TERAPÊUTICA NA SEPSE GRAVE E NO CHOQUE SÉPTICO LETÍCIA SANDRE VENDRAME FÁBIO FREIRE JOSÉ RENATO DELASCIO LOPES PROTERAPÊUTICA. 2013;1(1):111-128 111 O Ã ■ INTRODUÇÃO Ç A A sepse é uma síndrome clínica caracterizada por inflamação sistêmica e dano tecidual generalizado de etiologia infecciosa.1 Assume indubitável e crescente posição de destaque na prática médica, principalmente no dia a dia do médico intensivista. Apesar das recentes conquistas no conhecimento de sua fisiopatologia e no desenvolvimento de novas estratégias terapêuticas, tem-se observado um aumento progressivo em sua incidência e elevados índices de mortalidade.1,2 R T S N A sepse é a principal causa de óbito em pacientes críticos nos Estados Unidos e a décima causa de óbito geral, sendo responsável por cerca de 2% de todas as internações, com 59% dos pacientes sépticos necessitando de cuidados intensivos, o que totaliza cerca de 10% das admissões em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).1 Este número vem aumentando progressivamente com o passar do tempo, no mundo todo.1,2 O M E Apesar dos avanços no conhecimento desta síndrome, a mortalidade continua extremamente elevada, principalmente se houver demora no diagnóstico e se as medidas terapêuticas conhecidas (que serão comentadas ao final do artigo) não forem tomadas rapidamente.1 D Nota da Editora: os medicamentos que estiverem com um asterisco (*) ao lado estão detalhados no Suplemento constante no final deste volume. ■ OBJETIVOS Após a leitura deste artigo, espera-se que o leitor seja capaz de: ■ ■ ■ ■ descrever os principais aspectos práticos na abordagem de um paciente com sepse com ênfase na terapêutica atual; fazer o diagnóstico precoce da sepse/choque séptico, quando for o caso; adotar a conduta mais adequada a cada caso; escolher entre a farmacoterapia disponível a mais indicada a cada caso. PROterapeutica_C1V1_Terapeutica_na_sepse.indd 111 18.12.2012 16:53:24 TERAPÊUTICA NA SEPSE GRAVE E NO CHOQUE SÉPTICO 112 ■ ESQUEMA CONCEITUAL Relato de caso Objetivos do tratamento Dosagem do lactato sérico Hemoculturas colhidas antes da administração dos antibióticos Pacote de intervenção de 6 horas Antimicrobianos endovenosos de amplo espectro Terapia guiada por metas O Ã Reposição volêmica precoce Fármacos vasoativos Ç A Administração de doses baixas de corticoide para pacientes com choque séptico Condutas Terapêutica R T S N Pacote de intervenção de 24 horas O M E Controle glicêmico com valores entre o limite inferior da normalidade e 150mg/dL (8,3 mmol/L) Ventilação mecânica adequada com pressão de platô inspiratório inferior a 30cm H2O e utilização de baixos volumes correntes (inferior a 6mL/kg de peso predito para a estatura) Administração de drotrecogina alfa ativada Acertos e erros no caso D Recursos terapêuticos Evolução da paciente Orientações terapêuticas Farmacoterapia Informação complementar Conclusão PROterapeutica_C1V1_Terapeutica_na_sepse.indd 112 18.12.2012 16:53:24 ■ RELATO DE CASO Paciente do sexo feminino, 65 anos, pesando 60kg, foi trazida por familiares ao prontosocorro por quadro de dispneia, dor torácica ventilatório-dependente, tosse produtiva e inapetência, que iniciaram há três dias (no dia 1º/05). No dia 03/05 foi internada na enfermaria com hipótese diagnóstica de pneumonia domiciliar, e foi iniciado esquema antibiótico com levofloxacina 500mg uma vez ao dia. A Figura 1 mostra o raio X de tórax da paciente no dia da internação. PROTERAPÊUTICA. 2013;1(1):111-128 113 O Ã Ç A R T Figura 1 - Radiografia simples em PA. Fonte: Arquivo de imagens dos autores. S N Apesar do tratamento, a paciente evoluiu com piora do estado geral, rebaixamento do nível de consciência e oligúria na noite do 5º dia de internação (dia 07/05). Às 7h do dia seguinte (08/05), a equipe de enfermagem chamou o médico-assistente, pois a paciente apresentava-se rebaixada, com abertura ocular apenas ao estímulo doloroso, balbuciava palavras desconexas e levava os membros ao local do estímulo doloroso. O M E A paciente estava com sinais clínicos de desidratação, além de estar descorada ++/4. À ausculta cardíaca, ela se apresentava sem alterações, taquicárdica e com pressão arterial (PA) de 85 x 40mm Hg. Durante a ausculta pulmonar, foi observada a presença de estertores em base de hemitórax direito (HTD), e constatou-se que a paciente estava cianótica, dispneica e taquipneica e com frequência respiratória (FR) de 25ipm. No restante do exame físico não foram detectadas outras alterações. O médico-assistente adotou as seguintes condutas: D ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ solicitou atendimento da fisioterapia, que realizou aspiração traqueal e instalou máscara de Venturi a 50%; colheu amostra de sangue para exame de gasometria arterial que mostrou o seguinte padrão com a máscara de Venturi a 50%: pH = 7,27; pressão arterial parcial de oxigênio (PaO2) = 89mm Hg; pressão arterial parcial de gás carbônico (PaCO2) = 32mm Hg; bicarbonato (Bic) = 17mEq/L; saturação arterial de oxi-hemoglobina (SaO2) = 95%; aplicou 2.000mL de cristaloides (soro fisiológico [SF] a 0,9%); solicitou coleta de hemoculturas e urocultura; trocou o esquema antibiótico para cefepima* e vancomicina*; passou sonda vesical de demora (SVD) com saída de 50mL de diurese, mesmo após hidratação; solicitou vaga na UTI. PROterapeutica_C1V1_Terapeutica_na_sepse.indd 113 18.12.2012 16:53:24 114 TERAPÊUTICA NA SEPSE GRAVE E NO CHOQUE SÉPTICO Apesar disso, a paciente continuava hipotensa, taquicárdica e taquipneica, com piora do rebaixamento. A seguir, será abordada a conduta mais adequada a ser adotada com esta paciente após sua admissão na UTI. ATIVIDADE 1. Com base em sua experiência, você considera adequada a conduta adotada pelo médico-assistente? Justifique. .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... O Ã Ç A ■ TERAPÊUTICA R T O tratamento da sepse baseia-se na precocidade e no princípio de que intervenções sistemáticas podem contribuir para reverter a alta morbidade e mortalidade associada a esta doença. S N Segundo o Surviving Sepsis Campaign (SSC),1 o tratamento é constituído por ações que devem ser executadas nas primeiras 6 a 24 horas após a instalação da disfunção orgânica. Introduz-se, assim, o conceito dos pacotes da sepse. O O pacote é um conjunto de intervenções relacionadas a uma única doença. Quando essas intervenções são executadas juntas, produzem melhores resultados do que quando são executadas separadamente. M E OBJETIVOS DO TRATAMENTO D Os principais objetivos do tratamento da sepse são o seu rápido reconhecimento e a instituição de medidas que visem à redução da mortalidade atual por causa de sepse, que é de 25%. A paciente em questão foi internada por pneumonia domiciliar, que evoluiu para quadro de sepse e, após, choque séptico (de foco pulmonar). CONDUTAS Com base no quadro clínico descrito, a paciente apresentava critérios para choque séptico, com provável foco pulmonar. A conduta mais adequada no caso em questão consiste em: ■ ■ realização de intubação orotraqueal (IOT) eletivamente devido ao rebaixamento do nível de consciência, para proteção de vias aéreas; colocação da paciente em ventilação mecânica, com ajuste dos parâmetros ventilatórios de acordo com a gasometria arterial; PROterapeutica_C1V1_Terapeutica_na_sepse.indd 114 18.12.2012 16:53:25 ■ análise da gasometria arterial: como o pH está abaixo de 7,35, há acidemia; como o Bic está abaixo de 22mEq/L, trata-se de uma acidose metabólica com acidemia. Calcula-se a PaCO2 esperada da seguinte maneira: PaCO2 esperada = 1,5 × Bic + 8 1,5 × 17 + 8 (± 2) = 31,5-35,5mm Hg. Portanto, trata-se de uma acidose metabólica simples. PROTERAPÊUTICA. 2013;1(1):111-128 115 A seguir, serão vistos como devem ser instituídos os pacotes de intervenção de 6 e de 24 horas. Pacote de intervenção de 6 horas O Ã O pacote de intervenção de 6 horas1 é composto dos seguintes itens: ■ ■ ■ ■ ■ ■ dosagem do lactato sérico; hemoculturas colhidas antes da administração dos antibióticos; antibióticos endovenosos de amplo espectro; terapia guiada por metas; reposição volêmica precoce; fármacos vasoativos. Ç A R T S N Dosagem do lactato sérico O lactato deve ser obtido de todo paciente séptico ou com suspeita de sepse. Os pacientes com lactato elevado (valor igual ou superior a duas vezes o normal) devem ser incluídos no protocolo de ressuscitação precoce (com medida de pressão venosa central [PVC] e coleta de saturação venosa central de oxigênio [ScvO2], conforme será explicado adiante). O M E No caso em questão, o lactato arterial não foi colhido, mas deveria ter sido no momento do diagnóstico da sepse grave/choque séptico. D Como este caso se trata de choque séptico, a conduta já seria instituir a terapia guiada por metas, mas a coleta do lactato continua sendo importante para fins prognósticos e para que se acompanhe o clearance de lactato nas primeiras 6 horas. LEMBRAR Sabe-se que, se houver clearance do lactato nas primeiras 6 horas (com tratamento instituído), o prognóstico do paciente é melhor.2 PROterapeutica_C1V1_Terapeutica_na_sepse.indd 115 18.12.2012 16:53:25 TERAPÊUTICA NA SEPSE GRAVE E NO CHOQUE SÉPTICO 116 Hemoculturas colhidas antes da administração dos antibióticos As culturas apropriadas (hemoculturas, urocultura, cultura de secreção traqueal ou lavado broncoalveolar, líquor, etc., a depender do caso em questão) devem ser colhidas antes do início da terapia antimicrobiana. Esta é uma recomendação forte segundo o SSC. No caso apresentado, foram colhidas hemo e urocultura. Após a IOT, deve-se colher também cultura de aspirado traqueal.1,2 Antimicrobianos endovenosos de amplo espectro Antimicrobianos endovenosos de amplo espectro devem ser iniciados nas primeiras três horas em pacientes vindos do pronto-socorro e na primeira hora em pacientes vindos de outras alas do hospital, após obtenção de culturas adequadas.1-3 Esta também é uma recomendação forte segundo o SSC e baseia-se no fato de que quanto maior a demora para iniciar o tratamento com o antibiótico correto, maior é a mortalidade. O Ã Ç A Este item do protocolo é extremamente importante e envolve várias etapas do processo para que se consiga administrar o antibiótico correto precocemente. O médico deve prescrever o antibiótico adequado (endovenoso e de amplo espectro) e deve avisar a enfermeira sobre a urgência de sua administração. A primeira dose do(s) antibiótico(s) será liberada mesmo sem a avaliação da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do hospital; depois, a CCIH deverá orientar a adequação do(s) mesmo(s), se necessário. R T S N A enfermeira não deverá “aprazar” o antibiótico, ou seja, colocá-lo no horário padrão, pois a primeira dose deverá ser feita imediatamente. Esta informação deverá ser passada à farmácia do hospital, que, por sua vez, deverá garantir um estoque mínimo de tais fármacos e distribuí-los com prioridade. O Desta forma, percebe-se que vários profissionais estão envolvidos neste processo e que deverá haver um esforço em comum para que o paciente receba o antimicrobiano endovenoso de amplo espectro em uma hora. M E No caso em questão, a paciente já vinha em uso de quinolona, sem sucesso, e foi trocado o esquema para cefepima* (cefalosporina de 4ª geração) associada à vancomicina*. Pelo fato de a paciente já estar internada há 5 dias, considera-se adequada a cobertura antibiótica para germes hospitalares (tratamento para pneumonia nosocomial). D Cada hospital tem seu perfil de resistência antimicrobiana, que é analisado pela CCIH; portanto, é recomendado que seja elaborado um guia de antimicrobianos baseado neste perfil (individualizado, de cada instituição) e no provável foco da infecção. Terapia guiada por metas A adoção de metas objetivas1,2 em intervalo de tempo definido tem-se mostrado a forma mais eficaz de alcançar bons resultados. O extravasamento de volume plasmático para o espaço intersticial, a diminuição do tônus vascular e a depressão miocárdica resultam em hipotensão. Para que este quadro seja revertido visando à melhora da perfusão tecidual, a reposição volêmica precoce e os fármacos vasoativos frequentemente são necessários. PROterapeutica_C1V1_Terapeutica_na_sepse.indd 116 18.12.2012 16:53:25 As metas iniciais são: ■ ■ ■ ■ PVC de 8-12mm Hg; pressão arterial média (PAM) igual ou superior a 65mm Hg; débito urinário igual ou superior a 0,5mL/kg/h; ScvO2 igual ou superior a 70% ou saturação venosa mista de oxigênio (SvO2) igual ou superior a 65%. PROTERAPÊUTICA. 2013;1(1):111-128 117 Reposição volêmica precoce As primeiras seis horas da sepse grave e do choque séptico são designadas como horas de ouro para a reposição volêmica. A adequada ressuscitação guiada por metas é capaz de reduzir de forma importante a mortalidade (16%). O Ã A restauração da volemia deve ser feita com expansão intravascular com soluções cristaloides, preferencialmente, e/ou coloides. Para os pacientes sépticos que apresentam hipotensão ou lactato igual ou superior a 2 vezes o valor normal, é indicada a infusão de pelo menos 20mL/kg de cristaloide (ou coloide equivalente). Após a reposição inicial, alcançada a meta de PVC entre 8-12mm Hg ou havendo sinal de sobrecarga volêmica, objetiva-se PAM entre 65-90mm Hg. Para isso, podem ser necessários fármacos vasoativos. Ç A R T Fármacos vasoativos S N Para os pacientes hipotensos que não responderam à ressuscitação volêmica inicial, deve-se iniciar o uso de fármacos vasopressores, com o intuito de manter a PAM acima de 65mm Hg. Os fármacos vasoativos também podem ser usados concomitantemente à reposição volêmica, quando há hipotensão ameaçadora. O É importante a medida contínua e precisa da pressão por cateterização arterial. A norepinefrina (noradrenalina*) deve ser usada preferencialmente, caso a PAM esteja abaixo de 65mm Hg. A dopamina é atualmente considerada um agente de segunda linha para tratamento do choque séptico. M E D O uso de dopamina para proteção renal não está recomendado. Nos pacientes com choque séptico refratário ao uso de catecolaminas, a vasopressina pode ser utilizada como terapia de resgate. A dobutamina* é o agente farmacológico de escolha para aumento do débito cardíaco em pacientes com choque séptico. ATIVIDADE 2. Quais os principais objetivos no tratamento da sepse? .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... PROterapeutica_C1V1_Terapeutica_na_sepse.indd 117 18.12.2012 16:53:25 TERAPÊUTICA NA SEPSE GRAVE E NO CHOQUE SÉPTICO 118 3. Em casos de sepse e choque séptico, em que momento deve começar a ser administrado o antibiótico prescrito? .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... 4. Um homem de 60 anos, com sepse secundária, evolui para pneumonia comunitária. Dá entrada no pronto-socorro com o seguinte quadro clínico: FR = 38ipm; PA = 60x30mm Hg; SatO2 = 72%; hematócrito (Ht) = 27% e lactato sérico = 9mmol/L (normal até 2mmol/L). Ele está descorado, sudoreico e sonolento. Com base na terapia precoce guiada por metas, a primeira medida concomitante com IOT e antibioticoterapia é: A) B) C) D) O Ã elevação da PVC para 8-12mm Hg com infusão de cristaloides. infusão de DVA para manter PAM entre 65-90mm Hg. elevação do Ht para 30% com infusão de concentrado de hemácias. infusão de Bic para corrigir o lactato elevado. Ç A Resposta no final do artigo R T 5. Em relação à antibioticoterapia no tratamento do paciente com sepse grave/choque séptico, é correto afirmar que: S N A) os antibióticos só podem ser iniciados após a estabilização hemodinâmica. B) a identificação do sítio da infecção, bem como do agente etiológico, não contribuem para melhorar o prognóstico. C) nunca se deve utilizar associação de antibióticos, pois podem facilitar as superinfecções. D) iniciar antibioticoterapia de modo empírico nas primeiras horas após colher culturas é determinante na melhora do prognóstico. O M E Resposta no final do artigo D 6. O princípio da terapia precoce guiada por metas na abordagem do paciente com sepse grave e/ou choque séptico visa aos seguintes objetivos terapêuticos: A) B) C) D) PVC entre 8-12mm Hg, PAM ≥ 65mm Hg, ScvO2 ≥ 70%. PVC entre 8-12mm Hg, PAM ≥ 75mm Hg, ScvO2 ≥ 65%. PVC entre 8-12mm Hg, PAM ≥ 75mm Hg, ScvO2 ≥ 70%. PVC entre 4-8mm Hg, PAM ≥ 65mm Hg, ScvO2 ≥ 70%. Resposta no final do artigo PROterapeutica_C1V1_Terapeutica_na_sepse.indd 118 18.12.2012 16:53:25 7. A campanha mundial chamada Surviving Sepsis Campaign designou dois pacotes de intervenções para pacientes com sepse grave e choque séptico nas primeiras 6 e 24 horas. Qual das intervenções abaixo NÃO faz parte do pacote de medidas a ser instituído nas primeiras 6 horas? A) B) C) D) Coleta de culturas. Uso de antibióticos de largo espectro. Controle glicêmico, com manutenção de valores abaixo de 150mg/dL. Uso de vasopressores. Resposta no final do artigo PROTERAPÊUTICA. 2013;1(1):111-128 119 8. Como deve ser feita a restauração da volemia em casos de sepse grave ou choque séptico? O Ã .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... Ç A R T Pacote de intervenção de 24 horas S N O pacote de intervenção de 24 horas é composto dos seguintes itens: ■ ■ ■ ■ administração de doses baixas de corticoide para pacientes com choque séptico; controle glicêmico com valores entre o limite inferior da normalidade e 150mg/dL (8,3mmol/L); ventilação mecânica adequada com pressão de platô inspiratório inferior a 30cm H2O e utilização de baixos volumes correntes (inferior a 6mL/kg de peso predito para a estatura); administração de drotrecogina alfa ativada. O M E Administração de doses baixas de corticoide para pacientes com choque séptico D Dentre os diversos motivos para o uso de corticoide na sepse (anti-inflamatório, potencializador da ação de catecolaminas sobre receptores, ação sobre tônus vascular), a insuficiência adrenal relativa parece ser o que mais justifica seu uso.1,2 Estima-se que 75% dos pacientes com choque séptico desenvolvam insuficiência relativa de adrenal, com resposta glicocorticoide e mineralocorticoide aquém das necessidades do organismo em choque. Por este motivo, o uso de hidrocortisona na dose de 200mg/dia dividida em 4 vezes durante 7 dias provou diminuir a mortalidade e reduzir a necessidade de vasopressores. O uso concomitante de fludrocortisona é opcional. A hidrocortisona deve ser prescrita para pacientes chocados que, apesar da reposição volêmica, ainda necessitam da terapia com fármacos vasoativos. PROterapeutica_C1V1_Terapeutica_na_sepse.indd 119 18.12.2012 16:53:25 TERAPÊUTICA NA SEPSE GRAVE E NO CHOQUE SÉPTICO 120 Controle glicêmico com valores entre o limite inferior da normalidade e 150mg/dL (8,3 mmol/L) A hiperglicemia no paciente séptico é secundária a múltiplos fatores, entre eles a resistência periférica à insulina, o aumento da produção hepática e a redução da captação pelos tecidos. A presença de hiperglicemia parece estar relacionada à geração de resposta inflamatória, imunossupressão, lesão endotelial e disfunção mitocondrial. Com base nessas informações, estudos importantes foram desenvolvidos, buscando o controle glicêmico rigoroso nos pacientes críticos. LEMBRAR Houve muita discussão e polêmica sobre o assunto, e, atualmente, sabe-se que não existe benefício, em termos de redução de mortalidade, na instituição de controle glicêmico tão rigoroso (níveis entre 80-110mg/dL). O Ã Mais do que confirmar a não redução de mortalidade com controle estrito, estudos recentes mostraram incidência inaceitável de hipoglicemia severa e até aumento da mortalidade, como no NICE-SUGAR (Normoglycaemia in Intensive Care Evaluation Survival Using Glucose Algorithm Regulation).4 Esse estudo é randomizado, internacional e controlado com doentes críticos de UTIs clínicas e cirúrgicas. De acordo com esse estudo,4 glicemia menor do que 180mg/dL resultou em redução de mortalidade quando comparada com o alvo entre 81-108mg/dL. Ç A R T Atualmente, recomenda-se considerar o controle glicêmico com insulinoterapia quando a glicemia exceder 180mg/dL, a fim de se atingir o alvo aproximado de 150mg/dL. Além disso, são fundamentais: ■ ■ ■ S N a implantação de protocolos específicos (protocolo de infusão contínua de insulina); controle de glicemia capilar adequado; manutenção do aporte calórico. M E O Ventilação mecânica adequada com pressão de platô inspiratório inferior a 30cm H2O e utilização de baixos volumes correntes (inferior a 6mL/kg de peso predito para a estatura) A síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA), presente em quase metade dos pacientes sépticos, exige especial atenção ventilatória com objetivo protetor. Esses pacientes apresentam infiltrados bilaterais no raio X de tórax, relação PaO2/FiO2 menor do que 200 e pressão de oclusão da artéria pulmonar abaixo de 18mm Hg. A ventilação inadequada pode piorar a resposta inflamatória sistêmica, bem como o prognóstico dos pacientes. Experiências prévias com altos volumes correntes (10-15mL/kg) aumentaram a disfunção multiorgânica e a mortalidade. D Com o objetivo de melhorar esses índices, foram propostos baixos volumes correntes (4-6mL/kg) e principalmente limitação da pressão de platô (30cm H2O), mesmo que acarrete hipercapnia. Esta é a hipercapnia permissiva que, apesar do aumento de PaCO2 e suas consequências fisiológicas, é tolerada tendo em vista a redução da pressão na via aérea. A hipercapnia é contraindicada apenas em casos de acidoses graves e de pacientes com hipertensão intracraniana. PROterapeutica_C1V1_Terapeutica_na_sepse.indd 120 18.12.2012 16:53:25 O uso da pressão positiva expiratória final (PEEP) em pacientes sob ventilação mecânica tem o objetivo de: ■ ■ ■ prevenir colapso pulmonar; abrir unidades aéreas; melhorar a troca gasosa, possibilitando a redução da FiO2 abaixo de níveis prejudiciais para a circulação pulmonar. Não há consenso sobre a utilização de manobras de recrutamento alveolar. Em instituições com experiência, a posição prona pode ser usada para melhorar a troca gasosa. PROTERAPÊUTICA. 2013;1(1):111-128 121 As instituições devem possuir protocolos predefinidos de desmame da ventilação mecânica que envolvam testes diários para avaliar a possibilidade de extubação. A maioria dos autores recomenda a prescrição de inibidor da bomba de prótons para evitar úlceras de estresse em pacientes em ventilação mecânica.5 O Ã Ç A Administração de drotrecogina alfa ativada Anteriormente, o SSC1 recomendava o uso da proteína C ativada recombinante, mas recentemente houve controvérsias acerca do seu uso e, em 2011, este fármaco foi retirada do mercado. Na edição de 2012 do SSC, a proteína C ativada não será mais recomendada, com base nos resultados do estudo PROWESS-Shock.6 R T S N ATIVIDADE 9. Paciente de 75 anos foi levado à sala de emergência com quadro de rebaixamento do nível de consciência (Glasgow 6), hipotensão arterial, desidratação, oligúria, febre e infecção urinária em tratamento há 1 dia com sulfametoxazol/trimetoprima. A conduta inicial mais adequada é: O M E A) IOT e ventilação mecânica para proteção das vias aéreas, hidratação com cristalóides e colóides, coleta de culturas, antitérmico e troca da antibioticoterapia. B) ventilação não invasiva com BiPAP, hidratação com cristaloides, uso de fármacos vasoativos se não houver melhora pressórica após volume, coleta de culturas, antitérmico, troca de antibioticoterapia, passagem de cateter central e otimização da ScvO2. C) IOT e ventilação mecânica, hidratação com cristaloides, coleta de lactato, passagem de cateter central para otimização da PVC e ScvO2, uso de fármacos vasoativos se não houver melhora pressórica após volume, coleta de culturas, antitérmico e troca da antibioticoterapia. D) IOT e ventilação mecânica, hidratação com albumina e furosemida após para estimular a diurese, uso de fármacos vasoativos se não houver melhora pressórica após volume, coleta de culturas, antitérmico, troca de antibioticoterapia, passagem de cateter central e otimização da ScvO2. D Resposta no final do artigo PROterapeutica_C1V1_Terapeutica_na_sepse.indd 121 18.12.2012 16:53:25 TERAPÊUTICA NA SEPSE GRAVE E NO CHOQUE SÉPTICO 122 10. Em que casos de choque séptico a hidrocortisona deve ser prescrita? .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... 11. Qual a importância do controle glicêmico em pacientes com sepse? .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... O Ã 12. Quais os objetivos da PEEP em pacientes sob ventilação mecânica? Ç A .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... .......................................................................................................................................... R T S N ACERTOS E ERROS NO CASO A questão que deve ser destacada é o reconhecimento precoce do quadro séptico. Infelizmente, este caso retrata o que algumas vezes acontece na prática diária: a demora no reconhecimento da sepse grave/choque séptico. Note que a paciente já se apresentava com rebaixamento do nível de consciência e oligúria na noite do dia 07/05, mas só foi “reconhecida” como grave no dia seguinte. Isto causa atraso no atendimento, com impacto direto da sobrevida da paciente. O M E Ela apresentava duas disfunções orgânicas no dia 07/05: oligúria (disfunção renal) e rebaixamento do nível de consciência (neurológica). Portanto, este é o momento em que o protocolo de sepse grave/choque séptico deveria ter sido instituído e todas as medidas terapêuticas, as quais serão comentadas adiante, deveriam ter sido tomadas. D O reconhecimento do quadro séptico não cabe exclusivamente ao médico; qualquer membro da equipe assistencial (enfermeiro, técnico ou auxiliar de enfermagem, fisioterapeuta, principalmente) pode e deve chamar a atenção para este diagnóstico. Não é raro que o técnico de enfermagem, ao verificar os sinais vitais, note rebaixamento do nível de consciência do paciente, por exemplo. Este profissional deve alertar a enfermeira e o médico sobre esta mudança no quadro clínico. Caberá ao médico, então, confirmar o diagnóstico de sepse grave e iniciar o protocolo. PROterapeutica_C1V1_Terapeutica_na_sepse.indd 122 18.12.2012 16:53:25 EVOLUÇÃO DA PACIENTE A paciente evoluiu com melhora progressiva dos parâmetros hemodinâmicos, e foi feita redução progressiva de noradrenalina* e extubação no 26º dia de internação hospitalar com retirada dos antibióticos. ■ RECURSOS TERAPÊUTICOS PROTERAPÊUTICA. 2013;1(1):111-128 123 ORIENTAÇÕES TERAPÊUTICAS A prescrição inicial sugerida para o caso clínico em questão é a seguinte: ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ ■ O Ã dieta via sonda nasoenteral; SF a 0,9% 500mL IV de 8/8 horas (fase inicial); cefepima* 2g IV de 8/8 horas (dose para infecção grave); vancomicina* 1g IV de 12/12 horas; noradrenalina* – 16 ampolas em soro glicosado (SG) a 5% 234mL. Dose inicial: 0,05μg/kg/min; midazolam* (5mg/mL) – 20mL (100mg) diluídas em SF a 0,9% 80mL – iniciar com 10mL/hora; fentanila* 0,7 a 2mcg/kg IV – 3mL/hora em infusão contínua (fármaco puro sem diluição); insulina com protamina neutra de Hagedorn (NPH) 100UI diluído em soro fisiológico (SF) a 0,9% 100mL – iniciar de acordo com protocolo adotado (por exemplo, protocolo de Yale); pantoprazol 80mg IV de 12/12 horas (profilaxia para úlcera de estresse); hidrocortisona 50mg EV de 8/8 horas (ver sobre indicação de corticoide em paciente com sepse); heparina não fracionada 5000UI subcutânea de 8/8 horas (profilaxia de trombose venosa profunda); monitoração de PAM; monitoração da PVC; passagem de SVD; controle de glicemia capilar de hora em hora – inicialmente, depois aumentar o intervalo conforme protocolo adotado; fisioterapia respiratória; avaliação da fonoaudiologia; cabeçeira elevada a 30 graus; cuidados e controles gerais. Ç A R T S N O M E D A Figura 2 a seguir traz um algoritmo dos pacotes de tratamento da sepse e do choque séptico de 6 e de 24 horas. PROterapeutica_C1V1_Terapeutica_na_sepse.indd 123 18.12.2012 16:53:25 TERAPÊUTICA NA SEPSE GRAVE E NO CHOQUE SÉPTICO 124 Pacote de 6 horas Pacote de 24 horas 2 critérios de SIRS + foco infeccioso Metas de pacote de 6 horas cumpridas Dosagem de lactato Coleta de hemoculturas e outras culturas Administração de antibióticos dentro da 1ª hora Controle do foco infeccioso Controle glicêmico < 180mg/dL Sepse + PAS < 90mm Hg ou lactato > 4mmol/L (36mg/dL) Disfunção hemodinâmica persistente Disfunção respiratória Ventilação mecânica Corticoesteroides em doses baixas Estratégia protetora VC < 6mL/kg e pressão de platô < 30cm H2O O Ã Ç A (hidrocortisona 200-300mg) Terapia precoce guiada por metas R T SIRS: síndrome da resposta inflamatória sistêmica; PAS: pressão arterial sistólica; VC: volume corrente. Figura 2 - Pacotes de tratamento para sepse e choque séptico de 6 e de 24 horas. Fonte: Adaptado de Silva e Instituto Latino-Americano para Estudos da Sepse (2008).7 S N FARMACOTERAPIA As medicações utilizadas no caso clínico descrito neste artigo foram as seguintes: ■ ■ ■ ■ ■ ■ noradrenalina*; dobutamina*; fentanila*; midazolam*; cefepima*; vancomicina*. M E O D PROterapeutica_C1V1_Terapeutica_na_sepse.indd 124 18.12.2012 16:53:25 ■ INFORMAÇÃO COMPLEMENTAR O Quadro 1 a seguir traz alguns conceitos importantes relacionados à sepse.1 Quadro 1 CONCEITOS RELACIONADOS À SEPSE Infecção Fenômeno microbiano caracterizado por uma resposta inflamatória à presença ou invasão de microrganismos em tecido normalmente estéril do hospedeiro. Bacteremia Presença de bactérias viáveis no sangue. SIRS Resposta inflamatória generalizada a uma variedade de insultos clínicos graves. Esta síndrome é clinicamente reconhecida pela presença de dois ou mais dos seguintes critérios: ■ ■ ■ ■ O Ã temperatura > 38º C ou < 36º C; frequência cardíaca (FC) > 90 batimentos/min; FR > 20 respirações/min ou PaCO2 < 32mm Hg; leucograma > 12.000 células/mm³, < 4.000 células/mm³, ou com mais de 10% de formas jovens. Ç A Sepse Evidência de SIRS associada à infecção reconhecida ou suspeitada. Sepse grave Sepse associada à hipoperfusão ou disfunção orgânica: ■ ■ ■ ■ ■ ■ D Choque séptico DMOS R T cardiovascular: PAS ≤ 90mm Hg ou PAM ≤ 70mm Hg por pelo menos uma hora a despeito de adequada ressuscitação volêmica, ou o uso de vasopressores para atingir os mesmos objetivos; renal: débito urinário < 0,5 mL/kg/h, ou insuficiência renal aguda; pulmonar: PaO2/FiO2 ≤ 250 se outras disfunções orgânicas estiverem presentes ou ≤ 200 se o pulmão for o único órgão disfuncionante; gastrintestinal: disfunção hepática (hiperbilirrubinemia, transaminases elevadas); sistema nervoso central: alteração aguda no estado mental (delírio); hematológica: plaquetas < 80.000/mm³ ou queda de 50% por três dias, ou coagulação intravascular disseminada; metabólica: pH ≤ 7,30 ou déficit de bases > 5,0mmol/L e lactato plasmático uma vez e meia acima do limite normal. PIRO S N O M E ■ PROTERAPÊUTICA. 2013;1(1):111-128 125 Sepse grave com hipoperfusão ou hipotensão persistentes mesmo com adequada ressuscitação volêmica. Presença de função orgânica alterada em um paciente agudamente enfermo de tal forma que a homeostase não possa ser mantida sem intervenção. O PIRO (predisposition infection response organ dysfunction – predisposição, insulto, resposta deletéria e falência orgânica) é uma nova abordagem conceitual que se baseia no fato de que a resposta inflamatória da sepse pode variar no seu curso e desfecho, dependendo de características individuais (idade, genética e comorbidades) e do agente infeccioso (inóculo, local da infecção e virulência). Essa tentativa de melhor classificar a sepse visa a facilitar a escolha de populações mais homogêneas nos diferentes estudos, possibilitando resultados mais consistentes. Fonte: Adaptado de Dellinger e colaboradores (2008).1 PROterapeutica_C1V1_Terapeutica_na_sepse.indd 125 18.12.2012 16:53:25 TERAPÊUTICA NA SEPSE GRAVE E NO CHOQUE SÉPTICO 126 ATIVIDADE 13. Paciente de 18 anos chegou ao pronto-socorro febril (temperatura: 38,5°C), FC: 100bpm, FR: 24ipm, PA 90 x 60mm Hg, com história de tosse produtiva. Os resultados dos exames laboratoriais foram os seguintes: leucograma 20.000 sem desvio à esquerda, proteína C reativa (PCR) 200mg/dL, lactato > 4mmol/L, SvO2 70%. Com base nesses dados, qual é o diagnóstico mais adequado? A) B) C) D) Sepse grave. Sepse. Choque séptico. SIRS. Resposta no final do artigo O Ã 14. Paciente obeso mórbido, no primeiro dia pós-operatório de gastroplastia redutora, apresenta dor abdominal, taquipneia, temperatura de 38,5°C, FC de 120bpm, PA 120 x 80mm Hg e leucograma de 16.400 com 20% de bastões. Com base nesses dados, pode-se afirmar que esse paciente encontra-se em: A) B) C) D) Ç A sepse grave. sepse. SIRS. choque séptico. R T S N Resposta no final do artigo ■ CONCLUSÃO M E O Como foi visto no relato do caso clínico, é muito importante a precocidade no diagnóstico e no tratamento da sepse grave e do choque séptico, através da interação transdisciplinar com trabalho em equipe (toda equipe assistencial focada no melhor atendimento ao paciente). Com isso, certamente será atingido o resultado almejado: maior sobrevida aos pacientes com melhor qualidade. D ■ RESPOSTAS ÀS ATIVIDADES E COMENTÁRIOS Atividade 4 Resposta: A Comentários: A ordem correta das ações a serem implantadas nos pacientes com sepse grave ou choque séptico, de acordo com as diretrizes do SSC, é diagnóstico precoce, coleta de lactato, coleta de culturas antes da administração dos antibióticos, antibioticoterapia precoce e de amplo espectro, otimização de PVC (com volume), PAM (com vasopressores) e ScvO2 maior do que 70% (com inotrópicos ou transfusão sanguínea, quando indicada) para pacientes com choque séptico e sepse grave com disfunção metabólica. As metas estipuladas para pacientes sépticos graves com hipotensão refratária a volume e/ou lactato sérico igual ou superior a 4mmol/L nas primeiras 6 horas são PVC = 8-12mm Hg; PAM > 65mm Hg; débito urinário > 0,5mL/kg/h; ScvO2 > 70%. PROterapeutica_C1V1_Terapeutica_na_sepse.indd 126 18.12.2012 16:53:25 Atividade 5 Resposta: D Comentários: A recomendação da literatura é de que os antimicrobianos endovenosos de amplo espectro devem ser iniciados nas primeiras 3 horas em pacientes admitidos do pronto-socorro e na primeira hora em pacientes vindos de outras alas do hospital, após obtenção de culturas adequadas. Esta também é uma recomendação forte segundo o SSC e baseia-se no fato de que quanto mais tempo se demora para iniciar o tratamento com o antibiótico correto, maior é a mortalidade. Atividade 6 Resposta: A Comentários: De acordo com o SSC, a recomendação da terapia precoce guiada por metas nas primeiras 6 horas deve ser instituída para pacientes sépticos graves com hipotensão refratária a volume e/ou lactato sérico > 4mmol/L e as metas são as seguintes: PVC 8-12 mm Hg; PAM > 65 mm Hg; débito urinário > 0,5mL/kg/h; ScvO2 > 70%. PROTERAPÊUTICA. 2013;1(1):111-128 127 O Ã Atividade 7 Resposta: C Comentários: O controle glicêmico faz parte do pacote de 24 horas recomendado pelo SSC. O pacote de 6 horas é composto por coleta de lactato arterial, coleta de hemoculturas e outras culturas (quando indicado) antes da administração dos antibióticos, uso de antibioticoterapia de amplo espectro em 1 hora, terapia guiada por metas (reposição volêmica, uso de vasopressores, uso de inotrópicos e/ou transfusão sanguínea, quando houver indicação). A terapia precoce guiada por metas nas primeiras 6 horas deve ser instituída para pacientes sépticos graves com hipotensão refratária a volume e/ou lactato sérico > 4mmol/L, e as metas são as seguintes: PVC = 8-12mm Hg; PAM > 65mm Hg; débito urinário > 0,5mL/kg/h; ScvO2 > 70%. Já o pacote de 24 horas consiste em controle glicêmico adequado, uso de corticoide endovenoso em baixas doses (insuficiência adrenal relativa), ventilação mecânica com volume corrente < 6mL/kg e pressão de platô limitada em 30mm Hg. O uso da drotrecogina alfa era recomendado pelo SSC, mas provavelmente será revisto devido à dados recentes publicados na literatura. Ç A R T S N O Atividade 9 Resposta: C Comentários: A alternativa C é mais completa: intubação orotraqueal e ventilação mecânica (pois paciente apresenta Glasgow 6), hidratação com cristaloides, coleta de lactato, passagem de cateter central para otimização da PVC e ScvO2, uso de fármacos vasoativos se não houver melhora pressórica após volume, coleta de culturas, antitérmico e troca da antibioticoterapia. Segundo a recomendação da SSC, o pacote de 6 horas é composto por início de antibiótico de amplo espectro em até 1 hora do diagnóstico, coleta de culturas pertinentes antes do antibiótico, dosagem de lactato arterial e terapia guiada por metas com ressuscitação volêmica com cristaloide 20mL/kg ou coloide equivalente, uso de vasopressores, uso de inotrópicos e/ou transfusão sanguínea, quando houver indicação. M E D Atividade 13 Resposta: A Comentários: A resposta mais adequada é sepse grave, pois o paciente apresenta febre, taquicardia, taquipneia e leucocitose decorrentes de provável foco infeccioso (tosse produtiva), já com sinais de hipoperfusão orgânica (hipotensão e hiperlactatemia). Não se pode dizer que o quadro é de choque séptico, pois o paciente não recebeu volume (ainda) e não se sabe se ele responderá à ressuscitação hídrica adequada. Desta forma, se diz que o mesmo apresenta sepse grave neste momento. PROterapeutica_C1V1_Terapeutica_na_sepse.indd 127 18.12.2012 16:53:25 TERAPÊUTICA NA SEPSE GRAVE E NO CHOQUE SÉPTICO 128 Atividade 14 Resposta: C Comentários: A resposta mais adequada é SIRS, pois o paciente está em pós-operatório recente e apresenta critérios para SIRS (taquipneia, febre, taquicardia e leucocitose com desvio à esquerda). Todos esses sinais podem ser atribuídos ao pós-operatório, não havendo evidência clara de foco infeccioso, o que não nos permite concluir que este quadro seja séptico. ■ REFERÊNCIAS 1. Dellinger RP, Levy MM, Carlet JM, Bion J, Parker MM, Jaeschke R, et al. Surviving Sepsis Campaign: International guidelines for management of severe sepsis and septic shock: 2008. Crit Care Med. 2008 Jan;36(1):296-327. O Ã 2. Puskarich, MA. Emergency management of severe sepsis and septic shock. Curr Opin Crit Care. 2012 Aug;18(4):295-300. Ç A 3. Nobre V, Sarasin FP, Pugin J. Prompt antibiotic administration and goal-directed hemodynamic support in patients with severe sepsis and septic shock. Curr Opin Crit Care. 2007 Oct;13(5):586-91. 4. NICE-SUGAR Study Investigators. Intensive versus Conventional Glucose Control in Critically Ill Patients. N Engl J Med. 2009;360(13):1283-97. R T 5. Alhazzani W, Alshahrani M, Moayyedi P, Jaeschke R. Stress ulcer prophylaxis in critically ill patients: review of the evidence. Pol Arch Med Wewn. 2012;122(3):107-14. S N 6. Ranieri VM, Thompson BT, Barie PS, Dhainaut JF, Douglas IS, Finfer S. Drotrecogin alfa (activated) in adults with septic shock. N Engl J Med. 2012 May;366(22):2055-64. O 7. Silva E; Instituto Latino-americano para Estudos da Sepse. Sepse Manual. 2. ed. São Paulo: Atheneu; 2008. M E D PROterapeutica_C1V1_Terapeutica_na_sepse.indd 128 18.12.2012 16:53:25