DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA Ana Paula Carrondo – Novembro 2009 DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA (DRGE) Qualquer sintoma ou alteração da mucosa esofágica que resulte do refluxo do conteúdo gástrico ou intestinal para o esófago Sintomas clássicos: – Desconforto / sensação de queimadura na região do externo – Regurgitação: subida do fluído acídico à boca DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA Doença recorrente crónica Morbilidade significativa Prevalência de 25 a 35% 44% têm sintomas uma vez por mês 14% têm sintomas uma vez por semana 7% têm sintomas diariamente DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA Prevalência dos sintomas Doentes Doença recorrente crónica 50% 44,00% 40% Morbilidade significativa 30% 20% Prevalência de 25 a 35% 14% 10% 0% 7% Mensal Semanal Diário Frequência da dor e da regurgitação DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA Seguimento por gastroenterologistas Sintomas crónicos persistentes e complicações Sintomas frequentes Sintomas ligeiros recorrentes Iceberg DRGE Observação pelos médicos de família Não há procura de cuidados médicos DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA Razões para diagnosticar e tratar Impacto negativo na qualidade de vida relacionada coma a saúde1 Factor de risco para o desenvolvimento de adenocarcinoma esofágico2 1. 2. Revicki et al. Am J Med 1998;104:252. Lagergren et al. N Engl J Med 1999;340:825. Mecanismos de protecção contra os danos do ácido gástrico no esófago DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA Formas clínicas de apresentação DRGE Clássico DRGE Extraesofágico/Atípico DRGE Complicada DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA Sintomas clássicos •Regurgitação e dor no externo •Pósprandial •Alívio rápido com antiácidos DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA Manifestações extraesofágicas Pulmonares Entéricas Asma Rouquidão Pneumonia de aspiração Laringite Bronquite crónica Faringite Fibrose pulmonar Sinusite Estenose subglótica Cancro da laringe Outras Dor toráxica Erosão dentária DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA Extraesofágica e DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA complicada Sintomas Disfagia – Dificuldade na deglutição Odinofagia – Dor no externo durante a deglutição Hemorragia DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA Complicações Esofagite erosiva Úlceras Hemorragia Perfuração Esófago de Barret Adenocarcinoma Refluxo extra esofágico DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA Objectivos da terapêutica Aliviar os sintomas Diminuir a frequência ou a recorrência e a duração do refluxo GE Promover a cicatrização da mucosa danificada Prevenir complicações DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA Objectivos da Terapêutica: Aumentar a pressão do esficter esofágico Aumentar a clearance ácida esofágica Melhorar o esvaziamento gástrico Proteger a mucosa esofágica Diminuir a acidez do líquido refluído Reduzir o volume gástrico disponível para refluir DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA Terapêutica Modificação do estilo de vida, dieta Antiácidos Antagonistas dos receptors H2 da histamina Agentes prócinéticos Inibidores da bomba de protões (PPI) Cirurgia anti-refluxo DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA Modificação do estilo de vida Elevação da cabeceira da cama Redução da ingestão de gorduras Parar de fumar Perder peso Evitar ingerir grandes quantidades de alimentos DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA Dieta - Alimentos a evitar: Cafeína Citrinos Pimenta Tomate e derivados Alimentos gordos Alcool Chocolate DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA Eficácia da terapêutica Tratamento Resposta Modificação do estilo de vida/antiácidos 20 % Antagonistas dos receptores-H2 50 % Dose única diária de PPI 80 % Dose aumentada de PPI até 100 % Clearance Esofágica •Cisapride Resistência da mucosa esofágica •Ácido algínico •Sucralfato Esvaziamento gástrico ↑ Pressão Esfincter GE •Betanecol •Metoclopramida •Metoclopramida •Domperidona •Domperidona? •Cisapride •Cisapride ↓ Ácido gástrico •Antiácidos •Antagonitas H2 da histamina •Inibidores da bomba de protões Antiácidos Bicarbonato de sódio Hidróxido de magnésio Carbonato de cálcio Hidróxido de alumínio Sais de bismuto,... – Removem ou neutralizam o ácido gástrico – Adequados como terapêutica inicial – Usados por 1/3 dos doentes DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA Antiácidos Devem administrar-se 1 a 3 horas após as refeições e ao deitar A duração da acção pode variar de 1 hora a 3 horas As formas líquidas ou pós são mais eficazes Antiácidos – Precauções • Os antiácidos podem mascarar os sintomas de hemorragia interna secundária ao uso de anti-inflamatórios não esteroides • Os antiácidos diminuem a absorção de alguns fármacos como tetraciclinas, quinolonas, propranolol, atenolol, captopril, ranitidina, famotidina e ácido acetilsalicilico • Os antiácidos com magnésio podem provocar diarreia e desidratação. Os antiácidos com magnésio e alumínio podem reduzir a incidência da diarreia • Os antiácidos com magnésio e alumínio devem ser usados com precaução em doentes insuficientes renais. Efeitos adversos dos antiácidos Alumínio - Obstipação, hipofosfatémia, osteomalácia Cálcio - Obstipação, hipercalcémia e hiperacidez de “rebound” (aumento da gastrina e da secrecção ácida), sindrome lactoalcalina Magnésio - Diarreia e acomulação em doentes IR Bicarbonato de sódio - Alcalinização em doses elevadas Magnésio / Alumínio - Alterações ligeiras da função intestinal (hipofosfatémia, hipofosfatúria, hipercalcúria, osteomalácia) Agentes procinéticos – Cisapride – Metoclopramida – Domperidona Não neutralizam o ácido Aumentam o esvaziamento gástrico, melhoram o peristaltismo e aumentam a pressão do esfincter esofágico Metoclopramida Reacções adversas: Sonolência Nervosismo Fadiga Depressão Diarreia Efeitos extrapiramidais Prolactinémia Metoclopramida – Precauções • A administração rápida da metoclopramida não diluída por via endovenosa pode induzir ansiedade, nervosismo • Evitar a administração de MAO, antidepressivos tricíclicos ou aminas simpaticomiméticas • História de cirrose, insuficiência cardíaca congestiva e aumento transitório da aldosterona com potencial para retenção de fluídos • História de depressão • Hipertensão • Doença de Parkinson Metoclopramida – Contraindicações • Administração concomitante de fármacos com efeitos extrapiramidais • Hemorragia gastrointestinal, obstrução (mecânica) ou perfuração • Doentes epilépticos Domperidona Reacções adversas: Sonolência Nervosismo Fadiga Depressão Diarreia Arritmias ventriculares Cisapride Reacções adversas: Sonolência Nervosismo Fadiga Depressão Diarreia Arritmias ventriculares Cisapride – Precauções • Evitar o uso de cisapride em doentes com predisposição para arritmias graves, como doentes com cancro avançado, apneia, DPOC, desidratação grave, a tomar diuréticos poupadores de potássio, com vómitos ou malnutrição • Doentes idosos. Os idosos usam terapêuticas ou podem possuir patologias com contraindicação para cisapride • Os doentes que fazem diuréticos e cisapride devem ser monitorizados criteriosamente Fármacos que reduzem a pressão do esfincter GE Anticolinérgicos Nitratos Barbitúricos Teofilina Benzodiazepinas Dopamina (diazepam) Bloqueadores dos canais do cálcio DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA Inibidores da produção ácida Antagonistas dos Receptores-H2 (RAH2s) Inibidores da Bomba de Protões (PPIs) Omeprazole Cimetidina (Tagamet®) Ranitidina (Zantac®) Lansoprazole Rabeprazole Famotidina (Pepcid®) Pantoprazole Nizatidina Esomeprazole Antagonistas dos receptores H2 – Cimetidina – Ranitidina – Famotidina – Nizatidina Inibem a produção de gastrina, histamina e acetilcolina 70% dos doentes referem melhoria cerca de 2 semanas após o início do tratamento Taxas de cura em doentes com esofagite erosiva dependentes da duração da terapêutica Doses elevadas (administração duas vezes ao dia) aumentam a eficácia Bloqueadores dos receptores H2 da histamina Reacções adversas: Cefaleias Sonolência Fadiga Vertigens Obstipação Diarreia Interacções com a cimetidina Fármaco Efeito Mecanismo Fenítoina Inibe o metabolismo: ↑ 140% nível sérico Bloqueadores canais do cálcio ↑ AUC em 60 – 90% Procainamida Competição para a secreção tubular ↑40% AUC Teofilina Inibe o metabolismo; 20 -40 % ↑ níveis séricos Varfarina Inibe o metabolismo do isómero R; 20% ↑ TP Diazepam Inibição do metabolismo; 30 -60% Carbamazepina Inibição do metabolismo: variável Propranolol Inibição do metabolismo e pode ↓ Cl renal; ↑ AUC 14.5% Inibidores da bomba de protões – Omeprazole – Esomeprazole – Pantoprazole – Lansoprazole – Rabeprazole 83% dos doentes apresentam melhoria com os PPIs vs 60-70% com antagonistas H2 Taxas de cura mais rápidas na esofagite erosiva do que com antagonistas H2 Não se observa diferença significativa entre os diferentes inibidores da bomba de protões cimetidine Famotidine Nizatidine Ranitidine Esomeprazole Lansoprazole Pantoprazole Omeprazole Rabeprazole Sucralfate Misoprostol Inibidores da bomba de protões Precauções – Hipocalcémia - contraindicação – Terapêutica prolongada com omeprazole; risco de gastrite atrófica – Alcalose metabólica - contraindicação – Alcalose respiratória – usar com precaução Inibidores da Bomba de Protões Interacções com outros fármacos PPIs Fármacos que interagem com o respectivo PPI ↑ conc fármaco não PPI Omeprazole Fenítoina, diazepam e varfarina Lansoprazole ↓ conc fármaco não PPI Antifúngicos azois, sais de ferro, digoxina Antifúngicos azois, sais de ferro, digoxina, teofilina Pantoprazole Rabeprazole Esomeprazole Diazepam Antifúngicos azois, sais de ferro, digoxina Antifúngicos azois, sais de ferro, digoxina Antifúngicos azois, sais de ferro Inibidores da bomba de protões Reacções adversas Cefaleias Sonolência Vertigens Obstipação Naúseas Diarreia Estratégia terapêutica da DRGE Sintomas Regime terapêutico recomendado Fase I Dispepsia ligeira, intermitente Alteração do estilo de vida + Antiácidos e/ou Antagonistas dos receptores H2 / PPIs Fase II a Dispepsia ligeira a moderada sintomas típicos, sem resposta na fase I Alteração do estilo de vida + agentes prócinéticos e PPIs 2 x dia 2 -3 meses Fase II b moderada a grave sintomas sem resposta na fase I ou II a (doença erosiva) Fase III Cirurgia Inibidores da bomba de protões 2 x dia em períodos prolongados 3 - 6 meses ESOFAGITE DE REFLUXO REFRACTÁRIA Mais de 70% dos doentes que fazem PPIs 2 x dia têm períodos de pH gástrico < 4 com duração superior a 60 minutos Cerca de 20% dos doentes que fazem PPIs 2 x dia têm períodos de pH gástrico < 4 mais de 50% do tempo Predominância à noite Genética - sistema citocromo hepático CYP2C, metabolismo mais rápido e aumento da acidez Sindrome de zollinger Ellison ? Papel do Helicobacter pylori DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA Quando efectuar testes diagnósticos Dúvidas no diagnóstico Sintomas atípicos Sintomas relacionados com complicações Resposta inadequada à terapêutica Sintomas recorrentes Antes de cirurgia anti-refluxo DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA Testes de diagnóstico Meio contraste Bário Endoscopia Monitorização do pH em ambulatório Manometria esofágica Endoscopia Indicações para endoscopia – Sintomas de alarme – Falha da terapêutica empírica – Avaliação pré-operatória – Detecção do esófago de Barrett Cápsula endoscópica – Avaliação de doenças do esófago como esófago de Barrett e varizes esofágicas DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA Modificações da terapêutica em caso de persistência de sintomas Melhorar a compliance Optimização farmacocinética – Ajustar a hora da medicação ~ 15 – 30 minutos antes das refeições – Facilitar concentrações sanguíneas elevadas para interagir com a bomba de protões nas células parietais, activada pelas refeições Considerar administrar um PPI diferente DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA Em caso de recidiva A esofagite recai rapidamente após paragem da terapêutica – > 50 % recai no período de 2 meses – > 80 % recai no período de 6 meses – Administrar terapêutica de manutenção DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA Indicação para cirurgia DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA refractária (rara) – Hemorragia grave – Úlceras que não cicatrizam DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA que necessita Regurgitação persistente / sintomas de aspiração PPIs 2 vezes dia, durante períodos prolongados em doentes jovens DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA Factores de risco para adenocarcinoma Sintomas da DRGE Adenocarcinoma esófagico Regurgitação e dor toráxica – Risco de Odds (95%CI) Pelo menos uma vez por semana ≥ 5 anos 7.7 (5.3 – 11.4) Regurgitação e dor toráxica À noite pelo menos uma vez por semana ≥ 5 anos 10.8 (7.0 – 16.7) DOENÇA DE REFLUXO GASTROESOFÁGICA Causas de falha ao tratamento Diagnóstico incorrecto – Sintomas funcionais, alteração da mucosa esofágica induzida por fármacos, doença espástica do esófago, acalásia Má compliance / relação com as refeições Supressão ácida inadequada / ausência de resposta – Falha dos PPIs – Pico ácido noturno Refluxo não ácido Atraso nos esvaziamento gástrico