XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 GESTÃO ESCOLAR E O PAPEL DOS SUJEITOS PARA O FORTALECIMENTO DO COMPROMISSO DOS EDUCADORES COM A ESCOLA PÚBLICA, LAICA, GRATUITA E DE QUALIDADE. Fernanda Brito Paiva1 Universidade do Estado da Bahia - UNEB Tatiane Neiva Barreto2 Universidade do Estado da Bahia – UNEB Prof.ª Ms. Ana Karine Loula Torres Rocha3 Universidade do Estado da Bahia - UNEB Resumo Esta pesquisa faz parte do trabalho de conclusão de curso – TCC, do Curso de Licenciatura Plena em Pedagogia, desenvolvido em uma Universidade Pública onde refletimos a respeito das formas de gestão que estão sendo adotadas atualmente nas instituições de ensino público, devendo ser reavaliadas com base no inciso VI do art. 206 da Constituição Federal de 1988: “gestão democrática do ensino público, na forma da lei”. Este artigo tem como objetivo analisar em que medida os gestores educacionais têm conhecimento das atribuições que seu cargo determina, compreendendo como as relações interpessoais interferem no processo de gerenciamento ou no cumprimento das suas funções na gestão participativa e democrática, analisando ainda sua repercussão na qualidade do ensino e da aprendizagem. Apontamos enquanto problema de pesquisa em que medida os gestores educacionais tem conhecimento das atribuições que seu cargo determina e se os cumpre. Para responder ao objetivo e problema de pesquisa utilizou-se quanto à abordagem uma pesquisa qualitativa, quanto ao método foi apontado para o fenomenológico, com suporte bibliográfico a partir dos instrumentos de observações indiretas e diretas, questionários com questões abertas e fechadas, aplicados aos gestores de um Colégio Municipal no Estado da Bahia. Esse estudo mostra que a falta de conhecimento, ou o inadequado exercício das atribuições do cargo que o sujeito exerce provoca entraves nas relações interpessoais, dificulta o exercício da autonomia e o desenvolvimento do trabalho diário; concluímos ainda que a melhoria das relações interpessoais e o exercício da autonomia repercutem em uma mudança significativa e positiva no processo de ensino-aprendizagem contribuindo assim para que a escola possa cumprir com a sua função social, fortalecendo o compromisso dos educadores com a qualidade da escola pública, laica e gratuita. Palavras-chave: Gestão Pública; Qualidade; Autonomia. 1 Primeiro Autor - Discente do Curso de Pedagogia do DCHT – CAMPUS XVI – Irecê/BA; digitadora do Programa Todos pela Alfabetização – TOPA. [email protected] 2 Primeiro Autor - Discente do Curso de Pedagogia do DCHT – CAMPUS XVI – Irecê/BA; Professora da rede municipal, vinculada ao município de Ibipeba/BA. [email protected] 3 Coautor – Docente do DCHT – CAMPUS XVI – Irecê/BA. [email protected] Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.005112 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 2 INTRODUÇÃO O interesse por esse tema surgiu através da oportunidade de analisar outras áreas no campo da Pedagogia e não apenas os processos de ensino e aprendizagem na sala de aula, também pela afinidade com os processos de planejamento, organização e gerenciamento. Esse interesse ampliou-se nos estágios obrigatórios em espaços formais e não formais de educação durante a vivência no curso de graduação em Pedagogia na Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Ciências Humanas e Tecnologias – Campus XVI – Irecê/BA, onde pudemos refletir a respeito da temática desenvolvida neste trabalho que será apresentado a seguir. O estudo e organização formal da administração surgiram por volta do ano 1850, com forte influência de diversas áreas do conhecimento que desenvolveram obras e teorias a partir de seus conceitos e princípios. No Brasil desde a década de 1930 ate a década de 1970, predominou a administração escolar como meio de organizar a instituição de ensino. Entre as décadas de 1960 e 1970, durante a ditadura militar, as liberdades de expressão foram sufocadas. O ensino passou a ser controlado, através do regime militar que ditava como as instituições deveriam educar os seus alunos e quais os conteúdos que deveriam ser transmitidos. A administração escolar contribuiu para que tal fato ocorresse, pois as práticas administrativas escolares eram subordinadas ao autoritarismo, onde a administração era controlada de forma que o governo mantivesse total controle sobre o ensino. No final da Ditadura a situação no país era crítica, a educação e a saúde passavam por problemas, a sociedade intensificou as exigências para que ocorressem mudanças como a eleição direta para presidente, retirando os militares do poder, movimento conhecido como “Diretas Já”. Como afirma Machado (2010, p.13), a escola reflete o contexto da sociedade que esta inserida, “A revolução industrial foi um fator muito relevante para o surgimento das teorias clássicas da administração, cujo propósito era transformar a administração em Ciência. Diante da necessidade de racionalizar o trabalho, e aumentar a eficiência”, dessa forma a escola traz para seu modelo de organização parte das teorias clássicas da administração. Segundo Moraes (2010, p.25) Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.005113 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 3 A expressão gestão escolar, em substituição à administração escolar, não é apenas uma questão de troca de nomes. Ela representa uma mudança radical de postura, um novo enfoque de organização, um novo paradigma de encaminhamentos das questões escolares, ancorado nos princípios de participação, de autonomia, de autocontrole e de responsabilidade. (MORAES 2010, p. 25 apud LÜCK 2007). O mercado durante muito tempo teve participação nas relações que ocorriam na sociedade, o modo de produção que há tempos atrás influenciava a forma de administrar a escola como uma empresa, pois essa era vista como um segmento, cópia da administração empresarial. A organização era centralizada em um superior (diretor) que tomava todas as decisões de cima para baixo, formando uma pirâmide hierarquizada onde a base eram os operários (professor/estudantes) que apenas executavam as tarefas. A gestão educacional era centralizada com autoridade, e havia ausência de democracia nas instituições, dificultando o exercício da autonomia. Décadas depois surgiu o aspecto de liderança, participação e poder ao invés do autoritarismo nas organizações, refletida na qualidade significativa no processo de ensino aprendizagem nas escolas públicas. Diante das questões colocadas acima apontamos enquanto problema de pesquisa: em que medida os gestores educacionais (diretor, coordenador, professor e funcionários) tem conhecimento das atribuições que seu cargo determina e se os cumpre, refletindo a respeito de sua repercussão nos processos de ensino-aprendizagem. A presente pesquisa foi realizada na filial do Colégio Municipal Luís Alves Barreto no município de Ibipeba/BA com o objetivo de analisar em que medida os gestores educacionais têm conhecimento das atribuições que seu cargo determina e compreender como as relações interpessoais interferem no processo de gerenciamento ou no cumprimento das suas funções na gestão participativa e democrática, analisando ainda sua repercussão na qualidade do ensino e da aprendizagem. A metodologia usada para responder ao problema de pesquisa apresentado neste trabalho utilizou quanto à abordagem, uma pesquisa qualitativa, esta segundo Lüdke e André (1986, p. 11) traz o pesquisador como o seu principal instrumento e o ambiente de pesquisa é a principal fonte dos dados através do processo indutivo, pois este trata do particular para o geral. Quanto ao método apontamos para o fenomenológico, pois tem foco nos fenômenos a serem estudados visando somente o que se mostra dos próprios fatos observados, com suporte bibliográfico a partir dos instrumentos: fichamentos de livros, observações indiretas e diretas, questionários com questões abertas e fechadas, Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.005114 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 4 aplicados no turno vespertino ao diretor, ao vice-diretor, as coordenadoras, a uma secretária, a um dos porteiros e a alguns professores. A partir do questionário e das observações realizadas no campo de pesquisa pode-se perceber que a maior parte do corpo administrativo não conhece as atribuições de seu cargo descritas na lei 8261/02, portanto não cumprem adequadamente o seu dever, realizando muitas vezes atividades próprias de outros cargos. Este estudo é relevante, na medida em que pode contribuir para a melhoria da educação pública, na qualidade do ensino-aprendizagem, da formação profissional dos novos pedagogos e da política educacional, pois a compreensão e o desenvolvimento das suas atribuições, bem como a vivência numa gestão participativa ainda são pouco existentes em nosso contexto, portanto, pode auxiliar no futuro acadêmico e profissional para um melhor rendimento da educação pública em nosso território. GESTÃO ESCOLAR E SUAS PRÁTICAS A Constituição Federal (CF) de 1988 reafirma mais mudanças para o modo como se dá à organização escolar, o art. 206 inciso VI delega a gestão democrática, nas formas da lei para as instituições públicas de ensino, essa concretiza algumas mudanças ocorridas na década de 80. Após a elaboração desta nova constituição surge a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9394/96 (LDB), que amplia os princípios da CF e cria novas regras para a gestão escolar, como a participação dos profissionais de educação na elaboração da proposta pedagógica da escola, acenando para uma progressiva conquista da autonomia pedagógica e administrativa das unidades escolares. Silva (2010, p.10) discute as transformações ocorridas principalmente nos anos 80 Nas ultimas décadas, porém, houve uma evolução no conceito de administração que vem sendo substituído pelo de gestão, conceito também amplamente utilizado nas empresas capitalistas no momento atual. O processo de democratização do país a partir da década de oitenta com a abertura política contribuiu para essa transição. Não é apenas uma questão de terminologia, como citado acima, mas de concepção que caracteriza uma nova forma de conduzir o trabalho escolar de forma que possa contribuir com construção de uma educação emancipadora, com a participação de todos os envolvidos no processo pedagógico. (Silva 2010, p.10) Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.005115 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 5 No âmbito educacional, é notória a mudança ocorrida ao longo do tempo advinda das transformações na sociedade, o termo administração vem sendo substituído por gestão, não apenas na nomenclatura mas também no conceito, uma nova maneira de orientar o trabalho escolar, dando ênfase as relações humanas, onde as decisões são tomadas não pelo diretor, mas a partir das ideias do grupo. Libâneo (2008 a, p.315) é mais um autor que discute a gestão derivada da administração de empresas; no livro Educação Escolar ele traz algumas diferenças dessas duas formas de organização Certos princípios e métodos da organização escolar originam-se de experiência administrativa em geral estas e muito são aplicáveis às escolas. Todavia, têm características muito diferentes das empresas industriais, comerciais e de serviços. Por exemplo: seus objetivos dirigem-se para a educação e a formação de pessoas; seu processo de trabalho tem uma natureza eminentemente interativa, com forte presença das relações interpessoais; o desempenho das práticas educativas implica uma ação coletiva de profissionais; o grupo de profissionais tem níveis muito semelhantes de qualificação, perdendo relevância as relações hierárquicas; os resultados do processo educativo são de natureza muito mais qualitativa do que quantitativa; os alunos são, ao mesmo tempo, usuários de um serviço e membros da organização escolar. (Libâneo 2008 a, p.315) Apesar de hoje a escola publica não se parecer tanto com uma empresa, sabemos que esta se originou dos moldes da administração empresarial. A descentralização pedagógica e administrativa pretendida pela gestão democrática para garantir uma participação efetiva dos membros escolares criou os colegiados como meio para alcançar a autonomia da escola. Os movimentos sociais deram origem a propostas que concebem o Projeto Politico Pedagógico (PPP) como uma prática democrática que respeita a construção coletiva e a identidade da escola, sua cultura e caráter autônomo. A LDB 9394/96 trata do princípio de democratização da escola e provoca novos desafios e novas demandas para o gestor que atua na função de diretor. Ele terá que desenvolver as habilidades necessárias para gerir toda a comunidade da escola num processo democrático e participativo de contínua reflexão sobre as relações da escola e sobre a realização de mudanças e projetos para o desenvolvimento dos profissionais da instituição escolar e dos estudantes. A gestão escolar tem o objetivo de dirigir a escola nos setores financeiros, pedagógicos e administrativos, porém o que se percebe muitas vezes é que o diretor prioriza o setor financeiro, pois transfere a responsabilidade da gestão pedagógica para o coordenador. Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.005116 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 6 No entanto, para que o trabalho seja realizado eficazmente é necessário um envolvimento articulado de todo o grupo no planejamento e gestão da escola. O sistema educacional deve ser gerido para o direcionamento e a mobilização de ações em grupo que tenham como finalidade a qualidade do ensino, direcionado para a aprendizagem dos alunos e sua formação, pois a gestão das unidades constitui uma dimensão focada na estruturação, organização e orientação da ação não só no âmbito educacional, mas em todos os aspectos relacionados à vida social de cada um, eles devem ser preparados para que sejam capazes de enfrentar os desafios complexos da sociedade globalizada e da economia. Libâneo (2008 b, p.139) “(...) de acordo com Gadotti e Romão (1997 p.16) a participação influi na democratização da gestão e na melhoria da qualidade de ensino”. Silva (2010, p.27) resume bem como se realizava a função de diretor, de apenas receber ordens e repassá-las a seus subordinados, sem nenhuma autonomia na tomada de decisões, o poder era centralizado no Estado e nos Municípios, pois a lei era entendida “ao pé da letra” a ideia de que a educação é obrigação do Estado equivocadamente entendendo essa determinação legal apenas como responsabilidade do governo e não da sociedade. Segundo Lück (2008, p. 23-24) A gestão emerge para superar, dentre outros aspectos, carência: a) de orientação e de liderança clara e competente, exercida a partir de princípios educacionais democráticos e participativos; b) de referencial teóricometodológico avançado para organização e orientação do trabalho em educação; c) de uma perspectiva de superação efetiva das dificuldades cotidianas pela adoção de mecanismos e métodos estratégicos globalizadores para a superação de seus problemas. (Lück 2008, p. 23-24) Essa gestão surge para preencher as brechas deixada pela administração centralizadora e hierarquizada, pois neste modelo era comum a falta de autonomia, de liderança, democracia, participação e formação acadêmica adequada do diretor (gestor). O PAPEL, A FUNÇÃO E AS ESPECIFICIDADES DE CADA CARGO NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR. Cada membro da instituição escolar exerce uma ou várias funções características do seu cargo. Na organização tradicional essas funções são mais explícitas, hierarquizadas, e o Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.005117 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 7 servidor deve ater-se a elas rigorosamente, pois há uma pirâmide de cargos e funções. Mas na gestão descentralizada, participativa ou democrática há em si uma ideia de participação do grupo coletivamente, pois essa defende a aprendizagem não autoritária e decisões que não são tomadas unilateralmente, mas que todos estejam envolvidos. Bittar e Oliveira (2004) citam, em seu livro Gestão e Políticas da Educação, Barroso (2001) que denomina a gestão democrática como “transformação regulada da escola”, pois ele aponta consequências como a formação de professores e gestores do tipo “gerentes”, que se preocupam com as normas existentes na escola ao reproduzir uma democracia camuflada baseada no modelo antigo de gestão autoritária em que o gestor diretor é o detentor do saber e das opiniões considerando os atores escolares “focos de resistência”, e não “sujeitos” dos processos de mudança. Várias são as funções do diretor escolar, talvez as suas maiores responsabilidades sejam a gestão pedagógica e financeira da instituição, mas este deve gerir todos os processos educacionais e também as relações humanas presentes no dia-a-dia do ambiente escolar. Acúrcio (2004, p.21) comenta que “O autoritarismo e a democracia se expressam principalmente nos relacionamentos (...). É no campo das relações que mais aumentaram as exigências em relação ao trabalho do diretor de escola (...) é uma responsabilidade cada vez mais necessária e crítica”. A Lei nº 8.261 de 29 de maio de 2002, Estatuto do Magistério Público do Ensino Fundamental e Médio do Estado da Bahia traz deveres do gestor para afirmar a importância da democracia no contexto educacional, este trata das atribuições do diretor no Capítulo III da Organização Administrativa, Art. 24 III - promover a política educacional que implique no perfeito entrosamento entre os corpos docente, discente, técnico-pedagógico e administrativo; IX – assegurar a participação do Colegiado Escolar na elaboração e acompanhamento do plano de desenvolvimento da escola; X - gerenciar o funcionamento das escolas, zelando pelo cumprimento da legislação e normas educacionais e pelo padrão de qualidade do ensino; XVIII - coordenar as atividades administrativas da Unidade Escolar; XXV - coordenar as atividades financeiras da Unidade Escolar; XXX - exercer outras atribuições correlatas e afins. (Estatuto do Magistério 2002, p. 7-8) Esses são algumas atribuições delegadas pelo Estatuto do Magistério de acordo com a LDB que devem ser seguidos pelos gestores na função de diretores das organizações Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.005118 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 8 escolares, segundo Libâneo (2008 b, p.217-219) essas funções são predominantemente gestoras e administrativas, porém elas também têm conotação pedagógica, pois se referem a uma instituição educativa e existem em função do campo educativo. Para que o gestor consiga gerir democraticamente, este necessita da compreensão e trabalho de toda a equipe, inclusive do vice-diretor que é seu substituto eventual. Este também tem algumas atribuições descritas no Estatuto do Magistério, no Art. 25 III - exercer as atividades de apoio administrativo-financeiro; IV - acompanhar o desenvolvimento das tarefas da Secretaria Escolar e do pessoal de apoio; VIII - executar outras atribuições correlatas e afins determinadas pela direção. (Estatuto do Magistério 2002, p. 8-9) Cada membro da instituição deve conhecer as atribuições de seu cargo de acordo com a legislação vigente, para auxiliar e participar da gestão democrática. O coordenador pedagógico é responsável por articular, viabilizar e integrar a atividade pedagógico didática, objetivando a qualidade do ensino em ligação direta com os professores, os assistindo com a finalidade de conduzir a aprendizagem adequada aos alunos. Ele tem a função de monitorar sistematicamente, refletindo e investigando a prática dos professores. O papel do coordenador pedagógico é de grande relevância, é indispensável para a comunidade escolar, o diretor sozinho não dispõe de tempo suficiente para cuidar, organizar e gerir as questões financeiras e pedagógicas. Portanto o Estatuto do Magistério no cap. II art. 8º, delega as funções do coordenador pedagógico atuante na instituição escolar, dentre essas estão I - coordenar o planejamento e a execução das ações pedagógicas nas Unidades; II - articular a elaboração participativa do Projeto Pedagógico da Escola; IX - promover ações que otimizem as relações interpessoais na comunidade escolar; XII - propor e planejar ações de atualização e aperfeiçoamento de professores e técnicos, visando a melhoria de desempenho profissional; (Estatuto do Magistério 2002, p. 3-4) Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.005119 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 9 A lei 8261/02 continua a descrever os deveres do corpo docente e administrativo da instituição. Em seu Art. 26 esta define as funções do secretário escolar, que também é um membro importantíssimo na construção de uma equipe unida. As atribuições deste são VII - coordenar o pessoal de apoio e administrativo, em todos os períodos de funcionamento da Unidade Escolar; IX - fornecer informações para a Direção, alunos, pais, equipe de suporte pedagógico, professores, órgãos colegiados e órgãos públicos; XV - executar outras atribuições correlatas e afins determinadas pela direção. (Estatuto do Magistério 2002, p. 9-10) Assim como os demais funcionários da instituição o secretário escolar têm seus direitos e deveres a cumprir, mas, muitos não conhecem o Estatuto do Magistério, então não estão a par de muitas outras atribuições do seu cargo, e acabam fazendo outras coisas que não são seu dever. O estatuto define algumas atribuições docentes, tais como I - participar da elaboração da proposta pedagógica e do plano de desenvolvimento do estabelecimento de ensino; II - elaborar e cumprir plano de trabalho e de aula, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; III - zelar pela aprendizagem dos alunos; VIII - exercer outras atribuições correlatas e afins. (Estatuto do Magistério 2002, p. 2-3) De acordo com o que já presenciamos durante o curso de Pedagogia, percebemos que o docente sabe algumas das atribuições que lhe são elencadas no Estatuto, pois, a obrigatoriedade de nível superior para todos os professores lhes fez estudar, então muitos já as conhecem, mas nem todos as põem em prática. ANALISE DO CAMPO PESQUISADO Com base no Estatuto do Magistério, na LDB e nas observações para esta pesquisa foram elaboradas perguntas referentes às atribuições de cada cargo e a função que o Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.005120 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 10 sujeito realmente exerce e se este tem conhecimento das atribuições específicas do seu cargo. De acordo com Lei 8261/2002 e a LDB 9394/96, foi percebido no campo de pesquisa através dos questionários que a maioria dos funcionários da escola pesquisada não tem conhecimento das leis que regem a educação na Bahia, pois esses trazem atribuições que são próprias do seu cargo como se estas fossem além das suas obrigações, e quando se pergunta sobre o conhecimento das suas funções com base legal, alguns dizem não conhecê-las, outros tentam manipular as respostas através de pesquisas realizadas na internet, e outros tentam explicar suas obrigações, mas acabam sendo redundantes e contraditórios. Através da autonomia ocorre segundo Lück (2008 p.127) a “(...) descentralização de poder, democratização do ensino e de sua gestão, busca crescente de qualidade, instituição de parcerias, flexibilização de experiências, mobilização social pela educação, sistema de cooperativas e interdisciplinaridade (...)”, e essas são algumas das soluções para os problemas encontrados na gestão da escola pública, para a melhoria do processo de ensino e aprendizagem. A partir das observações realizadas pode-se perceber que a maior parte do corpo administrativo não conhece as atribuições de seu cargo descritas na lei 8261/02, portanto não cumprem o seu dever, realizando atividades próprias de outros cargos. A partir do não cumprimento desta lei foi percebido que alguns sujeitos limitam a sua função a poucas atividades, assim outros extrapolam suas tarefas fazendo além do seu dever. Com base nas observações indiretas foi percebida a centralização das decisões, pois outros sujeitos não tem espaço suficiente para desenvolver autonomia necessária ao trabalho pedagógico. A centralização de poder interfere prejudicialmente no trabalho pedagógico, pois os outros sujeitos não têm poder para desenvolver atribuições que são do seu cargo de acordo com o Estatuto do Magistério. CONCLUSÃO Diante dessas considerações fica evidente que todos os profissionais envolvidos direta ou indiretamente na educação necessitam ter pleno conhecimento de suas atribuições e funções, para que assim possam cumpri-las e atingir a expectativa, que é garantir a Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.005121 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 11 melhoria da qualidade da educação pública. Tendo participação e responsabilidade coletiva a fim de construir um ambiente formador em que todos sejam envolvidos ativamente, sabendo, qual o seu papel nesse contexto. A falta de conhecimento das atribuições do cargo que exerce provoca entraves nas relações interpessoais, dificulta a autonomia e o desenvolvimento do trabalho diário, pois um acaba fazendo o trabalho do outro, no processo em que não estão cientes das suas responsabilidades. Portanto, no âmbito educacional todos devem conhecer as leis que regem a educação no país, assim as relações administrativas se tornariam menos complexas e mais fáceis de serem geridas pelos seus representantes. Foi percebido que a autonomia do corpo docente e administrativo interfere no processo de democratização da gestão, pois é através dessa que se pode construir a descentralização das decisões e assim a melhoria da qualidade do ensino publico. Esta pesquisa é importante, na medida em que pode contribuir para a melhoria da educação pública, na qualidade do ensino-aprendizagem e da política educacional, pois foi observado que a maneira como a gestão é organizada na escola reflete significativamente no processo de aprendizagem dos alunos. Enfim, a melhoria das relações interpessoais e o exercício da autonomia repercutem em uma mudança significativa e positiva no processo de ensino-aprendizagem contribuindo assim para que a escola possa cumprir com a sua função social, fortalecendo o compromisso dos educadores com a qualidade da escola pública, laica e gratuita. Junqueira&Marin Editores Livro 3 - p.005122 XVI ENDIPE - Encontro Nacional de Didática e Práticas de Ensino - UNICAMP - Campinas - 2012 12 REFERÊNCIAS ACÚRCIO, Marina Rodrigues Borges (coord.); ANDRADE, Rosamaria Calaes de (org.). A gestão da escola. – Porto Alegre/ Belo Horizonte: Artmed/Rede Pitágoras, 2004. BAHIA. 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