O OLHAR CUIDADOSO DO PROFESSOR DE HIDROGINÁSTICA
MARCELO BARROS DE VASCONCELLOS
UFRRJ
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Resumo
A hidroginástica ganhou diversos adeptos nos últimos anos e o crescimento desta atividade
física tem se mostrado benéfico para varias camadas da população. Diante deste cenário, o
professor de educação física pode ter uma postura de cuidador e de acolhimento como parte
da sua rotina de profissional da saúde. O objetivo do presente artigo foi apresentar uma
discussão sobre o papel do cuidado para o profissional que ministra aulas de hidroginástica. A
metodologia adotada foi de entrevista e pesquisa bibliográfica. Os resultados mostraram que a
maioria dos professores de hidro não estão preparados para cuidar, escutar seus alunos.
Pode-se concluir que deve haver uma maior articulação dos professores de educação física
que trabalham com hidroginástica, com o campo da saúde coletiva, tais como: a ampliação da
clínica, o acolhimento, o cuidado e a integralidade das ações de saúde.
Palavras chaves: hidroginástica, acolhimento, cuidado.
Revista Carioca de Educação Física, nº7, 2012
Resumen
La gimnasia ganó muchos adeptos en los últimos años y el crecimiento de la actividad física ha
demostrado ser beneficioso para muchos sectores de la población. En este escenario, el
profesor de educación física pueden tener una posición de cuidador y cuidado como parte de
su atención médica de rutina. El objetivo de este trabajo es presentar una discusión sobre el
papel de cuidar el profesional que enseña aeróbic en el agua. La metodología consistió en
entrevistas y la literatura. Los resultados mostraron que la mayoría de los profesores no están
preparados para cuidar hidroeléctrica, escuchar a sus alumnos. Se puede concluir que debe
haber una mayor coordinación de los profesores de educación física que trabajan con la
gimnasia, con el campo de la salud pública, tales como: la ampliación de la clínica, la
recepción, la atención y la integridad de la salud.
Palabras clave: aeróbic, cuidado de acogida.
Revista Carioca de Educação Física, nº7, 2012
Introdução
Dentre as atividades físicas orientadas para a prevenção primária da saúde, as
atividades aquáticas tiveram uma forte expansão na última década. A Hidroginástica é um caso
paradigmático, dado o elevado número de novos praticantes que aderem anualmente. Este
aumento de adesões parece ser atribuído aos diversos benefícios de caráter fisiológico,
biomecânico e psicológico recorrentemente atribuído à atividade (Costa et al., 2008).
Esta atividade teve seu início e desenvolvimento na Alemanha, visando atender,
inicialmente, um grupo de pessoas com mais idade, que precisava praticar uma atividade física
mais segura, sem causar riscos ou lesões às articulações, e que lhes proporcionasse bemestar físico e mental (Kerbej, 2002).
No Brasil, esta modalidade física é praticada há 25 anos, aproximadamente, mas nunca
teve tantas variações de aulas como hoje.
De fato, a água possui algumas propriedades que tornam a hidroginástica um ambiente
de exercício ideal (Vieira et al., 2007). É um meio excelente para realizar múltiplos exercícios e
para todo o tipo de participantes (Gaines, 2000).
Paralelo ao crescimento da hidroginástica ocorreu o aumento de profissionais que
trabalham com este segmento no Brasil. Possivelmente pelo fato de ser uma atividade que está
sendo cada vez mais indicados devido aos seus diversos benefícios a saúde (Eckerson &
Anderson, 1992).
Diante das mudanças que os profissionais de educação física tiveram após a
regulamentação da profissão e inserção na área da saúde, o objetivo principal deste estudo
foi discutir o papel do cuidado, acolhimento e forma de olhar do professor de hidroginástica
frente ao aluno idoso. E secundariamente apresentar os conceitos de integralidade aos
profissionais que lidam com atividades aquáticas.
A metodologia adotada foi de revisão bibliografia de artigos e periódicos na base de
dados scielo e livros de referência sobre o assunto e experiências vividas com entrevistas com
alunas idosas de hidroginástica.
Os resultados encontrados na entrevista da aluna de hidroginástica e a técnica de
escuta
Acolher, cuidar e ensinar se assemelham as atitudes que um médico realiza frente a seu
paciente no consultório, pois para que o professor de educação física consiga entender o seu
aluno ele tem que estar disposto a ouvir este sujeito, que chega com a sua particularidade. Ao
investigar a causa do não êxito na aprendizagem da técnica do saque por cima, que
comparando ao médico seria alguém chegar se queixando de uma dor em uma parte do corpo
percebe as semelhanças.
Quando um idoso que faz hidroginástica procura o seu professor de educação física no
final de uma aula para relatar que sentiu uma leve dor de cabeça quando estava em casa, mas
que naquele momento após a aula não estava sentindo nada, este profissional de saúde deve
utilizar da técnica de escuta com empatia. Pois, a dor é a consequência de algo que pode ser à
saída dos filhos de casa, aposentadoria do marido que vai acontecer em breve, proximidade do
nascimento do neto, vencimento do aluguel, etc., mas, como ouvir? Se a cada 50 minutos o
professor de educação física inicia uma nova aula, se ele não tem tempo nem para ir ao
banheiro ou para lanchar.
Uma hipótese para justificar estas situações atuais de não escuta e de não
entendimento do real “problema” é a tendência dos profissionais de educação física estarem
cada vez mais especialistas em uma modalidade esportiva e desconhecedores de um todo que
envolve o aluno, além disso, eles encontram dificuldades de acolher o aluno, aliás, estes fatos
são semelhante ao do médico.
Discussão: De acordo com Boff, a palavra “cuidado” deriva do latim cura (coera) e era
usado em contextos de relações de amor e de amizade. Expressava a atitude de cuidado, de
Revista Carioca de Educação Física, nº7, 2012
desvelo, de preocupação e de inquietação pela pessoa ou objeto estimados. Ademais, o
cuidado se apresenta quando a existência de alguém tem importância para nós. A dedicação e
a disponibilidade de participar daquela vida e o sentimento de responsabilidade realizam o
cuidado.
Se a função do profissional de saúde é cuidar, curar, e ele não cuida, então passa a não
ter sentido, pois de acordo com o conceito de cuidado, este profissional deveria acolher,
acompanhar, criar vínculo. O cuidado no campo da saúde é a sua própria razão de ser.
Contraditoriamente, na busca de conhecer os mecanismos produtores de doenças, os
profissionais de saúde distanciam-se das relações com os seres humanos em sofrimentos.
(SILVA JUNIOR, 2005)
Longe de significar um conjunto de procedimentos ou atitudes isoladas, o cuidado se
revela como um fio condutor da construção da integralidade na atenção à saúde, em seus
sentidos mais amplos, como local de encontro de sujeitos com necessidades e capacidades,
onde fluxos de interação possibilitem o acesso às várias alternativas de solução de problemas
e a construção de vínculos e de responsabilidades mútuas (PINHEIRO, FERLA e SILVA
JUNIOR, 2004).
A capacidade e a disponibilidade de ouvir os usuários e suas necessidades, interagindo
com eles, levando em conta seus contextos e seu modo de levar a vida, podem ser um bom
começo.
O acolhimento não é reduzido a sua dimensão física (sala/ambiente), nem a recepção
da demanda (simpatia e educação), mas incorporando suas dimensões como postura do
profissional na relação com o usuário, como técnica de escuta e reflexão sobre problemas e
necessidades; e como princípio re-orientador dos serviços (SILVA JUNIOR e MASCARENHAS,
2004) ou ainda como uma rede de conversações como propôs Teixeira (2003, p.92).
Contudo, Nogueira no texto a translação do olhar, ao tratar sobre novas formas de olhar
o paciente, menciona que: a dimensão do biológico que envolve o adoecimento e da cura,
terminam por conduzir a uma relação médico-paciente distanciada [...] (NOGUEIRA, 2009)
A utilização da técnica de escuta e o distanciamento entre os profissionais de saúde e o
cliente não se restringe ao médico. No caso do professor de educação física, que é um
profissional da área da saúde, existem situações que possuem similaridades com os fatos que
ocorrem no ambiente da “clínica”.
A maioria das pessoas pensa que sabe escutar porque o faz continuamente. Mas na
verdade estão ouvindo dentro do seu marco de referência. Dos cinco níveis de escuta: ignorar,
fingir escutar, escutar seletivamente, escutar atentamente e escutar com empatia, somente o
mais elevado, a escuta com empatia, é feito dentro do marco de referência da outra pessoa.
Escutar verdadeiramente significa transcender nossa autobiografia, sair do nosso marco de
referência, fora de nosso sistema de valores, fora de nossa história e de nossas tendências de
avaliação e entrar profundamente no marco de referência ou ponto de vista da outra pessoa.
Chamamos isso de escutar com empatia. É uma habilidade muito, muito rara. Mas é mais do
que uma habilidade, muito mais. (COVEY, 2005)
A seguir um depoimento de um paciente escrito pelo médico Ralph Roughton, sobre a
escuta. Quando lhe peço para ouvir e você começa a dar conselhos, você não faz o que estou
pedindo, quando lhe peço que me ouça e você começa a me dizer por que eu não deveria
sentir-me assim, você está pisando nos meus sentimentos. Quando lhe peço que me escute e
você pensa que tem que fazer alguma coisa para resolver meu problema, você me desaponta,
por mais estranho que possa parecer. Escute! Tudo que pedi foi que você me ouvisse; não que
falasse ou fizesse, ouça-me apenas... Eu posso fazer. Não sou incapaz. Talvez desanimado e
vacilante, mas não incapaz. Quando você faz por mim algo que eu posso e preciso fazer
sozinho, você contribui para o meu medo e meu sentimento de inadequação. Mas quando
aceita como um fato que eu sinto o que estou sentindo, por mais irracional, então posso deixar
Revista Carioca de Educação Física, nº7, 2012
de tentar convencer você e posso tentar entender o que está por trás desse sentimento
irracional. E quando isso fica claro, a resposta é óbvia e eu não preciso de conselhos...
Conclusão:
Este artigo trata da importância não apenas da relação professor-cliente, mas de uma
relação ampliada dos profissionais de saúde, especificamente os professores de educação
física, que pode vir a se apoderar das técnicas de escuta, para um melhor desempenho na
relação professor-aluno.
Em síntese, propõe se que haja uma articulação dos professores de educação física
com as características citadas e certas premissas humanistas atuais do campo da saúde
coletiva, tais como: a ampliação da clínica, o acolhimento, o cuidado e a integralidade das
ações de saúde.
É importante ressaltar, que nós profissionais de saúde devemos enfocar o sujeito doente
e não na doença. Ademais, ter uma ênfase na importância da relação médicopaciente/professor-aluno como elemento fundamental terapêutico e uma incorporação da
subjetividade presente no adoecimento/ problema humano.
A prática médica envolve interação, a do professor de hidroginástica também, ademais,
a base da integralidade é uma visão holística do paciente/aluno.
Referências Bibliográficas:
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Petrópolis: Vozes, 1999.
COVEY, Stephen R. O 8º Hábito: da eficácia à grandeza: tradução Maria José Cyhlar Monteiro.
Rio de Janeiro: Elsevier; São Paulo: Frankley Covey, 2005.
NOGUEIRA, M. I. A translação do olhar: da biomedicina à acupuntura. In: Camargo Jr. K. R. e
Nogueira, M. I. (Org) Por uma filosofia empírica da atenção à saúde: olhares sobre o campo
biomédico. Editora Fiocruz, 2009
PINHEIRO, R.; FERLA, A. A.; SILVA JUNIOR, A. G. A. A Integralidade na Atenção à saúde da
população. In: MARINS, J. J. N. REGO, S.; ARAÚJO, J. G. C. Educação médica em
transformação: instrumentos para a construção de novas realidades. São Paulo: Hucitec, 1998.
ROUGHTON, R. In: Nelson Mandela. Long Walk to Fredom (Boston: Little, Brown and
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SILVA JUNIOR, A. G.; ALVES, C. A.; ALVES, M. G. M. Entre tramas e redes: cuidado e
integralidade. In: PINHEIRO, R.; MATTOS, R. A. (Orgs.). Construção social da demanda:
direito à saúde; trabalho em equipe; participação e espaços públicos. 2005. Rio de Janeiro:
CEPESC-UERJ, 2005. p. 77-89.
TEIXEIRA, R. R. O acolhimento num serviço de saúde entendido como uma rede de
conversações. In: PINHEIRO, R. ; MATTOS, R. A. (Orgs) Construção da integralidade:
cotidiano, saberes e práticas de saúde. Rio de Janeiro: IMS-UERJ, 2003.
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