UNIVERSIDADE DE COIMBRA Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação CIÊNCIAS SOCIAIS Docente: Prof. Doutor José Manuel Canavarro O SOCIAL E O POLÍTICO A forma intimamente e como entendemos inevitavelmente o ligada “político” à forma está como entendemos a sociedade. As nossas crenças sobre a natureza da sociedade moldam a nossa concepção daquilo que é a política. Se cremos numa sociedade frágil então a política será provavelmente compreendida como uma actividade que procurará manter o equilíbrio que caracteriza a fragilidade. Se entendermos a sociedade como uma colecção de individualismos em competição, sem marca colectiva, então a política será provavelmente a luta desmedida pela imposição desses individualismos como forma de poder. A MODERNIDADE Como refere Martin (1999), a relação estreita entre o social e o político torna-se vincada a partir da época histórica designada por Modernidade, se bem que as raízes desta ligação sejam anteriores (na Grécia antiga, a política correspondia à actividade social de tomada de decisão partilhada sobre assuntos de interesse comum). Sob o impacto de transformações sociais, económicas e culturais bem vincadas, a modernidade trouxe consigo a preocupação de se estabelecer a ordem social com base na racionalidade (a sociedade vista como auto-instituidora, como governada pelas suas regras próprias, conhecidas do homem e não emanadas por Deus) e a política começou a ser concebida como a actividade reguladora dessa mesma ordem. A MODERNIDADE Porém, a política apresenta-se distante das preocupações quotidianas e apenas se revela na distribuição mais ou menos geral dos recursos que afectam de sobremaneira o quotidiano. É uma visão que se afasta da vivida na Grécia antiga, onde esta envolvia deliberação colectiva, partilha de normas e procura da qualidade de vida, assumindo-se como uma actividade ética. Com a modernidade, a política vai-se afastando ainda mais da sociedade “real” e assumindo como objectivo principal a protecção do poder e dos poderosos, daqueles que determinam a ordem, como, por exemplo, Machiavel e Hobbes tão bem documentaram em obras clássicas como o Príncipe e Leviathan. A MODERNIDADE Nesta época, a perda da validade exclusiva de Deus e da Igreja como fontes de legitimidade, concomitante com a retirada do poder absolutista do Estado, por via dos monarcas como representantes da divindade, conduziu ao reforço da legitimidade racional. A razão do indivíduo ou dos indivíduos irá determinar o surgimento de dois modos de pensar a política ou duas ideologias com reflexos importantíssimos no nosso século. A MODERNIDADE Por um lado, o pensamento liberal, que dá a primazia aos direitos do indivíduo e entende a convergência apenas num conjunto pequeno, mínimo de princípios partilhados a regular pelo Estado. Por outro, o pensamento socialista que enaltece o bem colectivo que pode ser encontrado numa unidade étnica que constitui a identidade partilhada pelos indivíduos (os cidadãos). Esta visão holística estende a racionalidade às colectividades sociais a que os indivíduos pertencem e começa a retirar-lhe o carácter estritamente individual A PÓS-MODERNIDADE Segundo Martin (1999), o termo Pós-Modernidade pretende descrever um conjunto de transformações sociais que têm vindo a afectar a modernidade e não tanto caracterizar uma nova época. Essas transformações incluem: - a substituição das indústrias de produção em massa pelas indústrias de serviços baseadas ou suportadas nas novas tecnologias de informação; - a consequente globalização da economia promovida por estas novas tecnologias; A PÓS-MODERNIDADE - o declínio da classe política (em termos de imagem e representatividade); - o surgimento de “novos movimentos sociais” e do etnonacionalismo; - o desencantamento crescente com a racionalidade (a perda de razão da razão); - a redução do poder do estado para regular a economia nacional e a conflitualidade social dela decorrente; -e, em certa medida, têm motivado uma alteração dinâmica na sociedade e um consequente re-desenhar das dimensões da actividade política. A PÓS-MODERNIDADE Com a pós-modernidade, a separação que existia entre a política e a sociedade, não entre o político e o social, característica da modernidade, dilui-se e assiste-se à politização das actividades sociais e normas culturais quotidianas. Como exemplos, podem-se adiantar os “novos movimentos sociais”, que se têm vindo a constituir em torno de questões ambientais ou dos direitos de minorias que elucidam acerca das limitações e constrangimentos das estruturas políticas tradicionais insensíveis às necessidades particulares de diferentes grupos sociais.