Jorge Coelho de Oliveira Filho
HIPERATIVIDADE EM SALA DE AULA
Rio de Janeiro
2004
2
UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO VEZ DO MESTRE
HIPERATIVIDADE EM SALA DE AULA
OBJETIVO:
Demonstrar a necessidade do professor
conhecer o comportamento característico
do portador de Hiperatividade, de modo
que possa intervir de maneira consciente
e acertada, para que a criança aprenda a
regular sua conduta de forma eficaz
diante de uma tarefa.
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RESUMO
A Hiperatividade é responsável pela enorme frustração que pais e seus filhos,
portadores desse distúrbio, experimentam a cada dia. Crianças, adolescentes e
adultos, hoje diagnosticados como hiperativos, são frequentemente rotulados de
“problemáticos”, “irresponsáveis”, “desmotivados”, “avoados”, “malcriados”,
“indisciplinados” ou,
até mesmo,“pouco inteligentes”. A razão disso é o fato deste
transtorno continuar sendo pouco conhecido, apesar dos estudos a respeito terem se
intensificado nas últimas décadas e a prática ter mostrado que 10% das crianças em
idade pré- escolar, e em 4 a 5% das crianças em idade escolar, podem ser incluídas
nesse diagnóstico, como determinantes do fracasso escolar.
A tarefa escolar prolongada é o indicador mais evidente para se detectar a
acentuação da Hiperatividade. Muitas vezes a hiperatividade só será descoberta
quando do ingresso da criança na escola. Sendo assim, a escola, através do professor,
tem grande importância na história de vida da criança hiperativa, ajudando-a no
entendimento, de maneira simples, do seu problema global, levando-a a repensar
suas atitudes e organizando o seu dia-a-dia.
4
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
5
CAPÍTULO 1
7
HIPERATIVIDADE
7
CAPÍTULO 2
11
A FAMÍLIA
11
CAPÍTULO 3
18
A ESCOLA
18
CONCLUSÃO
27
BIBLIOGRAFIA
30
ANEXO
31
ÍNDICE
36
5
INTRODUÇÃO
Os professores queixam-se do comportamento do seu filho nas aulas? É
irrequieto, impulsivo, não consegue se concentrar, está sempre desatento e não tem
aproveitamento escolar? Talvez sofra de hiperatividade. Nesse caso, será necessário
recorrer a uma ajuda especializada.
O Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade (TDAH) é responsável
pela enorme frustração que pais e seus filhos portadores desse distúrbio
experimentam a cada dia. Crianças, adolescentes e adultos hoje diagnosticados com
TDAH são freqüentemente rotulados de “problemáticos”, “desmotivados”,
“avoados”, “malcriados”, “indisciplinados”, “irresponsáveis” ou, até mesmo, “pouco
inteligentes”. A maioria daquilo que lemos ou ouvimos sobre o assunto tem uma
conotação negativa. A razão disso é o fato deste transtorno continuar sendo pouco
conhecido, apesar dos estudos a respeito terem se intensificado nas últimas décadas e
a prática ter mostrado que 3% a 5% das crianças em idade escolar podem ser
incluídas nesse diagnóstico.
Garanto que ninguém associa os adjetivos “criativo, trabalhador, energético,
caloroso, inventivo, leal, sensível, confiante, divertido, observador, prático” às
pessoas que têm Déficit de Atenção/Hiperatividade. Estes, sim, descrevem muito
melhor essas pessoas.
“ As pessoas, mesmo aquelas que têm carências e necessidades
especiais, são imensamente ricas, dispõem de enormes
recursos,
são sujeitos de poder e de querer, de vontade
imensuráveis. Ajudar as pessoas a descobrir as suas
capacidades, aceitá-las e confirmá-las positivamente e
incondicionalmente é, em boa medida, a maneira de as tornar
mais confiantes...” (Tavares, 2001, pág. 52)
Hoje, sabemos que o TDAH é um distúrbio neurológico sério mas tratável,
embora de difícil diagnóstico e acompanhamento, devido à necessidade de um
6
trabalho multidisciplinar contínuo. É possível afirmar que as pessoas portadoras de
TDAH, apesar das dificuldades decorrentes da condição, podem aprender a tirar o
melhor partido das suas características e a realizar todo seu potencial. O TDAH pode
ser considerado um dom, um sentido extra que seus portadores têm para as coisas,
uma maneira de chegar imediatamente ao âmago das situações enquanto os outros só
chegam lá de maneira racional e metódica.
O problema é normalmente detectado quando a criança começa a freqüentar a
escola, já que os sintomas de que se faz acompanhar (atividade motora excessiva,
comportamento impulsivo e problemas de atenção) podem constituir um sério
obstáculo à aprendizagem na infância. De qualquer forma, o fato de uma criança ser
muito irrequieta e exuberante não significa, forçosamente, que sofra de
hiperatividade.
Este presente trabalho demonstrará a necessidade do professor conhecer o
comportamento característico do portador de Hiperatividade de modo que possa
intervir de maneira consciente e acertada, para que a criança aprenda a regular sua
conduta de forma eficaz diante de tarefas cotidianas. Neste caso daremos mais
atenção às tarefas escolares. Nossa pesquisa se delimitará da pré-escola aos doze
anos de idade, o que consideraremos como pré-adolescência.
7
CAPÍTULO 1
HIPERATIVIDADE
Muitas denominações e siglas têm sido usadas para referir-se ao Distúrbio do
Déficit de atenção. A sigla DA/HI é a mais recente das mudanças de nome atribuídas
ao déficit de atenção nos últimos anos. Segundo Silva (2002), o grande problema em
criar rótulos para designar alterações comportamentais é que eles acabam sendo um
reflexo do nível de conhecimento sobre aquele assunto em um dado momento e, por
isso mesmo, quase nunca refletem a verdade que de fato ocorre nestas alterações. O
Distúrbio do Déficit de Atenção já foi denominado de Disfunção Cerebral Mínima,
Síndrome da Criança Hiperativa, Síndrome da Ausência de Controle Moral ou ainda
Reação Hipercinética da Infância, todas em diferentes períodos do século XX.
Neste trabalho monográfico usaremos o termo “Hiperatividade” para designar
este distúrbio, pois acreditamos que este seja o de maior uso corrente entre todos:
portadores, conhecedores, pesquisadores e interessados.
1.1 DEFINIÇÃO
Segundo Topczewski (2002), a hiperatividade é um sintoma que não tem
definição precisa aceita unanimente, mas todos concordam que compromete de modo
marcante o comportamento do indivíduo.
A hiperatividade é um desvio comportamental, caracterizado pela excessiva
mudança de atitudes e atividades, acarretando pouca consistência em cada tarefa a
ser realizada. Portanto, isto incapacita o indivíduo para se manter quieto por um
período de tempo necessário para que possa desenvolver as atividades comuns do seu
dia-a-dia. Este padrão de comportamento se mostra incompatível com a organização
do seu ambiente e com determinadas circunstâncias. Crianças e adolescentes
hiperativos são freqüentemente considerados como pessoas inconvenientes.
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A hiperatividade pode envolver vários fatores entre eles o fator da disfunção
orgânica, genética, psicológica e até mesmo social. O distúrbio ainda não tem uma
causa única comprovada. Sabe-se que seus portadores produzem menos dopamina,
um neurotransmissor responsável pelo controle motor e pelo poder de concentração,
que atua com maior intensidade nos gânglios frontais do cérebro. Isso explica o fato
de os hiperativos não se concentrarem e esquecerem facilmente o que lhes é pedido.
Pela alta incidência nos meninos (cerca de 80% dos casos)
acredita-se que o
problema possa estar relacionado também ao hormônio masculino tetosterona
(Topczewski, 1999).
1.2 COMPORTAMENTOS CARACTERÍSTICOS
Para diagnosticar a hiperatividade, os especialistas têm em conta vários
critérios. Os sinais devem ter aparecido numa fase precoce, antes dos sete anos, e
prolongar-se durante, pelo menos, seis meses. Estes comportamentos têm de ser mais
freqüentes ou graves do que no caso das outras crianças da mesma idade. Além
disso, estas condutas afetam o paciente em mais de um contexto (na escola, em casa,
no local de trabalho ou nas relações sociais). Assim, a uma criança que se mostre
demasiado irrequieta, distraída e faladora nas aulas, mas que consiga relacionar-se
normalmente em casa e noutras situações, não se pode diagnosticar como hiperativa.
Os comportamentos mais característicos são:
a) Problemas de atenção
As crianças hiperativas têm dificuldade em concentrar-se numa só coisa e
aborrecem-se ao fim de alguns minutos à volta de uma só tarefa. Podem até prestar
atenção a atividades e coisas do seu agrado. Mas quando se trata de organizar, estar
atentas a uma tarefa ou aprender algo de novo, manifestam uma grande dificuldade,
distraindo-se facilmente com qualquer estímulo exterior.
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b) Atividade motora excessiva
As crianças hiperativas não param quietas e, freqüentemente, falam
demasiadamente.
Não
conseguem
manter-se
sentadas
calmamente:
estão
constantemente a mexer ruidosamente nas canetas ou a abanar os pés. Muitas vezes,
passam o tempo a saltar impacientemente de atividade em atividade.
c) Comportamento impulsivo
As crianças impulsivas mostram-se, freqüentemente, incapazes de controlar
as suas reações ou pensamentos antes de agir. Conseqüentemente, fazem comentários
pouco adequados ou respondem a questões antes mesmo de estas serem completadas.
A impulsividade faz com que a espera por algo que anseiam ou pela sua vez se torne
insustentável. As crianças hiperativas podem intrometer-se nas atividades das outras
ou perturbar as suas brincadeiras.
1.3
PROBLEMAS
QUE
PODEM
ESTAR
ASSOCIADOS
À
HIPERATIVIDADE
Uma das dificuldades no diagnóstico da hiperatividade é que esta se faz
acompanhar, freqüentemente, de outros problemas. A hiperatividade não é em si um
problema específico de aprendizagem. Mas, por inferior com a concentração e a
atenção, pode dificultar a aprendizagem. A situação torna-se mais complicada
quando as crianças com hiperatividade têm, simultaneamente, um problema
específico de aprendizagem (os mais freqüentes são dificuldades na leitura e na
matemática).
Um número significativo de crianças que sofrem deste distúrbio psicológico
apresentam uma tendência para se comportar de forma agressiva ou desafiadora.
Estas crianças podem ser teimosas, agressivas e provocadoras e manifestar grandes
alterações de temperamento. Estas crianças precisam mesmo de uma ajuda
10
especializada, de modo a evitar a evolução para o insucesso escolar e outros
problemas de conduta mais sérios.
Uma pequena parte das pessoas que sofrem de hiperatividade tem,
simultaneamente, outros problemas, tais como perturbações nervosas (tiques que não
conseguem controlar) e emocionais (ansiedade ou depressão). Em anexo há uma
descrição verídica (laudo) de aluno com Hiperatividade e outros problemas
simultâneos.
1.4 PROBLEMAS QUE PODEM LEVAR À SUSPEIÇÃO ERRADA DE
HIPERATIVIDADE
A hiperatividade é um problema sério que requer um tratamento específico de
longo prazo, pelo que o médico deve, antes de tudo, assegurar-se de que este tipo de
comportamentos não é originado por outras perturbações. Vejamos outros problemas
diferentes que podem estar na origem de sinais e sintomas semelhantes, conforme
informa o site hiperatividade.com.br:
-
comportamento impulsivo devido a uma educação negligenciada ou
demasiadamente permissiva;
-
insucesso escolar devido a dificuldades especificas de aprendizagem
-
comportamento agitado ou desinteressado devido a ansiedade ou depressão;
-
episódios de falta de atenção devido a uma forma de epilepsia, denominada
pequeno mal epiléptico;
-
otites de repetição ou crônicas (infecção no ouvido), que podem estar na
origem de problemas auditivos, levando a que a criança se mostre desatenta;
-
falta de atenção devido a problema de visão;
-
hiperatividade devido a problemas do metabolismo, como, por exemplo,
disfunções da tiróide;
-
outros problemas mentais, genéticos ou ambientais.
11
CAPÍTULO 2
A FAMÍLIA
Os pais de crianças hiperativas sentem-se, muitas vezes, importantes,
desanimados, sem saber o que fazer. Os métodos de disciplina normalmente
empregues, tais como a argumentação, os castigos ou a repreensão não funcionam
com estas crianças. Frustrados, por vezes, recorrem a métodos mais desesperados,
como bater ou gritar, mesmo sabendo que tais comportamentos são pouco adequados
e não resolvem nada. Resultado: acabam por manifestar um sentimento de culpa que
em nada contribui para o bem estar da criança.
A punição não é o caminho adequado para o tratamento da hiperatividade.
Sabendo-se que existe um componente orgânico e que as interferências psicológicas,
também, podem estar presentes, devemos averiguar quais as verdadeiras causas
determinantes, e a partir daí orientar o tratamento.
Muitas vezes as crianças verbalizam o desejo de permanecer quietas, manterse concentradas, atenciosas e acatar as ordens, mas não conseguem, pois algo
internamente as incomoda e as impedem de adotar estas posturas. Nestas situações
não conseguem nem entender o porquê da punição.
Uma vez diagnosticado o problema e a criança submetida a um tratamento, os
constrangimentos emocionais no seio da família podem, em parte, acalmar-se. As
famílias que lidam com crianças que sofrem de hiperatividade, tal como acontece
com as famílias que cuidam de crianças com doenças crônicas (por exemplo,
paralisia cerebral ou autismo) manifestam, freqüentemente, maiores níveis de
frustração e problemas conjugais. Além de que as despesas com os tratamentos
destas crianças podem representar um fardo pesado para muitas famílias.
Segundo Topczewski (2002), o comportamento hiperativo pode desestabilizar
a relação do casal, que deve procurar administrar, em conjunto, os desvios
comportamentais apresentados pelo filho, pois as discórdias do casal têm repercussão
12
negativa relevante sobre o comportamento emocional da criança, o que agrava a
hiperatividade. Com certeza freqüência, a vida doméstica se torna mais difícil, os
encontros não mais denotam prazer, mas justamente o oposto, ou seja, desprazer. A
vida do casal se altera, comprometendo, também, a sua relação afetiva e sexual, em
particular. Os horários das refeições Tornam-se muito desgastantes, quando, na
realidade, deveriam Ter um clima tranqüilo, com momentos de descontração e prazer
para integrar a família. Acontece exatamente o contrário, pois nestas horas é que os
ânimos ficam acirrados, tornando mais evidentes as cobranças e discussões.
2.1 REPERCUSSÃO DA HIPERATIVIDADE NO RELACIONAMENTO
FAMILIAR
A Revisa On-line Teste Saúde (2004) nos dá exemplos de transtornos
domésticos provocados pela criança hiperativa, são eles:
-
às refeições não consegue ficar sentado de modo adequado, pois muda de
posição constantemente. Não termina uma refeição sem antes levantar-se
várias vezes, por diversos motivos desnecessários;
-
come com muita voracidade e ansiedade; engole os alimentos mal mastigados
com uma pressa sem propósito;
-
quando assistindo à TV, não consegue manter-se quieto, incomoda os
circunstantes, acrescentando mais um fator para as desavenças;
-
interfere nas conversas de modo inoportuno, sem aguardar a sua vez para
falar. Não se detém para ouvir o que se lhe está falando;
-
fala muito e em ritmo acelerado, o que acarreta uma fala com mensagens
confusas e, às vezes, com omissões e trocas de fonemas;
-
muda de atividade com muita freqüência e de modo abrupto, mesmo sem
completar a anterior;
-
mostra-se muito desorganizado com os seus brinquedos, objetos, roupas e
material escolar;
-
atrapalha as brincadeiras dos irmãos;
-
apresenta problemas de disciplina;
-
tem dificuldade em acatar as ordens;
-
responde com comportamento agressivo e violento em situações rotineiras;
13
-
quer ser sempre atendido na hora das suas solicitações;
-
procura impor as suas vontades e à sua moda (são mandões);
-
pede as coisas e logo se desinteressa;
-
consegue deixar o ambiente todo agitado e descontrolado;
-
demonstra uma grande ansiedade em todas as atividades.
2.2 ATUAÇÃO DOS PAIS
Eis algumas técnicas a que os pais podem recorrer, para ajudar a criança a
modificar o seu comportamento (Revista Teste Saúde).
a) Técnica do intervalo (time out). Quando a criança está fora de controle e é
incapaz de obedecer, sentá-la num local sossegado e deixá-la sozinha durante breves
instantes até que ela se acalme.
b) Reforço das condutas positivas. Desfrutar, diariamente, de um momento calmo e
relaxante com o filho. Durante esse tempo, os pais devem evidenciar aquilo que a
criança faz bem, elogiar os seus pontos positivos e as suas habilidades.
c) Sistema de recompensas e castigos. Primeiro, tem de estabelecer-se as regras de
conduta, ensinando à criança os comportamentos corretos e os que, pelo contrário,
estão errados. Os pais devem encorajar a criança no sentido de desenvolver os
comportamentos corretos: por exemplo, pedir um brinquedo emprestado em vez de
“arrancá-lo” das mãos dos seus colegas ou levar a cabo uma tarefa até ao fim. Diz-se
à criança o que se espera dela e, sempre que se verifica o comportamento desejado,
recorre-se a uma recompensa (um objeto simbólico ou um sistema de pontos que
podem ser trocados por alguma coisa de que a criança goste especialmente). Se a
criança não se comportar corretamente, é-lhe aplicado um pequeno castigo (por
exemplo, a técnica do intervalo).
14
2.3 DIAGNÓSTICO
Geralmente, há uma certa dificuldade para os pais aceitarem a existência de
problemas comportamentais e de aprendizado nos próprios filhos; esta não aceitação,
segundo Topczewski (1999), é o primeiro obstáculo para se submeter a criança a
uma avaliação especializada. E muitas ocasiões, quando os pais são alertados pelos
orientadores da escola, eles vão discutir a questão com os clínicos, que, por ter um
conceito diverso, superficial e impróprio do problema, orientam de modo inadequado
e não encaminham aos especialistas da área. A alegação mais freqüente é que se trata
de um quadro transitório e normal para a faixa etária. Essa postura pode acarretar um
prejuízo importante no desenvolvimento global da criança, seja sob aspecto social,
seja sob aspecto escolar ou emocional.
Os neurologistas, médicos especializados nos distúrbios do cérebro e do
sistema nervoso, dispõe de meios para diagnosticar a hiperatividade. Os psiquiatras
infantis (pedopsiquiatras) são médicos especializados em diagnosticar e tratar
distúrbios mentais e comportamentais nas crianças.
Os psicólogos clínicos, tal como os pedopsiquiatras, são os especialistas que
mais lidam com estes casos. Além de poderem diagnosticar o problema e
providenciar uma terapia à
criança, podem ajudar a família. As primeiras
observações, entretanto, são feitas pelos professores, que notam ser o comportamento
da criança muito agitado. Isto é percebido quando comparado ao comportamento das
outras crianças durante as aulas. Além disso, notam que o desempenho da criança em
relação à média do grupo está, também, defasado.
Continuam a decorrer investigações no sentido de encontrar melhores formas
de tratamento ou mesmo formas de prevenir a hiperatividade. Até hoje, ainda não foi
encontrada uma causa única que esteja na origem destas perturbações
comportamentais. Talvez até nem exista só uma, mas antes uma combinação de
causas que origine este conjunto de sintomas.
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Estudos recentes têm vindo a evidenciar, cada vez mais, várias etiologias de
origem biológica, em detrimento de motivos ambientais no seio da família. Algumas
novas técnicas para o estudo do cérebro têm permitido desenvolver teorias que
defendem que danos neurológicos e alterações genéticas podem estar na origem da
hiperatividade.
Perturbações no desenvolvimento do feto também são apontadas como causas
possíveis. O fato de a mãe fumar ou consumir álcool ou outras drogas, durante a
gravidez, pode prejudicar o desenvolvimento do cérebro do feto. A presença de
toxinas no ambiente (por exemplo, chumbo presente em certos solos ou nas tintas)
pode, igualmente, afetar o desenvolvimento do cérebro das crianças.
Outros estudos defendem que existe uma certa propensão genética: é
freqüente vários casos de hiperatividade no seio de uma mesma família. Cerca de um
terço dos pais com hiperatividade têm filhos com este problema.
2.4 TRATAMENTO
São vários os tratamentos utilizados: desde psicoterapias incidindo sobre a
criança, intervenções comportamentais ensinadas aos pais e professores, a utilização
de medicamentos, passando, até, por vezes, por terapias alternativas (como, por
exemplo, dietas, tratamentos homeopáticos, meditação, etc). Ainda não existe um
consenso total acerca da forma mais correta de tratamento. De qualquer modo,
vejamos os mais freqüentemente utilizados.
2.4.1 ABORDAGEM PSICOSSOCIAL
As crianças hiperativas têm problemas sérios em várias áreas de
funcionamento relacionadas com o sucesso escolar, o relacionamento com os colegas
e com a família. Por isso, utiliza-se tratamentos que visam modificar
comportamentos e alterar a forma de pensar e reagir.
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Intervenção junto da criança – os terapeutas (por exemplo, psicólogos ou
pedopsiquiatras) procuram ajudar a criança a controlar a sua impulsividade e
agressividade, a pensar antes de falar ou agir, a esperar pela sua vez, etc.
Intervenção junto da família – a eficácia destas estratégias de tratamento
depende, em grande parte, da compreensão e motivação por parte dos pais. Daí a
necessidade de aprenderem métodos de lidar com o stress e técnicas de modificação
da conduta (tais como dar instruções claras às crianças, encorajar os bons
comportamentos, usar as repreensões de forma eficaz, etc).
Intervenção junto dos professores – por vezes, também se recorre a
intervenções na escola, através de programas desenvolvidos para os professores, a
aplicar na sala de aula, de modo a transmitir-lhes técnicas de controle de modificação
do comportamento destas crianças.
As intervenções junto da família e da escola permitem que os progressos
alcançados no comportamento da criança se mantenham ao longo do tempo, já que a
aprendizagem é feita nos contextos onde a criança deverá executar os
comportamentos desejados.
Os tratamentos com medicamentos pouca intervenção têm a este nível,
produzindo efeitos apenas a curto prazo. No entanto, nos casos mais graves, podem
levar a uma melhoria acentuada dos sintomas, já que tornam as intervenções
psicossociais mais eficazes.
2.4.2 ABORDAGEM MEDICAMENTOSA
Em certos casos de hiperatividade mais complicados ou associados a
outras perturbações, pode ser necessário recorrer a medicamentos. Por exemplo, pode
recorrer-se aos antidepressivos quando a hiperatividade se faz acompanhar de
depressão ou ansiedade. Mas os medicamentos que se têm revelado mais eficazes são
os estimulantes. Vários estudos revelaram que, em curto prazo, estes medicamentos
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melhoram drasticamente a concentração, o comportamento nas aulas, a
agressividade, a resolução de conflitos com os colegas e os resultados em algumas
atividades.
De qualquer forma, os estimulantes não resolvem todos os problemas
comportamentais. Além disso, sendo medicamentos do grupo das anfetaminas, não
são isentos de problemas de toxicidade. Os efeitos secundários mais comuns são a
falta de apetite, insônias e dores de cabeça. Apesar de tudo, nos casos mais severos,
estes medicamentos podem trazer um grande benefício, já que permitem estabilizar o
comportamento das crianças muito afetadas por esta perturbação, facilitando assim a
atuação de outras medidas terapêuticas.
Devemos considerar que o professor é a pessoa que mantém um contato
regular e diário com o aluno. O professor orientado tem plenas condições de avaliar
quais as diferenças apresentadas no desempenho do aluno antes e depois do
tratamento com medicamentos estimulantes. Portanto, suas informações poderão ser
as mais fiéis, pois compara o aluno com ele mesmo no que se relaciona ao seu
rendimento. A avaliação dos resultados obtidos só será adequada com a participação
da estrutura escolar.
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CAPÍTULO 3
A ESCOLA
As crianças com hiperatividade não só sofrem com os sintomas típicos da sua
perturbação como também com as conseqüências
negativas dos seus
comportamentos.
O hiperativo apresenta as dificuldades escolares, o que muito frustra a
família. Após um determinado ponto, o professor se torna impaciente e até,
intolerante. Por conta dos sucessivos insucessos, começam a se manifestar os
conflitos internos, caracterizados pela ansiedade, a qual, pode levar à depressão.
Talvez o maior impacto da hiperatividade nas crianças que sofrem deste
distúrbio seja o fato de serem, freqüentemente, rejeitadas pelos seus colegas. Alguns
estudos mostram que o número de acidentes é mais elevado neste grupo de crianças,
e, quando há uma combinação com outros distúrbios comportamentais, as crianças
hiperativas têm um risco mais elevado de, mais tarde, virem a adotar
comportamentos anti-sociais ou, mesmo, a abusar de drogas. À medida que a criança
cresce, vai desenvolvendo estratégias de autocontrole que lhe permitem uma melhor
adaptação e um melhor relacionamento com o seu ambiente.
A maior parte das crianças hiperativas consegue acompanhar as aulas
normais. No entanto, se, em conjunto com o professor, os pais chegarem à conclusão
que a criança não consegue acompanhar o ritmo poderão contatar a direção da
escola, no sentido de esta providenciar um apoio especializado. Além de um apoio às
suas necessidades educativas, estes alunos deveriam ser orientados na sala de aula no
sentido de haver um controle do seu comportamento. As escolas que contam com o
apoio de um Serviço de Psicologia e Orientação (com profissionais especializados)
são as melhor posicionadas para articular estas necessidades.
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3.1 ATUAÇÃO DO PROFESSOR
“Entre o ensinante e o aprendente abre-se um campo de
diferenças onde se situa o prazer de aprender. O ensinante
entrega algo, mas para poder apropriar-se daquilo o aprendente
necessita inventá-lo de novo. É uma experiência de alegria,
que facilita ou perturba, conforme se posiciona o ensinante.
Ensinantes são pais, irmãos, os tios, os avós e demais
integrantes da família, como também os professores e os
companheiros na escola” (Fernadez, 2001, p.29)
Geralmente, o professor é a primeira pessoa a observar comportamentos não
adaptados apresentados pelo aluno, e solicitar orientação para a equipe técnica e a
direção da unidade, para que sejam providenciados encaminhamentos para
profissionais especializados, quando necessário.
Apesar desses comportamentos muito provavelmente já serem conhecidos no
contexto familiar, na maioria das vezes os familiares, só administravam o problema
dentro do cotidiano doméstico.
Nessa perspectiva, o pedido de avaliação, visa reorganizar a vida escolar e
doméstica da criança e do pré-adolescente. Vale dizer que fica vazio o pedido de
avaliação apenas para justificar um processo que está comprometido com o aluno e
com sua aprendizagem. “De fato, se pensarmos em termos bem objetivos, a avaliação
nada mais é do que localizar necessidades e se comprometer com sua superação”
(Vasconcelo, 2002, pg. 10)
É importante que o professor, ao observar esse tipo de comportamento,
registre, descrevendo objetivamente como ele se caracteriza, em que momentos ele é
apresentado pelo aluno, com que freqüência é apresentado, quais as consequências
para o aluno e para os demais alunos da classe, que estratégias de intervenção já
foram tentadas, qual foi o resultado de tais intervenções.
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Esses registros, feitos pelo professor, têm o objetivo de contribuir para a
identificação das necessidades educacionais do aluno, de modo que a escola busque
respostas adequadas para seu processo de aprendizagem (MEC/2002).
3.2 ESTRATÉGIAS DE INTERVENÇÃO
As estratégias de intervenção incluem os diferentes tipos de terapia
psicológica e de tratamentos médicos, tanto para a criança, como para seus pais, bem
como diferentes ações educacionais, implementadas na sala de aula, e nas demais
instâncias da unidade escolar.
Vamos abordar mais especificamente as ações da área pedagógica, por serem
as de implicação direta para o trabalho do professor na sala de aula.
Algumas dicas, extraídas da Cartilha de Condutas Típicas, contida no Projeto
Escola Viva, editada pelo MEC(2002), podem ser úteis ao professor as quais se
referem a adaptações organizativas que podem auxiliar em sala de aula.
1. É importante que o professor estabeleça claramente, com os alunos, os limites
necessários para a convivência num coletivo complexo.
2. É fundamental que seja identificada a forma mais adequada de comunicação
para cada aluno, de forma a permitir que ele trabalha com compreensão, com
prazer e com maior autonomia possível
3. É importante que o ensino seja individualizado, quando necessário, norteado
por um Plano de ensino que reconheça as necessidades educacionais do aluno
e a elas responda pedagogicamente.
4. É importante que o aluno possa, sempre que possível, relacionar o que esta
aprendendo na escola, com situações de sua própria vida.
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5. É importante, também, que as atividades acadêmicas ocorram em um ambiente
que por si só tenha significado e estabilidade para o aluno.
6. A previsibilidade de ações e de acontecimentos pode diminuir em muito a
ansiedade do aluno que apresenta comportamentos não adaptativos. Assim, é
importante que o professor estruture o uso do tempo, do espaço, dos materiais e a
realização das atividades, de forma a diminuir ao máximo o caos que um
ambiente complexo pode representar para esse aluno.
As dicas acima podem gerar outras ações variadas, que também atuam como
intervenções especificas que o professor pode fazer para ajudar a criança com
hiperatividade a se ajustar melhor à sala de aula. Segundo Goldstein (2004):
1.
Proporcionar estrutura, organização e constância (exemplo: sempre a
mesma arrumação das cadeiras ou carteiras, programas diários, regras
claramente definidas)
2.
Colocar a criança perto de colegas que não o provoquem, perto da
mesa do professor, na parte de fora do grupo.
3.
Encorajar freqüentemente, elogiar e ser afetuoso, porque essas
crianças desanimam facilmente.
4.
Dar responsabilidades que elas possam cumprir faz com que se
sintam necessárias e valorizadas.
5.
Começar com tarefas simples e gradualmente mudar para mais
complexas.
6.
Proporcionar um ambiente acolhedor, demonstrando calor e contato
físico de madeira equilibrada e, se possível, fazer os colegas também
terem a mesma atitude.
7.
Nunca provocar constrangimento ou menosprezar o aluno.
8.
Proporcionar trabalho de aprendizagem em grupos pequenos e
favorecer oportunidades sociais. Grande parte das crianças com
hiperatividade
consegue
melhores
resultados
acadêmicos,
comportamentais e sociais quando no meio de grupos pequenos.
22
9.
Comunicar-se com os pais. Geralmente, eles sabem o que funciona
melhor para o seu filho.
10. Ir devagar com o trabalho. Doze tarefas de 5 minutos cada uma traz
melhores resultados do que duas tarefas de meia hora. Mudar o ritmo
ou o tipo de tarefa com freqüência elimina a necessidade de ficar
enfrentando a inabilidade de sustentar a atenção, e isso vai ajudar a
auto-percepção.
11. Favorecer oportunidades para movimentos monitorados, como uma
ida à secretaria, levantar para apontar o lápis, levar um bilhete para o
professor, regar as plantas ou dar de comer ao mascote da classe.
12. Adaptar suas expectativas quanto à criança, levando em consideração
as deficiências e inabilidades decorrentes da hiperatividade. Por
exemplo, se o aluno tem um tempo de atenção muito curto, não
esperar que ele se concentre em apenas uma tarefa durante todo o
período da aula.
13. Recompensar os esforços, a persistência e o comportamento bem
sucedido ou bem planejado.
14. Proporcionar exercícios de consciência e treinamento dos hábitos
sociais da comunidade. Avaliação freqüente sobre o impacto do
comportamento da criança sobre ela mesma e sobre os outros ajuda
bastante.
15. Favorecer freqüente contato aluno/professor. Isto permite um
“controle” extra sobre a criança com hiperatividade, ajuda-a a
começar e continuar a tarefa, permite um auxílio adicional e mais
significativo, além de possibilitar oportunidades de reforço positivo e
incentivo para um comportamento mais adequado.
16. Colocar limites claros e objetivos; ter uma atitude disciplinar
equilibrada e proporcionar avaliação freqüente, com sugestões
concretas e que ajudem a desenvolver um comportamento adequado.
17. Assegurar que as instruções sejam claras, simples e dadas uma de
cada vez, com um mínimo de distrações.
18. Evitar segregar a criança que talvez precise de um canto isolado com
biombo para diminuir o apelo das distrações; fazer do canto um lugar
23
de recompensa para atividades bem feitas em vez de um lugar de
castigo.
19. Desenvolver um repertório de atividades físicas para a turma toda
como exercícios de alongamento ou isométricos.
20. Estabelecer intervalos previsíveis de períodos sem trabalho que a
criança pode ganhar como recompensa por esforço feito. Isso ajuda a
aumentar o tempo da atenção concentrada e o controle da
impulsividade através de um processo gradual de treinamento.
21. Reparar-se a criança se isola durante situações recreativas
barulhentas. Isso pode ser um sinal de dificuldades de coordenação ou
auditivas que exigem uma intervenção adicional.
22. Preparar-se com antecedência a criança para as novas situações. Ela é
muito sensível em relação às suas deficiências e facilmente se assusta
ou se desencoraja.
23. Desenvolver métodos variados utilizando apelos sensoriais diferentes
(som, visão, tato) para ser bem sucedido ao ensinar uma criança com
hiperatividade. No entanto, quando as novas experiências envolvem
uma miríade de sensações (sons múltiplos, movimentos, emoções ou
cores), esse aluno provavelmente irá precisar de tempo extra para
completar sua tarefa.
24. Não seja um mártir! Reconhecer os limites da sua tolerância e
modificar o programa da criança com hiperatividade até o ponto de se
sentir confortável. O fato de fazer mais do que realmente quer fazer
traz ressentimento e frustração.
25. Permanecer em comunicação constante com o psicólogo ou
orientador da escola. Ele é a melhor ligação entre a escola, os pais e o
médico.
26. Pôr um desenho em cima da carteira da criança para lembrar-lhe as
regras básicas nas aulas: levantar a mão em vez de gritar ou manter-se
sentado em vez de andar pela sala.
27. Dar mais algum tempo nos testes, para que a criança sinta que tem
uma oportunidade para mostrar o que aprendeu.
24
28. Relembrar regras ou escrever instruções no quadro, enumerado o
material necessário para determinada tarefa.
29. Utilizar o reforço das condutas positivas, elogiando os aspectos
positivos e os progressos.
30. O professor pode ensinar técnicas que permitam à criança lembrar-se
daquilo que tem de fazer: quando tiver dúvidas acerca de determinada
tarefa, pode ver as instruções que estão escritas no quadro, levantar a
mão e perguntar ao professor ou, simplesmente, perguntar
calmamente a um colega
31. Ensinar a dividir uma tarefa em várias etapas e a fazer uma coisa de
cada vez.
Mas também é importante que os colegas não sintam que aquela criança tem
direito a privilégios especiais, quando, ainda por cima, apresenta um pior
comportamento. Se for necessário, o professor pode estender as modificações às
outras crianças.
Além das providências organizativas, o professor que recebe em sua classe
um aluno que apresenta comportamento hiperativo pode ter, como necessário, fazer
adaptações em três áreas:
-
Programas voltados para o comportamento de sala de aula
-
Programas voltados para o ensino de habilidades de convivência social.
-
Programas voltados para a educação acadêmica.
O MEC (2002) sugere ao professor alguns cuidados básicos a serem
adotados, no processo de buscar formas eficientes de gerenciar seu ensino em salas
de aula.
1. Discutir sempre com a equipe técnica a busca de estratégias que sejam
efetivas e realistas para o caso em questão.
2. Pedir ajuda a profissionais da equipe técnica sempre que necessitar de
apoio ou se sentir inseguro.
25
3. Cooperar com os pais, usando na sala de aula os mesmos procedimentos
recomendados pelos terapeutas e usados em casa (quando a família é
participante do processo de intervenção).
3.3 HIPERATIVIDADE NA ADOLESCÊNCIA
Alguns estudos, que acompanharam até à adolescência e à idade adulta o
desenvolvimento de crianças diagnosticadas com hiperatividade, concluíram que, na
maior parte dos casos, os sintomas persistem, pelo menos, até ao início da
adolescência.
Apesar da hiperatividade ser considerada uma perturbação típica da infância,
sendo, geralmente, identificada nos primeiros anos de escola, estima-se que cerca de
70% das crianças afetadas continuam a sofrer com os mesmos comportamentos na
adolescência. Assim, continuam a sofrer de atividade motora excessiva, de maus
resultados escolares e de rejeição por parte dos colegas e manifestam um
comportamento problemático em casa e na escola.
O adolescente pode apresentar os problema multiplicado, pois vem
caminhando com os transtornos comportamentais e as dificuldades para o
aprendizado, especialmente para a leitura, desde o período escolar. Esta dificuldade
gera um certo grau de desinteresse e mesmo desprezo para a leitura e para as outras
atividades escolares, que culmina com o comprometimento importante do
desempenho e do rendimento escolar. Muitos abandonam a escola e se dedicam ao
trabalho, que, na maior parte das vezes, é pouco qualificado.
Há vezes em que não conseguem nem mesmo participar nos negócios da
família, os quais já estão estruturados; assim, acabam sendo colocados em posições
secundárias, o que gera conflitos internos e a sensação de insatisfação e infelicidade
para o jovem, pois conscientiza, de maneira concreta, a sua incapacidade global. Este
conflito interno gera a depressão, que se caracteriza por uma sensação de
desesperança e certa tendência a desistir dos objetivos futuros pertinentes. Essa visão
26
negativa de si mesmo leva à baixa auto-estima, auto estima negativa e a uma visão de
futuro desfavorável. Em condições habituais, os adolescentes apresentam oscilações
comportamentais e variações do humor que se agravam com os reveses escolares e os
insucessos sociais. (Topczewski, 1999)
Quando aos indivíduos com sintomas que persistem até à idade adulta, têm,
geralmente, empregos de mais baixo estatuto, desistindo com maior freqüência de
um emprego ou sendo mais freqüentemente despedidos. São, até à idade adulta,
irrequietos e impulsivos e podem manifestar sérios problemas de personalidade.
A um nível social mais alargado, estes indivíduos necessitam de uma atenção
especial, com custos que se repartem pelas estruturas de saúde, da justiça, da
educação e da solidariedade social. Além disso, esta perturbação, quando associada a
outros comportamentos problemáticos, pode contribuir, numa idade mais avançada,
para manifestações de violência e criminalidade, dada a impulsividade que lhes é
característica.
27
CONCLUSÃO:
ALUNO HIPERATIVO OU INABILIDADE ACADÊMICA?
Os seres humanos são bastante diferentes uns dos outros e muito complexos.
Assim, uma criança ou um pré-adolescente apresenta diferentes comportamentos
Conforme o ambiente e a situação em que se encontra. Muitas vezes, o aluno
“excessivamente agitado” não se apresenta assim em todos os ambientes. É bastante
comum que surjam queixas realizadas por professores de uma escola e que não
apresentam respaldo de todos os educadores da entidade. Há alunos que são agitados
e incovenientes para uns professores e apresentam-se de forma bastante distinta em
outras aulas. Resta-nos avaliar se o fator que faz com que a falta de atenção e o
comportamento inadequado do aluno não provém do próprio comportamento do
professor.
Há professores que por terem dificuldades de lidar com a disciplina ou por
cansaço e desesperança na profissão, acabam elegendo alguns para bodes
expiatórios. Assim, a responsabilidade por todos os problemas que possam ocorrer
durante as aulas, são sempre dos mesmos alunos. Cria-se assim um grupo de alunos
que são considerados como “terrivelmente agressivos”, em geral liderados por um
líder que é visto como “muito maléfico” (segundo as expressões usadas por
professores).
Convém analisarmos que os professores, muitas vezes, não se encontram bem
preparados para lidar com a indisciplina e com os conflitos que possam surgir de
disputa de poder com os alunos. Ressaltamos não ser um bom caminho entrar em
choque direto com os alunos e tentar impor-se, apenas, de forma ditatorial. Nunca é
demais lembrar: autoridade e autoritarismo são conceitos muito distintos.
Além disso, há muitos professores que fazem questão de passar uma imagem
Muito negativa, de alguns alunos ou mesmo de uma sala inteira, aos seus colegas de
profissão. Todos nós sabemos a influência que um pré-conceito pode gerar em novas
situações. Desta maneira, os novos professores já vão àquela sala esperando lidar
28
com uns “delinquentes mirins”, não dando chance para que as novas relações entre
educadores e alunos possam ser estabelecidas de maneira distinta. De quem é a
responsabilidade então? Infelizmente, dos adultos, professores que não conseguem
lidar com as dificuldades docentes e que passam a influenciar os colegas de profissão
em sua “cruzada pelo bom comportamento”, contra as crianças.
Não estamos falando que os alunos em questão sejam fáceis ou anjinhos e os
professores os únicos culpados.
Muitas vezes, a proposta educacional, ou seja, o plano pedagógico da escola
não dá margem ao diálogo. Os alunos nunca têm voz ativa e pouco participam de
decisões. Assim, os alunos mais “sensíveis” (de acordo com uma visão que tenta ser
politicamente correta de alguns educadores, mas que reforça o preconceito) reagem
negativamente, causando boicotes e tornando-se inadequados. Os educadores, por
sua vez, não podem usar criatividade e tentar incluir, da melhor maneira possível, os
alunos tidos como “problemáticos” em suas aulas.
Evidentemente, os alunos devem aprender desde a mais tenra infância a abrir
mão, em alguns momentos, da realização direta de seus desejos, para que possam
estar em grupo e viver numa comunidade (no caso as salas de aula). Todavia, um dos
papéis de educador não é exatamente o de possibilitar esse crescimento e
amadurecimento para as relações pessoais por parte dos alunos? O que ocorre que
impede essa realização.
Alguns dirão que a educação e os ensinamentos de limites são papéis das
famílias. Têm razão os que assim pensam. Acontece que as famílias têm tido pouco
tempo e não conseguem exercer o seu papel de educação das crianças. Além disso, a
televisão ainda exerce uma influência negativa no que tange à aquisição de limites
pelas crianças. Então, o “problema” estoura na escola, dentro e fora das salas de
aulas.
Indisciplina, agressividade, inquietação e mau-humor são sintomas que
podem indicar problemas psicológicos de crianças e adolescentes, como no caso da
29
hiperatividade e de outros transtornos psíquicos apresentados por alguns alunos.
Entretanto, antes de mandarmos “todos os alunos de um determinado grupinho” aos
divãs de psicólogos, devemos analisar se os problemas não estão mais relacionados
aos adultos, à equipe de educadores das escolas, enfim, ao plano pedagógico e às
relações estabelecidas pelos adultos e os seus alunos.
30
BIBLIOGRAFIA
FERNÁNDEZ, Alícia. O saber em Jogo. A psicopedagogia propiciando autorias de
pensamento. Porto Alegre: Artmed, 2001.
GOLDSTEIN, Sam. Hiperatividade: Compreensão, Avaliação e Atuação – Uma
Visão Geral sobre o TDAH. Artigo: site www.hiperatividade.com.br: 2004.
Projeto Escola Viva – Garantindo o acesso e permanência de todos os alunos na
escola – alunos com necessidades educacionais especiais, Brasília: Ministério da
Educação, Secretaria de Educação Especial, C327 2002, Série 2
Revista On-line Teste Saúde, nº 21, do site www.viamedico.com.br: 2004.
SILVA, Ana Beatriz B., Mentes Inquietas: entendendo melhor o mundo das pessoas
distraídas, impulsivas e hiperativas. Rio de Janeiro: Napades, 2003.
Site www.psicopedagogia.com.br
TOPCZEWSKI, Abram, Hiperatividade: como lidar? São Paulo: Casa do Psicólogo,
1999.
TAVARES, J. Resiliência e Educação. São Paulo: Cortez, 2001.
VASCONCELO, C. Avaliação da Aprendizagem – Construindo uma Práxis. In:
Temas em Educação I Livro das Jornadas. Futuro Eventos: 2002.
31
ANEXO
Relato sobre o aluno C.A.B. aluno da E.M. L.M. do PEJ II
Histórico
C.A.B. nasceu em 15/04/1987 , é um adolescente destro de 17 anos de idade que
apresenta uma longa história de dificuldades comportamentais e cognitivas.
Acompanhado por neurologista por indicação do Dr. Jairo Werner Jr.(psiquiatra
indicado pelo Instituto Helena Antipoff) .
A mãe relata que ele teve um ótimo rendimento escolar até a quarta série. Na 5ª
série, o comportamento piorou, passou a ser expulso da sala e repetiu a série. No ano
de 2000 a escola reclamou que ele batia nos colegas. No fim desse mesmo ano, com
a intervenção de uma professora itinerante do Instituto Helena Antipoff, o
rendimento escolar melhorou. Em 2001, começou a cursar a 6ª série numa escola,
mas os pais decidiram trocar de escola em 04/2001 ( para escola particular R.F.) , e
ele voltou a cursar a 5ª série. Porém a sua agressividade piorou; não aceitava ser
frustrado. Ele batia em qualquer pessoa. Em algumas ocasiões, C.A.B. disse se sentir
muito mal por ser “diferente” dos outros.
A sua mãe disse que durante o ano de 2002 ele ficava muito mal humorado.
Queria sair de casa a qualquer custo; saía sem rumo e sempre queria ir mais longe.
Certo dia que a mãe se recusou sair com ele, quebrou o armário do quarto. Nessa
ocasião, comia pouco e seu sono ficou irregular. Um dia bateu no rosto da avó
porque queria sair e ela não deixou. Dizia estar com ódio. Afirmava que gostaria de
ter a sua calvície temporal resolvida.
H. da gestação, parto e nascimento: A mãe fez uso de Ginecoside (hormônios) por
via oral no início da gravidez. Parto cesáreo, idade gestacional a termo, pesava 3250
g . Alta hospitalar em 4 dias.
H. familiar: filho único, pais sadios, não consangüíneos. Um tio paterno teve
epilepsia.
H. pós- parto: Hidrocefalia diagnosticada in útero; aos 5 meses de idade, o Dr.
Paulo Niemeyer Filho decidiu que não era necessário tratá-lo com válvula de
derivação ventrículo-peritoneal. Ele foi avaliado no Instituto Fernandes Figueira,
onde ele recebeu o diagnóstico de romboencefalossinapse através de exames de
neuroimagem.
Desenvolvimento:
Primeiros passos com 2,5 anos, mas só deambulou solto aos 3,5 anos. “Papá, mamã”
com um ano. Frases de três palavras com menos de 2 anos.
Linguagem: fluente.
Psicossocial: sorriu aos meses. Brinca com outras crianças desde 2 anos e meio.
Sono: dorme no quarto sozinho, de 21:30 às 8:00 h; ronca às vezes. Ele era canhoto,
mas aos 8-9 anos de idade, a equipe da ABBR decidiu que ele deveria usar mais a
mão direita.
Escola: E.M.L.M.- Programa de Educação Juvenil II – U. P. 3 ( equivalente ao
último período do Ensino Fundamental)
32
Vacinação: em dia
H. social: o pai é advogado e contador, a mãe é formada em direito, mas se dedica
apenas ao lar.
Contexto familiar: a família mora em um prédio onde outros três apartamentos são
por familiares próximos.
Revisão dos sistemas: sofre muito com o frio ( diz que a temperatura oscila mito nas
duas direções). A salivação aumentou bastante a partir de 2000. Não há tiques
vocais.
Exame físico:
Peso = 37,1 Kg (percentil <2) ; estatura = 1,58 m (percentil 10)
Perímetro cefálico = 53,5 cm (percentil > 2; normal )
Freqüência cardíaca = 72 bpm, freqüência .resp. = 25 ipm ; PA = 105/65 mm Hg.
Cabeça – palpação normal. Calvície bitemporal.
ACV – RCR, sem sopros.
AR – MV audível universalmente, sem RA.
Abdome – flácido, sem visceromegalias. Genitália compatível com sexo e idade.
Pelos axilares esparsos. Múltiplos nervos no dorso.
Face triangular; baixa implantação das orelhas.
Exame neurológico:
Estado mental- alerta, conversa apropriadamente. Vocabulário rico e fluente. Humor:
ele é afetuoso, porém tem momentos de exacerbação. Quer sempre fazer as coisas ao
seu modo.
Nervos cranianos – campos visuais aparentemente normais. Movimentos extra –
oculares íntegros. Pupilas 3 mm em diâmetro, isocóricas e fotorreagentes. Acuidade
visual: OD 20/30 -1; OE 20/30 – 1. Não havia nistagmo. Ptose palpebral esquerda.
Fundoscopia – não havia papiledema, pulso venoso indistinguível. Face simétrica.
Movimentos da língua normais.
Exame motor:
Tônus axial e dos membros normal. Ausência de clono do tornozelo. Força muscular
adequada. Reflexos tendíneos profundos. Massa muscular diminuída. Reflexo
cutâneo plantar em flexão. Em alguns momentos apresenta movimentos de rotação
quase completa da cabeça, a semelhança de um tique complexo.
Exame de sensibilidade – normal.
Coordenação: prova dedo - nariz normal, não há disdiadococinésia.
Marcha: deambulou normalmente.
Avaliação do Dr. Márcio M. Vasconcelos ( exame realizado em 06/2002)
“A nossa conduta inicial incluiu a realização de uma série de exames, como as
provas de função hepática e eletrólitos, que foram normais. Um eletroencefalograma
mostrou pontas focais à esquerda. A ressonância magnética do encéfalo confirmou o
diagnóstico de rombencefalossinapse.
1- Rombencefalossinapse – malformação congênita do encéfalo que modifica
toda a estrutura do cerebelo e repercute também no cérebro. Decerto, esta
malformação contribuiu para o atraso do desenvolvimento e os demais
problemas neuropsiquiátricos de C.A.B. .
2- Transtorno do comportamento. Não acreditamos que o diagnóstico de
síndrome de Tourette seja mais adequado para explicar o distúrbio do
comportamento de C.A.B. , pois ele não apresenta tiques vocais nem
33
coprolalia. O comportamento de C.A.B. caracteriza-se por agressividade
momentânea, baixa tolerância à frustração, autocontrole e auto-regulação
deficientes, dependência dos pais e gestos eventualmente impróprios. Tenho
convicção que C.A.B. procura dominar seu comportamento, mas seu baixo
autocontrole e auto-regulação o prejudicam.
3- Recentemente, C.A.B. está apresentando sintomas de transtorno depressivo.
Acredito que ele tem consciência de suas deficiências físicas e mentais e
angustia-se com isto.
4- Excesso de salivação.
5- A linguagem fluente e rica de C.A.B. causa a impressão de inteligência
superior. Na verdade, ele apresenta limitações cognitivas (imaturidade,
pensamento concreto) associadas.
Recomendações:
1- Iniciamos nesta data (03/07/2002) uma nova terapia farmacológica: o
antidepressivo Aropax na dose de meio comprimido por via oral toda manhã.
Explicamos aos pais que são necessárias três semanas ou mas para que a
medicação comece a surtir efeito e que esta medicação não deve ser suspensa
abruptamente. Ademais, deve-se consultar um neurologista ou psiquiatra antes
de acrescentar qualquer medicação que possa interagir com inibidores seletivos
de recaptação de serotonina (p. ex., psicotrópicos em geral)
2- Gostaria de enfatizar que os problemas comportamentais e cognitivos de C.A.B.
provavelmente têm origem neurológica. A estrutura do sistema nervoso central
dele foi bastante alterada pela malformação congênita que ele infelizmente
desenvolveu. Não se devem atribuir as dificuldades do C.A.B. a teimosia,
malcriação ou falta de disciplina. (obs.: grifos do médico)
3- Apoio social e familiar aos pais, para que lidem melhor com as dificuldades
inerentes que C.A.B. tem criado.
4- Estamos discutindo com os pais o uso da medicação anticolinérgica para
diminuir sua salivação.
5- Os pais ficaram de procurar um cirurgião plástico para avaliar a conveniência
de um procedimento de implante capilar para atenuar sua calvície temporal.”
Obs.: As informações acima foram pautadas, no relatório fornecido pelo médico e
informações da mãe.
Situação atual
C.A.B. está relacionado como portador de Condutas Típicas . Nos nossos dias
está sendo atendido pelo Programa de Educação de Jovens e Adultos da Secretaria
Municipal de Educação da Cidade do Rio de Janeiro - II Unidade de Progressão 3
(PEJ II – UP 3), em horário noturno (término do Ensino Fundamental previsto para
dezembro de 2004), Na E.M.L.M. e pelo Instituto Helena Antipoff, da mesma
Secretaria, que faz o seu acompanhamento, por uma professora itineirante, durante
o todo o período de aulas e, oferece atendimento em Sala de Recursos duas vezes
por semana, com exclusividade de horário .
Na entrevista com a mãe, ela declarou que houve um período muito ruim na sua
vida escolar, ele vivia mal-humorado, era agredido e agredia os colegas. Os
professores não o suportavam na sala de aula. Em 2000 foi atendido por uma
professora itinerante, melhorando o seu comportamento, mas por questões de
34
relacionamento com os outros profissionais da Escola, o transferiu para uma escola
particular em 2001. No ano de2003 retornou à Escola Municipal, no PEJ, onde
permanece. Continua acompanhado por uma professora itinerante durante todo o
tempo que permanece na escola, (essa é a pré condição para que ele freqüente as
aulas) e também freqüenta a Sala de Recursos do Ensino Especial duas vezes por
semana, no horário da tarde. A sua mãe o acompanha e aguarda, tanto nas aulas
noturnas quanto nos atendimentos da Sala de Recursos realizadas em escolas
diferentes.
O trabalho do professor itinerante é prestar assessoria às escolas, que possuem
esses alunos integrados, promovendo o processo de inclusão escolar. Isso ocorre
através do acompanhamento do aluno em sala de aula e da orientação à seus
professores, equipe técnico pedagógica, pais e fazer contato com os profissionais da
área médica que atendem o aluno, para troca de informações que venham auxiliar os
profissionais de Educação no planejamento e nas adaptações para o aluno.
Comportamento do aluno: adolescente com 17 anos, usa óculos, demostra
hiperatividade, impulsividade e bastante agitação. Faz uso de óculos, (que quebrava
com uma certa constância) tem alguma dificuldade para enxergar ou para focalizar,
mas segundo a mãe, está em dia com os exames oftalmológicos. Seu poder de
concentração fica prejudicado porque qualquer estímulo tira a sua atenção.
Apresenta dificuldade e agitação motoras que o faz esbarrar nas carteiras dos
colegas. É muito curioso, quer mexer sempre no material do professor e dos colegas,
devido ao comprometimento motor, não tem noção da força e por isso é capaz de
“machucar” as pessoas e/ou danificar o material delas.
C.A.B. tem alguns problemas quanto às relações interpessoais. As regras e
limites não são considerados e/ou são esquecidos com freqüência, mas deseja ser
querido e ser amigo dos professores e colegas. Sua inteligência está preservada
apesar de ter pouco tempo de concentração para alguns assuntos. A memória é
privilegiada para as coisas que o interessam ( ex.: telefone da professora itinerante,
uma promessa feita). Altamente crítico e sagaz, capaz de perceber aquilo que
incomoda as pessoas e usá-las com maestria.
Desenvolvimento do trabalho com C. B em sala de aula
O aluno freqüenta as aulas em horário reduzido, de uma hora e trinta minutos,
diariamente, sendo permanentemente acompanhado pela professora itinerante. No
dia a dia da sala de aula, C.A.B. é capaz de realizar a maior parte das atividades
propostas. Devido à dificuldades motoras, recebe alguma ajuda da professora
itinerante para copiar as atividades, sendo as mesmas, concomitantemente avaliadas
quanto ao significado. Apesar da pouca vivência socia,l raciocina com lógica,
demonstrando isso nas atividades com dinheiro, mas consegue pensar melhor,
quando é negociado com paciência para fazê-lo. A aula expositiva não atrai a sua
atenção se ultrapassa a cinco minutos, e o mesmo acontece com os vídeos. C.A.B.
pensa melhor quando é solicitado com exclusividade e precisa constantemente do
reforço positivo. È bom leitor na qualidade, mas lê pouco para a necessidade, usa o
computador e consulta a internet.
35
Durante o ano de 2004, após análise da situação, algumas mudanças foram
feitas: a professora itinerante passou a trabalhar mais com diálogo do que com a
cópia (passou a ajudá-lo a copiar e, enquanto isso, ele colaborava com a leitura do
texto). Passou a conferir o significado de tudo que era trabalhado, por isso passou a
ficar mais calmo e a entender melhor as aulas. A professora itinerante passou a reunir
as pessoas (colegas), sempre com a presença da direção da escola para, através de
diálogos e explicações, esclarecer sobre os problemas neurológicos de C.A.B. e
solicitar que essas pessoas colaborassem. Dessa forma ficou bastante reduzida a
incompreensão em relação a ele.
As relações interpessoais com os professores são boas, e com a maioria da turma
também, por se tratar de adultos e já existir trabalho anterior neste sentido que
muito contribuiu.
Conclusão:.
Hoje C.A.B. já fica em horário integral na sala de aula, está bem mais calmo, tem
aproveitamento melhor, já faz suas atividades no computador e tem até expectativas
de trabalho futuro. Sua mãe já está mais confiante e vai matricular-se com ele, para
acompanhá-lo no Ensino Médio, no ano que vem. Ela demonstrou desejo de fazer o
curso de Pedagogia para montar uma escola onde C.A.B. sinalizou que quer
trabalhar.
Para uma educação inclusiva, o tratamento faz a diferença, é fundamental que o
educador acredite no potencial do ser humano e no seu próprio potencial, para
realizar a mudança. Como diz Reuven Feuerstein, psicólogo israelense:
“ Todo ser humano é capaz de aprender, os cromossomos não têm a última palavra”.
36
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
5
CAPÍTULO 1
7
HIPERATIVIDADE
7
1.1 – Definição
7
1.2 – Comportamentos característicos
8
1.3 – Problemas que podem estar associados a Hiperatividade
9
1.4 – Problemas que podem levar à suspeição errada de Hiperatividade 10
CAPÍTULO 2
11
A FAMÍLIA
11
2.1 – Repercussão da hiperatividade no Relacionamento Familiar
12
2.2 – Atuação dos Pais
13
2.3 – Diagnóstico
14
2.4 – Tratamento
15
2.4.1 – Abordagem Psicossocial
15
2.4.2 – Abordagem Medicamentosa
16
CAPÍTULO 3
18
A ESCOLA
18
3.1 – Atuação do Professor
19
3.2 – Estratégias de Intervensão
20
3.3 – Hiperatividade na Adolescência
25
CONCLUSÃO
27
ALUNO HIPERATIVO OU INABILIDADE ACADÊMICA ?
27
BIBLIOGRAFIA
30
ANEXO
31
ÍNDICE
36
37
.
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Jorge Coelho de Oliveira Filho HIPERATIVIDADE EM SALA DE