O DESEMPENHO PROFISSIONAL NO CONTEXTO DO BALANCED SCORECARD Valter José Rehbein Rosa1 Vera Lucia Ignácio Molina2 1 Unitau/ECA-PRPPG, Mestrado em Gestão e Desenvolvimento Regional, Taubaté, Brasil, [email protected] 2 UNIVAP-FCSA - Administração de Empresas, São José dos Campos, Brasil, [email protected] Resumo- Este artigo, mediante pesquisa bibliográfica, apresenta formulações sobre o desempenho profissional e as projeta em contextos organizacionais que utilizam o Balanced Scorecard (BSC). Os principais resultados obtidos são: 1) o desempenho profissional surge em função da capacidade, aptidão e habilidade; da motivação e do esforço empenhado no trabalho; e de oportunidades, precisão das percepções e do contexto de probabilidades para o desempenho; (2) as perspectivas do BSC atuam como vetores de desempenho para realizar a estratégia; e, 3) no contexto das organizações que utilizam o BSC, este constitui fonte organizacional que gera oportunidades, precisão das percepções e gera probabilidades para o desempenho. A conclusão obtida é de que os vetores de desempenho do BSC estimulam o desempenho profissional ao constituírem a fonte organizacional que alinha metas e objetivos para realizar a missão e visão da organização. Palavras-chave: desempenho profissional, balanced scorecard. Área do Conhecimento: VI – Ciências Sociais Aplicadas Introdução O Balanced Scorecard (BSC) é um sistema de gerenciamento que permite detalhar os objetivos estratégicos para toda organização. A estrutura do BSC traduz os macro-objetivos organizacionais em tarefas e metas, buscando o equilíbrio entre quatro perspectivas: financeira, clientes, processos internos e aprendizado e crescimento. A tradução dos objetivos organizacionais implica no alinhamento das metas departamentais e pessoais à estratégia organizacional. Alinhar o desempenho operacional com o desempenho organizacional implica na indução do desempenho profissional, no mesmo sentido e propósitos da estratégia da organização, visando atingir metas e objetivos que cumpram a missão e realizem a visão da organização. O desempenho profissional resulta da aptidão para executar uma atividade, na qual se empenha esforço para obter resultados. O desempenho profissional integrado aos objetivos organizacionais é um dos pilares para a implantação bem sucedida do BSC numa organização. Mediante pesquisa bibliográfica, este artigo aborda formulações sobre o desempenho profissional e as projeta em contextos organizacionais geridos mediante o BSC. Revisão bibliográfica As abordagens científicas sobre o desempenho no trabalho tem sido feitas à luz de estudos sobre o comportamento organizacional. Nestes estudos, o desempenho profissional tem sido associado ao comportamento do indivíduo, ao seu grau de motivação e ao contexto onde atua. Robbins [1] afirma que o desempenho surge da interação entre capacidade e motivação. Este autor se apóia em Blumberg e Pringle [2], para agregar o fator oportunidade e apresentar a seguinte equação para desempenho: Desempenho = f(C x M x O) onde C = capacidade, M = motivação e O = oportunidade. A capacidade surge como produto da inteligência e da habilidade. A motivação advém de uma série de fatores, alguns intrínsecos ao indivíduo, outros externos a ele. A oportunidade surge com o ambiente e as condições que são oferecidas para a realização do trabalho. Wagner III e Hollenbeck [3] afirmam que o desempenho surge quando é empenhado esforço dirigido para resultados adequados por quem tem aptidão para executar os comportamentos necessários. A equação do desempenho para estes autores é assim formulada: Desempenho = f (A x E x P) onde A = aptidão, E = esforço e P = precisão das percepções. Nesta fórmula, o esforço surge com o emprego de energia para o trabalho, a aptidão se associa com a capacidade física, intelectual e emocional e a precisão das percepções advém da clareza na definição das tarefas e das metas. Davis e Newstrom [4] entendem o desempenho como produto da habilidade e do esforço dentro de IX Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e V Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1793 um contexto de probabilidade (meios adequados e objetivos apropriados) de desempenho. Neste conceito a equação do desempenho é: Desempenho = f(H x E x P) onde, H=habilidade, E=esforço e P=contexto de probabilidade. Esta equação considera a capacidade como produto do conhecimento e da habilidade; a motivação como produto da atitude e da situação. Capacidade e motivação geram o potencial humano de desempenho. O desempenho humano, ao atuar sobre recursos gera produtividade organizacional. Recursos são fatores econômicos, materiais e técnicos disponibilizados pela organização. Maximiano [5] afirma que "desempenho no trabalho é o resultado que uma pessoa consegue com a aplicação de algum esforço". A origem do desempenho para Maximiano, surge da influência de forças chamadas motivos, que produzem a motivação para o trabalho. Este autor define motivação para o trabalho como um processo do comportamento que afeta o desempenho das pessoas e das organizações e deriva do "estado psicológico de disposição, interesse ou vontade de perseguir ou realizar uma tarefa ou meta". Wagner III e Hollenbeck [3] lembram que a motivação é fator crítico para o desempenho. O fator motivação também é contemplado por Robbins, Davis e Newstron e Maximiamo. A motivação, esforço, capacidade, aptidão e habilidade são componentes das funções que estão afetos a aspectos comportamentais, intrínsecos ao indivíduo. As funções apresentam componentes que se associam a aspectos ambientais extrínsecos ao indivíduo. Trata-se do aparato que a organização disponibiliza para mobilizar o desempenho: oportunidade, precisão para as percepções e contexto de probabilidade. O desempenho profissional é a força motriz do desempenho operacional, que influencia e afeta diretamente o desempenho organizacional. O desempenho individual gera efeito em cadeia que repercute na organização como um todo, produzindo um fluxo conforme figura 1. Individual ---> operacional ---> organizacional Figura 1 - Fluxo de influência do desempenho profissional na organização Para associar o desempenho profissional à estratégia organizacional, comungando propósitos, objetivos e metas, é necessário descrever uma trajetória de comunicação e envolvimento no sentido inverso ao da cadeia de influência do desempenho profissional na organização, conforme figura 2. Organizacional ---> operacional ---> Individual . Figura 2 - Fluxo de comunicação para envolvimento com a estratégia organizacional. Na década de 1990, criado por Kaplan e Norton [6] surge o Balanced Scorecard - BSC. O BSC é um sistema de gerenciamento da estratégia que transforma a estratégia em ação. Mediante um conjunto de medidas de desempenho balanceadas, o BSC direciona os esforços organizacionais para desenvolver os ativos intangíveis em equilíbrio com os resultados financeiros. Para atingir seus propósitos, o BSC atua no fluxo de comunicação e envolvimento organizacional. Conforme preconizado por Kaplan e Norton [7], o BSC, utilizado em organizações orientadas para a estratégia, têm como princípios: (1) a tradução da estratégia em termos operacionais; (2) a mobilização da mudança por meio da liderança executiva; (3) a conversão da estratégia em processo contínuo; (4) a transformação da estratégia em tarefa de todos; e (5) o alinhamento da organização à estratégia. O BSC é uma ferramenta que traduz a visão e a estratégia da empresa num conjunto de medidas de desempenho coerentes com a missão organizacional. Organizado em quatro perspectivas, em torno das quais gravitam as energias, habilidades e conhecimentos de toda organização para alcançar as metas de longo prazo. De acordo com seus criadores as quatro perspectivas: financeira, clientes, processos internos e aprendizado e crescimento devem buscar o equilíbrio entre os objetivos de curto e longo prazo e entre os resultados almejados e os vetores de desempenho. No quadro 2 são apresentados as quatro perspectivas e tipos de indicadores de desempenho que podem ser utilizados para medir e induzir a performance. Perspectivas Indicadores de desempenho Financeira Priorização da receita, crescimento no mercado, lucratividade, geração de fluxo de caixa. Clientes Satisfação do cliente, retenção de clientes, aquisição de novos clientes, lucratividade de cada cliente e participação no mercado. Processos Internos Qualidade, tempo de resposta, custo e lançamento de novos produtos. Satisfação, treinamento e formação dos funcionários, disponibilidade dos sistemas de informações e procedimentos organizacionais. Quadro 1 - Perspectivas e medidas do BSC Fonte: adaptado de KAPLAN e NORTON, 1997 Aprendizado crescimento e O equilíbrio entre as quatro perspectivas surge da relação de causa e efeito entre elas. Para Kaplan e Norton [8], aprendizado e crescimento qualificam os processos internos, gerando satisfação dos clientes, cuja lealdade resulta em IX Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e V Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1794 incremento no resultado financeiro. A combinação de resultados (indicadores de fatos) com vetores de desempenho (indicadores de tendência) orientam o desempenho profissional para criar condições para a organização gerar vantagens competitivas de maneira consistente e equilibrada. Basso e Pace [9] se baseiam em Norreklit para contrapor Kaplan e Norton, ponderando que, em vez de se buscar relações causais entre as perspectivas, deveria ser enfocado a coerência entre elas, visando a complementação entre os indicadores de desempenho. Os indicadores deveriam ser construídos num processo paralelo e interativo com a formulação da estratégia. A coerência propicia que as ações e os meios usados para desempenhar sejam os apropriados para o fim pretendido. Os mesmos autores utilizam a definição de congruência de Bushman, para justificar a necessidade de alinhar adequadamente metas e objetivos e orientar desempenhos adequados aos propósitos organizacionais. A congruência é entendida como o grau de alinhamento entre o efeito da ação do agente na medida de desempenho e seu conseqüente efeito sobre o valor da empresa. Metodologia Este artigo utiliza pesquisa bibliográfica para comparar três formulações sobre desempenho, efetuadas por Robbins, Wagner III e Hollenbeck e Davis e Newstron. Da pesquisa é extraído um quadro comparativo do qual se deduz componentes equivalentes que estimulam o desempenho. A comparação permite projetar dentre os elementos que impulsionam o desempenho, os que, sendo extrínsecos ao indivíduo, dependem do ferramental utilizado pela organização na gestão de desempenho profissional. Estes fatores são contextualizados no âmbito de organizações que utilizam o BSC, sistema de gestão da estratégia desenvolvido por Kaplan e Norton. Resultados As equações que justificam o desempenho são demonstradas no quadro 3. Autor Robbins Fórmula f(C x M x O) Legenda C=capacidade, M=motivação e O=oportunidade. Wagner III e f (A x E x P) A = aptidão, E = esforço e Hollenbeck P = precisão das percepções. Davis e f(H x E x P) H=habilidade, Newstrom . E=esforço e P=contexto de probabilidade Quadro 2 – Equações do desempenho profissional A estrutura, perspectivas e indicadores do BSC, que transformam a estratégia em ação, funcionam também como sistema para gestão do desempenho profissional. A proposta de Kaplan e Norton propõe uma relação de causa e efeito entre as perspectivas do BSC. Basso e Pace fazem contraponto apontando para uma relação de complementaridade entre as perspectivas. A figura 3 apresenta a comparação entre as propostas. Kaplan & Norton Basso e Pace Resultado ↑ Clientes ↑ Processos Internos ↑ Aprendizado e Crescimento Resultado + Clientes + Processos Internos + Aprendizado e Crescimento ↔ E S ↔ T R ↔ A T E G ↔ I A Figura 3 - Comparação da relação de causa e efeito entre as perspectivas de um BSC para Kaplan e Norton e a relação de complementaridade entre as perspectivas para Basso e Pace A gestão do desempenho profissional no contexto do BSC equivale a associar vetores desempenho cujos indicadores sejam coerentes com cada perspectiva, como preconizam Basso e Pace, na forma como apresentado na figura 4. Vetores Oportunidade Perspectivas Financeira Clientes Processos Internos Associação do desempenho com reconhecimento e recompensa Precisão das percepções Metas Claras Contexto probabilidade Meios adequados e objetivos apropriados Aprendizado e crescimento Figura 4: contexto dos vetores de desempenho com as perspectivas do BSC Discussão As fórmulas sobre o desempenho profissional apresentam aspectos equivalentes quando analisados sob o aspecto semântico. O efeito que o fator capacidade tem para Robbins, equivale ao efeito do fator aptidão na fórmula de Wagner III e Hollenbeck e à habilidade utilizada por Davis e Newstrom. Capacidade, aptidão e habilidade têm a ver com formação, treinamento e preparação para a função, e se associam ao micro comportamento organizacional. Os três autores utilizam o fator motivação e esforço em suas fórmulas. A motivação e o esforço se correlacionam com o desejo de IX Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e V Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1795 desempenhar, ou seja derivam de fatores que afetam aspectos pessoais como desafios, estímulos, desejo de recompensas, e se associam à energia intrínseca ao indivíduo. Os fatores oportunidade, utilizado por Robbins, precisão das percepções em Wagner III e Hollenbeck, e contexto de probabilidade em Davis e Newstron, derivam de fontes organizacionais. As oportunidades, a precisão das percepções e o contexto de probabilidade são mecanismos gerenciais da organização extrínsecos ao indivíduo. A estrutura do BSC atua como oportunidade para demonstrar o desempenho, expor as metas para aprimorar a percepção e gera um contexto de probabilidade ao dispor meios adequados e objetivos apropriados para que o desempenho ocorra conforme os indicadores de desempenho de cada perspectiva do BSC. Conclusão Os vetores de desempenho de um BSC estimulam o desempenho profissional. Isso se dá porque o BSC funciona como fonte organizacional que viabiliza oportunidades, proporciona percepção sobre o ambiente organizacional e constrói o contexto em que surgem as probabilidades para o desempenho. Ao funcionar como indutor do desempenho profissional, o BSC alinha a performance individual aos objetivos estratégicos da organização. Alguns aspectos a considerar na gestão de desempenho no contexto do BSC: 1) elos entre resultados pretendidos e vetores de desempenho devem ser coerentes para não haver motivos para utilização de meios inapropriados aos fins pretendidos; 2) metas fixadas devem ser coerentes com recursos disponibilizados, envolvendo diálogo entre níveis organizacionais; e 3) medidas de desempenho estabelecidas no BSC devem ser congruentes com a agregação de valor esperada para a organização. [4] DAVIS, K.; NEWSTROM, J.W. Comportamento humano no trabalho: uma abordagem psicológica. São Paulo: Pioneira, 2001. [5] MAXIMIANO, A.C.A. Introdução à administração. São Paulo: Atlas, 2004. [6] KAPLAN, R.S.; NORTON, D.P. The balanced scorecard - measures that drive performance. Harvard Business Review. Boston: jan-fev 1992. p.71-79. [7] KAPLAN, R.S.; NORTON, D.P. Organização orientada para a estratégia: como as empresas que adotam o balanced scorecard prosperam no novo ambiente de negócios. Rio de Janeiro: Elsevier, 2000. [8] KAPLAN, R.S.; NORTON, D.P. A estratégia em ação: balanced scorecard. Rio de Janeiro: Elsevier, 1997. [9] BASSO, L.F.C.; e PACE, E.S.U. Uma análise crítica da direção de causalidade no balanced scorecard. RAE Eletrônica. V. 2, n. 1, jan-jun 2003. http://www.rae.com.br/eletronica/index.cfm?FuseA ction=Artigo&ID=1363&Secao=CONTRGER&Volu me=2&Numero=1&Ano=2003 Referências [1] ROBBINS, S.P. Comportamento organizacional. São Paulo: Prentice hall, 2002. [2] BLUMBERG, M.; PRINGLE, C.D. The missing Opportunity in organizational research: some implications for a theory of work performance. Academy of Management Review: Vol. 7, n. 4, p. 560-569, 1982. [3] WAGNER III, J.A.; HOLLENBECK, J. R. Comportamento organizacional: criando vantagem competitiva. São Paulo: Saraiva, 2003. IX Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e V Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1796