Deficiência de alfa-1 antitripsina e outros fatores genéticos como causa da DPOC Oliver Nascimento Centro de Reabilitação Pulmonar Disciplina de Pneumologia Unifesp / LESF Modelo de declínio da função pulmonar VEF1 (% do valor aos 25 anos) Variação individual e suscetibilidade ao tabagismo Nunca fumou ou não Geneticamente suscetível ao cigarro 100 protegidos 75 Parou aos 45 Fumou regularmente Geneticamente e suscetível a seus efeitos 50 suscetíveis Incapacitação Parou aos 65 25 Morte † † 0 25 50 75 Idade (anos) Fletcher C, Peto R. Br Med J 1977; 1: 1645 Partículas e gases nocivos Fatores individuais Genética Inflamação Estresse oxidativo Proteinases Elastase Neutrofílica Catepsinas Metaloproteinases Patologia da DPOC GOLD Brasil. www.golddpoc.com.br Modelos de evolução de portadores em DPOC idade Estádio 20 70 Risco 20 idade 70 B A Leve Dentre os portadores de DPOC há comportamentos evolutivos diferentes Moderado Grave Estádio Risco 20 idade 70 C 20 Idade 70 D Leve Moderado Grave GOLD Brasil. www.golddpoc.com.br Fumaças/vapores ocupacionais Genes com ação no equilíbrio entre protease/antiprotease Recolhimento elástico Tabagismo Suscetibilidade genética Genes de metabolização xenobiótica Genes antioxidantes Fluxo aéreo e hiperinsuflação Infecções respiratórias infância Genes com ações pró e anti-inflamatórias Inflamação das vias aéreas e remodelamento Genes associados com DPOC • Sistema protease – antiprotease – – – – Alfa-1 antitripsina Alfa-1 antiquimiotripsina Alfa-2 macroglobulina Matriz metaloproteinase (MMP) • Enzimas metabolizadoras xenobióticas e antioxidantes – – – – – Hidrolase epoxido microssomal Glutationa S-transferase Citocromo P450 (CYP1A1) Hemeoxigenase 1 Superóxido dismutase extracelular • Mediadores inflamatórios – Proteína ligadora de Vitamina D – TNF alfa – Complexo Il-1 • Depuração mucociliar – Regulador transmembrana de fibrose cística (CFTR) • Hiperresponsividade das vias aéreas – Receptor Beta adrenérgico A genética não se associa somente com o declínio do VEF1 na DPOC... Genes e predomínio do local do enfisema • Pacientes do NETT (muito graves) • Localização do enfisema apresentou associação com certas alterações genéticas – Polimorfismos em enzimas xenobióticas • GSTP1 • EPHX1 enfisema de predomínio em regiões apicais Am J Respir Crit Care Med Articles in Press. Published on March 15, 2007 Genes associados com determinantes do exercício • Capacidade máxima de exercício – Hidrolase epoxido microssomal (EPHX1) – Latent transforming growth, factor- binding protein-4 (LTBP4) • Teste de caminhada de 6 minutos – LTBP4 – Proteína surfactante β (SFTPβ) • Dispnéia – TGFB1 Hersh CP. Am J Respir Crit Care Med 2006; 173: 977 – 984 Deficiência de Alfa-1 antitripsina A -1 antititripsina • Produzida e secretada pelos hepatócitos e em menor proporção pelas células epiteliais pulmonares e fagócitos • Produção de ≈ 34 mg/Kg/dia • Valores normais: 80 – 220 mg/dL Luisetti M. Thorax 2004;59:164–169 A deficiência de -1 antititripsina • Redução do nível plasmático da -1 antitripsina abaixo dos níveis mínimos protetores • Doença genética autossômica recessiva • Causada pela mutação no gene inibidor de protease (Pi) • Mais de 100 alelos já foram identificados Stoller JK. Lancet 2005; 365: 2225–36 DeMeo DL. Thorax 2004;59:259–264 Alelos: M, S, Z Ausência: nulo Herança genética (Genótipo) RNA m Produção de -1 antitripsina Normal Intermediária Baixa No hepatócito... Determinantes do nível sérico de -1 antitripsina Alelos Fenótipo Nível sérico herdados Valor (mg/dL) Risco de DPOC em tabagistas PiMM M Normal 150-350 Geral PiZZ Z Muito baixo 20-45 80-100% PiZnulo Z Muito baixo 20-45 100% MZ Intermediário 90-110 Geral PiMnulo M Intermediário 90-110 Geral PiSZ SZ Baixo 75-120 20-50% PiMZ DeMeo DL. Thorax 2004;59:259–264 Alfa-1 antitripsina e elastase 1-antitripsina Asn95 His41 Ser173 Asn46 ILe356 Pro357 Asp88 Asn144 Met358 Ser359 ILe360 Pro361 Asn247 Asn83 Elastase neutrofílica Crystal RG. Chest 1989; 95; 196-208 Desequilíbrio protease-antiprotease Elastase neutrofílica Catepsinas Mieloperoxidases 1-Antitripsina SLPI Elafina TIMPs Deficiência de Alfa-1 Antitripsina Epidemiologia Freqüência de alelos do gen Z (x1.000) > 20 20 - 19 1010 - 19 5 -9 5 -9 >0 - 4 >0=- 04 No testado = 0No datos Fig 4. PI Z Blanco. Clin Genet 2001; 60: 31-41 Prevalência • Não se sabe a real prevalência no Brasil • Outros países: – Suécia: 1/1.575 nascimentos Sveger T. N Engl J Med 1976;294:1316–1321 Sveger T. Pediatrics 1978;62:22–25 – EUA: 1/2.857–1/5.097 nascimentos Silverman EK. Am Rev Respir Dis 1989;140:961–966 O’Brien ML. J Pediatr 1978;92:1006–1010 – Entre os portadores de DPOC: • PI*ZZ entre 1 e 4,5% • PI*MZ até 17,8% A Deficiência de Alfa-1 Antitripsina é sub-diagnosticada nos EUA • Estudo em St. Louis (EUA) • 20.000 amostras em banco de sangue • Encontrados 7 indivíduos com fenótipo PI*ZZ • Extrapolando para a população local: 700 doentes PI*ZZ indivíduos • Foi encontrado apenas 28 (4%) com diagnóstico médico Silverman EK. Am Rev Respir Dis 1989; 140: 961 Tempo para o diagnóstico da Deficiência de Alfa 1 Antitripsina Pouco reconhecimento dos sintomas 1994: 7,2 anos 2003: 5,6 anos Stoller JK. Chest 2005; 128:1989–1994 Taxa de declínio de VEF1 em portadores de Deficiência de -1 antitripsina Stoller JK. Lancet 2005; 365: 2225–36 Deficiência de Alfa 1 Antitripsina e sobrevida Brantly. Am Rev Respir Dis 1988;138:327-336 Deficiência de Alfa-1 Antitripsina Diagnóstico Indicações de realização de dosagem de -1 antitripsina • • • • • • DPOC em adultos jovens (< 45 anos) DPOC sem fator de risco conhecido Enfisema predominante em regiões inferiores dos pulmões Vasculite com ANCA-C (Ac antineutrofílico citoplasma) positivo Doença hepática sem causa aparente História familiar de DPOC, hepatopatia, paniculite ou bronquiectasias II Consenso Brasileiro sobre DPOC. J Bras Pneumol 2004; 30: S1 – S42 Diagnóstico • Dosagem de alfa-1 antitripsina sérica – Casos suspeitos • Determinação do fenótipo – Indivíduos com deficiência comprovada (< 80mg/dL) – Familiares de portadores de deficiência de alfa-1 • Determinação do genótipo – Casos sem explicação (não PiZZ) Deficiência de Alfa-1 Antitripsina Tratamento Reposição de alfa-1 antitripsina • Indicação: – Baixos valores de alfa-1 antitripsina – Fenótipo PiZZ ou variantes raras – Enfisema pulmonar comprovado com VEF1 < 80% – Parado de fumar há mais de 6 meses – Descartar deficiência de IgA Adaptado de Normativa da SEPAR. Arch Bronconeumol 2006; 42: 645-659 Efeito do tratamento substitutivo semanal Wewers. N Eng J Med 1987; 316: 1055-1062 Efeito do tratamento substitutivo Infecções respiratórias N° indivíduos Antes tratamento Durante tratamento N° infecções/ano Lieberman. Chest 2000; 118: 1480-1485 Efeito do tratamento substitutivo Mudanças do VEF1 em pacientes com VEF1 > 65%. Antes e depois do tratamento. Wencker et al. Chest 2001;119:737-744 Mortalidade Efeito do tratamento substitutivo Mortalidade Meses AATD Registry. Am J Respir Crit Care Med 1998;158:49-59 Registro Internacional Alfa-1 Registro Brasileiro de Portadores de Deficiência de Alfa-1 Antitripsina A.I.R Países participantes Dinamarca, Holanda, Brasil, Reino Unido, Alemanha, Argentina, Espanha, Itália, Bélgica, Suécia, Suíça, Áustria, Nova Zelândia, Estados Unidos, África do Sul, Canadá. www.separ.es/air.brasil Registro Brasileiro de Portadores de Deficiência de Alfa-1 Antitripsina • Conhecer as características e a freqüência da deficiência de AAT no Brasil. • Estabelecer normas adaptadas ao país sobre o tratamento e seguimento dos pacientes com deficiência de AAT. • Oferecer informação aos médicos que tratam estes pacientes. • Incrementar o conhecimento e o interesse por esta doença e tentar diminuir o subdiagnóstico ou a demora no reconhecimento da deficiência de AAT. • Coletar informações sobre a evolução funcional, a freqüência do tratamento substitutivo e a possível aparição de efeitos adversos com este tratamento. www.separ.es/air.brasil Conclusões • A DPOC apresenta associações com alterações genéticas em diversos sítios relacionados a: – Equilíbrio protease/antiprotease – Enzimas metabolizadoras xenobióticas e antioxidantes – Mediadores inflamatórios – Depuração mucociliar – Hiperresponsividade das vias aéreas Conclusões • A deficiência de -1 antitripsina é a alteração genética mais comum e mais estudada – Origina desequilíbrio entre proteases e antiprotease – Existe uma elevada taxa de infradiagnóstico e atraso no diagnóstico • Deve-se tentar o diagnóstico mais precoce possível (rastreamento) Conclusões • A deficiência de Alfa-1 antitripsina está associada a: – Maior mortalidade – Maior taxa de declínio da função pulmonar • O tratamento com reposição de alfa-1 antitripsina: – Reduz taxa de declínio do VEF1 – Reduz exacerbações – Reduz mortalidade