SALAZAR OS PARTIDOS E O PARLAMENTO “Eu não tenho horror aos partidos, dum modo geral; tenho horror ao partidarismo em Portugal. (…) Em Portugal, porém, esses agrupamentos formam-se à volta de pessoas, de interesses mesquinhos, de apetites, e para satisfazer esses interesses e esses apetites”. (Salazar – O Homem e a Sua Obra por António Ferro, 1933, pág. 140) Alguma ilação se pode retirar dos factos, ainda que para isso tenhamos que acreditar na verdade. Salazar foi ou não frontalmente contra as formações partidárias? Claramente… Não! Quando as conveniências falam mais alto, e está na ordem do dia a cultura dos interesses, tudo serve para turvar a verdade, “ A Inglaterra vive, pode dizer-se, há séculos com os seus dois partidos alternando-se no poder, e até ao presente tem-se dado bem com isso”. Tal como em relação à auto-determinação dos povos, também no que se refere à terapêutica a aplicar a uma nação doente, retalhada, Salazar, defendia que para cada povo havia de ser encontrada a receita adequada, “A educação cívica do povo leva as massas a deslocarem-se entre os dois [partidos], levadas por grandes movimentos de ideias, ou por grandes aspirações, ou necessidades nacionais”. E quanto ao seu profundo anti-parlamentarismo? “Eu sou de facto, profundamente anti-parlamentar porque detesto os discursos ocos, palavrosos, as interpelações vistosas e vazias, a exploração das paixões não à volta duma grande ideia, mas de futilidades, de vaidades, de nadas sob o ponto de vista do interesse nacional”. Estas duas formas de expediente democrático, revestidas do maior despesismo e desperdício relativamente à utilidade e como factor de produtividade, encontraram na nova organização do País, no primeiro caso, a possibilidade de reconversão num único pensamento, a mesma doutrina, em tudo o que poderia defender o interesse geral, a União Nacional, órgão de propagando do regime. O Partido era a Nação! No segundo, a representação de todos os quadrantes da sociedade, de forma orgânica. Para o funcionamento real da Nação, Salazar via no Conselho de Ministros, o seu efectivo parlamento. Em Portugal conferem-se aos deputados tais poderes, que tornam os governos reféns e paralisam toda a actuação. Quando na realidade os deputados não representam o interesse nacional; são actores duma tragédia que deliberadamente constroem. São matéria intelectual espúria e casuística. A generalização tem os seus perigos, mas podemos para fazer alguma justiça, dividir estes mestres da encenação em três categorias: criminosos, ingénuos e dissimulados. O “clubes parlamentares”, que funcionam como tertúlias, apenas, e que nós alimentamos, são um hino à nossa resistência intelectual e ao nosso discernimento. Inundam as mentes dos mais incautos com paraísos virtuais, delegam nos propagandistas / procuradores de interesses, a disseminação dos enredos. Se não fosse pela actualidade, mais pareceriam campos de fósseis. Nos tempos modernos com toda a informação ao minuto, não faz sentido enclausurar por horas a fio tanta inteligência, quando bastava tê-los interligados ao segundo, através de pulseira electrónica, para se pronunciarem sobre os temas para os quais os governos precisassem de alibi. Isto na democracia portuguesa, obviamente, que produz governos irresponsáveis e intercalares. Estes, são governos marginais ao interesse nacional, que se alimentam da boa-fé das pessoas. Ganham pelo cansaço, e quando na posse de todo o poder, matam. Em nome do interesse público, os partidos políticos, e todas as formações politizadas, deveriam ser extintos, e a assembleia da república deveria ter critérios de seriedade na admissão dos seus clientes. Ser-se político não tem que ser sinónimo de coisa má. Em Portugal tem uma conotação negativa pela qualidade da política que se produz, porque “Em Portugal, porém, esses agrupamentos formam-se à volta de pessoas, de interesses mesquinhos, de apetites, e para satisfazer esses interesses e esses apetites”. João Gomes 2014-12-13