Deficiência de Alfa-1 Antitripsina: Como manejar aqui no Brasil? Oliver Nascimento Centro de Reabilitação Pulmonar Disciplina de Pneumologia Unifesp / LESF A deficiência de Alfa-1 Antititripsina • Redução do nível plasmático da -1 antitripsina abaixo dos níveis mínimos protetores • Doença genética autossômica codominante • Causada pela mutação no gene inibidor de protease (Pi) no cromossomo 14 • Mais de 100 alelos já foram identificados • Valores normais: 80 – 220 mg/dL Stoller JK. Lancet 2005; 365: 2225–36 DeMeo DL. Thorax 2004;59:259–264 Alelos: M, S, Z Ausência: nulo Herança genética (Genótipo) RNA m M S Z Nulo Produção de -1 antitripsina (Fenótipo) Normal Intermediária Baixa Muito baixa PiMM PIMZ PiSZ PiZZ PiMNulo PiZNulo Maior risco para DPOC DeMeo DL. Thorax 2004; 59: 259–264 Prevalência • Não se sabe a prevalência no Brasil • Outros países: – Suécia: 1/1.575 nascimentos Sveger T. N Engl J Med 1976;294:1316–1321 Sveger T. Pediatrics 1978;62:22–25 – EUA: 1/2.857–1/5.097 nascimentos Silverman EK. Am Rev Respir Dis 1989;140:961–966 O’Brien ML. J Pediatr 1978;92:1006–1010 – Entre os portadores de DPOC: • PI*ZZ entre 1 e 4,5% • PI*MZ até 17,8% Presença de alelos S e Z em sintomáticos respiratórios • Estudo transversal • 89 pessoas: – 2 pessoas com deficiência de -1 antitripsina – 34 pessoas com níveis de -1 AT intermediários: • 5 (5,7%) com presença de alelo Z • 29 (33%) com presença de alelo S Serra HG. J Bras Pneumol 2008; 34: 1019-1025 Tempo para o diagnóstico da Deficiência de Alfa-1 Antitripsina Pouco reconhecimento dos sintomas 1994: 7,2 anos 2003: 5,6 anos Stoller JK. Chest 2005; 128:1989–1994 Manejo da Deficiência de Alfa-1 antitripsina • Diagnóstico precoce • Tratamento geral da DPOC: – – – – – Cessação tabagismo Reabilitação Pulmonar Imunizações Broncodilatadores Reconhecimento de exacerbações • Tratamento substitutivo com reposição de -1 antitripsina • Rastreamento de familiares Deficiência de Alfa-1 Antitripsina Diagnóstico Importância do diagnóstico precoce • Evitar exposições a agentes agressores (tabagismo, ocupacional) • Monitoramento da função pulmonar • Tratamento precoce – Reduz exacerbações – Melhora qualidade de vida – Aumentar sobrevida • Orientação genética Suspeita clínica para Deficiência de Alfa-1 Antitripsina • • • • • • • • Enfisema em jovens Enfisema com maior distribuição em lobos inferiores Presença de deficiência de A1AT em familiares Doença hepática de causa desconhecida Bronquiectasias sem etiologia evidente Obstrução irreversível de vias aéreas Paniculite necrotizante Vasculite com Antiproteinase-3 positivo (C-ANCA) ATS/ERS Statement for the diagnosis and management of individuals with alpha 1-antitrypsin deficiency. Am J Respir Crit Care Med 2003;168:818–900 Candidatos para realização de dosagem de Alfa-1 Antitripsina • Todos os pacientes com DPOC • Adultos com bronquiectasias • Familiares de indivíduos com deficiência de alfa-1 antitripsina conhecida • Pacientes com asma parcialmente reversível ao broncodilatador • Dispnéia e tosse crônica em vários membros da mesma família • Doença hepática de causa desconhecida • Redução do pico de proteína alfa no proteinograma Adaptado de Normativa da SEPAR. Arch Bronconeumol 2006; 42: 645-659 Suspeita clínica ou indicação para realização de dosagem AAT Realizar dosagem AAT Abaixo do valor da normalidade Normal Sem deficiência de AAT Fenótipo (Provavelmente fenótipo MM) Valores de AAT < 80mg/dL e fenótipo ZZ Valores de AAT< 80mg/dL e fenótipo Outros Genótipo Adaptado de Normativa da SEPAR. Arch Bronconeumol 2006; 42: 645-659 MS SS MZ SZ Deficiência de Alfa-1 Antitripsina Tratamento Doses para tratamento substitutivo Alfa-1 Antitripsina • 60 mg/kg a cada 7 dias • 120 mg/kg a cada 14 dias • 180 mg/kg a cada 21 dias • 250 mg/kg a cada 28 dias – Ambiente hospitalar – Diluição em soro fisiológico ou diluente próprio da medicação: 100 – 200mL – Aplicação em veia periférica ou acesso profundo de longa permanência – Tempo de infusão > 30 min Adaptado de Normativa da SEPAR. Arch Bronconeumol 2006; 42: 645-659 Tratamento substitutivo • Já temos Alfa-1 Antitripsina registrada na ANVISA (Fevereiro 2009) – Pernambuco é o único estado com protocolo de reposição aprovado pela Secretaria Estadual de Saúde • Custo médio (fonte: ABRADAT) – Trypsone®: • R$ 1613,47 por frasco 1g • 70Kg 16,8g/mês • Preço final da medicação: R$ 27.430,00/mês – Respira®: • R$ 820,80 por frasco de 1g • Preço final da medicação: R$ 13.953,60/mês Reposição de Alfa-1 Antitripsina • Cumprir todos os critérios: – Baixa dosagem de alfa-1 antitripsina – Fenótipo PiZZ ou variantes raras – Ter parado de fumar há mais de 6 meses – Descartar deficiência de IgA (dosagem de Ig) – Enfisema pulmonar comprovado: • VEF1 entre 30-65% (ATS/ERS) • VEF1 < 80% (SEPAR) Adaptado de: Normativa da SEPAR. Arch Bronconeumol 2006; 42: 645-659 ATS/ERS. Am J Respir Crit Care Med. 2003;168(7):818-900. Taxa de declínio de VEF1 em portadores de Deficiência de Alfa-1 antitripsina Stoller JK. Lancet 2005; 365: 2225–36 Mortalidade Efeito do tratamento substitutivo Mortalidade Meses AATD Registry. Am J Respir Crit Care Med 1998;158:49-59 Perspectiva: Alfa-1 antitripsina inalatória Brand P. Eur Respir J. Published on February 27, 2009 as doi: 10.1183/09031936.00118408 Registro Internacional Alfa-1 Registro Brasileiro de Portadores de Deficiência de Alfa-1 Antitripsina www.rbdaat.com Registro Brasileiro de Portadores de Deficiência de Alfa-1 Antitripsina • Conhecer as características e a freqüência no Brasil • Estabelecer normas adaptadas ao país sobre o tratamento e seguimento dos pacientes • Oferecer informação aos médicos que tratam estes pacientes. • Incrementar o conhecimento e o interesse por esta doença e tentar diminuir o subdiagnóstico ou a demora no reconhecimento www.rbdaat.com Conclusões • A deficiência de -1 antitripsina é a alteração genética mais comum ligada a DPOC • É pouco diagnosticada e há atraso no diagnóstico • Deve-se tentar o diagnóstico mais precoce possível (rastreamento): cessação do tabagismo • A deficiência de Alfa-1 antitripsina está associada a: – Maior mortalidade – Maior taxa de declínio da função pulmonar Conclusões • O tratamento com reposição de alfa-1 antitripsina: – Reduz taxa de declínio do VEF1 – Reduz exacerbações – Reduz mortalidade • Reposição indicada para pacientes com VEF1 entre 30-65% do previsto • Há medicação registrada na ANVISA, mas não há protocolos de tratamento em todos os estado brasileiros