RELATÓRIO COMPLEMENTAR DE CARACTERIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO ARRANJO PRODUTIVO DA SUINOCULTURA DE PONTE NOVA (MG) E REGIÃO Viçosa – MG Outubro de 2004 Sumário Equipe: ............................................................................................................................................. 3 Introdução e Objetivos ..................................................................................................................... 3 Metodologia ..................................................................................................................................... 3 Perfil e Tendências da Suinocultura ................................................................................................. 4 Cenário Mundial ........................................................................................................................... 4 Tendências Mundiais.................................................................................................................... 4 Cenário Nacional .......................................................................................................................... 7 Caracterização da Cadeia Produtiva Suinícola de Ponte Nova ........................................................ 8 Insumos ...................................................................................................................................... 11 Produção ..................................................................................................................................... 12 Comercialização ......................................................................................................................... 12 Entidades de Suporte .................................................................................................................. 13 Considerações Finais ...................................................................................................................... 15 Referências Bibliográficas ............................................................................................................. 15 2 RELATÓRIO COMPLEMENTAR DE CARACTERIZAÇÃO DA CADEIA PRODUTIVA DO ARRANJO PRODUTIVO DA SUINOCULTURA DE PONTE NOVA (MG) E REGIÃO Equipe: Altair Dias de Moura1 Beatriz de Assis Junqueira2 Denis Teixeira da Rocha2 Aziz Galvão da Silva Júnior1 Introdução e Objetivos O pólo suinícola de Ponte Nova (MG) e região (Vale do Rio Piranga) é a principal região de produção suína do estado de Minas Gerais e a maior suinocultura independente do pais. Dando continuidade ao esforço de organização e planejamento do Arranjo Produtivo da Suinocultura dessa região, que foi iniciado com o Diagnostico do setor produtivo da suinocultura desenvolvido em 2003, o presente Relatório tem o objetivo de complementar as informações desse Diagnóstico. Para tal, este relatório focou na caracterização da cadeia produtiva desse arranjo, definindo o perfil geral dos seguimentos de fornecimento de insumos, produção suinícola e comercialização dos animais produzidos pelo arranjo produtivo. Tais informações, associadas àquelas do Diagnostico elaborado em 2003, têm o intuito de dar suporte aos trabalhos do Fórum de Desenvolvimento da Suinocultura do Vale do Piranga, que foi instituído em julho (Suifest) de 2004 e que estará desenvolvendo ações para o desenvolvimento desse arranjo produtivo. Metodologia Em função do caráter complementar desse relatório, uma vez que ele vem suplementar o diagnóstico de produção suinícola da região de Ponte Nova, elaborado em 2003, a metodologia de desenvolvimento desse estudo contou com várias ferramentas. Primeiramente, a consulta a publicações e websites da área de 1 Professores do Departamento de Economia Rural da Universidade Federal de Viçosa, Av. PH Rolfs s/n, Viçosa MG. Tel 31 3899 2212. 2 Zootecnistas, Mestrandos em Economia Aplicada, Depto Economia Rural, Universidade Federal de Viçosa, Av. PH Rolfs s/n, Viçosa MG. Tel 31 3899 2212. 3 suinocultura, e principalmente, a consulta ao próprio diagnóstico da suinocultura da região acima citado. Buscou-se também, através de um roteiro de questionamento (Vide Anexo), estabelecer reuniões com entidades e pessoas representativas da suinocultura da região de Ponte Nova onde se estabeleceu um grupo de foco para discussão e coleta das informações necessárias referentes principalmente aos outros elos da cadeia produtiva além daquele da produção animal. O relatório preliminar foi submetido a apreciação das entidades e pessoas representativas do setor, e por final, este documento foi validado no Fórum de Desenvolvimento da Suinocultura do Vale do Piranga que conta com a participação das principais entidades de classe e de suporte à suinocultura de Ponte Nova e região. Perfil e Tendências da Suinocultura A suinocultura moderna é uma atividade destinada à produção tecnificada de animais que serão abatidos ou usados como reprodutores. Para que esta atividade seja competitiva, conciliando eficiência e lucratividade, é necessária a harmonização de todos os aspectos envolvidos nesta produção, quais sejam: genética, manejo, sanidade, instalações e nutrição aliados a uma constante modernização, adaptação e melhoria da qualidade do produto final. Como atividade de destaque do agronegócio brasileiro, a suinocultura apresenta grande número de produtores envolvidos. Estima-se que hoje 733 mil pessoas dependam diretamente da cadeia produtiva da suinocultura brasileira, gerando renda para 2,7 milhões de brasileiros. A atividade suinícola tem passado por profundas transformações, principalmente nos últimos dez anos, sendo possível separar completamente o perfil da suinocultura atual com a de décadas atrás. Além disso, é possível traçar uma perspectiva da atividade para os próximos anos. Como alterações evidentes pode-se constatar uma forte tendência de mudança das áreas de produção para regiões não tradicionais na atividade. Isto tem ocorrido principalmente devido a grande produção de grãos; e disponibilidade de novas tecnologias de produção; redução das criações extensivas e fortalecimento das criações com emprego de alta tecnologia. Tais aspectos têm buscado consolidar os ganhos em produtividade e qualidade para atender à crescente exigência dos consumidores por produtos de qualidade superior. Cenário Mundial Segundo dados da Food Agricultural Organization (FAO), nos últimos 40 anos houve crescimento de 281% na produção mundial de carne suína, passando de 24,7 milhões de toneladas em 1962 para 94,185 milhões de toneladas em 2002. Considerando-se os últimos sete anos, esse crescimento foi da ordem de 19,9%, saindo de 78,534 milhões para os atuais 94,185 milhões de toneladas. Neste mesmo período (1995 - 2002) o plantel mundial de suínos passou de 900 milhões para 941 milhões de cabeças, acréscimo de apenas 4,5%. Esta grande diferença entre aumento 4 da produção e do plantel é resultado da melhoria na produtividade e da elevação do peso de abate dos plantéis mundiais. A maior produção mundial de carne suína concentra-se na Ásia (55,66%), sendo a China a maior produtora mundial (47,35%), seguida pela Europa (26,53%), Américas (16,48%) e, finalmente, África e Oceania, com produções insignificantes. Nos últimos sete anos, o continente que apresentou o maior crescimento foi o asiático, passando de 50,73 para os atuais 55,66% da produção mundial. Já a Europa manteve sua produção estável, perdendo espaço na produção mundial (1995: 31,39%; 2002: 26,53%) enquanto a participação das Américas mostrou-se constante (1995: 16,53%; 2002: 16,48%). Quanto aos maiores produtores mundiais existem duas classificações: a que considera a União Européia um único país e a que considera os países da EU-15 separadamente. Nessa primeira classificação, a EU-15 aparece como terceiro maior produtor mundial de carne suína, ficando abaixo apenas da China, maior produtor mundial, e dos Estados Unidos, e seguida pelo Brasil (4º maior produtor mundial). No entanto, a classificação mais aceita é a segunda, na qual o Brasil aparece em 5º lugar (2.696 milhões de toneladas), inferior à China (44.700 milhões), Estados Unidos (8.760 milhões), Alemanha (4.160 milhões) e Espanha (3.080 milhões). Após o Brasil, segue a França (2.380 milhões), Canadá (1.865 milhões) e Dinamarca (1.800 milhões de toneladas). Em 2002, os 10 maiores produtores concentravam 77% da produção mundial e, dentre os 10 maiores, o Brasil é o único país sul-americano. Considerandose a taxa de crescimento da produção mundial nos últimos sete anos, apenas quatro desses dez países cresceram acima desta taxa (China, Espanha, Brasil e Canadá). Dentre estes, o Brasil é o país que mais cresceu, passando de 1,430 em 1995 para 2,860 milhões de toneladas em 2002, representando um crescimento de 100%. O plantel mundial de suínos é de 941.021 milhões de cabeças, sendo que mais de 60% desses se encontram na Ásia. Nos últimos sete anos, o continente asiático foi o único que apresentou significativo crescimento de plantel, enquanto a Europa reduziu seu efetivo e as Américas apresentaram pequeno crescimento. Essa superioridade asiática é comandada pela China (464.695 milhões de cabeças) que detém 49,4% do rebanho mundial de suínos. Em seguida vêm os Estados Unidos (59.074 milhões de cabeças) e, logo atrás, o Brasil (37.300 milhões de cabeças), seguido da Alemanha (25.957 milhões de cabeças) e Espanha (23.857 milhões de cabeças). Desses cinco maiores, apenas os Estados Unidos apresentaram redução de plantel. Os demais mostraram crescimento nos últimos sete anos, com destaque para a Espanha que aumentou seu plantel em 30,04%, enquanto o crescimento médio mundial no período foi de 4,53%. Especificamente, em termos do plantel de matrizes de suínos, a classificação por país apresenta algumas diferenças. Neste caso, a Rússia aparece na terceira posição e há uma troca de posições entre Alemanha e Espanha, sendo que a última vem em quinto lugar. Assim, a China ocupa a primeira posição com 37,250 milhões de cabeças, seguida dos Estados Unidos (6,209 milhões), Rússia (3,200 milhões), Brasil (3,025 milhões), Espanha (2,574 milhões) e na sexta posição a Alemanha (2,510 milhões de cabeças). No entanto, quanto se considera a produção de 5 carne suína por matriz alojada, a Rússia e o Brasil ficam atrás de todos os maiores produtores mundiais, com uma produção de 0,506 t/matriz/ano na Rússia e 0,902 t/matriz/ano no Brasil. Neste quesito, destaque para a França com 1,654 t/matriz/ano, Alemanha (1,553 t/matriz/ano) e Estados Unidos (1,399 t/matriz/ano). A produção mundial de leitões tem crescido de forma gradual e contínua nos últimos sete anos, passando de 958,8 milhões em 1996 para 1,190 bilhões de leitões em 2002, o que significa crescimento de 24,11%. O consumo de carne suína apresentou, nos últimos anos, o segundo maior crescimento na categoria de proteínas de origem animal, atrás apenas da carne de frango. O consumo de carne de frango cresceu 22% nos últimos sete anos, seguida da carne suína com 8,4%, enquanto o consumo de carne bovina caiu 3%. Ainda assim, a carne suína continua sendo a mais consumida no mundo, com um consumo per capita de 15,06 kg, seguida da de aves com 11,80 kg/pessoa/ano e bovina com 9,75 kg/ pessoa/ano. As exportações mundiais de carne suína atingiram pouco mais quatro milhões de toneladas em 2003, sendo que os cinco maiores exportadores responsáveis por quase 90% das exportações são: EU-15, Canadá, Estados Unidos, Brasil e China. A União Européia destaca-se pelo forte mercado entre os seus países. O Canadá apresenta-se como o maior exportador individual de carne suína, com destaque para carnes frescas ou congeladas, destinadas aos Estados Unidos e ao Japão, responsáveis por quase 70% de suas exportações. Considerando os maiores exportadores mundiais, o Brasil foi o que apresentou o maior crescimento percentual dos últimos cinco anos, com aumento de 356,7% no volume exportado, passando de 105 mil toneladas em 1998 para 4.758 mil toneladas em 2002. Quanto às importações, o Japão destaca-se como o maior importador mundial de carne suína com 31% do mercado mundial. Apenas nos últimos cinco anos, suas importações cresceram 44,8%. Este aumento é devido principalmente aos casos de BSE ( doença da “vaca louca”) na carne bovina. Os Estados Unidos, a Comunidade Européia (destacando a Dinamarca), o Canadá e o México são seus principais fornecedores. A Rússia é o segundo maior importador mundial, com 19,7% do total mundial de importações. A diferença em relação ao Japão é que a Rússia não é um país muito exigente em qualidade, sendo seus principais fornecedores União Européia e Brasil. Na terceira posição surge os Estados Unidos, que ocupam a segunda posição em exportações. Os Estados Unidos compram carne fresca ou congelada e exportamnas sob a forma de cortes ou beneficiada. Em seguida, vêm México, Hong Kong, Coréia, Canadá e China. Nesta classificação, a EU-15 aparece em nono lugar, com apenas 60 mil toneladas importadas. Este valor considera apenas as compras fora da região pertencente à União Européia. O comércio interno é muito representativo com valores próximos a 1,5 milhão de toneladas, com destaque para Itália (700 mil toneladas), Reino Unido (605 mil toneladas) e Alemanha (595 mil toneladas). 6 Tendências Mundiais O consumo de carnes nos países “desenvolvidos” encontra-se estabilizado. Em contrapartida, nos países “em desenvolvimento”, este consumo se apresenta em forte ascensão, devido à crescente urbanização da população e aumento da renda per capita. Este quadro é evidente também no que tange à produção de carnes suínas, que apresentou forte mudança nos últimos anos, no que tange ao aumento do percentual produzido nos países em desenvolvimento se comparado à produção dos reconhecidamente desenvolvidos. O documento da Organização das Nações para a Alimentação e Agricultura (FAO), Agriculture towards 2010, evidencia que 25 anos atrás, 60% da produção mundial tinham origem nos países desenvolvidos e que, em 2010, a tendência é este quadro se reverter. Calcula se que o aumento no consumo de carnes nos países em desenvolvimento será de 70 milhões de toneladas de 2002 a 2020. Este maior aumento nos paises em desenvolvimento é explicado principalmente pela pressão ambientalista sobre a produção nos países desenvolvidos, dado o alto poder poluente da atividade, além de outros fatores que serão discutidos posteriormente. Analisando os maiores produtores mundiais de carne suína (considerando a UE15 como um todo), destaca se o Brasil e os EUA como países com maior potencial para suprir esta demanda adicional de carne nos próximos anos. Em relação aos concorrentes mundiais, como China e UE-15, o Brasil apresenta baixa densidade de suínos por área com grandes possibilidades de crescimento de plantel (Tabela 1). Associado a isso, há na UE forte pressão ambiental por parte dos partidos verdes, os quais são muito ativos nos países que a compõe. Nos últimos anos foram aprovadas leis em alguns paises, determinando redução do plantel e até o tipo de criação ou equipamento a ser utilizado, visando ao bem estar animal. Além disso, há alto custo de produção, ocorrência de enfermidades como febre aftosa e peste suína e possibilidade de queda dos subsídios governamentais. No caso da China, 80% da produção suinícola ocorre no regime de criação não tecnificada, com uso de raças nativas (pouco selecionadas) e mão-de-obra familiar visando principalmente o auto consumo. Além disso, o país sofre com a febre aftosa em seus rebanhos, limitando seu potencial exportador. Portanto, percebe-se que a UE e a China não estão aptas a suprir este aumento de demanda mundial da carne suína. Já os EUA apresentaram significativo crescimento da atividade nos últimos anos. Esse crescimento está baseado em megaprojetos de grandes empresas que não apresentam restrições quanto ao uso de novas tecnologias, além da disponibilidade de alto capital para investimento. A única restrição ao crescimento seria o problema ambiental que pode inviabilizar estes projetos. Ademais, estes megaprojetos têm inviabilizado os pequenos e médios produtores, concentrando-se, assim, a produção. Segundo estimativas, 80% da produção de carne suína no país estaria concentrada nas mãos de 15 empresas. Neste contexto, o Brasil destaca-se pela vastas áreas a serem exploradas, grande produção de grãos, grande possibilidade de expansão de seu plantel, dada a baixa densidade de suínos por km2, baixo custo de produção e um imenso mercado potencial interno a ser explorado. Segundo especialistas, o Brasil é o país mais atraente 7 para expansão da suinocultura. No entanto, para que o Brasil se torne grande produtor e exportador mundial de carne suína é necessária a derrubada de alguns empecilhos, como a redução do “custo Brasil”, aumento da eficiência dos transportes – investimentos em infra-estrutura rodoviária e portuária, alterações na legislação trabalhista e uma política agrícola bem definida que sustente o aumento da produção de grãos. Tabela 1 - Número de animais por principais países produtores suinícolas C E hina UA U 15 4 6 Suínos/km2 5,5 ,46 8,4 Consumo/h 3 3 ab./ano 0,5 0,5 3,4 Fonte: ROPPA, 2003 área e consumo per capita por ano para E B rasil 3 4 ,34 4 1 1,2 Cenário Nacional Conforme ressaltado anteriormente, o Brasil é apontado como um dos países com maior potencial de expansão da atividade suinícola, o que certamente preocupa grandes produtores mundiais como os Estados Unidos e a União Européia. Tal ameaça faz com que esses países lancem mão de certas medidas contra a entrada de produtos importados, como criação de barreiras sanitárias ou barreiras não formais. Além do mais, utilizam-se de outros artifícios como subsídios de preço ao produtor e suplementação do preço para exportação. Com isso, distorcem os preços mundiais e mascaram as ineficiências locais. As principais restrições nos países desenvolvidos encontram-se na carne suína, principalmente pela ação dos movimentos ecológicos, elevando os custos de produção e limitando a densidade do alojamento. Com a desvalorização do Real em relação ao dólar norte-americano, houve aumento da competitividade da carne suína brasileira no mercado internacional. Sendo assim, o Brasil apresentou incremento em suas exportações nos últimos anos, só não sendo maior devido às barreiras sanitárias. No ano de 2000, as exportações totalizaram 127.883 toneladas (171,8 milhões de dólares). Já em 2003, foram exportadas 491.400 toneladas (546,5 milhões de dólares), representando um crescimento de 284% neste período. Os maiores importadores da carne brasileira foram à Rússia, Hong Kong, Argentina e Uruguai. Do total exportado no ano de 2003, 62% foram para a Rússia, perfazendo 310 mil toneladas. Esta quantidade representou 95% do total importado por este país. Contudo, a Rússia criou um sistema de cotas para importação. Neste sistema, o Brasil aparece junto a outros países com uma cota total de 150 mil toneladas para o ano de 2004. Diante disto, o governo brasileiro tem tentado retirar estas cotas de importação, o que exigirá um processo intensivo de diplomacia entre os dois governos. As exportações para Argentina também ajudaram neste desempenho histórico da suinocultura nacional, somando 37,7 mil toneladas (US$ 44,5 milhões), 8 aumento de 181% em comparação com 2002. Outro aumento importante foi com relação a Hong Kong, que comprou 57,6 mil toneladas (US$ 58,7 milhões), acréscimo de 15,68% comparados a 2002. O final de 2003 marcou o início da recuperação da suinocultura nacional diante da maior crise da história da atividade no país. Após dezoito meses de resultados negativos, os primeiros resultados positivos começaram a surgir no terceiro trimestre daquele ano. Para entender melhor a crise é necessário analisar a conjuntura da suinocultura a partir de 2001. Os bons resultados da atividade, associados às crescentes exportações da carne brasileira, impulsionaram o crescimento do rebanho nacional de suínos, seja por aumento de plantel, seja pela introdução de novos produtores na atividade. Isso levou a um significativo crescimento da oferta de suínos no mercado. No entanto, esse fato coincidiu com o aumento no custo de produção, devido principalmente às altas do milho e da soja, e a queda da demanda impulsionada pela redução da renda da população associado ao alto índice de desemprego. Em resumo, houve aumento da oferta associado à redução da demanda e aumento do custo de produção, sem que fosse possível repassar este aumento para os preços. Com isso, os produtores tiveram que amargar um longo período de crise, com o preço dos principais insumos nas alturas e o preço do suíno em baixa. O resultado foi à redução do plantel para tentar amenizar as perdas. Estima-se que o país tenha reduzido seu plantel em cerca de 350.000 matrizes, redução média de 12,5% do rebanho nacional. Esta crise foi mais sentida nos produtores independentes, se comparados aos integrados da agroindústria que recebem todos os insumos para produção, além do apoio financeiro para custeio da atividade. Sendo assim, esta diminuição do plantel se concentrou principalmente no setor independente, correspondendo a 70% da redução registrada. O resultado final desta crise foi uma significativa redução no número de produtores e grande descapitalização dos que ainda se mantiveram na atividade. A recuperação da safra brasileira de milho 2002/2003 garantiu o abastecimento interno a um preço que permitiu ao setor recuperar em parte sua rentabilidade. Ainda assim, o setor se equilibra agora sobre outras bases. Com o custo de produção em um patamar superior, o setor tenta ajustar seus plantéis ao mercado interno, permitindo uma recuperação nos preços. Além disso, é necessário se ajustar à demanda externa, principalmente com o novo sistema de cotas da Rússia, nosso principal cliente, que reduzirá nossas exportações para aquele país em pelo menos 170 mil toneladas se comparado a 2003. Com relação a este aspecto, o país já começa a se ajustar, ampliando suas exportações para outros países, reduzindo a antiga dependência das importações russas, que, em 2002, representou 79% das nossas carcaças comercializadas no exterior. Estimativas da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS) e do Instituto Cepa de Santa Catarina apontam uma produção para o ano que se findou (2004) próxima ao ano anterior (2003), quando o país produziu 2,696 milhões de toneladas. No entanto, para 2005, a tendência é de crescimento, com a produção retornando ao patamar de produção de 2002 chegando, então, a 2,8 milhões de toneladas de carne suína. 9 Segundo especialistas do setor, é necessária melhor discussão entre os produtores junto a todos os segmentos envolvidos para a decisão de incrementar ou não o plantel de matrizes. Tal esforço visa identificar a real necessidade de se buscarem aumentos na produção e oferta de carne suína, tanto para o mercado interno quanto para o externo. Sendo assim, até que se definam ações conjuntas que envolvam todos os segmentos da cadeia suinícola, a atividade estará sujeita a oscilações, o que trará dificuldades especialmente para o produtor. Caracterização da Cadeia Produtiva Suinícola de Ponte Nova Uma cadeia produtiva engloba o conjunto de atividades econômicas que se articulam progressivamente desde o início da elaboração de um produto até sua venda ao consumidor. Isto inclui as atividades de produção de matérias – primas, insumos básicos e máquinas e equipamentos; a produção e processamento do produto agrícola; e o processo de comercialização (marketing) envolvendo os agentes de mercado. Além disso, uma cadeia produtiva conta com o suporte das entidades de classe, de apoio técnico e financeiro. Dentro deste contexto, podemos caracterizar a cadeia produtiva de suínos em questão de acordo com a Figura 1 abaixo. Figura 1 – Características gerais da cadeia de produção suina de Ponte Nova e Região Insumo Produção Compradores - Milho - 44.000 matrizes alojadas - Vale do Aço (25%) - Farelo de Soja - 90.000 cevados / mês - Saudali (18%) - Farelo de Trigo - 127 suinocultores - Espírito Santo (15%) - Farinha de Carne - 134 granjas - Rio de Janeiro (12%) - Minerais e Vitaminas - Juiz de Fora (10%) - BH (6%) - Outros (14%) 10 Insumos A seguir faremos considerações com relação à estrutura à montante representada pela manufatura e distribuição de insumos para a unidade de produção. Dentre os insumos necessários para produção podemos destacar: ingredientes para formulação das rações, medicamentos, equipamentos etc. As rações fornecidas para estes animais representam cerca de 70-80% (chegando até 85% em épocas de crise) do custo total de produção dentro de uma granja. A região consome em média 24000 ton de ração mensalmente. Podemos enumerar os principais ingredientes utilizados na regiao como sendo: milho, farelo de soja, farinha de carne, farelo de trigo, premix mineral e vitaminico. O milho (principal componente da ração) apresenta um consumo médio mensal de 16800 toneladas, o que representa cerca de 280.000 sacas ao preço de aproximadamente R$20,00/saca, sendo 20% deste valor relativo ao frete deste insumo. Apenas 10% do total consumido é produzido na região do Vale do Piranga. O restante 90% é adquirido principalmente do Triângulo Mineiro (maior parte) e Goiás. A comercialização se dá através de corretagem, sendo poucos corretores responsáveis por estas ações, e a grande maioria não pertence a esta região. O pagamento é feito em pronta entrega. A capacidade de estocagem deste ingrediente nas granjas desta região está estimada em 45 dias em média. A EMATER realizou um estudo sobre o potencial de produção de milho para esta região e chegou a seguinte conclusão. Quanto ao farelo de soja, o mesmo apresenta um consumo mensal de aproximadamente 4800 toneladas. O preço pago é muito variável, sendo portanto difícil quantificar um valor médio. Já o valor do frete gira em torno de R$ 65,00/ton. Deste montante consumido, 90% tem origem no Triângulo Mineiro e 10% de Goiás, totalizando 100% que vem de fora da região do Vale do Piranga. A comercialização se dá através de corretagem junto aos representantes das esmagadoras, com o pagamento feito à prazo de 07 a 30 dias do carregamento. Vale ressaltar que cada suinocultor possui uma cota junto às empresas esmagadoras expressa em valor monetário (Reais) e qualquer quantidade de farelo de soja acima dessa cota é comercializada através de pagamento adiantado. O farelo de trigo é consumido numa quantidade média de 900 toneladas mensais a um valor de aproximadamente R$260,00 - R$330,00 a tonelada, sendo R$45,00/ton pago pelo frete. Este ingrediente é eventualmente substituído por cana, devido à presença de micotoxinas no mesmo. Todo farelo de trigo utilizado é proveniente de outras regiões, principalmente, Belo Horizonte e Rio de Janeiro. Outro ingrediente utilizado é a farinha de carne. Totalmente suprida por produção de outras regiões, como: Vale do aço (maior parte), Belo Horizonte, região de Divinópolis, Rio de Janeiro, Ubá e Goiás. Dentre estes ingredientes, podemos destacar como críticos em termos de preço: o milho e a soja. Já em termos de qualidade, os mais problemáticos são os produtos de origem animal (farinha de carne e sangue). Finalmente, em termos de disponibilidade para compra, existe uma maior dificuldade na aquisição de alimentos alternativos, ou seja, outros que não o milho, farelo de soja, farinha de carne e farelo de trigo. 11 Além dos ingredientes da ração, as vacinas, medicamentos, premix, sucedâneos lácteos e demais insumos representam um custo médio de aproximadamene R$45,00/matriz mensalmente, totalizando em torno R$2.000.000,00 por mês. Produção Focando em outro elo da cadeia produtiva tem-se as operações produtivas realizadas na unidade de produção rural (granja), denominada produção agropecuária. Atualmente, considerando a área geográfica abrangida pelo Arranjo Produtivo da Suinocultura do Vale do Piranga (Ponte Nova e Região), há em torno de 44.000 matrizes alojadas, distribuídas em 134 granjas de produção e envolvendo 127 criadores (suinocultores). Os suinocultores podem ser distribuídos de acordo com a faixa de matrizes alojadas segundo o Quadro 2 abaixo. Quadro 2: Percentagem de Suinocultores (considerando um total de 127) por faixa de número de matrizes alojadas. Matrizes Alojadas <100 matrizes Número de Suinocultores 44% 100-500 matrizes 38% 500-1000 matrizes 14% >1000 matrizes 4% Os criadores que possuem um número igual ou inferior a 100 matrizes geralmente apresentam outra atividade principal na empresa rural, sendo a suinocultura um atividade complementar. Devido à crise ocorrida no ano de 2002 houve uma oscilação de cerca de 8% no número de produtores e uma redução de aproximadamente 25% no plantel desta região. Atualmente, de acordo com o plantel existente, há uma produção de cerca de 90.000 cevados mensais, comercializados com um peso médio de 100 Kg. Comercialização A comercialização do suíno ocorre geralmente por venda individual, ou seja, cada produtor é responsável pela comercialização da sua própria produção. Exceção pode ser encontrada apenas para os produtores que possuem uma cota de vendas para o frigorífico Saudali. 12 Todo volume comercializado está dividido em percentuais conforme quadro 3, e a política de negociação é variável de acordo com os seguintes parâmetros: Peso vivo na granja; Peso vivo frigorífico; Peso morto frigorífico; Prazo de pagamento; Preço de referência ( bolsas, etc...) Outras particularidades. O preço de comercialização destes animais entre 2002 e 2004 oscilou de R$1,00 (durante a crise) até R$3,15, o qual representa um pico na atualidade. Todo o volume comercializado é efetuado com notas fiscais, sendo que aproximadamente 18% da produção total ocorre através do chamado “comércio de porta” e o restante 82% se dá com frigoríficos. Uma vez que há um número expressivo de frigoríficos e abatedouros que compram a produção suína da região, o presente trabalho focou na sintetização do percentual da produção total de animais terminados da região que se destina aos principais mercados compradores. A única exceção foi o frigorífico Saudale, que é citado individualmente, devido a sua importância para a suinocultura local. Dentre as principais regiões compradoras (Quadro 3), pode-se destacar o Vale do Aço (MG) e os estados do Espírito Santo e Rio de Janeiro. Por sua vez, o frigorífico Saudali é um comprador individual expressivo, absorvendo 18% da produção local, sendo portanto, o segundo comprador mais importante da produção suína da região. Quadro 3: Principais regiões compradoras de animais terminados oriundos da suinocultura de Ponte Nova (MG) e região. Vale do Aço 25% Saudali 18% Espírito Santo 15% Rio de Janeiro 12% Juiz de Fora 10% BH 6% Outros 14% Entidades de Suporte A existência de uma cadeia produtiva só é possível através do trabalho de suporte de várias entidades. Nessa categoria pode-se destacar entidades de crédito, instituições de pesquisa e extensão, entidades de classe e de apoio ao desenvolvimento empresarial e à difusão tecnológica. No Quadro 4 são apresentadas as principais instituições de suporte à cadeia produtiva do Arranjo Produtivo da Suinocultura de Ponte Nova e região. 13 Quadro 4 – Principais entidades de suporte ao desenvolvimento do Arranjo Produtivo da Suinocultura de Ponte Nova e região. Entidades ou Empresas AC.C.P.N - Associação. dos Comerciantes de Carnes de Ponte Nova Acip - Associação Comercial e Industrial de Ponte Nova/ Agevale - Agência do Desenvolvimento do Vale do Piranga Amapi - Associação dos Municípios da Microrregião do Vale do Piranga Assuvap – Associação dos Suinocultores do Vale do Piranga Banco do Brasil Coosuiponte – Cooperativa de Suinocultores de Ponte Nova CRDRS/VP - comitê regional de desenvolvimento rural sustentável do VP Emater – Empresa Assistência Técnica e ExtensãoRural Epamig – Empresa de Pesquisa Agropecuária do Estado de Minas Gerais Fiemg/ Senai – Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais Saudali (Frivap) Sebrae – Serviço de Apoio a Pequenas e Médias Empresas Sindicato dos Produtores Rural de Ponte Nova UFV – Universidade Federal de Viçosa Especificamente no seguimento de produção, as entidades de classe representando os suinocultores têm um papel fundamental na mobilização e orientação desses agentes produtivos em direção a uma maior estruturação e coordenação do arranjo produtivo da suinocultura. Dessa forma, buscou-se contabilizar o número de suinocultores envolvidos nas quatro principais entidades de classe da região de Ponte Nova (Quadro 5). 14 Quadro 5: Participação dos suinocultores nas diferentes entidades de classe da região de Ponte Nova (MG) Entidade Número de Produtores Assuvap (Associação de Suinocultores do Vale do Piranga) 50 Saudali (Frigorífico) 47 Coosuiponte (Cooperativa de Suinocultores) 30 Unidez- (Grupo de Compra) 10 Obs: Alguns suinocultores estão presentes em duas, três ou até nas quatro entidades. Considerações Finais A pesquisa teve o intuito de atualizar e complementar o diagnóstico da Suinocultura de Ponte Nova e região concluído em 2003. As informações foram originadas da revisão de publicações especializadas em suinocultura e da interação com as entidades representativas do setor. Essas informações serão validadas mediante discussões no Fórum de Desenvolvimento do Arranjo Produtivo da Suinocultura de Ponte Nova e Região. Referências Bibliográficas Anualpec 2004. FNP Consultoria e Agroinformativos. 376 pag. Anualpec 2003. FNP Consultoria e Agroinformativos. 400 pag. Exportação - Vendas Recordes (pág. 34); GIROTTO, A.F. Análise do mercado suinícola. Anuário 2004 da Suinocultura Industrial. V.175, Jan 2004, pp.14-19 PEREIRA, F. A. Cenário de Mercado para a Suinocultura. Anuário PorkWorld. V.3 n.17, dez 2003. pp.14-19 Porkworld – www.porkworld.com.br ROPPA, L.A. Suinocultura no Mundo. Anuário PorkWorld. V.3 n. 17, dez 2003. pp.1437. 15 SILVA, D. F. Suinocultura Brasileira em Busca do Equilíbrio. Anualpec 2004. pp.267268. Suíno.Com – A Comunidade Virtual da Suinocultura Brasileira. Disponível em: <http://www.suino.com.br/>. Acesso em Setembro/outubro de 2004. Suinocultura Industrial. Disponível em: <http://www.suinoculturaindustrial.com.br/site/home.asp > . Acesso em Outubro de 2004. 16