Biocombustíveis X Produção de alimentos Uma questão complexa Professor Anselmo Lazaro Branco “De acordo com a Organização da Nações Unidas (ONU) para Agricultura e Alimentação (FAO) os principais fatores que influenciam a alta dos preços dos alimentos são o aumento da demanda, a alta do petróleo, a especulação e condições climáticas desfavoráveis. Há controvérsias sobre a dimensão da responsabilidade dos biocombustíveis, cujas matérias-primas (cana, milho e outras) disputam espaço com culturas destinadas à produção de comida” Globo.com – Notícias/Economia_Negocios – 13/06/08 O ciclone Nargis afetou a produção de arroz no delta do rio Irrawaddy, o que contribuiu para o aumento da fome em Mianmar Foto de Khin Maung Win A seca na Austrália afetou a produção agrícola do país e o comércio mundial, principalmente de trigo Foto de David Humphreys Brasil investe no etanol de cana-se-açúcar: produto forte é fonte de biocombustíuvel e os fazendeiros afirmam que o cultivo não compete com a área reservada para plantar allimentos Foto de Delfim Martins “Com o preço do petróleo a níveis estratosféricos, e o aquecimento global como uma realidade a cada dia mais óbvia, os biocombustíveis parecem uma alternativa muito tentadora aos combustíveis fósseis. Com isso, a demanda por biocombustíiveis , e consequentemente sua produção, vêm crescendo de forma exponencial nos últimos anos. Qualquer substituto poluente para os combustíveis fósseis parece em princípio ser muito bem-vindo. No entanto, vozes começam a surgir,inclusive na ONU, para nos alertar que essa questão não é tão simples assim. Estamos, lembram essas vozes, num planeta já superpovoado, onde a demanda por alimentos cresce cada vez mais, e onde cada área agrícola é necessária e valiosa. Quanto mais terras agrícolas forem perdidas para terras para produzir biocombustíveis, mais dificuldade a produção de alimentos terá em atender a demanda, e mais tenderão a se agravar a subnutrição e a fome, que já afetam tanta gente nesse planeta. O próprio presidente Lula tem dito que o etanol brasileiro, obtido a partir da canade-açúcar, não compete com a produção de alimentos. Ele e outras vozes oficiais têm nos tranquilizado de que é perfeitamente possível aumentar ao mesmo tempo a produção de alimentos e de biocombustíveis, tudo isso conciliado com a conservação da biodiversidade.” Fernando Fernandez – 18-08-08 www.espacoecologiconoar.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id= 6833&Itemid=65 “É preciso pensar na questão de uma forma mais ampla: Modelo de desenvolvimento Padrão alimentar Meios de transporte Fontes alternativas de energia Fontes de matérias-primas para a indústria ” “Com a era dos combustíveis fósseis chegando ao fim, o nível atual de conhecimentos biológicos pode levar à construção de uma “biocivilização moderna de alta produtividade”, na qual o Brasil pode se tornar um ator da primeira importância, de acordo com o economista Ignacy Sachs, professor emérito da École des Hautes Études em Sciences Sociales (Paris). De acordo com Sachs , o debate sobre os biocombustíveis se insere numa discussão mais ampla a respeito daquilo que ele define como “a biocivilização moderna”. “ A biomassa pode ser alimento, ração animal, adubo verde e material de construção, além de ser matéria-prima para fármacos, cosméticos e para a química verde, que produzirá um leque cada vez maior de produtos. O conceito de biorrefinaria irá se firmar à imagem do que representou a refinaria de petróleo”, disse Sachs. Sachs defende a produção de biocombustíveis privilegiando o uso de áreas desmatadas e, no caso brasileiro, principalmente das pastagens degradadas. “Temos que parar de raciocinar por justaposição de cadeias de produção, imaginando separação total de áreas para etanol, grãos e gado”. “ O desafio que se coloca é atacar simultaneamente o problema ambiental e o problema do déficit crônico de oportunidades de trabalho decente e as desigualdades sociais. Se não partirmos para um ciclo de desenvolvimento com base na agricultura familiar, o que teremos não será essa biocivilização, mas uma produção de agroenergia amplamente mecanizada e favelas apinhadas de exagricultores”. www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?id=8775 Por Fábio Castro – 30-04-08 http://www.seed.slb.com/pt/scictr/watch/climate_change/images/weyburnProduction.jpg http://www.abae.pt/programa/EE/escola_energia/2006/Conteudos/sala2/sala2_1.jpg http://www.colegiosaofrancisco.com.br/alfa/meio-ambiente-fontes-alternativas-de-energia/imagens/ fontes-alternativas-de-energia.jpg http://vega.eq.uc.pt/siteJoomla/index.php?option=com_content&task=view&id=114&Itemid=2 “Um estudo recente do Ministério de Minas e Energia mostra que os derivados de cana-deaçúcar já geram 17% da energia do Brasil. São os vice-campeões: ultrapassaram as hidrelétricas (15%) e já são quase a metade dos derivados de petróleo (37%). Enquanto a área de pastagem no Brasil permaneceu estável nos últimos anos, em média, a de cana cresceu cerca de 800 mil hectares (ou cinco municípios de São Paulo), só na última safra. É um salto de 11,7%, segundo dados da Conab, totalizando 7,8 milhões de hectares. Desses, 4 milhões são dedicados à produção de álcool, incluindo o etanol.” “Outras fontes que podem gerar biocombustíveis. Alguns já estão no mercado, e outros que devem chegar nos postos nos próximos anos DIESEL DE CANA O que é: usa a bactéria Escherichia coli para fermentar o açúcar da cana e transformá-lo em hidrocarbonetos, mesma estrutura do petróleo Vantagens: o diesel de cana emite 80% menos CO² do que o diesel tradicional. A centrifugação dos hidrocarbonetos gasta até cinco vezes menos energia do que a destilação do etanol e tem como subproduto um gás que também pode ser usado como fonte de energia GORDURA ANIMAL O que é: a gordurinha que dá sabor às carnes pode levantar aviões. Um método desenvolvido por engenheiros da Universidade do Estado da Carolina do Norte, EUA, transforma esse óleo em biodiesel para aeronaves. Vantagens: segundo os pesquisadores, o processo é 100% verde, já que não usa combustíveis fósseis. O produto também pode ser usado como aditivo para automóveis com motores a diesel ALGA O que é: várias universidades e empresas estudam a alga como matériaprima de biodiesel. "Ela está entre as plantas mais eficientes na fotossíntese", diz Michael Briggs, da Universidade de New Hampshire Vantagens: as "fazendas" de alga podem ser instaladas em terras que não servem para o cultivo de alimentos, eliminando a concorrência de espaço. Em abril foi inaugurada no Texas a primeira usina de biodiesel de alga do mundo PINHÃO-MANSO O que é: uma das sementes que ganha espaço nas pesquisas brasileiras, já usado para automóveis na Índia e testado pela montadora DaimlerChrysler Vantagens: essa oleaginosa é resistente à seca, pouco suscetível a pragas, tem boa produtividade e não requer o uso de agrotóxicos. Em março a BE Agroenergia anunciou que vai instalar uma fábrica de biodiesel de pinhão-manso em Colatina, Espírito Santo MADEIRA O que é: o diesel de madeira é dos "biocombustíveis de segunda geração". Criado por pesquisadores da Universidade da Geórgia, EUA, o novo processo aquece lascas de madeira na ausência de oxigênio, resultando em um gás que é condensado em óleo combustível Vantagens: usa resíduos agroindustriais como palha, cortiça e folhas, que, por serem subprodutos das madeireiras, não competem com a produção de alimentos. MAMONA O Que é: feito a partir da oleaginosa, foi estimulado pela lei que obriga que o diesel brasileiro tenha 2% de biodiesel. A partir de 2013, serão 5% Vantagens: apesar de não ter rendido o que se esperava nos últimos anos, a mamona ainda é promissora. Em novembro passado a empresa americana de biotecnologia Terasol LABS instalou-se no Brasil em parceria com o Sebrae do Ceará para pesquisar e desenvolver novas variedades mais produtivas da semente BIOMETANOL O que é: combustível líquido que pode ser usado em motores a diesel e é produzido a partir de biogás coletado de variadas fontes de matéria orgânica, como esterco, esgoto e lixo Vantagens: em 2003, a empresa Smithfield Foods, maior produtora de alimentos a base de carne de porco nos EUA, construiu uma usina experimental para extrair biogás das fezes dos bichos CELULOSE O que é: outro biocombustível de segunda geração, feito a partir de vários vegetais. A grande promessa na área é o sorgo, gramínea de rápido crescimento Vantagens: No Brasil, a Petrobras montou uma unidade experimental com a UFRJ para produzir etanol de celulose de bagaço de cana. O plano é construir uma usina semi-industrial em 2010. Mas a produção cara ainda inviabiliza sua comercialização COLZA O que é: semente das flores desse tipo de repolho é a principal matéria-prima de biodiesel na Europa. Vantagens: apesar de os investimentos serem criticados por especialistas, já que os países europeus não têm muita área livre para expandir suas plantações, a colza apresenta alta produtividade. Além disso, é importante na rotação de culturas, já que torna os nutrientes do solo disponíveis durante várias safras e reduz a incidência de pragas “ Revista Galileu Biocombustíveis X Produção de alimentos Uma questão complexa Professor Anselmo Lazaro Branco