Na Estação Rodoviária, ponto chega a valer R$ 120 mil Duas horas antes de conversar com o presidente do Sindicato dos Condutores Autônomos, Wanderlei Maltoni, a reportagem do JJ esteve na sede do sindicato comandado por ele, na rua Lima, na Ponte São João. Sem nos identificar como repórter, conversamos com uma funcionária do sindicato, que disse apenas se chamar Taís, e simulamos estar interessados em trabalhar como taxista. Durante quase 30 minutos, Taís nos deu todas as explicações sobre as formas de entrar no ramo. Como o nosso "interesse" maior estava centrado na aquisição de um ponto, pedimos que ela nos apresentasse algumas opções. Inicialmente, manifestamos nossa vontade de comprar um ponto na Rodoviária de Jundiaí, que ela avaliou em R$ 120 mil. Percebendo o nosso "susto" com o montante, Taís consultou uma pasta com o nome de todos os 218 taxistas estabelecidos na cidade e nos apresentou algumas opções, na faixa dos R$ 20 a R$ 60 mil. A funcionária ainda garantiu que, caso o repórter comprasse, de fato, o ponto, ele não teria problemas em realizar a transferência de propriedade da permissão na prefeitura. Para o município, de acordo com Taís, não estaria caracterizado um negócio e sim a cessão do direito do uso do ponto. "Isso é legal, desde que você recolha as taxas (de transferência) na prefeitura. A permissão é dela, que me autoriza a exercer a profissão por um ano; se eu ficar doente e não quiser mais trabalhar com taxi, eu posso transferir, doar, ou, evidentemente, vender o ponto para você", justificou Maltoni, algum tempo depois. Após certa insistência, Maltoni estimou em R$ 30 mil o valor do ponto (incluindo o veículo) em que figura como permissionário, na rua da Padroeira, no Centro. Por força de suas atribuições como presidente do sindicato, ele contou que faz uso de um motorista-auxiliar há pelo menos 16 anos, conforme as regulamentações estabelecidas pela Setransp. Dos três taxistas indicados pela funcionária do sindicato, que estariam interessados em se desfazer de seus pontos de taxi, a reportagem manteve o anonimato e conseguiu conversar com dois deles, que trabalham em regiões menos valorizadas que a rodoviária, mas potencialmente rentáveis. "Eu estou pedindo R$ 60 mil pelo meu ponto, que está perto do supermercado, do hospital, de uma farmácia e do ponto final dos ônibus que vão para Franco da Rocha. Estou no ramo há 18 anos e já cansei", comenta o proprietário, que enumerou as vantagens do ponto que possui na rua 15 de Novembro. Entretanto, caso o negócio incluísse o Monza 95 que ele usa para a função, os valores evidentemente, seriam outros. "Você vai comigo ao sindicato e a gente acerta tudo, direitinho", completa ele. Um outro motorista, proprietário de um Gol branco, também ano 95, tem seu ponto na rua Prudente de Moraes, junto ao Hospital Paulo Sacramento (HPS). Talvez desconfiando de algo, ele insistia que a conversa deveria ser feita pessoalmente, para a formalização do negócio, estimado pelo taxista em R$ 50 mil. "Isso é só pelo ponto. Como você ainda não tem o carro, lhe convém mais comprar um novo, de quatro portas", aconselha o taxista, que detalhou também a forma de pagamento. "Tem que ser à vista, porque eu quero terminar a construção de um imóvel", adverte. Ao final da entrevista, o taxista lembrou ao repórter que o mercado estaria ruim, apesar da movimentação diuturna de pacientes ao redor do HPS.