum perder o contato com
sua parte emocional, recolhendo suas emoções, afastando-se emocionalmente das
pessoas, sendo muitas vezes oprimidos, deprimidos ou reprimidos. Os sentimentos
não devem ditar ou controlar o comportamento humano, mas são muito importantes,
pois são indicadores do estado emocional do paciente e podem gerar motivações
positivas, fornecendo pistas sobre os mesmos.
Existem muitos sentimentos expressados pelos codependentes, mas alguns
especialistas acreditam que os sentimentos mais comuns se resumem em quatro
básicos: raiva, tristeza, alegria e medo. Todos os outros são variações, porém essa
afirmação é contestada por outros pesquisadores (BEATTIE, 2011).
Durante a coleta de dados por nós realizada, foram entrevistados dez
familiares de dependentes químicos, onde pudemos identificar oito categorias de
sentimentos apresentados nas falas dos entrevistados: impotência; revolta e raiva;
dor; medo da recaída; compaixão; tristeza; esperança e fé, e, finalmente, culpa.
Foram entrevistados uma esposa, quatro pais, três irmãos e dois filhos, que
expressaram de maneira direta todos os seus sentimentos.
4.1
IMPOTÊNCIA
“O que eu sinto, assim, em primeiro lugar é impotência. Porque a gente
fica totalmente impotente né?! [...] não da pra ter um controle. [...] A gente fica
sem ação...” (Rosa)
“[...] não podia fazer nada pelo meu pai, podia fazer por mim, trabalhar,
estudar, mas por ele não.” (Marrom)
“[...] não desejo isso pra ninguém, você ver a pessoa se acabando e não
poder fazer nada, a gente tenta ajudar, mas ele tem que querer ser ajudado.”
(Laranja)
“É um sentimento de se ver impotente diante da situação, meu filho era
usuário, e de uma forma que ninguém controlava, roubou meu carro e vendeu
[...]” (Cinza)
Para Ferreira (2004), impotência significa impossibilidade, falta de forças.
Segundo Brusamarello et al. (2008), os familiares são afetados direta ou
34
indiretamente pelo dependente por se sentirem impotentes diante do sofrimento dos
mesmos, ou à medida que passam a viver em função da pessoa dependente.
Para Jorge, Pinto e Matos (2008), a impotência é um dos principais
sentimentos presentes nos familiares que convivem com o dependente químico.
Segundo Oliveira e Seadi (2009), as famílias, quando necessitam internar um
familiar, fazem-no com sentimentos ambivalentes de impotência e um desejo
enorme de ajudar.
Carneiro, Hermeto e Sampaio (2010), falam que é comum o sentimento de
desamparo e o permanente estado de impotência dos familiares, que tentam tomar
controle da situação, mas nunca sabem de fato o que fazer.
Pelas falas de Rosa, Marrom, Laranja e Cinza ficam explícitas as
incapacidades de formular saídas, reais ou simbólicas, por parte dos familiares, a
vontade de ajudar sem saber como e a total falta de controle da situação,
evidenciando o sentimento de impotência.
4.2
REVOLTA E RAIVA
“[...] às vezes ele tá bem, quando vê ele tem uma recaída. Isso tudo deixa
a gente um pouco revoltado.” (Azul)
“Tem hora que me dá raiva, mesmo sabendo que é uma doença que
qualquer um pode ter, mas como ele foi provar? Me dá raiva disso.” (Laranja)
Segundo Ferreira (2004), revolta é o sentimento de reprovação e raiva
significa ódio, ira, rancor, grande aversão, horror. No discurso de Azul e Laranja
fica evidente o sentimento de revolta e raiva quando se reporta à figura de seu
familiar dependente químico.
Segundo Carneiro, Hermeto e Sampaio (2010), o sentimento de raiva e
revolta pode tomar forma de rejeição, de aceitação martirizada ou até mesmo de
mobilização para a luta.
Para Reis (2005), as famílias que vivem o drama da drogadição, são famílias
que convivem diariamente com sentimentos como o de revolta expressado por Azul
e Laranja, além de outros sentimentos como os de raiva, amor e medo,
sentimentos esses que se apresentam em todas as famílias, porém em um grau
bem mais elevado quando se trata de família de dependentes químicos.
35
Muitas vezes, os familiares podem manifestar um sentimento de revolta em
relação à recaída. Geralmente, quando o dependente apresenta a recaída, sua
família tende a marginalizá-lo e a considerá-lo como tal, quando deveria ser a
primeira a mobilizar o indivíduo para a formação de uma aliança em busca de sua
recuperação. (BUCHELE; MARCATTI; RABELO, 2004).
4.3
DOR
“O meu sentimento é de dor, porque via minha mãe e meu irmão
sofrendo com cada crise, cada momento de desespero [...]” (Preto)
“[...] minha esposa emagreceu, eu via o sofrimento dela todos os dias,
porque não é só usuário que sofre, é a família inteira, isso dói demais.” (Cinza)
A dor, segundo Ferreira (2004), é uma sensação emocional ou psicológica
que causa sofrimento. É descrita também como uma sensação subjetiva de
desconforto, gerada por estímulos físicos, químicos, biológicos ou psicológicos
(ALMEIDA et al., 2009).
A maioria das famílias que convive com dependentes químicos mantém um
relacionamento caótico, marcado por inconsistência e fragilidade nas relações
afetivas, o que causa dor entre seus membros (BOERY et al., 2011). Para Almeida
et al. (2009), a dor é sempre subjetiva e cada indivíduo aprende a utilizar esse termo
através de suas experiências traumáticas.
Nesta subcategoria, através dos relatos de Preto e Cinza, observa-se que os
familiares já acompanharam e vivenciaram experiências traumáticas ao lado do
parente dependente e que as relações familiares estão prejudicadas, causando dor
ao indivíduo codependente.
4.4
MEDO DA RECAÍDA
“[...] pode ficar um ano, dois anos, três anos, que vai voltar pra droga,
não tem respeito, e ficar ali de novo, mas é aquela coisa que mesmo quando
ele tá internado, você fica tenso [...]” (Rosa)
Segundo Ferreira (2004), medo é o estado emocional resultante da
consciência de perigo ou de ameaça, reais, hipotéticos ou imaginários. É
36
decorrente da preocupação com determinado fato ou com determinada
possibilidade. Para Gomes e Rigotto (2002), a recaída é definida como um retorno
ao uso de drogas após um determinado período de abstinência.
Nesse contexto, é normal os familiares sentirem medo de uma possível
recaída, pois os dependentes têm uma capacidade muito baixa de tolerar
frustrações, como por exemplo, situações de abstinência devido à privação das
drogas, o que os levam a um não enfrentamento destas situações, ou seja, os
mesmos acabam tendo uma recaída.
Os familiares criam certa expectativa quando o parente dependente químico
resolve procurar ajuda, porém essa expectativa é substituída por um sentimento
crescente de medo do mesmo sofrer recaídas, justamente por saber que os
usuários estão expostos a diversas situações que podem ser um convite para
recaídas, como envolvimento com antigos amigos usuários, necessidade de
aprovação social e frustrações diante de circunstâncias adversas.
4.5
COMPAIXÃO
“[...] mas eu tento ajudar o máximo possível, assim, eu ajudei ele na
internação dele, vou visitá ele, só que eu não faço nada além dos meus limites,
pra ele ver que a gente tem uma vida, que a gente não vive em torno dele né?!”
(Amarelo)
“Tentei ajudar muito ele. Eu, minha mãe e meu pai pegamos ele,
puzemos ele dentro de casa, ajudamos ele, meu marido deu serviço pra ele, dei
casa, dei de comer pra ele, e ele não quis ficá com a gente, saiu e foi morá
sozinho e foi daí pro pior [...]” (Vermelho)
Para Ferreira (2004), compaixão é o pesar que em nós desperta a
infelicidade, dor, pena e condolência.
Segundo Boery et al. (2011), nesse contexto, a compaixão expressa pelos
familiares não deve ser entendida de forma pejorativa como sentir “pena” do outro,
mas diz respeito à capacidade de deixar seu próprio círculo e adentrar o espaço do
outro para sofrer a seu lado, alegrar-se, caminhar junto e construir a vida em sinergia
com ele. Portanto, é normal nestas situações os familiares sentirem compaixão pelos
usuários, pois se configura como sendo uma capacidade de isentar-se do egoísmo e
37
praticar o altruísmo, por não permitirem que seus familiares enfrentem sozinhos um
problema que tem repercussões na vida de toda a família (BOERY et al., 2011).
4.6
TRISTEZA
“Sinto tristeza. Sinto muito triste, é isso. Ah, a gente fica triste, porque a
gente quis ajudar de todas as maneiras [...]” (Azul)
“O sentimento é muita tristeza, por ele ser, por ter ele feito o que fez
comigo, com ele mesmo. [...] Mas eu senti muita tristeza dele tá nessa vida,
não por ter ele feito comigo, porque a gente recupera né?! [...] A gente fica
triste por ele mesmo.” (Vermelho)
“[...] Eu fico triste né?! Porque você tem um pai que tem que te dar
exemplo, e ele que tá lá bebendo.” (Marrom)
“Ah, é triste né?! [...] é muito complicado, é uma situação muito chata
ver uma pessoa que a gente gosta, que a gente ama, nessa situação. Quando
meu pai quis se internar ele já estava quase morrendo, ou ele morria, ou ele se
internava!” (Branco)
Para Ferreira (2004), a tristeza é a qualidade de triste, é o aspecto revelador
de mágoa ou aflição. A tristeza é a resposta humana às situações de perda, derrota,
desapontamento e outras adversidades. É um sinal de alerta, para os demais, de
que a pessoa está precisando de companhia e ajuda. Tem valor adaptativo, do
ponto de vista evolucionário, uma vez que, através do retraimento, poupa energia e
recursos para o futuro (PORTO, 1999).
Azul, vermelho e marrom apresentaram o sentimento de tristeza não só pela
situação do dependente, mas principalmente pela situação de toda sua família.
³ Tobo e Zago (2005) apud Aragão, Milagres e Figlie (2009), evidenciam que
esposas de maridos dependentes de álcool apresentam sofrimento e um apelo para
uma vida de resignação e sacrifícios acompanhada por sentimentos de solidão,
frustrações e tristezas em virtude da deficiência desses maridos no exercício do
papel de pai e esposo.
4.7
ESPERANÇA E FÉ
38
“Eu quero ver a recuperação dele bem, quero ver ele bem. [...] então
agora a gente tá procurando ajudá ele , visitá ele, pra ver se ele recupera de
verdade e fica junto com a gente. [...] então a gente qué que ele recupera de
verdade e vem ficar junto com minha mãe e com o meu pai, isso que nóis
espera dele.” (Vermelho)
“Entrei nessa guerra para poder ajudá-lo e tenho a esperança que ele
comece a entender. [...] É uma guerra que a gente tá entrando, tem que ter fé e
buscar a Deus, se a gente buscava a Deus um pouquinho, agora tem que
buscar dobrado.” (Verde)
“[...] eu só pedia pra Deus pra que eu pudesse encontrar ele vivo.”
(cinza)
Para Ferreira (2004), a esperança é esperar o que se deseja, expectativa e fé.
A esperança e a fé são sentimentos que motivam bastante os entrevistados. Os
familiares têm na religião a explicação para a situação que estão passando,
percebendo-se, com isso, muita resignação. A religião ajuda a proporcionar certo
conforto diante de tal situação, paz do coração, além de gerar certo conformismo
(ALMEIDA et al., 2009).
A fé e a esperança demonstradas por Verde, Cinza e Vermelho proporcionam
maior entendimento da situação vivida pelo dependente químico, e mostra que com
esses sentimentos fazem com que a compreensão e apoio sejam mais evidentes, os
deixando cada vez mais fortes para enfrentar diversas situações adversas
relacionadas ao problema vivenciado, estimulando a luta não só do dependente,
mas da sua família.
4.8
4.8 CULPA
“Eu sinto um pouco de culpa por causa de nunca ter dado muita atenção
pra ele. [...] porque eu sou a mais velha, entendeu?! Devia ter dado uma
assistência a mais ali.” (Amarelo)
“Tem hora que eu me sinto culpada ‘será que eu não fui uma boa mãe?’
Mas eu fiz o possível, eu trabalho, eu procurei fazer uma família.” (Rosa)
“[...] quando eu descobri fiquei com culpa, achando onde eu errei, onde
nós erramos, eu e a mãe. Parece que a gente quis fazer tudo certo. Depois
descobri que eu errei também, que a gente põe álcool dentro de casa desde
39
pequeno nas festas, eu sinto que tenho responsabilidade hoje com ele.”
(Verde)
A culpa é uma conduta negligente ou imprudente sem propósito de lesar mas
da qual proveio dano ou ofensa a outro. Os familiares de dependentes químicos
sentem-se envergonhadas e culpam tanto a si como aos outros pelo abuso de
substâncias em suas famílias (JORGE; PINTO; MATOS, 2008).
O sentimento de culpa dos familiares é bastante citado entre os filhos,
irmãos, esposas, e principalmente pelos pais dos dependentes químicos, que se
culpam pelas atitudes tomadas. A família incorpora uma parcela de culpa, num
processo nítido de tomada de responsabilidade (FELÍCIO, 2006).
Durante a entrevista de amarelo, rosa e verde foi evidente o sentimento de
culpa, onde os familiares se sentem responsáveis pelas atitudes de seu parente
dependente químico. Eles procuram saber onde erraram para que o seu parente se
tornasse dependente químico e chegasse a tal situação.
40
5 CONCLUSÃO
O objetivo do presente trabalho, que foi identificar o sentimento de um
membro da família diante de um dependente químico, foi alcançado. Em nossos
resultados, observamos que os entrevistados nos relataram sentimentos de:
impotência 40%; dor 20%; raiva e revolta 20%; medo da recaída 10%; compaixão
20%; tristeza 40%; esperança e fé 30%; e culpa 40%. Os parentes de dependentes
químicos eram pais, irmãos, filhos e esposa.
Constatamos que a dependência interfere no cotidiano e na vida não só do
dependente químico, mas da família como um todo, podendo alterar a saúde mental
de todo o contexto familiar. E algumas vezes o codependente sofre tanto quanto ou
até mais do que a pessoa problema e sua importância no apoio ao usuário de
drogas.
Ao realizá-lo, pudemos perceber que não só o paciente é abalado pela
doença, mas também todo o contexto no qual esse indivíduo está inserido,
principalmente o ciclo familiar que se esforça para adaptar à situação. No processo
da entrevista, percebemos uma forte carga emocional relativa aos sentimentos dos
depoentes que assumem o papel de codependente. Conhecer estes sentimentos
nos possibilitou compreender os problemas que a dependência acarreta para a vida
destes familiares.
É necessário acompanhamento profissional para orientar e fazer com que o
familiar codependente aprenda a lidar com estas situações, sem abandonar seus
projetos de vida e suas conquistas pessoais.
41
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo aqui apresentado evidenciou os sentimentos de um membro familiar
diante de um parente dependente químico. Ao nos depararmos com as literaturas
referentes ao tema encontramos uma escassez muito grande de estudos
relacionados com a codependência e o familiar do dependente químico de uma
maneira geral, não havendo uma definição e um significado próprio.
Alguns especialistas julgam a codependência como uma doença crônica e
progressiva, já outros julgam como uma situação transitória. Talvez essa dificuldade
em se definir e se conhecer a codependência se dê à ausência de pesquisas na
área, evidenciando a necessidade de novos trabalhos capazes de trazer à discussão
aspectos mais profundos ainda não explorados deste contexto.
Sugerimos novos trabalhos que relatem o vínculo deste familiar com o
codependente, quanto tempo de dependência, e quantas internações esse
dependente já teve. Sugerimos também uma pesquisa com familiares de
dependentes que saíram da drogadição há bastante tempo.
A enfermagem tem lidado constantemente com os problemas gerados pela
dependência química e cada vez mais tem prestado assistência ao dependente
químico e à sua família. A partir de novos e mais aprofundados estudos poderemos
conhecer melhor os sentimentos dos familiares codependentes propiciando à equipe
de enfermagem uma melhor atuação no sentido de olhar mais atentamente ao
cuidado prestado a esta população.
42
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paciente internado na Unidade de Terapia Intensiva. Revista Brasileira de
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46
APÊNDICE A - Carta de solicitação de autorização
47
APÊNDICE B - Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
Nós, Fernanda Araújo Ribeiro, Lilian Pereira Costa e Tais Bessa Werneck,
alunas da Graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem Wenceslau Bráz,
estamos realizando uma pesquisa cujo título é: “O sentimento de um membro da
família diante de um dependente químico” sob orientação da Ms. Débora Vitória
Alexandrina Lisboa Vilella.
Este documento tem por objetivo esclarecer ao participante da pesquisa de
forma clara e objetiva, sobre o estudo a ser realizado: finalidade, benefícios
esperados e objetivos a serem alcançados com o mesmo.
Sua participação nesta pesquisa é de livre e espontânea vontade e, a
qualquer momento, você poderá interrompê-la, recusar-se a submeter-se a
quaisquer procedimentos, como também dela desistir, a tempo e modo, como assim
desejar, sem qualquer penalização ou prejuízo a sua pessoa.
A presente pesquisa trata de um trabalho que tem a finalidade de identificar o
sentimento de um familiar diante de um parente dependente químico.
Cada vez mais a enfermagem tem prestado assistência ao dependente
químico e à sua família. E com este estudo os sentimentos dos familiares serão
ressaltados e a equipe de enfermagem poderá prestar um melhor cuidado baseado
nesses sentimentos.
Para a realização desta pesquisa será utilizado como instrumento uma
entrevista semiestruturada, registrada por um gravador de voz, onde os dados serão
transcritos e analisados posteriormente. O instrumento será respondido após as
reuniões de família do Centro de Tratamento Laura Saia.
A colaboração do participante e todos os dados referentes à sua pessoa
serão exclusivos para a pesquisa em questão e de inteira responsabilidade das
pesquisadoras, que garantem anonimato e total sigilo, assegurando a privacidade
das informações a elas fornecidas.
Qualquer dúvida entrar em contato com o CEP que se localiza na Escola de
Enfermagem Wenceslau Braz – EEWB, rua Cesário Alvin, 566, Itajubá – MG, que
funciona de 2ª a 6º feira das 7 às 11 horas e das 13 às 16 horas, pelo telefone (35)
36221930, ramal 323.
48
Diante do que foi exposto acima, concordo em participar dessa pesquisa e,
para oficializar minha participação, assino o presente documento.
De acordo: ________________________________________ em ___/___/___
49
APÊNDICE C - Roteiro de entrevista semiestruturada
“O que você sente em ter um familiar dependente químico?”.
50
ANEXO A - Entrevistas
“Sinto tristeza. Sinto muito triste, é isso. Ah, a gente fica triste, porque a gente quis
ajudar de todas as maneiras, às vezes ele ta bem, quando vê tem uma recaída. Isso
tudo deixa a gente um pouco revoltado.” (Azul)
“Eu sinto um pouco de culpa por causa de nunca ter dado muita atenção pra ele. Às
vezes eu penso assim, ‘nossa porque que eu nunca dei uma atenção melhor pra
ele? ’, porque eu sou a mais velha, entendeu?! Devia de ter dado uma assistência a
mais ali. Ele escolheu esse caminho, né, essa decisão na vida dele, mas eu procuro,
assim, tentar ajudar no que eu posso e não deixar de viver a minha vida, porque eu
também tenho minhas coisas pra fazer, né, mas eu tento ajudar o máximo possível,
assim, eu ajudei ele na internação dele, vou visitar ele, só que eu não faço nada
além dos meus limites, pra ele ver que a gente tem uma vida, que a gente num vive
em torno dele né?! Mas é isso.” (Amarelo)
“O sentimento é muita tristeza, por ele ser, por ter ele feito que ele fez comigo, com
ele mesmo. Tentei ajudar muito ele.
Eu, minha mãe, meu pai pegamos ele,
puzemos ele dentro de casa, ajudamos ele, meu marido deu serviço pra ele, dei
casa, dei de come pra ele, e ele não quis fica com a gente, saiu e foi mora sozinho e
foi daí pro pior, até que ele mesmo procurou internar. Mas eu senti muita tristeza
dele tá nessa vida, não por te ele feito comigo, porque a gente recupera né?! Eu
quero vê a recuperação dele bem, quero vê ele bem. É isso que é a tristeza da
gente. Ele não tá junto com a gente, dia dos pais, com o meu pai, dias das mães, no
natal nada disso ele passou com a gente, ele ta
sempre isolado, sozinho, nas
droga. E até minha mãe, meu pai sofre muito, então agora a gente tá procurando
ajudar ele, visitar ele, pra vê se ele recupera de verdade e fica junto com a gente,
porque ele tá sozinho, sem família, sem ninguém. Então a gente quer que ele
recupera de verdade e vem ficar junto com a minha mãe e com meu pai, isso que
nois espera dele. A gente fica triste por ele mesmo.” (Vermelho)
“O que eu sinto, assim, em primeiro lugar é a impotência. Porque a gente fica
totalmente impotente, né?! No começo cê acha o pó, vai faz vista grossa, porque é
até mais fácil sabe?! Mas a gente não consegue, aí quando cê vê que não tem cura,
51
que é pro resto da vida, fica difícil sabe, que nem ele foi, ficou internado lá um tempo
né, e cê fica naquela expectativa, tá certo, pode ficar um ano, dois anos, três anos,
que vai voltar pra droga, não tem respeito, e ficar ali de novo, mas é aquela coisa
que mesmo quando ele ta internado, você fica tenso, ai quando vê liga ‘mãe to indo
embora’, que que eu vou fazer?! Aí chega em casa e vai fazer o que?! Entendeu?!
Cê vai batê? Eu saio pra trabalhar e deixo ele sozinho dentro de casa, não da pra ter
um controle. Eu me sinto muito mal , porque eu num quero o mal dele, né, eu quero
o bem, lógico, ainda mais eu que sou mãe dele. Mas a gente vai fazer o que?!
Aparentemente ele gosta da gente mas em primeiro lugar vem ele, né?! Então ele
manipula, agora ele tá lá em casa, é aquela coisa, a gente não tem segurança, a
qualquer momento ele pode ter uma recaída. Então é uma impotência mesmo que
eu sinto. Tem hora que eu sinto culpada ‘será que eu não fui uma boa mãe’? Mas eu
fiz o possível, eu trabalho, eu procurei fazer uma família. Eu sei que se ele sair de
casa e der um traguinho, né?! Ou beber, já era. Mas lutar contra a droga é muito
difícil. Até que ele não é agressivo comigo, ele é bom, não é uma pessoa ruim,
assim de judiar da gente, sabe? Eu quero ver o que eu faço com ele, sabe?! Porque
eu não sei! A gente fica sem ação... Mas cê sabe como é né?!” (Rosa)
“Antes eu tinha um sentimento de raiva, depois de perda de derrota, quando eu
descobri, fiquei com culpa, achando onde eu errei, onde nós erramos eu e a mãe.
Parece que a gente quis fazer tudo certo. Depois descobri que eu errei também, que
a gente põem álcool dentro de casa desde pequeno nas festas, eu sinto que tenho
responsabilidade hoje com ele. Entrei nessa guerra para poder ajudá-lo e tenho
esperança que ele comece a entender. Domingo foi o ultimo dia do tratamento. Esse
tratamento eu sei que é o principio e não o fim, o começo de uma luta dele. Eu to
aprendendo a lidar com isso também para poder é não ficar doente, porque nesses
últimos 6 meses eu fiquei doente e a mãe ficou doente, estamos em recuperação,
né, ele com sua doença e eu com minha codependência, né?! Então é um
sentimento de responsabilidade, de preocupação, de medo, mais de coragem
também. É uma guerra que a gente está entrando, tem que ter fé e buscar a Deus,
se a gente buscava a Deus um pouquinho, agora tem que buscar dobrado.” (Verde)
“É meu pai. Eu fico triste né?! Porque você tem um pai que tem que te dar exemplo,
e ele que tá lá bebendo. Ele não usava droga mais ele bebia aí o que acontece para
52
mim era ruim, porque a gente segue o exemplo do pai. Eu fiquei não, eu fiquei a vida
interia triste porque não podia fazer nada pelo meu pai, podia fazer por mim,
trabalhar, estudar mas por ele não. Podia dar conselho ‘você não vai, vou amarrar
você aqui’ não tem jeito, ele vai. A gente não pode fazer nada pela escolha de outro
né. Fica sentimento só de tristeza, porque você não pode fazer nada.” (Marrom)
“O sentimento é ruim né?! De ter um irmão assim, envolvido nessas coisas, com
quase todos os tipos de drogas, eu não queria ter, porque é muito ruim né, não
desejo isso pra ninguém, você ver a pessoa se acabando e não poder fazer nada,
agente tenta ajudar, mas ele tem que querer ser ajudado. Tem hora que me dá
raiva, mesmo sabendo que é uma doença que qualquer um pode ter, mas como ele
foi provar? Me dá raiva disso.” (Laranja)
“Ah é triste né?! É triste, porque é uma situação complicada, mas eu não convivi
muito com o alcoolismo do meu pai, ele é alcoólatra, eu sofro mais pela minha mãe,
eu penso mais nela, é muito complicado, é uma situação muito chata ver uma
pessoa que a gente gosta, que a gente ama, nessa situação. Quando meu pai quis
se internar ele já estava quase morrendo, ou ele morria, ou ele se internava!”
(Branco)
“O meu sentimento é de dor, porque via minha mãe e meu irmão sofrendo com cada
crise, cada momento de desespero, e o meu outro irmão sumia, e aparecia dias
depois, magro, acabado, eu não via isso, mas pensava nos sentimentos da minha
mãe e do meu irmão, e a mágoa que eu tinha dentro de mim por não estar lá. Ele se
internou um tempo por conta dele, ficou lindo, gordo, mas quando ele saiu, não
durou muito pra que todo terror voltasse, é difícil, muito difícil só passando por isso
pra saber.” (Preto)
“É um sentimento de ser ver impotente diante da situação, meu filho era usuário, e
de uma forma que ninguém controlava, roubou meu carro e vendeu, ninguém sabia
onde ele estava, onde procurar, eu só pedia pra Deus que eu pudesse encontrar ele
vivo. A cada noticia que eu via na televisão ou jornais de pessoas que foram
encontradas mortas, foi até na época que aquela cantora Amy morreu, eu me via
naquela situação futuramente, minha esposa emagreceu eu via o sofrimento dela
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todos os dias, porque não é só o usuário que sofre, é a família inteira, isso dói
demais.” (Cinza)
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ANEXO B – Parecer Consubstanciado
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