UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS I CURSO DE PEDAGOGIA WELITON OLIVEIRA SANTOS INFLUÊNCIA DO DIRETOR NA ESCOLA: COMO SE REALIZAR UMA GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVA Salvador 2008 WELITON OLIVEIRA SANTOS INFLUÊNCIA DO DIRETOR NA ESCOLA: COMO SE REALIZAR UMA GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVA Trabalho de conclusão de curso apresentado ao Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, Campus I, como exigência parcial para obtenção do grau de Licenciado em Pedagogia, sob orientação do Professor Doutor Luciano Bonfim. Salvador 2008 FICHA CATALOGRÁFICA – Biblioteca Central da UNEB Bibliotecária : Jacira Almeida Mendes – CRB : 5/592 Santos, Weliton Oliveira Influência do diretor na escola : como se realizar uma gestão escolar democrática e participativa / Weliton Oliveira Santos . – Salvador, 2008. 37 f. Orientador : Luciano Bomfim. Trabalho de Conclusão de Curso ( Graduação) -Universidade do Estado da Bahia. Departamento de Educação. Colegiado de Pedagogia. Campus I. 2008. Contém referências. 1. Educação. 2. Escolas públicas – Organização e administração – Salvador(BA). 3. Gestão democrática. 4. Democracia na educação. I. Bomfim, Luciano. II. Universidade do Estado da Bahia, Departamento de Pedagogia. CDD: 370.01 WELITON OLIVEIRA SANTOS INFLUÊNCIA DO DIRETOR NA ESCOLA: COMO SE REALIZAR UMA GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVA Monografia apresentada ao Curso de graduação em Pedagogia – Licenciatura Plena, Gestão e Coordenação do Trabalho Escolar, do Departamento de Educação da Universidade do Estado da Bahia, Campus I, para avaliação, em ____ de ____________ de 2008, e ____________________________ pela seguinte banca examinadora. Orientador: Professor Doutor Luciano Bonfim Departamento de Educação - UNEB/Campus I Banca: Professor Doutor Otoniel Rocha Departamento de Educação - UNEB/Campus I Professora Doutora Rilza Cerqueira Departamento de Educação - UNEB/Campus I Salvador 2008 AGRADECIMENTO Agradeço ao Senhor Jesus Cristo, o maior de todos os líderes. A todas as pessoas que me ajudaram neste trabalho de forma especial. Aos colegas de graduação da turma 2004.2 - Curso de Pedagogia/Gestão da UNEB. À Ariana Santos. À Professora Doutora Rilza pelas interlocuções sempre precisas. Ao professor Doutor Otoniel À Professora Fátima Noleto pelas interlocuções. Ao Professor Doutor Antônio Amorim. À Priscila Aleluia. Ao Discente Custódio Gonçalves. Ao professor Doutor Luciano Bomfim (Orientador). RESUMO A presente monografia faz uma análise da concepção de educação e da gestão escolar. Tem-se como foco de estudo o diretor escolar, na qual durante as pesquisas de estágio supervisionado em 2006, percebi algumas dicotomias nas suas práticas como: falta de diálogo, entre o gestor escolar e comunidade escolar, com uma posição autoritária. No entanto, por motivo de resistência de alguns diretores escolares em não autorizar a pesquisa qualitativa e a universidade estipular um prazo de entrega da monografia, foi utilizado pesquisa bibliográfica e análise de documento oficial, a saber, o Estatuto do Magistério (BAHIA, Lei 8.261 de 29 de maio de 2002), para escrever o capítulo relacionado à prática do diretor da escola pública e fazer uma análise crítica em relação à gestão escolar. A participação ativa do diretor (a) no âmbito pedagógico permeia também a certeza de construção de espaços de discussão coletiva, através do diálogo, da participação, do planejamento racional e exeqüível e reflexão nas implementações. Em síntese, o objetivo deste trabalho é apresentar os pressupostos pedagógicos e administrativos que podem contribuir para o diretor (a) escolar realizar uma gestão democrática. Palavras-chave: Concepção de Educação. Gestão Democrática. Práticas do diretor (a) escolar. ABSTRACT This paper analyzes the development of education and school management. It has been a focus of study, the school director, in which during the searches of supervised probation in 2006, noticed some dichotomies in their practices as: lack of dialogue between the school manager and the school community, with an authoritarian position. However, because of resistance from some school principals not to allow the qualitative research university and provide a delivery time of the monograph, was used literature search and analysis of official document, namely the Statute of the Magisterium (BAHIA, Act of 8261 May 29, 2002), to write the chapter related to the practice of the director of public school and do a critical analysis in relation to school management. The active participation of the director (a) within teaching permeates also the certainty of building space for collective discussion, through dialogue, participation, the planning and rational thinking and feasible in implementations. In short, the purpose of this study is to present the administrative and pedagogical assumptions that may contribute to the director (a) school hold a democratic management. Keywords: Design of Education. Democratic management. Practice director of (the) school. SUMÁRIO INTRODUÇÃO 07 CAPÍTULO 1 10 CAPÍTULO 2 18 CAPÍTULO 3 26 CONSIDERAÇÕES FINAIS 35 REFERÊNCIAS 37 INTRODUÇÃO A preocupação desta temática surgiu em 2006, quando no estágio supervisionado, percebi algumas dicotomias nas práticas da gestão do diretor (a) da escola pública que se denominava um gestor democrático. Percebi a falta de diálogo entre o diretor (a), coordenadores e comunidade escolar e uma posição sectária, isolada e, às vezes, autoritária. No entanto, por motivo de situações de resistência de alguns diretores escolares de não autorizar a pesquisa qualitativa e a universidade estipular um prazo de entrega da monografia, foi utilizado pesquisa bibliográfica e análise documental. Utilizou-se da abordagem bibliográfica, que consistiu em fazer o levantamento, seleção, fichamento e arquivamento de informações ligadas à pesquisa para análise do problema proposto, bem como a de análise de documentos oficiais, a saber, o Estatuto do Magistério (BAHIA, Lei 8.261 de 29 de maio de 2002), para escrever o capítulo relacionado à prática do diretor da escola pública e fazer uma análise crítica em relação à gestão escolar. A pesquisa bibliográfica é a etapa fundamental em todo o trabalho científico. Sua finalidade é colocar o pesquisador (a) em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto, inclusive conferências seguidas de debates que tenham sido descritos por alguma forma, quer publicadas quer gravadas. Para Marconi (2002) a pesquisa bibliográfica abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas, boletins, jornais, revistas, livros, teses, monografias, até meios de comunicação orais (rádios, gravações em fita magnética) e audiovisuais. A pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliográfica. A diferença é que, enquanto a pesquisa bibliográfica se utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a pesquisa documental vale-se de materiais que podem ser re-elaborados de acordo com os objetos da pesquisa. A característica da pesquisa documental é que a fonte de coleta de dados está restrita a documentos, escritos ou não, constituindo o que se denomina fontes primárias. A pesquisa documental é aquela realizada a partir dos documentos contemporâneos ou retrospectivos, considerados cientificamente autênticos. Os documentos podem ser de fontes primárias, secundárias, fontes escritas e fontes não-escritas. No capítulo primeiro, para responder quais os pressupostos pedagógicos necessários para o diretor (a) escolar exercer uma gestão escolar democrática, utilizou-se da concepção libertadora, que considera educação como processo longo e contínuo, saber historicamente acumulado, participação, práxis (reflexão e ação). Apresenta ao leitor (a) educação enquanto instrumento de formação do cidadão crítico, com o objetivo da transformação de uma sociedade, mais justa, ética e fraterna, tendo como pressupostos o diálogo crítico, o reconhecimento do outro como sujeito do ato. Aborda-se também o papel da escola na sociedade e o conceito de prática educativa. No segundo capítulo, procura tratar dos pressupostos administrativos que podem contribuir para diretor (a) exercer suas competências na escola com a finalidade realizar uma gestão democrática. Foi necessário fazer um recorte da Teoria Geral Administração (TGA), os processos da administração escolar, numa perspectiva crítica. Explica-se o termo gestão, contextualizando historicamente a educação vista pelo viés da administração empresarial até a idéia de gestão, de forma objetiva conceitua-se também o termo gestão e democracia. Procurou analisar criticamente o Estatuto do Magistério do Estado da Bahia (Lei 8.261/02), nos artigos referentes às práticas do diretor (a) escolar, onde se faz um contraponto entre o escrito, e o aplicado. Em síntese, o objetivo deste trabalho é identificar os pressupostos pedagógicos e administrativos que podem contribuir para o diretor (a) escolar realizar uma gestão democrática. Tema: A influência do diretor (a) na Gestão Escolar. Objeto de Estudo: Gestão Escolar Democrática. Pergunta de Partida: Quais os pressupostos pedagógicos e administrativos que podem contribuir para o diretor (a) escolar realizar de uma gestão democrática e participativa? Hipótese: Um diretor (a) centralizador na tomada de decisões não é adequado à educação nos dias atuais, pois todos devem participar da gestão escolar; todos os profissionais da educação precisam sentir-se sujeitos na tomada de decisões. Objetivo Geral: Identificar os pressupostos pedagógicos e administrativos que podem contribuir para o diretor (a) realizar uma gestão escolar democrática e participativa. 1 – CONCEPÇÃO DE EDUCAÇÃO O presente capítulo tem como objetivo, a partir da teoria educacional de Paulo Freire, apresentar os pressupostos pedagógicos que podem contribuir para o diretor (a) realizar uma gestão escolar democrática e participativa. A concepção de educação na perspectiva libertadora é vista como processo longo e contínuo, participação, tendo como pressupostos o diálogo, o reconhecimento do outro como sujeito, formação critica do cidadão e reflexão sobre a prática. A Educação é também entendida saber acumulado historicamente, tornandose cada dia complexo, dinâmico e multifacetado. Como instituição formal, a escola deveria se organizar para transmitir e construir esse saber, que ao longo da vida, se torna complexo, multifacetado, renovador e dinâmico. Porém, a escola passa a ser organizada segundo os interesses do capitalismo, tendo como ênfase a divisão social do trabalho. A concepção libertadora, a educação serve como instrumento de formação do cidadão crítico, tendo possibilidade de adquirir o saber historicamente acumulado que foi vetado pelo opressor ou foi concedido irrisoriamente. A classe oprimida, adquirindo os conhecimentos culturais, poderá caminhar para a revolução da transformação de uma sociedade, mais justa, ética e fraterna. Nesse sentido surge uma nova concepção na qual a escola não é apenas um espaço no qual o indivíduo ingressa para aprender e conhecer teorias, mas local de reflexão crítica e participação dos processos de construção do saber, pois todo diretor (a) é também um educador. O que é Educação Educação é o processo pelo qual as pessoas vão se transformando ao longo de sua vida, ou seja, o ser humano jamais pára de educar-se, aprendendo cotidianamente, pois o produto do desenvolvimento humano é complexo, multifacetado e dinâmico. Não é somente disciplina, respeito às regras superiores, mas visa às competências desejáveis no pleno desenvolvimento humano para o exercício da cidadania. Educação é práxis, problematização e reflexão do homem e da mulher sobre o mundo para transformá-lo numa sociedade mais justa, mais ética e fraternal; por isso educação também é política e projeto de vida: “a educação problematizadora se faz, assim, um esforço permanente através do qual os homens vão percebendo, criticamente, como estão sendo no mundo com que e em que se acham”. (FREIRE, 1970, p. 82). Conforme afirma Vitor Henrique Paro (1998), educação é entendida como apropriação do saber historicamente produzido, é prática social e consiste na própria atualização histórica e cultural do homem e da mulher. Produzindo conhecimentos, técnicas, valores ao longo de sua história e estes, sendo passado às gerações subseqüentes: “essa mediação é realizada pela educação, do que decorre sua centralidade enquanto condição imprescindível da própria realização histórica do homem.” (1998, p. 2). Perceba que o presente autor coloca educação como apropriação do saber historicamente acumulado, para que exista o saber é preciso problematizar, interpretar e participar; partindo deste pressuposto, o conhecimento origina-se do diálogo. Gadotti, (1990), afirma que a educação é política, em quatro sentidos que se articulam: “a educação transmite modelos sociais, a educação forma para a personalidade, a educação difunde idéias políticas, a educação é encargo da escola, instituição social.”. (1990, p.140). Isto significa que o educador (a) pode reproduzir uma educação elitista, excludente, onde qualidade é sinônimo de conteúdos ou tentar romper com ela, formando o homem e a mulher para a cidadania. Optando pelo rompimento da reprodução dos ideais da classe dominante, o educador (a) traça seu caminho processual para a libertação, libertando também o(s) outro(s) e isso se faz através do diálogo crítico que: “é este encontro dos homens, mediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu-tu.” (FREIRE, 1970, 94). O educador precisa entender que o homem é um ser incompleto, que indaga, procura e re-procura, não caracterizado apenas como ser biológico, que busca satisfazer suas necessidades, mas também é um ser cultural, histórico e como tal, sujeito do ato pedagógico: “educador e educando (liderança e massas), co – intencionados à realidade, se encontram numa tarefa em que ambos são sujeitos do ato.”. (FREIRE, 1970, p. 87). Ambos são sujeitos porque vão se criando com as tensas relações e heranças sociais e refletindo sobre eles. Para Gadotti, (1990, p.147), a educação só tem sentido na medida em que é concebida como ação visando à participação e a autonomia, é um processo de transformação do indivíduo e da sociedade e a escola não pode ficar fora das lutas globais da sociedade. O planejamento das ações do diretor (a) ser voltado para a realidade, ter visão de futuro sem temer o presente, inovar. E tudo isto significa estudar com afinco, sistematicidade e produtividade. Isto cansa, exige esforço ingente. A educação é um processo preponderante na vida social, necessariamente dialógico e que permite a autonomia do educador e do educando. Essa autonomia não pode ser confundida com posturas permissivas ou licenciosas, implicando um clima de irresponsabilidade, mas com reconhecimento. O diretor (a) re-conhecendo o outro como sujeito, perceberá que a educação faz-se através de um processo pedagógico não-dominador e com responsabilidade. Problematizar passa a ser então, uma reflexão sobre a prática, planejamento e uma busca para concretização do sonho por meio da participação coletiva, questionando qual o papel da escola e qual a escola pretendida. O papel da Escola Educação enquanto apropriação do saber historicamente acumulado, ao longo do tempo se renova, tornando-se complexo, multifacetado e dinâmico, sendo insuficiente que uma comunidade ou mesmo que uma pessoa possa deter o saber acumulado historicamente em sua totalidade. Por esse motivo é necessária a criação de instituições formalmente destacadas para essa tarefa: “entre essas instituições, destaca-se a escola, cuja especificidade é precisamente a transmissão do saber de forma sistemática e organizada. A escola coloca-se, assim, como participante da divisão social do trabalho” (PARO 1993, p.105). A escola tem servido aos interesses do capitalismo, embora a escola já existisse muito antes do capitalismo. Foi na ascensão burguesa e sua consolidação no poder que se verificou a tendência de sua generalização para toda a sociedade, com a constituição dos sistemas escolares “baseados no princípio liberal de direito à educação por parte de cada cidadão e o dever do Estado de provê-la a toda a população” (SAVIANI, 1983, p. 9). A escola passa a ser organizada tendo em vista os interesses do capitalismo, tanto em termos estruturais quanto superestruturais. Em termos estruturais, o papel da escola é o de dotar as pessoas com determinados requisitos intelectuais, indispensáveis ao exercício da produção. O desenvolvimento da produção capitalista leva a uma progressiva desqualificação do trabalhador, através da divisão pormenorizada do trabalho e da separação entre concepção e execução. Nesse processo, o sistema produtivo necessita de uma quantidade cada vez maior de profissionais com quase nenhuma habilidade intelectual, decrescendo muito em termos relativos o número de profissionais altamente qualificados que necessitam de uma extensa e consistente escolarização (PARO, 1993, p. 107). Em termos superestruturais, a escola funciona como mecanismo de disseminação dos ideais da classe dominante. Levando as pessoas a saírem do seu estado de ignorância e aderindo à visão de mundo, contribuindo para a construção dos ideais burgueses, através da generalização da educação escolar e utilizando-se de uma concepção bancária em que: “os educandos são depositários e o educador o depositante.” (FREIRE, 1970, p. 66). Vitor Henrique Paro (1998) salienta que não basta a escola formar o para trabalho, para a sobrevivência e entrar para universidade como parece entender os que vêem a escola nesse prisma. A escola deve preparar para vida, mas o viver bem, no sentido de desfrutar todos os bens criados pela humanidade. “É preciso que a escola estimule, propicie para este bem viver, que a escola seja prazerosa para os alunos desde já. A primeira condição para propiciar isso é que a educação se apresente enquanto relação humana, dialógica, que garanta a condição do sujeito tanto o educador quanto o educando.” (1998, p. 3). Perceba que, uma escola prazerosa é aquela que propõe um diálogo crítico e participação entre o educador e educando de maneira racional. È no diálogo que se percebe as incompletudes promovendo um planejamento de forma racional e exeqüível. Embora o papel da escola na reprodução da força de trabalho e na inculcação não seja exclusividade sua, e nem tampouco decisivo para a perpetuação da atual ordem social, a escola presta uma parcela de contribuição grande o suficiente para que a classe dominante dela não abra mão, sabendo que educação é práxis reflexão do homem para o Ser mais. Com isso através da disseminação das idéias da classe dominante impede as classes trabalhadoras de exercer a práxis, sonegando-lhes o conhecimento, pois: “desta maneira, começaremos reafirmando que os homens são seres da práxis. Para dominar, o dominador não tem outro caminho senão negar às massas populares a práxis verdadeira, negar-lhes o direito dizer sua palavra, de pensar certo.”. (FREIRE, 1970, p. 145). Esse saber historicamente produzido, ou seja, a ciência, a tecnologia, a filosofia, a arte, enfim, todas as conquistas culturais realizadas pela humanidade, estar nas mãos de uma minoria burguesa, se faz necessário a classe trabalhadora apropriar-se para servir de elemento de sua afirmação e emancipação cultural na luta pela desarticulação do poder capitalista e pela organização de uma nova ordem social, pois: O desenvolvimento filosófico, científico, artístico e tecnológico, bem como as mudanças que são introduzidas nos valores e nas maneiras de conduzir-se socialmente, são sempre cumulativos e se fazem com base nas conquistas alcançadas anteriormente e transmitidas às novas gerações através de algum processo educativo (PARO, 1993, p. 105). Ora, a educação por si só não é uma alavanca de transformação. É preciso perceber que a claridade política é indispensável, necessária, mas não o suficiente, como também perceber que a competência científica é necessária, mas não igualmente suficiente. Não é uma solução plena, pois a educação não pode tudo, mas pode alguma coisa. Se a educação pode alguma coisa, compreende-se que não pode existir uma prática educativa neutra, descomprometida e apolítica, pois a prática educativa em sua diretividade faz seguir um fim, um sonho, um projeto de vida, uma utopia, não permitindo assim, uma neutralidade. “O respeito aos educandos não pode fundar-se no escamoteamento da verdade – a da politicidade da educação e na afirmação de uma mentira: sua neutralidade” (FREIRE, 2001, p. 21). Lembrando que o domínio da cultura constitui instrumento indispensável para a participação política das massas. Se as massas populares não dominam os conteúdos culturais, ficarão impossibilitados de fazer valer os seus interesses, pois ficarão desarmados contra os dominadores, que servem desses conteúdos culturais para dominar. A educação em sentido amplo compreende os processos formativos que ocorrem no meio social, nos quais os indivíduos estão envolvidos de modo necessário pelo simples fato de existirem socialmente. Numa concepção libertadora, educação serve para que as massas trabalhadoras e todo indivíduo oprimido, tenha possibilidade de adquirir o saber historicamente acumulado e que foi vetado pelo opressor ou foi concedido irrisoriamente. O educador progressista libertador procura mostrar aos educandos que eles são sujeitos do processo e como tal, merecem se apropriar do saber historicamente acumulado. Pois, “em outras palavras, a classe trabalhadora precisa dominar os instrumentos culturais que estão em poder da classe dominante, precisamente para antepor-se a esta enquanto classe revolucionária” (PARO, 1993, p. 115). Essa revolução segundo Freire (1970), se inicia através do diálogo corajoso com as massas. Em suma, a verdadeira educação é práxis (reflexão, ação) e intervenção do homem sobre o mundo para transformá-lo. No caso da escola ela poderá contribuir com sua parcela para a transformação social na medida em que, como agência especificamente educacional: “conseguir promover, junto às massas trabalhadoras, a apropriação do saber historicamente acumulado e o desenvolvimento da consciência crítica da realidade em que se encontram.” (PARO, 1993, p. 113). A apropriação do saber historicamente acumulado e o desenvolvimento de uma consciência crítica não são elementos distantes, mas se completam mutuamente. O planejamento escolar precisa ser participativo, procurando perceber as reais necessidades da escola. Isto é feito através do diálogo do diretor e participação dos professores, alunos (as), corpo administrativo e comunidade escolar, onde de forma racional será produzido um planejamento exeqüível a curto ou longo prazo e uma reflexão sobre a prática. A seguir, apresenta-se de forma sintetizada o significado de prática educativa. Prática Educativa O significado de prática educativa é confirmar, modificar e ampliar saberes. É o educador perceber que o educando também é sujeito do ato pedagógico, trazendo seu conhecimento de mundo e sua experiência social como indivíduo, pois o discente não é uma tábula rasa pelo contrário, como pensa a concepção bancária de educação, onde o educador vai depositar os conhecimentos. Pelo contrário, educador e educando, ambos ampliarão seus conhecimentos com a possibilidade de reflexão. “Ensinar, aprender e pesquisar lidam com dois momentos do ciclo gnosiológico: o em que se ensina e se aprende o conhecimento já existente e o em que se trabalha a produção do conhecimento ainda não existente” (FREIRE, 1996, p. 14). Por isso toda situação educativa implica: Presença dos sujeitos, tanto aquele que ensina como aquele que aprende. Educador e educando Os objetos de conhecimentos a ser ensinado pelo professor (educador) e a ser apreendidos pelos alunos (educandos) para que possam aprendê-los; Conteúdos; Objetivos mediatos e imediatos a que se destina ou se orienta a prática educativa. Por isso é que, na formação permanente dos professores, o momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. Prática educativa é pensar criticamente a própria prática que se pode melhorar futuramente, planejando de forma racional; isso é visão de futuro. Enquanto se ensina, se busca, reprocura, indaga, é indagado. Pesquisa, para se constatar, constando-se intervém, intervindo educa e re-educa-se, reeducando-se pensa, pensando forma e reflete sobre a prática, planejando atividades racionalmente. Isso exige esforço, vontade própria, re-conhecimento do outro como sujeito (a participação começa desse re-conhecimento) e reflexão sobre a prática. A prática educativa é uma atividade no qual os homens e mulheres vão se percebendo e se re-conhecendo como sujeito, por isso: Por que não discutir a realidade concreta a que se deva associar a disciplina cujo o conteúdo se ensina, a realidade agressiva em que a violência é a constante e a convivência das pessoas é muito maior com a morte do que com a vida? Por que não estabelecer uma necessária intimidade entre os saberes curriculares fundamentais aos alunos e a experiência social que eles têm como indivíduos? Por que não discutir as implicações políticas e ideológicas de um tal descaso dos dominantes pelas áreas pobres da cidade? A ética da classe embutida nesse descaso? Porque, dirá um educador reacionariamente pragmático, a escola não tem nada a ver com isso. A escola não é um partido. Ela tem que ensinar os conteúdos, transferi-los aos alunos. Aprendidos, estes operam por si mesmos (FREIRE, 1996, p. 14). Segundo Libâneo (1991, p. 19), a prática educativa é um fenômeno social e universal, sendo uma atividade humana necessária à existência e funcionamento de todas as sociedades. Cada sociedade precisa cuidar da formação dos indivíduos, auxiliar no desenvolvimento de suas capacidades físicas espirituais (entende-se espírito questão de valores, de caráter e de razão), prepará-los para a participação ativa e transformadora nas várias instâncias da vida social. Nesse sentido surge uma nova concepção na qual a escola não é apenas um espaço no qual o indivíduo ingressa para aprender e conhecer teorias, e sim um lugar para reflexão crítica nas quais todos os envolvidos no âmbito escolar são convocados a participar dos processos de construção do saber. “Somente o diálogo possibilita a educação para a liberdade e a formação de pessoas capazes de participarem criticamente na construção de um mundo mais justo, como sujeitos de sua história” (FERRERO-1992, p.56). Os pressupostos pedagógicos identificados que podem contribuir para o diretor (a) realizar uma gestão democrática numa concepção libertadora de educação são: o diálogo, o re-conhecimento do outro como sujeito, que implica participação dos sujeitos e reflexão das atividades, construindo planejamentos racionais e exeqüíveis, de acordo com a colaboração de todos os envolvidos na educação escolar. Entender que, a realização da democracia, envolve participação e experimentação dos sujeitos. Isso é educação na perspectiva libertadora, práxis, reflexão, ação. A relevância da experiência está no próprio ato da sua realização e no seu poder de recriação permanente, que se afirma quando Freire (2003, p. 114) enfatiza: “Mas o que é impossível é ensinar participação sem participação! É impossível só falar em participação sem experimentá-la. Democracia é a mesma coisa: aprende-se democracia fazendo democracia, mas com limites”. Ou seja, democracia é feita através da prática, onde o homem se percebe sujeito do ato do cotidiano da escola. Para se avançar na democratização da gestão escolar todos precisam participar do processo através do diálogo, respeito mútuo, incentivo e responsabilidade na participação, tanto na elaboração do Projeto Político Pedagógico, quanto no plano de ação e calendário escolar, com objetivo de uma educação crítica para formação da cidadania. 2 GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA Este capítulo tem como objetivo indicar os pressupostos administrativos de um modo geral que influenciaram na prática do diretor (a) escolar e suas contribuições para melhoria do seu desempenho. Para isso foi necessário fazer um recorte da administração do século XX, a partir da Teoria Geral Administração (TGA) e sua influência nas escolas brasileiras. De forma introdutória, faz um breve contexto histórico da administração escolar até chegar à idéia de gestão escolar. Apresenta o significado dos termos administração e gestão. Trata-se de conceituar democracia enquanto contribuição no exercício das atividades do diretor (a) escolar e refletir suas práticas adotadas para realizar uma gestão escolar democrática. Teoria Geral da Administração Como administração escolar não se faz no vazio, mas no seio de uma formação econômico-social e determinada pelas forças sociais presentes, foi preciso explicar sobre o conceito de administração, suas teorias, a saber, científica, clássica bem como os determinantes que condicionam a administração capitalista. Administração é um conjunto de atividades dirigidas à utilização eficiente e eficaz dos recursos, no sentido de alcançar um ou mais objetivos ou metas organizacionais. “A administração implica o uso eficiente e eficaz dos recursos que podem ser materiais ou físicos, financeiros, informacionais e humanos” (SILVA, 2001, p. 10). Segundo CHIAVENATO (1983, p. 23), a palavra administração é de origem latina ad (direção para, tendência para) e minister (subordinação, obediência), significando aquele que realiza uma função abaixo do comando de outrem, ou seja, aquele que presta serviço ao outro. Eficiência significa operar de modo que os recursos sejam mais adequadamente utilizados e eficácia é fazer as coisas certas, de modo certo e no tempo certo, pressupõe a parte técnica. As funções da administração são: planejamento, organização, direção e controle e implementação. Os princípios da administração científica se basearam na estrutura formal e nos processos das organizações. As pessoas eram vistas como instrumentos de produção, e utilizadas para alcançar a eficiência para a organização. A Escola da Administração Científica foi iniciada pelo engenheiro americano Frederick W. Taylor, considerado o fundador da moderna Teoria Geral da Administração (TGA). A teoria administrativa científica via a necessidade de aplicar métodos científicos à administração para assegurar seus objetivos de máxima produção e mínimo custo; seguindo os princípios de: seleção científica do trabalhador, tempo padrão, plano de incentivo salarial, trabalho em conjunto, gerentes planejam e funcionários executam; divisão de trabalho, supervisão e ênfase na eficiência. As críticas da administração científica podem ser resumidas em: mecanicismo da administração científica, superespecialização do operário, visão microscópica do homem, ausência de comprovação científica, abordagem incompleta da organização, limitação do campo de aplicação, abordagem prescritiva e normativa e abordagem de sistema isolacionista e fechado. Se a Administração Científica se caracterizava na ênfase da tarefa realizada pelo operário, a Teoria Clássica se caracterizava pela ênfase na estrutura que a organização deverá possuir para ser eficiente. Fayol um engenheiro francês, o fundador da Teoria Clássica da Administração, partiu de uma abordagem sintética, global e universal da empresa, inaugurando uma abordagem anatômica e estrutural que rapidamente suplantou a abordagem analítica e concreta da administração científica. Na perspectiva clássica da administração, o ato de administrar é: prever, comandar, organizar, coordenar e controlar. A Teoria Clássica formulou uma Teoria da Organização, tendo por base a Administração como ciência. Entretanto, várias críticas podem ser atribuídas à Administração Clássica: abordagem extremamente simplificada da organização formal, deixando de lado a organização informal, a ausência de trabalhos experimentais capazes de dar base científica às suas informações e princípios, o mecanismo de sua abordagem que também lhe valeu o nome de teoria da máquina, a abordagem incompleta da organização como se esta fosse um sistema fechado (CHIAVENATO, 1983, p.88). Os trabalhos dos teóricos sobre Administração Escolar adotaram implícita ou explicitamente uma postura que, nas escolas devem ser aplicados os mesmos princípios administrativos adotados na empresa capitalista, tendo como ênfase a divisão social do trabalho. Aplicou-se o conceito de administração como o mando, chefia e subordinação, voltado às questões financeiras da escola e burocráticas, deixando de lado às atividades fins, ou seja, o processo pedagógico para formação do cidadão. Entende-se por burocracia na visão de Lourenço Filho (1970) “um sistema hierárquico, de caráter rígido e impessoal, com a eliminação da responsabilidade de seus agentes, com o que se prejudicam as finalidades da organização. O precursor desses estudos não foi um especialista, mas o sociólogo e filósofo alemão Max Weber” (1970, p.55). Em linhas gerais, o burocrata ignora suas convicções pessoais para obedecer à hierarquia. Surge assim uma ação impessoal, insensível e excessivamente racional, baseada em conhecimento técnico. De acordo com Vitor Henrique Paro (1993), a atividade administrativa é exclusiva e necessária ao homem. Exclusiva porque somente ele utiliza os recursos de maneira racional, ou seja, tem um fim em mente; se faz necessário, porque somente o homem é capaz de estabelecer livremente os objetivos a serem cumpridos, pois o homem realiza e efetua a transformação da matéria, existindo desde o início na sua imaginação: Uma aranha executa operações semelhantes ao tecelão, e a abelha envergonha mais de um arquiteto humano com a construção dos favos de suas colméias. Mas o que se distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo em cera. No fim do processo de trabalhado obtém-se um resultado que já de início deste existiu na imaginação do trabalhador, e portanto idealmente. Ele não apenas efetua uma transformação da forma da matéria natural; realiza, ao mesmo tempo, na matéria natural seu objetivo, que ele sabe que determina, como a lei, a espécie e o modo de sua atividade e ao qual tem de subordinar sua vontade (Marx, 1983; 149-150). Essa transformação seria a utilização racional do esforço humano de maneira coletiva, coordenada. A administração pode ser vista tanto na teoria quanto na prática como dois amplos campos que se interpenetram: a racionalização do trabalho e a coordenação enquanto utilização racional do esforço humano de maneira coletiva. Óbvio que as teorias científica e clássica da administração não os considerava dessa maneira, pois numa sociedade de classes, o objeto de estudo de determinada ciência ou disciplina tende a se amoldar aos interesses dominantes. No Brasil, a estrutura do Estado ditatorial, representava a lógica de poder autoritário formando pedagogos especialistas em administração educacional, que teve como estratégia central as relações sociais de poder. Mas com a democratização política brasileira nos anos de 1980, começou a pensar na democratização da escola. Essa democratização deveria dar uma nova roupagem aos princípios de execução das atividades escolares. Trocou o termo administração que predominou nas empresas privadas, com posturas hierárquicas, relações verticais e isoladas para o termo gestão, onde trocou o termo supervisão para coordenação, representando divisão das competências. Contexto Histórico: Da Administração Escolar para Gestão Escolar Na visão de Arroyo (1979), a crítica dos princípios da gerência científica apresentada na administração escolar na década de 1970, teve uma considerável influência para a dimensão política da administração educacional brasileira. Até porque, a década de 1970 foi marcada pelas reformas na administração do Estado dizem respeito aos fatos ocorridos na ditadura de militar. A estrutura do Estado ditatorial representava a lógica de poder autoritário e, nesse período, o Estado se ajustava sob o modelo da lógica privada e empresarial. No contexto educacional, a formação dos pedagogos foi voltada para especialista em administração educacional e à introdução de métodos válidos na administração de empresas privadas. “Do ponto de vista, de uma concepção de educação mais amplamente entendida, foi o momento da chamada pedagogia tecnicista” (ALMEIDA, 2004, p. 24). A escola sob a ótica administrativa – científica teve limitações tais como: a visão era racional, mecanicista e a atuação era distanciada. Os diretores que aderiram à teoria científica da administração comandavam a escola com o fim de reprodução do sistema, a não participação e limitação das atividades escolares com os professores, orientadores pedagógicos, pais, alunos, apoio escolar e o isolacionismo da escola com a comunidade. A lógica administrativa que predomina nas empresas modernas transpostas para o sistema escolar está vinculada ao processo das relações de poder, que é o modelo burocrático da organização do trabalho. “Considera-se que o processo administrativo tanto na esfera privada quanto na esfera pública teve como estratégia central a reprodução das relações de poder” (ALMEIDA, 2004, p. 27). A proposta de administração escolar na visão de Arroyo (1979) é a substituição dos mecanismos que tem levado à concentração de poder e decisões que levam grupos a trabalhar a educação sob a lógica de mercado; criando mecanismos que estabeleçam a participação popular na definição de estratégias na organização escolar, no controle de recursos e, sobretudo, na redefinição dos conteúdos e fins que se constituem a dimensão pedagógica e social na administração escolar. Nas últimas décadas, a partir dos anos de 1980, verificou-se no Brasil uma tendência de democratização da escola pública, acompanhando a democratização da sociedade, em certa medida: Trata-se portanto, das medidas que vêm sendo tomadas, com a finalidade de promover a partilha de poder entre os dirigentes, professores, pais, funcionários e de facilitar a participação dos envolvidos nas tomadas de decisões relativos ao exercício das funções da escola com vista à realização de suas atividades (PARO, 1997, p. 01). O termo administração que predominou nas empresas privadas representava ainda um sistema fechado e isolado nas relações do diretor (a) com a comunidade escolar (professores, supervisores, alunos e pais) nas execuções escolares. Era preciso mudar o termo administração que predominou nas empresas privadas, com posturas hierárquicas, relações verticais e isoladas para o termo gestão. Conforme Ademir Ferreira (1997) gerir tem origem da palavra latina gerere, que significa conduzir, dirigir ou governar. Administrar tem origem da palavra latina administrare, que tem aplicação específica no sentido de gerir um bem dos que o possuem. “Administrar seria, portanto, a rigor, uma aplicação de gerir”. (FERREIRA, 1997, p.62). Se estiver envolvida a educação, é importante, antes de qualquer coisa, levar em conta os objetivos que se pretende com a escola. A idéia de gestão desenvolve-se associada a outras idéias globalizantes e dinâmicas da educação como o destaque à sua dimensão política e social, ação transformadora, globalização, etc. Enquanto que a administração científica trata as pessoas como componentes de uma máquina manejada e controlada de fora para dentro. A expressão gestão educacional, segundo Heloísa Lück (1999), surge em substituição à administração educacional para representar novas idéias, novo paradigma, dinamização de rede de relações dialética, no seu contexto interno e externo. Gestão educacional conceitua a democratização do processo de determinação dos destinos do estabelecimento de ensino e seu projeto político pedagógico. As execuções dos trabalhos escolares são realizadas de maneira coordenada, delegando atividades à comunidade escolar. Para se falar em democratização da escola, apresenta-se o conceito breve de democracia. O que é Democracia A democracia identifica-se como governo do povo, tendo uma história comum à existência e desenvolvimento da pólis, ou seja, cidade-estado da Grécia Antiga. Ao analisar a questão da democracia, Ciavatta (2002, p. 90), afirma que “a pólis era o espaço de vida social, da vida em comum para o cidadão grego, dessa vida associativa, dela não fazendo parte os escravos nem os chamados bárbaros.” (p. 90). Democracia, para a referida autora, compreende quatro idéias básicas: base social concreta, ou seja, relações de trabalho, relações social de produção, fragilidade da democracia, que apontam condições contraditórias e interesses de grupos ou classes; e democracia compreende desigualdade real: Se as estratégias de decisão política não ultrapassam os mecanismos formais de participação pelo voto e de eleição de representantes, e não incorporem as demandas reais do conjunto dos cidadãos, o jogo democrático se converte num mero formalismo. O regime democrático representativo torna-se um simulacro útil às dominações oligárquicas que, na história constitucional de nossos povos, sempre foram tão excludentes quanto repressivas (CIAVATTA, 2002, p. 91). A democratização da gestão escolar representa um movimento já iniciado no Brasil, há alguns anos, na tentativa de superar procedimentos tradicionais baseados no corporativismo e clientelismo. Sem procurar teorizar ambos, o mal de tais procedimentos está em avaliar a situação do ponto de vista dos benefícios próprios, subjugando os interesses a um caminho isolado de vantagens que acabam emergindo em privilégios próprios ou de uma minoria. Demo, salienta sobre o corporativismo Até porque: “la propia esencia de la democracia incluye una nota fundamental, que le es intríseca: El cambio. Los regímenes democráticos se nutren em verdade del cambio constante. Son flexibles, inquietos y, por eso mismo, el hombre de esos regímenes debe tener mayor flexibilidad de conciencia” (FREIRE, 1997, p.85). O referido autor mostra que o fundamento da democracia é a mudança constante; até porque, a concepção de ser humano para Freire (2001) é um ser que indaga e é indagado, se procura e re-procura, é um ser histórico e cultural um ser em processo. Assim, para Freire (2001, p. 127), “participar é discutir, é ter voz, ganhando-a, na política educacional das escolas, na organização de seus orçamentos. Sem uma forte convicção política, sem um discurso democrático cada vez mais próximo da prática democrática, sem competência científica nada disto é possível.” Lück e colaboradores (2002) enfatizam que a gestão escolar promove a redistribuição das responsabilidades que objetivam a intensificar a legitimidade do sistema escolar. Em suma, o conceito de gestão pressupõe em si a idéia de participação. “A gestão participativa é normalmente entendida como uma forma regular e significante de envolvimento dos funcionários de uma organização no seu processo decisório” (LÜCK, 2002, p. 15). O diretor (a) escolar influenciado pela teoria da administração empresarial com suas relações fechadas e isoladas precisa repensar o real conceito da administração. De acordo com Vitor Henrique Paro (1993), a atividade administrativa é exclusiva e necessária ao homem. Exclusiva porque somente ele utiliza os recursos de maneira racional, ou seja, tem um fim em mente; se faz necessário, porque somente o homem é capaz de estabelecer livremente os objetivos a serem cumpridos, pois o homem realiza e efetua a transformação da matéria, existindo desde o início na sua imaginação: Uma aranha executa operações semelhantes ao tecelão, e a abelha envergonha mais de um arquiteto humano com a construção dos favos de suas colméias. Mas o que se distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo em cera. No fim do processo de trabalhado obtém-se um resultado que já de início deste existiu na imaginação do trabalhador, e portanto idealmente. Ele não apenas efetua uma transformação da forma da matéria natural; realiza, ao mesmo tempo, na matéria natural seu objetivo, que ele sabe que determina, como a lei, a espécie e o modo de sua atividade e ao qual tem de subordinar sua vontade (Marx, 1983; 149-150). A administração pode ser vista tanto na teoria quanto na prática como dois amplos campos que se interpenetram: a racionalização do trabalho e a coordenação enquanto utilização racional do esforço humano de maneira coletiva. É nessa perspectiva de administração que o diretor (a) escolar deve pensar no seu cotidiano escolar, promovendo a participação dos sujeitos. Entender democracia é saber que esta não acontece de uma hora para outra, ou por meio de decisões hierárquicas (de cima para baixo), e não é uma conquista individual. Mas a democracia é um processo que se exige uma conquista conjunta, coletiva, por meio do diálogo, do respeito e poder de decisão de todos os envolvidos. Por isso a idéia de “flexibilidade de consciência.”. 3 PRÁTICAS DO DIRETOR (A) ESCOLAR Este capítulo tem como objetivo tratar das contribuições aplicáveis à melhoria do desempenho do diretor (a) a fim de realizar uma gestão escolar democrática e refletir suas práticas. O capítulo se inicia apresentando os elementos que compõem a administração, que são: planejamento, organização, controle e implementação. A análise da prática se deu através de pesquisa do documento oficial, a saber, o Estatuto do Magistério do Estado da Bahia (Lei 8.261/02), em particular os artigos relacionados às práticas do diretor (a). O diretor (a) escolar, visto como representante da Lei e da Ordem, preposto do Estado e responsável pela supervisão e controle das atividades é quem dá a última palavra, mas ele deve usar da autoridade para promover a participação de todos. O diretor não é o dono da escola e não existe escola sem comunidade escolar (professores, coordenadores, funcionários, alunos e pais), entendendo que Democracia pressupõe que todos devem participar da tomada de decisões com responsabilidade e o diretor (a) deve exercer sua autoridade quando for necessário, não ser autoritário, isolado e sectarista. Na escola, antes de ser um administrador, o diretor também é um educador e precisa se relacionar e promover a participação com todos, não devendo também estar isolado da comunidade em que se encontra e estar de acordo com as normas educacionais. O presente capítulo é uma reflexão da prática do diretor (a) escolar para que este realize uma gestão escolar democrática, onde se retoma os pressupostos pedagógicos e administrativos que podem contribuir para o diretor (a) escolar realizar de uma gestão democrática e participativa. Elementos que compõem a administração De acordo com Martins (1999, p. 25) os elementos que compõem a administração são: organização, planejamento, controle e implementação. À medida que uma instituição se desenvolve, as tarefas vão se multiplicando e precisam, num primeiro momento, ser dividida entre pessoas e, num segundo momento, agrupadas em setores, divisões ou departamentos: “além das tarefas diferenciadas, é de suma importância considerar como critério para organizar o fator humano, pois o comportamento do pessoal tem influência fundamental na organização” (MARTINS, 1999, p. 29). O planejamento do trabalho é uma tarefa de fundamental importância na administração. O planejamento inclui a determinação dos objetivos, as políticas, os métodos e os programas a serem desenvolvidos, bem como as formas de acompanhamento e controle. O controle permite a avaliação de resultados relativos ao alcance dos objetivos de um plano; a implementação consiste na colocação dos planos em ação. Sabe-se que o diretor (a) escolar, é o responsável pela supervisão e controle das atividades e quem dá a última palavra, estando no topo da hierarquia. Mas, todos, tanto o pessoal da secretaria e funcionários – (serventes, inspetores de alunos etc.), quanto o pessoal técnico – pedagógico (orientador educacional, coordenador pedagógico etc.), até os professores e alunos devem ou deveriam participar da vida escolar, desempenhando suas tarefas. Lógico que na prática, essas delimitações acontecem como em qualquer sistema burocratizado, com rigor das normas escritas. Mas o diretor (a) enquanto educador, precisa promover a participação de todos através do diálogo crítico nos planejamentos, na proposta pedagógica e manter uma relação horizontal com os envolvidos no ato pedagógico, refletindo a sua prática e não temendo a inovação. As competências do diretor (a) conforme o Estatuto do Magistério do Estado da Bahia (Lei 8.261/2002) Por causa do rigor das normas escritas, o diretor (a) escolar passa a ter funções dúbias: como educador ele precisa cuidar da busca dos projetos educacionais da escola, entender que pressuposto pedagógico há de implicar na elaboração dos projetos e planos de ação da escola; como gerente e responsável último pela instituição escolar, deve fazer cumprir as determinações emanadas pelos órgãos superiores do sistema de ensino que bombardeiam a unidade escolar com enorme número de leis, pareceres, resoluções, etc. Essas leis aparecem de forma embaraçosa quando: Se interpõem como obstáculo à solução de múltiplos problemas que o diretor deve enfrentar em seu dia-a-dia, principalmente daqueles relacionados à escassez de recursos de toda a ordem: precariedade do edifício e instalações escolares, falta de equipamento e materiais de consumo, carência de pessoal, falta de segurança na escola etc. Envolvido, assim, com os inúmeros problemas da escola e enredado nas malhas burocráticas das determinações formais emanadas dos órgãos superiores, o diretor se vê grandemente tolhido em sua função de educador, já que pouco tempo lhe resta para dedicar –se às atividades mais diretamente ligadas aos problemas pedagógicos no interior de sua escola ( PARO, 1993, p. 133). O diretor escolar passa a assumir o papel de preposto do Estado, com a incumbência de zelar por seus interesses; embora no nível da ideologia de classe que detém o poder econômico na sociedade. Por outro lado a situação de impotência do diretor, diante dos problemas graves com as quais se defronta a escola, concorre para que esta tenha frustrada a realização do seu objetivo especificamente pedagógico; desse modo, deixa de cumprir sua função transformadora de emancipação cultural das camadas dominadas da população, servindo aos interesses da conservação social (PARO, 1993, p. 135). Como a gestão escolar promove a redistribuição das responsabilidades, procurou-se analisar criticamente, alguns artigos relacionados ao diretor no presente Estatuto, tomando por base a concepção gestão e educação, já apresentados. Analisando-se o Estatuto do Magistério: Art. 2º - O exercício do magistério, fundamentado nos direitos primordiais da pessoa humana, ampara-se nos seguintes princípios: I - liberdade de ensinar, pesquisar e divulgar o saber produzido pela sociedade, através de um atendimento escolar de qualidade; II - crença no poder da educação que contemple todas as dimensões do saber e do fazer no processo de humanização crescente e de construção da cidadania desejada; III - reconhecimento do valor do profissional de educação, asseguradas as condições dignas de trabalho e compatíveis com sua tarefa de educador; IV - garantia da participação dos sujeitos na vida nacional, no que diz respeito ao alcance dos direitos civis, sociais e políticos; V - promoção na carreira; VI - gestão democrática fundada em decisões colegiadas e interação solidária com os diversos segmentos escolares. (BAHIA, LEI 8.261/02, p. 1). De maneira comentada, nos incisos I e II do Artigo 2º, estão implícitos que o exercício do magistério ampara nos princípios da liberdade de ensinar, pesquisar e divulgar o saber produzido pela sociedade através de um atendimento escolar de qualidade e crença que a educação contemple todas as dimensões do saber e do fazer no processo de humanização crescente e construção da cidadania desejada. A busca pela qualidade da educação tem sido uma forte arma para estimular um novo modelo de gerir escolas. A participação escolar é vista como um esforço à institucionalização da democracia e qualidade/eficácia da educação. O sentido pleno de participação escolar é caracterizado pela forte atuação consciente dos seus membros reconhecendo e assumindo seu poder de influenciar na dinâmica dessa unidade escolar. É necessário que esse conceito de participação plena seja compreendido Ao discutir sobre o papel do diretor de escola, SAVIANI (1984), considera que antes de ser um administrador ou um gestor, ele é um educador. Deve ele ter em mente que concepção educação é ideal para a formação da cidadania. Deve o diretor, em seu trabalho cotidiano, preservar ou garantir o caráter educativo da instituição escolar e refletir a sua prática enquanto educador. No inciso III, tem como princípios reconhecimento do valor profissional e condições dignas de trabalho. Pode-se perceber que nas escolas, da periferia, há falta de espaços para recreação dos discentes, falta de materiais didáticos (muitos docentes é que trazem seus materiais para conceder um ensino proveitoso para os alunos), falta um espaço para bibliotecas e sala de informática. Percebe-se uma distância entre o ideal e o real. O diretor, se vê colocado entre dois focos de pressão: “de um lado professores, pessoal da escola em geral, alunos e pais, reivindicando medidas que proporcionem melhores condições de trabalho e promovam a melhoria do ensino; de outro, o Estado não satisfazendo a tais reivindicações e diante da qual o diretor deve responder pelo cumprimento, no âmbito da escola, das leis, regulamentos e determinações (PARO, 1993 p. 133). O Estatuto do Magistério, em seu artigo 24 nos incisos I ao XXX (funções correlatas e afins), contempla-se praticamente mais 30 atribuições para o diretor. Desde a parte pedagógica (com a elaboração do planejamento escolar, elaboração do calendário); parte administrativa (freqüência dos funcionários, dos professores, admissão de funcionários, comunicação com os órgãos oficiais de educação, assinatura de documentos, tais como certificados entre outros), relações-humanas (promover uma política de entrosamento com os funcionários, alunos, pais e comunidades), aspectos físicos da escola, financeiros e estar de acordo com os aspectos legais. Compete ao diretor a verificação do cumprimento dos preceitos da legislação de ensino. Com isso, ele deverá cotidianamente, acompanhar o desenvolvimento dos planos de ensino dos professores, observar os diários de classe, os prontuários dos alunos e toda a escrituração da Secretaria, o cumprimento do calendário escolar e o atendimento às solicitações da Delegacia de Ensino. Além de supervisionar em nível pedagógico. Nesse aspecto, o diretor acompanha a ação pedagógica dos professores no que tange a: metodologia utilizada; manejo de classe; relacionamento com os alunos; processo de avaliação. Cabe ainda ao diretor acompanhamento do trabalho dos especialistas de educação, ou seja, do assistente pedagógico, realizado junto aos professores, do orientador educacional e alunos. O diretor é responsável pelo gerenciamento burocrático da escola e pela supervisão do processo pedagógico que envolve professores e alunos ainda as questões financeiras. Ele deve ter presença constante no cotidiano escolar, até porque, conforme o Estatuto, o regime do diretor e secretário é de tempo integral; e deve ser a figura central que envolve os pais e comunidades, deve ser um líder. O líder se empenha em desenvolver habilidades da equipe, identificar e comunicar valores e o potencial de cada um, possibilitando desta forma, uma motivação permanente, tem uma visão de futuro é inovador: O líder de pessoas é criativo, carismático e comprometido. Ele é um comunicador competente, corajoso. Ele avalia, apresenta e discute processo e resultados. Ele faz com que as informações fluam, dá oportunidades para as pessoas desenvolverem sua auto-estima e confiarem em si próprios e no que fazem, desenvolvendo o espírito de equipe e colaboração. (Kátia Siqueira, 2003- p. 16). Entende-se por presença constante, as questões relacionais, atitudinais e administrativa; pois não interessa numa concepção progressista libertadora de educação a presença física do diretor na escola e ausente nas ações e nas relações grupais, assumindo posturas intolerantes e isolacionistas. A escolha para exercer o cargo de diretor, segundo o presente Estatuto, é através de cargos comissionados, ou seja, são indicados pelos órgãos superiores, neste caso, a Secretaria Estadual de Educação, com possibilidades de haver um corporativismo político. Para que a gestão torne-se democrática, conforme afirma o presente Estatuto é preciso ter em mente duas dimensões políticas: a primeira é propor a comunidade escolar eleição direta para diretor, como ocorre nas escolas municipais de ensino. A eleição direta pode evitar o corporativismo, onde poucos são privilegiados, bem como o compadrio de políticos. Ainda assim, ela em si não é suficiente para garantir a democracia na gestão, se pensarmos esta como processo, muito embora se constitua em um passo essencial. A segunda dimensão é instituir um Conselho Escolar, como mecanismo de produção da democratização do conhecimento e das relações internas do poder. Esse Conselho seria nomeado por representantes da docência, corpo administrativo, alunos pais e representantes da comunidade, a fim de evitar o imbróglio por parte do diretor. “A escola não é linha de montagem em que os objetivos são traduzidos no resultado final, mas uma instituição em que os objetivos dependem da atuação específica de cada um dos componentes que atuam no processo educacional” (MARTINS, 1999, p. 169). Dessa forma, uma sociedade realmente democrática não se constitui através de um governo que se autointitule democrático e tente fazer um governo para o povo. A democracia não é uma doação de alguém, seja de um governante, de um partido político ou ainda de uma burocracia estatal, mas é um governo do povo, que exige a sua participação permanente em todos os processos decisórios da vida social. É também um governo para o povo, e não apenas para uma pequena parcela da sociedade. O que não significa dizer que seja uma ditadura da maioria, pois deve resguardar os direitos de todos. “Como posso dialogar, se me sinto participante de um gueto de homens puros, donos da verdade e do saber, para quem todos os que estão fora são essa gente ou são nativos inferiores?” (FREIRE, 1970, p. 95). É preciso que o diretor abra espaços de participação para todos que envolvem professores, alunos, funcionários e pais, garantindo que eles tenham voz ativa e dividam responsabilidades. O diretor deve administrar a escola, o aluno aprender, o professor ensinar, o zelador cuidar da limpeza da escola. O diretor não deve fugir da responsabilidade de coordenar, de dirigir, de estabelecer limites, mas não é ele o proprietário da escola. Sozinho ele não é a escola. Sua palavra não deve ser a única a ser ouvida e suas relações devem ser horizontais, pois: “A intolerância é sectária, acrítica, castradora. O intolerante se sente dono da verdade, que é dele” (FREIRE, 2001, p. 36). É preciso, a priori, que o diretor e todos os envolvidos na educação exerçam a sua função com responsabilidade, pois: Em primeiro lugar, qualquer que seja a prática de que participemos, a de médico, a de engenheiro, a de torneiro, a de professor, não importa de quê, a de alfaiate, a de eletricista, exige de nós que a exerçamos com responsabilidade. Ser responsável no desenvolvimento de uma prática qualquer implica, de um lado, o cumprimento de deveres, do outro, o exercício de direitos” (FREIRE, 2001, p. 44). O diretor deve fazer suas comunicações, de preferência em reunião de grupo, apresentando-as por escrito e, a seguir, comentando-as tirando dúvidas e solicitando a elementos do grupo que exponham o que entenderam. “Não há inteligibilidade que não seja comunicação e intercomunicação e que não se funde na dialogicidade. O pensar certo por isso é dialógico e não polêmico” (FREIRE, 1996, p. 17). O diálogo com o grupo e a comunidade escolar serve para investigar a situação escolar, o espaço físico, a questão do ensino-aprendizagem, a questão da evasão escolar, da falta de recursos; problematizar essas investigações, apresentando propostas de solução. Em seguida compartilhar essas propostas de soluções através de Conselhos Escolares, onde terão representantes de docentes, administrativos, discentes, pais e comunidades. Com isso fica fácil chegar a soluções de problemas numa instituição escolar; mas todos os envolvidos diretos e indiretamente devem exercer suas funções com responsabilidade, conscientizando os alunos na preservação do espaço físico, o diretor (a) estar presente nas reuniões com professores, com alunos e pais; os coordenadores pedagógicos procurar comunicar-se com o diretor (a) as ocorrências nas reuniões de AC (Atividades Complementares); a escola ser aberta para a comunidade promovendo seminários, projetos educativos, sociais e culturais. O diretor não pode manter a escola fechada para a comunidade, pois a escola é de todos, deve sim, conscientizar a preservação do espaço físico escolar, pois não pode haver o possessivismo do diretor e da diretora que gostariam que suas escolas fossem virgens e livres da presença ameaçadora de estranhos. Sendo administração utilização racional dos recursos, uma visão da Administração Escolar comprometida com a transformação social deve preocupar-se com a situação dessa irracionalidade em que encontra a escola em seu interior. “Uma Administração Escolar que pretenda promover a racionalização das atividades no interior da escola deve começar, portanto, por examinar a própria especificidade do processo de trabalho que aí tem lugar” (PARO, 1993, p. 136). A qualidade de ensino, como salienta Pedro Demo (1994) é entendida pelo acesso universalizado a conhecimento básico capaz de garantir participação de todos. Educador e educando, diretor equipe escolar, são todos sujeitos do ato por isso aprendem, procura, reprocura, retifica, ratifica conhecimentos e reflete suas práticas com objetivo de re-planejar. Essa é a administração comprometida com a transformação social. Que começa desde o planejamento coletivo até a sua implementação com seus resultados e reflexão sobre as ações planejadas. A escola para Paulo Freire (2001) é aquela que se ensina para e pela cidadania, ensina para um cidadão pleno, que exerce a cidadania, ou seja, a todos. Por isso a escola deve ser um espaço onde todos possam compartilhar. Ela é democrática e autônoma. Sem procurar aprofundar o conceito de autonomia, quando se fala deste assunto em relação à da escola não implica o dever do Estado de fugir de suas obrigações de oferecer “educação de qualidade e em quantidade para atender a demanda social” (FREIRE, 2001, p. 37). Autonomia implica em todos os envolvidos na educação construírem um projeto político próprio. Esta autonomia inclui não só condições mais flexíveis de administração, mas igualmente capacidade de gerenciamento de recursos financeiros, de maneira colegiada, pois: “por outra, na trama burocrática centralizadora, a escola tende à paralisia, porque depende em tudo do centro, inclusive para consertar uma janela ou arrumar o trinco da porta” (DEMO, 1995, p. 113). Autonomia nesse contexto pretende propor o gerenciamento dos recursos de maneira colegiada, avaliar os professores, coordenadores e toda a comunidade escolar a fim de evitar a divisão nas relações pedagógicas (ilhas pedagógicas) estar de acordo às normas legais, procurando ter boas relações com os órgãos educacionais; para Freire: “a autonomia da escola não implica dever o Estado fugir a seu dever de oferecer educação de qualidade e em quantidade suficiente para atender a demanda social.” (2001, p.37). A concepção de gestão escolar na qual esta pesquisa se assentou busca romper com o paradigma tradicional, em que o gestor é meramente administrador ou atua como um burocrata do sistema. A gestão escolar, dita democrática, que promove a participação de todos, constitui duas dimensões políticas fundamentais para sua efetivação: a primeira que considera a eleição direta para escolha do diretor escolar, passo inicial para se construir uma relação democrática no interior da escola. E a segunda refere-se à institucionalização do Conselho Escolar como espaço essencialmente fundamental para: “a democratização da gestão escolar, não como um órgão burocrático reduzido às decisões do diretor escolar, mas como um mecanismo de produção da democratização do conhecimento e das relações internas do poder” (ALMEIDA, 2004, p. 143). A escola, como organização burocrática, tem em sua estrutura, por um lado conjuntos de princípios e valores dados pelo sistema educacional, por meio de leis, decretos e papéis formalmente estabelecidos, e por outro, corpo de princípios e valores construídos no seu interior, pelos participantes do processo educacional, formando a cultura escolar A prática educativa, reconhecendo-se como prática política, se recusa a aprisionar-se na estreiteza burocrática de procedimentos escolarizantes. Os elementos pedagógicos que podem contribuir para o diretor realizar uma gestão democrática e participativa são: pesquisar junto com a comunidade escolar, pois competência exige esforço e pesquisa. Diálogo, considerando que todos são sujeitos do ato pedagógico e que traz seus conhecimentos prévios, o planejamento deve ser feito de forma coletiva. O diretor e toda a equipe escolar buscar uma administração voltada para a transformação social. Essa administração para a racionalização dos recursos de forma coordenada, coletiva e com relações horizontais. O diretor deve procurar manter uma boa relação com professores, coordenadores, alunos, pais e comunidades promovendo a participação através de reuniões de grupos, palestras, entre outras. É colocar educação como projeto de vida de uma sociedade. O diretor deve ter consciência de que sozinho ele não executará as atividades escolares, mas deve promover a participação de todos. CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa se deu por causa das dicotomias nas práticas da gestão do diretor (a) da escola que se denominava um gestor democrático, durante o estágio supervisionado. Existia uma falta de comunicação entre o diretor (a), coordenadores e comunidade escolar, na qual estes ficavam excluídos da tomada de decisões e não sabiam o destino dos recursos aplicados, pois o diretor (a) assumia posturas isoladas e autoritárias. Conforme explicitamos na introdução, foi utilizada pesquisa bibliográfica e análise documental Estatuto do Magistério do Estado da Bahia – (Lei 8.261/2002) – onde se apresentou os pressupostos pedagógicos e administrativos que podem contribuir para o diretor (a) escolar realizar uma gestão escolar democrática. É importante considerar que no âmbito deste trabalho a resposta inicial foi que o diretor (a) centralizador não é necessário na tomada de decisões; é preciso que todos se vejam como sujeitos do ato pedagógico, até porque o diretor é um administrador e educador. Neste sentido, entende-se que os pressupostos pedagógicos identificados que podem contribuir para o diretor (a) realizar uma gestão democrática numa concepção libertadora de educação são: o diálogo, que pode ser feito pelo diretor (a) nas reuniões com professores, alunos, pais, coordenadores pedagógicos e apoio administrativo, mantendo relações abertas e horizontais com todos; o re-conhecimento do outro como sujeito, que significa promover participação dos sujeitos de forma responsável, construindo planejamentos racionais e exeqüíveis; reflexão do resultado do planejamento pedagógico, re- construindo-o de acordo com a realidade e os objetivos da escola. Enfim, é pesquisar tanto no início do planejamento quanto na reflexão, pois todos devem esforçar-se de modo ingente para que tal planejamento possa ser cumprido. Essa é a administração comprometida com a transformação social; começa desde o planejamento coletivo até a sua implementação com seus resultados e reflexão sobre as ações planejadas. O espaço escolar precisa ser aberto para a comunidade promovendo seminários, projetos educativos, sociais e culturais e o diretor (a) enquanto educador- administrador deve conscientizar a preservação do seu espaço físico. O diretor sozinho não pode administrar a escola, é preciso criar conselhos escolares e manter relações abertas e horizontais com professores, coordenadores pedagógicos, alunos, pais e comunidade, para que todos possam exercer suas atividades de maneira responsável. O leitor (a) percebeu durante o presente trabalho, muitas atividades relacionadas ao diretor no cotidiano escolar. Por isso ele não deve ser fechado à participação, a fim de que seu trabalho não se torne um imbróglio e se veja pressionado pelos professores, comunidade escolar e pelo Estado. É preciso que o Estado promova eleições para diretores para que a gestão escolar se torne democrática. É preciso entender que não basta a troca de nomes, não basta uma nova denominação, pois a mudança é mais profunda. Não fica só mais garboso e democrático dizer “gestão escolar”, é preciso colocá-la na pauta dos debates, junto a outros aspectos como eleição direta, participação dos pais, colegiados, enfim, tudo que possa mudar a forma de organização hierárquica na escola, até porque, na concepção libertadora de educação, o diálogo gera contradições, e a instituição escolar é por excelência um espaço de contradições. É nesse espaço que o diretor (a) fazer cumprir sua função transformadora de emancipação cultural das camadas dominadas da população. REFERÊNCIAS ALMEIDA, José Luciano Ferreira. Concepções de Gestão Escolar e Eleição de Diretores da Escola Pública do Paraná. Curitiba 2004. Dissertação de Mestrado em Educação. Setor de Educação, Universidade Federal do Paraná ARROYO, M. 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