DINHEIRO RURAL | 23/03/2010 A nova era canavieira Maurílio Biagi Filho* O setor sucroenergético está entrando numa era de diversificação que se caracteriza pela oferta de novos subprodutos da Saccharum officinalis, a popular cana-de-açúcar. Além do velho açúcar e do emergente etanol – e sem esquecer a cachaça, o melado e a rapadura –, a célula-mater da agricultura brasileira já gera bioeletricidade (do bagaço), plásticos verdes, biodiesel e hidrocarbonetos de baixo carbono. E outros derivados virão. Diante de alternativas tão ricas, não faz sentido dramatizar problemas transitórios como a queima de palha de cana e as filas nos terminais de exportação de Santos. Fora dos meses críticos de estiagem, as queimadas estão longe de ter a dimensão de antes. Hoje a queima controlada ocorre mais em canaviais independentes. Mais de 70% da cana própria produzida pelas usinas do Estado de São Paulo são colhidos mecanicamente. Fica no solo como adubo a palhada que, devido à seca, pode pegar fogo espontaneamente, sobretudo junto às rodovias. A longo prazo, com o crescente banimento do fogo nas atividades rurais, o problema caminha para a extinção. Quanto aos congestionamentos portuários, trata-se de um reflexo natural do crescimento da economia. Um bom problema, enfim. Felizmente o agronegócio é um dos motores da expansão do PIB brasileiro a mais de 7% ao ano. Até pouco tempo atrás, comemorávamos quando, num único mês, o embarque de açúcar chegava a um milhão de toneladas. Agora reclamamos quando os terminais de Santos apanham para escoar três vezes mais, como aconteceu em agosto passado. Pois bem, os recordes de exportação de açúcar tendem a se repetir por mais alguns meses, mas estamos na iminência de enfrentar um novo problema ligado à nova era canavieira. Em 2011, devido ao clima seco no último inverno, a produção de cana no Centro-Sul não deverá passar dos 600 milhões de toneladas deste ano, segundo dados da UNICA. Provavelmente teremos uma safra menor do que a de 2010. Com menos matéria-prima, como produziremos mais açúcar e etanol para atender a uma demanda que cresce e se diversifica no Brasil e no exterior? É aí que mora o perigo. Açúcar à parte, temos de ter em mente que o etanol brasileiro é parte da solução para muitos países que buscam adicionar à gasolina um combustível de fonte renovável. Não tenhamos a pretensão de ser a grande saída mundial, pois não temos pernas para isso. Muitos países buscam alternativas caseiras para a produção de biocombustíveis e, por isso, investem em pesquisas para produzi-los a partir de resíduos rurais e urbanos. Ao mesmo tempo, tendem a seguir protegendo seus próprios produtores de etanol, tal como fazem os EUA (fazendo álcool de milho) e os países europeus (beterraba). Entretanto, como as barreiras tarifárias não são eternas nem intransponíveis, o Brasil deve ser pragmático e fazer a lição de casa o quanto antes. Para ocupar as brechas que surgirem, o setor sucroenergético precisa adicionar inovação à qualidade nas áreas agrícola, industrial, de logística e comércio internacional. Além de investir em tecnologias sustentáveis para fazer biocombustíveis, formando estoques reguladores que ajudem a manter estáveis os preços, não devemos esquecer o recente (13/9/2010) reconhecimento do jornal londrino Financial Times: por enquanto, a cana é a melhor alternativa mundial de produção de etanol. * Como empresário, é Presidente da MAUBISA e da Bioenergética Aroeira, e membro de diversos Conselhos, entre eles, do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da RepúblicaCDES, de Administração da União da Indústria da Cana-de-Açúcar, de Estratégias da Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústria de Base-ABDIB, dos Conselhos Superiores, do Agronegócio – COSAG e do Meio Ambiente-COSEMA, da FIESP, do Conselho Nacional de Máquinas, da ABIMAQ, e outros.