Entendendo o Plano de Contas Aplicado ao Setor Público (PCASP) Paulo Henrique Feijó Carlos Eduardo Ribeiro Entendendo o Plano de Contas Aplicado ao Setor Público (PCASP) Brasília - 2014 Editora Gestão Pública Entendendo o Plano de Contas Aplicado ao Setor Público (PCASP) © Editora Gestão Pública 2014 - Todos os direitos reservados Capa: Thiago Feijó Ponte Editoração eletrônica: Edimilson Alves Pereira Revisão: Tetê Oliveira Impressão e acabamento: Cidade Gráfica e Editora Feijó, Paulo Henrique. Entendendo o plano de contas aplicado ao setor público / Paulo Henrique Feijó, Carlos Eduardo Ribeiro. 1. ed. Brasília: Gestão Pública, 2014. 388 p. : il. Bibliografia ISBN 978-85-62880-05-6 1. Contabilidade pública - Brasil 2. Contabilidade - Brasil. 3. Balanço (contabilidade) - Brasil. 4. Plano de contas - Brasil I. Ribeiro, Carlos Eduardo. II. Título. CDD 657.61 CDU 336.126 TODOS OS DIREITOS RESERVADOS - É proibida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação ou informação computadorizada, sem permissão por escrito dos autores. A violação dos direitos de autor (Lei nº 9.610/1998) é crime estabelecido pelo artigo 184 do Código Penal. As opiniões expressas neste livro são de exclusiva responsabilidade dos autores, não expressando necessariamente a opinião dos órgãos e entidades onde os mesmos exercem ou exerceram atividade profissional. Muito zelo e técnica foram empregados na edição desta obra. No entanto, erros de digitação ou impressão poderão ter ocorrido. Caso o leitor identifique qualquer falha, favor informar mediante mensagem para: [email protected]. Os autores estão disponíveis para prestar esclarecimentos adicionais quanto a qualquer dúvida ou questionamento a respeito dos temas tratados neste livro: [email protected]. O editor e os autores não assumem qualquer responsabilidade por eventuais danos ou perdas decorrentes da aplicação dos conhecimentos e informações constantes desta publicação. Editora: Gestão Pública Editora e Treinamentos Sociedade Ltda. - EPP Condomínio Mansões Entre Lagos, Etapa 1, Conjunto U, Lote 28 Região dos Lagos, Sobradinho – Brasília – DF - CEP: 73255-900 Tel.: 61- 9124-6315 – E-mail: [email protected] DEDICATÓRIAS Dedico esta obra aos meus filhos Davi e Gabriela, meus pais, Antonino e Itacy, minhas irmãs Ana Cristina, Ana Patrícia e Rejane, meu irmão Anthony e minha prima Débhora, que proporcionou a estrutura necessária para que eu pudesse escrever. Paulo Henrique Feijó Ao meu pai Paulo (in memoriam) e minha mãe Maria Lucia pelo exemplo de vida e imenso esforço dedicado à minha formação educacional, minha irmã Christianne, amiga de todas as horas, meus amigos deste mundo e aos que já estão no mundo espiritual. À minha amada esposa Patrícia, que não divide uma vida comigo e sim multiplica a nossa felicidade. Pelo amor, companheirismo, incentivo e compreensão da ausência do convívio, necessária à dedicação desta obra. Ao meu enteado Gustavo, que tem nesta obra exemplo de dedicação para buscar um futuro brilhante e promissor. À minha filha Maria Eduarda, meu coração que bate fora do corpo. Um presente enviado pelo Criador que me fez sentir um amor diferente de tudo, etéreo, incondicional. Carlos Eduardo Ribeiro AGRADECIMENTOS Primeiramente, agradecemos a Deus pela dádiva de poder compartilhar conhecimentos por meio dessa obra. Se existe hoje o Plano de Contas Aplicado ao Setor Público (PCASP) é porque um grupo de abnegados acreditou que seria possível. Neste sentido agradecemos a todos os integrantes do Grupo Técnico de Procedimentos Contábeis (GTCON) e, em especial, àqueles que participaram das reuniões do subgrupo para elaboração do plano de contas. Nossa gratidão também às servidoras da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) que organizavam as reuniões, Damiana Lacerda Soares, Elecilda Lima Franco, Doris Neide de Area Leão Araújo e Maria Amélia Fonseca Lemos. Temos o dever de reconhecer o trabalho da Gerência de Normas de Contabilidade (CCONT) da STN, que no início dos trabalhos (2008) teve a equipe técnica composta por Allan Lúcio Sathler, Daniel Mateus Barreto, Donade Leal de Andrade, Heriberto Henrique Vilela do Nascimento, Jean Cácio Quirino de Queiroz, Rosilene Oliveira de Souza e Welinton Vítor dos Santos, sob a coordenação do contador Francisco Wayne Moreira. Tão importante quanto aqueles que iniciaram são os que ajudaram a consolidar, e em 2011 e 2012 integraram a equipe: Aldemir Nunes da Cunha, Antonio Firmino da Silva Neto, Arthur Lucas Gordo de Sousa, Bento Rodrigo Pereira Monteiro, Bruno Ramos Mangualde, Flávia Ferreira de Moura, Henrique Ferreira Souza Carneiro, Janyluce Rezende Gama. Ao longo do processo de construção e consolidação do PCASP na coordenação estiveram, cada uma ao seu tempo, Roberta Moreira da Costa Pereira e Selene Peres Peres Nunes. Sem a dedicação de todos vocês este livro jamais existiria. Agradecemos ainda, pelo apoio na revisão dos textos, aos colegas Bruno Ramos Mangualde, Jorge Pinto de Carvalho Júnior, Liane Ferreira Pinto e Mário Jorge de Queiroz Gonçalves. SUMÁRIO Prefácio ........................................................................................................................................................................................................................ 13 Apresentação....................................................................................................................................................................................................... 17 Visão Geral do Livro .................................................................................................................................................................................. 21 1 Em Busca do Plano de Contas Nacional..................................................................................................... 25 1.1 Plano de Contas no Brasil e no Mundo................................................................................................... 27 1.2 O Sonho de um Padrão Nacional de Contabilidade para o Brasil ................ 30 1.3 Aspectos Gerais do Plano de Contas da Administração Pública Federal.......31 Exercícios de Fixação .......................................................................................................................................................... 42 2 Nasce o Plano de Contas Aplicado ao Setor Público - PCASP................................ 45 2.1 Diretrizes e Objetivos do PCASP ........................................................................................................................ 47 2.2 Definição da Estrutura das Classes do PCASP .......................................................................... 48 2.3 A Reorganização das Classes do PCASP ............................................................................................. 56 2.4 O “novo” Conceito de Natureza de Informação .......................................................................... 58 2.5 A Publicação do Plano de Contas Único da Federação ................................................. 61 Exercícios de Fixação .......................................................................................................................................................... 63 3 Estrutura e Funcionamento do Plano de Contas Aplicado ao Setor Público - PCASP................................................................................................................................................................................. 65 3.1 Diretrizes, Composição e Objetivos do PCASP ........................................................................... 67 3.2 Estrutura Básica do PCASP ...................................................................................................................................... 69 3.3 Funcionamento do PCASP........................................................................................................................................... 77 3.4 O Controle por Conta Corrente ............................................................................................................................ 86 3.5 Variações do PCASP .............................................................................................................................................................. 87 Exercícios de Fixação .......................................................................................................................................................... 89 4 Controles do Planejamento: PPA e PLOA ................................................................................................. 91 4.1 Conceitos Básicos sobre os Instrumentos de Planejamento do Governo........ 93 4.2 Controles da Aprovação e Execução do Planejamento no PCASP ............... 97 4.3 Controles do PPA ....................................................................................................................................................................... 98 4.4 Controles do PLOA ............................................................................................................................................................... 106 Exercícios de Fixação ...................................................................................................................................................... 112 5 Controles do Orçamento do Exercício ........................................................................................................ 115 5.1 Controles da Receita ........................................................................................................................................................ 119 5.2 Controles da Despesa..................................................................................................................................................... 125 Exercícios de Fixação ...................................................................................................................................................... 148 6 Controles dos Restos a Pagar ................................................................................................................................. 151 6.1 Controles da Inscrição e Execução dos Restos a Pagar no PCASP ....... 153 6.2 Restos a Pagar Não Processados ............................................................................................................... 155 6.3 Restos a Pagar Processados ............................................................................................................................... 163 6.4 Restos a Pagar de Exercícios Anteriores ......................................................................................... 169 Exercícios de Fixação ...................................................................................................................................................... 171 7 O Controle da Despesa “em Liquidação” no PCASP ........................................................... 173 7.1 Em que momento nasce um passivo? .................................................................................................. 175 7.2 Diferença entre os Conceitos de Financeiro e Circulante...................................... 176 7.3 Compatibilização no PCASP do conceito de Passivo sob as óticas Patrimonial e Orçamentária ................................................................................................................................. 178 7.4 O Registro contábil da Fase Em liquidação .................................................................................. 180 7.5 Exemplos de Registro da Despesa Em liquidação ............................................................ 181 7.6 A Despesa em Liquidação e os Restos a Pagar .................................................................... 184 Exercícios de Fixação ...................................................................................................................................................... 186 8 O Controle do Superávit Financeiro no PCASP .......................................................................... 189 8.1 O que é Superávit Financeiro .............................................................................................................................. 191 8.2 Controle do superávit financeiro por meio de atributo da conta no PCASP.............................................................................................................................................................. 195 8.3 Controle do Superávit/Déficit Financeiro por Fonte/Destinação de Recursos ........................................................................................................................ 198 8.4 Acompanhando o Superávit Financeiro em Tempo Real ......................................... 200 8.5 Entendendo os Controles das Disponibilidades por Fonte/Destinação ................................................................................................................................................................... 201 8.6 Exemplo Prático e Simplificado de Controle do Superávit Financeiro .......... 208 Exercícios de Fixação ...................................................................................................................................................... 219 9 Controles da Programação Financeira: Uma Proposta Adequada ao PCASP .............................................................................................................. 221 9.1 Visão Geral da Programação Financeira .......................................................................................... 223 9.2 Contas de Controle da Programação Financeira................................................................. 228 9.3 Cotas Decorrentes do Orçamento ............................................................................................................... 230 9.4 Repasses Decorrentes do Orçamento .................................................................................................. 237 9.5 Sub-repasses Decorrentes do Orçamento..................................................................................... 241 9.6 Proposta de Operacionalização da Programação Financeira.......................... 246 Exercícios de Fixação ...................................................................................................................................................... 249 10 Consolidação das Contas Públicas no PCASP .............................................................................. 251 10.1 Contexto Histórico da Consolidação das Contas Públicas no Brasil ........ 253 10.2 Contexto Histórico das Competências da STN para a Consolidação das Contas Públicas ............................................................................................... 255 10.3 Consolidar não é Somar ....................................................................................................................................... 257 10.4 A Abrangência da Consolidação .............................................................................................................. 258 10.5 Objetivos da Consolidação ................................................................................................................................ 259 10.6 A Consolidação das Estatísticas Fiscais ..................................................................................... 259 10.7 A Influência da Consolidação na Estrutura das Contas do PCASP........ 260 10.8 O Registro Contábil e o Processo de Consolidação................................................... 261 10.9 A Lógica da Consolidação no PCASP ............................................................................................... 268 Exercícios de Fixação ................................................................................................................................................ 270 11 Lançamentos Contábeis Padronizados .................................................................................................... 273 11.1 Contexto ......................................................................................................................................................................................... 275 11.2 Estrutura dos Lançamentos Contábeis Padronizados (LCP)...................... 277 11.3 Estrutura do Conjunto de Lançamentos Contábeis Padronizados (CLP)..... 279 11.4 Exemplos Práticos de Utilização da Codificação dos LCP e CLP .............. 281 Exercícios de Fixação ................................................................................................................................................ 295 12 Estudo de Caso – Práticas de Lançamentos Contábeis ................................................ 297 12.1 Introdução ................................................................................................................................................................................... 299 12.2 Informações Gerais ...................................................................................................................................................... 301 12.3 Informação Orçamentária por Órgão e Consolidada............................................... 305 12.4 Lançamentos Típicos do Setor Público......................................................................................... 309 Apêndice – Lista das Contas do PCASP Federação............................................................................ 359 Avaliação do Aprendizado ............................................................................................................................................................ 373 Gabarito dos Exercícios de Fixação.............................................................................................................................. 382 Referências......................................................................................................................................................................................................... 383 PREFÁCIO Recebi o honroso convite do meu amigo Paulo Henrique Feijó para apresentar este livro ao leitor, com a sugestão para que eu tecesse alguns comentários sobre o processo de construção do novo plano de contas nacional (PCASP), período histórico para a Contabilidade Aplicada ao Setor Público (CASP). A autoria desse novo livro Feijó dividiu com o professor Carlos Eduardo Ribeiro. Além do privilégio de prefaciar a obra, esse convite me possibilitou ser um dos primeiros a ter a oportunidade de fazer a leitura do seu conteúdo, que, na minha opinião, será de extrema utilidade para todos os profissionais e estudantes que queiram conhecer como ocorreu o processo de convergência da Contabilidade Aplicada ao Setor Público do Brasil às normas internacionais de contabilidade, principalmente a construção da estrutura e forma de utilização do novo PCASP. A construção do plano de contas nacional teve no papel principal a Coordenação-Geral de Contabilidade da Secretaria do Tesouro Nacional (STN), a partir de 2012 alçada a subsecretaria, com a participação dos Tribunais de Contas e demais entidades representativas de estados e municípios, que se reuniram inúmeras vezes no âmbito do Grupo Técnico de Padronização de Procedimentos Contábeis (GTCON), instituído pela Portaria STN/MF nº 136, de 6 de março de 2007. A primeira reunião do subgrupo do GTCON para tratar do plano de contas, da qual tive a oportunidade de participar, ocorreu em dois dias, 23 e 24 de agosto de 2007, e os registros dos encaminhamentos deliberados naquelas datas demonstram o longo caminho que havia a ser percorrido para se obter um plano de contas que alcançasse os objetivos traçados para o grupo. Buscava-se, inicialmente, conhecer melhor a situação vivenciada pelos entes da Federação, pesquisando, por exemplo, qual a estrutura do plano de contas e quais os sistemas informatizados utilizados pelos Estados, Distrito Federal e Municípios – do Serviço de Processamento de Dados Federal e Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Serpro/Siafem), de empresas privadas ou desenvolvidos pelas próprias unidades federativas. Propôs-se então elaborar um arquivo comparativo dos planos de contas, em colunas separadas que incluíssem as contas usadas pelos Municípios, Estados/DF, União e o Plano de Contas Nacional. Na condição de contador-geral do Estado de Santa Catarina e um dos representantes do Grupo de Gestores das Finanças Estaduais (Gefin) no GTCON, pude participar até o final de 2010 dos debates realizados para a construção do PCASP e sou testemunha do grande trabalho 13 que foi realizado, devidamente registrado no livro pelos autores, bem como da relevância do mesmo para a melhoria contínua do processo de consolidação das contas nacionais. A iniciativa da STN com a constituição do GTCON, e Feijó exerceu um papel fundamental nesse processo, não teve como resultado único um novo plano de contas e os diversos manuais publicados. Foi muito mais importante para o Brasil, pois consolidou um fórum de debates relacionado com a contabilidade e as finanças públicas, em que se reúnem profissionais que atuam na União, nos Estados, Distrito Federal e nos Municípios, das áreas de execução contábil e de controle interno e externo, aproximando mais os Tribunais de Contas do debate prévio do processo contábil, o que não era muito comum até então. É inegável que, em termos contábeis, durante muitos anos predominou no Brasil a cultura orçamentária, em detrimento do enfoque patrimonial. Assim, como não poderia ser diferente, nas reuniões e em todos os trabalhos destinados à construção do PCASP muito se debateu quanto à necessidade de separar o “mundo contábil” do “mundo orçamentário”. Os autores relatam o resultado da decisão obtida pelo GTCON e a forma alcançada para conseguirmos ter o registro da receita e da despesa sob o enfoque patrimonial, sem a “contaminação” orçamentária. Nas reuniões do GTCON nem sempre tivemos unanimidade, muito ao contrário, os debates eram acalorados, e restava a impressão de que a STN ouvia as sugestões dos participantes, mas se reservava o direito de dar a palavra final nos assuntos mais polêmicos. Com o tempo percebemos que não poderia ser muito diferente disso, pois não é fácil ter consenso sobre questões antigas, mas complexas, como o tratamento a ser dado no plano de contas para os restos a pagar, tampouco em questões novas para a contabilidade pública, como o registro contábil da depreciação, da reavaliação, das provisões, dos bens de uso comum do povo e a contabilização das etapas do planejamento orçamentário. Desde então as novas rotinas contábeis estão sendo desenvolvidas, aos poucos, por alguns entes da Federação e servindo de modelo para os demais. Nesta obra os autores nos brindam com uma proposta de rotinas contábeis para o registro do plano plurianual, que foi inspirada a partir da generalização das rotinas que serão implementadas pelo Estado do Rio de Janeiro a partir de 2014. De forma muito didática e com exemplos práticos, o livro nos leva a compreender a estrutura e o funcionamento das contas que integram o PCASP, a dinâmica dos registros contábeis, a diferenciação entre as receitas e as despesas orçamentárias das variações patrimoniais e seus reflexos no resultado, bem como as contas utilizadas para o controle patrimonial e para o gerenciamento e controle do planejamento e da execução orçamentária. O leitor perceberá ainda que o PCASP foi estruturado para atender a todas as necessidades de informações, sejam elas de natureza patrimonial (classes 1, 2 3 e 4), de natureza orçamentária (classes 5 e 6) ou de natureza típica de controle (classes 7 e 8). Há algum tempo, quando Feijó me ligou informando que estaria deixando de atuar na STN para exercer novas atividades no Estado do Rio de Janeiro, brinquei que ele estaria 14 passando para “o outro lado do balcão” e que iria perceber as dificuldades dos entes para implementar essas novas rotinas contábeis, devido à estrutura de pessoal e de sistemas informatizados que dispõem, principalmente, os estados e municípios menores. Acredito que essa experiência (do outro lado do balcão) incentivou-o a elaborar esta obra, que é mais uma ferramenta para auxiliar a todos os profissionais que estarão debruçados sobre os estudos para a implementação das novas rotinas contábeis e do PCASP. Por fim, cabe destacar que ao longo dos debates do processo de construção do PCASP, em suas apresentações nos cursos e palestras relacionados ao processo de convergência, Feijó sempre apresentava um slide com o título “O momento exige ousadia”, com a seguinte citação do escritor alemão Goethe: “Se você pensa ou sonha que pode, comece. Ousadia tem poder, genialidade e mágica. Ouse fazer e o poder lhe será dado”. O sonho do plano de contas nacional se concretizou e os autores compartilham conosco nesta obra todo o seu enredo. Boa leitura. Wanderlei Pereira das Neves 15 APRESENTAÇÃO Além de contabilidade, vários assuntos relacionados com economia são do meu interesse, principalmente os que tratam do contexto histórico das finanças públicas. Nessa área um dos livros que recomendo para quem quer conhecer os bastidores do Plano Real é “3.000 Dias no Bunker - Um plano na cabeça e um país na mão”, de Guilherme Fiúza. Olhando para os seis anos em que estive à frente da contabilidade da União, poderia dizer que outro nome para o livro que ora apresento, fazendo um paralelo com a obra citada, seria: “Um plano na cabeça e a contabilidade nas mãos”. Quando assumi a Coordenação-Geral de Contabilidade da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) em 2006, localizei nos arquivos do contador Isaltino Alves da Cruz textos que remetiam para a criação de um plano de contas nacional. A ideia de que um dia o país teria um plano de contas para a Federação estava tão disseminada que me lembro de ter encontrado em um clube de Brasília, por acaso, um grande amigo, Fernando de Freitas Melo, também contador, que trabalhava na setorial contábil do Ministério da Ciência e Tecnologia e, na sua ânsia de ver o plano virar realidade, ele logo me incentivou, dizendo que a criação do plano nacional deveria ser minha principal missão sob o comando da contabilidade da União. Obviamente, naquela época as diretrizes eram para que os entes passassem a utilizar, em algum momento, o Plano de Contas da Administração Pública Federal (PCAPF), que fazia parte do Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi), sistema reconhecido internacionalmente como um referencial em contabilidade. A implantação de um plano de contas nacional já estava sendo gradativamente realizada mediante a exigência, por parte de alguns Tribunais de Contas, de que a escrituração contábil dos jurisdicionados adotasse plano de contas padronizado que normalmente seguia o plano federal. Também desde 2003 o Ministério da Previdência vinha tentando obrigar os Regimes Próprios de Previdência Social (RPPS) a utilizarem o padrão contábil da União em cumprimento à Portaria nº 916/2003, que aprovou o plano de contas, o manual das contas, os demonstrativos e as normas de procedimentos contábeis aplicados aos RPPS. Na prática, isso somente ocorreu de forma obrigatória para todos os RPPS a partir de 2008. Assim, tudo conspirava para que o plano de contas da União se tornasse o do setor público brasileiro. Mas parodiando Carlos Drummond de Andrade, “No meio do caminho tinha o GTCON, tinha o GTCON no meio do caminho”. Nessa construção, o GTCON não foi uma pedra qualquer, foi uma espécie de “pedra da salvação”. Seu significado e importância estão 17 mais detalhados no primeiro livro da série “Entendendo CASP”, publicado em agosto de 2013 e cujo título é “Entendendo as Mudanças na Contabilidade Aplicada ao Setor Público”. No entanto, aqueles que ainda não leram a obra podem se perguntar: O que é o GTCON? O Grupo Técnico de Procedimentos Contábeis (GTCON) foi criado pela STN e tem o objetivo de discutir regras e procedimentos contábeis no âmbito do setor público, dentre os quais, no início de suas atividades, o de criar o plano de contas nacional. O grupo nasceu da conjunção de várias convicções: Ninguém é dono da verdade. A equipe de contabilidade da STN sempre foi formada por excelentes profissionais e as notas técnicas emanadas pela entidade se tornaram referência para toda a Federação. Mas nos demais entes existem também pessoas muito capacitadas, que podem contribuir para o processo de padronização contábil do país. Incentivo ao processo criativo. Por mais que o modelo da União fosse um bom referencial, o balzaquiano plano de contas federal seria o melhor para os próximos 40 anos? Era preciso exercer um processo crítico e criativo no desenvolvimento de um novo plano aderente ao processo de convergência às normas internacionais e ao que se espera da contabilidade para as décadas seguintes. Teoria do Pertencimento. Toda mudança de cultura é um desafio por si só e quando se trata de contabilidade, que é ciência social, maior ainda. Implantar a padronização de procedimentos contábeis em toda a Federação deveria ser um processo para o qual outros atores, tão importantes quanto a STN, pudessem contribuir de forma ativa, de maneira que seus representantes se sentissem partícipes do processo de mudança. Decisões democráticas tendem a ser menos questionadas. Impor mudanças num ambiente federativo em que todos são, de alguma forma, independentes não é um processo simples e tende a não ser duradouro. Não era rara a publicação de atos normativos de Tribunais de Contas que impediam ou tornavam sem efeito a aplicação de determinados artigos de portarias emanadas pela STN, que normalmente eram publicadas sem debate prévio. Assim, acredito que decisões em fóruns democráticos, embasadas em princípios técnicos, tendem a ser mais duradouras. Tudo isso, juntamente com a experiência que tive na incorporação do Tesouro Nacional aos mecanismos do Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB), ao ter a oportunidade de participar do Grupo de Técnico de Mensagens (GT Mensagens), fez com que eu tomasse a decisão de propor a criação do GTCON. Instituído em março de 2007, o GTCON teve sua primeira reunião em junho do mesmo ano. A ideia inicial era copiar a periodicidade (semestral) e o estilo das reuniões do GT Mensagens, mas logo as reuniões ganhariam sua própria dinâmica e começaram a surgir demandas de pessoas que, mesmo sem integrar o grupo, queriam colaborar com 18 o processo. Uma sábia decisão foi deixá-las participar sem direito a voto, pois as reuniões seguintes acabariam por demonstrar que os “convidados” muitas vezes contribuíam mais do que alguns técnicos indicados pelas instituições para o grupo. O GTCON definiu como uma de suas prioridades a construção do plano de contas nacional. Assim, a segunda reunião foi dedicada exclusivamente à discussão do novo plano. Foram dois dias intensos de debates em agosto. Ali nasceu a ideia de se criar um subgrupo específico para tratar somente deste assunto. Esse subgrupo se reuniu pela primeira vez no final de agosto, e depois nos meses de outubro e novembro de 2007. Outras reuniões do subgrupo aconteceram ao longo do primeiro semestre de 2008 e foram dando forma ao PCASP. Os dois primeiros capítulos deste livro falam do sonho desse plano de contas nacional e da evolução do PCASP desde a primeira versão aprovada pelo GTCON. As decisões democráticas demoram mais e no começo dos trabalhos, às vezes, parecia que não se obteria resultado diante dos debates. Tanto assim que alguns integrantes do grupo me procuravam, em particular, para dizer que a STN estava “muito democrática”. Lembro ainda que, anos depois, um servidor do Tribunal de Contas de Santa Catarina informalmente me falou que, no início das discussões, pensava que as reuniões não iriam dar em nada.. No entanto, sempre acreditei que o processo criativo juntamente com a Teoria do Pertencimento teriam êxito. Nunca esqueço a constatação prática da Teoria do Pertencimento, que aconteceu quando a servidora do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais, indicada pela Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil (Atricon) para integrar o GTCON, Conceição Aparecida Ramalho França, numa das discussões do Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (MCASP), questionou: “Mas nós vamos colocar isso no nosso manual?!” Antes os manuais eram da STN, depois do GTCON e, por fim, o MCASP era de todos! O GTCON foi primordial, mas o comprometimento e a dedicação da pequena equipe da Coordenação-Geral de Contabilidade foram fundamentais para que alcançássemos nosso objetivo. Afinal, todo o material era previamente preparado para que as discussões transcorressem da forma mais objetiva. Na maioria das vezes, o GTCON validava proposta trazida pela equipe técnica da STN. A batalha foi grande, as discussões inúmeras, mas o fato é que o PCASP hoje é uma realidade apesar de sua obrigatoriedade ter sido prorrogada. Escrever sobre este marco para a contabilidade do setor público brasileiro tem o objetivo de demonstrar seu funcionamento e deixar o registro histórico, que explica muitas de suas características. Neste momento, ao ver esta obra completa e o PCASP funcionando em mais de 2.000 municípios e alguns estados da Federação posso dizer: O futuro chegou! Paulo Henrique Feijó 19 VISÃO GERAL DO LIVRO Esta obra se encontra estruturada em 12 capítulos. Nos dois primeiros, busca-se trazer a público o processo histórico da construção de um plano de contas único e o caminho percorrido para chegar neste momento tão importante de renascimento da Contabilidade do Setor Público no Brasil. Nos demais capítulos, há uma abordagem operacional da aplicabilidade do PCASP em temáticas inovadoras para toda a Federação, algumas já conhecidas do Governo Federal, e outras totalmente novas para a maioria dos Estados e Municípios, e o Distrito Federal. O Capítulo 1 apresenta o início da estruturação do plano de contas padronizado e a pesquisa de modelos já adotados por outros países que servissem de base para a construção do plano nacional. Além da experiência internacional se aborda a importância do Plano de Contas da Administração Pública Federal, utilizado pelo Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi). A revolução causada pelo processo de discussão entre profissionais de todo o país a partir da criação, pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN), do Grupo Técnico de Procedimentos Contábeis (GTCON), demonstra que o processo democrático é o melhor caminho para se chegar à excelência, mesmo que seja um processo mais demorado. E o GTCON foi fundamental neste processo. O Capítulo 2 discorre sobre o nascimento do PCASP, desde a primeira estrutura aprovada até se chegar ao modelo que já está funcionando em mais da metade dos municípios do país e deverá ser implementado por todos os entes da Federação até o final de 2014. A estrutura definitiva do PCASP, desmembrada e detalhada até o terceiro nível, é tratada no Capítulo 3, que aborda também a lógica dos registros contábeis dentro das naturezas de informação, dos registros de aprovação e de execução para as classes orçamentárias e de controle e alguns lançamentos básicos, para dar ao leitor uma visão geral das mudanças em curso. As novidades para controle do planejamento orçamentário são o tema do quarto capítulo, contendo uma proposta de rotina contábil para aprovação, execução e alteração do Plano Plurianual, que implementada resultará em grandes benefícios, tanto para o acompanhamento da gestão pública quanto para a prestação de contas. Outro assunto importante que este capítulo destaca é o controle do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA), desde a proposta inicial encaminhada ao Legislativo até a aprovação, passando por suas alterações. 21 O quinto capítulo versa sobre os controles contábeis do orçamento do exercício. Embora conceitualmente não apresente nenhuma novidade, o tratamento contábil dado diante da estrutura do PCASP ainda suscita dúvidas, principalmente nos que estão tendo um primeiro contato com o plano. O controle do crédito inicial, da previsão da receita e dos créditos adicionais, a descentralização de créditos e a execução da receita e da despesa são tratados com exemplos de lançamentos contábeis. O sexto capítulo foi reservado exclusivamente para as rotinas contábeis dos restos a pagar, assunto tão emblemático na gestão pública. Nele são apresentados aspectos conceituais e os lançamentos de inscrição, execução e cancelamento. O Capítulo 7 traz um assunto estritamente novo, a fase “Em Liquidação”. Como surgiu essa fase? Quando deve ser utilizada na execução orçamentária? Quais os seus fundamentos? É registrada e controlada depois de inscritos os restos a pagar? Para melhor compreensão, o tema é abordado de forma exemplificativa. É fato que a cultura orçamentária no Brasil valoriza a vinculação de receitas e isto se reflete na legislação pátria. A Lei de Responsabilidade Fiscal determina a individualização das disponibilidades de caixa. Por outro lado, o Manual de Contabilidade Aplicada ao Setor Público (MCASP) exige que o Balanço Patrimonial seja acompanhado de demonstrativo do superávit/déficit financeiro por fonte/destinação de recursos. Na prática, tudo isso resulta na obrigatoriedade de que os entes tenham o controle do resultado financeiro (superávit/ déficit) por fonte/destinação de recursos na contabilidade. Mas como fazer esse controle em tempo real? O Capítulo 8 explora a lógica criada para o controle das disponibilidades por destinação de recursos e sua contabilização nas classes de natureza de controle. A programação financeira tem grande importância para qualquer ente e é primordial para aqueles que fazem execução orçamentária e financeira descentralizada, necessitando ter mecanismos de controle da descentralização financeira. O Capítulo 9 aborda o assunto de forma teórica e prática, demonstrando quais os tipos de transferências existentes e exemplificando todas as suas fases: programação, solicitação, aprovação e liberação, além dos respectivos registros nas classes de controles devedores e credores. É, sem dúvida, um capítulo que mostra de forma objetiva e didática a importância da descentralização financeira e ajudará muito a sua implantação por quem ainda não a utiliza. O décimo capítulo trata da consolidação das contas públicas sob a perspectiva do PCASP, isto é, sob a ótica das informações de natureza patrimonial. Como devem ser registradas as transações intra e intergovernamentais? Há diferença para as operações que ocorrem entre entidades do mesmo ente? Os autores demonstram e exemplificam as regras de evidenciação contábil e a forma de utilização das mesmas no processo de consolidação. O Capítulo 11 explica os Lançamentos Contábeis Padronizados (LCP) e o Conjunto de Lançamentos Contábeis Padronizados (CLP). Quais suas estruturas de codificação? É 22 possível sua criação para todos os lançamentos ou apenas para os que são comuns a todos os entes? Com exemplos práticos abordando as lógicas de formação e a contabilização nas diferentes naturezas de informações, elucida-se assunto tão pouco explorado da rotina contábil. O último capítulo traz um estudo de caso englobando todo o conteúdo apresentado nesta obra. Um Estado fictício é criado e uma série de transações é realizada por órgãos que o compõem, como o registro do orçamento, a execução de receitas e despesas orçamentárias, transferências financeiras, controle do superávit financeiro por fonte de recursos, variações patrimoniais independentes da execução do orçamento, folha de pagamento simplificada, registros e execução de contratos. Neste capítulo, o leitor poderá ter contato com a contabilização de alguns atos e fatos típicos da Administração Pública e os impactos nas naturezas de informação. Essa estratégia mostra ao profissional da contabilidade a dimensão e importância dos registros e toda a grandiosidade do PCASP. Assim, ao final, espera-se que o leitor tenha uma visão das mudanças que o PCASP irá provocar na rotina da Administração, os desafios e estratégias para sua implantação e a melhoria da informação que trará para seus usuários. 23