Alim. Nutr., Araraquara v. 21, n. 2, p. 291-296, abr./jun. 2010 ISSN 0103-4235 AVALIAÇÃO DO CONSUMO DE FRUTAS, LEGUMES E VERDURAS POR ADOLESCENTES DE FORMIGA – MG E SUA RELAÇÃO COM FATORES SOCIOECONÔMICOS Keila Lopes MENDES* Leandro Pena CATÃO** RESUMO: Atualmente a população adolescente tem passado por uma transição nutricional que aumenta consideravelmente a prevalência da obesidade. Dentre as causas, encontra-se uma alimentação pobre em frutas, legumes e verduras. Diante disso, este trabalho teve por objetivo analisar o consumo de frutas, legumes e verduras por adolescentes do município de Formiga – MG, à luz da influência dos fatores socioeconômicos. Trata-se de um estudo observacional e transversal, realizado com 139 adolescentes entre 10 e 16 anos, de ambos os gêneros, regularmente matriculados em duas Escolas Municipais. A coleta de dados ocorreu por meio de um questionário socioeconômico, aplicado aos pais dos adolescentes, e um questionário de frequência de consumo alimentar, aplicado aos adolescentes. O consumo adequado de frutas deveria ser de 2,5 a 5,4 porções e o de legumes e verduras de 3,5 a 5,4 porções ao dia. Ao consumo foram relacionadas as variáveis: sexo, renda per capita e local de moradia. Constatou-se que a maioria dos adolescentes tinha um baixo consumo de frutas (79,1%), legumes e verduras (75,6%) e o consumo adequado de frutas ocorria apenas em 14,2% dos entrevistados e o de legumes e verduras em 13,4%. As variáveis sexo, local de moradia e renda per capita tiveram associação estatisticamente significante a este consumo. Concluiu-se que o consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes de Formiga – MG é baixo e com pouca freqüência, sendo que além da questão nutricional, também estão envolvidos os fatores econômicos e sociais. PALAVRAS-CHAVE: Transição nutricional; consumo alimentar; adolescentes; frutas e hortaliças. INTRODUÇÃO Atualmente a população adolescente tem passado por transformações em seus hábitos alimentares que tem diminuído o consumo de cereais e de vegetais (frutas, legumes e verduras) ao passo em que tem aumentado consideravelmente o de alimentos ricos em gorduras e açúcares, com alta densidade energética. Este fenômeno, denominado transição nutricional, tem como consequência a ampliação da prevalência da obesidade, considerada uma verdadeira epidemia. 13 Dentre as causas mais comuns da obesidade nesta faixa etária destaca-se uma alimentação pobre em frutas, legumes e verduras (FLV). Sabe-se que é de extrema importância que o adolescente tenha um consumo adequado de alimentos vegetais, pois frutas, legumes e verduras são ricos em fibra alimentar, micronutrientes e vários fatores nutricionalmente essenciais, como os compostos bioativos. São fontes de diferentes tipos de vitaminas como os carotenóides, ácido fólico (vitamina B9) e o ácido ascórbico (vitamina C). Além disso, são ricos em potássio, contêm quantidades adequadas de magnésio, cálcio, ferro e elementos-traço, que dependem da qualidade do solo no qual são produzidos. 4,8,10,14 Segundo as estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), no Relatório Mundial da Saúde apresentado em 2003, a baixa ingestão de frutas, legumes e verduras está entre os 10 principais fatores de risco que contribuem para mortalidade no mundo, aumentando o risco de doenças crônicas não transmissíveis, como as cardiovasculares, e alguns tipos de câncer. 6,8,9 A Organização Mundial da Saúde22 recomenda o consumo de, pelo menos, 400 g de frutas, legumes e verduras por dia ou cinco porções destes alimentos ao dia ou cerca de 7% a 8% do valor calórico de uma dieta de 2.200kcal/ dia, para redução do risco de desenvolvimento de câncer e prevenção de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), como doenças cardiovasculares, câncer, diabetes tipo II e obesidade. 1,4, 9 O Ministério da Saúde do Brasil recomenda o consumo diário de no mínimo três porções de frutas e três porções de legumes e verduras em seu Guia Alimentar, 4 salientando a importância de diversificar o consumo desses alimentos nas refeições no decorrer da semana. Diante disso, este trabalho teve por objetivo descrever e analisar o consumo de frutas, legumes e verduras por adolescentes do município de Formiga – MG à luz da influência dos fatores socioeconômicos sobre este consumo. * Instituto Federal Minas Gerais – Ensino Básico, Técnico e Tecnológico – 39705-000 – São João Evangelista – MG – Brasil. E-mail: [email protected]. ** Centro de Pós-Graduação e Pesquisa – Universidade do Estado de Minas Gerais – Campus Universitário Jardim Belvedere – 35501-170 – Divinópolis – MG – Brasil. 291 MATERIAL E MÉTODOS Realizou-se um estudo transversal, observacional e de natureza quantitativa com adolescentes escolares na faixa etária entre 10 e 16 anos, de ambos os gêneros, regularmente matriculados nas séries finais (6ª a 9ª) do Ensino Fundamental de duas Escolas Municipais de Formiga – MG. O número total de alunos matriculados nestas séries, obtido junto a Secretaria Municipal de Educação, em novembro de 2008, foi de 1150 alunos. A fim de calcular o tamanho da amostra, estipulou-se que o fenômeno verificado seria a ocorrência do consumo adequado de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes, fixando este valor em 15%, de acordo com resultados obtidos em estudos semelhantes. 20 Para este cálculo, utilizou-se a fórmula para populações finitas, 16 apresentada abaixo, onde n= tamanho da amostra, 2= nível de confiança escolhido (95%), p= percentagem com a qual o fenômeno se verifica (15%), q= percentagem complementar (100-p), N= tamanho da população (1.150) e e2= erro máximo permitido (5%): V2. p . q . N n= e2 (N-1) + V2 p.q Com base nesta fórmula, chegou-se a um tamanho amostral de 133 alunos, com intervalo de confiança de 95% e erro máximo de 5%. As duas escolas foram contatadas para explicação dos objetivos da pesquisa, agendamento das datas e cronograma da coleta de dados. No que se refere à participação dos alunos, foi feito um convite para todos os alunos das duas escolas, matriculados da 6ª a 9ª série do Ensino Fundamental. A coleta de dados ocorreu entre os meses de fevereiro e abril de 2009. O primeiro contato com os alunos foi feito em sala de aula, com a explicação dos objetivos da pesquisa e a entrega de uma carta aos pais, do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e de um questionário com questões socioeconômicas, como renda familiar, número de habitantes no domicílio (para o cálculo da renda familiar per capita) e moradia na zona urbana ou rural do município. Estes formulários deveriam ser preenchidos pelos pais e/ou responsáveis e devolvidos à pesquisadora em até uma semana. Num segundo momento, foi verificada a lista dos adolescentes cujos pais assinaram o TCLE e responderam ao questionário socioeconômico e de consumo alimentar. Estes foram entrevistados individualmente em espaço reservado em cada escola, durante o período de aula, por meio de um questionário estruturado, tendo como duração média 15 minutos. Foram coletadas informações sobre o consumo alimentar de frutas, legumes e verduras e os fatores que o influenciam, conforme a metodologia adotada por Toral et 292 al.16 O consumo de frutas, legumes e verduras foi avaliado, respectivamente, por meio das seguintes perguntas: “Com que frequência você consome frutas ou suco de frutas natural”? e “Com que frequência você consome verduras e legumes”? O adolescente foi orientado a optar por uma das cinco alternativas: consumo diário, semanal, mensal, raramente e nunca. Caso o consumo fosse diário, semanal ou mensal, o participante deveria responder sobre o número de vezes por dia, semana ou mês em que consumia o citado alimento e, em seguida, quantas porções do mesmo eram habitualmente consumidas em cada vez. 16 Para facilitar o entendimento dessa questão e a obtenção de uma resposta adequada, o adolescente era informado sobre o conceito de “porção”, sendo dados alguns exemplos de porção de frutas, legumes e verduras, com base no Guia alimentar para a população brasileira. 4 Em seguida, foi calculado o consumo médio de porções diárias de frutas, bem como o de legumes e verduras. 16 O consumo médio de porções diárias, assim obtido, foi comparado às recomendações de consumo de frutas, legumes e verduras sugeridas pela Pirâmide Alimentar proposta por Philippi et al.15 Sugere-se como adequado o consumo de 4 a 5 porções diárias de legumes e verduras e de 3 a 5 porções diárias de frutas. Por questões metodológicas, foi considerada uma casa decimal para o número de porções consumidas: estabeleceu-se que a classificação “Consumo Adequado” em relação a frutas seria de 2,5 a 5,4 porções e para os legumes e verduras, de 3,5 a 5,4 porções. 16 O consumo inferior ao adequado foi classificado como “Baixo Consumo” e o superior às porções descritas anteriormente como “Consumo Elevado”. Após essa classificação, o consumo de frutas, legumes e verduras foi relacionado às variáveis sexo, renda per capita (calculada dividindo a renda familiar pelo número de membros da família) e local de moradia (zona urbana ou rural). Para a análise estatística foi utilizado o Teste do Qui-Quadrado com um nível de significância de 5%, com o auxílio do programa de computador BioEstat versão 5.0, a fim de avaliar se existia relação entre as variáveis socioeconômicas e o consumo de frutas e hortaliças. Este projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Fundação Educacional de Divinópolis (FUNEDI / UEMG) em 18/12/2008, através do Parecer nº 36/2008. RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram pesquisados 139 adolescentes, sendo 72 do sexo feminino (51,8%) e 67 do sexo masculino (48,2%). A mediana da idade foi de 13 anos, sendo que a mínima foi de 10 anos e a máxima de 16 anos. Sobre a frequência do consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes, observou-se que a maioria relatou um consumo diário (46,8% para frutas e 51,8% para legumes e verduras) e semanal (46,8% para frutas e 37,4% para legumes e verduras). Tabela 1 – Distribuição percentual da frequência do consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes entrevistados, de acordo com o gênero. Formiga, 2009. Frequência de consumo Diário Semanal Mensal Raro Nunca Total Masculino n % 30 44,8 34 50,7 0 0 2 3 1 1,5 67 100 Frutas Feminino Total P n % n % 35 48,6 0,11 65 46,8 31 43 65 46,8 5 6,9 5 3,6 1 1,4 3 2,1 0 0 1 0,7 72 100 139 100 Masculino n % 26 38,8 29 43,3 2 3 7 10,4 3 4,5 67 100 Legumes e verduras Feminino Total P n % n % 46 63,9 0,004* 72 51,8 23 31,9 52 37,4 1 1,4 3 2,1 0 0 7 5 2 2,8 5 3,6 72 100 139 100 * diferença estatisticamente significativa (p<0,05), segundo o Teste do Qui-Quadrado. Resultados semelhantes foram encontrados por Salles-Costa, 17 em Duque de Caxias – RJ, que observou o consumo regular (consumo diário de pelo menos 5 vezes por semana) de frutas em 53% e o de verduras em 65% da população. Isto também foi visto por Vieira et al.,21 em estudo com adolescentes de uma universidade pública brasileira, no qual foi verificado que aproximadamente 72% dos pesquisados mencionaram consumir hortaliças cinco ou mais vezes na semana. Em oposição, Castañola et al.,6 pesquisando adolescentes da área metropolitana de Buenos Aires – Argentina, observaram que quase 70% dos adolescentes não ingeriam porção alguma de hortaliças e frutas, cerca de 28% somente uma ou duas porções ao dia e apenas 1% ingeriam cinco ou mais porções por dia. O consumo infrequente foi visto também por Nunes et al.,12 em Campina Grande – PB, onde 4,5% dos adolescentes não consumiam frutas diariamente, e por Silva et al.,18 em Fortaleza – CE, onde apenas 34,3% e 47,6% dos adolescentes consumiam frutas e hortaliças/ folhosos, respectivamente. Analisando a frequência por sexo, observou-se que para o consumo de frutas a maioria das adolescentes relatou consumo diário (48,6%), enquanto nos adolescentes do sexo masculino o maior consumo se deu na frequência semanal (50,7%), porém esta diferença não foi estatisticamente significativa. Já para o consumo de verduras, o sexo feminino novamente relatou em sua maioria um consumo diário (63,9%), enquanto no masculino esse consumo era na maioria das vezes semanal (43,3%), sendo estatisticamente significante (p= 0,004). Estes dados nos sugerem que o consumo de legumes e verduras é diferente entre os sexos, sendo mais frequente no feminino que no masculino. Resultado semelhante ao encontrado neste estudo foi visto por Carvalho et al.,5 em estudo com adolescentes de um colégio particular de Teresina – PI, onde a frequência de consumo de hortaliças folhosas foi maior entre as meninas (56,55%) do que entre os meninos (52,04%). Em estudo com a população adulta da cidade de São Paulo, Figueiredo et al.7 observaram que o consumo diário de frutas foi maior entre as mulheres (51,7%) e que o consumo diário de legumes foi duas vezes maior entre as mulheres do que entre os homens, sendo significante estatisticamente, assemelhando-se ao encontrado neste estudo. Sobre o consumo de porções diárias de frutas, legumes e verduras, observou-se que o consumo médio de frutas foi de 1,74 porções diárias, com desvio-padrão de 2,13, variando de 0,06 a 12 porções diárias. Já o consumo de legumes e verduras variou de 0,06 a 8 porções por dia, tendo como média 2,06 porções ao dia e desvio-padrão de 1,95. Estes resultados se assemelham aos encontrados por Toral,19 em que uma amostra de adolescentes escolares de Piracicaba – SP demonstrou que o consumo médio de frutas e hortaliças foi de 2,3 e 2,4 porções diárias, respectivamente. Comparando este consumo às recomendações baseadas na Pirâmide Alimentar, observou-se que a maioria dos adolescentes tinha um baixo consumo destes alimentos (79,1% para frutas e 75,6% para legumes e verduras). O consumo adequado de frutas foi verificado apenas em 14,2% dos entrevistados e o de legumes e verduras em 13,4%. Já o consumo elevado (superior às recomendações), foi verificado em 6,7% para frutas e 11% para legumes e verduras. Isto nos mostra que a maioria da população estudada apresenta um consumo de frutas, legumes e verduras inferior às recomendações. Estes resultados se assemelham aos encontrados por Toral et al.16 em adolescentes de São Paulo, onde apenas 12,4% e 10,3% consumiam frutas e verduras, respectivamente, conforme o recomendado pela Pirâmide Alimentar, sendo que o consumo inferior a uma porção diária representava 50% em relação ao consumo de frutas e 38,9% para verduras. Em outro estudo, realizado em Piracicaba – SP, Toral 19 observou que cerca de 45% dos adolescentes não atingiram a recomendação mínima de consumo de duas porções de frutas e de duas porções de hortaliças ao dia, percentual bem inferior ao encontrado neste estudo, que foi de 79,1% para frutas e 75,6% para legumes e verduras. Sabe-se que a baixa ingestão de frutas, legumes e verduras está entre os 10 principais fatores de risco que contribuem para mortalidade no mundo, aumentando o risco de doenças crônicas não transmissíveis e alguns tipos de câncer. 23 Além disso, a escassez desses alimentos pode provocar deficiências de vitaminas e minerais, constipação intestinal e, indiretamente, excesso de peso. Diante disso, é 293 de extrema importância que o adolescente tenha um consumo adequado desses alimentos. Na tentativa de explicar os determinantes do consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes, foram associadas a este as variáveis sexo, renda per capita e local de moradia, conforme apresentado na (Tabela 2). Ao analisar este consumo por sexo, observou-se que para as frutas o maior percentual de baixo consumo foi no masculino (81,2%), enquanto o consumo adequado foi semelhante entre os sexos (14,1% e 14,3%, masculino e feminino, respectivamente) e o elevado maior no sexo feminino (8,6%), porém não houve diferenças significantes. Já para o consumo de legumes e verduras, o baixo consumo foi maior no sexo masculino (80,7%) e o consumo adequado no feminino (21,4%), sendo estas diferenças significantes (p= 0,012). Vale destacar que o sexo masculino apresentou ainda o maior percentual de consumo elevado (15,8%), sendo também significante estatisticamente (p= 0,006). Isto nos confirma que o consumo de legumes e verduras é diferente entre os sexos, sendo que no sexo feminino o consumo ocorre dentro das recomendações e no masculino o consumo fica aquém ou além destas. Em oposição a estes resultados, Toral et al.,16 em estudo com adolescentes de São Paulo, observaram diferença significativa entre o consumo de frutas de acordo com o sexo, onde o sexo masculino consumia mais porções diárias de frutas que o feminino. O mesmo não foi observado em relação ao consumo de verduras, apesar das meninas terem apresentado consumo maior desses alimentos. O maior consumo de frutas, legumes e verduras pelo sexo feminino pode ser correlacionado à maior preocupação com a imagem corporal e com a prática de dietas. Sobre este assunto, Braggion et al.3 afirmam que as adolescentes têm medo de engordar e em consequência desejam um con- trole do seu peso, chegando a omitir refeições importantes, como o café da manhã ou o jantar e tendo grande preferência por alimentos mais saudáveis quando comparadas aos meninos, estabelecendo grande relação com o peso e aparência corporal, maior frequência de dietas e desordens alimentares. Sobre a relação entre local de moradia e consumo de frutas, legumes e verduras, verificou-se que o baixo consumo e o consumo adequado de frutas foram maiores pelos adolescentes que moravam na zona urbana (81,5% e 16%, respectivamente), já o consumo elevado de frutas foi maior pelos que moravam na zona rural (13,7%), sendo estatisticamente significante (p= 0,05). Sobre o consumo de legumes e verduras, o baixo consumo foi semelhante entre os dois grupos, o consumo adequado foi maior na zona urbana (15,6%) e o consumo elevado maior na zona rural (14,6%), não havendo diferenças significativas. Estes dados mostram que os moradores da zona urbana, em comparação com os da zona rural, apresentam maior percentual de consumo adequado de frutas, legumes e verduras. Semelhantemente ao encontrado neste estudo, Jaime & Monteiro, 10 em pesquisa realizada com a população adulta brasileira, verificaram que o consumo de frutas, legumes e verduras foi maior nas áreas urbanas do que nas áreas rurais. Porém, os resultados sugerem que os moradores da zona rural têm um maior consumo de frutas, legumes e verduras que os da zona urbana, sendo este consumo superior às recomendações. Isto pode ser devido ao fato de que grande parte dos moradores da zona rural fazem o cultivo destes alimentos em suas propriedades, o que os faz ter um maior acesso a estes e, com isso, um maior consumo destes alimentos. Tabela 2 – Associação das variáveis socioeconômicas ao consumo de frutas, legumes e verduras. Formiga, 2009. Baixo Consumo n % Frutas Consumo Adequado n % Consumo Elevado n % Baixo Consumo n % 52 54 81,2 77,1 9 10 14,1 14,3 3 6 4,7 8,6 46 50 80,7 71,4 2 15 3,5 21,4 9 5 15,8 7,1 Moradia Zona urbana 66 Zona rural 38 81,5 74,5 13 6 16 11,8 2 7 2,5 13,7 58 36 75,3 75 12 5 15,6 10,4 7 7 9,1 14,6 Renda per capita <¼ SM* ≥¼ <½ SM ≥½ <1 SM ≥1 SM 81,2 72 81,8 100 7 8 4 0 14,6 16 18,2 0 2 6 0 0 4,2 12 0 0 38 34 15 1 80,8 69,4 78,9 100 2 9 4 0 4,2 18,4 21 0 7 6 0 0 14,9 12,2 0 0 Variáveis Sexo Masculino Feminino 39 36 18 2 * Salário mínimo. 294 Legumes e verduras Consumo Consumo Adequado Elevado n % n % Quanto à influência da renda familiar per capita sobre o consumo, verificou-se que para as frutas o maior percentual de baixo consumo se deu no grupo de maior renda per capita (100%), o consumo adequado foi maior no grupo com renda entre ½ a 1 salário mínimo (18,2%) e o consumo elevado no grupo que ganhava entre ¼ a ½ salário mínimo per capita (12%), não havendo diferenças significativas. Já para o consumo de legumes e verduras o baixo consumo foi mais prevalente no grupo com maior renda per capita (100%), o consumo adequado maior no grupo com renda entre ½ a 1 salário mínimo (21%) e o elevado maior no grupo que tinha renda inferior a ¼ do salário mínimo (14,9%), havendo diferença significativa (p= 0,017). Estes resultados também foram paradoxais, pois o esperado é que com o aumento de renda haja um aumento no consumo de frutas, legumes e verduras, o que, em parte, não foi visto neste estudo, pois o grupo que tinha o mais baixo consumo era o que tinha maior renda. Todavia, o resultado encontrado para o consumo de legumes e verduras nos mostra que este foi proporcional à renda, ou seja, quanto maior a renda, maior o consumo. A explicação para estes resultados pode estar ligada à cultura alimentar da sociedade atual, em que as famílias com maior renda per capita tem maior disponibilidade e acesso a alimentos ricos em açúcares e gorduras (industrializados), tornando o consumo de frutas, legumes e verduras menor. De acordo com Martins et al., 22 embora a renda familiar seja fator prioritário na aquisição de alimentos, já que qualquer aumento de ingresso leva à ingestão de maior quantidade de alimentos, a alta renda não resulta necessariamente em dieta equilibrada, como o visto neste estudo. De acordo com Barreto & Cyrillo, 2 para elevar o consumo destes produtos, o aumento da renda seria um incentivo econômico mais adequado que a redução dos preços relativos, pois a participação deste grupo nos gastos domiciliares é maior para as classes de renda mais elevadas, mesmo quando seus preços relativos estão em declínio. CONCLUSÃO ABSTRACT: Currently the adolescent population has been passing by a nutritional change in which growth of the prevalence of obesity. Amongst the causes, it is found an alimentation poor in fruits, vegetables and greens. Thus, this paper aims to analyze the consumption of fruits, vegetables and greens by adolescents in the city of Formiga – MG, based on the influence of economical and social factors. This paper is a transversal and observational survey carried out with 139 adolescents between 10 and 16 years old, of both genders, regularly enrolled in two Municipal Schools in Formiga – MG. The data collection took place by a questionnaire social economical, answered by their parents, and about feeding consumption, applied to adolescents. The proper consumption of fruit should be 2.5 to 5.4 servings and the proper consumption of vegetables and greens 3.5 to 5.4 servings a day. The variables gender, income per capita and place of habitation were associated to this consumption. It is found out that most of the adolescents had a low consumption of fruits (79.1%), vegetables and greens (75.6%) and the proper consumption of fruits occurred only in 14,2% of the interviewed ones and that of vegetables and greens in 13.4%. The variables gender, place of habitation and income per capita had a statistically significant association of this consumption. It is concluded that the consumption of fruits, vegetables and greens by the adolescents of Formiga – MG is low, infrequent and not only the nutritional issue is involved but also the economical and social factors. KEYWORDS: Nutritional transition; feed consumption; adolescents; fruits and greens. REFERÊNCIAS 1. ANDRADE, S. C. Índice de qualidade da dieta e seus fatores associados em adolescentes do Estado de São Paulo. 2007. 101 f. Dissertação (Mestrado em Saúde Pública) – Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007. Concluiu-se que o consumo de frutas, legumes e verduras pelos adolescentes de Formiga – MG é baixo e pouco frequente, sendo influenciado pelo sexo, local de moradia e renda per capita. Isto sinaliza que não apenas a questão nutricional está envolvida, mas também os fatores econômicos, sociais e culturais. Diante disso, o conhecimento do consumo alimentar dos adolescentes de Formiga - MG irá contribuir para a execução de trabalhos de educação nutricional com esses indivíduos, abordando todos os fatores envolvidos multidisciplinarmente, a fim de obter êxito e resultados positivos no consumo destes alimentos. 2. BARRETTO, S. A. J.; CYRILLO, D. C. Análise da composição dos gastos com alimentação no Município de São Paulo (Brasil) na década de 1990. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 35, n.1, p. 52-59, 2001. MENDES, K. L.; CATÃO, L. P. Evaluation of consumption of fruits, vegetables and greens by adolescents of Formiga – MG and its relation to social and economical factors. Alim. 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