São Paulo, 21 de março de 2013. Discurso do presidente Alexandre Tombini na comemoração dos 30 anos da Associação Brasileira de Bancos Comerciais (ABBC). Senhoras e senhores É com grande satisfação que comemoramos hoje o aniversário de trinta anos da Associação Brasileira de Bancos Comerciais (ABBC). Ao longo dos últimos sete anos tenho tido a oportunidade de trabalhar mais próximo da ABBC. Inicialmente quando estava na Diretoria de Normas; e agora à frente do Banco Central. Durante esses anos, enfrentamos e superamos grandes desafios. Observamos uma profunda transformação da economia brasileira e, principalmente, do sistema financeiro nacional. O mercado de crédito tornou-se protagonista do desenvolvimento em nosso País. E os bancos promoveram uma ampla expansão da sua base de clientes, propiciando o acesso a produtos e serviços financeiros a milhões de brasileiros que até então nunca tinham tido qualquer relacionamento bancário. E isso contribuiu para a melhoria do bem estar da sociedade, que observou expressiva redução da pobreza e da desigualdade nos últimos anos. A ABBC foi sempre uma importante parceira. Tem, com o Banco Central, um canal aberto e permanente de diálogo franco. É uma associação ativa, que apresenta propostas e participa dos debates visando o aperfeiçoamento da regulação financeira. Por isso, considero que a ABBC tem cumprido o seu papel de representar seus mais de oitenta associados, contribuindo de forma decisiva para o fortalecimento do nosso sistema financeiro e para o desenvolvimento econômico sustentável do Brasil. Os bancos comerciais de pequeno e médio porte desempenham um papel de destaque em nosso sistema financeiro. Formam um grupo homogêneo no que diz respeito ao porte, mas ao mesmo tempo heterogêneo quanto à forma e segmento de atuação. Alguns atuam em segmentos de mercado específicos, preenchendo lacunas não atendidas pelos bancos de maior porte. São bancos com elevada especialização e profundo conhecimento desses segmentos e, por isso, conseguem prestar serviços diferenciados, principalmente para pequenas e médias empresas. Outros vêm se caracterizando pela flexibilidade, adaptando-se de forma rápida às novas demandas da sociedade ou mesmo sendo precursores no desenvolvimento de novos mercados e produtos. Foram, inclusive, peças chave no desenvolvimento do mercado de crédito observado nos últimos anos, contribuindo de maneira decisiva para o processo de inclusão financeira no País. No conjunto, os bancos pequenos e médios desempenham um importante papel, fomentando a inovação e a concorrência e, com isso, contribuindo para o desenvolvimento, o fortalecimento e a eficiência do nosso sistema financeiro. Também representam, de forma agregada, um segmento robusto, sólido e rentável. Os bancos pequenos e médios respondem por cerca de 18% dos ativos totais do Sistema Financeiro Nacional. É um segmento bem líquido e capitalizado, com Índice de Basiléia médio de 16,4%, bem superior ao mínimo regulamentar. O Banco Central reconhece a importância desse segmento. E por isso, trabalha de forma contínua para criar condições propícias para o fortalecimento, o desenvolvimento e o crescimento dos bancos pequenos e médios. A solução de fragilidades pontuais é parte importante do processo de supervisão e de manutenção da solidez do sistema como um todo e dos seus vários segmentos. Nos últimos dois anos o Banco Central atuou de forma serena, segura, mas firme com foco e objetividade, para mitigar vulnerabilidades e assegurar o bom funcionamento do sistema financeiro. Foi uma ação da área de supervisão com início, meio e fim. Por isso, senhoras e senhores, posso assegurar que temos hoje um sistema financeiro ainda mais sólido. Mas sabemos que a estabilidade financeira depende de um permanente aperfeiçoamento da regulação, da supervisão, da forma de atuação das instituições financeiras, e da infraestrutura de tecnologia, de informação e registro, que visa dar segurança aos atores econômicos – instituições financeiras, empresas e famílias. Por isso temos apoiado e continuaremos apoiando iniciativas do mercado que visam à melhoria dessa infraestrutura – além de aprimorar os sistemas desenvolvidos e geridos pelo próprio Banco Central. De nossa parte, também promovemos aperfeiçoamentos nos instrumentos de supervisão e no arcabouço regulatório. No primeiro caso, destaco uma iniciativa do próprio mercado e que contou com o apoio do Banco Central: a criação da Central de Cessão de Crédito (C3). Trata-se de um importante instrumento, em especial para aqueles bancos que trabalham com modelos de negócios baseados na originação e repasses de operações de crédito. No âmbito do Banco Central, fortalecemos outro importante instrumento: a Central de Risco de Crédito (SCR). Agora ela abrange noventa e nove por cento do montante de crédito existente no âmbito do Sistema Financeiro Nacional. E o registro individual de cada operação conta com mais informações, como o faturamento da pessoa jurídica ou renda da pessoa física, detalhamento da garantia e registro de eventual cessão do crédito. No campo regulatório, some-se ao SCR, a conclusão da regulamentação do cadastro positivo, abrindo espaço para que empresas privadas aperfeiçoem os cadastros existentes ou mesmos novos bancos de dados sejam constituídos. Para o mercado, o novo SCR e o desenvolvimento dos cadastros positivos constituemse em poderosos instrumentos de informação relevantes à tomada de decisões creditícias, que irão contribuir para reduzir a assimetria de informações entre credores e tomadores e aumentar a eficiência do mercado de crédito. Tais instrumentos são ainda mais relevantes para os pequenos e médios bancos que, por restrições naturais de escala, podem buscar, no SCR e nos cadastros positivos, acesso a informações necessárias à realização de seus negócios com maior segurança. Ainda no campo regulatório, não poderia deixar de destacar a adoção do Acordo de Basileia 3 no Brasil. Basileia 3 representa um importante avanço na regulação prudencial internacional e tem por objetivo principal fornecer uma base de capital mais robusta para a expansão sustentável do crédito. A sua adoção no Brasil contribui para reforçar a confiança internacional na solidez do nosso sistema financeiro. As novas exigências entrarão em vigor efetivamente de forma gradual e o esforço de adequação está dentro das possibilidades do nosso sistema. A divulgação das regras definitivas conferem previsibilidade e prazo de adaptação aos bancos. Não obstante os avanços registrados, não podemos nos acomodar. E com certeza não estamos acomodados – e eu me refiro ao Banco Central, às Instituições Financeiras, às suas entidades representativas, às empresas de registro e custódia, ao Fundo Garantidor de Crédito. Várias ações em curso e projetos em desenvolvimento, que envolvem um ou mais dos atores aqui citados, dentre outros, continuarão fortalecendo cada vez mais o sistema, seus mecanismos de registro, garantia e proteção, essenciais para a manutenção de um ambiente de confiança entre demandantes e ofertantes de poupança e liquidez. Observamos nos últimos anos avanços estruturais significativos no País. O Governo está empenhado agora em criar condições para ampliar os investimentos em nossa economia. Já foram adotadas medidas para simplificar o sistema tributário e para reduzir impostos e custos incidentes sobre os investimentos e a produção. Foram adotadas medidas também para aumentar a produtividade e a competitividade de nossa economia. Ademais, o Governo lançou um amplo conjunto de concessões ao setor privado nos segmentos de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias. Todas as transformações observadas nos últimos anos e as iniciativas recentes visando a ampliação dos investimentos propiciarão novas oportunidades de negócios. A ampliação dos investimentos em grandes projetos, principalmente na área de infraestrutura, terá reflexos positivos sobre os demais segmentos econômicos, sejam eles de grande, médio ou mesmo pequeno portes. Cabe ao setor bancário, em conjunto com o mercado de capitais, o papel de atender as demandas por soluções financeiras que se farão presentes. Serão necessários novos produtos e novas formas de viabilizar a alocação adequada de fontes de recursos disponíveis para a realização desses investimentos. Esse é o desafio que o sistema financeiro tem pela frente. O desafio de participar e contribuir efetivamente para a realização desses investimentos, os quais são fundamentais para que o nosso País continue crescendo de forma sustentável. Acredito que existe um potencial enorme de oportunidades para o segmento de bancos pequenos e médios nesse novo ambiente brasileiro. Cabe a vocês identificar como aproveitá-las. No passado, o segmento já mostrou que consegue captar as oportunidades e adaptar seus modelos de negócios. Foi assim, por exemplo, com o crédito consignado. Do nosso lado, posso afirmar que o Banco Central estará sempre presente para oferecer as condições regulatórias e institucionais necessárias para o desenvolvimento do sistema financeiro nacional. E o fará sempre com foco no seu mandato de assegurar um sistema financeiro sólido e eficiente. Encerro o meu pronunciamento parabenizando a ABBC pelos seus trinta anos, e a todos que, ao longo desse período, contribuíram para a construção e consolidação dessa Associação. Desejo a todos uma boa noite.