A DEMÊNCIA DE ALZHEIMER E O IDOSO SOB CUIDADO NA
CONCEPÇÃO DO CUIDADOR FAMILIAR
Ana Paula Pessoa de Oliveira1; Regina Helena Lima Caldana2
O impacto provocado pelo aumento da expectativa de vida da população brasileira reflete
diretamente na manutenção da saúde dos idosos e na preservação de sua permanência na
família. Neste contexto, está inserida a demência de Alzheimer como uma doença que afeta o
idoso, comprometendo sua integridade física, mental e social, ocasionando situação de
dependência total, necessitando de cuidados cada vez mais complexos, na maioria das vezes,
realizados no seu próprio domicílio pelos membros da família. O indivíduo acometido por
esta demência, ao longo do tempo, fica impossibilitado de se relacionar, cuidar de si e
planejar sua condição de vida, perdendo autonomia e coerência, acaba por perder a
capacidade de funcionar de modo independente, tornando-se cada vez mais dependente de
um. Estudos trazem que a doença extrapola o evento biológico em si, pois é uma construção
sociocultural que possui diferentes significados e interpretações de acordo com quem vivencia
e suas relações interpessoais, principalmente dentro da família. Sendo assim, o objetivo da
presente pesquisa é o de investigar a percepção da demência de Alzheimer e o idoso sob
cuidado no imaginário dos cuidadores familiares. Esse estudo é parte de uma pesquisa de
maior amplitude (tese de doutorado) cujo objetivo foi compreender, a partir da perspectiva de
cuidadores familiares de idosos com diagnóstico de Demência de Alzheimer, a situação de
cuidado familiar em suas diferentes dimensões, à luz da história de vida dos cuidadores. A
pesquisa seguiu a abordagem qualitativa, em que foram entrevistados 20 cuidadores de idosos
com diagnóstico de demência de Alzheimer que fazem parte do grupo de apoio da Associação
Brasileira de Alzheimer do estado do Amazonas (ABRAZ-AM) na cidade de Manaus. Os
critérios utilizados para a seleção dos entrevistados foram: estar cuidando do idoso há pelo
menos cinco meses, por considerar-se que com este tempo há uma convivência a ser
historiada; ter apresentado disponibilidade para fornecer entrevista longa, gravada, mediante
sigilo de identificação; ser responsável pelo cuidado do idoso, não recebendo nenhum tipo de
remuneração. O estudo teve início após a aprovação do projeto pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Federal do Amazonas (UFAM). A entrevista foi baseada na
modalidade de história de vida temática. O processo de análise deste estudo seguiu os
seguintes momentos: Execução das entrevistas e registro literal dos dados; Transcrição literal
das entrevistas gravadas; Leituras sucessivas das entrevistas transcritas; Sistematização dos
dados coletados pela procura de regularidade e diferenças nas respostas dos participantes e
delimitação progressiva do foco de estudo, seguindo-se o afunilamento dos resultados em
função do referencial conceitual; Eleição de tópicos e temas, tendo como aporte a literatura e
as próprias verbalizações dos participantes, buscando redigir com coerência e fluidez,
encaminhando o leitor para compreensão e crítica do texto. Os resultados mostram que o
diagnóstico da Demência de Alzheimer foi recebido pelos cuidadores deste estudo, ora se
configurando em uma sensação de alívio, ora como um choque perante ao prognóstico da
doença e ora como uma sensação de inconformismo pelo acometimento da patologia no
idoso. Na visão dos cuidadores deste estudo, o surgimento da Demência de Alzheimer nos
idosos sob cuidados está relacionado às histórias, acontecimentos anteriores que marcaram a
trajetória de vida desses idosos. O sofrimento aparece nas falas do cuidador como um fator
determinante para o surgimento da doença, tais como o sofrimento vivenciado pela
infidelidade do marido durante o casamento, pela morte do cônjuge, pela morte de filhos, bem
como pela saída de filhos de casa em função do casamento. A evolução gradativa ou rápida da
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doença, tornando o idoso cada vez mais em condição de dependência, traz para os cuidadores
uma incerteza e ao mesmo tempo desesperança diante de uma possibilidade de melhora da
situação, ainda que os investimentos no tratamento sejam realizados a cada dia por estes.
Várias são as imagens trazidas pelos entrevistados em relação à doença. Para alguns é
percebida pelo cuidador como a doença do esquecimento, caso do idoso que não lembra dos
filhos, e principalmente daquele que cuida do cônjuge. Estes dados nos remetem a pensar que
a situação de proximidade para com a doença causa situações geradoras de dificuldades de
enfretamento para os cuidadores. Diante da inexistência de estudo que conseguisse fechar
definitivamente as causas do surgimento da doença de Alzheimer em seus familiares, os
entrevistados relacionam tal doença aos fatores causadores de sofrimento que os idosos
vivenciaram em seu passado, principalmente ocasionados por perdas não plenamente
superadas, deixando-os susceptíveis à doença. Por ter sido um dado que demonstrou ser bem
significativo para estes cuidadores, sugere-se que sejam realizadas pesquisas que busquem
relação entre vivências de perdas e a doença de Alzheimer. Os resultados mostram também
que sempre há uma mudança de papeis em relação à situação anterior de convivência e
relacionamento entre cuidador e idoso e que a forma como se dará a configuração da nova
condição de cuidado, será marcada pela história anterior das relações entre ambos. Em grande
parte das vezes nesse momento configura-se uma inversão de papeis, em que os idosos
acometidos pela doença passam progressivamente de cuidadores para seres que necessitam de
cuidados dos outros, e que aquele que assumi tal responsabilidade não se sente plenamente
preparado, já que foi uma situação imposta por circunstâncias, o que proporciona uma reação
de inconformismo nestes familiares. Assim é importante que estes profissionais considerem
que no momento em que os familiares recebem a notícia da doença, há um abalo emocional
significativo. Toda e qualquer informação acerca da doença e do idoso precisa de ser
retomada posteriormente e por várias vezes de uma forma sistematizada para que a família
consiga processar lentamente cada conhecimento. No imaginário dos cuidadores deste estudo,
a doença de Alzheimer tem uma conotação de fraqueza, crueldade e incertezas, gerando um
olhar do familiar doente como desprotegido, sofrido e que desperta pena. Estes dados nos
remetem a pensar que a situação de proximidade para com a doença causa situações geradoras
de dificuldades de enfretamento para os cuidadores. Assim, entende-se que a família do idoso
doente não deve ser considerada, sobretudo pela enfermagem, somente como uma unidade de
cuidado, mas também como uma unidade a ser cuidada.
DESCRITORES: Idoso; Cuidado; Doença de Alzhaimer
ÁREA TEMÁTICA: Processo de cuidar em Saúde e Enfermagem
REFERENCIAS
MACHADO, J. C. B. Doença de Alzheimer. In: FREITAS, E. V. et al. Tratado de geriatria
e gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 260-279
ABREU, I. D.; FORLENZA, O. V.; BARROS, H. L. Demência de Alzheimer: correlação
entre memória e autonomia. Revista de Psiquiatria Clínica, São Paulo, v. 32, n. 3, p. 131136, 2005.
OLIVEIRA, A. P. P. O cuidado familiar na perspectiva de cuidadores de idosos com
demência de Alzheimer. 2009. Tese (Doutorado em Psicologia)- Faculdade de Filosofia,
Ciências e Letras da Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2009.
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