(GXFDomRFLrQFLDHWHFQRORJLD3URFXUDUVHUJUDQGH &DUORV0HVTXLWD0RUDLV Tenho mantido, e penso que devo continuar a manter, nos títulos das reflexões mensais apresentadas neste jornal as palavras educação, ciência e tecnologia. Faço-o por considerar que estas palavras constituem em si próprias metas que nos desafiam a atingi-las com prazer. Sinto que é através da educação que cultivamos de modo consensual as mudanças sociais, que é com a ciência que as justificamos e as podemos desenvolver com alguma isenção, e que é com a tecnologia que, geralmente, aceleramos e encurtamos o tempo que nos leva a atingir os objectivos desejados. Este apelo à educação, à ciência e à tecnologia não é mais do que um pequeno contributo para que o significado destas palavras possa alimentar parte do sentido que cada pessoa atribui à vida e à relação com os outros. Nesta fase acesa que antecede as eleições gostaria de sentir nos partidos a preocupação com os modos de conseguirem dar resposta aos grandes problemas e objectivos nacionais, em vez do insulto e da individualização das preocupações comuns. É bom admitir que os grandes problemas nacionais devem ser, não só identificados por todos os partidos, como também todos devem procurar resolvê-los. No entanto, o que me parece aceitável é que cada partido se sinta mais capaz do que os outros para os resolver, apresentando as linhas orientadoras para o conseguir fazer, e a partir daí o povo, através do voto, que julgue. Onde está o mal se todos os partidos assumirem com grande empenho que querem melhorar de forma exemplar e consistente o sector primário (agricultura e pecuária, …), o sector secundário (indústria, …) e o sector terciário (serviços, …). Digam-nos o que querem melhorar e de que forma o pensam fazer. Não será esse querer fazer e a forma como o querem fazer que leva as pessoas a optar por um partido e não por outro. Já não é o nome da fruta que garante a sua qualidade. Já não é o nome do partido que permite identificar quais serão as linhas orientadoras da sua actuação após assumir o poder. Nunca como hoje a esquerda se confundiu tanto com a direita e a direita tanto com a esquerda, por isso a partir do momento em que as siglas partidárias não são muito mais do que desenhos isentos de conteúdos, resta-nos apostar no valor das pessoas que representam os partidos. Se classificarmos as pessoas em pequenas, médias e grandes, conforme o modo de gestão do seu tempo e a sua relação com os outros, como poderemos classificar muitas das pessoas que têm representado os partidos? Sem querer magoar ninguém e sabendo que todas as classificações são discutíveis, atrevo-me a dar uma pequena interpretação de cada tipo, com o único objectivo de contribuir para que cada pessoa faça algum esforço por ser grande. Consideramos pessoas pequenas as que despendem grande parte do seu tempo a identificar defeitos naqueles que as rodeiam, analisam esses defeitos, divulgam-nos e nada fazem para os corrigir. Designamos por pessoas médias as que ocupam a sua vida apenas com os seus assuntos, vivem o seu mundo de forma coerente e com respeito pelos outros, mas ignoram completamente o seu papel na sociedade, enfatizando acima de tudo “eu” e os “meus”, sendo a sua própria vida o centro de todas as atenções. As pessoas grandes são aquelas que para além de viverem condignamente, com os seus e com os outros, fazem projectos pensados e consistentes, empenham-se na sua implementação e, acima de tudo, preocupam-se com o futuro da humanidade, considerando-se uma das suas peças integrantes, assumindo que tanto nos sucessos como nos fracassos sociais têm alguma responsabilidade. Desejamos que os políticos nos proponham projectos, que evitem o papel de pessoas pequenas e que contribuam para nos tornarmos pessoas grandes na construção de um todo colectivo que é superior à reunião das suas partes individualizadas. Morais, C. (2005). Educação, ciência e tecnologia: Procurar ser grande. 0HQVDJHLURGH%UDJDQoD, 28 de Janeiro de 2005, p.7.