SAÚDE MENTAL, TRABALHO E
DESENVOLVIMENTO ORGANIZACIONAL
Édina Caetano Silveira de Almeida*
Daniele Cristine Nickel**
RESUMO
Este trabalho teve por objetivo pesquisar os principais fatores familiares que podem
contribuir para o desencadeamento da dependência química, bem como a tênue
linha entre a dependência química e a codependência familiar. Para a coleta de
dados foram aplicados um questionário aos pais e/ou familiar responsável pelo
adicto e um teste de verificação de grau de codependência. Para o dependente
químico, coube a participação ativa em uma entrevista. Os resultados confirmam a
necessidade de se tratar também a família, numa abordagem sistêmica. Conclui-se
que há mais necessidade de investigações acerca deste assunto, tão polêmico e atual,
que envolve a drogadição, a família e a sociedade como um todo.
Palavras-chave: família; dependência; codependência.
* Aluna do 4º período do curso de Psicologia da FAE Centro Universitário. Bolsista do Programa de
Apoio à Iniciação Científica (PAIC 2010 - 2011) da FAE Centro Universitário. E-mail: wendy_csa@
hotmail.com.
** Doutora em Engenharia de Produção (UFSC). Professora e Coordenadora do curso de Psicologia
da FAE Centro Universitário. E-mail: [email protected].
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INTRODUÇÃO
Fazer parte de uma família que possui um ou mais dependentes químico é
sempre um desafio penoso, principalmente quando há um vínculo mais próximo, mais
direto, como pai, mãe, filho ou cônjuge.
Não é de hoje que a dependência química é vista por muitos, atingidos por ela
ou não com muitas reservas, sempre permeada de rótulos, tabus e preconceitos. Há
uma certa dificuldade, por parte de alguns, em aceitá-la como uma doença. E essa
dificuldade tem partido não só daquele que, de alguma maneira, sofrem por conta da
dependência química, como também por diversos componentes de nossa sociedade.
Sendo justamente isto um dos maiores obstáculos encontrado na luta contra as drogas,
ainda nos dias de hoje.
Chama-se a atenção também, que é justamente esse ponto, tão escasso de
conhecimento e habilidades em se lidar com o problema, qual acaba se tornando um
terreno fértil para a propagação de um outro perigo tão silencioso e ardiloso quanto a
dependência das drogas: a codependência familiar.
A vinculação à droga, em geral, é um processo gradual. Assim, a dependência
pode ser classificada como leve, moderada e grave. De acordo com Sielski (1999),
a dependência é caracterizada como leve quando ocorre o uso experimental e
prazeroso, marcada por episódios de impulsividade e irresponsabilidade, podendo
sentir-se invulnerável. Como moderada se uso é mais frequente, ocasionando a perda
de controle, oscilação do humor, isolamento, uso para escapar dos problemas, apesar
dos efeitos adversos, mudanças na aparência, problemas na escola, culpa e vergonha
sobre a perda de controle, brigas, comportamento defensivos e confronto com os pais.
E grave quando se faz uso continuamente para evitar a compulsão, perda de controle
após o uso, episódios de overdose, negação, desonestidade, depressão crônica, medos
e ansiedades, mentiras, conflitos familiares, blackouts e deterioração da memória,
ressentimento, problemas legais, médicos e escolar , agitação e baixa autoestima.
Segundo Silveira Filho(1996), no mesmo contexto sociocultural, as atitudes das
pessoas diante da droga poderão variar de acordo com as suas características pessoais.
O autor propõe os seguintes modelos de dependência:
– Biológico de doença: pressupõe que o abuso e a dependência são determinados
biologicamente, portanto, o único tratamento possível seria a abstinência;
– Modelagem social: supõe um comportamento aprendido a partir da influência
social. Desconsidera as motivações intrínsecas assim como não discrimina o
uso recreativo/ocasional do abuso e da dependência;
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– Fatores de riscos múltiplos: relaciona a existência de determinados fatores com
o aumento da probabilidade do uso, tais como: história familiar, desempenho
escolar depressão, comportamentos delinquentes, entre outros;
– Sistêmico: postulam que os problemas quanto ao uso encontram-se na interação do indivíduo com seu meio, ou seja, numa interação dinâmica entre
variáveis individuais, ambientais e a substância química.
Conclui-se que, de acordo com Sielski (1999), as razões para o uso da droga são
diversas, pode ser um determinante biológico de uma herança genética, o que favorece
essa tendência, ou talvez, a pessoa seja um abusador, que com o tempo poderá deixá-la, enquanto o dependente não. Além dos comportamentos que apresentam um ciclo
repetitivo, inconscientemente, muitos imitam o comportamento patológico apresentado
pelo pai ou mãe, ou mais que conscientemente não queiram repeti-lo.
Vivemos em um mundo de transformação, na chamada “Era da ansiedade”, as
crianças de hoje não possuem mais uma infância como as de antigamente, e os pais,
por sua vez, não encontram mais tempo, em suas vidas atribuladas, para orientar e
proteger seus filhos. Sendo assim, tenta-se suprir essa falha, de vínculo e integração com
os filhos, de maneira a afrouxar sua a educação, deixando a liberdade e a permissividade
correrem soltas. Esse amadurecimento precoce dos jovens vem contribuindo, e muito,
para o caos da família moderna e da sociedade, como um todo.
A família vem cada dia mais, perdendo seus principais valores – respeito,
educação e disciplina. O relacionamento entre pais e filhos está cada vez mais pobre e
carente de afeto, carinho, diálogo e, principalmente, amor. O que implica uma porta
aberta para as inúmeras armadilhas do mundo externo.
O fato de o dependente estar em terapia não resolve esse problema crucial.
Existe todo um contexto que deve ser valorizado, revisto e examinado em cada história
de cada dependente, pois o ser humano é único em sua essência e suas particularidades
vivenciais: desagregação familiar, fragilidade do lar, carência afetiva que pode levar
a toxicomania efetiva, violência, descompensação dos pais, tentativa de alguma
compensação por parte dos filhos, alienação, cobrança.
O que se quer dizer, em suma, é que o problema da droga, tal qual ele é vivido
pelo adolescente (quem sabe por um filho seu), tem raízes múltiplas.
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1 CODEPENDÊNCIA FAMILIAR: A DOENÇA SILENCIOSA
Familiares podem alimentar a dependência química de seus membros sem nem
mesmo saber disso, apenas para, emocionalmente, esconder as próprias psicopatologias
e conflitos existenciais: diante disso, o tratamento pode ser uma ameaça, não uma
solução. Diante disso o tratamento pode ser uma ameaça, não uma solução. O que
ocorre de mais perverso nessa situação que obviamente é profundamente emocional,
é a não reconstrução do dependente.
Na abordagem feita por grupos de apoio parte-se do princípio de que não só o
dependente químico, mas também a família são vistos como pacientes. (Psique Ciência
& Vida)
A autora enfatiza codependentes não são mais disfuncionais ou doentes do que
os dependentes químicos, mas sofrem tanto quanto eles ou mais, pois, comumente,
suportam sua dor sem o efeito anestésico do álcool ou de outras substâncias químicas.
(Bety France – Revista Psique Ciência e Vida, ano III, nº 29)
Como afirma a psicóloga, a família é um sistema que pode nos adoecer, não
porque as pessoas são más, mas pela profundidade dos vínculos e pela necessidade de
compensação.
Confrontar experiências, como abuso sexual e violência doméstica, abandono ou
reconhecimento de que não tivemos pais com nível emocional apurado, é muito sofrido,
porém é importante para seguirmos adiante. France afirma ainda que a negação do
problema é uma forma de manter a doença, evitar os sentimentos de culpa e preservar
a homeostase familiar.
É preciso aceitar a existência do problema, e adotar a conduta e mudanças e
até mesmo sacrifícios em prol de resolvê-la, caso contrario, ao invés de resolver um
problema, o da dependência química, a família estará adquirindo outro tão delicado e
doloroso como o da codependência. O que fica claro nesse tipo de comportamento,
que há interação e troca na relação entre o dependente e o codependente.
1.1 Codependentes Dependentes
Originalmente, o termo coalcoólatra foi designado para caracterizar a mulher do
alcoólatra, a qual, na década de 1970, passou a fazer reuniões paralelas às do marido
no AA – Alcoólicos Anônimos. Nessas reuniões as mulheres perceberam possuir um
denominador comum: toda a sua vida familiar girava em torno do dependente.
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De acordo com Sérgio Nicastri, Coordenador do Programa Álcool e Drogas
de Hospital Albert Eistein, temendo perder o controle do sujeito subordinado, o
codependente chega até a comprar ou pagar o vício do dependente. “Daí a necessidade
de tratar tanto o dependente como sua família”, pois são dependências paralelas. Isto
é, da mesma maneira que um dependente desenvolve uma ligação com a droga, e não
consegue controlar, o codependente estabelece uma relação de sujeição com o outro,
e também consegue controlar isso.
Pode-se dizer que nas famílias disfuncionais, em que os pais usam seus filhos
para preencher as próprias necessidades emocionais, as crianças logo aprendem que
sentimentos positivos sobre elas mesmas (autoestima), dependem do estado de humor
dos adultos à sua volta. Esse tipo de relacionamento, gradativamente, vai minando
a autoconfiança da criança, estabelecendo as bases para um indivíduo dependente,
inseguro, “escravo” das necessidades e desejos alheios.
Tome-se como exemplo o pai permissivo e ausente. O filho sem limites,
sem proteção, sem aceitação no seio da família, procurará um grupo que o aceite.
Futuramente, esse pai tentará recuperar o que deixou para trás, tornando-se resignado
e com uma presença opressiva-ausente. Sua ausência “opressiva ausente” se caracteriza
pela constante necessidade de controlar o uso de drogas pelo filho, com o exercício de
uma “suave opressão”, a qual parece até um cândido cuidado, mas, na verdade, é uma
tentativa de recuperação da ausência de tempos atrás, talvez, mesmo em uma tentativa
de recuperação de uma potência paterna não exercida.
Existem pais que, autoritários na infância do filho e por causa de sua incompetência
fruto de sua imaturidade, autoimagem, autoconfiança e autoestima rebaixadas, originadas
também de traumas de sua infância, tentam minimizar os efeitos deletérios, agindo no
mínimo, com leniência.
A família, por si só, pode ser um fator exponencialmente perigoso para o
dependente. Dizer que “o doente é ele” é comum, nas famílias que constituem
um empecilho poderoso para a recuperação do dependente. À exemplo dos casos
apresentados, a família disfuncional não admite sua desestruturação e deposita no
dependente todos os seus traumas. As doenças presentes na família – alcoolismo do pai,
depressão da mãe, não são reconhecidas, pois quando algum desses sintomas surge, a
causa é atribuída ao dependente químico. Os “defeitos”, por assim dizer, já existiam e
só esperavam uma válvula – o dependente, que expressou sua dependência.
O que ocorre de mais perverso, nessa situação, e que obviamente é profundamente
emocional, é a não reconstrução do dependente. O “codependente, dependendo, da
dependência do dependente”, agindo como age, não permite, emocionalmente, que
ele se trate e tão pouco ache o equilíbrio.
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Os profissionais com prática no exercício da clínica psiquiátricas sabem das
dificuldades existenciais dessas pessoas codependentes, parece que eles ficaram órfãos
de uma hora para outra, perdidos e sem propósito de vida; não é raro que passem
a apresentar problemas semelhantes àqueles dos antigos dependentes, dos quais
cuidavam. Uma expressão que representa bem a maneira como o codependente adere
à pessoa problemática é atadura emocional, quando uma pessoa se encontra atrelada
emocionalmente a coisas negativas e patológicas de alguém que a rodeia.
1.2 Por que a Codependência Atrapalha
Cunha (2006) relata que a maioria dos pais codependentes assume uma postura de
superproteção ou de negligência na educação dos filhos por diversas razões. Não obstante,
tentam manter uma postura enérgica, a fim de impor sua autoridade e, não raras vezes,
ao mesmo tempo criam uma situação de conflito , de culpa pelo comportamento rebelde
do filho, principalmente quando a patologia da dependência química já está instalada.
Com a gradativa mudança de hábitos do dependente, os pais são provocados e
estimulados a apresentar uma mudança no padrão de resposta diante do comportamento
de seu filho e, não raras vezes, percebemos que as atitudes que tomam nem sempre
surtem os efeitos desejados, justamente por serem eles “codependentes” e necessitarem
de ajuda especializada.
Quando os pais se deparam com uma situação com a qual não sabem lidar,
podem apresentar basicamente dois comportamentos, muito comuns na maioria dos
casos: demorar demais a tomar atitudes que ajudariam a reverter o processo de dependência do seu filho; e agir de maneira inadequada e implosiva, tentando resolver
as coisas de modo intempestivo, o que pode colaborar para um eventual prejuízo na
recuperação do filho.
No primeiro caso, os pais assumem uma postura extremamente permissiva por
não saberem lidar com a situação, esperando que uma atitude precipitada por parte
deles não piore o quadro clínico de seu filho – o qual pode durar anos. Quando isso
acontece, eles desconsideram a relevância que uma atitude firme e decidida pode
trazer para a preservação da integridade da sua família – devem ser bem orientados a
esse respeito, pois desconhecem os fatigantes efeitos que o envolvimento com a droga
pode ocasionar.
Os pais quase sempre lamentam muito e sofrem ao deixar de agir de maneira
assertiva, procurando uma alternativa para justificar a própria conduta, a fim de se
resguardar e desconsiderar a responsabilidade quanto à conduta inadequada de seu filho.
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Essa é uma característica de excesso de zelo e de proteção. De qualquer forma, ambos
os cônjuges apresentam esse comportamento em maior ou menor grau, embora, um
deles tenha sempre o papel de destaque, que na maioria das vezes é atribuído à mãe.
No segundo caso os pais assumem uma atitude enérgica, de caráter agressivo,
procurando evitar aquela situação a qualquer custo, sem, no entanto, avaliar as
consequências dos seus atos.
Agindo dessa maneira, eles podem colaborar para o desenvolvimento da doença.
Justamente por apresentarem comportamento punitivo e não educativo. Quando os
pais assumem uma postura mais enérgica, quase sempre deixam pouca perspectiva
para que a mudança efetiva aconteça e se edifique de forma natural, numa direção
potencialmente construtiva, voltada para a competência.
2 A FAMÍLIA, A DOENÇA E AS POSSÍVEIS INTERVENÇÕES DE TRATAMENTO
Esta pesquisa teve por objetivo delinear, ou seja, investigar e localizar quais os
aspectos que ligam, direta ou indiretamente a dependência química e a codependência
familiar, bem como a tentativa de buscar novas formas de tratamento que possam
auxiliar, ou até mesmo, renovar os tratamentos já existentes dentro desse seguimento.
Como se sabe, são poucos os fenômenos que atingem, de maneira tão abrangente
e devastadora, a família, a saúde e a sociedade, como o consumo e a comercialização
das drogas. E, infelizmente, na atualidade, esses problemas vêm tomando proporções
alarmantes, o que, por sua vez, vêm acarretando mais custos com a justiça, saúde e
economia, de um modo geral, causando, com isso, dificuldades familiares e ocupando
espaço na mídia mais do que qualquer outro problema dessa ordem.
Ressalta-se, ainda que além de um problema público e social, a dependência
química deve ser considerada como uma doença fatal, uma vez que a droga destrói
diretamente o organismo, afetando a saúde do indivíduo podendo provocar danos
irreversíveis, até mesmo a morte por overdose.
Embora seja importante pontuar que existem diversos padrões de consumo de
drogas, como o uso ocasional ou social da droga (cigarros e bebidas alcoólicas), e que
podem ser medidos por comportamentos de baixo risco, até certo ponto considerado
controlável, é justamente a partir desse comportamento que pode surgir o uso abusivo
e, consequentemente, a dependência dessas substâncias psicoativas.
Além disso, a quantidade e a variedade de drogas existentes e a facilidade para
a aquisição delas, também são elementos que contribuem para essa preocupação, bem
como a necessidade e a urgência de novas pesquisas nesse segmento.
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3 A PESQUISA COMO FERRAMENTA FAMILIAR E SOCIAL
Para atingir os objetivos esta pesquisa utilizou a seguinte metodologia: como
material de apoio, foram utilizados uma entrevista contendo 27 perguntas direcionadas
aos dependentes em tratamento, um teste para medir o grau de codependência familiar,
um questionário contendo 23 perguntas destinado aos familiares dependentes.
Para os dependentes em tratamento foi utilizado o sistema de entrevista, com
as respostas dadas diretamente ao pesquisador.
Vale ressaltar que, para os familiares, tanto o teste de grau de codependência
quanto o questionário, não tinham a obrigatoriedade de serem respondidos na presença
do pesquisador. Porém, optou-se pela necessidade de aplicá-lo pessoalmente assim
como foi feito na entrevista com os dependentes, para que se pudesse obter uma maior
veracidade nas respostas obtidas e ao mesmo tempo, evitar a influência de terceiros,
ou ainda, do próprio familiar em tratamento, já que se observou que após 30 dias de
tratamento interrupto na clínica, os dependentes eram liberados para passarem os finais
de semana em casa, podendo assim comprometer de maneira involuntária os resultados
da pesquisa.
Outro fator que também é importante pontuar é o tamanho da amostra obtida,
na pesquisa de campo feita com os familiares dos dependentes em tratamento.
Acredita-se que por ter sido demasiadamente curto o prazo para recolhimento e
tabulação dos resultados obtidos, o tamanho da amostra obtida, foi consideravelmente
pequeno.
A maioria dos dependentes em tratamento seguiam ordens judiciais ou aderiram
ao tratamento sem quaisquer consulta ou apoio de um parente próximo. Isso dificultou
o contato com esses familiares, afetando de forma direta os resultados esperados,
além disso, deixou a pesquisa desproporcional em relação ao número de familiares
participantes, obtendo apenas quatro familiares pesquisados, para um total de dez
dependentes que responderam ao questionário.
E, por último, um dado que causou bastante surpresa. O fato de as respostas
obtidas no teste que mede o grau de codependência familiar, surpreendentemente
não apontaram indícios de codependência, o que não foi compatível com as respostas
obtidas no questionário aplicado a eles.
O teste não mostrou indícios de codependência, enquanto que algumas respostas
obtidas no questionário foram totalmente contrárias a esse resultado. Como prova dessa
ambiguidade, transcreve-se abaixo trechos de relatos selecionados na pesquisa, de alguns
familiares, que demonstraram, de forma clara (no questionário) a presença de sintomas
de um comportamento com fortes inclinações à codependência:
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“Estou sempre grudada nele nos jogos de futebol dele e até na balada, só pra
poder ficar de olho e ver se ele não vai beber ou usar drogas com os amigos”...;
“Quando ele sai sozinho, não durmo enquanto ele não volta pra casa, e fico
ligando no celular dele de meia em meia hora só pra ver se ele já está chegando... Sabe
como é né? A gente tem medo“
Em outro depoimento, feito pela tia de um dos dependentes em tratamento “T”,
26 anos, que está há 20 dias na clínica, identificamos mais sinais de codependência:
A tia, afirma que fica com tanto medo, quando ele diz que vai até a esquina e já
volta, mas acaba demorando tanto que ela vai atrás dele e por conta disso, diz que já se
mudou para um apartamento próximo ao endereço dele, para ficar mais fácil de vigiá-lo,
dessa forma, já conseguiu localizá-lo inúmeras vezes em “bocas de fumo” da vizinhança.
Essa familia, afirma ainda que, por conta de seu sobrinho, já mudou radicalmente
sua vida, até mesmo entrou para a faculdade de Direito, aos quase 50 anos de idade,
apenas com o intuito de ajudá-lo em seus problemas atuais com a justiça. Também
afirma, que se sente aliviada por ter um filho da mesma idade do sobrinho (26 anos)
e ele não sentir ciúme de sua dedicação incondicional ao sobrinho. O que nos levou
a considerar tais depoimentos como fortes indícios de codependência, embora como
dito antes, no teste específico, nada foi constatado.
No que diz respeito aos motivos que podem levar à dependência química,
foram observadas várias respostas em comum, dentre os fatores mais apontados pelos
dependentes está a curiosidade e a falta de informação, como demonstraremos a seguir
no gráfico abaixo ilustrado:
GRÁFICO 1 - FATORES QUE PROPICIAM O USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS
FONTE: Elaboração da autora.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A imensa gama bibliográfica em torno do assunto abastece de forma enriquecedora
a pesquisa, porém é importante observar que o problema das drogas, embora não seja
um fato de recente repercussão, infelizmente trata-se de uma enfermidade, que de
uma maneira ou de outra está sempre se modernizando em sua disseminação. Motivo
que nos perceber a importância de estarmos cada vez mais um passo a frente com
pesquisas inovadoras.
Fica claro, também, que a família necessita de cuidados tanto quanto o familiar
dependente. E que na maioria dos casos uma família saudável pode ajudar, e muito,
na recuperação do dependente; por outro lado, uma família que não reconhece sua
codependência pode se tornar um entrave.
Acredita-se, que um olhar mais sistêmico, ou seja, voltado para a família, o
meio em que ela atua, e as ações e reações que podem causar ou contribuir para o
desenvolvimento e crescimento de seus indivíduos, seja a “chave” que abrirá as portas
rumo ao sucesso contra esse mal que vem sendo um dos maiores problemas social,
familiar e econômico do cotidiano mundial.
É importante ressaltar, também, que muitas das clínicas de tratamento da dependência química, em especial a de Almirante Tamandaré que gentilmente nos se cedeu
espaço para a realização desta pesquisa, já aderiram a esse tratamento redirecionado à
família.Ou seja lançam, hoje um olhar mais sistêmico (focado na família, como um todo)
e menos linear (focado só no dependente), sendo bem mais abrangente e que vem se
mostrando bastante promissor e eficaz na luta contra as drogas na reintegração familiar.
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