Porter e a Estratégia da Nova Era Por Helton Haddad Tive a oportunidade de participar no dia 26/10/99 do seminário da HSM intitulado "The New Era of Strategy", ministrado pelo Professor Michael Porter, da Harvard University. O Prof. Porter é considerado o "papa" da estratégia empresarial, ainda hoje uma referência quando se fala no tema. Apenas como exemplo, vale citar que vários conceitos hoje disseminados e usuais no dia-a-dia empresarial são de sua autoria, como "estratégia competitiva", "cadeia de valor", "vantagem competitiva", etc. Como o próprio tema do seminário indica, o autor discorreu sobre o design e a prática das estratégias corporativas e empresariais nos nossos dias, bem como suas tendências para os próximos anos, já na perspectiva da primeira década do século 21. Segundo o Prof. Porter, nos últimos anos as empresas concentraram suas energias no redesenho operacional e na melhoria de processos, até como forma de enfrentarem uma crescente concorrência globalizada. Com isso, as estratégias empresariais foram deixadas para segundo plano, levando as empresas a se tornarem muito indiferenciadas entre si. Este fato, na prática uma ausência de um posicionamento mercadológico diferenciado claro, fez com que na maioria dos ramos a concorrência ficasse extremamente acirrada, pois, para o cliente, como não há mais diferenças entre as empresas, opta-se pela empresa que oferecer o menor preço, ou ainda outras vantagens ligadas ao menor custo (obviamente com impactos negativos na rentabilidade destes negócios). A saída para isso, na visão do Prof. Porter, está na busca da diferenciação e de estratégias competitivas e corporativas diferenciadoras, que gerem um posicionamento claro e único, permitindo assim uma maior competitividade e maiores lucros - mesmo que esta forma de trabalho implique na exclusão de alguns segmentos de mercado. Um comentário crítico: é interessante perceber que o Prof. Porter se atém aos seus conceitos básicos, conforme estes vêm sendo desenvolvidos por ele mesmo desde 1980. Isso não significa que não se leva em conta a realidade atual; pelo contrário, um dos pontos altos de sua apresentação foram os seus comentários sobre o uso da Internet e suas implicações estratégicas. Mas estes conceitos são os mesmos porque, segundo o próprio Porter, constituem os "fundamentals" da estratégia, ou seja, são conceitos básicos testados e comprovados. Na nossa visão prática de Marketing, sendo o desenvolvimento da estratégia um dos pontos fortes do trabalho que o SMG vem desenvolvendo nos últimos 10 anos, consideramos que o Prof. Porter está correto em entender a diferenciação e a busca de um posicionamento único como os pontos fundamentais do design e da prática de uma estratégia. Contudo, vale frisar que na realidade brasileira há ainda muito espaço para a melhoria operacional e de processos, de modo que não basta fazer com que nossas empresas tenham estratégias únicas - elas também precisam saber realizar a implantação adequada e gerenciada destas estratégias, de forma a alcançar os resultados almejados muitas vezes o SMG também encontrou empresas com excelentes estratégias, mas com operações falhas! Daí a nossa forma de trabalhar procurar integrar não apenas a revisão e o design de estratégias, mas também a sua implantação através de ações de marketing e o efetivo acompanhamento, avaliação e controle dos resultados obtidos. Porter ainda criticou os autores mais recentes no campo da estratégia empresarial, por exemplo: indo frontalmente contra o conceito de "competências essenciais" (ou "core competences", conceito trabalhado por Gary Hamel e C.K. Prahalad). Aqui somos obrigados a trazer uma visão crítica do SMG, advinda da prática: em muitos casos de clientes nosso, utilizamos outros conceitos além dos desenvolvidos pelo Prof. Porter, com bastante sucesso (inclusive o conceito de "competências essenciais", usado com ótimos resultado práticos em clientes que precisavam de uma nova definição de foco em seus negócios). Na opinião do SMG, realmente os conceitos fundamentais foram e continuam sendo os do Prof. Porter. Mas desenvolvimentos teóricos recentes sobre estratégia (testados pelo SMG na prática) indicam que uma visão mais eclética, crítica e adaptável ao contexto específico de cada empresa parece ser a tendência para o trabalho do estrategista e do praticante de marketing no ano 2000 e além. Na finalização do evento, o Prof. Porter utilizou os conceitos de seu outro livro mais recente, chamado "Vantagem Competitiva das Nações", realizando alguns comentários duros sobre a situação brasileira na globalização e sobre como nossos empresários deveriam pressionar mais o Governo e a sociedade na busca de mudanças que direcionassem o Brasil a ser mais competitivo. Consideramos que seus comentários foram pertinentes (mereceram até um pequeno artigo na revista Exame de 03/11/99, edição 700, pg. 24, com o sugestivo título "O pito de Porter"...), mas também sabemos que a realidade político-econômica do Brasil é muito mais complexa do que seus comentários poderiam abarcar (afinal, a prática do dia-a-dia de empresários brasileiros, que nós do SMG também enfrentamos, é uma aventura que apenas vivida diretamente pode ser compreendida - que nos perdoe Mr. Porter!). Enfim, o evento foi bastante proveitoso, não só por tocar em temas polêmicos, mas também por aperfeiçoar nossos conhecimentos e confirmar que o SMG se encontra atualizada e pronta para a enfrentar a "nova era da estratégia", sem a arrogância de achar que sabemos tudo - nada melhor que uma boa teoria que funcione na prática, esta sempre foi e continua sendo a nossa crença.